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“Sempre é uma

companhia”

peripécia final
“Sempre é uma companhia”: peripécia final
(esquema interpretativo)

Foi a primeira noite em que os homens - Caracterização dos ceifeiros (que temem a
saíram da venda mudos e taciturnos. Fora perda da companhia da rádio).
esperava-os o negrume fechado. E eles - Predomínio de vocabulário do campo
voltavam para a escuridão, iam ser, outra lexical de “noite”, metáfora para a ausência
vez, o rebanho que se levanta com o dia, de perspetivas e solidão.
lavra, cava a terra, ceifa e recolhe vergado - O termo “rebanho” remete para a ideia de
pelo cansaço e pela noite. Mais nada que o ausência de conhecimento e de pensamento.
abandono e a solidão. A esperança de Retoma das ideias enunciadas, reforçadas
melhor vida para todos, que a voz pela perda da voz que ouviam, embora
poderosa do homem desconhecido levava desconhecida.
até à aldeia, apagava-se nessa noite para
“Sempre é uma companhia”: peripécia final
(esquema interpretativo)

- Descrição de Batola semelhante à


Dentro da venda, o Batola está tão
descrição do início da narrativa, onde o
desalentado como os ceifeiros. O mês passou de “chapeirão” domina a figura.
- Destaca-se o advérbio “magoadamente”
tal modo veloz que se esqueceu de preparar a que caracteriza o modo como observa o
mulher. Sobe ao balcão, desliga o fio e arruma o aparelho, indiciador da dor que esta
separação causa a Batola, e o adjetivo
aparelho. Um pouco dobrado sobre as pernas “preciosa”, para caracterizar a rádio, não
arqueadas, com o chapeirão a encher-lhe a cara
pelo valor material, mas pelo que significa
naquele “deserto”.
de sombra, observa magoadamente a preciosa
- Momento que marca a alteração do “fim”
caixa.
anunciado.
Assim está, quando um pressentimento o

obriga a voltar a cabeça: junto da porta que dá - Mudança de postura da mulher de Batola.

para os fundos da casa, a mulher olha-o com um

ar submisso. «Que terá acontecido?», pensa o


“Sempre é uma companhia”: peripécia final
(esquema interpretativo)

Suspenso, o homem aguarda.

Então, ela desabafa, inclinando o rosto - A mulher apresenta uma


“expressão de ternura”.
ossudo, onde os olhos negros brilham

com uma quase expressão de ternura:

- Olha... Se tu quisesses, a gente - O conector condicional “Se”,


introduzindo a condição para que o
ficava com o aparelho. Sempre é uma rádio fique.
companhia neste deserto.
Manuel da Fonseca, O fogo e as cinzas, Lisboa, Editorial - Alteração do tipo de relacionamento
Caminho, 2011, pp. 159-160. entre Batola e a mulher graças ao
aparelho de rádio que passou a ser
uma companhia naquele “deserto” em
que viviam.

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