Você está na página 1de 151

CÁLCULO INTEGRAL A

VÁRIAS VARIÁVEIS
O essencial

Paula Carvalho e Luís Descalço

2
EDIÇÃO, DISTRIBUIÇÃO E VENDAS
SÍLABAS & DESAFIOS - UNIPESSOAL LDA.
NIF: 510212891
www.silabas-e-desafios.pt
info@silabas-e-desafios.pt

Sede:
Rua Dorilia Carmona, nº 4, 4 Dt
8000-316 Faro
Telefone: 289805399
Fax: 289805399
Encomendas: encomendar@silabas-e-desafios.pt

TÍTULO
CÁLCULO INTEGRAL A VÁRIAS VARIÁVEIS – O essencial
AUTORES
Paula Carvalho e Luís Descalço

1ª edição

Copyright @ Paula Carvalho, Luís Descalço e Sílabas & Desafios, Unipessoal Lda., Setembro 2016
ISBN: 978-989-8842-05-3
Depósito legal:

Pré-edição, edição, composição gráfica e revisão: Sílabas & Desafios Unipessoal, Lda.
Pré-impressão, impressão e acabamentos: Gráfica Comercial, Loulé

Capa: Inês Godinho©2016

Reservados todos os direitos. Reprodução proibida. A utilização de todo, ou partes, do texto, figuras, quadros,
ilustrações e gráficos, deverá ter a autorização expressa do autor

2
ÍNDICE
INTRODUÇÃO 7
CAPÍTULO 1. MUDANÇAS DE COORDENADAS E FUNÇÕES
VETORIAIS 11
1.1. Mudança de Coordenadas 12
1.1.1. Coordenadas polares 13
1.1.2. Coordenadas cilíndricas e coordenadas esféricas 15
1.2. Campos vetoriais 20
1.2.1. Divergente e rotacional 24
1.2.2. Campos conservativos 28
1.2.3. Algumas propriedades do divergente e do rotacional 32
1.3. Curvas parametrizadas 34
1.3.1. Reparametrização de uma curva 46
1.4. Exercícios propostos 48
CAPÍTULO 2. INTEGRAIS DE LINHA 53
2.1. Integral de linha de um campo escalar 53
2.1.1. Propriedades 58
2.2. Integral de linha de um campo vetorial 60
2.3. Teorema fundamental dos integrais de linha 63
2.4. Exercícios propostos 68
CAPÍTULO 3. INTEGRAIS MÚLTIPLOS 71
3.1. Integrais duplos 71
3.1.1. Cálculo do integral duplo 74
3.1.2. Integrais duplos em coordenadas polares 82
3.1.3. Teorema de Green 87
3.2. Integrais triplos 94
3.2.1. Definição e Propriedades 94
3.2.2. Cálculo do integral triplo 95

3
3.2.3. Integrais triplos em coordenadas cilíndricas e esféricas 101
3.3. Exercícios Propostos 105
CAPÍTULO 4. INTEGRAIS DE SUPERFÍCIE 109
4.1. Superfícies Parametrizadas 109
4.2. Integral de superfície de um campo escalar 115
4.3. Integral de superfície de um campo vetorial 122
4.3.1. Superfícies orientadas 122
4.3.2. Integral superfície de um campo vetorial 124
4.4. Teorema de Gauss e Teorema de Stokes 128
4.4.1. Teorema de Gauss 129
4.4.2. Teorema de Stokes 135
4.5. Exercícios Propostos 141
SOLUÇÕES 145
Capítulo 1 145
Capítulo 2 147
Capítulo 3 148
Capítulo 4 149
BIBLIOGRAFIA 151

4
Agradecimentos

Os autores desejam expressar o seu agradecimento ao CIDMA - Centro


de Investigação e Desenvolvimento em Matemática e Aplicações e FCT-
Fundação para a Ciência e a Tecnologia (UID/MAT/04106/2013 e
SFRH/BSAB/114249/2016).
Desejam, também, agradecer aos vários colegas que consigo têm
trabalhado ao longo dos anos nesta unidade curricular, uma vez que alguns
dos exercícios propostos foram sendo colecionados durante esse tempo,
tornando-se impossível determinar a sua autoria.

Este livro é dedicado aos nossos estudantes.

Aveiro, setembro de 2016


Paula Carvalho
Luís Descalço

5
6
INTRODUÇÃO

Este livro é um texto introdutório dos conceitos básicos de cálculo


para funções de várias variáveis escrito de uma forma acessível, clara e
sucinta, tornando-o um texto de apoio à lecionação e ao trabalho do
estudante.
Destina-se a estudantes universitários do segundo ano de
Engenharias, de Física, ou de outros cursos da área das Ciências Naturais onde
o cálculo integral e o cálculo vetorial são componentes importantes da sua
formação. Tem como pré-requisitos o cálculo diferencial de funções de várias
variáveis, que constitui o tema do livro dos mesmos autores – Cálculo
diferencial a várias variáveis, O essencial [5] – mas também conhecimentos
de cálculo diferencial e integral de funções reais de uma variável real,
usualmente adquiridos em unidades curriculares precedentes. Além disso,
são também profícuos alguns conhecimentos de álgebra linear e geometria
analítica.
Entendemos que, neste nível de aprendizagem, é importante que o
estudante desenvolva a habilidade de calcular, com papel e lápis, mas
também usando métodos computacionais. Defendemos que o uso de
métodos computacionais exige que o estudante seja capaz de compreender
os problemas interpretando-os num contexto geométrico e, também, que
conheça os resultados teóricos e clássicos que lhe permitam fazer uma boa
interpretação dos resultados obtidos por esse meio.
Pretendemos que seja um texto simples, básico e essencial. Contém
uma coleção extensa de exemplos e exercícios resolvidos e, no final de cada
capítulo, apresenta também uma lista de exercícios propostos. Exercícios
complementares podem ainda ser encontrados em [6].

7
Neste contexto, embora tenha sido nossa preocupação manter o
rigor matemático, foi feita uma simplificação da exposição, colocando mais
enfase no cálculo do que na justificação dos resultados teóricos.
Recomendamos pois, sobretudo aos estudantes mais curiosos e ambiciosos,
a consulta da bibliografia indicada [1,2,4,7,8,9], constituída por textos
clássicos, onde se podem encontrar as demonstrações omitidas, bem como
algumas explicações mais profundas que são aqui preteridas.
O CAPÍTULO 1 está dividido em 3 secções. Na secção 1 tratam-se as
mudanças de coordenadas no plano e no espaço. Dá-se especial atenção às
coordenadas polares no plano e às coordenadas cilíndricas e coordenadas
esféricas no espaço. Na secção 2 lida-se com os campos vetoriais, que
aparecem também nos integrais de linha e nos integrais de superfície, mais
adiante. Em particular, estudam-se os campos conservativos, suas
propriedades e algumas aplicações. Na secção 3 estudam-se as curvas como
funções vetoriais preparando-se assim o estudo dos integrais de linha que se
faz posteriormente.
No CAPÍTULO 2 cobre-se o estudo dos integrais de linha. O integral
de linha é visto como uma extensão do integral definido de uma função
escalar sobre uma linha e define-se, depois, o integral de linha de um campo
vetorial. Usa-se o teorema fundamental dos integrais de linha para calcular o
trabalho ou a circulação de um campo vetorial conservativo.
O CAPÍTULO 3 é dedicado ao cálculo de integrais múltiplos. Embora
muitos dos resultados apresentados sejam válidos para qualquer dimensão,
estudam-se, em particular, os integrais duplos e triplos. Estes integrais são
vistos como extensões dos integrais definidos em dimensão inferior e
mostram-se as aplicações mais frequentes. Usam-se mudanças de
coordenadas sempre que adequado, para o cálculo dos integrais e estuda-se
o teorema de Green.
O CAPÍTULO 4 começa com a definição de superfície parametrizada
como função vetorial de dois parâmetros. Estudam-se os integrais de

8
superfície como integrais que se transformam em integrais duplos, cuja
região de integração é o domínio dos parâmetros da superfície
parametrizada. Este capítulo termina com o estudo dos teoremas de Gauss e
de Stokes, fazendo-se a ligação com os assuntos tratados nos capítulos
anteriores: os integrais triplos e os integrais de linha de uma curva no espaço.

9
10
CAPÍTULO 1.

MUDANÇAS DE COORDENADAS
E FUNÇÕES VETORIAIS

Este capítulo é composto por três secções. A primeira é dedicada a um


breve estudo das mudanças de coordenadas no plano e no espaço; dá-se
especial atenção à mudança para coordenadas polares no plano e à mudança
para coordenadas cilíndricas e esféricas no espaço.
Nas secções seguintes estudam-se dois tipos especiais de funções
vetoriais. Os campos vetoriais e as curvas dando enfase à visualização e
traçado de curvas parametrizadas como funções que representam
movimento.
No final, o estudante deve ser capaz de:
 Escrever em coordenadas polares uma região plana dada em
coordenadas retangulares e reciprocamente;
 Escrever em coordenadas cilíndricas e em coordenadas esféricas uma
região dada em coordenadas retangulares;
 Escrever em coordenadas retangulares uma região dada em coorde-
nadas cilíndricas ou em coordenadas esféricas;
 Identificar um campo conservativo;
 Calcular um potencial para um campo conservativo;
 Determinar uma equação cartesiana de uma curva dada pelas suas
equações paramétricas;
 Parametrizar curvas no plano e no espaço;
 Identificar curvas regulares;
 Traçar curvas no plano e no espaço;
 Escrever uma equação do plano tangente e da reta normal a uma curva
num ponto.

11
1.1. Mudança de Coordenadas

A escolha de um sistema de coordenadas, no plano ou no espaço, de


acordo com o problema que pretendemos resolver, é um passo fundamental
na obtenção da solução do problema; em certas situações, por exemplo em
problemas que envolvem o cálculo de integrais, pode ser conveniente efetuar
uma mudança de coordenadas.

DEFINIÇÃO 1.1
Seja 𝑈 ∈ ℝ𝑛 um aberto. Uma mudança de coordenadas (ou
mudança de variáveis) em 𝑈 é uma função 𝑇: 𝑈 ⊆ ℝ𝑛 → ℝ𝑛 , tal que
𝑇(𝑢1 , 𝑢2 , … , 𝑢𝑛 ) = (𝑥1 , 𝑥2 , … , 𝑥𝑛 ) de classe 𝐶 1 , injetiva, cujo
Jacobiano1 não se anula, isto é,
𝜕𝑥1 𝜕𝑥1

𝜕(𝑥1 , 𝑥2 , … , 𝑥𝑛 ) |𝜕𝑢1 𝜕𝑢𝑛
|
= ⋮ ⋱ ⋮ ≠ 0 em 𝑈.
𝜕(𝑢1 , 𝑢2 , … , 𝑢𝑛 ) |𝜕𝑥 𝜕𝑥𝑛 |
𝑛

𝜕𝑢1 𝜕𝑢𝑛
1

Exemplo 1.1 A função definida em ℝ2 por

𝑇(𝑢, 𝑣) = (𝑥, 𝑦) = (2𝑢 − 𝑣, 𝑢 + 𝑣)

é uma mudança de coordenadas no plano. O Jacobiano de 𝑇,

𝜕𝑥 𝜕𝑥
𝜕(𝑥, 𝑦) 𝜕𝑢 𝜕𝑣 | 2 −1
=| |=| | = 3,
𝜕(𝑢, 𝑣) |𝜕𝑦 𝜕𝑦 1 1
𝜕𝑢 𝜕𝑣

não se anula em ℝ2 , o que permite concluir que 𝑇 é injetiva pois 𝑇 é uma

1 O Jacobiano é o determinante da matriz Jacobiana [5].

12
aplicação linear. Aplicando esta transformação ao triângulo no plano 𝑢𝑂𝑣
cujos vértices são os pontos de coordenadas cartesianas 𝑂 = (0, 0),
𝐴 = (1, 0), 𝐵 = (0,1) obtém-se o triângulo no plano 𝑥𝑂𝑦 cujos vértices são
𝑂 = (0, 0), 𝐴′ = (2,1), 𝐵′ = (−1,1) , como se vê na Figura 1.1.

FIGURA 1.1. O TRANSFORMADO DO TRIÂNGULO [OAB] É O TRIÂNGULO [OA’B’]

1.1.1. Coordenadas polares

Para cada ponto 𝑃 = (𝑥, 𝑦) ≠ (0,0) num referencial cartesiano em ℝ2 ,


consideremos 𝑟 = √𝑥 2 + 𝑦 2 > 0 a distância
desse ponto à origem e 𝜃 ∈ [0,2𝜋[ o ângulo que
o vetor posição do ponto 𝑃 faz com a parte
positiva do eixo dos 𝑥𝑥, medido no sentido anti-
horário, como ilustra a Figura 1.2. Os números 𝑟
e 𝜃 são as coordenadas polares do ponto 𝑃.
A relação entre as coordenadas polares e as
coordenadas cartesianas é dada por
FIGURA 1.2. COORDENADAS
POLARES (𝑟, 𝜃) DO PONTO 𝑃

𝑥 = 𝑟 cos 𝜃
{ . (1.1)
𝑦 = 𝑟 sin 𝜃

A função vetorial que a cada (𝑟, 𝜃) faz corresponder o ponto


(𝑥, 𝑦) = (𝑟 cos 𝜃, 𝑟 sin 𝜃) definida em 𝐷 = {(𝑟, 𝜃): 𝑟 > 0, 0 ≤ 𝜃 < 2𝜋} , é
uma bijeção e o seu Jacobiano

13
𝜕𝑥 𝜕𝑥
𝜕(𝑥, 𝑦) 𝜕𝑟 𝜕𝜃 | cos 𝜃 −𝑟 sin 𝜃
= || | = | |=𝑟 (1.2)
𝜕(𝑟, 𝜃) 𝜕𝑦 𝜕𝑦 sin 𝜃 𝑟 cos 𝜃
𝜕𝑟 𝜕𝜃

é não nulo em 𝐷. É possível alterar o domínio da função de modo a obter


outras bijeções, em particular, é usual tomar −𝜋 ≤ 𝜃 < 𝜋. Note-se que esta
função, considerada como aplicação de ℝ2 em ℝ2 não é bijetiva, mas para
cada ponto (𝑟, 𝜃), com 𝑟 > 0, é sempre possível encontrar um conjunto
aberto contendo esse ponto de tal modo que a sua restrição a esse aberto é
uma mudança de coordenadas.
Exemplo 1.2 O ponto (𝑥, 𝑦) = (0,1) tem coordenadas polares
𝜋 𝜋
(𝑟, 𝜃) = (1, ); o ponto cujas coordenadas polares são (𝑟, 𝜃) = (√2, ) é o
2 4
ponto (𝑥, 𝑦) = (1,1) em coordenadas cartesianas.
Como ilustrado na figura 1.3, ao círculo centrado na origem e de raio 𝑅
corresponde, em coordenadas polares, o retângulo ]0, 𝑅] × [0,2𝜋[. A Figura
ilustra também que, fixando 𝑟 a equação 𝑥 2 + 𝑦 2 = 𝑟 2 define uma
circunferência centrada na origem de raio 𝑟; além disso, fixando 𝜃
(e com 0 ≤ 𝑟 ≤ 𝑅) obtém-se um segmento de reta.

FIGURA 1.3. UM CÍRCULO E O CORRESPONDENTE RETÂNGULO EM COORDENADAS POLARES

Exemplo 1.3 Uma semirreta tem equação polar do tipo 𝜃 = 𝑐, sendo 𝑐 uma
constante. Por exemplo, para a semirreta definida por 𝑦 = 𝑥, 𝑥 ≥ 0, fazendo
𝑥 = 𝑟 cos 𝜃, 𝑦 = 𝑟 sin 𝜃, de acordo com (1.1), vem

𝜋
𝑟 cos 𝜃 = 𝑟 sin 𝜃 ⇒ cos 𝜃 = sin 𝜃 ⇒ tan 𝜃 = 1 ⇒ 𝜃 = .
4

14
Uma circunferência centrada na origem de raio 𝑎 > 0, 𝑥 2 + 𝑦 2 = 𝑎2 , tem
equação polar 𝑟 = 𝑎. Por exemplo, com 𝑎 = 2 tem-se

(𝑟 cos 𝜃) 2 + (𝑟 sin 𝜃)2 = 4 ⇒ 𝑟 2 = 4 ⇒ 𝑟 = 2.

Equações do tipo 𝑟 = 𝑎 e 𝜃 = 𝑐 (𝑎, 𝑐 constantes) definem as chamadas


curvas coordenadas no plano polar.
Na Figura 1.4 pode ver-se um retângulo polar,

𝑅′ = {(𝑟, 𝜃): 𝑎 ≤ 𝑟 ≤ 𝑏, 𝛼 ≤ 𝜃 ≤ 𝛽},

conjunto que se define de modo mais simples em coordenadas polares do


que em coordenadas cartesianas.

FIGURA 1.4. COORDENADAS CARTESIANAS VERSUS COORDENADAS POLARES: RETÂNGULO POLAR

1.1.2. Coordenadas cilíndricas e


coordenadas esféricas

Dado um ponto 𝑃 = (𝑥, 𝑦, 𝑧) , com (𝑥, 𝑦) ≠ (0,0) , em coordenadas


cartesianas em ℝ3 , considerando as coordenadas polares (𝑟, 𝜃) da sua
projeção no plano 𝑥𝑂𝑦 e a sua terceira coordenada 𝑧 ∈ ℝ, obtém-se as
coordenadas cilíndricas (𝑟, 𝜃, 𝑧) desse ponto, satisfazendo as relações

15
𝑥 = 𝑟 cos 𝜃
{ 𝑦 = 𝑟 sin 𝜃 ,
𝑧=𝑧

onde 𝑟 = √𝑥 2 + 𝑦 2 , como ilustra a primeira imagem da Figura 1.5.

FIGURA 1.5. COORDENADAS CILÍNDRICAS E COORDENADAS ESFÉRICAS, RESPETIVAMENTE


A função vetorial que a cada (𝑟, 𝜃, 𝑧) faz corresponder o ponto
(𝑥, 𝑦, 𝑧) = (𝑟 cos 𝜃 , 𝑟 sin 𝜃 , 𝑧), definida de

𝐷 = ]0, +∞[ × ℝ

para ℝ3 \{(0,0,0)} é uma bijeção e o seu Jacobiano é

𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑥
𝜕𝑟 𝜕𝜃 𝜕𝑧 cos 𝜃 −𝑟 sin 𝜃 0
𝜕(𝑥, 𝑦, 𝑧) |𝜕𝑦 𝜕𝑦 𝜕𝑦
|
= = | sin 𝜃 𝑟 cos 𝜃 0| = 𝑟.
𝜕(𝑟, 𝜃, 𝑧)
|𝜕𝑟 𝜕𝜃 𝜕𝑧 |
𝜕𝑧 𝜕𝑧 𝜕𝑧 0 0 1
𝜕𝑟 𝜕𝜃 𝜕𝑧
À semelhança do que foi referido no caso das coordenadas polares, é
possível alterar o domínio da função de modo a obter outras bijeções, que
também são mudanças de coordenadas.

16
Por outro lado, um dado ponto 𝑃 = (𝑥, 𝑦, 𝑧) , com (𝑥, 𝑦) ≠ (0,0) em
coordenadas cartesianas, pode ser descrito pelas suas coordenadas esféricas
(𝜌, 𝜃, 𝜙), definidas por
𝑥 = 𝜌 cos 𝜃 sin 𝜙
{ 𝑦 = 𝜌 sin 𝜃 sin 𝜙 ,
𝑧 = 𝜌 cos 𝜙

onde 𝜌 = √𝑥 2 + 𝑦 2 + 𝑧 2 é a distância do ponto 𝑃 à origem do sistema de


referência, 𝜃 é a amplitude do ângulo orientado desde o semieixo positivo
dos 𝑥𝑥 à semirreta que parte da origem e passa pela projeção do ponto 𝑃 no
plano 𝑥𝑂𝑦, e 𝜙 a amplitude do ângulo entre o semieixo positivo dos 𝑧𝑧 e a
semirreta que parte da origem e passa por 𝑃, como ilustrado na segunda
imagem da figura 1.5.
A função de ]0, +∞[ × [0,2𝜋[ × [0, 𝜋] para ℝ3 \{(0,0,0)} definida por

𝑓(𝜌, 𝜃, 𝜙) = (𝜌 cos 𝜃 sin 𝜙 , 𝜌 sin 𝜃 sin 𝜙 , 𝜌 cos 𝜙)

é uma bijeção cujo Jacobiano é

𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑥
cos 𝜃 sin 𝜙 −𝜌 sin 𝜃 sin 𝜙 𝜌 cos 𝜃 cos 𝜙
|𝜕𝜌 𝜕𝜃 𝜕𝜙 |
𝜕(𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝜕𝑦 𝜕𝑦 𝜕𝑦
= = || sin 𝜃 sin 𝜙 𝜌 cos 𝜃 sin 𝜙 𝜌 sin 𝜃 cos 𝜙 ||
𝜕(𝜌, 𝜃, 𝜙) 𝜕𝜌 𝜕𝜃 𝜕𝜙
| 𝜕𝑧 𝜕𝑧 𝜕𝑧 | cos 𝜙 0 −𝜌 sin 𝜙
𝜕𝜌 𝜕𝜃 𝜕𝜙

= −𝜌2 cos 𝜙 (sin2 𝜃 cos 𝜙 sin 𝜙 + cos 2 𝜃 cos 𝜙 sin 𝜙)

− 𝜌2 sin 𝜙 (cos 2 𝜃 sin2 𝜙 + sin2 𝜃 sin2 𝜙)

= −𝜌2 cos 2 𝜙 sin 𝜙 − 𝜌2 sin3 𝜙 = −𝜌2 sin 𝜙.

Também aqui é possível alterar convenientemente o domínio da função


de modo a obter outras bijeções, que também são mudanças de
coordenadas.

17
Exemplo 1.4 O ponto cujas coordenadas cartesianas são (1,1,1) tem
𝜋 𝜋 𝜋
coordenadas cilíndricas (√2, , 1) e coordenadas esféricas (√3, , ).
4 4 4
2 2 2
Exemplo 1.5 A superfície cilíndrica dada por 𝑥 + 𝑦 = 𝑎 (𝑎 > 0) escreve-
se em coordenadas cilíndricas 𝑟 = 𝑎 . As equações do tipo 𝜃 = 𝑐 (𝑐
constante) representam semiplanos verticais e as do tipo 𝑧 = 𝑐 representam
planos horizontais. Estas são as superfícies coordenadas do espaço cilíndrico.
A superfície cónica de equação cartesiana 𝑥 2 + 𝑦 2 = 𝑧 2 , tem equação, em
coordenadas cilíndricas, 𝑧 2 = 𝑟 2 . A folha positiva desta superfície cónica é
definida por 𝑧 = 𝑟 e a folha negativa por 𝑧 = −𝑟. O cilindro de raio 𝑎 e altura
ℎ definido por 𝑥 2 + 𝑦 2 ≤ 𝑎2 com 0 ≤ 𝑧 ≤ ℎ (onde 𝑎 e ℎ são constantes
positivas) corresponde, em coordenadas cilíndricas, a um paralelepípedo,
como ilustra a Figura 1.6.

FIGURA 1.6. COORDENADAS CILÍNDRICAS E COORDENADAS CARTESIANAS

Exemplo 1.6 A superfície esférica 𝑥 2 + 𝑦 2 + 𝑧 2 = 𝑎2 (𝑎 > 0), centrada na


origem de raio 𝑎, escreve-se em coordenadas esféricas 𝜌 = 𝑎 (veja a Figura
1.7); as equações do tipo 𝜃 = 𝑐 representam planos verticais (tal como no
caso das coordenadas cilíndricas) e as do tipo 𝜙 = 𝑐 definem superfícies
cónicas. Estas são as superfícies coordenadas do espaço esférico. Por
exemplo, a folha positiva da superfície cónica de equação 𝑥 2 + 𝑦 2 = 𝑧 2 tem
𝜋 3𝜋
equação, em coordenadas esféricas, 𝜙 = e a folha negativa 𝜙 = .
4 4

18
FIGURA 1.7. COORDENADAS ESFÉRICAS E COORDENADAS CARTESIANAS

Exercício resolvido 1.1. Seja 𝑈 o sólido li-


mitado superiormente pela superfície es-
férica de equação 𝑥 2 + 𝑦 2 + 𝑧 2 = 2𝑧 e
inferiormente pela folha positiva de uma
superfície cónica, com equação
2 2
𝑧 = √𝑥 + 𝑦 . Escrever 𝑈 em coordena-
das esféricas e em coordenadas cilíndri-
cas.
Resolução. A mudança para coordenadas
esféricas é dada por

𝑥 = 𝜌 cos 𝜃 sin 𝜙 FIGURA 1.8. SÓLIDO DO EXERCÍCIO


{ 𝑦 = 𝜌 sin 𝜃 sin 𝜙 , RESOLVIDO 1.1

𝑧 = 𝜌 cos 𝜙

logo a superfície esférica é, em coordenadas esféricas, 𝜌2 = 2𝜌 cos 𝜙, ou


seja, 𝜌 = 2 cos 𝜙. A superfície cónica é dada por

𝜋
𝜌 cos 𝜙 = √𝜌2 cos 2 𝜃 sin2 𝜙 + 𝜌2 sin2 𝜃 sin2 𝜙 = 𝜌 sin 𝜙 , 0 ≤ 𝜙 < .
2
𝜋
De 𝜌 cos 𝜙 = 𝜌 sin 𝜙, vem 𝜙 = . Então o sólido 𝑈 é, em coordenadas
4
esféricas, o conjunto de pontos representado na Figura 1.8:

19
𝜋
𝑈 = {(𝜌, 𝜃, 𝜙) ∈ ℝ3 : 0 ≤ 𝜃 < 2𝜋, 0 ≤ 𝜙 ≤ , 0 < 𝜌 ≤ 2 cos 𝜙}.
4

Fazendo agora uma mudança para coordenadas cilíndricas:

𝑥 = 𝑟 𝑐𝑜𝑠 𝜃
{ 𝑦 = 𝑟 𝑠𝑖𝑛 𝜃 ,
𝑧=𝑧

a superfície esférica é dada por 𝑟 2 + (𝑧 — 1)2 = 1 , donde o hemisfério


superior tem equação 𝑧 = 1 + √ 1 − 𝑟 2 e a superfície cónica é dada por
𝑧 = 𝑟. A projeção do sólido no plano 𝑥𝑂𝑦 é um disco de centro na origem e
raio 1, logo

0 ≤ 𝜃 < 2𝜋, 0 ≤ 𝑟 ≤ 1.

O sólido 𝑈 é, em coordenadas cilíndricas, o conjunto de pontos

𝑈 = {(𝑟, 𝜃, 𝑧) ∈ ℝ3 : 0 ≤ 𝑟 ≤ 1, 0 ≤ 𝜃 < 2𝜋, 𝑟 ≤ 𝑧 ≤ 1 + √1 − 𝑟 2 }.

1.2. Campos vetoriais

Os campos vetoriais surgem frequentemente em áreas como o


eletromagnetismo e a hidrodinâmica. Alguns exemplos muito conhecidos de
campos vetoriais são o campo gravitacional gerado por uma massa, o campo
elétrico gerado por uma carga elétrica, o campo magnético, campos de
velocidades (de partículas atmosféricas ou de um fluido em movimento). Os
campos de temperaturas ou o potencial elétrico gerado por uma distribuição
de cargas não são campos vetoriais mas sim campos escalares.

20
DEFINIÇÃO 1.2
Seja 𝑈 ⊆ ℝ𝑚 . Um campo vetorial é uma função vetorial 𝐹: 𝑈 ⊆ ℝ𝑚 → ℝ𝑚
que associa a cada ponto do seu domínio um vetor de ℝ𝑚 .
Se 𝑚 = 2, diz-se que o campo vetorial é plano e escreve-se,

𝐹(𝑥, 𝑦) = 𝑃(𝑥, 𝑦)𝑖̂ + 𝑄(𝑥, 𝑦)𝑗̂;

se 𝑚 = 3, tem-se um campo vetorial no espaço e escreve-se, neste caso,

𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑃(𝑥, 𝑦, 𝑧)𝑖̂ + 𝑄(𝑥, 𝑦, 𝑧)𝑗̂ + 𝑅(𝑥, 𝑦, 𝑧)𝑘̂ .

Por vezes, escreve-se também,

𝐹(𝑥, 𝑦) = (𝑃(𝑥, 𝑦), 𝑄(𝑥, 𝑦)) ou 𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧) = (𝑃(𝑥, 𝑦, 𝑧), 𝑄(𝑥, 𝑦, 𝑧), 𝑅(𝑥, 𝑦, 𝑧)),

respetivamente, com o mesmo significado, identificando os vetores com as


suas coordenadas.
Um campo vetorial 𝐹 diz-se contínuo num ponto 𝑝 ∈ int (𝑈) se e só se
as suas componentes forem contínuas em 𝑝, e diz-se diferenciável em 𝑝 se e
só se as suas componentes o forem.
Podemos representar graficamente um campo vetorial colocando
pequenas setas nos pontos (do plano ou do espaço) para representar os
vetores nesse pontos. Por exemplo, o campo vetorial 𝐹(𝑥, 𝑦) = (1,1) é um
campo vetorial constante. Todos os vetores são paralelos (com direção
determinada pelo vetor 𝑖̂ + 𝑗̂).
Exemplo 1.7. Na Figura 1.9 estão representados dois campos vetoriais planos.
Quando o campo vetorial apresenta alguma simetria circular, como é o
caso de 𝐹(𝑥, 𝑦) = −𝑦𝑖̂ + 𝑥𝑗̂ que está representado na Figura 1.9, é
interessante, e talvez natural, representá-lo em coordenadas polares,

𝐹(𝑟, 𝜃) = 𝐴(𝑟, 𝜃)𝑒̂𝑟 + 𝐵(𝑟, 𝜃)𝑒̂𝜃 ,

onde (𝑒̂𝑟 , 𝑒̂𝜃 ) é outra base de ℝ2 , (𝑟, 𝜃) são as coordenadas polares do ponto

21
a que aplicamos 𝐹 e 𝐴(𝑟, 𝜃) e B(𝑟, 𝜃) são as componentes do vetor obtido,
𝐹(𝑟, 𝜃), segundo as direções radial e tangencial, 𝑒̂𝑟 e 𝑒̂𝜃 , respetivamente. A
conversão entre os dois tipos de coordenadas faz-se tendo em conta (ver
Figura 1.10) que

𝑒̂𝑟 = cos 𝜃 𝑖̂ + sin 𝜃 𝑗̂, 𝑒̂𝜃 = − sin 𝜃 𝑖̂ + cos 𝜃 𝑗̂

𝑖̂ = cos 𝜃 𝑒̂𝑟 − sin 𝜃 𝑒̂𝜃 𝑗̂ = sin 𝜃 𝑒̂𝑟 + cos 𝜃 𝑒̂𝜃

FIGURA 1.9. O CAMPO RADIAL 𝐹(𝑥, 𝑦) = 𝑥𝑖̂ + 𝑦𝑗̂ E O CAMPO TANGENCIAL 𝐹(𝑥, 𝑦) = −𝑦𝑖̂ + 𝑥𝑗̂

Deste modo, o campo 𝐹(𝑥, 𝑦) = 𝑥𝑖̂ + 𝑦𝑗̂, pode definir-se em


coordenadas polares por 𝐹(𝑟, 𝜃) = 𝑟𝑒̂𝑟 ; diz-se, por isso, um campo radial já
que a componente tangencial é
nula. Analogamente, o campo
vetorial 𝐹(𝑥, 𝑦) = −𝑦𝑖̂ + 𝑥𝑗̂ pode
definir-se em coordenadas polares
por 𝐹(𝑟, 𝜃) = 𝑟𝑒̂𝜃 e diz-se um
campo tangencial significando que
a componente radial é nula (ver
Figura 1.10).
Um campo vetorial no espaço
pode ser representado usando
FIGURA 1.10. DECOMPOSIÇÃO NAS COMPONENTES
coordenadas cilíndricas
RADIAIS E TANGENCIAL

𝐹(𝑟, 𝜃, 𝑧) = 𝐴(𝑟, 𝜃, 𝑧)𝑒̂𝑟 + 𝐵(𝑟, 𝜃, 𝑧)𝑒̂𝜃 + 𝐶(𝑟, 𝜃, 𝑧)𝑒̂𝑧 ,

22
sendo a transformação dada por

𝑒̂𝑟 = cos 𝜃 𝑖̂ + sin 𝜃 𝑗̂, 𝑒̂𝜃 = − sin 𝜃 𝑖̂ + cos 𝜃 𝑗̂, 𝑒̂𝑧 = 𝑘̂

𝑖̂ = cos 𝜃 𝑒̂𝑟 − sin 𝜃 𝑒̂𝜃 𝑗̂ = sin 𝜃 𝑒̂𝑟 + cos 𝜃 𝑒̂𝜃 , 𝑘̂ = 𝑒̂𝑧

ou, em coordenadas esféricas

𝐹(𝜌, 𝜃, 𝜙) = 𝐴(𝜌, 𝜃, 𝜙)𝑒̂𝜌 + 𝐵(𝜌, 𝜃, 𝜙)𝑒̂𝜃 + 𝐶(𝜌, 𝜃, 𝜙)𝑒̂𝜙 ,


sendo

𝑒̂𝜌 = cos 𝜃 sin 𝜙 𝑖̂ + sin 𝜃 sin 𝜙 𝑗̂ + cos 𝜙 𝑘̂,

𝑒̂𝜃 = − sin 𝜃 𝑖̂ + cos 𝜃 𝑗̂,

𝑒̂𝜙 = cos 𝜃 cos 𝜙 𝑖̂ + sin 𝜃 cos 𝜙 𝑗̂ − sin 𝜙 𝑘̂,

𝑖̂ = cos 𝜃 sin 𝜙 𝑒̂𝜌 − sin 𝜃 𝑒̂𝜃 + cos 𝜃 cos 𝜙 𝑒̂𝜙 ,

𝑗̂ = sin 𝜃 sin 𝜙 𝑒̂𝜌 + cos 𝜃 𝑒̂𝜃 + sin 𝜃 cos 𝜙 𝑒̂𝜙 ,

𝑘̂ = cos 𝜙 𝑒̂𝜌 − sin 𝜙 𝑒̂𝜙 .

Exemplo 1.8. Alguns campos conhecidos:


1. O campo gravitacional gerado por uma partícula de massa 𝑀 situada na
origem de um referencial, sendo 𝐺 a constante universal de gravitação,

𝐺𝑀
𝐺(𝑥, 𝑦, 𝑧) = − (𝑥𝑖̂ + 𝑦𝑗̂ + 𝑧𝑘̂)
√(𝑥 2 + 𝑦 2 + 𝑧 2 )3

escreve-se em coordenadas esféricas:

𝐺𝑀
𝐺(𝜌, 𝜃, 𝜙) = − 𝑒̂ .
𝜌2 𝜌

2. O campo elétrico gerado por uma carga 𝑄 situada na origem,

23
𝐾𝑄
𝐸(𝑥, 𝑦, 𝑧) = (𝑥𝑖̂ + 𝑦𝑗̂ + 𝑧𝑘̂ )
√(𝑥 2 + 𝑦 2 + 𝑧 2 )3

onde 𝐾 denota a constante de Coulomb, escreve-se em coordenadas


esféricas:

𝐾𝑄
𝐸(𝜌, 𝜃, 𝜙) = 𝑒̂ .
𝜌2 𝜌

3. O campo magnético de um fio infinito situado no eixo dos 𝑧𝑧 percorrido


por uma corrente 𝐼 no sentido positivo do eixo, onde 𝑐 é a velocidade da
luz,

2𝐼
𝐵(𝑥, 𝑦, 𝑧) = (−𝑦𝑖̂ + 𝑥𝑗̂)
𝑐(𝑥 2 + 𝑦 2 )

escreve-se em coordenadas cilíndricas:

2𝐼
𝐵(𝑟, 𝜃, 𝑧) = 𝑒̂ .
𝑐𝑟 𝜃

1.2.1. Divergente e rotacional

O divergente e o rotacional de um campo vetorial são operadores cujas


propriedades podem ser captadas na visualização de um campo de vetores
que represente o fluxo de um fluido ou de um gás. Intuitivamente, podemos
dizer que a divergência de um campo vetorial mede a sua expansão ou
contração. Num dado ponto, a divergência de um campo vetorial é um
número que representa, de um certo ponto de vista, o modo como um fluido
se expande nesse ponto. Na Figura 1.11 podemos observar dois exemplos
contrastantes. No primeiro caso, o divergente é positivo, mostrando que o
fluido se expande a partir da origem, enquanto no segundo se comprime no
sentido da origem; neste caso, o divergente é negativo.

24
FIGURA 1.11. OS CAMPOS VETORIAIS 𝐹 (𝑥, 𝑦) = 𝑥 𝑖̂ + 𝑦 𝑗̂ E 𝐹(𝑥, 𝑦) = −𝑥𝑖̂ − 𝑦 𝑗̂
A noção de rotacional de um campo vetorial é um pouco mais complexa.
Esta noção capta a ideia do modo como o fluido pode rodar (sofrer uma
rotação). Define-se rotacional de 𝐹 como sendo um vetor que aponta no
sentido do eixo de rotação cujo comprimento corresponde à velocidade de
rotação.
Formalmente, definimos divergente e rotacional de um campo vetorial
do seguinte modo:

DEFINIÇÃO 1.3
O divergente de um campo vetorial diferenciável no espaço,
𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧) = (𝑃(𝑥, 𝑦, 𝑧), 𝑄(𝑥, 𝑦, 𝑧), 𝑅(𝑥, 𝑦, 𝑧)) é, em cada ponto
(𝑥, 𝑦, 𝑧), um campo escalar definido por
𝜕𝑃 𝜕𝑄 𝜕𝑅
div(𝐹)(𝑥, 𝑦, 𝑧) = (𝑥, 𝑦, 𝑧) + (𝑥, 𝑦, 𝑧) + (𝑥, 𝑦, 𝑧).
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
Se 𝐹(𝑥, 𝑦) = (𝑃(𝑥, 𝑦), 𝑄(𝑥, 𝑦)) é um campo vetorial plano, então
𝜕𝑃 𝜕𝑄
div(𝐹)(𝑥, 𝑦) = (𝑥, 𝑦) + (𝑥, 𝑦).
𝜕𝑥 𝜕𝑦

25
DEFINIÇÃO 1.4
O rotacional de um campo vetorial diferenciável no espaço,
𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑃(𝑥, 𝑦, 𝑧)𝑖̂ + 𝑄(𝑥, 𝑦, 𝑧)𝑗̂ + 𝑅(𝑥, 𝑦, 𝑧)𝑘̂ em cada ponto
(𝑥, 𝑦, 𝑧) é um vetor:

𝜕𝑅 𝜕𝑄
rot(𝐹)(𝑥, 𝑦, 𝑧) = (𝑥, 𝑦, 𝑧) − (𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝑖̂
𝜕𝑦 𝜕𝑧

𝜕𝑃 𝜕𝑅
+ (𝑥, 𝑦, 𝑧) − (𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝑗̂
𝜕𝑧 𝜕𝑥

𝜕𝑄 𝜕𝑃
+ (𝑥, 𝑦, 𝑧) − (𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝑘̂.
𝜕𝑥 𝜕𝑦

Esta expressão pode memorizar-se ou obter-se facilmente,


considerando-a como o desenvolvimento segundo a primeira linha do
determinante simbólico
𝑖̂ 𝑗̂ 𝑘̂
|𝜕 𝜕 𝜕|
rot(𝐹) =
|𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧|
𝑃 𝑄 𝑅

𝜕
onde um produto do tipo por 𝑅, por exemplo, deve ser entendido como
𝜕𝑥
𝜕𝑅
a derivada parcial (analogamente nos outros casos).
𝜕𝑥
𝜕 𝜕 𝜕
Ainda, definindo o operador ∇= ( , , ) podemos escrever, de um
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
modo puramente simbólico, para um campo no espaço, o divergente como
um produto escalar e o rotacional como um produto vetorial

div(𝐹) = ∇ ⋅ 𝐹 𝑒 rot(𝐹) = ∇ × 𝐹.

Exemplo 1.9. Seja 𝐹 o campo vetorial no espaço definido por

𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑥 2 𝑧𝑖̂ + 𝑥𝑦𝑧𝑗̂ + 𝑥𝑧 2 𝑘̂ .

26
Temos,
div(𝐹) = ∇ ⋅ 𝐹

𝜕 𝜕 𝜕
= ( , , ) ⋅ (𝑥 2 𝑧, 𝑥𝑦𝑧, 𝑥𝑧 2 )
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

= 2𝑥𝑧 + 𝑥𝑧 + 2𝑥𝑧 = 5𝑥𝑧


e

𝑖̂ 𝑗̂ 𝑘̂
𝜕 𝜕 𝜕
rot(𝐹) = ∇ × 𝐹 = || || = −𝑥𝑦𝑖̂ + (𝑥 2 − 𝑧 2 )𝑗̂ + 𝑦𝑧𝑘̂.
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
𝑥2𝑧 𝑥𝑦𝑧 𝑥𝑧 2

Note-se que, se 𝐹 é um campo vetorial no espaço, div(𝐹): ℝ3 → ℝ é um


campo escalar enquanto rot(𝐹): ℝ3 → ℝ3 é um campo vetorial.
O rotacional de um campo vetorial plano pode ser definido do seguinte
modo:
DEFINIÇÃO 1.5
Se 𝐹(𝑥, 𝑦) = 𝑃(𝑥, 𝑦)𝑖̂ + 𝑄(𝑥, 𝑦)𝑗̂ é um campo vetorial plano,
diferenciável, o rotacional de 𝐹 no ponto (𝑥, 𝑦) é o escalar
𝜕𝑄 𝜕𝑃
(𝑥, 𝑦) − (𝑥, 𝑦).
𝜕𝑥 𝜕𝑦

Exemplo 1.10. Sendo 𝐹(𝑥, 𝑦) = 𝑥 3 𝑦 2 𝑖̂ + 𝑥𝑗̂ então 𝑃(𝑥, 𝑦) = 𝑥 3 𝑦 2 e


𝑄(𝑥, 𝑦) = 𝑥 logo, num ponto genérico (𝑥, 𝑦),

𝜕𝑄 𝜕𝑃
rot(𝐹) = (𝑥, 𝑦) − (𝑥, 𝑦) = 1 − 2𝑥 3 𝑦.
𝜕𝑥 𝜕𝑦

Observe-se, agora, que, 𝐹 é um campo vetorial plano e o seu rotacional


é um campo escalar, é a componente em 𝑘̂ do rotacional do campo 𝐹,
quando mergulhado no espaço.

27
1.2.2. Campos conservativos

DEFINIÇÃO 1.6
Um campo vetorial 𝐹 diz-se conservativo se existir uma função escalar
𝑓 cujo gradiente é 𝐹, ou seja, 𝛻𝑓 = 𝐹. Neste caso, a função 𝑓 diz-se
um potencial associado ao campo vetorial 𝐹.

Recorde-se que sendo 𝑓: ℝ𝑛 → ℝ um campo escalar, o seu gradiente é


um campo vetorial, ∇𝑓: ℝ𝑛 → ℝ𝑛 . Este campo vetorial, que também se diz
um campo gradiente, é um campo conservativo sendo 𝑓 um seu potencial de
acordo com a Definição 1.6. Se 𝑛 = 2 o gráfico de 𝑓 é uma superfície em ℝ3
e o gradiente é um campo vetorial plano:

𝜕𝑓 𝜕𝑓
∇𝑓(𝑥, 𝑦) = (𝑥, 𝑦), (𝑥, 𝑦) .
𝜕𝑥 𝜕𝑦

Em cada ponto, o gradiente é um vetor que aponta no sentido em que o


campo escalar cresce mais rapidamente. Na Figura 1.12 está representada
uma função e o seu campo gradiente.

FIGURA 1.12. O GRÁFICO DE UMA FUNÇÃO DE DUAS VARIÁVEIS E O SEU CAMPO GRADIENTE.

28
Exemplo 1.11.
O campo vetorial definido por 𝐹(𝑥, 𝑦) = (𝑒 𝑥 + 𝑦 2 cos 𝑥 , 𝑒 2𝑦 + 2𝑦 sin 𝑥) é
conservativo. Para o mostrar, de acordo com a definição, devemos exibir uma
função de duas variáveis 𝑓, tal que

𝜕𝑓
(𝑥, 𝑦) = 𝑒 𝑥 + 𝑦 2 cos 𝑥
𝜕𝑥
. (1.3)
𝜕𝑓
(𝑥, 𝑦) = 𝑒 2𝑦 + 2𝑦 sin 𝑥
{𝜕𝑦

Começando por integrar a primeira equação em ordem a 𝑥, tem-se

𝑓(𝑥, 𝑦) = 𝑒 𝑥 + 𝑦 2 sin 𝑥 + 𝜑(𝑦) (1.4)

onde 𝜑(𝑦) é uma função que não depende de 𝑥 mas pode depender de 𝑦.
Derivando esta função em ordem a 𝑦 e comparando com a segunda equação
de (1.3), obtém-se

𝑒 2𝑦 + 2𝑦 sin 𝑥 = 2𝑦 sin 𝑥 + 𝜑 ′ (𝑦).

donde

𝜑 ′ (𝑦) = 𝑒 2𝑦 .

Portanto,
𝑒 2𝑦
𝜑(𝑦) = + 𝐶, 𝐶 ∈ ℝ.
2

Assim, retomando (1.4) e fazendo 𝐶 = 0,

𝑒 2𝑦
𝑓(𝑥, 𝑦) = 𝑒 𝑥 + 𝑦 2 sin 𝑥 +
2

é um potencial para 𝐹.

29
Exercício resolvido 1.2. Calcular, se existir, um potencial para o campo
vetorial definido por 𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧) = (𝑦 3 + 𝑦𝑧, 3𝑥𝑦 2 + 𝑧 2 + 𝑥𝑧, 2𝑦𝑧 + 𝑥𝑦).
Resolução. Procuramos uma função escalar 𝑓 de três variáveis, tal que

∇𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧) = (𝑦 3 + 𝑦𝑧, 3𝑥𝑦 2 + 𝑧 2 + 𝑥𝑧, 2𝑦𝑧 + 𝑥𝑦),

ou seja,

𝜕𝑓
(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑦 3 + 𝑦𝑧
𝜕𝑥
𝜕𝑓
(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 3𝑥𝑦 2 + 𝑧 2 + 𝑥𝑧 .
𝜕𝑦
𝜕𝑓
(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 2𝑦𝑧 + 𝑥𝑦
{ 𝜕𝑧

Integrando a primeira equação em ordem a 𝑥, obtém-se

𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑥𝑦 3 + 𝑥𝑦𝑧 + 𝜑(𝑦, 𝑧), (1.5)

onde 𝜑(𝑦, 𝑧) não depende de 𝑥 mas pode depender de 𝑦 e de 𝑧. Derivando


(1.5) em ordem a 𝑦 e comparando com a segunda equação do sistema,

𝜕𝜑
3𝑥𝑦 2 + 𝑧 2 + 𝑥𝑧 = 3𝑥𝑦 2 + 𝑥𝑧 + (𝑦, 𝑧), (1.6)
𝜕𝑦

donde,
𝜕𝜑
(𝑦, 𝑧) = 𝑧 2 ,
𝜕𝑦

ou seja, integrando parcialmente em ordem a 𝑦,

𝜑(𝑦, 𝑧) = 𝑦𝑧 2 + 𝜓(𝑧),

sendo 𝜓(𝑧) uma função que pode depender de 𝑧. Assim, retomando (1.5),
𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑥𝑦 3 + 𝑥𝑦𝑧 + 𝑦𝑧 2 + 𝜓(𝑧). (1.7)

30
Derivando agora em ordem a 𝑧 e comparando com a última equação do
sistema, vem
2𝑦𝑧 + 𝑥𝑦 = 𝑥𝑦 + 2𝑦𝑧 + 𝜓 ′ (𝑧).

Então, 𝜓(𝑧) = 𝐶, é uma constante. Substituindo em (1.7), vem

𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑥𝑦 3 + 𝑥𝑦𝑧 + 𝑦𝑧 2 + 𝐶, 𝐶 ∈ ℝ, (1.8)

donde, tomando 𝐶 = 0, a função 𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑥𝑦 3 + 𝑥𝑦𝑧 + 𝑦𝑧 2 é um


potencial para o campo vetorial dado.
Por vezes, é importante saber se um dado campo vetorial é conservativo
mas não precisamos conhecer explicitamente um seu potencial.
Uma condição necessária para que um campo seja conservativo é que o
seu rotacional seja nulo, como mostra o teorema seguinte.

TEOREMA 1.1
Seja 𝐹 um campo vetorial plano de classe 𝐶 1 . Se 𝐹 é conservativo
então rot(𝐹) = 0.

Demonstração. A demonstração deste teorema é um exercício fácil; é


consequência da Definição 1.6 e do teorema de Schwarz2.
Como consequência imediata do Teorema 1.1 podemos afirmar que, se
rot(𝐹) não é nulo então o campo 𝐹 não é conservativo.
Exemplo 1.12. O campo vetorial definido por

𝐹(𝑥, 𝑦) = (𝑥 2 − 𝑦 3 − 𝑦)𝑖̂ + (𝑥 3 + 3𝑦)𝑗̂

não é conservativo, uma vez que, com 𝑃(𝑥, 𝑦) = 𝑥 2 − 𝑦 3 − 𝑦 e


𝑄(𝑥, 𝑦) = 𝑥 3 + 3𝑦,
𝜕𝑄 𝜕𝑃
(𝑥, 𝑦) − (𝑥, 𝑦) = 3𝑥 2 + 3𝑦 2 + 1 = 3(𝑥 2 + 𝑦 2 ) + 1 ≠ 0.
𝜕𝑥 𝜕𝑦

2 Ver, por exemplo, [5].

31
A implicação recíproca deste teorema não é válida, isto é, as condições
do Teorema 1.1 são necessárias mas não suficientes para que um campo
vetorial seja conservativo.
−𝑦 𝑥
Exemplo 1.13. O campo vetorial 𝐹(𝑥, 𝑦) = 𝑖̂ + 𝑗̂ definido em
𝑥 2 +𝑦 2 𝑥 2 +𝑦 2
2
ℝ \{(0,0)}, tem rotacional nulo mas não é conservativo [2].
No entanto, pode demonstrar-se o seguinte:

TEOREMA 1.2
Seja 𝐹 um campo vetorial plano de classe 𝐶 2 , definido num conjunto
aberto e simplesmente conexo1 𝐷, então o campo 𝐹 é conservativo se
e só se rot(𝐹) = 0. 3

Demonstração. A demonstração deste teorema pode se consultada em [2].

1.2.3. Algumas propriedades do


divergente e do rotacional

Um campo vetorial cujo rotacional é nulo também se diz um campo


irrotacional. É claro que um campo conservativo é irrotacional, mas o
Exemplo 1.13 mostra que um campo pode ser irrotacional sem que seja
conservativo.
O rotacional e o divergente de um campo vetorial estão relacionados
com a sua matriz Jacobiana. Em particular, div(𝐹) é igual ao traço (soma dos
elementos da diagonal principal) da matriz Jacobiana. Se 𝐹 é um campo
gradiente, 𝐹 = ∇𝑓, a matriz Jacobiana de 𝐹 é a matriz Hessiana de 𝑓. Neste
caso,

3Um subconjunto 𝐷 de ℝ2 diz-se simplesmente conexo se for conexo (qualquer par de pontos
de 𝐷 pode ser unido por um caminho contido em 𝐷) e, além disso, qualquer caminho fechado
contido em 𝐷 circunda apenas pontos de 𝐷.

32
𝜕2𝑓 𝜕2𝑓 𝜕2𝑓
div(𝐹) = + +
𝜕𝑥 2 𝜕𝑦 2 𝜕𝑧 2

a que se chama Laplaciano de 𝑓.


Sendo 𝐹 um campo vetorial no espaço, o rotacional de 𝐹 é um novo
campo vetorial e, se 𝐹 é de classe 𝐶 2 tem-se,

div(rot(𝐹)) = 0, (1.9)

resultado que se obtém facilmente a partir da matriz Jacobiana de rot(𝐹)


tendo em atenção o já citado teorema de Schwarz. As componentes de
rot(𝐹) aparecem na parte hemi-simétrica da decomposição da matriz Jacobi-
ana na soma de uma matriz simétrica com um a matriz hemi-simétrica4.

DEFINIÇÃO 1.7
Um campo vetorial 𝐹, no espaço, diz-se rotacional se existir um outro
campo 𝐺, no espaço, tal que 𝐹 = rot (𝐺). Neste caso, o campo vetorial
𝐺 diz-se um potencial vetorial associado ao campo 𝐹.

A reconstrução de um campo vetorial a partir do seu rotacional obriga à


resolução de um sistema de equações com derivadas parciais que nem
sempre é possível. Para que tal sistema tenha solução num conjunto aberto
𝑈, tendo em conta (1.9), é necessário que

div(𝐹) = 0

em 𝑈. Esta condição é também suficiente para certos conjuntos abertos do


espaço.

4 Uma matriz diz-se simétrica se coincide com a sua transposta e diz-se hemi-simétrica se coincide
com a simétrica da sua transposta. Toda a matriz real A se pode escrever na soma de uma matriz
1 1
simétrica, (𝐴 + 𝐴𝑇 ) e uma matriz hemi-simétrica, (𝐴 − 𝐴𝑇 ).
2 2

33
TEOREMA 1.3
Se 𝐹 é um campo vetorial de classe 𝐶 1 definido num paralelepípedo
aberto 𝑈 do espaço tridimensional, então 𝐹 é um campo rotacional se
e só se div(𝐹) = 0 em 𝑈.

A demonstração deste teorema, além de estabelecer a existência de um


campo vetorial 𝐺 cujo rotacional é 𝐹, fornece um método para o obter por
integração das componentes de 𝐹. A demonstração pode ser consultada em
[2].

1.3. Curvas parametrizadas

Quando falamos de curvas, na nossa vida quotidiana, todos temos uma


ideia, pelo menos intuitiva, do tipo de objetos de que estamos a falar. Uma
parábola e uma circunferência, por exemplo, são curvas.
As curvas representadas na Figura 1.13 são definidas pelas equações
𝑦 − 3𝑥 = −1, 𝑥 2 + 𝑦 2 = 1 e 𝑦 − sin 𝑥 = 0, respetivamente, que são
equações cartesianas da forma 𝑓(𝑥, 𝑦) = 𝑐, onde 𝑓 é uma função de duas
variáveis, 𝑥 e 𝑦, e 𝑐 é uma constante. Assim, uma curva plana é um conjunto
de pontos da forma5

𝐶 = {(𝑥, 𝑦) ∈ 𝐷𝑓 : 𝑓(𝑥, 𝑦) = 𝑐}.

FIGURA 1.13. RETA, CIRCUNFERÊNCIA E O GRÁFICO DA FUNÇÃO 𝑦 = sin 𝑥

5 É a curva de nível da função 𝑓 associada ao nível 𝑐.

34
Em ℝ3 , uma curva pode ser definida por duas equações

𝑓1 (𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑐1 , 𝑓2 (𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑐2

(𝑐1 e 𝑐2 constantes) escrevendo-se, geralmente,

𝑓1 (𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑐1
{ . (1.10)
𝑓2 (𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑐2

Por exemplo, o eixo dos 𝑥𝑥, em ℝ3 , é o conjunto

{(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ ℝ3 : 𝑦 = 𝑧 = 0},

e o conjunto

{(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ ℝ3 ∶ 𝑥 2 + 𝑦 2 = 1, 𝑧 = 2}

é uma circunferência, que resulta da interseção da superfície cilíndrica de


equação 𝑥 2 + 𝑦 2 = 1 com o plano de equação 𝑧 = 2.
Mas uma curva também pode ser vista como a imagem de uma função
vetorial, que evidencia o modo como a curva é descrita.
Recorde-se que, dados dois pontos no plano 𝐴 = (𝑎1 , 𝑎2 ) e
𝐵 = (𝑏1 , 𝑏2 ), a reta por eles definida pode ser descrita pelas suas equações
paramétricas:

𝑥 = 𝑎1 + 𝑡(𝑏1 − 𝑎1 )
{ , 𝑡 ∈ ℝ,
𝑦 = 𝑎2 + 𝑡(𝑏2 − 𝑎2 )

e a circunferência de centro no ponto (𝑐1 , 𝑐2 ) e raio 𝑟 é definida pelas


equações paramétricas

𝑥 = 𝑐1 + 𝑟 cos 𝑡
{ , 𝑡 ∈ [0,2𝜋],
𝑦 = 𝑐2 + 𝑟 sin 𝑡

35
onde 𝑡 é chamado o parâmetro. Estas equações definem sentidos para as
curvas: a reta é traçada no sentido de 𝐴 para 𝐵 e a circunferência é descrita
no sentido anti-horário, de acordo com o crescimento de 𝑡.
Vamos estender esta ideia a qualquer curva. No que se segue 𝑚 > 1.

DEFINIÇÃO 1.8
Uma curva parametrizada é uma função vetorial contínua, de uma
variável,
𝛾: 𝐼 ⊆ ℝ → ℝ𝑚
𝑡 → 𝛾(𝑡) = (𝑥1 (𝑡), … , 𝑥𝑚 (𝑡)). (1.11)

A variável independente 𝑡 diz-se o parâmetro. O traço de 𝛾 é a imagem


(ou o contradomínio) da função vetorial 𝛾, ou seja, é o conjunto

𝐶 = 𝛾(𝑡) = {(𝑥1 (𝑡), … , 𝑥𝑚 (𝑡)) ∈ ℝ𝑚 ∶ 𝑡 ∈ 𝐼} . (1.12)

Cada valor de 𝑡 determina, portanto, um ponto no contradomínio da


função 𝛾. Na linguagem corrente chamamos curva tanto à função 𝛾 definida
em (1.11) como à sua imagem 𝐶 definida em (1.12) e, neste caso, a função
vetorial 𝛾 também se diz uma parametrização de 𝐶.
Se 𝑚 = 2, a uma curva parametrizada diz-se plana. Escrevemos 𝑥 e 𝑦
em vez de 𝑥1 e 𝑥2 , e as equações

𝑥 = 𝑥(𝑡)
{ , 𝑡 ∈ 𝐼 ⊆ ℝ,
𝑦 = 𝑦(𝑡)

são as equações paramétricas da curva. Se 𝑚 = 3 , temos uma curva


parametrizada no espaço e as equações paramétricas são, neste caso,

𝑥 = 𝑥(𝑡)
{𝑦 = 𝑦(𝑡) , 𝑡 ∈ 𝐼 ⊆ ℝ.
𝑧 = 𝑧(𝑡)

36
Exemplo 1.14. A função definida em 𝐼 = [0, 2𝜋] por 𝛾(𝑡) = (cos 𝑡 , sin 𝑡) é
uma curva parametrizada cuja imagem é a circunferência centrada na origem
de raio 1, que se vê na Figura 1.13.
O traço da curva parametrizada 𝛾(𝑡) = (𝑡, 3𝑡 − 1) definida em ℝ é a
reta que também está representada na Figura 1.13, e a terceira curva nessa
figura é o traço da curva parametrizada 𝛾(𝑡) = (𝑡, sin 𝑡) definida em
[−𝜋, 𝜋].
Se 𝐼 = [𝑎, 𝑏] é um intervalo de números reais, o ponto 𝛾(𝑎) diz-se a
origem da curva parametrizada e 𝛾(𝑏) é a sua extremidade. Se 𝛾(𝑎) = 𝛾(𝑏)
a curva é fechada. Uma curva parametrizada diz-se simples se for injetiva ou
apenas coincidir em dois pontos: a origem e a extremidade.
Exemplo 1.15. A curva 𝛾(𝑡) = (cos 𝑡 , sin 𝑡), 𝑡 ∈ [0,2𝜋] é simples e fechada;
𝛾(0) = 𝛾(2𝜋) = (1,0) e estes são os únicos dois valores do parâmetro que
têm a mesma imagem. A curva 𝛾(𝑡) = (3 cos 𝑡 , 2 sin(2𝑡)), 𝑡 ∈ [0,2𝜋] é
fechada porque 𝛾(0) = 𝛾(2𝜋) = (3,0) mas não é simples porque, além
𝜋 3𝜋
disso, 𝛾 ( ) = 𝛾 ( ) = (0,0) (ver Figura 1.14).
2 2

FIGURA 1.14. UMA CURVA FECHADA SIMPLES E UMA CURVA FECHADA NÃO SIMPLES

Exemplo 1.16. As curvas

𝛼(𝑡) = (cos 𝑡 , 𝑡 sin 𝑡), 0 ≤ 𝑡 ≤ 4𝜋

𝛾(𝑡) = (cos 𝑡 , 𝑡 sin 𝑡 , 𝑡), 0 ≤ 𝑡 ≤ 4𝜋

37
estão representadas na Figura 1.15. A primeira é uma curva plana e fechada
com origem e extremidade no ponto 𝛼(0) = 𝛼(4𝜋) = (1,0); a segunda é
uma curva no espaço com origem no ponto 𝛾(0) = (1,0,0) e extremidade no
ponto 𝛾(4𝜋) = (1, 0, 4𝜋). A primeira curva é a projeção da segunda no plano
𝑥𝑂𝑦.

FIGURA 1.15. UMA CURVA PLANA E UMA CURVA NO ESPAÇO (EXEMPLO 1.16)

DEFINIÇÃO 1.9
Uma curva parametrizada em ℝ𝑚 , 𝛾(𝑡) = (𝑥1 (𝑡), … , 𝑥𝑚 (𝑡)), 𝑡 ∈ 𝐼 ⊆ ℝ,
diz-se derivável em 𝑡0 ∈ 𝐼 se todas as funções componentes,
𝑥𝑖 (𝑖 = 1, … , 𝑚), são deriváveis em 𝑡0 ; a derivada da curva 𝛾 num ponto
𝑡0 ∈ int (𝐼) é o vetor
1
𝛾 ′ (𝑡0 ) = (𝑥1′ (𝑡0 ), … , 𝑥𝑚
′ (𝑡 ))
0 = lim (𝛾(𝑡) − 𝛾(𝑡0 )),
𝑡→𝑡0 𝑡 − 𝑡0

se este limite existir.

Por exemplo, a curva 𝛾(𝑡) = (𝑡, |𝑡|), −1 < 𝑡 < 1, não é derivável para
𝑡 |𝑡| |𝑡|
𝑡0 = 0. De facto, lim ( , ) não existe porque não existe lim .
𝑡→0 𝑡 𝑡 𝑡→0 𝑡
O vetor 𝛾 ′ (𝑡0 ), a que também se chama vetor velocidade da curva no
instante 𝑡0 , determina a direção da reta tangente ao traço da curva no ponto
𝛾(𝑡0 ). Uma equação dessa reta pode-se escrever, na sua forma vetorial,

(𝑥1 , … , 𝑥𝑚 ) = 𝛾(𝑡0 ) + 𝜆 𝛾 ′ (𝑡0 ), 𝜆 ∈ ℝ.

A velocidade escalar no instante 𝑡0 é o valor ‖𝛾 ′ (𝑡0 )‖.

38
DEFINIÇÃO 1.10
Um ponto 𝛾(𝑡0 ) de uma curva é um ponto regular se 𝛾 ′ (𝑡0 ) existe e é
não nulo; senão diz-se ponto singular de 𝛾.
Uma curva diz-se regular se todos os seus pontos são regulares e diz-
se suave se é de classe 𝐶 ∞ .

Exercício resolvido 1.3. Mostrar que a curva parametrizada


𝛾(𝑡) = (2 cos 𝑡 , 3 sin 𝑡), 0 ≤ 𝑡 ≤ 𝜋, é regular e determinar uma equação da
3√3
reta tangente à imagem da curva no ponto 𝑃 = (1, ).
2

Resolução. Calculando a derivada,

𝛾 ′ (𝑡) = (−2 sin 𝑡 , 3 cos 𝑡) ≠ (0,0),

3√3
qualquer que seja 𝑡 ∈ [0, 𝜋]. Como o ponto 𝑃 = (1, ) corresponde ao
2
𝜋 𝜋
valor do parâmetro 𝑡 = , ou seja, 𝑃 = 𝛾 ( ), a reta tangente passa por este
3 3
ponto e tem direção do vetor

𝜋 3
𝛾 ′ ( ) = [(−2 sin 𝑡 , 3 cos 𝑡)]𝑡=𝜋 = (−√3, ).
3 3 2

Assim, uma equação da reta pedida é, na forma vetorial,


3√3 3
(𝑥, 𝑦) = (1, ) + 𝜆 (−√3, ) , 𝜆∈ℝ
2 2

ou, dada pelas equações paramétricas,

𝑥 = 1 − √3𝜆
{ 3√3 3 , 𝜆 ∈ ℝ.
𝑦= + 𝜆
2 2

Alguns tipos de curvas no plano que conhecemos pelas suas equações


cartesianas, podem ser parametrizadas facilmente.

39
i. Se a curva é dada por uma equação cartesiana da forma
𝑦 = 𝑓(𝑥), 𝑥 ∈ [𝑎, 𝑏], ou seja, é o gráfico de uma função 𝑓 de uma
variável real, fazendo 𝑥 = 𝑡, 𝑦 = 𝑓 (𝑡), obtém-se uma parametrização

𝛾(𝑡) = (𝑡, 𝑓(𝑡)), 𝑡 ∈ [𝑎, 𝑏].

ii. Uma reta vertical, definida por 𝑥 = 𝑥0 , pode ser parametrizada por
𝛾(𝑡) = (𝑥0 , 𝑡), 𝑡 ∈ ℝ , e uma reta horizontal, definida por 𝑦 = 𝑦0 ,
pode ser parametrizada por 𝛾(𝑡) = (𝑡, 𝑦0 ), 𝑡 ∈ ℝ.
iii. Uma circunferência de raio 𝑟 e centro (𝑥0 , 𝑦0 ) admite a
parametrização

𝛾(𝑡) = (𝑥0 + 𝑟 cos 𝑡 , 𝑦0 + 𝑟 sin 𝑡), 𝑡 ∈ [0, 2𝜋],

uma vez que

(𝑥 − 𝑥0 )2 + (𝑦 − 𝑦0 )2 = (𝑟 cos 𝑡)2 + (𝑟 sin 𝑡)2 = 𝑟 2 .

(𝑥−𝑥0 )2 (𝑦−𝑦0 )2
Uma elipse, definida por + = 1, pode ser parametrizada
𝑎2 𝑏2
por

𝛾(𝑡) = (𝑥0 + 𝑎 cos 𝑡 , 𝑦0 + 𝑏 sin 𝑡), 𝑡 ∈ [0,2𝜋]

onde 𝑎 e 𝑏 são os semieixos da elipse.


Exemplo 1.17. Exemplos de outras curvas planas:
 Espiral: 𝛾(𝑡) = (𝑡 cos 𝑡 , 𝑡 sin 𝑡), 𝑡 ∈ [0, +∞[ (Figura 1.16);

FIGURA 1.16. ESPIRAL

40
 Astroide: 𝛾(𝑡) = (cos 3 𝑡 , sin3 𝑡), 𝑡 ∈ [0, 2𝜋[ (Figura 1.17);

FIGURA 1.17. ASTROIDE

 Um caso mais complexo:


𝛾(𝑡) = (sin(12𝑡) cos 𝑡 , sin(12𝑡) sin 𝑡), 𝑡 ∈ [0,2𝜋] (Figura 1.18).

FIGURA 1.18. TRAÇO DA CURVA 𝛾(𝑡) = (sin(12𝑡) cos 𝑡 , sin(12𝑡) sin 𝑡), 𝑡 ∈ [0,2𝜋]

Traçar uma curva é desenhar a sua imagem e podemos pensar numa


curva parametrizada como o rasto de uma partícula que descreve um
percurso pela curva geométrica que é o seu traço. Para traçar uma curva pode
proceder-se de modos diferentes, dependendo da curva em questão e
também do conhecimento que temos dela. Um processo consiste em
determinar alguns pontos, em número suficiente que permitam obter o traço
da curva com uma boa aproximação. Outro processo consiste na eliminação
do parâmetro 𝑡 nas equações paramétricas, começando por resolver uma das
equações em ordem a 𝑡 e substituindo nas outras equações, obtendo
equações cartesianas que sabemos identificar.

41
Exemplo 1.18. Traçar a curva dada pelas equações paramétricas

𝑥 = 𝑡2 − 4
{ 𝑡 , 𝑡 ∈ℝ.
𝑦=
2

Da segunda equação resulta 𝑡 = 2𝑦.


Substituindo este valor na primeira
equação, vem 𝑥 = (2𝑦)2 − 4, ou seja,

𝑥 = 4𝑦 2 − 4,
FIGURA 1.19. PARÁBOLA
(EXEMPLO 1.18) que define a parábola representada na
Figura 1.19.
Vamos aplicar este processo também a curvas no espaço.
Exemplo 1.19. O traço da curva parametrizada

𝛾(𝑡) = (1 + 𝑡, 2 + 3𝑡, 𝑡 − 5), 𝑡 ∈ ℝ,

é uma reta. De facto, eliminando o parâmetro 𝑡 nas equações

𝑥 =1+𝑡
{𝑦 = 2 + 3𝑡
𝑧 =𝑡−5

obtém-se, imediatamente,

𝑦−2
𝑥−1= = 𝑧 + 5,
3

as equações cartesianas da reta que passa pelo ponto (1, 2, −5) e tem
direção do vetor (1,3,1).
Exemplo 1.20. A curva parametrizada 𝛾(𝑡) = (cos 𝑡 , sin 𝑡 , 1), 𝑡 ∈ [0,2𝜋] tem
como imagem uma circunferência no plano de equação 𝑧 = 1 (Figura 1.20).

42
FIGURA 1.20. CIRCUNFERÊNCIA NO ESPAÇO (EXEMPLO 1.20)

De facto, como 𝑥 = cos 𝑡 , 𝑦 = sin 𝑡 e 𝑧 = 1 , elevando ao quadrado e


somando membro a membro as duas primeiras equações, obtém-se,

𝑥 2 + 𝑦 2 = 1.

Esta equação (que em ℝ3 é a equação de uma superfície cilíndrica),


juntamente com 𝑧 = 1 (um plano), definem uma circunferência de raio 1,
situada no plano 𝑧 = 1 (ver (1.10)).
Exemplo 1.21. A hélice cilíndrica representada na Figura 1.21 pode ser
parametrizada por 𝛾(𝑡) = (sin 𝑡 , cos 𝑡 , 𝑡), 𝑡 ∈ [0, 8𝜋].

FIGURA 1.21. HÉLICE CILÍNDRICA

Para parametrizar uma curva no espaço, quando se conhece uma


equação em coordenadas cartesianas, podemos proceder do seguinte modo:
i. Projetar a curva num dos planos coordenados;
ii. Parametrizar a projeção obtida (que é uma curva plana);
iii. Utilizar uma das equações que definem a curva para obter a
parametrização da curva no espaço.

43
Exercício resolvido 1.4. Encontrar uma parametrização da reta que resulta da
interseção dos planos cujas equações cartesianas são 𝑥 + 𝑦 + 𝑧 = 0 e
2𝑥 − 𝑦 + 3𝑧 = 1.
Resolução. Usando o processo sugerido, consideremos o sistema de
equações

𝑥+𝑦+𝑧 = 0 𝑦 = −𝑥 − 𝑧
{ ⇔ { .
2𝑥 − 𝑦 + 3𝑧 = 1 3𝑥 + 4𝑧 = 1

A segunda equação define a projeção da reta dada no plano 𝑥𝑂𝑧 ;


𝑡 1−𝑡
fazendo 𝑧 = , resulta 3𝑥 = 1 − 𝑡, ou seja, 𝑥 = e, retomando a primeira
4 3
𝑡−4
equação, 𝑦 = . Assim, obtém-se uma parametrização da reta:
12

1−𝑡 𝑡−4 𝑡
𝛾(𝑡) = ( , , ), 𝑡 ∈ ℝ.
3 12 4

Outro processo: partindo do mesmo sistema de equações, resolvendo as


equações em ordem a 𝑥 e a 𝑦, respetivamente, obtém-se,

1
𝑥+𝑦+𝑧 =0 𝑥=(1 − 4𝑧)
{ ⇔ { 3 .
2𝑥 − 𝑦 + 3𝑧 = 1 1
𝑦 = (−1 + 𝑧)
3
𝑡
Fazendo, como antes, 𝑧 = , resulta
4

1−𝑡 𝑡−4 𝑡
𝛾(𝑡) = ( , , ), 𝑡 ∈ ℝ.
3 12 4

Nota: A resposta não é única: outra escolha para 𝑧 teria tido como
resultado uma parametrização diferente da mesma reta.
Exercício resolvido 1.5. Parametrizar a curva que resulta da interseção da
superfície esférica definida por 𝑥 2 + 𝑦 2 + 𝑧 2 = 4 com o plano 𝑧 = 1.
Resolução. A curva é definida (como em (1.10)), por

44
𝑥 2 + 𝑦2 + 𝑧2 = 4 𝑥 2 + 𝑦2 = 3
{ ⇔ { .
𝑧=1 𝑧=1

A equação 𝑥 2 + 𝑦 2 = 3 define uma circunferência de raio √3 no plano 𝑥𝑂𝑦,


que pode ser parametrizada por

𝑥 = √3 cos 𝑡
{ , 𝑡 ∈ [0,2𝜋] .
𝑦 = √3 sin 𝑡

Atendendo a que 𝑧 = 1, tem-se

𝛾(𝑡) = (√3 cos 𝑡 , √3 sin 𝑡 , 1), 𝑡 ∈ [0,2𝜋].

Exercício resolvido 1.6. Definir, pelas suas equações cartesianas, o traço da


curva parametrizada 𝛾(𝑡) = (𝑡 cos 𝑡 , 𝑡 sin 𝑡 , 𝑡), 0 ≤ 𝑡 ≤ 2𝜋 (ver Figura 1.22).
Resolução. Tem-se,

𝑥 = 𝑡 cos 𝑡
{ 𝑦 = 𝑡 sin 𝑡 .
𝑧=𝑡

Como da terceira equação temos 𝑧 = 𝑡,


substituindo nas anteriores, elevando
ao quadrado e somando estas duas
equações, obtém-se FIGURA 1.22. HÉLICE CÓNICA

𝑥 2 + 𝑦2 = 𝑧2, (1.13)

que é a equação de uma superfície cónica. Por outro lado, da segunda


equação vem,

𝑦 = 𝑧 sin 𝑧 , (1.14)

45
A curva procurada (uma hélice cónica) é o conjunto

𝐶 = {(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ ℝ3 : 𝑥 2 + 𝑦 2 = 𝑧 2 ∧ 𝑦 = 𝑧 sin 𝑧},

é, portanto, interseção das superfícies (Figura 1.23) definidas pelas equações


(1.13) e (1.14).

FIGURA 1.23. INTERSEÇÃO DAS SUPERFÍCIES REFERIDAS NO EXERCÍCIO RESOLVIDO 1.6

1.3.1.Reparametrização de uma curva

Por vezes, estamos interessados não apenas no traço de uma curva mas
também no modo como ela é descrita. Uma curva pode ser parametrizada de
diferentes maneiras e é interessante perceber como é que estas
parametrizações estão relacionadas entre si.

DEFINIÇÃO 1.11
Seja 𝛾: [𝑎, 𝑏] → ℝ𝑚 uma curva parametrizada.
Diz-se que 𝛾1 : [𝑐, 𝑑] → ℝ𝑚 é uma reparametrização de 𝛾 se existe uma
função contínua e bijetiva ℎ: [𝑐, 𝑑] → [𝑎, 𝑏] tal que 𝛾1 = 𝛾 ∘ ℎ.
Se ℎ for estritamente crescente então 𝛾1 é uma reparametrização de 𝛾
que mantém o sentido da curva, se for decrescente então 𝛾1 é uma
reparametrização de 𝛾 que inverte o sentido.

46
Exemplo 1.22. No Exemplo 1.15 a curva 𝛾(𝑡) = (cos 𝑡 , sin 𝑡), 𝑡 ∈ [0,2𝜋] é
uma parametrização da circunferência de centro em (0,0) e raio 1. A curva
𝛾1 (𝑡) = (cos(2𝑡) , sin(2𝑡), 𝑡 ∈ [0,2𝜋] é uma reparametrização de 𝛾 uma
vez que ℎ: [0, 𝜋] → [0, 2𝜋], definida por ℎ(𝑡) = 2𝑡 é contínua e bijetiva e,
𝛾1 = 𝛾 ∘ ℎ. Como ℎ′ (𝑡) = 2 > 0 o sentido da orientação mantém-se.
Por outro lado, a curva 𝛾2 (𝑡) = (sin 𝑡 , cos 𝑡), 𝑡 ∈ [0,2𝜋] é outra
reparametrização de 𝛾 ; neste caso, 𝑔: [0,2𝜋] → [0,2𝜋] , definida por
𝜋
𝑔(𝑡) = − 𝑡 é contínua e bijetiva e 𝛾2 = 𝛾 ∘ 𝑔. Como 𝑔′ (𝑡) = −1 < 0, o
2
sentido da orientação é invertido, ou seja, a circunferência é descrita em
sentido inverso.
A função ℎ referida na Definição 1.11 chama-se mudança de parâmetro.
Como ℎ é bijetiva tem inversa e, portanto, se 𝛾1 é uma reparametrização de
𝛾 então também 𝛾 é uma reparametrização de 𝛾1 . É claro que duas curvas
que são reparametrizações uma da outra têm o mesmo traço.
1
Exercício resolvido 1.7. A curva parametrizada 𝛾(𝑡) = (𝑡, 1 + 3𝑡), 𝑡 ∈ [ , 1]
2
é o segmento de reta representado a vermelho na Figura 1.24, com origem
1 1 5
no ponto 𝐴 = 𝛾 ( ) = ( , ) e extremidade no ponto 𝐵 = 𝛾(1) = (1,4) .
2 2 2
Reparametrize a curva de modo que seja descrita de 𝐵 para 𝐴.
Resolução. Basta encontrar uma mudança de parâmetro, ℎ, decrescente, de
1 1
modo que 𝛾1 = 𝛾 ∘ ℎ. É fácil de ver que ℎ: [−1, − ] → [ , 1], definida por
2 2
ℎ(𝑡) = −𝑡 está nessas condições. Portanto, uma reparametrização possível é

1
𝛾1 : [−1, − ] → ℝ2 , tal que 𝛾1 (𝑡) = (−𝑡, 1 − 3𝑡).
2

DEFINIÇÃO 1.12
Uma curva (no plano ou no espaço) 𝛾 , definida em 𝐼 ⊆ ℝ diz-se
parametrizada por comprimento de arco se ‖𝛾 ′ (𝑡)‖ = 1, para
qualquer 𝑡 ∈ 𝐼.

47
Pode provar-se que, qualquer reparametrização de uma curva regular é
regular e, também, que uma curva pode ser reparametrizada por
comprimento de arco se e só se é regular.

1
FIGURA 1.24. TRAÇO DA CURVA 𝛾(𝑡) = (𝑡, 1 + 3𝑡) EM [ , 1]
2,

Para terminar este capítulo, refira-se que embora qualquer curva regular
possa ser reparametrizada por comprimento de arco, obter essa
parametrização explicitamente pode ser muito complicado, ou mesmo
impossível.

1.4. Exercícios propostos

1. Esboce as seguintes regiões planas e reescreva-as, usando coordenadas


polares:
a) 𝐷 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : 𝑥 ≥ 0, 𝑥 2 + 𝑦 2 ≤ 9};
b) 𝐷 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : 𝑦 ≥ 1, 𝑦 − 𝑥 ≤ 1, 𝑥 2 + 𝑦 2 ≤ 2𝑦};
(Sugestão: faça 𝑥 = 𝑟 cos 𝜃 e 𝑦 = 1 + 𝑟 sin 𝜃.)
c) 𝐷 é a região limitada pela elipse de equação 𝑥 2 + 4𝑦 2 = 4 e pela
circunferência de equação 𝑥 2 + 𝑦 2 = 4, com 𝑥 ≥ 0 e 𝑦 ≥ 0;

48
d) 𝐷 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : 𝑥 + 𝑦 ≥ 1, 𝑥 2 + 𝑦 2 ≤ 1}.
2. Esboce as seguintes regiões e reescreva-as, usando as coordenadas que
achar mais convenientes (cilíndricas ou esféricas):
a) O conjunto dos pontos (𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ ℝ3 tais que
0≤𝑥≤1

−√1 − 𝑥 2 ≤ 𝑦 ≤ √1 − 𝑥 2
−𝑥 2 − 𝑦 2 ≤ 𝑧 ≤ 𝑥 2 + 𝑦 2 ;
b) 𝐷 = {(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ ℝ3 : 𝑥 2 + 𝑦 2 − 2𝑧 ≤ 0, 𝑥 ≥ 0, 𝑦 ≥ 0, 0 ≤ 𝑧 ≤ 2};
c) 𝑅 é o sólido limitado exteriormente pela superfície esférica
𝑥 2 + 𝑦 2 + 𝑧 2 = 16 e interiormente pela superfície cilíndrica
𝑥 2 + 𝑦 2 = 4;
𝑅 = {(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ ℝ3 : 𝑎2 ≤ 𝑥 2 + 𝑦 2 + 𝑧 2 ≤ 𝑏 2 }, 𝑎, 𝑏 ∈ ℝ+ ;
d) 𝑅 é o sólido acima do plano 𝑥𝑂𝑦, abaixo do paraboloide de equação
𝑧 = 𝑥 2 + 𝑦 2 e dentro do cilindro 𝑥 2 + 𝑦 2 = 2𝑥;

e) 𝐸 = {(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ ℝ3 : √𝑥 2 + 𝑦 2 ≤ 𝑧 ≤ 2 − 𝑥 2 − 𝑦 2 }.
3. Defina em coordenadas cartesianas o sólido que está acima da superfície
𝜋
cónica de equação (em coordenadas esféricas) 𝜙 = e dentro da
3
superfície esférica de equação 𝜌 = 4 cos 𝜙.
4. Calcule o divergente e o rotacional dos seguintes campos vetoriais:
a) 𝐹(𝑥, 𝑦) = 𝑥𝑦𝑖̂ − 𝑥 2 𝑗̂;
b) 𝐹(𝑥, 𝑦) = cos(𝑥 2 + 𝑦 2 ) 𝑖̂ + sin(𝑥 2 + 𝑦 2 ) 𝑗̂;
c) 𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑦𝑧𝑖̂ + 𝑥𝑧𝑗̂ + 𝑥𝑦𝑘̂.
5. Averigue se os seguintes campos vetoriais são conservativos e, em caso
afirmativo, determine um potencial:
a) 𝐹(𝑥, 𝑦) = (3𝑥 2 𝑦, 𝑥 3 + 4𝑦);
b) 𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧) = (3𝑥 2 𝑧 + 𝑦 2 + 𝑦𝑧, 2𝑥𝑦 + 𝑥𝑧, 𝑥 3 + 𝑥𝑦).

49
6. Encontre equações cartesianas para o traço das curvas parametrizadas:
𝜋 𝜋
a) 𝛾(𝑡) = (sin 𝑡 , cos 𝑡), − ≤ 𝑡 ≤ ;
2 2
2 2
b) 𝛾(𝑡) = (sin 𝑡 , cos 𝑡);
c) 𝛾(𝑡) = (𝑒 𝑡 , 𝑒 −𝑡 );
d) 𝛾(𝑡) = (ln 𝑡 , √𝑡), 𝑡 > 1;
e) 𝛾(𝑡) = (1 + cos 𝑡 , 2 cos 𝑡 − 1), 0 ≤ 𝑡 ≤ 2𝜋.
7. Determine uma equação cartesiana da imagem das curvas seguintes,
dadas pelas equações paramétricas:
a) 𝑥 = 2𝑡 − 1, 𝑦 = 𝑡 + 1, 0 ≤ 𝑡 ≤ 5;
b) 𝑥 = 𝑡 − 1, 𝑦 = 𝑡 2;
c) 𝑥 = 𝑒 −𝑡 , 𝑦 = 𝑒 2𝑡 − 1.
8. Indique uma curva parametrizada cuja imagem seja definida por:
a) 2𝑥 − 𝑦 = 5 desde 𝐴 = (0, −5) até 𝐵 = (5,5);
b) 𝑥 2 + 𝑦 2 = 4;
c) 𝑥 2 + 𝑦 2 = 4 desde o ponto (2,0) até ao ponto (0, −2), no sentido
anti-horário;
d) 𝑥 2 + 4𝑦 2 = 4 desde o ponto (2,0) até ao ponto (−2,0), no sentido
anti-horário;
e) 𝑦 + 1 = 𝑥 2 , para 𝑥 ≥ 0.
9. Considere as seguintes curvas descritas pelos ciclistas 𝐴 e 𝐵,
respetivamente:
𝛾𝐴 (𝑡) = (cos 𝑡 , sin 𝑡), 0 ≤ 𝑡 ≤ 2𝜋
𝛾𝐵 (𝑡) = (cos(2𝑡), sin(2𝑡)), 0 ≤ 𝑡 ≤ 2𝜋.
a) Trace as curvas descritas pelos ciclistas 𝐴 e 𝐵.
b) Indique as coordenadas do ponto de partida de cada um deles.

50
𝜋
c) Calcule a posição de cada um deles ao fim de 𝑡 = unidades de
2
tempo (u.t.).
d) Quanto tempo (em u.t.) demora cada um deles a percorrer uma
volta (de circunferência) completa?
e) Se a prova em que participam constar de duas voltas completas,
quanto tempo demora cada a concluir a prova? Quem termina
primeiro?
f) Calcule a velocidade da(s) curva(s)em cada instante e a sua norma.
g) Compare com os resultados e tire conclusões.
10. Considere a curva parametrizada
𝑟(𝑡) = (2𝑡 − 𝑡 2 , 3𝑡 − 𝑡 3 ), 𝑡 ∈ ℝ.
a) Estude a regularidade de r.
b) Determine as retas tangente e normal à imagem de 𝑟 no ponto 𝑟(0).
11. (Adaptado de [9]) Suponha que a posição de uma partícula é dada, em
função do tempo 𝑡, por
𝑥 = 3 sin 𝑡 , 𝑦 = 2 cos 𝑡 , 0 ≤ 𝑡 ≤ 2𝜋
e a posição de uma segunda partícula é dada por
𝑥 = −3 + cos 𝑡 , 𝑦 = 1 + sin 𝑡 , 0 ≤ 𝑡 ≤ 2𝜋.
a) Trace as trajetórias de ambas as partículas. Quantos pontos de inter-
seção existem?
b) Alguns destes pontos de interseção são pontos de colisão? Ou seja,
essas partículas alguma vez estão no mesmo local ao mesmo
tempo? Se isso acontecer, determine os pontos de colisão.
c) Descreva o que acontece se a trajetória da segunda partícula for
dada por
𝑥 = 3 + cos 𝑡 , 𝑦 = 1 + sin 𝑡 , 0 ≤ 𝑡 ≤ 2𝜋.

51
12. Use um sistema de computação simbólica para traçar as seguintes
curvas:
a) 𝛾(𝑡) = (sin 𝑡 , 𝑡, 𝑡 2 ), 𝑡 ∈ ℝ;
b) 𝛾(𝑡) = (𝑡, 𝑡 2 , 𝑒 −𝑡 ), 𝑡 ∈ ℝ;
c) 𝛾(𝑡) = (𝑡 3 , 𝑡, 1), −1 ≤ 𝑡 ≤ 1;
d) 𝛾(𝑡) = (𝑡, 1 + 𝑡, −𝑡), 𝑡 ∈ ℝ;
e) 𝛾(𝑡) = (cos(4𝑡), 𝑡, sin(4𝑡)), 0 ≤ 𝑡 ≤ 2𝜋.
13. Uma partícula move-se no espaço descrevendo uma trajetória dada por
𝑥 = 𝑡, 𝑦 = sin 𝑡 , 𝑧 = cos(2𝑡) + 1.
Calcule a sua velocidade em cada instante.
14. Encontre uma parametrização para a curva definida por
𝑥 2 + 𝑦2 + 𝑧2 = 3
{
𝑧=𝑦
que é interseção de duas superfícies bem conhecidas. Quais? Trace a
curva.
15. Considere as curvas definidas por
𝑥 = 𝑎 sin(𝑛𝑡) , 𝑦 = 𝑏 sin(𝑚𝑡).
Considere 𝑛 , 𝑚 números inteiros positivos e 𝑎 , 𝑏 números reais e
investigue como estes parâmetros influenciam esta família de curvas,
conhecidas como curvas de Lissajous. Use um sistema de computação
para traçar as curvas.

52
CAPÍTULO 2.

INTEGRAIS DE LINHA

Neste capítulo aborda-se o cálculo de integrais de linha de campos


escalares e de campos vetoriais.
O integral de linha pode ser visto como uma extensão do integral
definido onde se substitui o intervalo de integração por uma curva
parametrizada. Este integral tem aplicações em muitas áreas científicas como
a Matemática, a Física e Engenharias para resolver problemas que envolvem,
por exemplo, escoamento de líquidos, campos de forças, magnetismo e
eletricidade. Conforme as aplicações, é útil considerar integrais de linha de
funções escalares ou de campos vetoriais.
No final do capítulo o estudante deve ser capaz de:
 Calcular o comprimento de uma curva;
 Calcular integrais de linha de campos escalares;
 Calcular o trabalho realizado por um campo vetorial ao longo de uma
curva;
 Usar o teorema fundamental do cálculo integral para calcular integrais
de linha de campos conservativos.

2.1. Integral de linha de um campo escalar


DEFINIÇÃO 2.1
Sejam 𝛾: [𝑎, 𝑏] → ℝ𝑚 uma curva parametrizada simples, regular e 𝑓 uma
função escalar contínua definida sobre a imagem de 𝛾. O integral de linha
de 𝑓 sobre 𝛾 é definido pela fórmula
𝑏
𝑓 𝑑𝑠 = 𝑓(𝛾(𝑡))‖𝛾 ′ (𝑡)‖𝑑𝑡.
𝛾 𝑎

53
Se 𝐶 é o traço da curva parametrizada 𝛾 nas condições da Definição 2.1,
o integral curvilíneo de 𝑓 sobre 𝐶 é definido por

𝑓 𝑑𝑠 = 𝑓 𝑑𝑠.
𝐶 𝛾

A Definição 2.1 vale também para curvas seccionalmente regulares, ou


seja, curvas que resultam da justaposição de curvas regulares. Sejam 𝐶1 e 𝐶2
curvas planas6 parametrizadas por 𝛾1 : [𝑎, 𝑏] → ℝ2 e 𝛾2 : [𝑏, 𝑐] → ℝ2 , respeti-
vamente, com 𝛾1 (𝑏) = 𝛾2 (𝑏) . Escrevemos 𝐶1 + 𝐶2 para designar a curva
parametrizada pela função 𝛾: [𝑎, 𝑐] → ℝ2 definida por 𝛾(𝑡) = 𝛾1 (𝑡) se
𝑡 ∈ [𝑎, 𝑏] e 𝛾(𝑡) = 𝛾2 (𝑡) se 𝑡 ∈ [𝑏, 𝑐], como ilustra a Figura 2.1.

FIGURA 2.1. SOMA DE CURVAS

Ao símbolo 𝑑𝑠 chama-se elemento de arco, e a variável 𝑠 refere-se ao


parâmetro por comprimento de arco da curva 𝛾. Tem-se

𝑑𝑠 = ‖𝛾 ′ (𝑡)‖𝑑𝑡. (2.1)

A explicação pode ser vista do seguinte modo: interpretando 𝛾(𝑡) como


a posição de um ponto no plano no instante 𝑡 , e denotando por Δ𝑠 a
distância medida sobre a trajectória da curva desde o instante 𝑡 até ao
instante 𝑡 + Δ𝑡, com Δ𝑡 > 0 pode-se aproximar esta distância pelo
comprimento do segmento que une os pontos 𝛾(𝑡) e 𝛾(𝑡 + Δ𝑡) (ver Figura
2.2), isto é,

Δ𝑠 ≈ ‖𝛾(𝑡 + Δ𝑡) − γ(t)‖.


Por outro lado,

6 Também vale para curvas no espaço.

54
FIGURA 2.2. UMA APROXIMAÇÃO PARA ∆𝑆

𝛾(𝑡 + Δ𝑡) − 𝛾(𝑡)


𝛾 ′ (𝑡) = lim ,
Δ𝑡→0 Δ𝑡

donde, para Δ𝑡 pequeno,

‖𝛾(𝑡 + Δ𝑡) − 𝛾(t)‖ ≈ ‖𝛾 ′ (𝑡)‖ Δ𝑡,

e, finalmente

Δ𝑠 ≈ ‖𝛾 ′ (𝑡)‖ Δ𝑡.

Estas aproximações são válidas no sentido preciso (ver [8]) de que, tomando
limites, se obtém a igualdade (2.1), a qual se pode também escrever na forma

𝑑𝑠
= ‖𝛾 ′ (𝑡)‖
𝑑𝑡

ou seja, a velocidade instantânea coincide com a velocidade escalar.


Definindo 𝑠(𝑡) como o comprimento da curva desde o ponto 𝛾(𝑎) até ao
𝑡
ponto 𝛾(𝑡) tem-se, integrando 7 𝑠(𝑡) = ∫𝑎 ‖𝛾 ′ ()‖ 𝑑 donde resulta, que o
comprimento de uma curva 𝛾 definida em [𝑎, 𝑏] é

𝑏
𝐿(𝛾) = ‖𝛾 ′ (𝑡)‖ 𝑑𝑡. (2.2)
𝑎

7 Usamos aqui a letra 𝜏 uma vez que 𝑡 está a ser usado com outro significado.

55
Note-se que esta fórmula obtém-se tomando a função 𝑓 com valor
constante 1, na Definição 2.1.
Exercício resolvido 2.1. Determinar o comprimento das seguintes curvas:
1. 𝛾(𝑡) = (𝑟 cos 𝑡 , 𝑟 sin 𝑡), 𝑡 ∈ [0,2𝜋], cujo traço é uma circunferência de
raio 𝑟 > 0;
2. 𝛼(𝑡) = (𝑡, 2𝑡 2 ), 𝑡 ∈ [−1,1], cujo traço é um arco de parábola.
Resolução. Ambas as curvas são regulares e simples nos intervalos em que
estão definidas. Aplicamos a fórmula (2.2) em ambos os casos:
1. 𝛾 ′ (𝑡) = (−𝑟 sin 𝑟 , 𝑟 cos 𝑡) ≠ (0, 0), para todo o 𝑡 ∈ [0, 2𝜋], e
‖𝛾 ′ (𝑡)‖ = 𝑟. Portanto,

2𝜋 2𝜋
𝐿(𝛾) = ‖𝛾 ′ (𝑡)‖ 𝑑𝑡 = 𝑟 𝑑𝑡 = 2𝜋𝑟 ,
0 0

resultado conhecido para o perímetro de uma circunferência de raio 𝑟.


2. 𝛼 ′ (𝑡) = (1, 4𝑡) ≠ (0, 0), para todo o 𝑡 ∈ [−1,1]. Como
‖𝛼 ′ (𝑡)‖ = √1 + 16𝑡 2,

1 1
𝐿(𝛼) = ‖𝛼 ′ (𝑡)‖ 𝑑𝑡 = √1 + 16𝑡 2 𝑑𝑡
−1 −1

1
= √17 + sinh−1 (4) ≈ 4.64678.
4

Este resultado foi obtido usando um sistema de computação.


Além do cálculo do comprimento de curvas, existem outras aplicações
do integral de linha. Por exemplo, se pensarmos num fio, ou um arame, com
a forma do traço de 𝛾 , e se na Definição 2. 1 a função 𝑓 representar a
densidade do material com que é feito esse fio, então ∫𝛾 𝑓 𝑑𝑠 dá o valor da
massa total desse fio.

56
Observação: A definição clássica8 deste integral é dada pelo limite9 das somas
de Riemann tomadas sobre qualquer partição 𝑎 = 𝑡0 , 𝑡1 , … , 𝑡𝑛 = 𝑏 do
intervalo [𝑎, 𝑏] onde varia o parâmetro 𝑡. Em particular, o comprimento de
um arame é obtido, tomando a função integranda 𝑓 constante igual a 1, como
o limite das somas do comprimento das linhas poligonais onde o diâmetro da
partição do intervalo [𝑎, 𝑏] é cada vez menor,
𝑛 𝑛

𝐿(𝛾) = 𝑑𝑠 = 𝑓 𝑑𝑠 = lim ∑ 𝑓(𝑝𝑖 )∆𝑠𝑖 = lim ∑ ∆𝑠𝑖 ,


𝛾 𝛾 𝑛→∞ 𝑛→∞
𝑖=1 𝑖=1

sendo ∆𝑠𝑖 , para cada 𝑖, o comprimento do segmento da curva 𝛾 para


𝑡 ∈ [𝑡𝑖−1 , 𝑡𝑖 ] (i = 1, . . . , 𝑛) e 𝑝𝑖 um ponto na curva entre 𝛾(𝑡𝑖 − 1) e 𝛾(𝑡𝑖 ). De
modo análogo, a massa de um arame homogéneo de densidade constante 𝑘
é o produto da densidade pelo seu comprimento e, tomando agora a função
integranda constante igual a 𝑘, tem-se

𝑚(𝛾) = 𝑘 𝑑𝑠 = 𝑘 𝑑𝑠 = 𝑘 𝐿(𝛾).
𝛾 𝛾

Exercício resolvido 2.2. Calcular a massa de um arame com a forma da hélice


definida pelas equações paramétricas

𝑥 = cos 𝑡 , 𝑦 = sin 𝑡 , 𝑧 = 𝑡, 0 ≤ 𝑡 ≤ 2𝜋,

nas seguintes situações:


1. o material tem densidade constante igual a 1;
2. a densidade do material é dada, em cada ponto, por
𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑦 sin 𝑧.
Resolução. A curva parametrizada correspondente é

𝛾(𝑡) = (cos 𝑡 , sin 𝑡 , 𝑡), 0 ≤ 𝑡 ≤ 2𝜋


e, portanto, ‖𝛾(𝑡)‖ = √2.

8 Esta abordagem pode ser encontrada, por exemplo, em [2].


9 Este limite, nas condições enunciadas, existe.

57
No primeiro caso, a massa é igual ao comprimento da hélice:

2𝜋 2𝜋
𝑚(𝛾) = 𝑑𝑠 = ‖𝛾 ′ (𝑡)‖ 𝑑𝑡 = √2 𝑑𝑡 = 2 √2 𝜋.
𝛾 0 0

No segundo caso, a massa é dada por


2𝜋
𝑚(𝛾) = 𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝑑𝑠 = 𝑓(𝛾(𝑡))‖𝛾 ′ (𝑡)‖ 𝑑𝑡
𝛾 0

2𝜋
= √2 sin2 𝑡 𝑑𝑡 = √2 𝜋.
0

2.1.1.Propriedades

São válidas as seguintes propriedades cujas demonstrações são


consequências imediatas das propriedades conhecidas do cálculo integral.

PROPOSIÇÃO 2.1
Sejam 𝑓, 𝑔: 𝐷 → ℝ campos escalares contínuos, 𝑘 ∈ ℝ e 𝐶 = 𝐶1 + 𝐶2 ⊆ 𝐷
o traço de uma curva obtida pela justaposição de duas curvas regulares.
Então
i. ∫𝐶 𝑘𝑓 𝑑𝑠 = 𝑘 ∫𝐶 𝑓 𝑑𝑠;

ii. (𝑓 + 𝑔)𝑑𝑠 = ∫𝐶 𝑓 𝑑𝑠 + ∫𝐶 𝑔 𝑑𝑠 ;
𝐶

iii. ∫𝐶 𝑓 𝑑𝑠 = ∫𝐶 𝑓 𝑑𝑠 + ∫𝐶 𝑓 𝑑𝑠.
1 +𝐶2 1 2

O valor de um integral de linha de uma função escalar é independente


da parametrização usada para a curva, isto é, se 𝛾: [𝑎, 𝑏] → ℝ2 e
𝛼: [𝑐, 𝑑] → ℝ2 são duas curvas parametrizadas com o mesmo traço, então

58
𝑏 𝑑
𝑓(𝛾(𝑡))‖𝛾 ′ (𝑡)‖ 𝑑𝑡 = 𝑓(𝛼(𝑢))‖𝛼 ′ (𝑢)‖ 𝑑𝑢.
𝑎 𝑐

De facto, as duas funções estão relacionadas do seguinte modo:


𝛼 = 𝛾 ∘ ℎ onde ℎ é uma mudança de parâmetro 10 (veja a Definição 1.11).
Tem-se 𝑡 = ℎ(𝑢) , donde 𝑑𝑡 = ℎ′ (𝑢) 𝑑𝑢 e, admitindo 11 que o sentido da
curva se mantém, quer dizer, ℎ′ (𝑢) > 0 para todo o u,

𝑏 𝑑
𝑓(𝛾(𝑡)) ‖𝛾 ′ (𝑡)‖ 𝑑𝑡 = 𝑓 (𝛾(ℎ(𝑢))) ‖𝛾 ′ (ℎ(𝑢))‖ℎ′ (𝑢) 𝑑𝑢
𝑎 𝑐

𝑑
= 𝑓(𝛾 ∘ ℎ(𝑢)) ‖𝛾 ′ (ℎ(𝑢)) ℎ′ (𝑢)‖ 𝑑𝑢
𝑐

𝑑
= 𝑓(𝛼(𝑢)) ‖𝛼 ′ (𝑢)‖ 𝑑𝑢,
𝑐

onde a última igualdade resulta do teorema da derivada da função composta.


Ainda podemos apontar outras aplicações do integral curvilíneo, além
das já referidas. A determinação do centro de massa de um objeto com a
forma de uma curva 𝐶, sendo conhecida a densidade de massa, 𝜌(𝑥, 𝑦, 𝑧),
em cada ponto12. As coordenadas do centro de massa, (𝑥, 𝑦, 𝑧), são dadas por

1 1 1
𝑥= 𝑥 𝜌(𝑥, 𝑦, 𝑧)𝑑𝑠, 𝑦 = 𝑦 𝜌(𝑥, 𝑦, 𝑧)𝑑𝑠, 𝑧 = 𝑧 𝜌(𝑥, 𝑦, 𝑧)𝑑𝑠 ,
𝑚 𝐶 𝑚 𝐶 𝑚 𝐶

onde 𝑚 = ∫𝐶 𝜌(𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝑑𝑠 é a massa do objeto.


Exemplo 2.1. O centro de massa da hélice referida no Exercício resolvido 2.2,
em 1., tem coordenadas (𝑥, 𝑦, 𝑧) com

10 Também se diz mudança de variável.


11 Se o sentido for o inverso chega-se de modo análogo ao mesmo resultado.
12 O mesmo é válido para curvas no plano considerando as devidas alterações.

59
2𝜋
1 1 1
𝑥= 𝑥𝜌 𝑑𝑠 = 𝑥 𝑑𝑠 = √2 cos 𝑡 𝑑𝑡 = 0,
2√2𝜋 𝐶 2√2𝜋 𝐶 2√2𝜋 0

2𝜋
1 1
𝑦= 𝑦 𝑑𝑠 = √2 sin 𝑡 𝑑𝑡 = 0,
2√2𝜋 𝐶 2√2𝜋 0

2𝜋
1 1
𝑧= 𝑧 𝑑𝑠 = √2𝑡 𝑑𝑡 = 𝜋.
2√2𝜋 𝐶 2√2𝜋 0

As coordenadas do centro de massa são (0,0, 𝜋).

2.2. Integral de linha de um campo vetorial

DEFINIÇÃO 2.2
Seja 𝛾: [𝑎, 𝑏] → ℝ𝑚 uma curva parametrizada regular e 𝐹 um campo
vetorial contínuo definido sobre a imagem de 𝛾, 𝐶 = 𝛾([𝑎, 𝑏]), a tomar
valores em ℝ𝑚 . O integral de linha de 𝐹 sobre 𝛾 é dado pela fórmula
𝑏
𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗ = 𝐹(𝛾(𝑡)) ⋅ 𝛾′(𝑡) 𝑑𝑡. (2.3)
𝛾 𝑎

Analogamente, pode dizer-se que o integral curvilíneo de 𝐹 sobre 𝐶 é

𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗ = 𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗.
𝐶 𝛾

O valor deste integral pode ser interpretado como o trabalho realizado


pelo campo vetorial 𝐹 (campo de forças, como é chamado na Física) para
deslocar uma partícula ao longo da curva 𝐶 e denota-se, habitualmente, pela
letra 𝑊.
É frequente encontrar outras formas de escrever este integral, das quais
destacamos as seguintes:

60
𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗ = 𝐹 ⋅ 𝑇 𝑑𝑠, (2.4)
𝛾 𝛾

onde 𝑇 é o versor da tangente à curva em cada ponto no sentido do


deslocamento. Ou seja, o trabalho realizado por 𝐹 ao longo de 𝐶 é o integral
de linha da componente tangencial de 𝐹 relativamente a 𝛾 . De facto,
𝛾′(𝑡)
atendendo a que 𝑇(𝑡) = ‖𝛾′(𝑡)‖ e a que ‖𝛾′(𝑡)‖ 𝑑𝑡 = 𝑑𝑠, de acordo com
(2.1),
𝑏 𝑏
𝛾 ′ (𝑡)
𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗ = 𝐹(𝛾(𝑡)) ⋅ 𝛾 ′ (𝑡)𝑑𝑡 = 𝐹(𝛾 (𝑡)) ⋅ ‖𝛾 ′ (𝑡)‖ 𝑑𝑡
𝛾 𝑎 𝑎 ‖𝛾 ′ (𝑡)‖

= 𝐹 ⋅ 𝑇 𝑑𝑠. (2.5)
𝛾

Outra forma de escrever o integral de linha usa a chamada forma


diferencial. Por exemplo, no caso 𝑚 = 3,

𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗ = 𝑃 𝑑𝑥 + 𝑄 𝑑𝑦 + 𝑅 𝑑𝑧, (2.6)


𝛾 𝛾

e consiste em explicitar o produto interno

𝐹 ⋅ 𝛾 ′ (𝑡) = (𝑃, 𝑄, 𝑅) ⋅ (𝑑𝑥, 𝑑𝑦, 𝑑𝑧).

𝑑𝑥
No cálculo do integral 𝑑𝑥 é substituído por 𝑑𝑡 (analogamente para as
𝑑𝑡
restantes). Esta forma sugere um outro modo de calcular o integral, na
prática, como se mostra no seguinte exemplo.
Exemplo 2.2. Sejam 𝐹(𝑥, 𝑦) = 𝑥 2 𝑦 𝑖̂ + 𝑥𝑦 2 𝑗̂ um campo vetorial plano e
𝛾(𝑡) = (𝑡 2 , 𝑡) uma curva parametrizada, com 0 ≤ 𝑡 ≤ 1 . O trabalho
realizado por 𝐹 ao longo de 𝛾 (cujo traço é um arco de parábola) é, usando
(2.3),
𝑏
𝑊= 𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗ = 𝐹(𝛾(𝑡)) ⋅ 𝛾 ′ (𝑡)𝑑𝑡.
𝛾 𝑎

61
Como,

𝐹(𝛾(𝑡)) = (𝑡 4 𝑡, 𝑡 2 𝑡 2 ) = (𝑡 5 , 𝑡 4 ) e 𝛾 ′ (𝑡) = (2𝑡, 1),

temos

1 1
17
𝑊= (𝑡 5 , 𝑡 4 ) ⋅ (2𝑡, 1)𝑑𝑡 = (2𝑡 6 + 𝑡 4 )𝑑𝑡 = .
0 0 35

Mas, calculando o mesmo integral usando a forma dada em (2.6), temos


𝑑𝑥 𝑑𝑦
𝛾(𝑡) = (𝑥(𝑡), 𝑦(𝑡)) = (𝑡 2 , 𝑡), donde = 2𝑡 e = 1, ou seja, 𝑑𝑥 = 2𝑡 𝑑𝑡
𝑑𝑡 𝑑𝑡
e 𝑑𝑦 = 𝑑𝑡. Assim,

1 1
𝑥 2 𝑦𝑑𝑥 + 𝑥𝑦 2 𝑑𝑦 = (𝑡 4 𝑡(2𝑡) + 𝑡 2 𝑡 2 )𝑑𝑡 = (2𝑡 6 + 𝑡 4 )𝑑𝑡 ,
𝛾 0 0

como obtido anteriormente.


O valor do integral de linha de um campo vetorial depende do sentido
da curva parametrizada. Se 𝛼 é uma reparametrização de 𝛾 que inverte o
sentido da curva, 𝛼 = 𝛾 ∘ ℎ, onde ℎ é uma mudança de parâmetro (veja a
Definição 1.11) com 𝑡 = ℎ(𝑢), tem-se 𝑑𝑡 = ℎ′(𝑢) 𝑑𝑢 e ℎ′ (𝑢) < 0 para todo
o 𝑢, uma vez que o sentido da curva se inverte. Assim,

𝑏
𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗ = 𝐹(𝛾(𝑡)) ⋅ 𝛾 ′ (𝑡) 𝑑𝑡
𝛾 𝑎

𝑐
= 𝐹 (𝛾(ℎ(𝑢))) ⋅ 𝛾(ℎ(𝑢)) ℎ′ (𝑢) 𝑑𝑢
𝑑

𝑐
= 𝐹(𝛾 ∘ ℎ(𝑢)) ⋅ 𝛾 ′ (ℎ(𝑢))ℎ′ (𝑢)𝑑𝑢
𝑑

𝑑
=− 𝐹(𝛼(𝑢)) ⋅ 𝛼 ′ (𝑢)𝑑𝑢 = − 𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗.
𝑐 𝛼

62
Exemplo 2.3. Sendo 𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑥𝑖̂ − 𝑧𝑗̂ + 𝑦𝑘̂ um campo vetorial
no espaço, o trabalho realizado por 𝐹 ao longo da curva
𝛾(𝑡) = (2𝑡, 3𝑡, 𝑡 2 ), −1 ≤ 𝑡 ≤ 1, cujo traço é 𝐶, é

1
𝑊= 𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗ = 𝐹(𝛾(𝑡)) ⋅ 𝛾 ′ (𝑡)𝑑𝑡
𝐶 −1

1
= (2𝑡, −𝑡 2 , 3𝑡) ⋅ (2,3,2𝑡)𝑑𝑡
−1

1
= 4𝑡 + 3𝑡 2 𝑑𝑡 = 2.
−1

Por outro lado, −𝐶, a curva constituída pelos mesmos pontos de 𝐶 mas
percorrida em sentido contrário, pode ser parametrizada por
𝛼(𝑡) = (−2𝑡, −3𝑡, 𝑡 2 ), 𝑡 ∈ [−1,1], e o trabalho realizado ao longo de −𝐶 é

1 1
𝑊= 𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗ = 𝐹(𝛼(𝑡)) ⋅ 𝛼 ′ (𝑡)𝑑𝑡 = −4𝑡 − 3𝑡 2 𝑑𝑡 = −2.
−𝐶 −1 −1

Notação: Se a curva é fechada, o integral denota-se, geralmente, por


∮ 𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗.
𝛾

2.3. Teorema fundamental dos


integrais de linha

Recordemos que (ver Definição 1.6) um campo vetorial 𝐹 diz-se


conservativo se existe uma função escalar 𝑓 tal que ∇𝑓 = 𝐹. A função 𝑓 diz-
se um potencial para 𝐹.
Exemplo 2.4. O campo vetorial

63
𝐹: ℝ2 \{(0,0)} ⟶ ℝ2
𝑥 𝑦
(𝑥, 𝑦) ⟼ ( , )
√𝑥 2 + 𝑦2 √𝑥 2 + 𝑦2

é conservativo. A função 𝑓(𝑥, 𝑦) = √𝑥 2 + 𝑦 2 é um seu potencial. Mas o


campo vetorial

𝐹: ℝ2 ⟶ ℝ2
(𝑥, 𝑦) ⟼ (𝑥, 𝑥𝑦)

não é conservativo. Se fosse, existiria uma função 𝑓 de duas variáveis tal que

(𝑓𝑥 (𝑥, 𝑦), 𝑓𝑦 (𝑥, 𝑦)) = (𝑥, 𝑥𝑦)

tendo-se, assim, 𝑓𝑥𝑦 (𝑥, 𝑦) = 0 mas 𝑓𝑦𝑥 (𝑥, 𝑦) = 𝑦, contrariando o teorema de


Schwarz.
O teorema seguinte, conhecido por teorema fundamental do cálculo
para integrais de linha de campos contínuos e conservativos, fornece uma
forma de calcular o integral de linha um campo conservativo ao longo de uma
curva, conhecido o potencial desse campo.

TEOREMA 2.1
Seja 𝐶 uma curva seccionalmente regular com origem 𝑝0 e
extremidade 𝑝1 . Se 𝐹 = ∇𝑓 é um campo conservativo diferenciável
num conjunto conexo aberto de ℝ𝑛 contendo 𝐶 , então o integral de 𝐹
ao longo de 𝐶 é dado por

𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗ = 𝑓(𝑝1 ) − 𝑓(𝑝0 ).


𝐶

Demonstração. Sejam 𝑝0 = 𝛾(𝑎) e 𝑝1 = 𝛾(𝑏) os extremos da curva


parametrizada 𝛾 definida em [𝑎, 𝑏] cuja imagem é 𝐶. Admitamos, em
primeiro lugar, que 𝛾 é regular. Temos,

64
𝑏
𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗ = (∇𝑓) ⋅ 𝑑𝑟⃗ = ∇𝑓(𝛾(𝑡)) ⋅ 𝛾 ′ (𝑡)𝑑𝑡.
𝐶 𝐶 𝑎

Tome-se a função composta definida em [𝑎, 𝑏] por 𝑔(𝑡) = 𝑓(𝛾(𝑡)) , cuja


derivada é, pelo teorema da derivada da função composta,

𝑔′ (𝑡) = ∇𝑓(𝛾(𝑡)) ⋅ 𝛾 ′ (𝑡).

Podemos afirmar que 𝑔′ é contínua (logo integrável) em (𝑎, 𝑏) (porque


𝑓 é contínua e 𝛾 é regular), portanto, podemos usar o teorema fundamental
do cálculo,

𝑏
𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗ = 𝑔′ (𝑡)𝑑𝑡 = 𝑔(𝑏) − 𝑔(𝑎) = 𝑓(𝛾(𝑏)) − 𝑓(𝛾(𝑎))
𝐶 𝑎

= 𝑓(𝑝1 ) − 𝑓(𝑝0 ).

Se 𝛾 não é regular mas é seccionalmente regular, fazemos uma partição


do intervalo [𝑎, 𝑏] num número finito (digamos, 𝑘) de subintervalos [𝑡𝑗−1 , 𝑡𝑗 ],
com 𝑡0 = 𝑎 e 𝑡𝑘 = 𝑏 , de modo que a curva 𝛾𝑗 definida em cada um deles seja
regular. Tem-se, então,

𝑘 𝑘

𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗ = ∑ (∇𝑓) ⋅ 𝑑𝑟⃗ = ∑ (𝑓 (𝛾(𝑡𝑗 )) − 𝑓 (𝛾(𝑡𝑗−1 )))


𝐶 𝑗=1 𝛾𝑗 𝑗=1

= 𝑓(𝛾(𝑏)) − 𝑓(𝛾(𝑎)).

Exemplo 2.5. Sejam 𝐹(𝑥, 𝑦) = 𝑥𝑦 2 𝑖̂ + 𝑥 2 𝑦𝑗̂ um campo vetorial e 𝐶 uma


𝑥2 𝑦2
curva parametrizada por 𝛾(𝑡) = (𝑡, 𝑡 2 ) com 0 ≤ 𝑡 ≤ 2. Como 𝑓(𝑥, 𝑦) =
2
é um potencial para 𝐹, o trabalho realizado por 𝐹 ao longo da curva 𝐶 é

𝑊= 𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗ = 𝑓(𝛾(2)) − 𝑓(𝛾(0)) = 𝑓(2,4) − 𝑓(0,0) = 32.


𝐶

65
Do teorema 2.1 resulta imediatamente que o integral curvilíneo de um
campo vetorial conservativo é independente da curva13. Quer dizer,

𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗ = 𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗
𝛾1 𝛾2

para quaisquer duas curvas seccionalmente regulares 𝛾1 e 𝛾2 , cujos pontos


inicial e final sejam os mesmos. Além disso, se a curva for fechada, tem-se
𝛾(𝑎) = 𝛾(𝑏), pelo que 𝑓(𝑝1 ) − 𝑓(𝑝0 ) = 0, ou seja, o integral de linha de um
campo conservativo contínuo ao longo de qualquer curva seccionalmente
regular fechada é zero.
O teorema seguinte dá várias condições necessárias e suficientes para
que um campo vetorial seja um campo conservativo.

Teorema 2.2
Se 𝐹 é um campo vetorial contínuo definido num conjunto conexo
aberto 𝑈 ⊆ ℝ𝑛 , então são equivalentes as seguintes afirmações:
i. 𝐹 é um campo conservativo;
ii. O integral de linha de 𝐹 é independente da curva considerada
em 𝑈;
iii. O integral de linha de 𝐹, ao longo de qualquer curva fechada
seccionalmente regular em 𝑈, é zero.

A demonstração deste teorema pode ser consultada em [2].


Exemplo 2.6. A curva obtida por justaposição de uma arco de parábola 𝐶1 ,
com um arco de circunferência 𝐶2 (representada na Figura 2.3)

𝐶 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : (𝑦 = 1 − 𝑥 2 ∧ 𝑦 ≥ 0) ∨ (𝑥 2 + 𝑦 2 = 1 ∧ 𝑦 < 0)}

é o traço de uma curva seccionalmente regular e fechada (por exemplo,

13 Também se diz independente do caminho.

66
(cos 𝑡 , sin 𝑡) 𝑠𝑒 − 𝜋 ≤ 𝑡 ≤ 0
𝛾(𝑡) = {
(1 − 𝑡, 1 − (1 − 𝑡)2 ) 𝑠𝑒 0<𝑡≤2

é uma parametrização de 𝐶). Consideremos o campo vetorial, também


representado na figura, definido por 𝐹(𝑥, 𝑦) = (𝑦 − 𝑥 3 )𝑖̂ + (𝑥 + 𝑦)𝑗̂. Como
𝐹 é conservativo (verifique) podemos, imediatamente, afirmar que

∮ 𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗ = 0.
𝐶

FIGURA 2.3. CURVA RELATIVA AO EXEMPLO 2.6

Exercício resolvido 2.3. Mostrar que o campo vetorial do Exemplo 1.13 não é
conservativo.
Resolução. Se fosse conservativo, ter-se-ia, pelo Teorema 2.2,

∮ 𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗ = 0
𝐶

para qualquer curva regular fechada contida em ℝ2 \{(0, 0)}. Porém, sendo
𝐶 a circunferência unitária parametrizada por

𝛾(𝑡) = (cos 𝑡 , sin 𝑡), 0 ≤ 𝑡 ≤ 2𝜋,

obtém-se,
2𝜋 2𝜋
∮ 𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗ = 𝐹(𝛾(𝑡)) ⋅ 𝛾(𝑡)𝑑𝑡 = (cos 2 𝑡 + sin2 𝑡) 𝑑𝑡 = 2𝜋.
𝐶 0 0

67
2.4. Exercícios propostos

1. Calcule o integral ∫𝐶 𝑥 𝑑𝑠, onde 𝐶 é o segmento da curva de equação


𝑦 = 𝑥 2 , de origem (1,1) e extremidade (0, 0).
2. Calcule ∫𝐶 𝑓 𝑑𝑠 nos seguintes casos:
a) 𝑓(𝑥, 𝑦) = 𝑥 + 𝑦, 𝐶 é a curva de equações paramétricas
𝑥=𝑡
{ , 0 ≤ 𝑡 ≤ 1;
𝑦=1−𝑡
b) 𝑓(𝑥, 𝑦) = 1 + 𝑥𝑦, 𝐶 é a circunferência unitária centrada na origem;
𝑥3 𝑥2
c) 𝑓(𝑥, 𝑦) = , 𝐶 é a parábola definida por 𝑦 = de (0,0) a (2,2);
𝑦 2
2
d) 𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑥 + 𝑦 + 𝑧 , 𝐶 é o segmento de reta de origem (0,1,0)
e extremidade (1,0,0);
e) 𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑥 + 𝑦 + 𝑧, 𝐶 é o segmento de reta de origem (1,2,3) e
extremidade (0,1, −1);
f) 𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧) = √𝑥 2 + 𝑦 2 , 𝐶 = 𝛾([−2𝜋, 2𝜋]) com
𝛾(𝑡) = (4 cos 𝑡 , 4 sin 𝑡 , 3𝑡);
g) 𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑥 + √𝑥 − 𝑧 2 ; 𝐶 = 𝐶1 ∪ 𝐶2 ∪ 𝐶3 , s en d o
𝐶1 : 𝑟1 (𝑡) = (0,0, 𝑡), 0 ≤ 𝑡 ≤ 1
𝐶2 : 𝑟2 (𝑡) = (0, 𝑡, 1), 0 ≤ 𝑡 ≤ 1
𝐶3 : 𝑟3 (𝑡) = (𝑡, 1,1), 0 ≤ 𝑡 ≤ 1
Sugestão: comece por traçar a curva.
3. Calcule o comprimento das seguintes curvas parametrizadas:
a) 𝛾(𝑡) = (2(𝑡 − sin 𝑡), 2(1 − cos 𝑡)), 0 ≤ 𝑡 ≤ 2𝜋 (arco de cicloide);

68
b) 𝛾(𝑡) = (2 sin 𝑡 , 𝑡, 2 cos 𝑡), −10 ≤ 𝑡 ≤ 10 (espiral).

4. Determine a massa e o centro de massa de um arame fino com formato


de um quarto de circunferência, 𝑥 2 + 𝑦 2 = 𝑟 2 , 𝑥 ≥ 0, 𝑦 ≥ 0 de
densidade 𝛿(𝑥, 𝑦) = 𝑥 + 𝑦.
5. Determine o trabalho realizado pelo campo vetorial 𝐹(𝑥, 𝑦) = 𝑥 2 𝑖̂ + 𝑥𝑦𝑗̂
sobre uma partícula que descreve a circunferência 𝑥 2 + 𝑦 2 = 4 no
sentido anti-horário.
6. Determine o trabalho realizado por um campo vetorial
𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧) = (𝑦 + 𝑧)𝑖̂ + (𝑥 + 𝑧)𝑗̂ + (𝑥 + 𝑦)𝑘̂
sobre o segmento de reta de origem (1,0,0) e extremidade (3,4,2).
7. Considere a função 𝐹 e curva 𝛾 dadas por
𝐹(𝑥, 𝑦) = 𝑒 2𝑦 𝑖̂ + (1 + 2𝑥𝑒 2𝑦 )𝑗̂
e
𝛾(𝑡) = 𝑡𝑒 𝑡 𝑖̂ + (1 + 𝑡)𝑗̂, 0 ≤ 𝑡 ≤ 1.
a) Determine uma função 𝑓 tal que 𝐹 = ∇𝑓.
b) Calcule ∫𝛾 𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗.

8. Prove que o valor do integral


(𝑥 3 − 3𝑥𝑦 2 + 2)𝑑𝑥 − (3𝑥 2 𝑦 − 𝑦 2 ) 𝑑𝑦
não depende da curva de extremos 𝐴 = (0,0) e 𝐵 = (2,3) e calcule-o.

69
9. Considere o campo vetorial
𝐹(𝑥, 𝑦) = sin 𝑥 𝑖̂ + sin 𝑦 𝑗̂
e 𝛾 = 𝛼 ∪ 𝛽 com orientação positiva, sendo 𝛽 o
𝜋
segmento de reta de extremos (0,0) e ( , 2) e α uma
2
curva cuja equação é desconhecida, de extremos nos
mesmos pontos (veja a figura).
a) Em que condições se diz que um campo
vetorial plano é conservativo?
b) Mostre que o campo vetorial dado F é
conservativo.
c) Calcule ∫𝛼 𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗.
10. Considere o campo vetorial no espaço dado por
𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑦 2 𝑖̂ + 2𝑥𝑦𝑗̂ + 2𝑧𝑘̂.
Seja 𝐶 a curva sobre a parábola 𝑧 = 𝑦 2 , 𝑥 = 0 com início no ponto
(0, −1,1) e extremidade no ponto (0,2,4).
a) Calcule o comprimento de 𝐶.
b) Calcule o trabalho necessário para mover uma partícula ao longo de
𝐶.
c) Calcule o rotacional de 𝐹 no ponto (𝑥, 𝑦, 𝑧).
d) Uma partícula está situada no ponto (1,0,0) . Calcule o trabalho
necessário para a mover numa órbita circular de raio 1, centrada na
origem, regressando até ao ponto de partida.

70
CAPÍTULO 3.

INTEGRAIS MÚLTIPLOS

Neste capítulo vamos generalizar a noção de integral de uma função real


de uma variável real, estendendo-a ao caso de funções reais de várias
variáveis. Daremos especial ênfase ao caso de funções de duas e de três
variáveis – os integrais duplos e os integrais triplos, embora esta noção se
estenda, de modo natural, a funções de 𝑛 variáveis.
No final do capítulo o estudante deve ser capaz de:
 Estabelecer e calcular integrais duplos em regiões do plano;
 Inverter a ordem de integração em integrais duplos;
 Calcular integrais duplos em coordenadas retangulares;
 Calcular integrais duplos em coordenadas polares;
 Aplicar o teorema de Green;
 Usar integrais duplos para calcular a área de uma região plana;
 Usar integrais duplos para calcular o volume de um sólido;
 Estabelecer e calcular integrais triplos;
 Inverter a ordem de integração em integrais triplos;
 Calcular integrais triplos em coordenadas cartesianas, em coordenadas
cilíndricas e em coordenadas esféricas.

3.1. Integrais duplos

O integral duplo de uma função 𝑓: 𝑅 → ℝ, onde 𝑅 é um retângulo,


corresponde, no caso de 𝑓 ser não negativa, ao volume compreendido entre
a região 𝑅 do plano 𝑥𝑂𝑦 e o gráfico da função 𝑓.
Uma estimativa para o valor desse volume pode ser obtida subdividindo
o retângulo 𝑅 em retângulos de dimensões cada vez menores e somando os

71
volumes dos paralelepípedos que têm por base esses retângulos e altura o
menor valor de 𝑓, em cada um deles, como ilustra a Figura 3.1. Por outro lado,
tomando para altura o maior 14 valor de 𝑓 obtém-se uma aproximação, por
excesso, do valor do referido volume.

FIGURA 3.1. A SOMA DO VOLUME DOS PARALELEPÍPEDOS COMO UMA APROXIMAÇÃO, POR DEFEITO,
PARA O VOLUME DE SÓLIDO LIMITADO SUPERIORMENTE PELO GRÁFICO DE UMA FUNÇÃO DE DUAS
VARIÁVEIS

2
Seja 𝑓: 𝑅 ⊆ ℝ → ℝ uma função limitada de duas variáveis, definida
num retângulo

𝑅 = [𝑎, 𝑏] × [𝑐, 𝑑] = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : 𝑎 ≤ 𝑥 ≤ 𝑏, 𝑐 ≤ 𝑦 ≤ 𝑑}.

Consideremos uma partição 15 de 𝑅 = [𝑎, 𝑏] × [𝑐, 𝑑] em 𝑚 × 𝑛 retân-


gulos,

𝑃 = {𝑅𝑖𝑗 : 𝑖 = 1, … , 𝑚, 𝑗 = 1, … , 𝑛},

em que 𝑅𝑖𝑗 = [𝑥𝑖−1 , 𝑥𝑖 ] × [𝑦𝑗−1 , 𝑦𝑗 ]. Para cada retângulo 𝑅𝑖𝑗 de área ∆𝑖𝑗 ,
escolhemos arbitrariamente um ponto 𝑝𝑖𝑗 = (𝑥𝑖𝑗 , 𝑦𝑖𝑗 ). A medida do maior
dos comprimentos das diagonais de todos os retângulos 𝑅𝑖𝑗 diz-se o diâmetro
da partição 𝑃 e denota-se por 𝛿𝑝 . Chamamos à soma

14
Em rigor, diz-se o ínfimo e o supremo de f, respetivamente, em cada um dos retângulos.
15Em geral chama-se partição de um conjunto, a uma decomposição do conjunto em vários
subconjuntos de modo a que interseção de dois quaisquer subconjuntos diferentes seja vazia.
No nosso contexto chamamos partição a uma decomposição em que a interseção de dois
subconjuntos, embora possa não ser vazia, é um conjunto de medida (área, no caso dos integrais
duplos) nula.

72
𝑚 𝑛

𝑆(𝑓, 𝑃) = ∑ ∑ 𝑓(𝑥𝑖𝑗 , 𝑦𝑖𝑗 )∆𝑖𝑗


𝑖=1 𝑗=1

soma dupla de Riemann de 𝑓 relativamente à partição 𝑃.

DEFINIÇÃO 3.1
O integral duplo de 𝑓 em 𝑅 é definido por

𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦 = lim 𝑆(𝑓, 𝑃) , (3.1)


𝑅 𝛿𝑝 →0

se este limite existir. Neste caso, diz-se que a função 𝑓 é integrável em 𝑅.

Esta definição não é muito útil para saber se uma dada função é
integrável sobre uma dada região retangular 𝑅. No entanto, pode provar-se
(ver [2] para a demonstração) que se 𝑓 é contínua numa região retangular
fechada 𝑅 então é integrável em 𝑅. No entanto, nem só as funções contínuas
são integráveis. Mais geralmente, pode provar-se que basta que a função seja
seccionalmente contínua16 num retângulo para ser aí integrável, o que nos
permite definir integral de uma função de duas variáveis em regiões mais
gerais.
Consideremos uma função de duas variáveis, 𝑓: 𝐷 ⊆ ℝ2 → ℝ, contínua,
definida num compacto17 𝐷. Como o conjunto 𝐷 é limitado, podemos consi-
derar um retângulo 𝑅 que o contém, como ilustra a Figura 3.2.
Definimos uma nova função 𝑓 ∗ em 𝑅 que
coincide com 𝑓 em todos os pontos de 𝐷

𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑠𝑒 (𝑥, 𝑦) ∈ 𝐷
𝑓 ∗ (𝑥, 𝑦) = { .
0 𝑠𝑒 (𝑥, 𝑦) ∈ 𝑅\𝐷
FIGURA 3.2. DOMÍNIO
LIMITADO

16 Diz-se que uma função é seccionalmente contínua se podemos particionar o seu domínio de
forma que a restrição de f a cada conjunto na partição seja uma função contínua.
17 Um conjunto é compacto se for limitado e fechado.

73
Esta função 𝑓 ∗ é seccionalmente contínua pois coincide com a função
contínua 𝑓 em 𝐷 e é constante em 𝑅\𝐷. Assim 𝑓 ∗ é integrável em 𝐷, e tem-
se

𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦 = 𝑓 ∗ (𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦,


𝐷 𝑅

reconhecendo-se facilmente que valor deste integral não depende da escolha


do retângulo 𝑅.

3.1.1. Cálculo do integral duplo

O cálculo de um integral duplo sobre uma região retangular faz-se por


meio do cálculo de integrais iterados de acordo com o teorema seguinte:

TEOREMA 3.1 – Teorema de Fubini


Se 𝑓 é integrável em 𝑅 = [𝑎, 𝑏] × [𝑐, 𝑑] então
𝑏 𝑑 𝑑 𝑏
𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦 = ( 𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑦) 𝑑𝑥 = ( 𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥) 𝑑𝑦.
𝑅 𝑎 𝑐 𝑐 𝑎

Para uma demonstração deste teorema veja, por exemplo, [2].


O teorema de Fubini garante que mudando a ordem de integração
obtém-se o mesmo valor para o integral duplo. O exemplo seguinte ilustra a
importância da escolha da ordem de integração de modo a tornar mais
eficiente o cálculo.
Exemplo 3.1. O cálculo do integral duplo

𝑦 sin(𝑥𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦
𝑅

74
com 𝑅 = [1, 2] × [0, 𝜋], obtém-se muito facilmente escolhendo a ordem de
integração 𝑑𝑥𝑑𝑦 (isto é integrando primeiro em ordem a 𝑥 depois em ordem
a 𝑦). De facto, o cálculo é imediato usando o teorema fundamental do cálculo:

𝜋 2
𝑦 sin(𝑥𝑦)𝑑𝑥𝑑𝑦 = ( 𝑦 sin(𝑥𝑦) 𝑑𝑥) 𝑑𝑦
𝑅 0 1

𝜋 𝑥=2 𝜋
= [− cos(𝑥𝑦)] 𝑑𝑦 = − cos(2𝑦) + cos 𝑦 𝑑𝑦
0 𝑥=1 0

𝑦=𝜋
1
= [− sin(2𝑦) + sin 𝑦] = 0.
2 𝑦=0

Este cálculo é mais difícil trocando a ordem de integração:

2 𝜋
𝑦 sin(𝑥𝑦)𝑑𝑥𝑑𝑦 = ( 𝑦 sin(𝑥𝑦) 𝑑𝑦) 𝑑𝑥,
𝑅 1 0

e, integrando, por partes, em ordem a 𝑦,

2 𝜋 2
𝜋 1
( 𝑦 sin(𝑥𝑦) 𝑑𝑦) 𝑑𝑥 = − cos(𝜋𝑥) + 2 sin(𝜋𝑥) 𝑑𝑥 (3.2)
1 0 1 𝑥 𝑥

já que

𝜋 𝑦=𝜋 𝜋
− cos(𝑥𝑦) cos(𝑥𝑦)
( 𝑦 sin(𝑥𝑦) 𝑑𝑦) = [ 𝑦] + 𝑑𝑦
0 𝑥 𝑦=0 0 𝑥

𝑦=𝜋
𝜋 1
= − cos(𝜋𝑥) + [ 2 sin(𝑥𝑦)]
𝑥 𝑥 𝑦=0

𝜋 1
= − cos(𝜋𝑥) + 2 sin(𝜋𝑥).
𝑥 𝑥

Retomando (3.2),

75
2 𝜋 2 2
𝜋 1
( 𝑦 sin(𝑥𝑦) 𝑑𝑦) 𝑑𝑥 = − cos(𝜋𝑥) 𝑑𝑥 + sin(𝜋𝑥) 𝑑𝑥 (3.3)
1 0 1 𝑥 1 𝑥2

onde o primeiro integral do segundo membro deve ser calculado usando, de


novo, integração por partes (agora em ordem a 𝑥):

2 𝑥=2 2
𝜋 1 1
− cos(𝜋𝑥) 𝑑𝑥 = − [ sin(𝜋𝑥)] − sin(𝜋𝑥) 𝑑𝑥
1 𝑥 𝑥 𝑥=1 1 𝑥2

2
1
=− sin(𝜋𝑥) 𝑑𝑥
1 𝑥2

Voltando a (3.3), obtém-se finalmente,

2 𝑥 2 2
1 1
𝑦 sin(𝑥𝑦) 𝑑𝑦𝑑𝑥 = − sin(𝜋𝑥) 𝑑𝑥 + sin(𝜋𝑥) 𝑑𝑥 = 0.
1 0 1 𝑥2 1 𝑥2

Regiões simples

Vamos agora considerar regiões de integração mais gerais, nas quais


também podemos passar a integrais iterados para calcular o integral duplo.
Seja 𝑓: 𝐷 ⊆ ℝ2 uma função contínua definida sobre uma região do plano
𝐷. Vamos considerar dois tipos especiais de regiões em ℝ2 .
Uma região do plano, limitada e fechada, diz-se verticalmente simples ou
de tipo I se se pode escrever na forma:

𝐷 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : 𝑎 ≤ 𝑥 ≤ 𝑏, 𝑔1 (𝑥) ≤ 𝑦 ≤ 𝑔2 (𝑥)}

onde 𝑔1 e 𝑔2 são funções contínuas de uma variável definidas em [𝑎, 𝑏] (ver


Figura 3.3). Neste caso, para calcular o integral duplo podemos utilizar a
fórmula

76
𝑏 𝑔2 (𝑥)
𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦 = ( 𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑦) 𝑑𝑥
𝐷 𝑎 𝑔1 (𝑥)

FIGURA 3.3. REGIÕES DE INTEGRAÇÃO VERTICALMENTE SIMPLES E HORIZONTALMENTE SIMPLES,


RESPETIVAMENTE

Uma região do plano, limitada e fechada, diz-se horizontalmente simples


ou de tipo II se se pode escrever na forma:

𝐷 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : 𝑎 ≤ 𝑦 ≤ 𝑏, 𝑔1 (𝑦) ≤ 𝑥 ≤ 𝑔2 (𝑦)},

onde 𝑔1 e 𝑔2 são funções contínuas de uma variável definidas em [𝑎, 𝑏].


Temos, neste caso,

𝑏 𝑔2 (𝑦)
𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦 = ( 𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥) 𝑑𝑦
𝐷 𝑎 𝑔1 (𝑦)

(para justificação destas fórmulas consultar [2]).


Exercício resolvido 3.1. Calcular

1. O integral
𝑥 + 2𝑦 𝑑𝑥𝑑𝑦,
𝐷

sendo 𝐷 a região do plano limitada pelas parábolas 𝑦 = 2𝑥 2 e 𝑦 = 1 + 𝑥 2


representada na Figura 3.4.

77
FIGURA 3.4. REGIÕES DE INTEGRAÇÃO REFERIDAS NO EXERCÍCIO 3.1
2. O volume do sólido limitado superiormente pelo plano definido por
𝑧 = 𝑓(𝑥, 𝑦) = 𝑥 + 𝑦 e inferiormente pela região do plano 𝐸 limitada
pelas retas 𝑦 = 2𝑥, 𝑦 = 2 e pela parábola 𝑦 = 𝑥 2 .
Resolução.
1. Como 𝐷 de uma região verticalmente simples, temos

1 𝑥 2 +1
(𝑥 + 2𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦 = (𝑥 + 2𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦
𝐷 −1 2𝑥 2

1
32
= (1 + 𝑥 + 2𝑥 2 − 𝑥 3 − 3𝑥 4 ) 𝑑𝑥 = .
−1 15

2. A região sobre a qual se projeta o sólido em questão é a região 𝐸, repre-


sentada na Figura 3.4, é horizontalmente simples. Começamos por escre-
ver as equações da reta e da parábola explicitamente em função de 𝑥,
𝑦
𝑦 = 2𝑥 ⟺ 𝑥 = ,
2
𝑦 = 𝑥 2 ⟺ 𝑥 = √𝑦 .
O volume do sólido é dado pelo integral
√ 𝑥= 𝑦
2 √𝑦 2
𝑥2
(𝑥 + 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦 = [ + 𝑥𝑦] 𝑑𝑦
0
𝑦
0 2 𝑥=
𝑦
2 2

2
3⁄ 5𝑦 2 𝑦 8√2 2
= (𝑦 2 − + ) 𝑑𝑦 = − .
0 8 2 5 3

78
Interpretação geométrica do integral duplo

Se 𝑓(𝑥, 𝑦) > 0 para todo (𝑥, 𝑦) ∈ 𝐷, o volume de um sólido

𝑉 = {(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ ℝ3 : (𝑥, 𝑦) ∈ 𝐷, 0 ≤ 𝑧 ≤ 𝑓(𝑥, 𝑦)}

de base 𝐷 coberto pela superfície de equação 𝑧 = 𝑓(𝑥, 𝑦), é dado, como já


vimos (ver a Figura 3.1) pelo integral duplo de 𝑓 em 𝐷.
Daqui se deduz, imediatamente, que se 𝑓(𝑥, 𝑦) = 1 e o valor do integral
∬𝐷 𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦 é a área do conjunto 𝐷 do plano 𝑥𝑂𝑦 (ver Figura 3.5), uma
vez que a altura do sólido é constante e
igual a 1, e podemos escrever,

𝐴(𝐷) = 𝑑𝑥𝑑𝑦 ,
𝐷

ou seja,

𝐴(𝐷) = 𝑑𝐴
𝐷 FIGURA 3.5. ÁREA DO DOMÍNIO 𝐷

onde 𝑑𝐴 = 𝑑𝑥𝑑𝑦, a que se chama elemento de área, representa a área de


um retângulo infinitesimal de dimensões 𝑑𝑥 e 𝑑𝑦.
Mais geralmente, se 𝑓, 𝑔: 𝐷 ⊆ ℝ2 → ℝ são funções integráveis em 𝐷,
com 𝑓(𝑥, 𝑦) ≥ 𝑔(𝑥, 𝑦), (𝑥, 𝑦) ∈ 𝐷, o volume do sólido (ver Figura 3.6)

𝑉 = {(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ ℝ3 : (𝑥, 𝑦) ∈ 𝐷, 𝑔(𝑥, 𝑦) ≤ 𝑧 ≤ 𝑓(𝑥, 𝑦)}

é dado por

𝑓(𝑥, 𝑦) − 𝑔(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦.


FIGURA 3.6. VOLUME DE 𝐷
UM SÓLIDO

79
Propriedades
Algumas propriedades dos integrais duplos são extensões das
propriedades homólogas para integrais simples já nossas conhecidas.

PROPOSIÇÃO 3.1
Sejam 𝐷 ⊆ ℝ2 uma região compacta que pode ser decomposta num nú-
mero finito de regiões horizontalmente ou verticalmente simples, e sejam
𝑓 e 𝑔 duas funções reais integráveis em 𝐷. Então
1. 𝑓 + 𝑔 e 𝑓 − 𝑔 são integráveis em D e

(𝑓(𝑥, 𝑦) ± 𝑔(𝑥, 𝑦)) 𝑑𝑥𝑑𝑦 = 𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦 ± 𝑔(𝑥, 𝑦)𝑑𝑥𝑑𝑦 .


𝐷 𝐷 𝐷
2. Para todo 𝜆 ∈ ℝ a função 𝜆𝑓 é integrável em 𝐷 e

𝜆𝑓(𝑥, 𝑦)𝑑𝑥𝑑𝑦 = 𝜆 𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦.


𝐷 𝐷
3. Se 𝑓 for não negativa, isto é, 𝑓(𝑥, 𝑦) ≥ 0 para todo o (𝑥, 𝑦) ∈ 𝐷,

𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦 ≥ 0.
𝐷
4. Se 𝑓(𝑥, 𝑦) ≤ 𝑔(𝑥, 𝑦) para todo o (𝑥, 𝑦) ∈ 𝐷,

𝑓(𝑥, 𝑦)𝑑𝑥𝑑𝑦 ≤ 𝑔(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦


𝐷 𝐷
5. Se 𝐷 = 𝐷1 ∪ 𝐷2 ∪ … ∪ 𝐷𝑘 , sendo 𝐷1 , 𝐷2 , … , 𝐷𝑘 regiões que se
intersetam, quando muito, nas suas fronteiras, em número finito, e
cada uma delas é uma região horizontalmente ou verticalmente
simples, então
𝑘

𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦 = ∑ ( 𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦) .


𝐷 𝑖=1 𝐷𝑖

6. A função |𝑓| é integrável em 𝐷 e

| 𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦| ≤ |𝑓(𝑥, 𝑦)|𝑑𝑥𝑑𝑦


𝐷 𝐷

80
Demonstração. A demonstração resulta da definição de integral e
operações com integrais simples. Pode ser consultada, por exemplo, em [7].
Na prática, podemos calcular o integral duplo
de uma função 𝑓 num conjunto limitado e
fechado 𝐷 decompondo-o num número finito de
regiões, sendo cada uma delas horizontalmente
simples ou verticalmente simples e somando,
depois, os valores obtidos.
Exemplo 3.2. A região representada na Figura 3.7
não é verticalmente simples nem hori-
zontalmente simples, mas a sua área pode ser
calculada, usando integração dupla, decom- FIGURA 3.7. REGIÃO DE
INTEGRAÇÃO (EXEMPLO 3.2.)
pondo-a em três regiões verticalmente simples:

𝐷1 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : −1 ≤ 𝑥 ≤ 0, −1 ≤ 𝑦 ≤ 1 + 𝑥 2 },

𝐷2 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : 0 ≤ 𝑥 ≤ 1, −1 ≤ 𝑦 ≤ −√𝑥},

𝐷3 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : 0 ≤ 𝑥 ≤ 1, √𝑥 ≤ 𝑦 ≤ 1 + 𝑥 2 },

sendo o valor da área da região dado por

𝑑𝑥𝑑𝑦 + 𝑑𝑥𝑑𝑦 + 𝑑𝑥𝑑𝑦


𝐷1 𝐷2 𝐷3

0 1+𝑥 2 1 −√𝑥 1 1+𝑥 2


= 𝑑𝑦𝑑𝑥 + 𝑑𝑦𝑑𝑥 + 𝑑𝑦𝑑𝑥 ,
−1 −1 0 −1 0 √𝑥

ou, em três regiões horizontalmente simples,

𝐷1 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : −1 ≤ 𝑦 ≤ 1, −1 ≤ 𝑥 ≤ 𝑦 2 },

𝐷2 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : 1 ≤ 𝑦 ≤ 2, −1 ≤ 𝑥 ≤ − √𝑦 − 1},

𝐷3 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : 1 ≤ 𝑦 ≤ 2, √𝑦 − 1 ≤ 𝑥 ≤ 1},

81
sendo o valor da área dado por (usando a segunda decomposição)

𝑑𝑥𝑑𝑦 + 𝑑𝑥𝑑𝑦 + 𝑑𝑥𝑑𝑦


𝐷1 𝐷2 𝐷3

1 𝑦2 2 −√𝑦−1 2 1
10
= 𝑑𝑥𝑑𝑦 + 𝑑𝑥𝑑𝑦 + 𝑑𝑥𝑑𝑦 = .
−1 −1 1 −1 1 √𝑦−1 3

3.1.2. Integrais duplos em coordenadas polares

Calcular integrais duplos sobre regiões do plano circulares, ou que in-


cluem partes de círculos, ou ainda que envolvem de alguma maneira a ex-
pressão 𝑥 2 + 𝑦 2 na função a integrar é, frequentemente, mais fácil em coor-
denadas polares. Sendo 𝐷 uma região em coordenadas cartesianas que se
escreve, em coordenadas polares, {(𝑟, 𝜃) ∶ 𝑎 ≤ 𝑟 ≤ 𝑏, 𝛼 ≤ 𝜃 ≤ 𝛽}, tem-se

𝛽 𝑏
𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦 = 𝑓(𝑟 cos 𝜃, 𝑟 sin 𝜃) 𝑟 𝑑𝑟𝑑𝜃. (3.4)
𝐷 𝛼 𝑎

Esta fórmula é um caso particular de mudança de coordenadas (recorde


a Secção 1.1). Em geral, se as coordenadas 𝑥 e 𝑦, no plano cartesiano, estão
relacionadas com as variáveis 𝑢 e 𝑣 por meio de uma mudança de
𝑥 = 𝑥(𝑢, 𝑣)
coordenadas, { , cujo Jacobiano é
𝑦 = 𝑦(𝑢, 𝑣)
𝜕𝑥 𝜕𝑥
𝜕(𝑥, 𝑦) 𝜕𝑢 𝜕𝑣 |
=| ,
𝜕(𝑢, 𝑣) |𝜕𝑦 𝜕𝑦 |
𝜕𝑢 𝜕𝑣
tem-se,
𝜕(𝑥, 𝑦)
𝑑𝑥𝑑𝑦 = | | 𝑑𝑢𝑑𝑣,
𝜕(𝑢, 𝑣)

82
e a fórmula geral é

𝜕(𝑥, 𝑦)
𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦 = 𝑓(𝑥(𝑢, 𝑣), 𝑦(𝑢, 𝑣)) | | 𝑑𝑢𝑑𝑣 ,
𝑅 𝑅′ 𝜕(𝑢, 𝑣)

onde 𝑅’ é a região transformada de 𝑅 pela referida mudança de


coordenadas.
Exercício resolvido 3.2. Calcular

𝑥−𝑦 2
( ) 𝑑𝑥𝑑𝑦
𝐷 𝑥+𝑦+2

sobre a região representada na figura.


Resolução. Embora o integral possa ser
calculado usando coordenadas cartesianas, isso
seria demasiado trabalhoso. Notando que a
região é limitada pelas quatro retas 𝑥 + 𝑦 = ±1, 𝑥 − 𝑦 = ±1 e as expressões
𝑥 + 𝑦 e 𝑥 − 𝑦 também aparecem na função integranda, fazendo a mudança
de coordenadas

𝑢 = 𝑥 + 𝑦, 𝑣 = 𝑥 − 𝑦,

de onde vem

𝑢+𝑣 𝑢−𝑣
𝑥= ,𝑦 = ,
2 2
tem-se

1 1
𝜕(𝑥, 𝑦) 2 2 1
= || || = − .
𝜕(𝑢, 𝑣) 1 1 2

2 2

Assim, as retas que limitam a região 𝐷’ no plano 𝑢𝑂𝑣 são 𝑢 = −1, 𝑢 = 1,


𝑣 = −1, 𝑣 = 1, e tem-se,

83
𝑥−𝑦 2 𝑣 21
( ) 𝑑𝑥𝑑𝑦 = ( ) 𝑑𝑢𝑑𝑣
𝐷 𝑥+𝑦+2 𝐷′ 𝑢+2 2

1 1
1 𝑣 2
= ( ) 𝑑𝑢𝑑𝑣
2 −1 −1 𝑢+2

1 1
1 𝑢=1
= 𝑣 2 [− ] 𝑑𝑣
2 −1 𝑢 + 2 𝑢=−1

1
1 2
= 𝑣 2 𝑑𝑣 = .
3 −1 9

Em coordenadas polares, como o Jacobiano


da mudança de coordenadas é 𝑟, encontramos
𝑑𝐴 = 𝑑𝑥𝑑𝑦 = 𝑟 𝑑𝑟𝑑𝜃 para o elemento de área
e temos a fórmula (3.4), a qual se obtém, de um
modo intuitivo, considerando as linhas
coordenadas 𝑟 = 𝑟0 e 𝜃 = 𝜃0 , 𝑟0 e 𝜃0
constantes, e calculando a área infinitesimal de
um dos pequenos retângulos polares assim
FIGURA 3.8. RETÂNGULO POLAR
definidos. Veja a Figura 3.8.
Exemplo 3.3. A área de um quarto de círculo de raio 𝑎 (𝑎 > 0) é dada por
𝜋
𝜋
𝑎
2
𝑎
𝜋 𝑎
𝜋𝑎2
𝑑𝐴 = 𝑟 𝑑𝜃 𝑑𝑟 = 𝑟 |𝜃|02 𝑑𝑟 = 𝑟 𝑑𝑟 = ,
𝐷 0 0 0 2 0 4

como já sabemos.
Uma região do plano que, em coordenadas polares, se pode escrever na
forma

{(𝑟, 𝜃) ∈ ℝ2 : 𝛼 ≤ 𝜃 ≤ 𝛽, 𝑟1 (𝜃) ≤ 𝑟 ≤ 𝑟2 (𝜃)}

diz-se uma região polar de tipo I, e uma região do plano que, em coordenadas
polares, se pode escrever na forma

84
{(𝑟, 𝜃) ∈ ℝ2 : 𝑎 ≤ 𝑟 ≤ 𝑏, 𝜃1 (𝑟) ≤ 𝜃 ≤ 𝜃2 (𝑟)}

é uma região polar de tipo II, onde as funções 𝑟1 (𝜃), 𝑟2 (𝜃), 𝜃1 (𝑟) e 𝜃2 (𝑟) são
funções reais contínuas. Note-se que um retângulo polar pode ser
considerado quer como uma região de tipo I quer como uma região de tipo
II.
Em geral, vale o seguinte resultado que permite o cálculo de um integral
duplo fazendo uma mudança para coordenadas polares:

PROPOSIÇÃO 3.2
Seja 𝑓 uma função contínua em 𝑅 ⊆ ℝ2 .
1. Se 𝑅 = {(𝑟, 𝜃): 𝛼 ≤ 𝜃 ≤ 𝛽 𝑒 𝑟1 (𝜃) ≤ 𝑟 ≤ 𝑟2 (𝜃)} é uma região
polar de tipo I, então
𝛽 𝑟2 (𝜃)
𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦 = 𝑓(𝑟 cos 𝜃, 𝑟 sin 𝜃)𝑟 𝑑𝑟 𝑑𝜃.
𝑅 𝛼 𝑟1 (𝜃)

2. Se 𝑅 = {(𝑟, 𝜃): 𝑎 ≤ 𝑟 ≤ 𝑏 𝑒 𝜃1 (𝑟) ≤ 𝜃 ≤ 𝜃2 (𝑟)} é uma região


polar de tipo II, então
𝑏 𝜃2 (𝑟)
𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦 = 𝑓(𝑟 cos 𝜃, 𝑟 sin 𝜃)𝑟 𝑑𝜃 𝑑𝑟 .
𝑅 𝑎 𝜃1 (𝑟)

A demonstração destas fórmulas pode ser consultada em [7].


Exercício resolvido 3.3. Calcular o volume do sólido limitado superiormente
pela superfície de equação 𝑥 2 + 𝑦 2 = 𝑧 e inferiormente pela região

𝑅 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : 1 ≤ 𝑥 2 + 𝑦 2 ≤ 9, 𝑦 ≥ 0}.

Resolução. Note-se que a região 𝑅 (ver


Figura 3.9) corresponde, em coordenadas
polares, ao conjunto

{(𝑟, 𝜃) ∈ ℝ2 : 1 ≤ 𝑟 ≤ 3, 0 ≤ 𝜃 ≤ 𝜋}.
FIGURA 3.9. BASE DO SÓLIDO
(EXERCÍCIO RESOLVIDO 3.3)
Assim, o volume do sólido é

85
3 𝜋
𝑥 2 + 𝑦 2 𝑑𝑥𝑑𝑦 = ( (𝑟 2 cos 2 𝜃 + 𝑟 2 sin2 𝜃) 𝑟𝑑𝜃) 𝑑𝑟
𝑅 1 0

3 𝜋 3
= ( 𝑟 3 𝑑𝜃 ) 𝑑𝑟 = 𝜋 𝑟 3 𝑑𝑟 = 20𝜋.
1 0 1

Exercício resolvido 3.4. Determinar a massa de uma lâmina metálica 𝐷 (com


espessura desprezável e por isso modelada por uma região plana) cuja
fronteira é uma cardióide de equação (na forma) polar
𝑟 = 1 + cos 𝜃, com densidade 𝜌(𝑥, 𝑦) = √𝑥 2 + 𝑦 2 .
Resolução. A massa da lamina é dada por

𝑚= 𝜌(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦.
𝐷
FIGURA 3.10.
Usando coordenadas polares, a variação de 𝜃 é entre 0 e CARDIÓIDE
2𝜋, 𝑟 varia entre 0 e 1 + cos 𝜃 e a densidade é dada por
𝜌(𝑟, 𝜃) = 𝑟. Portanto,

1+cos 𝜃
2𝜋 1+cos 𝜃 2𝜋
𝑟3
𝑚= 𝑟 2 𝑑𝑟 𝑑𝜃 = [ ] 𝑑𝜃
0 0 0 3 𝑟=0

2𝜋
1 5
= (1 + 3 cos 𝜃 + 3 cos 2 𝜃 + cos 3 𝜃)𝑑𝜃 = 𝜋.
3 0 3

Exercício resolvido 3.5. Determinar a área da região plana 𝐷 limitada pela


elipse de equação 4𝑥 2 + 9𝑦 2 = 36.
𝑥2 𝑦2
Resolução. A elipse tem equação na forma reduzida + = 1. Neste caso,
9 4
em vez de mudar para coordenadas polares, fazemos seguinte mudança de
coordenadas (coordenadas elípticas):

𝑥 = 3𝑟 cos 𝜃
{
𝑦 = 2𝑟 sin 𝜃

86
cujo Jacobiano é 6𝑟. A equação da elipse fica

9𝑟 cos 2 𝜃 4𝑟 sin2 𝜃
+ = 1 ⟺ 𝑟 = 1,
9 4

e, portanto, temos 0 ≤ 𝜃 ≤ 2𝜋 e 0 ≤ 𝑟 ≤ 1. Assim,


1
1 2𝜋
𝑟2
𝐴(𝐷) = 𝑑𝑥 𝑑𝑦 = 6𝑟 𝑑𝜃𝑑𝑟 = 2𝜋 × 6 [ ] = 6𝜋.
𝐷 0 0 2 0

3.1.3. Teorema de Green

O teorema de Green relaciona integrais curvilíneos de campos vetoriais


no plano ao longo de curvas fechadas planas com integrais duplos sobre
regiões planas.
Recordemos que uma curva plana diz-se simples se não se intersetar a si
mesma exceto, eventualmente, nas extremidades, caso em que é uma curva
fechada. Se 𝐷 é uma região do plano limitada por uma curva 𝐶 simples e
fechada dizemos que a curva 𝐶 tem orientação positiva, ou está orientada
positivamente, se, para um observador que se desloque ao longo de 𝐶, a
região 𝐷 está situada sempre à sua esquerda. Um conjunto 𝐷 é conexo se
quaisquer dois pontos podem ser unidos por uma curva totalmente contida
em 𝐷, e é simplesmente conexo se, além de ser conexo, qualquer curva
fechada em 𝐷 só circunda pontos de 𝐷. Observe-se que, se a região 𝐷 é
simplesmente conexa, a orientação positiva de 𝐶 coincide com o sentido anti-
horário (ou direto).

FIGURA 3.11. CURVAS E REGIÕES ONDE SE PODE APLICAR O TEOREMA DE GREEN

87
TEOREMA 3.2 – Teorema de Green
Seja 𝐷 uma região do plano, simplesmente conexa, limitada por uma
curva 𝐶 simples, fechada, seccionalmente de classe 𝐶 1 , regular e com
orientação positiva. Seja 𝐹(𝑥, 𝑦) = 𝑃(𝑥, 𝑦)𝑖̂ + 𝑄(𝑥, 𝑦)𝑗̂ um campo
vetorial plano de classe 𝐶 1 definido num conjunto aberto de ℝ2 que
contém a região 𝐷. Então
𝜕𝑄 𝜕𝑃
∮ 𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗ = ( − ) 𝑑𝑥𝑑𝑦. (3.5)
𝐶 𝐷 𝜕𝑥 𝜕𝑦

Demonstração. Vamos demonstrar este teorema apenas para o caso


particular em que a região de integração é simultaneamente horizontalmente
simples e verticalmente simples:

𝐷 = {(𝑥, 𝑦): 𝑎 ≤ 𝑥 ≤ 𝑏, 𝑔1 (𝑥) ≤ 𝑦 ≤ 𝑔2 (𝑥)}

= {(𝑥, 𝑦): 𝑐 ≤ 𝑦 ≤ 𝑑, 𝑓1 (𝑦) ≤ 𝑥 ≤ 𝑓2 (𝑦)}.

com 𝑎, 𝑏, 𝑐, 𝑑 ∈ ℝ, 𝑔1 , 𝑔2 funções diferenciáveis em [𝑎, 𝑏] e 𝑓1 , 𝑓2 funções


diferenciáveis em [𝑐, 𝑑].
Considerando, em primeiro lugar, que a região é verticalmente simples,
podemos decompor a fronteira de 𝐷 em quatro curvas: a curva
𝐶1 , parametrizada por 𝑟1 (𝑡) = (𝑡, 𝑔1 (𝑡)), 𝑡 ∈ [𝑎, 𝑏], o segmento 𝐶2 ,
parametrizado por 𝑟2 (𝑡) = (𝑏, 𝑡), 𝑡 ∈ [𝑔1 (𝑏), 𝑔2 (𝑏)], a curva 𝐶3 ,
parametrizada por 𝑟3 (𝑡) = (−𝑡, 𝑔2 (−𝑡)), 𝑡 ∈ [−𝑏, −𝑎] , e o segmento C4 ,
parametrizado por 𝑟4 (𝑡) = (𝑎, −𝑡), 𝑡 ∈ [−𝑔2 (𝑎), −𝑔1 (𝑎)]. Então,

𝑏 𝑔2 (𝑥)
𝜕𝑃 𝜕𝑃
− 𝑑𝑥𝑑𝑦 = − 𝑑𝑦𝑑𝑥
𝐷 𝜕𝑦 𝑎 𝑔1 (𝑥) 𝜕𝑦

𝑏 𝑏
(𝑥)
= [−𝑃(𝑥, 𝑦)]𝑔𝑔2(𝑥) 𝑑𝑥 = 𝑃(𝑥, 𝑔1 (𝑥)) − 𝑃(𝑥, 𝑔2 (𝑥))𝑑𝑥
1
𝑎 𝑎

= 𝑃 𝑑𝑥 + 𝑃 𝑑𝑥. (3.6)
𝐶1 𝐶3

88
E, atendendo a que os integrais ∫𝐶 𝑃 𝑑𝑥 e ∫𝐶 𝑃 𝑑𝑥 são nulos, podemos
2 4
escrever

𝜕𝑃
− 𝑑𝑥𝑑𝑦 = 𝑃 𝑑𝑥 + 𝑃 𝑑𝑥 + 𝑃 𝑑𝑥 + 𝑃 𝑑𝑥 = 𝑃 𝑑𝑥.
𝐷 𝜕𝑦 𝐶1 𝐶2 𝐶3 𝐶4 𝐶

Prova-se analogamente, considerando que 𝐷 é horizontalmente simples, que

𝜕𝑄
𝑑𝑥𝑑𝑦 = 𝑄 𝑑𝑦. (3.7)
𝐷 𝜕𝑥 𝐶

Assim, se a região é horizontalmente e verticalmente simples, adicionando


(3.6) e (3.7) temos o resultado.
Exemplo 3.4. O integral

𝑥𝑦 𝑑𝑥 + (𝑥 2 + 𝑦 2 ) 𝑑𝑦,
𝐶

onde 𝐶 é a fronteira do quadrado com vértices (0,0), (1,0), (1,1) e (0,1),


pode ser calculado diretamente, parametrizando a curva 𝐶, ou usando o
teorema de Green. No primeiro caso, podemos decompor a curva 𝐶 em 4
segmentos 𝐶1 , 𝐶2 , 𝐶3 e 𝐶4 e temos:

𝐶1 : 𝑟1 (𝑡) = (𝑡, 0), 0 ≤ 𝑡 ≤ 1, logo 𝑑𝑥 = 𝑑𝑡 e 𝑑𝑦 = 0. Portanto,

1 1
𝑥𝑦𝑑𝑥 + (𝑥 2 − 𝑦 2 )𝑑𝑦 = 𝑡 ⋅ 0 𝑑𝑡 = 0 𝑑𝑡 = 0.
𝐶1 0 0

𝐶2 : 𝑟2 (𝑡) = (1, 𝑡), 0 ≤ 𝑡 ≤ 1, logo 𝑑𝑥 = 0 e 𝑑𝑦 = 𝑑𝑡. Portanto,

1 1
2
𝑥𝑦 𝑑𝑥 + (𝑥 2 − 𝑦 2 )𝑑𝑦 = (12 − 𝑡 2 )𝑑𝑡 = (1 − 𝑡 2 ) 𝑑𝑡 = .
𝐶2 0 0 3

𝐶3 : 𝑟3 (𝑡) = (1 − 𝑡, 1), 0 ≤ 𝑡 ≤ 1, logo 𝑑𝑥 = −𝑑𝑡 e 𝑑𝑦 = 0. Portanto,

89
1 1
1
𝑥𝑦𝑑𝑥 + (𝑥 2 − 𝑦 2 )𝑑𝑦 = (1 − 𝑡) ⋅ 1 (−𝑑𝑡) = (𝑡 − 1) 𝑑𝑡 = − .
𝐶3 0 0 2

𝐶4 : 𝑟4 (𝑡) = (0,1 − 𝑡), 0 ≤ 𝑡 ≤ 1, logo 𝑑𝑥 = 0 e 𝑑𝑦 = −𝑑𝑡. Portanto,

1 1
1
𝑥𝑦𝑑𝑥 + (𝑥 2 − 𝑦 2 )𝑑𝑦 = (02 − (1 − 𝑡)2 ) (−𝑑𝑡) = (1 − 𝑡)2 𝑑𝑡 = .
𝐶4 0 0 3

Adicionando os resultados obtidos nos quatro casos, obtém-se

1
𝑥𝑦 𝑑𝑥 + (𝑥 2 − 𝑦 2 )𝑑𝑦 = .
𝐶 2

Outro processo consiste em aplicar a fórmula do teorema de Green.


𝜕𝑄 𝜕𝑃
Identificando 𝑃(𝑥, 𝑦) = 𝑥𝑦 e 𝑄(𝑥, 𝑦) = 𝑥 2 − 𝑦 2 , tem-se − = 𝑥, logo
𝜕𝑥 𝜕𝑦

1 1
1
𝑥𝑦 𝑑𝑥 + (𝑥 2 − 𝑦 2 )𝑑𝑦 = 𝑥𝑑𝐴 = 𝑥 𝑑𝑦𝑑𝑥 = .
𝐶 𝐷 0 0 2

Exemplo 3.5. Considerar a curva parametrizada 𝛾:

(𝑡 + 1,0), 𝑡 ∈ [−2,0]
𝛾(𝑡) = { .
(cos 𝑡 , sin 𝑡), 𝑡 ∈ [0, 𝜋]

Calcular o integral

(𝑥 + 𝑦 2 )𝑑𝑥 + (𝑥𝑦 + 𝑦 2 )𝑑𝑦.


𝛾

O traço da curva 𝛾 é a união da semi-


circunferência de raio 1 centrada em
(0,0) com o segmento de reta de
extremos (−1,0) e (1,0) que se
FIGURA 3.12. REGIÃO LIMITADA PELA CURVA γ mostra na Figura 3.12. A curva 𝛾 é

90
seccionalmente regular e é fronteira da região simplesmente conexa 𝐷.
Al é m d i s so, e stá orientada no sentido positivo e o campo vetorial
𝐹(𝑥, 𝑦) = (𝑥 + 𝑦 2 )𝑖̂ + (𝑥𝑦 + 𝑦 2 )𝑗̂ é de classe 𝐶 1 . Aplicando o teorema de
Green e fazendo depois a mudança para coordenadas polares para calcular o
integral duplo, temos

(𝑥 + 𝑦 2 )𝑑𝑥 + (𝑥𝑦 + 𝑦 2 )𝑑𝑦 = (−𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦


𝛾 𝐷
1
𝜋 1
𝑟3 2
= (−𝑟 sin 𝜃) 𝑟 𝑑𝑟𝑑𝜃 = [ ] |cos 𝜃|𝜋0 = − .
0 0 3 0 3

O teorema de Green pode


também ser aplicado em regiões do
plano que não são simplesmente
conexas, mas que se podem
decompor num número finito de
regiões simplesmente conexas,
como se mostra na Figura 3.13. FIGURA 3.13. EXTENSÃO DO TEOREMA DE GREEN

TEOREMA 3.3
Seja 𝐷 uma região do plano limitada por 𝑛 + 1 curvas 𝐶0 , 𝐶1 , … 𝐶𝑛 ,
todas orientadas no sentido direto (contrário ao dos ponteiros do
relógio) tais que que as curvas 𝐶1 , … , 𝐶𝑛 estão contidas na região
limitada pela curva 𝐶0 , não se intersetam e nenhuma delas está contida
na região limitada por outra. Então
𝑛
𝜕𝑄 𝜕𝑃
( − ) 𝑑𝑥𝑑𝑦 = ∮ 𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗ − ∑ ∮ 𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗.
𝐷 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝐶0 𝐶𝑖 𝑖=1

Demonstração. Vamos demonstrar a fórmula para o caso em que 𝑛 = 1, a


região de integração é ilustrada pela Figura 3.14. A região de integração tem
como fronteira as curvas 𝐶0 = 𝛤1 + 𝛤2 e 𝐶1 = 𝛤3 + 𝛤4 . Não podemos aplicar
diretamente o teorema de Green a esta região de integração pois não é
simplesmente conexa (tem um "buraco"). Podemos, no entanto, decompor a
região em duas regiões simplesmente conexas: a região 𝐷1 , cuja fronteira

91
com orientação positiva é 𝛤1 + 𝛤5 − 𝛤4 + 𝛤6
e a região 𝐷2 , cuja fronteira com
orientação positiva é 𝛤2 − 𝛤6 − 𝛤3 − 𝛤5
(duas regiões sem "buracos").
Para estas duas regiões podemos
aplicar o teorema de Green, obtendo assim
𝜕𝑄 𝜕𝑃 FIGURA 3.14. REGIÃO NÃO
( − ) 𝑑𝑥𝑑𝑦 SIMPLESMENTE CONEXA
𝐷 𝜕𝑥 𝜕𝑦

𝜕𝑄 𝜕𝑃 𝜕𝑄 𝜕𝑃
= ( − ) 𝑑𝑥𝑑𝑦 + ( − ) 𝑑𝑥𝑑𝑦
𝐷1 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝐷2 𝜕𝑥 𝜕𝑦

= 𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗ + 𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗ = 𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗


Γ1 +Γ5 −Γ4 +Γ6 Γ2 −Γ6 −Γ3 −Γ5 Γ1 +Γ2 −Γ3 −Γ4

= 𝐹. 𝑑𝑟⃗ + 𝐹. 𝑑𝑟⃗ = 𝐹. 𝑑𝑟⃗ − 𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗ = ∮ 𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗ .


Γ1 +Γ2 −Γ3 −Γ4 𝐶0 𝐶1 𝐶

Um procedimento análogo pode ser aplicado a regiões com um número


finito de "buracos", o que justifica a fórmula do Teorema 3.3.
Exemplo 3.6. Sejam 𝐷 a região limitada exteriormente pela elipse de equação
𝑥2 𝑦2
+ = 1 e interiormente pela circunferência 𝑥 2 + 𝑦 2 = 1 e 𝐶 = fr(𝐷),
9 4
orientada no sentido positivo. Note-se que fr(𝐷) é composta pela elipse
orientada no sentido anti-horário e pela circunferência orientada no sentido
horário o que obriga ao cálculo de dois integrais curvilíneos, fazendo as
correspondentes parametrizações das curvas, se se quiser fazer o cálculo
diretamente.
Por aplicação do teorema de Green,
𝜕𝑄 𝜕𝑃
2𝑥𝑦 𝑑𝑥 + (𝑥 2 + 2𝑥)𝑑𝑦 = ( − ) 𝑑𝑥𝑑𝑦
𝐶 𝐷 𝜕𝑥 𝜕𝑦

= (2𝑥 + 2 − 2𝑥) 𝑑𝑥𝑑𝑦 = 2 𝑑𝑥𝑑𝑦,


𝐷 𝐷

92
é o dobro da medida da área de 𝐷, que é

2(𝜋 × 3 × 2 − 𝜋) = 10𝜋.

Exercício resolvido 3.6. Usar teorema de Green para calcular a área abaixo de
um arco de cicloide 𝑥 = 𝑎(𝜃 − sin 𝜃), 𝑦 = 𝑎(1 − cos 𝜃), onde 𝑎 é uma
constante e 0 ≤ 𝜃 ≤ 2 𝜋.
Resolução. Denotando por 𝐷 a região
limitada pela curva 𝐶 = 𝐶1 − 𝐶2 (o sinal
em 𝐶2 é usado para orientar
positivamente a curva), pelo teorema
FIGURA 3.15. CICLOIDE
de Green, com 𝐹(𝑥, 𝑦) = (−𝑦, 0),

∮ −𝑦 𝑑𝑥 = 𝑑𝐴 = área(𝐷).
𝐶 𝐷

Assim, uma vez que 𝐶1 admite a parametrização 𝛾(𝑡) = (𝑡, 0), 0 ≤ 𝑡 ≤ 2𝑎𝜋,

área(𝐷) = ∮ −𝑦 𝑑𝑥 = ∮ 0 𝑑𝑥 − ∮ −𝑦 𝑑𝑥
𝐶1 −𝐶2 𝐶1 𝐶2

2𝜋
= 𝑎2 (1 − cos 𝜃)2 𝑑𝜃 = 3𝜋𝑎2 .
0

Uma fórmula bem conhecida para calcular a área de uma região plana que
satisfaça as condições do teorema de Green é

1
área(𝐷) = ∮ 𝑥 𝑑𝑦 − 𝑦𝑑𝑥 (3.8)
2 𝜕𝐷

onde 𝜕𝐷 denota a fronteira da região 𝐷 e o campo vetorial agora é


𝐹(𝑥, 𝑦) = (−𝑦, 𝑥). Observe-se que, se o campo vetorial for conservativo,
então a função integranda no segundo membro da fórmula do teorema de
Green (3.5) é zero e resulta

93
∮ 𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗ = 0,
𝐶

como já se esperava, de acordo com o Teorema 2.2.

3.2. Integrais triplos

O integral triplo pode ser visto como uma extensão do conceito de


integral duplo. A região de integração é, neste caso, uma região do espaço ℝ3
e a função a integrar é uma função de três variáveis. Assim, toda a teoria
exposta para a definição e cálculo de integrais duplos se estende, de modo
natural, ao caso de integrais triplos.

3.2.1. Definição e Propriedades

Seja 𝑓: 𝐸 ⊆ ℝ3 → ℝ uma função real limitada definida em 𝐸. Seja agora


um paralelepípedo fechado, 𝐸 = [𝑎, 𝑏] × [𝑐, 𝑑] × [𝑠, 𝑡] em vez de um
retângulo que, analogamente, consideramos na definição de integral duplo.
Tomando partições de 𝐸 em paralelepípedos 𝐸𝑖 cada vez menores,
denotando por ∆𝐸𝑖 o volume de cada 𝐸𝑖 , escolhendo em cada um deles um
ponto 𝑝𝑖 e chamando 𝛿𝑝 ao maior dos diâmetros dos paralelepípedos 𝐸𝑖 ,
formamos as somas triplas de Riemann, que escrevemos de modo
simplificado:

𝑆(𝑓, 𝑃) = ∑ 𝑓(𝑝𝑖 )∆𝐸𝑖 .


𝑖

94
DEFINIÇÃO 3.2
O integral triplo de 𝑓 em 𝐸 é definido por

𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧 = lim ∑ 𝑓(𝑝𝑖 )∆𝐸𝑖 ,


𝐸 𝛿𝑝 →0
𝑖
se este limite existir. Neste caso, diz-se que a função 𝑓 é integrável em 𝐸.

A expressão 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧 chama-se elemento de volume. Também se escreve


𝑑𝑉 = 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧 que, do ponto de vista geométrico, representa o volume de
um pequeno paralelepípedo de dimensões 𝑑𝑥, 𝑑𝑦 e 𝑑𝑧.

3.2.2. Cálculo do integral triplo

O teorema seguinte é uma extensão do teorema de Fubini para integrais


duplos e diz-nos como calcular o valor do integral usando os chamados
integrais iterados.

TEOREMA 3.4 – Teorema de Fubini


Seja 𝑓 uma função real de três variáveis reais contínua em
𝐸 = [𝑎, 𝑏] × [𝑐, 𝑑] × [𝑠, 𝑡]. Então
𝑏 𝑑 𝑡
𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧 = 𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝑑𝑧𝑑𝑦𝑑𝑥 .
𝐸 𝑎 𝑐 𝑠

Na fórmula deste teorema podemos trocar a ordem de integração,


existindo, agora, seis ordens possíveis.
De modo idêntico ao que foi feito para o integral duplo, calculamos
integrais triplos sobre regiões mais gerais. O processo é análogo ao que foi
descrito para integrais duplos; se 𝑓 é definida num conjunto 𝐿 limitado
contido num paralelepípedo 𝐸, define-se uma extensão de 𝑓 por

95
𝑓 ∗ (𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧) se (𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ 𝐿 e 𝑓 ∗ (𝑥, 𝑦, 𝑧) = 0 se (𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ 𝐸\𝐿.
Tem-se, então

𝑓 𝑑𝑉 = 𝑓 ∗ 𝑑𝑉 .
𝐿 𝐸

Prova-se também que, se uma função de três variáveis é seccionalmente


contínua num compacto 𝐸 então é integrável em 𝐸 (ver [2]).
Consideramos três tipos de regiões especiais em ℝ3 .
Uma região de ℝ3 , limitada e fechada, diz-se uma região de tipo I se é da
forma

𝐸 = {(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ ℝ3 : (𝑥, 𝑦) ∈ 𝑅, 𝑔1 (𝑥, 𝑦) ≤ 𝑧 ≤ 𝑔2 (𝑥, 𝑦)},

onde 𝑅 é uma região no plano 𝑥𝑂𝑦


verticalmente simples ou horizontalmente
simples e 𝑔1 e 𝑔2 são funções contínuas
em 𝑅, verificando 𝑔1 (𝑥, 𝑦) ≤ 𝑔2 (𝑥, 𝑦),
para todo o (𝑥, 𝑦) ∈ 𝑅 (ver a Figura 3.16).
Temos, nesta situação,

FIGURA 3.16. REGIÃO DE TIPO I

𝑔2 (𝑥,𝑦)
𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝑑𝑧𝑑𝑦𝑑𝑧 = ( 𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧)𝑑𝑧) 𝑑𝑥𝑑𝑦 .
𝐸 𝑅 𝑔1 (𝑥,𝑦)

Definem-se de modo análogo as regiões do tipo II e do tipo III trocando


convenientemente as variáveis. Assim uma região do tipo II é da forma

𝐸 = {(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ ℝ3 : (𝑦, 𝑧) ∈ 𝑅, 𝑔1 (𝑦, 𝑧) ≤ 𝑥 ≤ 𝑔2 (𝑦, 𝑧)},

e temos,

96
𝑔2 (𝑦,𝑧)
𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝑑𝑧𝑑𝑦𝑑𝑧 = ( 𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧)𝑑𝑥 ) 𝑑𝑦𝑑𝑧 .
𝐸 𝑅 𝑔1 (𝑦,𝑧)

Uma região do tipo III é da forma

𝐸 = {(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ ℝ3 : (𝑥, 𝑧) ∈ 𝑅, 𝑔1 (𝑥, 𝑧) ≤ 𝑦 ≤ 𝑔2 (𝑥, 𝑧)},

e temos, de modo idêntico,

𝑔2 (𝑥,𝑧)
𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝑑𝑧𝑑𝑦𝑑𝑧 = ( 𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧)𝑑𝑦 ) 𝑑𝑥𝑑𝑧 .
𝐸 𝑅 𝑔1 (𝑥,𝑧)

Note-se que se 𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 1, o integral triplo sobre uma região limitada


em ℝ3 dá o volume dessa região; mais formalmente, sendo 𝑈 é um sólido
que se projeta sobre uma região do plano 𝐷, limitado por duas superfícies
𝑧 = 𝑔1 (𝑥, 𝑦) e 𝑧 = 𝑔2 (𝑥, 𝑦), respetivamente,

𝑈 = {(𝑥, 𝑦, 𝑧): (𝑥, 𝑦) ∈ 𝐷, 𝑔1 (𝑥, 𝑦) ≤ 𝑧 ≤ 𝑔2 (𝑥, 𝑦)},

então,

𝑔2 (𝑥,𝑦)
volume (𝑈) = 𝑑𝑉 = ( 𝑑𝑧 ) 𝑑𝑥𝑑𝑦 .
𝑈 𝐷 𝑔1 (𝑥,𝑦)

Exercício resolvido 3.7. Calcular o volume do


sólido 𝐸 situado no primeiro octante
(𝑥 ≥ 0, 𝑦 ≥ 0, 𝑧 ≥ 0) nos seguintes casos:
a) O sólido 𝐸 é limitado pelas superfícies
𝑥 + 𝑧 = 3 e 𝑦 = 𝑏 (𝑏 ∈ ℝ+ );
b) O sólido 𝐸 é limitado pelas superfícies
2𝑥 + 𝑧 = 6 e 2𝑦 + 𝑧 = 6.
FIGURA 3.17. SÓLIDO DO Resolução. Em a), podemos considerar o sólido 𝐸
EXERCÍCIO RESOLVIDO 3.7. (b)
como uma região do tipo I, sendo a sua projeção

97
em 𝑥𝑂𝑦 o retângulo 𝑅 = [0,3] × [0, 𝑏]. O volume de 𝐸 é, em função de 𝑏,
dado por

−𝑥+3
𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧 = ( 𝑑𝑧) 𝑑𝑥𝑑𝑦 = (−𝑥 + 3) 𝑑𝑥𝑑𝑦
𝐸 𝑅 0 𝑅

𝑥=3
3 𝑏
𝑥2 9
= (−𝑥 + 3) 𝑑𝑦𝑑𝑥 = 𝑏 [− + 3𝑥] = 𝑏.
0 0 2 𝑥=0
2

Em b), o sólido representado na Figura 3.17 tem como projeção em 𝑥𝑂𝑦


o retângulo [0,3] × [0,3] e pode decompor-se em duas regiões de tipo I, 𝑅1
e 𝑅2 , como se mostra na Figura 3.18 (cada uma destas regiões é limitada
superiormente por um plano diferente). Assim, podemos calcular o volume
escrevendo

3−𝑥 3−𝑦
𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧 = ( 𝑑𝑧) 𝑑𝑦𝑑𝑥 + ( 𝑑𝑧) 𝑑𝑦𝑑𝑥 .
𝐸 𝑅1 0 𝑅2 0

FIGURA 3.18. PROJEÇÕES DO SÓLIDO DO EXERCÍCIO RESOLVIDO 3.7.(b) NOS PLANOS COORDENADOS

Mas 𝐸 pode ser visto quer como uma região de tipo II:

𝑧
𝐸 = {(𝑥, 𝑦, 𝑧): (𝑦, 𝑧) ∈ 𝑅, 0 ≤ 𝑥 ≤ 3 − },
2

quer como uma região de tipo III:

𝑧
𝐸 = {(𝑥, 𝑦, 𝑧): (𝑥, 𝑧) ∈ 𝑅′, 0 ≤ 𝑦 ≤ 3 − },
2

98
Neste último caso (no caso anterior é análogo),
𝑧
3−
2
volume(𝐸) = 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧 = 𝑑𝑦 𝑑𝑥𝑑𝑧
𝐸 𝑅′ 0

3 6−2𝑥
𝑧
= (3 − ) 𝑑𝑧𝑑𝑥 = 18.
0 0 2

Exercício resolvido 3.8. Calcular

𝑦 cos(𝑥 + 𝑧) 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧,
𝐸

sendo 𝐸 a região limitada pela superfície cilíndrica 𝑦 = √𝑥 e pelos planos


𝜋
𝑧 = 0, 𝑦 = 0, 𝑥 + 𝑧 = .
2

Resolução. Começamos por fazer um esboço da região 𝐸 e da sua projeção


𝐷 no plano 𝑥𝑂𝑦 (Figura 3.19).

FIGURA 3.19. SÓLIDO E SUA PROJEÇÃO NO PLANO 𝑥𝑂𝑦

Assim, podemos passar do integral triplo ao integral duplo estendido a


esta projeção 𝐷 que é verticalmente simples (e também é horizontalmente
simples) e escrever
𝜋
−𝑥
2
𝑦 cos(𝑥 + 𝑧) 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧 = 𝑦 cos(𝑥 + 𝑧) 𝑑𝑧 𝑑𝑥𝑑𝑦
𝑅 𝐷 0
𝜋 𝜋
√𝑥 −𝑥
2 2
= 𝑦 cos(𝑥 + 𝑧) 𝑑𝑧𝑑𝑦𝑑𝑥 .
0 0 0

99
Neste caso, também podemos considerar a região E como uma região
do tipo II:

𝜋 𝜋 2 𝜋
√ −𝑦 −𝑧
2 2 2
𝑦 cos(𝑥 + 𝑧) 𝑑𝑥𝑑𝑧𝑑𝑦 ,
0 0 𝑦2

ou do tipo III:
𝜋 𝜋
−𝑥 √𝑥
2 2
𝑦 cos(𝑥 + 𝑧) 𝑑𝑦𝑑𝑧𝑑𝑥 .
0 0 0

1
Em qualquer caso, o valor do integral é (𝜋 2 − 8).
16
Uma aplicação frequente do integral triplo é no cálculo da massa e do
centro de massa de um sólido. Se a densidade de um sólido 𝐸 é dada por uma
função 𝜌: 𝐸 ⊆ ℝ3 → ℝ então o valor da sua massa é dado pelo integral triplo

𝑚= 𝜌(𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧,
𝐸

e o centro de massa é o ponto (𝑥̅ , 𝑦̅, 𝑧̅), onde

1
𝑥= 𝑥𝜌(𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧,
𝑚 𝐸

1
𝑦= 𝑦𝜌(𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧,
𝑚 𝐸

1
𝑧= 𝑧𝜌(𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧.
𝑚 𝐸

Exercício resolvido 3.9. Determinar as coordenadas do centro de massa de


um sólido 𝑈 uniforme, limitado por 𝑥 = 0, 𝑥 = 1, 𝑧 = 0 e |𝑦| = (𝑧 − 1)2 .

100
Resolução. Começamos por fazer um esboço do
sólido (Figura 3.20).
Projetamos 𝐸 em 𝑦𝑂𝑧 considerando-o como uma
região do tipo II (também pode ser vista como
uma região de tipo III) e podemos aplicar as
fórmulas referidas para calcular o centro de
massa. Como o sólido tem densidade uniforme,
temos 𝑝(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑘 onde 𝑘 é uma constante FIGURA 3.20. SÓLIDO RELATIVO
positiva. Assim, AO EXERCÍCIO RESOLVIDO 3.9

1 (𝑧−1)2 1
2𝑘
𝑚= 𝜌(𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧 = 𝑘 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧 = .
𝐸 0 −(𝑧−1)2 0 3

O centro de massa é o ponto (𝑥, 𝑦, z) onde

1 (𝑧−1)2 1
1 1 1
𝑥= 𝑥𝜌(𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧 = 𝑘 𝑥 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧 = ,
𝑚 𝐸 𝑚 0 −(𝑧−1)2 0 2

1 (𝑧−1)2 1
1 1
𝑦= 𝑦𝜌(𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧 = 𝑘 𝑦 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧 = 0,
𝑚 𝐸 𝑚 0 −(𝑧−1)2 0

1 (𝑧−1)2 1
1 1 1
𝑧= 𝑧𝜌(𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧 = 𝑘 𝑧 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧 = .
𝑚 𝐸 𝑚 0 −(𝑧−1)2 0 4

3.2.3. Integrais triplos em coordenadas


cilíndricas e esféricas

Dependendo da região de integração e da função integranda, por vezes


é conveniente fazer mudança de coordenadas para calcular um integral triplo.

101
Recordemos que as coordenadas cilíndricas são coordenadas no espaço
tais que no plano 𝑥𝑂𝑦 correspondem às coordenadas polares e a terceira
coordenada, 𝑧, é deixada sem alteração. A esta mudança de coordenadas
corresponde o Jacobiano com valor 𝑟 (o mesmo que nas coordenadas
polares). Se 𝐸 é uma região de ℝ3 e 𝐸′ é a mesma região descrita em
coordenadas cilíndricas, tem-se

𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧 = 𝑓 (𝑟 cos 𝜃 , 𝑟 sin 𝜃, 𝑧) 𝑟 𝑑𝑧𝑑𝜃𝑑𝑟.


𝐸 𝐸′

Por outro lado, as coordenadas esféricas relacionam-se com as


coordenadas cartesianas por

(𝑥, 𝑦, 𝑧) = (𝜌 cos 𝜃 sin 𝜙 , 𝜌 sin 𝜃 sin 𝜙 , 𝜌 cos 𝜙)

e o Jacobiano é 𝜌2 sin 𝜙. Se 𝐸′ é uma região de ℝ3 e 𝐸 é a mesma região


descrita em coordenadas esféricas, tem-se

𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧
𝐸

= 𝑓 (𝜌 cos 𝜃 sin 𝜙 , 𝜌 sin 𝜃 sin 𝜙 , 𝜌 cos 𝜙)𝜌2 sin 𝜙 𝑑𝜌𝑑𝜃𝑑𝜙


𝐸′

Exercício resolvido 3.10. Calcular

(𝑥 2 + 𝑦 2 + 𝑧 2 ) 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧
𝑊

onde

𝑊 = {(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ ℝ3 : 𝑥 2 + 𝑦 2 + 𝑧 2 ≤ 8, 𝑧 ≥ √𝑥 2 + 𝑦 2 }.

Resolução. O sólido 𝑊 é constituído pelos pontos que estão dentro de uma


esfera e acima da folha superior de uma superfície cónica (Figura 3.21). Neste
caso, as coordenadas esféricas são mais adequadas; a equação da superfície
𝜋
esférica é 𝜌 = 2√2 e a equação da superfície cónica é 𝜙 = . Em
4
coordenadas esféricas,

102
𝜋
𝑊 = {(𝜌, 𝜃, 𝜙): 0 ≤ 𝜌 ≤ 2√2, 0 ≤ 𝜃 ≤ 2𝜋, 0 ≤ 𝜙 ≤ }.
4

Então

(𝑥 2 + 𝑦 2 + 𝑧 2 ) 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧
𝑊

𝜋
2𝜋 2√2
4
= 𝜌2 (𝜌2 sin 𝜙) 𝑑𝜙𝑑𝜌𝑑𝜃
0 0 0

𝜋 FIGURA 3.21. SÓLIDO DO


2√2
4 EXERCÍCIO RESOLVIDO 3.10
4
= 2𝜋 𝜌 𝑑𝜌 sin 𝜙 𝑑𝜙
0 0

256
= (√2 − 1)𝜋.
5

Exercício resolvido 3.11. A região sólida limitada pela superfície cilíndrica


𝑥 2 + 𝑦 2 = 1 e pelos planos 𝑥 = 𝑧 e 𝑧 = 0 é conhecida por casco de
Arquimedes (Figura 3.22). A importância desta região é histórica. Este é um
dos primeiros exemplos usados por Arquimedes (287-212 a.C.) para calcular
volumes usando o método de somar os volumes de poliedros inscritos no
sólido, que mais tarde ficou, conhecido como método de exaustão. Sabemos
hoje que Arquimedes estava a antecipar o Cálculo
Integral que, tal como o conhecemos agora, apareceu
apenas no século dezassete com os trabalhos de
Newton e de Leibniz [3].
Calcular o volume desse sólido.
Resolução. A projeção do sólido no plano 𝑥𝑂𝑦 é
metade de um disco 𝐷 de raio 1 e o sólido é limitado
superiormente pela superfície 𝑧 = 𝑥. O volume pedido
é o valor do integral ∬𝐷 𝑥 𝑑𝑥𝑑𝑦. A melhor maneira de
calcular este integral duplo é usar coordenadas polares:
𝜋
1
FIGURA 3.22. CASCO DE 2 2
ARQUIMEDES 𝑟 2 cos 𝜃 𝑑𝑟 𝑑𝜃 = .

𝜋
0 3
2

103
Embora o procedimento comum para o cálculo de integrais triplos seja a
sua transformação imediata em integrais duplos, por vezes é possível calcular
um integral triplo usando, de imediato, um integral simples. Por exemplo,
uma superfície de revolução gerada pela rotação de uma curva em torno do
eixo dos 𝑧𝑧, pode ser facilmente descrita em coordenadas cilíndricas como
𝑟 = 𝑔(𝑧). Como consequência, o volume de um sólido de revolução 𝑉 pode
ser visto como a soma de áreas das regiões planas, cada uma limitada pela
curva 𝑟 = 𝑔(𝑧), com 𝑧 a variar de 𝑧0 a 𝑧1 , ou seja,

𝑧1 𝑧1 2𝜋 𝑔(𝑧) 𝑧1
2
volume(𝑉) = 𝐴(𝑧) 𝑑𝑧 = 𝑟 𝑑𝑟𝑑𝜃𝑑𝑧 = 𝜋 (𝑔(𝑧)) 𝑑𝑧.
𝑧0 𝑧0 0 0 𝑧0

Exemplo 3.7. O volume do sólido U limitado pela superfície que se obtém pela
rotação da curva 𝑟 = 𝑧 2 em torno do eixo dos 𝑧𝑧, desde 𝑧 = 0 até 𝑧 = 1, é

1
𝜋
volume(𝑈) = 𝜋 (𝑧 2 )2 𝑑𝑧 = .
0 5

E, mais geralmente, se temos duas funções não negativas tais que


𝑔1 (𝑧) ≤ 𝑟 ≤ 𝑔2 (𝑧) , o volume do sólido limitado pelas duas superfícies
geradas pelas referidas curvas é
𝑧1
2 2
𝜋 (𝑔2 (𝑧)) − (𝑔1 (𝑧)) 𝑑𝑧.
𝑧0

Exemplo 3.8. Vamos calcular o volume dos sólido

𝑉 = {(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ ℝ3 : 1 ≤ 𝑥 2 + 𝑦 2 ≤ 9, 1 ≤ 𝑧 ≤ 9}

por dois processos:


i. Em coordenadas cilíndricas,

𝑉 = {(𝑟, 𝜃, 𝑧): 1 ≤ 𝑟 ≤ 3, 1 ≤ 𝑧 ≤ 9}.

Portanto,

104
9 2𝜋 3
𝑑𝑉 = 𝑟 𝑑𝑟𝑑𝜃𝑑𝑧
𝑉 1 0 1

𝑟=3
9 2𝜋
𝑟2
= [ ] 𝑑𝜃 𝑑𝑧
1 0 2 𝑟=1

9 2𝜋
=4 𝑑𝜃 𝑑𝑧 = 4 × 2𝜋 × 8 = 64𝜋. FIGURA 3.23. CILINDRO
1 0 FURADO (EXEMPLO 3.8)

ii. O sólido é limitado por duas superfícies de revolução, 𝑟 = 𝑔1 (𝑧) = 1 e


𝑟 = 𝑔2 (𝑧) = 3. Portanto,

9
2 2
𝑑𝑉 = 𝜋 (𝑔2 (𝑧)) − (𝑔1 (𝑧)) 𝑑𝑧
𝑉 1

9
=𝜋 (9 − 1)𝑑𝑧 = 8𝜋 × 8 = 64𝜋.
1

3.3. Exercícios Propostos

1. Calcule os seguintes integrais duplos sobre as regiões retangulares 𝐷


indicadas:
a) ∬𝐷 𝑥𝑦 𝑑𝑥𝑑𝑦, onde 𝐷 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : 0 ≤ 𝑥 ≤ 1, 0 ≤ 𝑦 ≤ 2};
𝑑𝑥𝑑𝑦
b) ∬𝐷 (𝑥+𝑦+1)2 , onde 𝐷 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : 0 ≤ 𝑥 ≤ 1, 0 ≤ 𝑦 ≤ 1};
1 2
c) ∬𝐷 𝑥 2 𝑦 2 𝑑𝑥𝑑𝑦 , onde 𝐷 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : 𝑦 ≥ 𝑥 , 𝑦 ≤ 𝑥 , 𝑦 ≥ 𝑥, 𝑦 ≤ 2𝑥}.

2. Supondo que os integrais seguintes existem, defina analiticamente a


região plana 𝐷 e inverta a ordem de integração:
1 2−𝑦
a) ∬𝐷 𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦 = ∫0 ∫𝑦 𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥 𝑑𝑦;

105
0 3 3 3
b) ∬𝐷 𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦 = ∫−3 ∫−𝑥 𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑦 𝑑𝑥 + ∫0 ∫𝑥 𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑦 𝑑𝑥;
√2
√1−𝑦 2 0 √1−𝑦 2
c) ∬𝐷 𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦 = ∫02 ∫0 𝑑𝑥 𝑑𝑦 + ∫ √2 ∫−𝑦 𝑑𝑥 𝑑𝑦 ;

2

𝑒 ln 𝑥
d) ∬𝐷 𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦 = ∫1 ∫0 𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑦 𝑑𝑥 ;
4 𝑦+3
e) ∬𝐷 𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦 = ∫2 ∫𝑦 𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥 𝑑𝑦.

3. Calcule os seguintes integrais, usando coordenadas polares:


a) ∬𝐷 𝑥𝑦 2 𝑑𝑥𝑑𝑦, onde 𝐷 é a região plana limitada pelo eixo dos 𝑦𝑦, pela
elipse de equação 𝑥 2 + 4𝑦 2 = 4, com 𝑥 ≥ 0 e 𝑦 ≥ 0, e pela
circunferência 𝑥 2 + 𝑦 2 = 4, com 𝑥 ≥ 0 e 𝑦 ≤ 0;

b) ∬𝐷 √1 − 𝑥 2 − (1 − 𝑦)2 𝑑𝑥𝑑𝑦, onde

𝐷 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : 𝑦 − 𝑥 ≤ 1, 𝑦 ≥ 1, 𝑥 2 + 𝑦 2 ≤ 2𝑦};
c) ∬𝐷(𝑥 2 + 𝑦 2 ) 𝑑𝑥𝑑𝑦, onde 𝐷 é a região plana limitada pelo eixo dos 𝑥𝑥
e pelas circunferências 𝑥 2 + 𝑦 2 = 2𝑥 e 𝑥 2 + 𝑦 2 = 4𝑥 com 𝑦 ≥ 0.
4. Utilizando integrais duplos, calcule a área de
𝑥 𝑥
𝐷 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : ≤𝑦≤− , 4 ≤ 𝑥 2 + 𝑦 2 ≤ −4𝑥}.
√3 √3
5. Determine o volume dos sólidos 𝑉 indicados:
a) 𝑉 = {(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ ℝ3 : 𝑥 2 + 𝑦 2 ≤ 𝑧 ≤ 2 − 𝑥 2 − 𝑦 2 };

b) 𝑉 = {(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ ℝ3 : 0 ≤ 𝑧 ≤ 4 − √𝑥 2 + 𝑦 2 };
c) 𝑉 = {(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ ℝ3 : 𝑥 2 + 𝑧 2 ≤ 𝑦 ≤ 2}.
6. Calcule o seguinte integral duplo
sin √𝑥 2 + 𝑦 2
𝑑𝑥𝑑𝑦
𝐷 √𝑥 2 + 𝑦 2
𝜋2
sendo 𝐷 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : ≤ 𝑥 2 + 𝑦 2 ≤ 𝜋 2 }.
9

106
7. Considere o integral duplo 𝐼, expresso do seguinte modo:
1 1
𝑦
𝐼= { 𝑑𝑦} 𝑑𝑥 .
−1 max{𝑥,𝑥 2 } 𝑥2 + 𝑦2

a) Descreva analiticamente o domínio 𝐷 de integração e faça o seu


esboço gráfico;
b) Inverta a ordem de integração;
c) Utilizando coordenadas polares, calcule o valor do integral duplo 𝐼.
8. Considere o conjunto
𝐵 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : 𝑥 2 + 𝑦 2 ≤ 1, (𝑥 − 1)2 + 𝑦 2 ≥ 1, 𝑥 ≥ 0, 𝑦 ≥ 0}.
Escreva ∬𝐵 𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦 em termos de integrais iterados, indicando
explicitamente os respetivos limites de integração
a) em coordenadas cartesianas;
b) em coordenadas polares.
9. Calcule o centro de massa da placa uniforme definida por
𝑦 ≤ 𝑥 𝑒 𝑥 2 + 4𝑦 2 − 4𝑥 − 8𝑦 + 4 ≤ 0.
10. Calcule o seguinte integral (comece por inverter a ordem de integração):
1 𝑒
1
𝑑𝑥𝑑𝑦 .
0 𝑒 𝑦 ln 𝑥

11. A região
𝑅 = {(𝑟, 𝜃): 0 ≤ 𝜃 ≤ 2𝜋, 3 − sin(3𝜃) ≤ 𝑟 ≤ 2 + sin(3𝜃)}
é formada por três partes.
a) Identifique-as, sombreando-as na figura;
b) Calcule a área de uma dessas partes;
c) Calcule o trabalho realizado pelo campo
vetorial
𝐹(𝑥, 𝑦) = (𝑦 cos(𝑥𝑦) + 𝑦, 𝑥 cos(𝑥𝑦) + 𝑥)
ao longo da curva 𝑟 = 2 + sin 3𝜃, com orientação positiva.

107
108
CAPÍTULO 4.

INTEGRAIS DE SUPERFÍCIE

Neste capítulo estuda-se o cálculo de integrais sobre superfícies. No final


do capítulo o estudante deve ser capaz de:
 Calcular o integral de superfície de uma função escalar;
 Calcular a área de uma superfície parametrizada;
 Calcular o fluxo de um campo vetorial;
 Usar o teorema de Stokes;
 Usar o teorema de Gauss;
 Resolver problemas usando integrais de superfície.

4.1. Superfícies Parametrizadas

O integral de superfície pode ser visto como uma extensão do conceito


de integral de linha. A função a integrar pode ser um campo escalar ou um
campo vetorial, e a curva é aqui substituída por uma superfície.
À semelhança do que fizemos para as curvas, vamos definir superfície
parametrizada distinguindo-a da sua imagem, a superfície geométrica.
Lembremos que uma curva parametrizada é uma função vetorial de uma
variável (veja o Capítulo 1, Definição 1.8). Uma superfície parametrizada é
uma função vetorial de duas variáveis. Esta forma de definir uma superfície
vai mostrar-se útil no cálculo dos integrais de superfície.
As superfícies, tal como já as conhecemos, podem ser definidas de duas
maneiras: por uma equação do tipo 𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 0, ou por uma ou mais
equações do tipo 𝑧 = 𝑓(𝑥, 𝑦). Por exemplo, uma superfície esférica unitária
centrada na origem é definida pela equação 𝑥 2 + 𝑦 2 + 𝑧 2 − 1 = 0.

109
Resolvendo-a em ordem 𝑧 , obtém-se duas equações 𝑧 = √1 − 𝑥 2 − 𝑦 2 e
𝑧 = −√1 − 𝑥 2 − 𝑦 2 que são representações da parte superior e da parte
inferior, respetivamente, da referida superfície esférica, como se mostra na
Figura 4.1.

FIGURA 4.1. SUPERFÍCIE ESFÉRICA E OS HEMISFÉRIOS SUPERIOR E INFERIOR

DEFINIÇÃO 4.1

Uma superfície parametrizada é uma função vetorial contínua


𝑟: 𝐷 ⊆ ℝ2 → ℝ3
(𝑢, 𝑣) ↦ 𝑟(𝑢, 𝑣) = (𝑥(𝑢, 𝑣), 𝑦(𝑢, 𝑣), 𝑧(𝑢, 𝑣)).

O contradomínio da superfície parametrizada, a que também se chama


traço ou imagem de 𝑟, 𝑟(𝐷), é um subconjunto de ℝ3 ao qual chamamos
também superfície – é o objeto geométrico a que costumamos chamar
superfície na nossa linguagem corrente. Dizemos, neste caso, que 𝑟 é uma
parametrização para a superfície 𝑆. A posição de cada ponto
(𝑥(𝑢, 𝑣), 𝑦(𝑢, 𝑣), 𝑧(𝑢, 𝑣)) em 𝑆 é determinada pelos valores dos parâmetros
𝑢 e 𝑣. Assim, um ponto 𝑃0 de ℝ3 pertence à superfície 𝑆 se existem valores
dos parâmetros 𝑢0 e 𝑣0 tais que 𝑟(𝑢0 , 𝑣0 ) = 𝑃0 .
Exemplo 4.1. A superfície parametrizada 𝑟: ℝ2 → ℝ3 definida por
𝑟(𝑢, 𝑣) = (𝑢, 𝑢 − 𝑣, 2𝑢 + 𝑣) tem como imagem um plano. De facto, fazendo
𝑥 = 𝑢, 𝑦 = 𝑢 − 𝑣 e 𝑧 = 2𝑢 + 𝑣, eliminando 𝑢 e 𝑣 nas três equações obtém-
se a equação 3𝑥 − 𝑦 − 𝑧 = 0, que define um plano em ℝ3 ; por exemplo, o
ponto (1, −1,4) = 𝑟(1,2) é o ponto do plano ao qual correspondem os
parâmetros 𝑢 = 1 e 𝑣 = 2.
A imagem de uma superfície parametrizada é um subconjunto de ℝ3

110
mas pode ter dimensão 0, 1, 2 ou até 3. Por exemplo, a imagem de superfície
parametrizada dada, em ℝ2 , por 𝑟(𝑢, 𝑣) = (0,1,2) é o ponto (0,1,2), tem
dimensão 0; a imagem de superfície parametrizada definida, em ℝ2 , por
𝑟(𝑢, 𝑣) = (0, 𝑣, 0) é o eixo dos 𝑦𝑦, tem dimensão 1 (sobre este assunto ver,
por exemplo [2]). Estamos interessados no caso de superfícies de dimensão
2, aquelas que correspondem ao nosso conhecimento intuitivo de superfície,
como os planos, e outras a que se referem os exemplos seguintes:
Exemplo 4.2. Sejam 𝐷 um conjunto aberto de ℝ2 e 𝑔: 𝐷 ⊆ ℝ2 → ℝ uma
função contínua. A superfície

𝑆 = {(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ ℝ3 : (𝑥, 𝑦) ∈ 𝐷, 𝑧 = 𝑔(𝑥, 𝑦)}

é o gráfico da função 𝑔, e pode ser


parametrizada por
𝑟: 𝐷 ⊆ ℝ2 → ℝ3
(𝑥, 𝑦) ↦ (𝑥, 𝑦, 𝑔(𝑥, 𝑦)).
Assim, por exemplo, 𝑟(𝑥, 𝑦) = (𝑥, 𝑦, 𝑥 2 + 𝑦 2 ) com

𝐷 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : 𝑥 2 + 𝑦 2 ≤ 1}

tem como imagem a porção do paraboloide de equação 𝑧 = 𝑥 2 + 𝑦 2 situada


abaixo do plano 𝑧 = 1.
Outra parametrização desta mesma superfície é a aplicação definida por
𝑠(𝑢, 𝑣) = (𝑣 cos 𝑢 , 𝑣 sin 𝑢, 𝑣 2 ) com domínio 𝐷 = [0,2𝜋] × [0,1].
Exemplo 4.3. A superfície parametrizada 𝑟(𝑢, 𝑣) = (𝑣 cos 𝑢 , 𝑣 sin 𝑢 , 𝑣) com
domínio 𝐷 = [0,2𝜋] × [−2,2] é a superfície cónica
situada entre os planos 𝑧 = −2 e 𝑧 = 2. De facto,
pondo

𝑥 = 𝑣 cos 𝑢
{ 𝑦 = 𝑣 sin 𝑢 ,
𝑧=𝑣

111
elevando ao quadrado e somando as duas primeiras equações, obtém-se
𝑥 2 + 𝑦 2 = 𝑣 2 e, comparando com a última equação, 𝑧 = 𝑣, obtém-se

𝑧2 = 𝑥 2 + 𝑦2.

Exemplo 4.4. Uma parametrização do disco de raio 𝑎 localizado no plano


𝑧 = 𝑏 e centrado no ponto (0, 0, 𝑏) é

𝑟(𝑢, 𝑣) = (𝑣 cos 𝑢, 𝑣 sin 𝑢 , 𝑏),

onde 𝑣 ∈ [0, 𝑎] e 𝑢 ∈ [0, 2𝜋].


Exemplo 4.5. A superfície cilíndrica definida por 𝑥 2 + 𝑧 2 = 4 pode ser
parametrizada por

𝑟: [0, 2𝜋 ] × ℝ → ℝ3

(𝜃, 𝑦) ↦ (2 cos 𝜃, 𝑦, 2 sin 𝜃).

Desta vez usámos como parâmetros 𝜃, em sintonia


com as coordenadas cilíndricas, e 𝑦 a variar em ℝ
(o eixo dos 𝑦𝑦 é o eixo da superfície cilíndrica).
Exemplo 4.6. A função 𝑟: [0,2𝜋] × [0, 𝜋] → ℝ3 definida por

𝑟(𝜃, 𝜙) = (𝑎 cos 𝜃 sin 𝜙, 𝑎 sin 𝜃 sin 𝜙, 𝑎 cos 𝜙)

é uma parametrização de uma superfície esférica de centro em (0,0,0) e raio


𝑎 (𝑎 > 0). De facto, fazendo

𝑥 = 𝑎 cos 𝜃 sin 𝜙, 𝑦 = 𝑎 sin 𝜃 sin 𝜙, 𝑧 = 𝑎 cos 𝜙

obtém-se, elevando ao quadrado e somando as três equações, a relação

𝑥 2 + 𝑦 2 + 𝑧 2 = 𝑎2 .

Aqui usámos os parâmetros 𝜃 e 𝜙 das coordenadas esféricas com a terceira


variável, 𝜌, fixa e igual a 𝑎.

112
DEFINIÇÃO 4.2

Uma superfície parametrizada 𝑟: 𝐷 ⊆ ℝ2 → ℝ3 diz-se regular num


ponto (𝑢0 , 𝑣0 ) ∈ 𝐷 se é de classe 𝐶 1 numa vizinhança desse ponto
e o vetor
𝜕𝑟 𝜕𝑟
(𝑢0 , 𝑣0 ) × (𝑢 , 𝑣 )
𝜕𝑢 𝜕𝑣 0 0
é não nulo; diz-se regular se for regular em todos os pontos
interiores de 𝐷.

𝜕𝑟 𝜕𝑟
Notemos, antes de mais, que o vetor (𝑢0 , 𝑣0 ) × (𝑢0 , 𝑣0 ) é um vetor
𝜕𝑢 𝜕𝑣
normal à superfície parametrizada 𝑟 e pode ser calculado escrevendo-o na
forma de um determinante simbólico, que deve ser desenvolvido segundo a
primeira linha, de acordo com a regra de Laplace (omitimos o ponto
(𝑢0 , 𝑣0 ) para simplificar a escrita):

𝑖̂ 𝑗̂ 𝑘̂
|𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 |
𝜕𝑟 𝜕𝑟
× = 𝜕𝑢 𝜕𝑢 𝜕𝑢 . (4.1)
𝜕𝑢 𝜕𝑣
| |
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
𝜕𝑣 𝜕𝑣 𝜕𝑣

Assumindo que a superfície parametrizada


𝑟 é regular, consideremos as funções
𝛼 e 𝛽 definidas por 𝛼(𝑢) = 𝑟(𝑢, 𝑣0 ) e
𝛽(𝑣) = 𝑟(𝑢0 , 𝑣) . Estas funções parametrizam
curvas contidas em 𝑆 que passam pelo ponto
𝜕𝑟
𝑃0 = 𝑟(𝑢0 , 𝑣0 ). Os vetores 𝛼 ′ (𝑢0 ) = (𝑢0 , 𝑣0 )
𝜕𝑢
𝜕𝑟
e 𝛽 ′ (𝑣0 ) = (𝑢0 , 𝑣0 ) são vetores tangentes a
𝜕𝑣
estas curvas no ponto 𝑃0 (ver a Figura 4.2).
𝜕𝑟 𝜕𝑟
Assim, o vetor 𝑤 = (𝑢0 , 𝑣0 ) × (𝑢0 , 𝑣0 ), FIGURA 4.2. VETOR
𝜕𝑢 𝜕𝑣
PERPENDICULAR À SUPERFÍCIE
sendo perpendicular às duas curvas que passam

113
por 𝑃0 , é o vetor diretor do plano tangente a 𝑆 em 𝑃0 . Escrevendo
𝑤 = (𝑤1 , 𝑤2 , 𝑤3 ) e 𝑃0 = (𝑥0 , 𝑦0 , 𝑧0 ), a equação do plano tangente é

𝑤1 (𝑥 − 𝑥0 ) + 𝑤2 (𝑦 − 𝑦0 ) + 𝑤3 (𝑧 − 𝑧0 ) = 0. (4.2)

No caso particular em que 𝑆 é o gráfico de uma função 𝑧 = 𝑔(𝑥, 𝑦)


parametrizada por 𝑟(𝑥, 𝑦) = (𝑥, 𝑦, 𝑔(𝑥, 𝑦)), um vetor normal à superfície
em 𝑃0 (𝑥0 , 𝑦0 ) é

𝜕𝑟 𝜕𝑟 𝜕𝑔 𝜕𝑔
(𝑥0 , 𝑦0 ) × (𝑥0 , 𝑦0 ) = (− (𝑥0 , 𝑦0 ), − (𝑥 , 𝑦 ), 1)
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑦 0 0

logo, o plano tangente tem equação

𝜕𝑔 𝜕𝑔
𝑧 − 𝑧0 = (𝑥0 , 𝑦0 )(𝑥 − 𝑥0 ) + (𝑥 , 𝑦 )(𝑦 − 𝑦0 ). (4.3)
𝜕𝑥 𝜕𝑦 0 0

Exercício resolvido 4.1. Determinar uma equação do plano tangente à


superfície definida por 𝑟(𝑢, 𝑣) = (𝑢2 , 𝑣 2 , 𝑢 + 𝑣) no ponto (1,1,2).
Resolução. Comecemos por calcular as derivadas parciais de 𝑟:
𝜕𝑟 𝜕𝑟
= (2𝑢, 0,1) 𝑒 = (0, 2𝑣, 1).
𝜕𝑢 𝜕𝑣
Temos,

𝜕𝑟 𝜕𝑟 𝑖̂ 𝑗̂ 𝑘̂
(𝑢, 𝑣) × (𝑢, 𝑣) = |2𝑢 0 1| = (−2𝑣, −2𝑢, 4𝑢𝑣).
𝜕𝑢 𝜕𝑣
0 2𝑣 1

O ponto (1,1,2) corresponde aos valores dos parâmetros 𝑢 = 1 e 𝑣 = 1,


logo um vetor normal ao plano tangente à superfície naquele ponto é
𝜕𝑟 𝜕𝑟
(1,1) × (1,1) = (−2, −2,4). Uma equação do plano tangente é, usando
𝜕𝑢 𝜕𝑣
(4.2)
−2(𝑥 − 1) − 2(𝑦 − 1) + 4(z − 2) = 0,
ou seja,
𝑥 + 𝑦 − 2𝑧 + 2 = 0.

114
4.2. Integral de superfície de um
campo escalar

DEFINIÇÃO 4.3
Sejam 𝑟: 𝐷 ⊆ ℝ2 → ℝ3 diferenciável, definida numa região plana e
𝑓: 𝐸 ⊆ ℝ3 → ℝ um campo escalar limitado em 𝑆 = 𝑟(𝐷) . O
integral de superfície de 𝑓 sobre 𝑆 é definido por
𝜕𝑟 𝜕𝑟
𝑓 𝑑𝑆 = 𝑓(𝑟(𝑢, 𝑣)) ‖ × ‖ 𝑑𝑢𝑑𝑣, (4.4)
𝑆 𝐷 𝜕𝑢 𝜕𝑣
sempre que o integral duplo do segundo membro existe.

Vamos mostrar que o elemento de área sobre a superfície 𝑆 é

𝜕𝑟 𝜕𝑟
𝑑𝑆 = ‖ × ‖ 𝑑𝑢𝑑𝑣. (4.5)
𝜕𝑢 𝜕𝑣

Para simplificar a explicação, vamos assumir que 𝑆 = 𝑟(𝑅) com


𝑟: 𝑅 ⊆ ℝ2 → ℝ3 regular, definida num retângulo 𝑅, mas pode provar-se que
vale também para regiões não retangulares (ver [2]).
Consideramos uma partição de 𝑅 em retângulos
[𝑢𝑖 , 𝑢𝑖+1 ] × [𝑣𝑗 , 𝑣𝑗+1 ], 𝑖 = 1, . . . , 𝑛, 𝑗 = 1, . . . , 𝑚, e a consequente partição 𝑃
da superfície 𝑆 em pedaços de superfície 𝑆𝑖𝑗 = 𝑟(𝑅𝑖𝑗 ) (Figura 4.3).

FIGURA 4.3. PARTIÇÃO DA SUPERFÍCIE 𝑆, INDUZIDA PELA PARTIÇÃO DE 𝑅

115
A aplicação 𝑟 transforma o retângulo genérico 𝑅𝑖𝑗 numa superfície 𝑆𝑖𝑗
contida em 𝑆. A área de 𝑆𝑖𝑗 é aproximadamente ‖𝑎⃗ × 𝑏⃗⃗‖ com
𝑎⃗ = 𝑟(𝑢𝑖 + ∆𝑢, 𝑣𝑗 ) − 𝑟(𝑢𝑖 , 𝑣𝑗 ) e 𝑏⃗⃗ = 𝑟(𝑢𝑖 , 𝑣𝑗 + ∆𝑣) − 𝑟(𝑢𝑖 , 𝑣𝑗 ), para
∆𝑢 = 𝑢𝑖+1 − 𝑢𝑖 e ∆𝑣 = 𝑣𝑗+1 − 𝑣𝑗 pequenos (Figura 4.4).

FIGURA 4.4. APROXIMAÇÃO DA ÁREA DA SUPERFÍCIE 𝑆𝑖𝑗

Uma vez que

𝑟(𝑢𝑖 + ∆𝑢, 𝑣𝑗 ) − 𝑟(𝑢𝑖 , 𝑣𝑗 ) 𝜕𝑟


lim = (𝑢 , 𝑣 ),
∆𝑢→0 ∆𝑢 𝜕𝑢 𝑖 𝑗

𝑟(𝑢𝑖 , 𝑣𝑗 + ∆𝑣) − 𝑟(𝑢𝑖 , 𝑣𝑗 ) 𝜕𝑟


lim = (𝑢 , 𝑣 ),
∆𝑣→0 ∆𝑣 𝜕𝑣 𝑖 𝑗

temos

𝜕𝑟
𝑎⃗ = 𝑟(𝑢𝑖 + ∆𝑢, 𝑣𝑗 ) − 𝑟(𝑢𝑖 , 𝑣𝑗 ) ≈ (𝑢 , 𝑣 )∆𝑢
𝜕𝑢 𝑖 𝑗

𝜕𝑟
𝑏⃗⃗ = 𝑟(𝑢𝑖 , 𝑣𝑗 + ∆𝑣) − 𝑟(𝑢𝑖 , 𝑣𝑗 ) ≈ (𝑢 , 𝑣 )∆𝑣
𝜕𝑣 𝑖 𝑗

e, portanto,

𝜕𝑟 𝜕𝑟
∆𝑆𝑖𝑗 ≈ ‖𝑎⃗ × 𝑏⃗⃗‖ ≈ ‖ (𝑢 , 𝑣 ) × (𝑢 , 𝑣 )‖ ∆𝑢∆𝑣.
𝜕𝑢 𝑖 𝑗 𝜕𝑣 𝑖 𝑗

116
Tomando o limite, quando o diâmetro da partição tende para zero,
obtém-se

𝜕𝑟 𝜕𝑟
𝑑𝑆 = ‖ (𝑢 , 𝑣 ) × (𝑢 , 𝑣 )‖ 𝑑𝑢𝑑𝑣,
𝜕𝑢 𝑖 𝑗 𝜕𝑣 𝑖 𝑗

como foi referido em (4.5).


Assim, a área da superfície 𝑆 é

𝜕𝑟 𝜕𝑟
𝐴(𝑆) = 𝑑𝑆 = ‖ (𝑢, 𝑣) × (𝑢, 𝑣)‖ 𝑑𝑢𝑑𝑣. (4.6)
𝑆 𝑅 𝜕𝑢 𝜕𝑣

Note-se que esta fórmula coincide com a fórmula (4.4) quando a função
𝑓 é constante igual a 1.
Em particular, se a superfície 𝑆 é definida por 𝑧 = 𝑔(𝑥, 𝑦), (𝑥, 𝑦) ∈ 𝐷, e
𝑟(𝑥, 𝑦) = (𝑥, 𝑦, 𝑔(𝑥, 𝑦)), (𝑥, 𝑦) ∈ 𝐷 é uma sua parametrização, tem-se:

𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝑑𝑆
𝑆

2 2
𝜕𝑔 𝜕𝑔
= 𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑔(𝑥, 𝑦)) √ (𝑥, 𝑦) + (𝑥, 𝑦) + 1 𝑑𝑥𝑑𝑦. (4.7)
𝐷 𝜕𝑥 𝜕𝑦

Exercício resolvido 4.2 Calcular o integral de superfície

(𝑥 2 + 𝑦 2 )𝑑𝑆,
𝑆

onde 𝑆, é parte de uma superfície cilíndrica, definida por

𝑥 2 + 𝑦 2 = 1, 𝑦 ≥ 0, 0 ≤ 𝑧 ≤ 2.

Resolução. A superfície 𝑆 que está representada na Figura 4.5, pode ser


parametrizada por 𝑟(𝜃, 𝑧) = (cos 𝜃 , sin 𝜃 , 𝑧) com domínio
𝐷 = [0, 𝜋] × [0,2]. Temos

117
FIGURA 4.5. PARTE DE UMA SUPERFÍCIE CILÍNDRICA

𝜕𝑟 𝜕𝑟 𝑖̂ 𝑗̂ 𝑘̂
×
𝜕𝜃 𝜕𝑧
= |− sin 𝜃 cos 𝜃 0| = (cos 𝜃 , sin 𝜃 , 0)
0 0 1
e, assim,

∂r ∂r
(x 2 + y 2 )ds = f(r(θ, z)) ‖ × ‖ drdθ
S D ∂θ ∂z

π 2
= (cos 2 θ + sin2 θ)√(cos 2 θ) + (sin2 θ) + 0 drdθ
0 0

π 2
= drdθ = 2π.
0 0

Exercício resolvido 4.3. Calcular a área da superfície 𝑆, parte do parabolóide


definido por 𝑧 = 𝑥 2 + 𝑦 2 com 𝑥 ≥ 0, 𝑦 ≥ 0,0 ≤ 𝑧 ≤ 1.
Resolução. Podemos pensar em 𝑆 como o gráfico da função definida por
𝑔(𝑥, 𝑦) = 𝑥 2 + 𝑦 2 com domínio

𝐷 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : 𝑥 2 + 𝑦 2 ≤ 1, 𝑥 ≥ 0, 𝑦 ≥ 0}

(ver Figura 4.6). Assim, e de acordo com (4.7):

118
FIGURA 4.6. SUPERFÍCIE DO PARABOLOIDE 𝑆 QUE SE PROJETA EM 𝐷
(EXERCÍCIO RESOLVIDO 4.2)

2 2
𝜕𝑔 𝜕𝑔
𝑑𝑆 = √ (𝑥, 𝑦) + (𝑥, 𝑦) + 1 𝑑𝑥𝑑𝑦
𝑆 𝐷 𝜕𝑥 𝜕𝑦

= √(2𝑥)2 + (2𝑦)2 + 1 𝑑𝑥𝑑𝑦


𝐷

𝜋
1
2
= √4(𝑥 2 + 𝑦2) + 1 𝑑𝑥𝑑𝑦 = √4𝑟 2 + 1 𝑟 𝑑𝑟 𝑑𝜃
𝐷 0 0

3 1
𝜋 1 (4𝑟 2 + 1)2 𝜋
= [ ] = (5√5 − 1),
2 8 3 24
2 0

onde usámos coordenadas polares para calcular o integral duplo.


Se o campo escalar 𝑓 é interpretado como sendo a densidade de massa
de uma lâmina fina com forma da superfície 𝑆, então a sua massa obtém-se
calculando

𝑚= 𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧)𝑑𝑆
𝑆

119
e o centro de massa tem coordenadas (𝑥, 𝑦, 𝑧), onde

1
𝑥= 𝑥𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝑑𝑆,
𝑚 𝑆

1
𝑦= 𝑦𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝑑𝑆,
𝑚 𝑆

1
𝑧= 𝑧𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝑑𝑆.
𝑚 𝑆

O momento de inércia de 𝑆 em relação a uma reta 𝐿 define-se como

𝐼𝐿 = 𝛿 2 (𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝑓(𝑧, 𝑦, 𝑧)𝑑𝑆,


𝑆

sendo 𝛿(𝑥, 𝑦, 𝑧) a distância de cada ponto (𝑥, 𝑦, 𝑧) à reta 𝐿.


Exercício resolvido 4.4. Calcular a massa e o centro de massa de uma lâmina
com forma triangular, de vértices (1,0,0), (0,1,0) e (0,0,2) representada na
figura 4.7, sabendo que a densidade é, em cada ponto (𝑥, 𝑦, 𝑧) igual à
distância desse ponto ao plano 𝑥𝑂𝑦.
Resolução. A superfície 𝑆 é a parte do plano de equação 2𝑥 + 2𝑦 + 𝑧 = 2
que se situa no primeiro octante. Como a densidade é 𝜌(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑧 ,
aplicando (4.7) com 𝑔(𝑥, 𝑦) = 2 − 2𝑥 − 2𝑦 temos

𝑚= 𝜌(𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝑑𝑆 = (2 − 2𝑥 − 2𝑦)√(−2)2 + (−2)2 + 1 𝑑𝑥𝑑𝑦


𝑆 𝐷

1 1−𝑥
=6 (1 − 𝑥 − 𝑦) 𝑑𝑦𝑑𝑥 = 1 .
0 0

As coordenadas do centro de massa (𝑥, 𝑦, 𝑧), são

120
𝑥= 𝑥𝜌(𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝑑𝑆 = 𝑥(2 − 2𝑥 − 2𝑦) × 3 𝑑𝑥𝑑𝑦
𝑆 𝐷

1 1−𝑥
1
=6 𝑥(1 − 𝑥 − 𝑦) 𝑑𝑦𝑑𝑥 = ,
0 0 4

1 1−𝑥
1
𝑦= 𝑦𝜌(𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝑑𝑆 = 6 𝑦(1 − 𝑥 − 𝑦) 𝑑𝑦𝑑𝑥 = ,
𝑆 0 0 4

𝑧= 𝑧 𝜌(𝑥, 𝑦, 𝑧) 𝑑𝑆 = (2 − 2𝑥 − 2𝑦)2 × 3𝑑𝑥𝑑𝑦


𝑆 𝐷

1 1−𝑥
=3 (2 − 2𝑥 − 2𝑦)2 𝑑𝑦𝑑𝑥 = 1 .
0 0

FIGURA 4.7. SUPERFÍCIE DO EXERCÍCIO RESOLVIDO 4.4

121
4.3. Integral de superfície de um
campo vetorial

Para definir integral de superfície de um campo vetorial vamos definir,


primeiro, o conceito de orientação de uma superfície.

4.3.1. Superfícies orientadas

DEFINIÇÃO 4.4
Uma superfície 𝑆 diz-se orientável se existir um campo vetorial
contínuo 𝑛: 𝑆 → ℝ3 tal que 𝑛(𝑃) é um vetor unitário normal a 𝑆
em cada ponto 𝑃 ∈ 𝑆 . Nestas condições, diz-se que o campo
vetorial 𝑛 define uma orientação de 𝑆.

Se uma superfície é orientável então admite sempre duas orientações


possíveis como ilustra a Figura 4.8. Em particular, se a superfície é fronteira
de um sólido então pode ser orientada de dentro para fora ou de fora para
dentro.

FIGURA 4.8. UMA SUPERFÍCIE COM AS SUAS DUAS ORIENTAÇÕES POSSÍVEIS

122
Exemplo 4.7. A equação 𝑥 2 + 𝑦 2 + 𝑧 2 = 1 define uma superfície esférica 𝑆
de centro na origem e raio 1. Sendo 𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑥 2 + 𝑦 2 + 𝑧 2 , já sabemos18
que o vetor ∇𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧) = (2𝑥, 2𝑦, 2𝑧) é perpendicular a 𝑆 em cada ponto
(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ 𝑆. Assim, o campo vetorial 𝑛 definido por

∇𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧) 1
𝑛 = (𝑥, 𝑦, 𝑧) = = (𝑥, 𝑦, 𝑧)
‖∇𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧)‖ √𝑥 2 + 𝑦 2 + 𝑧 2

é um campo vetorial contínuo que orienta 𝑆. É claro que


1
𝑚̂ (𝑥, 𝑦, 𝑧) = −𝑛(𝑥, 𝑦, 𝑧) = − (𝑥, 𝑦, 𝑧)
√𝑥 + 𝑦 2 + 𝑧 2
2

é uma orientação da mesma superfície em sentido contrário.


Em geral, se 𝑆 é uma superfície de nível de uma função 𝐹, ou seja, se 𝑆 é
definida por uma equação da forma 𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑐, então o campo

𝛻𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧)
𝑛(𝑥, 𝑦, 𝑧) =
‖𝛻𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧)‖

determina uma das orientações para 𝑆. Por outro lado, se 𝑆 é uma superfície
𝜕𝑟 𝜕𝑟
parametrizada por 𝑟 = 𝑟(𝑢, 𝑣), o vetor (𝑢, 𝑣) × (𝑢, 𝑣) é perpendicular a
𝜕𝑢 𝜕𝑣
𝑆 no ponto 𝑟(𝑢, 𝑣) e assumimos que 𝑆 tem orientação definida por

𝜕𝑟 𝜕𝑟
(𝑢, 𝑣) × (𝑢, 𝑣).
𝜕𝑢 𝜕𝑣

Uma parametrização de uma superfície define, por meio do vetor normal, o


seu lado positivo; o outro é o lado negativo.
Há superfícies que não são orientáveis. Um exemplo conhecido de uma
superfície que não é orientável é a fita de Möbius (Figura 4.9). Em aplicações
práticas geralmente as superfícies são orientáveis e temos apenas que decidir
qual das duas orientações possíveis devemos escolher.

18 Teorema da função implícita. Ver, por exemplo, [5].

123
FIGURA 4.9. FITA DE MÖBIUS: UMA SUPERFÍCIE NÃO ORIENTÁVEL

4.3.2. Integral de superfície de um campo vetorial

DEFINIÇÃO 4.5
Seja 𝐹 um campo vetorial definido numa superfície 𝑆 e 𝑛 um
campo vetorial contínuo que determina uma orientação para 𝑆. O
integral de superfície de 𝐹 sobre 𝑆 define-se do seguinte modo:

𝐹 ⋅ 𝑑𝑆⃗ = (𝐹 ⋅ 𝑛)𝑑𝑆 . (4.8)


𝑆 𝑆

Se 𝐹 for um campo de velocidades de um líquido, por exemplo, então


este integral dá-nos o fluxo de líquido que passa pela superfície por unidade
de tempo e é definido como o integral de superfície da componente normal
de 𝐹.
Para entender esta definição, consideremos uma partição da superfície
𝑆 em superfícies 𝑆𝑖𝑗 e o paralelogramo definido pelos vetores 𝑎⃗ e 𝑏⃗⃗ que
aproxima 𝑆𝑖𝑗 , como na Figura 4.4. Suponhamos que 𝐹 é um campo de
velocidades e seja 𝐹⃗ o seu valor em 𝑝𝑖𝑗 = 𝑟(𝑢𝑖 , 𝑣𝑗 ). Consideremos o fluxo que
passa por este paralelogramo do campo constante de valor 𝐹⃗ . Este fluxo é

124
igual ao volume do paralelepípedo
azul da Figura 4.10 (definido pelos
vetores 𝑎⃗ , 𝑏⃗⃗ e 𝐹⃗ ). O versor 𝑛 na
figura é perpendicular à superfície
em 𝑝𝑖𝑗 e, mostra-se facilmente
usando apenas trigonometria, que o
paralelepípedo verde nesta figura
(com a mesma base e altura igual a FIGURA 4.10. FLUXO ATRAVÉS DA SUPERFÍCIE
𝐹 ⋅ 𝑛 ) tem o mesmo volume que o
azul. Assim, o fluxo do campo constante através do paralelogramo é dado por
(𝐹⃗ ⋅ 𝑛)‖𝑎 × 𝑏̂‖, o volume do sólido verde. De modo análogo, o fluxo do
campo 𝐹 através de 𝑆𝑖𝑗 pode ser aproximado por (𝐹 ⋅ 𝑛)∆𝑆𝑖𝑗 , onde ∆𝑆𝑖𝑗
denota a área de 𝑆𝑖𝑗 . Considerando a soma destas últimas expressões para
todo o 𝑖, 𝑗 obtemos
𝑛 𝑚

𝑆(𝑓, 𝑃) = ∑ ∑(𝐹 ⋅ 𝑛)(𝑝𝑖𝑗 ) ∆𝑆𝑖𝑗 .


𝑖=1 𝑗=1

Tomando o limite obtemos o valor exato para o fluxo de 𝐹 através de 𝑆,


o integral

(𝐹 ⋅ 𝑛) 𝑑𝑆,
𝑆

o que justifica o modo como se define o integral de superfície de um campo.


Uma vez que

𝜕𝑟 𝜕𝑟
(𝑢, 𝑣) × (𝑢, 𝑣)
𝑛 = 𝜕𝑢 𝜕𝑣 , (4.9)
𝜕𝑟 𝜕𝑟
‖ (𝑢, 𝑣) × (𝑢, 𝑣)‖
𝜕𝑢 𝜕𝑣

a partir da fórmula para o cálculo do integral de superfície de uma função real


(4.4) obtemos a fórmula para o cálculo do integral de superfície de um campo
vetorial:

125
PROPOSIÇÃO 4.1
Sejam 𝐹: 𝐸 ⊆ ℝ3 → ℝ3 um campo vetorial no espaço e 𝑟: 𝐷 ⊆ ℝ2 → ℝ3
uma superfície parametrizada regular tal que 𝑆 = 𝑟(𝐷) ⊆ 𝐸. Então
𝜕𝑟 𝜕𝑟
𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧) ⋅ 𝑑𝑆⃗ = 𝐹(𝑟(𝑢, 𝑣)) ⋅ (𝑢, 𝑣) × (𝑢, 𝑣) 𝑑𝑢𝑑𝑣.
𝑆 𝐷 𝜕𝑢 𝜕𝑣
(4.10)

Se a superfície 𝑆 é o gráfico de uma função de duas variáveis,


𝑧 = 𝑔(𝑥, 𝑦), (𝑥, 𝑦) ∈ 𝐷 , assumindo que a superfície está orientada com o
𝜕𝑟 𝜕𝑟
mesmo sentido do produto vetorial (𝑥, 𝑦) × (𝑥, 𝑦), onde
𝜕𝑥 𝜕𝑦
𝑟(𝑥, 𝑦) = (𝑥, 𝑦, 𝑔(𝑥, 𝑦)), a fórmula da Proposição 4.1 pode escrever-se:

𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧) ⋅ 𝑑𝑆⃗
𝑆

𝜕𝑔 𝜕𝑔
= 𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑔(𝑥, 𝑦)) ⋅ (− (𝑥, 𝑦), − (𝑥, 𝑦), 1) 𝑑𝑥𝑑𝑦. (4.11)
𝐷 𝜕𝑥 𝜕𝑦

Se a orientação da superfície é contrária ao sentido do vetor 𝑛 referido


em (4.9) podem utilizar-se na mesma as fórmulas (4.10) ou (4.11) para
calcular o integral e depois troca-se o sinal ao resultado obtido.
Exemplo 4.8. Vamos calcular o fluxo do campo elétrico

𝐾𝑄
𝐸(𝑥, 𝑦, 𝑧) = (𝑥, 𝑦, 𝑧) (𝐾 const. de Coulomb)
√(𝑥 2 + 𝑦 2 + 𝑧 2 )3

gerado por uma carga 𝑄 situada na origem do referencial através de uma


superfície esférica 𝑆 de centro na origem e raio 𝑎(𝑎 > 0 ).
Podemos parametrizar a superfície 𝑆, utilizando coordenadas esféricas,

𝑟(𝜙, 𝜃) = (𝑎 sin 𝜙 cos 𝜃 , 𝑎 sin 𝜙 sin 𝜃 , 𝑎 cos 𝜙) com 𝜙 ∈ [0, 𝜋], 𝜃 ∈ [0,2𝜋].

O fluxo do campo elétrico é o valor do integral de superfície (fórmula (4.10)):

126
𝜋 2𝜋
𝜕𝑟 𝜕𝑟
𝐸(𝑥, 𝑦, 𝑧) ⋅ 𝑑𝑆⃗ = 𝐸(𝑟(𝜙, 𝜃)) ⋅ ( × ) 𝑑𝑟𝑑𝜃.
𝑆 0 0 𝜕𝜙 𝜕𝜃

Temos

𝜕𝑟 𝜕𝑟 𝑖̂ 𝑗̂ 𝑘̂
× = | 𝑎 cos 𝜙 cos 𝜃 𝑎 cos 𝜙 sin 𝜃 −𝑎 sin 𝜙|
𝜕𝜙 𝜕𝜃
−𝑎 sin 𝜙 sin 𝜃 𝑎 sin 𝜙 cos 𝜃 0

= (𝑎2 sin2 𝜙 cos 𝜃, 𝑎2 sin2 𝜙 sin 𝜃 , 𝑎2 sin 𝜙 cos 𝜙 cos 2 𝜃


+ 𝑎2 sin 𝜙 cos 𝜙 sin2 𝜃)

= (𝑎2 sin2 𝜙 cos 𝜃 , 𝑎2 sin2 𝜙 sin 𝜃 , 𝑎2 sin 𝜙 cos 𝜙)

𝐾𝑄
𝐸(𝑟(𝜙, 𝜃)) = (𝑎 sin 𝜙 cos 𝜃 , 𝑎 sin 𝜙 sin 𝜃 , 𝑎 cos 𝜙).
𝑎3

Portanto,

𝐸(𝑥, 𝑦, 𝑧) ⋅ 𝑑𝑆⃗
𝑆

𝜋 2𝜋
𝐾𝑄 3 3
= (𝑎 sin 𝜙 cos 2 𝜃 + 𝑎3 sin3 𝜙 sin2 𝜃 + 𝑎3 sin 𝜙 cos 2 𝜙)𝑑𝜃𝑑𝜙
0 0 𝑎3

𝜋 2𝜋 𝜋 2𝜋
= 𝐾𝑄 (sin3 𝜙 + sin 𝜙 cos 2 𝜙) 𝑑𝜃𝑑𝜙 = 𝐾𝑄 sin 𝜙 𝑑𝜃𝑑𝜙
0 0 0 0

= 2𝜋𝐾𝑄[− cos 𝜙]𝜋0 = 4𝜋𝐾𝑄.

Exercício resolvido 4.5. Calcular o fluxo do campo vetorial


𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧) = (𝑥, 𝑦, 𝑧) de baixo para cima através da superfície 𝑆, que é a parte
do plano 3𝑥 + 2𝑦 + 𝑧 = 12 que está entre os planos de equações 𝑥 = 0,
𝑥 = 1, 𝑦 = 0 e 𝑦 = 2.

127
Resolução. A superfície 𝑆 é o gráfico da função 𝑔 definida por
𝑔(𝑥, 𝑦) = 12 − 3𝑥 − 2𝑦 com domínio 𝐷 = [0,1] × [0, 2] (ver Figura 4.11).
Assim, usando a fórmula (4.11), obtém-se

𝐹 ⋅ 𝑑𝑆⃗ = (𝑥, 𝑦, 12 − 3𝑥 − 2𝑦) ⋅ (−3, −2,1) 𝑑𝑥𝑑𝑦


𝑆 𝐷

= 12 𝑑𝑥𝑑𝑦 = 24.
𝐷

FIGURA 4.11. SUPERFÍCIE PARTE DE UM PLANO (EXERCÍCIO RESOLVIDO 4.5)

4.4. Teorema de Gauss e


Teorema de Stokes

Esta secção é dedicada a dois teoremas importantes do cálculo integral:


o teorema de Gauss e o teorema de Stokes.
Estes dois teoremas relacionam os vários tipos de integrais considerados
até agora e são úteis em muitas ocasiões para simplificar os cálculos.

128
4.4.1.Teorema de Gauss

O teorema de Gauss, também conhecido como teorema da divergência,


dá-nos uma fórmula que relaciona um integral triplo sobre um sólido com um
integral de superfície sendo a superfície a fronteira do referido sólido.
Uma superfície 𝑆 em ℝ3 diz-se fechada se é a fronteira de um sólido 𝑈.
Escreve-se 𝑆 = fr(𝑈). Nestas condições, diz-se que 𝑈 é a parte interior (ou a
parte de dentro) de 𝑆, que ext(𝑈) é a parte exterior (ou a parte de fora) de 𝑆
(𝑆 é a fronteira comum de ambas as partes). Diz-se que uma parametrização
𝜕𝑟 𝜕𝑟
𝑟(𝑢, 𝑣) induz orientação positiva em 𝑆 se o vetor normal (𝑢, 𝑣) × (𝑢, 𝑣)
𝜕𝑢 𝜕𝑣
aponta para a parte de fora da superfície.
Exemplo 4.9. A superfície esférica de raio 1 pode ser parametrizada por

𝑟(𝑢, 𝑣) = (cos 𝑣 sin 𝑢 , sin 𝑣 sin 𝑢 , cos 𝑢), 𝑢 ∈ [0, 𝜋], 𝑣 ∈ [0,2𝜋].

O vetor normal

𝜕𝑟 𝜕𝑟
𝑛= (𝑢, 𝑣) × (𝑢, 𝑣) = (sin2 𝑢 cos 𝑣 , sin2 𝑢 sin 𝑣 , sin 𝑢 cos 𝑣)
𝜕𝑢 𝜕𝑣

= sin 𝑢 (𝑟(𝑢, 𝑣))

e, como sin 𝑢 > 0, o vetor normal e o vetor 𝑟(𝑢, 𝑣) têm a mesma orientação,
apontando para o lado exterior da esfera; portanto, a parametrização define
uma orientação positiva para a superfície esférica.
Observação: Note-se, no exemplo anterior, que o vetor 𝑛 anula-se em alguns
pontos (em número finito). Além disso, em geral, se o campo vetorial é
contínuo, de acordo com a Definição 4.4, para verificar qual a orientação em
causa, uma vez que existem duas possibilidades, basta verificar qual o sentido
do vetor normal 𝑛 para um ponto qualquer em que este vetor não se anule.
𝜋 𝜋
Assim, por exemplo, no ponto 𝑟 ( , ), que se situa no primeiro octante,
4 4
temos o vetor

129
𝜕𝑟 𝜋 𝜋 𝜕𝑟 𝜋 𝜋 √2 √2 1
𝑛= ( , )× ( , )=( , , )
𝜕𝑢 4 4 𝜕𝑣 4 4 4 4 2

a apontar para cima, ou seja, para o exterior da esfera. É fácil, no entanto,


reparametrizar uma superfície de modo a inverter a sua orientação; basta,
por exemplo, trocar a ordem das variáveis. No exemplo anterior, obtemos a
parametrização 𝑟1 (𝑣, 𝑢) = (cos 𝑣 sin 𝑢 , sin 𝑣 sin 𝑢 , cos 𝑢). Neste caso, o
vetor normal, é

𝜕𝑟1 𝜕𝑟1
𝑛1 = (𝑢, 𝑣) × (𝑢, 𝑣) = (−sin2 𝑢 cos 𝑣 , −sin2 𝑢 sin 𝑣 , − sin 𝑢 cos 𝑣)
𝜕𝑣 𝜕𝑢

ou seja, o vetor normal aponta para o lado interior da esfera.

TEOREMA 4.1 – Teorema de Gauss


Seja 𝐹: 𝐷 ⊆ ℝ3 → ℝ3 um campo vetorial de classe 𝐶 1 definido
num conjunto aberto 𝐷 . Seja 𝑆 uma superfície fechada regular
(exceto, possivelmente, num número finito de curvas regulares),
com orientação positiva, que é fronteira de um sólido 𝐸, com
𝑆 ∪ 𝐸 ⊆ 𝐷. Então
𝐹 ⋅ 𝑑𝑆⃗ = div(𝐹) 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧.
𝑆 𝐸

Uma prova deste teorema pode ser encontrada em [2].


Este teorema diz que, se estiverem satisfeitas as condições para a sua
aplicação, o valor de um integral de superfície é dado pelo integral triplo do
divergente do campo vetorial 𝐹 sobre a região de ℝ3 cuja fronteira é a
superfície 𝑆.
Exercício resolvido 4.6. Seja 𝑆 a fronteira do sólido

𝑉 = {(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ ℝ3 : 4𝑥 2 + 4𝑧 2 ≤ 𝑦 2 , 0 ≤ 𝑦 ≤ 2, 𝑧 ≥ 0}

e 𝐹 o campo vetorial definido por 𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑥 𝑖̂ + 𝑥𝑦𝑧 𝑗̂ + 𝑧 𝑘̂.


a) Parametrizar a superfície 𝑆 (pode-se dividir a superfície em várias partes
e parametrizar separadamente cada uma delas).

130
b) Calcular o fluxo do campo vetorial 𝐹, de dentro para fora da superfície 𝑆,
utilizando as parametrizações definidas na alínea anterior.
c) Calcular o fluxo utilizando o Teorema da Divergência.
Resolução.
a) Começamos por esboçar o sólido 𝑉 (ver Figura 4.12). A fronteira do
sólido é constituída por três superfícies regulares: o triângulo 𝑆1 no plano
𝑥𝑂𝑦, que se pode parametrizar por 𝑟1 (𝑥, 𝑦) = (𝑥, 𝑦, 0) com domínio

𝐷 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : −2𝑥 ≤ 𝑦 ≤ 2𝑥, 𝑦 ≤ 2};

o semicírculo 𝑆2 no plano de equação 𝑦 = 2, que se pode parametrizar


por 𝑟2 (𝑥, 𝑧) = (𝑥, 2, 𝑧) cujo domínio

𝐸 = {(𝑥, 𝑧) ∈ ℝ2 : 𝑥 2 + 𝑧 2 ≤ 1, 𝑧 ≥ 0}

é a projeção do sólido em 𝑥𝑂𝑧; a parte da superfície cónica 𝑆3 , que se


pode parametrizar por 𝑟3 (𝑥, 𝑧) = (𝑥, 2√𝑥 2 + 𝑧 2 , 𝑧) com (𝑥, 𝑧) ∈ 𝐸.

FIGURA 4.12. SÓLIDO DO EXERCÍCIO RESOLVIDO 4.6

b) Vamos calcular separadamente o fluxo do campo de dentro para fora


através de cada uma das superfícies que constituem a fronteira do sólido
𝑉 , utilizando as parametrizações da alínea anterior. Para isso, vamos
começar por determinar a orientação que as parametrizações induzem
nessas superfícies. Para 𝑆1 temos

131
𝜕𝑟1 𝜕𝑟1 𝑖̂ 𝑗̂ 𝑘̂
×
𝜕𝑥 𝜕𝑦
= |1 0 0| = (0,0,1)
0 1 0

quer dizer, o vetor normal aponta de baixo para cima (uma vez que a
terceira componente do vetor normal é positiva), o que significa que 𝑟1
orienta 𝑆1 de fora para dentro do sólido, ao contrário do pretendido.
Portanto, a orientação desejada é dada por (0, 0, −1). O fluxo é

𝜕𝑟1 𝜕𝑟1
𝐹 ⋅ 𝑑𝑆⃗ = 𝐹(𝑟1 (𝑥, 𝑦)) ⋅ (− × ) 𝑑𝑥𝑑𝑦
𝑆1 𝐷 𝜕𝑥 𝜕𝑦

= (𝑥, 0,0) ⋅ (0,0, −1) 𝑑𝑥𝑑𝑦 = 0


𝐷

Para 𝑆2 temos
𝜕𝑟2 𝜕𝑟2 𝑖̂ 𝑗̂ 𝑘̂
× = |1 0 0| = (0, −1,0).
𝜕𝑥 𝜕𝑧
0 0 1
que orienta 𝑆2 de fora para dentro do sólido, também ao contrário do
pretendido: devemos tomar o seu simétrico. Assim o fluxo é

𝜕𝑟2 𝜕𝑟2
𝐹 ⋅ 𝑑𝑆⃗ = 𝐹(𝑟2 (𝑥, 𝑧)) ⋅ (− × ) 𝑑𝑥𝑑𝑧
𝑆2 𝐸 𝜕𝑥 𝜕𝑧

= (𝑥, 2𝑥𝑧, 𝑧) ⋅ (0,1,0) 𝑑𝑥𝑑𝑧


𝐸

1 𝜋
= 2𝑥𝑧 𝑑𝑥𝑑𝑧 = 2𝑟(𝑟 cos 𝜃)(𝑟 sin 𝜃) 𝑑𝜃𝑑𝑟
𝐸 0 0

1
𝑟4
= [ ] [sin2 𝜃]𝜋0 = 0.
4 0

Finalmente, para 𝑆3 temos,

132
𝑖̂ 𝑗̂ 𝑘̂
2𝑥
𝜕𝑟3 𝜕𝑟3 |1 0| 2𝑥 2𝑧
× = √𝑥 2 + 𝑧 2 =( , −1, )
𝜕𝑥 𝜕𝑧 | | 2
√𝑥 + 𝑧 2 √𝑥 + 𝑧 2
2
2𝑧
0 1
√𝑥 2 + 𝑧 2

pelo que, atendendo à segunda componente deste vetor, a superfície 𝑆3 está


orientada de dentro para fora do sólido, ou seja, compatível com a orientação
pretendida. Assim o fluxo é:

𝜕𝑟3 𝜕𝑟3
𝐹 ⋅ 𝑑𝑆⃗ = 𝐹(𝑟3 (𝑥, 𝑧)) ⋅ ( × ) 𝑑𝑥𝑑𝑧
𝑆3 𝐸 𝜕𝑥 𝜕𝑧

2𝑥 2𝑧
= (𝑥, 𝑥 (2√𝑥 2 + 𝑧 2 ) 𝑧, 𝑧) ⋅ ( , −1, ) 𝑑𝑥𝑑𝑧
2
√𝑥 + 𝑧 2 √𝑥 + 𝑧 2
2
𝐸

2𝑥 2 2𝑧 2
= − 2𝑥𝑧 √𝑥 2 + 𝑧 2 + 𝑑𝑥𝑑𝑧
𝐸 √𝑥 2 + 𝑧 2 √𝑥 2 + 𝑧 2
1 𝜋
2𝑟 2 cos 2 𝜃 2𝑟 2 sin2 𝜃
= ( − 2(𝑟 cos 𝜃)(𝑟 sin 𝜃)𝑟 + ) 𝑟 𝑑𝜃𝑑𝑟
0 0 𝑟 𝑟

1 𝜋
2𝜋
= 2𝑟 2 − 2𝑟 4 sin 𝜃 cos 𝜃 𝑑𝜃𝑑𝑟 = .
0 0 3

Então,

2𝜋
= 𝐹 ⋅ 𝑑𝑆⃗ = 𝐹 ⋅ 𝑑𝑆⃗ + 𝐹 ⋅ 𝑑𝑆⃗ + 𝐹 ⋅ 𝑑𝑆⃗ = .
𝑆 𝑆1 𝑆2 𝑆3 3

c) As condições para aplicar o teorema da Divergência verificam-se: 𝐹 é


diferenciável em ℝ3 ; a superfície 𝑆 é uma superfície fechada, constituída
por superfícies regulares (partes de planos e parte de uma superfície

133
cónica) e curvas regulares (a semicircunferência e os segmentos).
Considerando a orientação positiva da superfície, o fluxo é dado por

𝐹 ⋅ 𝑑𝑆⃗ = div(𝐹) 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧 = (1 + 𝑦𝑧 + 1) 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧.


𝑆 𝑉 𝑉

Uma vez que, em coordenadas cilíndricas, com 𝑥 = 𝑟 cos 𝜃, e 𝑧 = 𝑟 sin 𝜃, o


sólido 𝑉 corresponde a

𝑈 = {(𝑟, 𝜃, 𝑦): 0 ≤ 𝑟 ≤ 1,0 ≤ 𝜃 ≤ 𝜋, 2𝑟 ≤ 𝑦 ≤ 2},

vem

1 𝜋 2
𝐹 ⋅ 𝑑𝑆⃗ = (2 + 𝑟 2 sin 𝜃 cos 𝜃)𝑟 𝑑𝑦𝑑𝜃𝑑𝑟
𝑆 0 0 2𝑟

1 𝜋
= (2𝑟 + 𝑟 3 sin 𝜃 cos 𝜃)(2 − 2𝑟) 𝑑𝜃𝑑𝑟
0 0

1 1
2𝜋
= (2 − 2𝑟) ⋅ 2 𝜋𝑟 𝑑𝑟 = 4𝜋 (𝑟 − 𝑟 2 )𝑑𝑟 = .
0 0 3

Exercício resolvido 4.7. Calcular o fluxo do campo vetorial

𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧) = (2𝑥, 𝑥 + 3𝑦, 𝑥 + 𝑧)

através da superfície esférica de raio 𝑎, 𝑥 2 + 𝑦 2 + 𝑧 2 = 𝑎2 , com orientação


positiva.
Resolução. Usando o teorema de Gauss, sendo 𝑆 a superfície esférica e 𝐸 a
esfera que 𝑆 encerra,

4 24 3
𝐹 ⋅ 𝑑𝑆⃗ = div(𝐹) 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧 = 6 × vol(𝐸) = 6 × 𝜋𝑎3 = 𝜋𝑎 .
𝑆 𝐸 3 3

134
4.4.2.Teorema de Stokes

O teorema de Stokes é uma extensão do teorema de Green. Dá-nos uma


fórmula que relaciona um integral de superfície com um integral de linha no
espaço.
O bordo de uma superfície 𝑆, denota-se por 𝜕𝑆 e é a linha que a delimita,
como ilustrado na figura 4.13.
Exemplo 4.10. Consideremos a parte do paraboloide de equação
𝑧 = 𝑥 2 + 𝑦 2 , (𝑥, 𝑦) ∈ 𝐷 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : 𝑥 2 + 𝑦 2 ≤ 4} parametrizada por

𝑟(𝑢, 𝑣) = (𝑣 cos 𝑢 , 𝑣 sin 𝑢 , 𝑣 2 ), 0 ≤ 𝑢 ≤ 2𝜋, 0 ≤ 𝑣 ≤ 2.

A fronteira de 𝐷 é a curva 𝛾(𝑢) = (2 cos 𝑢 , 2 sin 𝑢 , 0), 0 ≤ 𝑢 ≤ 2𝜋 , e a


imagem deste conjunto de pontos por 𝑟 é a curva ∂S parametrizada por

𝛼(𝑢) = 𝑟(𝑢, 2)

= (2 cos 𝑢 , 2 sin 𝑢 , 4), 0 ≤ 𝑢 ≤ 2𝜋

que se obtém fazendo 𝑣 = 2 em 𝑟(𝑢, 𝑣).

FIGURA 4.13. SUPERFÍCIE COM BORDO (EXEMPLO 4.10)

135
TEOREMA 4.1 – Teorema de Stokes
Seja 𝑆 uma superfície orientável cujo bordo é uma curva 𝐶 fechada
simples, seccionalmente regular e com orientação positiva induzida
pela orientação de 𝑆. Se 𝐹 é um campo vetorial de classe 𝐶 1
definido num aberto que contém 𝑆 ∪ 𝐶 então

𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗ = rot(𝐹) ⋅ 𝑑𝑆⃗.


𝐶 𝑆

A demonstração deste teorema pode ser vista em [2].


A orientação positiva induzida pela orientação de 𝑆 resulta de aplicar a
parametrização da superfície 𝑆 à fronteira de 𝐷. Na prática, um observador
caminhando sobre a curva e orientado segundo o vetor unitário normal à
superfície, 𝑛 , vê a superfície do seu lado esquerdo.
Exercício resolvido 4.8 Seja 𝑆 a parte do plano de equação 𝑥 + 𝑦 + 𝑧 = 1
com 𝑥, 𝑦, 𝑧 ≥ 0 , orientada de baixo para cima e seja 𝐶 o triângulo que
delimita 𝑆 com orientação positiva induzida pela orientação de 𝑆. Utilize o
teorema de Stokes para calcular o trabalho realizado pelo campo
𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧) = (𝑦 2 , 𝑧 2 , 𝑥 2 ) para deslocar uma partícula ao longo da curva 𝐶.
Resolução. Como o campo 𝐹 é diferenciável e as orientações de 𝑆 e 𝐶 estão
de acordo com as hipóteses do teorema de Stokes, podemos aplicá-lo. Temos
𝑖̂ 𝑗̂ 𝑘̂
𝜕 𝜕 𝜕
rot(𝐹) = || || = (−2𝑧, −2𝑥, −2𝑦).
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
𝑦2 𝑧2 𝑥 2

Podemos ver a superfície 𝑆 como o traço da superfície parametrizada


𝑟(𝑥, 𝑦) = (𝑥, 𝑦, 1 − 𝑥 − 𝑦), com domínio

𝐷 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : 0 ≤ 𝑥 ≤ 1,0 ≤ 𝑦 ≤ 1 − 𝑥} (Figura 4.14).

Assim podemos aplicar a fórmula (4.10). Calculando

rot(𝐹) ∘ 𝑟(𝑥, 𝑦) = (−2(1 − 𝑥 − 𝑦), −2𝑥, −2𝑦),

136
𝜕𝑟 𝜕𝑟
como × = (1,1,1), o trabalho pedido é dado por
𝜕𝑥 𝜕𝑦

𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗ = rot(𝐹) ⋅ 𝑑𝑆⃗


𝐶 𝑆

= (−2(1 − 𝑥 − 𝑦), −2𝑥, −2𝑦) ⋅ (1,1,1) 𝑑𝑥𝑑𝑦 = −2 𝑑𝑥𝑑𝑦


𝐷 𝐷

1 1−𝑥
= −2 𝑑𝑦𝑑𝑥 = −1.
0 0

FIGURA 4.14. SUPERFÍCIE DO EXERCÍCIO RESOLVIDO 4.8

Exercício resolvido 4.9. Considere a superfície

𝑆 = {(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ ℝ3 : 𝑥 2 + 𝑦 2 + 𝑧 2 = 4, 𝑥 2 + 𝑦 2 ≤ 𝑧 2 , 𝑧 ≥ 0}.

Seja 𝑈 o sólido limitado por 𝑆 e pelo disco

𝑆0 = {(𝑥, 𝑦, √2) ∈ ℝ3 : 𝑥 2 + 𝑦 2 ≤ 2}.

a) Mostre que

137
𝑟(𝑢, 𝑣) = (2 cos(𝑢) sin(𝑣), 2 sin(𝑢) sin(𝑣), 2 cos(𝑣)),
com

𝜋
(𝑢, 𝑣) ∈ 𝐷 = [0,2𝜋] × [0, ]
4

é uma parametrização de 𝑆 e diga qual é a sua orientação (com, a normal


interior ou com a normal exterior).
b) Faça um esboço de 𝑈, descreva-o em coordenadas esféricas e escreva
um integral triplo cujo valor seja o seu volume.
c) Considere o campo vetorial 𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑧 2 𝑖̂ + 2𝑥𝑦 𝑗̂ + 𝑧 𝑘̂ . Calcule

rot(𝐹) ⋅ 𝑑𝑆⃗,
𝑆

o fluxo do campo rotacional, rot(𝐹), sobre a superfície 𝑆 orientada com a


normal interior (o vetor normal a apontar para o centro da superfície
esférica).

FIGURA 4.15. SUPERFÍCIE DO EXERCÍCIO RESOLVIDO 4.9

Resolução.
a) Tem-se

𝑥 2 + 𝑦 2 + 𝑧 2 = (2 cos(𝑢) sin(𝑣))2 + (2 sin(𝑢) sin(𝑣))2 + (2 cos(𝑣))2 = 4.

𝜋
Além disso, para 𝑣 ∈ [0, ] temos 𝑧 = 2cos(𝑣) ∈ [0, √2] . O vetor normal em
4
cada ponto da superfície é

138
𝜕𝑟 𝜕𝑟 𝑖̂ 𝑗̂ 𝑘̂
× = |−2 sin(𝑢) sin(𝑣) 2 cos(𝑢) sin(𝑣) 0 |
𝜕𝑢 𝜕𝑣
2 cos(𝑢) cos(𝑣) 2 sin(𝑢) cos(𝑣) −2 sin(𝑣)

= −4 cos(𝑢) sin2 (𝑣) 𝑖̂ − 4 sin(𝑢) sin2 (𝑣) 𝑗̂ − 4 sin(𝑣) cos(𝑣) 𝑘̂

cuja norma é 4 sin(𝑣).


O vetor normal unitário é, portanto,

𝑛 = − cos(𝑢) sin(𝑣) 𝑖̂ − sin(𝑢) sin(𝑣) 𝑖̂ − cos(𝑣) 𝑘̂.

Facilmente se vê, bastando analisar o sinal da terceira componente deste


𝜋
vetor que é negativa para 𝑣 ∈ [0, ], que este vetor orienta a superfície com
4
a normal interior (de fora para dentro, ou seja, de cima para baixo).
b) Em coordenadas esféricas, a superfície esférica é definida pela equação
√2
𝜌 = 2 e o plano 𝑧 = √2 define-se por 𝜌 = . Os limites de variação de 𝜌
cos 𝜙
dependem de 𝜙. Assim, 𝑈 é definido pelas condições:

𝜋 √2
0 ≤ 𝜃 ≤ 2𝜋, 0≤𝜙≤ , 0≤𝜌≤ .
4 cos 𝜙

O volume é dado por

𝜋 √2
2𝜋
4 cos 𝜙
𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧 = 𝜌2 sin 𝜙 𝑑𝜌𝑑𝜙𝑑𝜃.
𝑈 0 0 0

c) Sendo C o bordo da superfície 𝑆, parametrizada por

𝑟(𝑡) = (√2 cos 𝑡 , √2 sin 𝑡 , √2), 0 ≤ 𝑡 ≤ 2𝜋

a curva −𝐶 tem orientação compatível com a orientação de 𝑆. Usando o


teorema de Stokes:

139
2𝜋
rot(𝐹) ⋅ 𝑑𝑆⃗ = − ∮ 𝐹 ⋅ 𝑑𝑟⃗ = − 𝐹(𝑟(𝑡)) ⋅ 𝑟 ′ (𝑡) 𝑑𝑡
𝑆 𝐶 0

2𝜋
=− (2,4 sin 𝑡 cos 𝑡 , √2) ⋅ (−√2 sin 𝑡 , √2 cos 𝑡 , 0) 𝑑𝑡
0

2𝜋
= −2√2 − sin 𝑡 − 2 sin 𝑡 cos 2 𝑡 𝑑𝑡
0

2𝜋
cos 3 𝑡
= −2√2 [cos 𝑡 − 2 ] = 0.
3 0

Se 𝐺 é campo rotacional então existe, como já sabemos, um campo


vetorial 𝐹 tal que 𝐺 = rot(𝐹). Resulta do teorema de Stokes que o fluxo de
um campo rotacional sobre uma superfície 𝑆 orientada, com bordo, é igual
ao trabalho realizado pelo seu rotacional ao longo do bordo da superfície,
orientadas de modo compatível.
Por outro lado, se 𝑆 é a fronteira de um sólido 𝑈, usando o teorema de
Gauss,

rot(𝐹) ⋅ 𝑑𝑆⃗ = div(rot(𝐹)) 𝑑𝑉 = 0,


fr(𝑈) 𝑈

porque div(rot(𝐹)) = 0. Portanto, o fluxo de um campo rotacional sobre


uma superfície fechada é nulo.
Note-se que, usando esta propriedade podíamos ter resolvido a alínea
(c) do exercício anterior de forma mais eficiente.
Exercício resolvido 4.10. Considere a figura junta
a) Calcular o comprimento da curva helicoidal
dada por

2 3
𝛾(𝑢) = (cos 𝑢, 𝑣 sin 𝑢 , 𝑢2 ) , 0 ≤ 𝑢 ≤ 9.
3

140
b) Calcular a área da superfície constituída pelos pontos

2 3
𝑟(𝑢, 𝑣) = (𝑣 cos 𝑢 , 𝑣 sin 𝑢 , 𝑢2 ),
3

que estão no cilindro 𝑥 2 + 𝑦 2 ≤ 1 com 0 ≤ 𝑧 ≤ 18, a qual contém a curva


anterior. Use um sistema de computação para calcular o integral.
Resolução.
a) Ora, 𝛾 ′ (𝑢) = (− sin 𝑢 , cos 𝑢 , √𝑢), 𝛾 é regular e

9 9
𝐿(𝐶) = ‖𝑟′(𝑢)‖ 𝑑𝑢 = √1 + 𝑢 𝑑𝑢
0 0

2 3 9 2
= [ (1 + 𝑢)2 ] = (10√10 − 1).
3 0 3

b)
9 1
𝜕𝑟 𝜕𝑟
𝐴(𝑆) = 𝑑𝑆 = ‖ × ‖ 𝑑𝑢𝑑𝑣
𝑆 0 0 𝜕𝑢 𝜕𝑣

9 1
= √𝑢 + 𝑣 2 𝑑𝑣𝑑𝑢 ≈ 18.8498.
0 0

4.5. Exercícios Propostos

1. Determine uma equação do plano tangente à superfície parametrizada


𝑟(𝑢, 𝑣) = (𝑢 2 , 𝑣, 𝑢 + 𝑣 2 ) no ponto(1,1,0).
2. Determine a área das seguintes superfícies:
(a) A parte do parabolóide 𝑥 = 𝑦 2 + 𝑧 2 que está dentro do cilindro
𝑦 2 + 𝑧 2 ≤ 9.

141
(b) A parte da superfície 𝑧 = 𝑥𝑦 que está dentro do cilindro
𝑥 2 + 𝑦 2 ≤ 1.
3. Considere a superfície 𝑆 dada pelas equações paramétricas
𝑥 = 2 cos 𝑢
{ 𝑦 = 2 sin 𝑢 , 0 ≤ 𝑢 ≤ 2𝜋, 0 ≤ 𝑣 ≤ 3.
𝑧=𝑣
(a) Identifique a superfície 𝑆 e determine uma equação do plano
tangente a 𝑆 no ponto (0,2,1).
(b) Mostre que a área de 𝑆 é 𝐴(𝑆) = 3 ∫𝛾 𝑑𝑠 onde 𝛾 é a curva
parametrizada por 𝛾(𝑡) = (2 cos 𝑢 , 2 sin 𝑢 , 0) , com 0 ≤ 𝑢 ≤ 2𝜋.
Interprete o resultado.
4. Seja 𝑆 a superfície definida por 𝑧 = √𝑥 2 + 𝑦 2 , situada no interior da
região cilíndrica 𝑥 2 + 𝑦 2 ≤ 1 , orientada por um campo com terceira
componente positiva. Calcule o fluxo do campo 𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧) = (2,5,3)
através de 𝑆.
5. Seja 𝑆 a fronteira do sólido

𝑥2 𝑥2
𝐸 = {(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ ℝ3 : + 𝑧 2 − 1 ≤ 𝑦 ≤ √1 − − 𝑧 2 },
4 4

orientada com a normal exterior. Considere o campo vetorial 𝐹 definido


por 𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 2𝑥(1 + 𝑧)𝑖̂ + 𝑦 𝑗̂ + 𝑧(1 − 𝑧)𝑘̂ .
(a) Indique uma expressão para o volume do sólido 𝐸, utilizando o
integral de superfície.
(b) Verifique se o campo 𝐹 é conservativo.
(c) Utilizando o Teorema de Stokes, mostre que ∬𝑆 2𝑥𝑗̂ ⋅ 𝑑𝑆⃗ = 0.
6. Calcule o valor do fluxo do campo vetorial 𝐹 através da superfície 𝑆,
onde:
(a) 𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑥𝑦𝑖̂ + 4𝑥 2 𝑗̂ + 𝑦𝑧𝑘̂ e 𝑆 é a parte da superfície definida
por 𝑧 = 𝑥𝑒 𝑦 com 0 ≤ 𝑥 ≤ 1, 0 ≤ 𝑦 ≤ 1, com orientação de baixo
para cima.
(b) 𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑥𝑧𝑒 𝑦 𝑖̂ − 𝑥𝑧𝑒 𝑦 𝑗̂ + 𝑧𝑘̂ e 𝑆 é a parte do plano com
equação 𝑧 = 1 − 𝑥 − 𝑦 que está no primeiro octante, orientada de
cima para baixo.

142
(c) 𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑦𝑖̂ − 𝑧𝑘̂ e 𝑆 é a superfície fechada com orientação
positiva, que se obtém reunindo os pontos da parte do parabolóide
definido por 𝑦 = 𝑥 2 + 𝑧 2 , 0 ≤ 𝑦 ≤ 1 com os pontos da região
plana que satisfaz 𝑥 2 + 𝑧 2 ≤ 1, 𝑦 = 1.
7. Considere o conjunto

𝑊 = {(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ ℝ: 𝑥 2 + 𝑦 2 − 1 ≤ 𝑧 ≤ √1 − 𝑥 2 − 𝑦 2 }

e o campo 𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧) = (𝑥(3 + 𝑥𝑧), 2𝑥𝑦𝑧, −2𝑥𝑧 2 ). Seja 𝑆 a fronteira de 𝑊


orientada com a normal exterior.
(a) Prove que ∬𝑆 𝐹 ⋅ 𝑑𝑆⃗ = ∭𝑊 3 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧.
(b) Calcule o volume de 𝑊.
8. Use o teorema de Stokes no cálculo dos seguintes integrais curvilíneos:
(a) ∫𝐶 (𝑥 2 − 𝑦)𝑑𝑥 + 4𝑧 𝑑𝑦 + 𝑥 2 𝑑𝑧, onde 𝐶 é dada pelos segmentos de
reta de (1,0,0) a (0,1,0), de (0,1,0) a (0,0,1) e de (0,0,1) a (1,0,0).
(b) ∫𝐶 𝑦 𝑑𝑥 + 𝑧𝑑𝑦 + 𝑥𝑑𝑧, onde 𝐶 é a curva definida pelo conjunto
{(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ ℝ3 : 𝑥 2 + 𝑦 2 = 1 ∧ 𝑧 = 3},
orientada no sentido directo.
9. Sejam 𝑆 = {(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ ℝ3 : 𝑥 2 + 𝑦 2 + 𝑧 2 = 1} orientada com a normal
dirigida para o exterior e 𝐹: ℝ3 → ℝ3 um campo vetorial cujas
componentes admitem derivadas parciais de segunda ordem contínuas
num aberto contendo o conjunto {(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ ℝ3 : 𝑥 2 + 𝑦 2 + 𝑧 2 ≤ 1}.
Prove que ∬𝑆 rot(𝐹) ⋅ 𝑛 𝑑𝑆⃗ = 0
(a) Usando o Teorema de Stokes.
(b) Usando o Teorema de Gauss.

143
144
SOLUÇÕES

Capítulo 1
1.
𝜋 𝜋
a) {(𝑟, θ) ∈ ℝ2 : 0 ≤ r ≤ 3, − ≤ θ < };
2 2
𝜋
b) {(𝑟, θ) ∈ ℝ2 : 0 ≤ r ≤ 1, 0 ≤ θ ≤ 4 };
2 𝜋
c) {(𝑟, 𝜃) ∈ ℝ2 : ≤ 𝑟 ≤ 2, 0 ≤ 𝜃 ≤ } ;
√cos2 𝜃+4 sin2 𝜃 2
1 𝜋
d) {(𝑟, 𝜃) ∈ ℝ2 : ≤𝑟 ≤ 1,0 ≤ 𝜃 ≤ }.
sin 𝜃+cos 𝜃 2
2.
𝜋 𝜋
a) {(𝑟, 𝜃, 𝑧) ∈ ℝ3 : − ≤ 𝜃 ≤ , 0 ≤ 𝑟 ≤ 1, −𝑟 2 ≤ 𝑧 ≤ 𝑟 2 };
2 2
𝜋 𝑟2
b) {(𝑟, 𝜃, 𝑧) ∈ ℝ3 : 0 ≤ 𝜃 ≤ 2 , 0 ≤ 𝑟 ≤ 2, 2
≤ 𝑧 ≤ 2};
c) Cilíndricas:{(𝑟, 𝜃, 𝑧) ∈ ℝ3 : 0 ≤ 𝜃 ≤ 2𝜋, 2 ≤ 𝑟 ≤ 4, −√16 − 𝑟 2 ≤ 𝑧 ≤
√16 − 𝑟 2 };
𝜋 5 2
Esféricas: {(𝜌, 𝜃, 𝜙) ∈ ℝ3 : 0 ≤ 𝜃 ≤ 2𝜋, ≤ 𝜙 ≤ 𝜋, ≤ 𝜌 ≤ 4};
6 6 sin 𝜙
d) {(𝜌, 𝜃, 𝜙) ∈ ℝ3 :
0 ≤ 𝜃 ≤ 2𝜋, 𝑎 ≤ 𝜌 ≤ 𝑏, 0 ≤ 𝜙 ≤ 𝜋};
e) {(𝑟, 𝜃, 𝑧) ∈ ℝ3 : 0 ≤ 𝜃 ≤ 2𝜋, 0 ≤ 𝑟 ≤ 1,0 ≤ 𝑧 ≤ 1 + 𝑟 2 + 2𝑟 cos 𝜃} (fazendo
𝜋 𝜋
𝑥 − 1 = 𝑟 cos 𝜃 , 𝑦 = 𝑟 sin 𝜃 , 𝑧 = 𝑧) ou {(𝑟, 𝜃, 𝑧) ∈ ℝ3 : − ≤ 𝜃 ≤ , 0 ≤ 𝑟 ≤
2 2
2 cos 𝜃 , 0 ≤ 𝑧 ≤ 𝑟 2 } (fazendo 𝑥 = 𝑟 cos 𝜃 , 𝑦 = 𝑟 sin 𝜃 , 𝑧 = 𝑧);
f) {(𝑟, 𝜃, 𝑧) ∈ ℝ3 : 0 ≤ 𝜃 ≤ 2𝜋, 0 ≤ 𝑟 ≤ 1, 𝑟 ≤ 𝑧 ≤ 2 − 𝑟 2 }.
3. {(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ ℝ3 : 𝑥 2 + 𝑦 2 + (𝑧 − 2)2 ≤ 4, 𝑥 2 + 𝑦 2 ≤ 3𝑧 2 }.
4.
a) div(𝑓) = 𝑦; rot(𝐹) = −3𝑥;
b) div(𝑓) = 2𝑦 cos(𝑥 2 + 𝑦 2 ) − 2𝑥 sin(𝑥 2 + 𝑦 2 ) ; rot(𝐹) = 2𝑦 sin(𝑥 2 + 𝑦 2 ) +
2𝑥 cos(𝑥 2 + 𝑦 2 );
c) div(𝑓) = 0; rot(𝐹) = (0,0,0).
5.
a) 𝑓(𝑥, 𝑦) = 𝑥 3 𝑦 + 2𝑦 2 ;
b) 𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑥 3 𝑧 + 𝑥𝑦 2 + 𝑥𝑦𝑧.
6.

145
a) 𝑥 2 + 𝑦 2 = 1, 𝑥 ≥ 0;
b) 𝑥 + 𝑦 = 1, 0 ≤ 𝑥 ≤ 1,0 ≤ 𝑦 ≤ 1;
1
c) 𝑦 = , 𝑥, 𝑦 > 0;
𝑥
d) 𝑦 2 = 𝑒 𝑥 , 𝑥 > 0;
e) 2(𝑥 − 1) = 𝑦 + 1, 0 ≤ 𝑥 ≤ 2, −3 ≤ 𝑦 ≤ 1.
7.
a) 𝑥 + 1 = 2(𝑦 − 1) com − 1 ≤ 𝑥 ≤ 9;
b) 𝑦 = (𝑥 + 1)2 ;
1
c) 𝑦 + 1 = 𝑥2 , para 𝑥 > 0.
8.
a) 𝑟(𝑡) = (𝑡, 2𝑡 − 5), 0 ≤ 𝑡 ≤ 5;
b) 𝑟(𝑡) = (2 cos 𝑡 , 2 sin 𝑡), 0 ≤ 𝑡 ≤ 2𝜋;
3𝜋
c) 𝑟(𝑡) = (2 cos 𝑡 , 2 sin 𝑡), 0 ≤ 𝑡 ≤ ;
2
d) 𝑟(𝑡) = (2 cos 𝑡 , sin 𝑡), 0 ≤ 𝑡 ≤ 𝜋;
e) 𝑟(𝑡) = (𝑡, 𝑡 2 − 1), 𝑡 ≥ 0.
9.
b) (1, 0);
c) (0,1) e (−1,0);
d) 2𝜋 e 𝜋;
e) 4𝜋 e 2𝜋. 𝐵 termina primeiro;
f) 𝛾 ′ 𝐴 (𝑡) = (− sin 𝑡 , cos 𝑡), 𝛾 ′ 𝐵 (𝑡) = (−2 sin 𝑡 , 2 cos 𝑡), ‖𝛾 ′ 𝐴 (𝑡)‖ =
1, ‖𝛾 ′ 𝐵 (𝑡)‖ = 2.
10.
a) r não é regular (mas é seccionamente regular);
3 2
b) 𝑦 = 2 𝑥 e 𝑦 = − 3 𝑥, resp.
11.
a) Dois pontos de interseção;
b) (−3, 0) é ponto de colisão;
c) Dois pontos de interseção, nenhum ponto de colisão.
13. 𝑣(𝑡) = (1, cos 𝑡 , −2 sin(2𝑡)).
3 3
14. 𝑟(𝑡) = (√3 cos 𝑡 , √2 sin 𝑡 , √2 sin 𝑡), para 0 ≤ 𝑡 ≤ 2𝜋.

146
Capítulo 2
1.
1
a) (−1 + 5√5).
12
2.
a) √2;
b) 2𝜋;
2
c) (−1 + 5√5);
3
d) √2;
e) 9√2;
f) 80𝜋;
7
g) − .
6
3.
a) 16;
b) 20√5.
𝑟 𝑟
4. 2𝑟 2 ; ( (𝜋 + 2), (𝜋 + 2)).
8 8
5. 0.
6. 26.
7.
a) 𝑓(𝑥, 𝑦) = 𝑥𝑒 2𝑦 + 𝑦;
b) 𝑒 5 + 1.
8. -37.
9.
c) 2 − cos 2.
10.
a) 6.1257…;
b) 15;
c) (0,0,0);
d) 0.

147
Capítulo 3
1.
a) 1;
4
b) ln ;
3
7
c) ln 2.
6
2.
a) 𝐷 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : 0 ≤ 𝑦 ≤ 1, 𝑦 ≤ 𝑥 ≤ 2 − 𝑦 };
1 𝑥 2 2−𝑥
𝑓(𝑥, 𝑦)𝑑𝑦 𝑑𝑥 + 𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑦 𝑑𝑥 ;
0 0 1 0
b) 𝐷 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : 0 ≤ 𝑦 ≤ 3, −𝑦 ≤ 𝑥 ≤ 𝑦};
3 𝑦
𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦 ;
0 −𝑦
√2
c) 𝐷 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : 𝑥 2 + 𝑦 2 ≤ 1, 𝑥 ≥ 0, −𝑥 ≤ 𝑦 ≤ };
2
√2 √2 √1−𝑥 2
1
2 2
𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦 + 𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦 ;
√2
0 −𝑥 −√1−𝑥 2
2
1 𝑒
d) 𝐷 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : 1 ≤ 𝑥 ≤ 𝑒, 0 ≤ 𝑦 ≤ ln 𝑥}; ∫0 ∫𝑒 𝑦 𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑦 ;
e) 𝐷 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : 2 ≤ 𝑦 ≤ 4, 𝑦 ≤ 𝑥 ≤ 𝑦 + 3};
4 𝑥 5 4 7 4
𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑦𝑑𝑥 + 𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑦𝑑𝑥 + 𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑦𝑑𝑥 .
2 2 4 2 5 𝑥−3
3.
12
a) ;
5
𝜋
b) ;
12
45𝜋
c) .
4
2𝜋+6√3
4. .
3

148
5.
a) 𝜋;
64𝜋
b) ;
3
c) 2𝜋.
6. 3𝜋.
7.
a) 𝐷 = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℝ2 : 0 ≤ 𝑦 ≤ 1, −√𝑦 ≤ 𝑥 ≤ 𝑦};
1 𝑦 𝑦
b) ∫0 ∫− 𝑦 2 2 𝑑𝑥𝑑𝑦;
√ 𝑥 +𝑦
𝜋
c) 𝐼 = + 1.
4
8.
1
1−𝑥 2
a) ∫02 ∫√2𝑥−𝑥 2 𝑓(𝑥, 𝑦) 𝑑𝑦𝑑𝑥;
𝜋
1
b) ∫𝜋2 ∫2 cos 𝜃 𝑟 𝑓(𝑟 cos 𝜃 , 𝑟 sin 𝜃)𝑑𝑟𝑑𝜃.
3
√2 √2
9. (2 + ,1 − 2 ) ≈ (2.60, 0.70).
3𝜋 3𝜋
10. 𝑒 − 1.
11.
5 𝜋
b) (√3 − ) ≈ 1.14;
3 3
c) 0.

Capítulo 4
1. −𝑥 + 4𝑦 − 2𝑧 = 3.
2.
𝜋
a) (37√37 − 1);
6
2𝜋
b) (2√2 − 1).
3
3.
a) 𝑦 = 2.
4. 3𝜋.

149
5.
1
a) vol(𝐸) = ∬𝑆 𝐹 ⋅ 𝑑𝑆⃗;
4
b) Não é.
6.
a) 1 − 𝑒;
−1
b) ;
6
−𝜋
c) .
2

7.
7𝜋
b) .
6
8.
11
a) − ;
6
b) – 𝜋.

150
BIBLIOGRAFIA

[1] Apostol T., Cálculo com funções de uma variável com uma introdução à álgebra linear, vol
1, Ed Reverté. Lda, 1988.
[2] Apostol T., Cálculo vol 2, Cálculo com funções de várias variáveis e Álgebra Linear, com
aplicações às equações diferenciais e às probabilidades. Ed Reverté. Lda, 1993.
[3] Boyer, C. B., História da matemática, 2.Ed. São Paulo: Edagard Blücher Lda, 1996.
[4] Breda, A., Nunes da Costa, J., Cálculo com Funções de Várias Variáveis, Apêndice B, Ed.
McGrawHill, 1996.
[5] Carvalho, P., Descalço, L., Cálculo diferencial a várias variáveis, O essencial, Sílabas &
Desafios, 2016.
[6] Carvalho. P., Descalço, L., Exercícios de Cálculo III, http://siacua.web.ua.pt
[7] Larson, Hostetler and Edwards., Cálculo vol 2, Oitava edição, McGraw-Hill 2006.
[8] Lima, Elon Lages, Curso de análise vol 2, Rio de Janeiro, Instituto de Matemática Aplicada,
CNPq 1981.
[9] Stewart J., Cálculo vol II, Quinta edição, Cengage Learning, São Paulo, 2008.

Você também pode gostar