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Matemática

Análise
UNOPAR ANÁLISE MATEMÁTICA
Análise Matemática

Debora Cristiane Barbosa Kirnev


© 2016 por Editora e Distribuidora Educacional S.A

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Kirnev, Debora Cristiane Barbosa


K59a Análise matemática / Debora Cristiane Barbosa Kirnev.
– Londrina : Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2016.
192 p.


ISBN 978-85-8482-272-0

 1. Análise matemática. 2. Números reais. 3. Teoria dos


conjuntos. I. Título.

CDD 510

2016
Editora e Distribuidora Educacional S.A
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário
Unidade 1 | Conjuntos Numéricos 7
Seção 1 - Análise e o processo de demonstrações matemáticas 11
1.1 | Considerações sobre os números 11
1.2 | Processo lógico dedutivo para demonstrações matemáticas 24
1.2.1 | Elementos da Lógica 24
1.2.2 | Conceituando demonstrações matemáticas 31
1.2.3 | Procedimentos para demonstrações matemáticas 35

Seção 2 - Conjuntos numéricos 41


2.1 | Axiomatização dos números naturais 41
2.2 | Estruturas algébricas aplicadas aos conjuntos numéricos 45
2.2.1 | Grupos 45
2.2.2 | Anéis 47
2.2.3 | Domínios de integridade e corpos 48

Unidade 2 | Conjuntos Finitos e Infinitos 55


Seção 1 - Noções sobre conjuntos 59
1.1 | Primeiros conceitos e propriedades de conjuntos 60
1.2 | Conjuntos finitos, enumeráveis e não enumeráveis 66
1.2.1 | Funções 66
1.2.2 | Conjunto finito e conjunto infinito 73
1.2.3 | Conjunto enumerável e conjunto não enumerável 77

Seção 2 - Números reais 83


2.1 | Corpo ordenado 85
2.1.1 | Relação de ordem nos reais 86
2.1.2 | Intervalos 86
2.1.3 | Módulo ou valor absoluto 88
2.1.4 | A não enumerabilidade dos reais 90
2.2 | Corpo ordenado e completo 92

Unidade 3 | Sequências e Séries de Números Reais 101


Seção 1 - Sequências numéricas 105
1.1 | Conceito de Progressão Aritmética (PA) 106
1.1.1 | Termo geral de uma PA 106
1.2 | Conceito de Progressões Geométricas (PG) 114
1.2.1 | Termo geral de uma PG 114
1.3 | Sequências monótonas e limitadas 118

Seção 2 - Séries numéricas 127


2.1 | Conceituando séries numéricas 127
2.2 | Séries infinitas 129
2.3 | Convergências e divergência de séries 135
2.3.1 | Série Geométrica 137
2.3.2 | Série-p 139
2.3.3 | Série alternada 140
2.3.4 | Teste da Comparação dos Limites 141
2.3.5 | Séries absolutas 141
Unidade 4 | Topologia da Reta e Aplicações 149
Seção 1 - Topologia da reta 153
1.1 | Conceitos topológicos 153
1.2 | Topologia na reta real 155
1.2.2 | Conjuntos fechados 160
1.2.3 | Pontos de acumulação 164
1.2.4 | Conjuntos compactos 167

Seção 2 - Aplicações da análise real 171


2.1 | Limites 171
2.1.1 | Noção intuitiva de limite 173
2.2 | Limites e continuidade 176
Apresentação
Os três grandes ramos da matemática são a álgebra, a geometria e a análise,
sendo a análise a mais recente no desenvolvimento da matemática. Os estudos
nesse ramo deram subsídios para o desenvolvimento da própria matemática, com
conceitos infinitesimais, e também para outras áreas como a física, engenharias,
dentre outras.

Por meio de leis para casos específicos podemos transpor para acontecimentos
mais gerais, como os estudos de limites, continuidades, cálculo diferencial e integral,
equações diferenciais, análise numérica, dentre outros. Desde o surgimento do
cálculo, a análise permeou todas as áreas da matemática devido a aplicações de
muitos de seus conceitos.

Atualmente, temos estudos que recorrem à análise, nos quais resultados


importantes têm sido obtidos, como a teoria da medida, funções de variáveis
complexas, análise harmônica, análise funcional, equações diferenciais, teoria das
probabilidades.

Este livro está organizado em quatro unidades para abranger os conteúdos


previstos na disciplina de Análise Matemática. Na primeira unidade abordaremos
o processo lógico dedutivo envolvido nas provas e demonstrações matemáticas e
trataremos sobre os conjuntos numéricos.

Na segunda unidade, discutiremos sobre conjuntos com as principais


propriedades e definições, conjuntos enumeráveis e não enumeráveis, conjuntos
finitos, infinitos, estrutura de corpo e o conjunto dos números reais como um
corpo ordenado completo.

Quanto à terceira unidade, temos como objetivo definir, conceituar e demonstrar


resultados relacionados à sequência e limite de uma sequência, convergência de
sequência, sequências monótonas, limites e desigualdades, operações com limites
e os testes de convergência para séries.

E na última unidade, lidaremos com conjuntos abertos e fechados, pontos de


acumulação e conjuntos compactos, definindo e conceituando os itens destacados.
Além disso, apresentaremos aplicações da análise por meio de demonstrações de
resultados relacionados com limites e continuidade.

Bons Estudos!

Profa. Me. Debora Cristiane Barbosa Kirnev


Unidade 1

CONJUNTOS NUMÉRICOS

Debora Cristiane Barbosa Kirnev

Objetivos de aprendizagem: Nesta unidade temos como objetivo


retomar os conceitos relacionados aos números e abordar o processo de
demonstrações matemáticas provando alguns resultados referentes aos
conjuntos numéricos.

Ao final desta unidade, espero que compreenda os conceitos e as


definições sobre os números reais e entenda o processo de prova formal
aplicado às sentenças matemáticas neste conjunto.

Estes conceitos são fundamentais para o desenvolvimento crítico das


propriedades matemáticas e estimular conjecturas e averiguações de
resultados.

Bons estudos!

Seção 1 | Análise e o processo de demonstrações matemáticas


Nesta seção apresentamos algumas situações pertinentes para
estudo da Análise, a fim de justificar a necessidade de se estudar essa
disciplina. Posteriormente, trataremos dos processos de demonstrações
matemáticas, que são os recursos que utilizamos para justificar as
sentenças matemáticas.
U1

Seção 2 | Conjuntos numéricos


Nesta seção, retomaremos a axiomatização dos números naturais
e as estruturas algébricas para definirmos e demonstrarmos resultados
relacionados aos conjuntos numéricos.

8 Conjuntos Numéricos
U1

Introdução à unidade

Na Educação Básica, o conteúdo dos números reais é apresentado, em muitos


livros, simplesmente como a união dos racionais com os irracionais. É o papel
da Análise promover uma abordagem axiomática sobre esse conjunto numérico,
para tanto retomaremos os conceitos sobre esses números e também sobre
como provar resultados e sentenças matemáticas. A partir disso, realizaremos a
estruturação axiomática dos conceitos relacionados aos números reais, sendo
essa uma ferramenta para preparar o futuro professor para justificar os conceitos
pertinentes aos conjuntos numéricos.

Na primeira seção, abordaremos os principais conceitos sobre os números que


serão base para definições e resultados posteriores. Também trataremos sobre o
processo de demonstrações matemáticas que é método dedutivo utilizado para
provar os resultados em Matemática.

Na segunda seção, aprenderemos sobre proposições relacionadas aos


conjuntos numéricos recorrendo às formas de demonstrações e estruturas
algébricas para justificar alguns resultados.

Tenha um bom estudo e aproveite ao máximo o conteúdo para aprofundar os


conhecimentos já adquiridos no decorrer do curso.

Conjuntos Numéricos 9
U1

10 Conjuntos Numéricos
U1

Seção 1
Análise e o Processo de Demonstrações
Matemáticas
Introdução à seção
Nesta seção, estudaremos conceitos relacionados aos números, mas é papel da
análise justificar o conceito de infinito aplicado, por exemplo, nas dízimas periódicas
e números irracionais, para justificar tais conceitos utilizando o processo lógico
dedutivo adotado nas demonstrações matemáticas. O estudo da análise é alicerçado
no conjunto dos números reais, deste modo, realizaremos considerações sobre esses
números e posteriormente provaremos alguns resultados referentes aos números.

1.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS NÚMEROS


Desde a antiguidade os homens primitivos já se depararam com a necessidade de
contar, surgindo o conceito de número, e com o desenvolvimento das civilizações
originaram-se diferentes sistemas de numeração, sendo que atualmente adotamos
o sistema de numeração decimal hindu-arábico, com valores posicionais e
construídos com os algarismos 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9.

No processo de contagem, adotamos o conjunto dos números naturais: em


algumas circunstâncias adotamos o conjunto com o primeiro elemento sendo
o um, em outras adotamos como primeiro elemento o zero. Temos que todo
número natural possui um sucessor, isto é:

Seja m um número natural, o sucessor de m é m+1.

No conjunto dos números naturais, podemos destacar as sequências numéricas,


posteriormente definiremos uma sequência real atrelada ao conceito de função.
Nesta abordagem veremos somente o termo geral das sequências de números
naturais, considerando os naturais como N= {1, 2, 3, 4, 5, ...n, n+1}.

Destacamos o conjunto dos números naturais pares que denominaremos de


conjunto P = {2, 4, 6, 8, 10, 12, ... 2n}.

Conjuntos Numéricos 11
U1

No conjunto dos números naturais ímpares também denominado de I a sequência


dos números ímpares, que pode ser expressa por I = {1, 3, 5, 7, 9, 11, 13, ... 2n -1}.

A generalização das sequências dos números pares e ímpares


seria diferente se tivéssemos considerado o conjunto N= {0, 1, 2,
3, 4, 5, ...n, n+1}?

Além dessas sequências, podemos destacar as sequências dos números


múltiplos, como, por exemplo, 3N = {3, 6, 9, 12, ..., 3n}, ou ainda 7N = {7, 14, 21, 28,
... 7n}. Essas sequências podem ser combinadas com outras operações em que é
possível obter uma generalização, vejamos alguns exemplos:

a) {5, 8, 11, 14, ..., 3n+2}

b) {2, 7, 12, 17, ..., 5n -3}

Podemos ter outras sequências que envolvem operações como, por exemplo, a
potenciação e que requerem um processo de generalização. Após a generalização
dessas sequências, precisamos provar, matematicamente, o que veremos
posteriormente ao abordarmos as demonstrações matemáticas.

Outro conceito relacionado com os naturais é que:

Um número primo é um número natural com exatamente dois divisores


naturais distintos, isto é, um número natural divisível por um e por ele mesmo.

Vejamos os seguintes exemplos:

a) 1 não é primo, pois D(1)={1}.

b) 2 é primo, pois D(2)={1,2}.

12 Conjuntos Numéricos
U1

c) 3 é primo, pois D(3)={1,3}.

d) 5 é primo, pois D(5)={1,5}.

e) 7 é primo, pois D(7)={1,7}.

Como verificar se o número 243 é um número primo? Existe


alguma estratégia ou seria apenas por inspeção?

Observamos que o número 1 não é primo porque tem apenas um divisor.


Sobre os números primos e a decomposição de números compostos em primos,
como, 50 = 5². 2, é baseado no Teorema Fundamental da Aritmética que pode
ser enunciado como:

Todo número inteiro maior ou igual a dois pode ser representado por fatores
de números primos. Essa decomposição será única, podendo mudar apenas a
ordem dos fatores.

O Crivo de Eratóstenes verifica por meio de inspeção os números


primos, acesse o link a seguir e estude sobre o assunto.
Disponível em: <http://massarandubamathematics.blogspot.com.
br/2013/05/o-crivo-de-eratostenes-numeros-primos.html>. Acesso
em: 24 jul. 2015.

A seguir, retomamos algumas das propriedades válidas em N.

Propriedades da adição

Fechamento: O conjunto N é fechado para a adição, ou seja, a soma de dois

Conjuntos Numéricos 13
U1

números naturais será um número natural.

Associativa: Para todos a, b, c pertencentes a N:

a+(b+c)=(a+b)+c

15 + ( 12 + 4 ) = ( 15 + 12 ) + 4

15 + 16 = 27 + 4

31 = 31

Comutativa: Para todos a, b pertencentes a N:

a+b=b+a

18 + 6 = 6 + 18

24 = 24

Elemento neutro: Existe 0 em N, que somado a cada n em N, será o próprio


número n, ou seja:

n+0=n

17 + 0 = 17

Propriedades da multiplicação

Fechamento: O conjunto N é fechado para a multiplicação, ou seja, o produto de


dois números inteiros será um número inteiro.

Associativa: Para todos a, b, c pertencentes a N:

a*(b*c)=(a*b)*c

20 * ( 5 * 7 ) = ( 20 * 5 ) * 7

20 * 35 = 100 * 7

700 = 700

14 Conjuntos Numéricos
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Comutativa: Para todos a, b pertencentes a N:

a*b=b*a

70 * 50 = 50 * 70

3500 = 3500

Elemento neutro: Existe 1 em N, que multiplicado a cada n em N, será o próprio n:

n*1=n

19 * 1 = 19

Propriedade distributiva: Para todos a, b, c em N:

a*(b+c)=(a*b)+(a*c)

7 * ( 40 + 50 ) = ( 7 * 40 ) + ( 7 * 50 )

7* 90 = 280 + 350

630 = 630

Além do exposto, temos que a operação de subtração e divisão não é fechada


no conjunto dos números naturais, surgindo a necessidade de definir e conceituar
os números negativos e as frações.

Quanto ao conjunto dos números inteiros, é constituído dos números negativos,


o zero e os números positivos, formando o que denominamos de números relativos.
Desde o período do Renascimento, os matemáticos perceberam a necessidade de
um novo tipo de número, que pudesse ser a solução de equações tais como:

• x + 2 = 0, em que x= -2

• 2x + 10 = 0, em que x= -5

• 4y + 4 = 0, em que y= -1

A partir dos sinais + e – utilizados pelos comerciantes da época, os matemáticos


adotaram essa notação para expressar o novo tipo de número. Realizada essa
sistematização formal da notação, definiu-se o conjunto dos números inteiros

Conjuntos Numéricos 15
U1

como a união do conjunto dos números naturais, o conjunto dos opostos dos
números naturais e o zero. E ainda é denotado pela letra Z (Zahlen = número em
alemão), sendo escrito como Z = {..., -4, -3, -2, -1, 0, 1, 2, 3, 4,...}.

Temos que o sucessor de um número inteiro está imediatamente à sua direita


na representação da reta numérica, e de modo análogo, o antecessor de um
número inteiro está imediatamente à sua esquerda na reta. Outra consideração
é que todo número inteiro, com exceção do zero, possui um elemento simétrico
ou oposto indicado por –z. Analisando, geometricamente, tanto z como -z estão à
mesma distância da origem do conjunto Z, ou seja, distam igualmente do 0.

Retomamos algumas das propriedades válidas em Z. Observando que as


propriedades apresentadas para os naturais são válidas, de modo análogo, para o
conjunto dos números inteiros, acrescentamos outra propriedade da adição que
denominamos de elemento oposto, ou seja, para todo z em Z, existe (-z) em Z, tal que:

z + (-z) = 0

76 + (-76) = 0

Além disso, a subtração de dois números inteiros a e b é a própria operação de


adição do número a com o oposto de b, ou seja:

a - b = a + (- b).

Ressaltamos que para realizar a multiplicação de números inteiros devemos


atender à regra de sinais que será válida para os demais conjuntos numéricos,
vejamos o seguinte exemplo:

(+1) × (+1) = (+1)

(+1) × (-1) = (-1)

(-1) × (+1) = (-1)

(-1) × (-1) = (+1)

Observamos que o produto de dois números de mesmo sinal tem um resultado


positivo, e o produto de dois números com sinais diferentes tem um resultado negativo.

16 Conjuntos Numéricos
U1

Outro conceito primitivo é o de medir, sendo que contar e medir são elementos
associados às atividades matemáticas. Porém, apesar de considerarmos os naturais
adequados para realizar contagens, podem não ser suficientes para realizar
medidas, nas quais surge a necessidade de subdividir a unidade, e emerge dessa
ação o conceito de fracionar, ou seja, dividimos uma unidade em partes.

Podemos definir frações como os numerais que representam números racionais


não negativos. Os números inteiros utilizados na fração são chamados numerador
e denominador, indicados com a seguinte notação:

O numerador representa quantas partes são consideradas do inteiro, ou seja,


o número inteiro escrito sobre o traço de fração, e denominador representa em
quantas partes dividimos o inteiro, sendo necessariamente diferente de zero.
Observamos que os números decimais se originam das frações decimais. Por
exemplo, a fração 1/2 equivale à fração 5/10 que equivale ao número decimal
0,5. Toda fração decimal pode ser representada por um número decimal, ou seja,
um número que tem uma parte inteira e uma parte decimal, separados por uma
vírgula. Por exemplo, a fração 123/100 pode ser representada como 1,23.

Ao associarmos os números relativos inteiros com o conceito de fração surge


o conjunto dos números racionais. Neste conjunto, dividimos uma unidade em
qualquer número de partes que ansiamos e os racionais são suficientes para
representar resultados práticos de medidas, mas existem algumas situações nas
quais não podemos determinar com precisão uma medida, são os casos em que
ao fracionarmos obtemos dízimas.

Podemos definir que um número racional é escrito na forma em que m e n são


números inteiros, sendo que n deve ser não nulo, ou seja, n deve ser diferente de zero.
Usualmente adotamos m/n para significar a divisão de m por n. Podemos notar que
os números racionais são obtidos por meio da razão entre dois números inteiros. O
termo originado do latim ratio pode ser entendido como a razão, divisão ou quociente
entre dois números inteiros, é por esse motivo que o conjunto dos números racionais
é indicado por Q. Em termos notacionais, temos que:

Q = {m/n : m e n em Z, n diferente de zero}

Ao representar geometricamente o conjunto dos números racionais em uma


reta numerada, podemos ilustrar algumas representações de racionais, conforme

Conjuntos Numéricos 17
U1

as indicadas na Figura 1.1.

Figura 1.1 | Reta numérica dos racionais

Fonte: A autora (2015).

Notamos que a ordem dos números racionais será crescente, ou seja, indicamos
da esquerda para a direita. Adotamos que um número racional r é menor do que
outro número racional s se a diferença r - s é positiva. No caso dessa diferença r - s
ser negativa, indicamos que o número r é maior do que s.

A seguir, definiremos a adição de dois números racionais a/b e c/d, de modo que:

Quanto ao produto de dois números racionais a/b e c/d, podemos definir como:

Para a operação de multiplicação no conjunto dos racionais é válida a


propriedade do elemento inverso, ou seja:

Para todo q=a/b nos racionais, sendo q diferente de zero, existe q -1=b/a nos
racionais, tal que q × q -1 = 1.

Já a operação de divisão de números racionais recorre à propriedade de


elemento inverso, de modo que a divisão de dois números racionais p e q é um
produto do número p pelo inverso de q, ou seja, p ÷ q = p × q -1.

18 Conjuntos Numéricos
U1

O que são números decimais?

Devido ao sistema de numeração posicional, podemos representar os números


estritamente racionais com a escrita de algarismos à direita da unidade, sendo que
separamos a parte inteira da fracionada pela vírgula que é obtida pela divisão do
numerador pelo denominador.

Por exemplo, 3/4 pode ser representado como 0,75 e ainda 3/2 pode ser
indicado como 1,5. Mas ao indicarmos 1/3 nesta representação, obtemos uma
divisão que sempre possui resto, ou seja, teremos 0,333... e esse procedimento
não é possível de ser concluído. Atribuímos a esses pontos indicados na parte
fracionária a indicação de uma sequência infinita de algarismos, a qual trataremos
posteriormente, associada ao conceito de limite.

Denominamos esse tipo de número de dízima periódica, e denominamos


a parte que se repete de período. Adotaremos a indicação do período como a
indicação sublinhada, vejamos alguns exemplos:

a) 0,5555... = 0,5

b) 1,3333... = 1,3

c) 23,2323... = 23,23

d) 0,7777... = 0,7

e) 4,2333... = 4,23

Podemos classificar as dízimas como simples, que é quando a parte decimal é


formada pelo período.

a) 0,4444...

b) 5,454545...

Ou ainda, podemos ter uma dízima composta, em que há na parte decimal


algarismos que não fazem parte do período.

Conjuntos Numéricos 19
U1

a) 2,47777...

b) 0,51333...

Podemos reescrever uma dízima periódica como uma soma infinita de números
decimais.

a) 0,4444...= 0,4 + 0,04 + 0,004 + 0,0004 +...

b) 0,7222...= 0,7 + 0,02 + 0,002 + 0,0002 + ...

c) 3,5733...= 3,57 + 0,003 + 0,0003 + ...

Um conceito relacionado com fração são as dízimas periódicas.


Como representá-las na forma de fração?

O número racional que possui a representação decimal sendo uma dízima


periódica é denominado de geratriz. Utilizando o fato que uma dízima periódica
pode ser representada como a soma infinita de termos, exemplificaremos como
obter a geratriz.

Considere D a dízima periódica 0,66666..., ou seja, D=0,6. Neste caso, temos


uma dízima periódica simples, pois o período é formado apenas pelo algarismo 6.

I) Reescrevendo D como a soma de infinitos números decimais, temos:

D = 0,6 + 0,06 + 0,006 + 0,0006 + 0,00006 +...

II) Multiplicaremos essa igualdade por 10, e obtemos:

10D = 6 + 0,6 + 0,06 + 0,006 + 0,0006 +...

III) Ao subtrairmos membro a membro a equação em I) da equação em II), temos:

10 D - D = 6

IV) Temos que:

20 Conjuntos Numéricos
U1

9D=6

V) Isolando D e simplificando, teremos:

D=

De modo análogo, esse procedimento pode ser aplicado para as dízimas


compostas. Verificamos que no conjunto dos números racionais podemos realizar
as operações de somar, subtrair, multiplicar e dividir racionais, mas não se pode
dividir por zero.

Veremos outra problemática pertinente ao estudo dos números.

Como calcular a medida da diagonal de um quadrado unitário?

Neste problema recorremos ao teorema de Pitágoras e temos que determinar a


medida da hipotenusa de um triângulo retângulo isósceles, cujos catetos medem
uma unidade. Observe a Figura 1.2, que ilustra a situação descrita:

Figura 1.2 | Triângulo retângulo isósceles

Fonte: A autora (2015).

Temos que pelo teorema de Pitágoras a² = b²+ c², assim a² = 1² + 1², ou seja,
a²= 2, o que implica em a = .

Na Educação Básica, justificamos esse fato com a necessidade de termos o


conjunto dos números irracionais indicado por I, uma vez que:

= 1,414213562373095...

Trata-se de uma dízima não periódica, ou seja, não pode ser escrita na forma
de fração, isto é, não há geratriz para esse número, que é a condição para termos
um número racional.

Conjuntos Numéricos 21
U1

Outra problemática está relacionada com a circunferência ao realizarmos:

A razão entre o perímetro e o diâmetro da circunferência que resulta no número


denominado de Pi =3,1416...

Esse fato decorre de que os círculos são figuras semelhantes. Ao recorrermos à


análise podemos calcular Pi pela aplicação de séries infinitas.

Conheça mais sobre a história do número Pi, acesse o link a seguir e


estude o assunto.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=auk0ak_RzOk>.
Acesso em: 24 jul. 2015.

Por meio de uma noção intuitiva para lidar com os conjuntos naturais, inteiros,
racionais, irracionais e reais, podemos realizar a distinção entre os conjuntos a
partir da natureza do número pertencente a cada um dos conjuntos, como, por
exemplo:

N = {0, 1, 2, 3, ... n, n+1, ...}, em que os naturais são os números inteiros não
negativos incluindo o zero.

Z = {... – n -1, - n, ... , -2 , -1 , 0 , 1 , 2, ..., n, n+1, ...}, formado pelos números inteiros
negativos, positivos e o zero.

Q = {a/b sendo a, b pertencentes a Z e com b diferente de 0}.

I = são aqueles que não podem ser expressos como números racionais.

A partir disso, adotamos o conjunto dos números reais como a união dos
racionais com os irracionais e geralmente se ilustra esse conjunto por meio do
diagrama de Venn-Euler indicado a seguir:

22 Conjuntos Numéricos
U1

Figura 1.3 | Conjuntos numéricos

Fonte: A autora (2015).

1. (MPU 2007 - adaptado) Seja X o menor número positivo que


multiplicado por 7 resulta em um número cujos algarismos
são todos iguais a 5. O número X será:
a) Um quadrado perfeito.
b) Menor que 60 000.
c) Divisível por 9.
d) Tal que o produto 7X tem 5 algarismos.
e) Tem a soma de algarismos igual a 30.

2. Observe as seguintes operações e busque um padrão e


regularidade:
11² = 121
111² = 12 321
1 111² = 1234 321
11 111² = 123 454 321
.
.
O resultado da soma dos algarismos de 111 111 111² será:

Conjuntos Numéricos 23
U1

a) Um número par.
b) Maior que 90.
c) Menor que 80.
d) Divisível por 3.
e) Um cubo perfeito.

3. Considere x e y números naturais. O resultado da divisão de


x por y foi a dízima periódica 5,333... Dividindo-se y por x, o
resultado obtido será igual a:
a) 2,333...
b) 0,1875
c) 0,1875...
d) 0,333...
e) 0,1833

1.2 Processo Lógico Dedutivo para Demonstrações Matemáticas


Nesta subseção retomaremos os elementos da Lógica para abordarmos
posteriormente o processo lógico dedutivo utilizado nas formas de demonstrações.

1.2.1 Elementos da Lógica


Para realizarmos inferências podemos recorrer a uma argumentação por meio
da Lógica. Segundo Salmon (2010, p. 1), a “Lógica trata de argumentos e inferências.
Um dos seus objetivos fundamentais consiste em proporcionar métodos que
permitem distinguir entre argumentos e inferências logicamente certos e aqueles
que não o são”.

Existem argumentos cujo propósito é convencer, porém são falaciosos, e ainda


existem argumentos logicamente corretos que não convencem, porém são uma
prova dedutiva válida.

24 Conjuntos Numéricos
U1

Resolva o seguinte problema sobre dedução lógica:


Ana e Júlia, ambas filhas de Márcia, fazem aniversário no mesmo dia. Ana,
a mais velha, tem olhos azuis; Júlia, a mais nova, tem olhos castanhos.
Tanto o produto como a soma das idades de Ana e Júlia, consideradas as
idades em número de anos completados, são iguais a números primos.
Segue-se que a idade de Ana – a filha de olhos azuis –, em número de
anos completados, é igual:
a) À idade de Júlia mais 7 anos.
b) Ao triplo da idade de Júlia.
c) À idade de Júlia mais 5 anos.
d) Ao dobro da idade de Júlia.
e) À idade de Júlia mais 11 anos.
Fonte: <http://www.tutorbrasil.com.br/forum/matematica-concursos-
publicos/problema-das-idades-t4650.html>. Acesso em: 17 jul. 2015.

Na estruturação da Lógica, precisamos compreender que um argumento é


formado de uma sequência finita de enunciados, em que o último enunciado é
a conclusão do argumento, os anteriores à conclusão são considerados como
premissas. Se o argumento for consistente, então será válido e poderá ser julgado
como verdadeiro ou falso. Será verdadeiro, quando pudermos, a partir das
premissas, deduzir uma conclusão verdadeira; caso contrário, será falso.

Temos que os tipos de argumentos podem ser dedutivos ou indutivos. Segundo


Salmon (2010, p. 8), os argumentos são:

Dedutivos
I. Se todas as premissas são verdadeiras, a conclusão deve ser
verdadeira.
II. Toda a informação ou conteúdo fatual na conclusão já estava
contida nas premissas, pelo menos implicitamente.
Indutivos
I. Se todas as premissas são verdadeiras, a conclusão é
provavelmente verdadeira, mas não necessariamente.
II. A conclusão contém informação não presente, mesmo
implicitamente, nas premissas.

Conjuntos Numéricos 25
U1

Essas condições servem para distinguir os argumentos dedutivos dos indutivos.


Ainda, Salmon (2010, p. 14) aponta combinações possíveis em argumentos válidos
“1- Premissas verdadeiras e uma conclusão verdadeira. 2- Alguma ou todas as
premissas falsas e uma conclusão verdadeira. 3- Algumas ou todas as premissas
falsas e uma conclusão falsa”.

Desse modo, precisamos analisar as estruturas de sentenças para verificar a


validade dos argumentos. Além disso, a argumentação é baseada nos princípios
axiomáticos da Lógica Formal, que Gerônimo e Franco (2006, p. 16) definem:

1. O princípio da identidade garante que uma


proposição é igual a si mesma. Isso parece
estranho em um primeiro momento, mas do
ponto de vista formal é necessário garantir isto.
2. Princípio da não contradição: uma proposição
não pode ser verdadeira e falsa.
3. Princípio do terceiro excluído: uma
proposição ou é verdadeira ou é falsa; não
existe uma terceira alternativa.

As premissas e conclusões são sentenças declarativas que denominamos de


proposição, sendo atribuídos os valores lógicos de verdadeiro ou falso. Vejamos
alguns exemplos de proposições:

a) Um número natural ou é par ou é impar.

b) O número um é um número primo.

c) Todo número racional é inteiro.

d) Todo número natural é inteiro.

Dentre os exemplos, temos proposições que são verdadeiras e outras que são
falsas, para assumir que uma proposição é verdadeira precisamos demonstrá-la
matematicamente; para assumir que é falsa basta apresentar um contraexemplo,
veremos as formas de demonstrações posteriormente.

No caso de termos uma proposição que não é passível de atribuir valor lógico,
denominamos de uma conjectura. Podemos destacar como exemplo a conjectura

26 Conjuntos Numéricos
U1

de Goldbach, que demorou 271 anos para ser demonstrada, vejamos:

Todo número ímpar maior que cinco pode ser expresso como soma de três
números primos.

A propriedade fundamental de uma proposição é que ela é verdadeira ou falsa.


Outro elemento que pode surgir numa demonstração são os conectivos lógicos,
e recorremos a tabelas verdades para justificar o seu valor lógico. Na linguagem
natural, conectivos são palavras ou grupos de palavras usadas para juntar duas
sentenças; em termos de estruturas lógicas, são operadores que viabilizam o
cálculo proposicional.

I) Para conhecer mais sobre a prova da conjectura de Goldbach, acesse


o link indicado a seguir: <http://noticias.terra.com.br/educacao/
peruano-resolve-problema-matematico-indecifravel-havia-271-anos,f
7ccbe63ec6de310VgnVCM4000009bcceb0aRCRD.html>.
Acesso em: 17 jul. 2015.

II) Para aprender mais sobre o desenvolvimento da lógica e da


argumentação, recomento a leitura do livro de Machado e Cunha
intitulado de Lógica e linguagem cotidiana - verdade, coerência,
comunicação, argumentação, publicado pela editora Autêntica em 2008.

Como seria a negação de uma posição com conectivos lógicos?

Destacamos a seguir os conectivos, apresentaremos a respectiva tabela verdade


e indicaremos as proposições por letras minúsculas:

• Negação: a negação de todo enunciado verdadeiro é falsa e a negação de todo

Conjuntos Numéricos 27
U1

enunciado falso é verdadeira.

Tabela 1.1 | Negação

p ~p

V F

F V
Fonte: A autora (2015).

Observamos que para negar uma proposição do tipo ∀ x: p(x) temos que afirmar
que ∃ x: ~p(x).

Ao afirmarmos que todos os números inteiros são racionais, a negação será


existe um número inteiro que não é racional. Deste modo, se a afirmação é
verdadeira, então a sua negação será falsa.

• Conjunção: uma conjunção é verdadeira se ambos os seus conjuntivos forem


verdadeiros, caso contrário, é falsa.

Tabela 1.2 | Conjunção


P q p^q
V V V
V F F
F V F
F F F
Fonte: A autora (2015).

Neste caso, a negação será: ~ ( p ^ q ) = ~p v ~q

Ao afirmarmos que o número 6 é divisível por 2 e por 3, temos que a negação


será o número 6 não é divisível por 2 ou por 3.

• Disjunção (inclusiva): a disjunção inclusiva é verdadeira se um dos disjuntivos


ou ambos forem verdadeiros, só no caso de ambos serem falsos é que teremos
uma proposição falsa.

28 Conjuntos Numéricos
U1

Tabela 1.3 | Disjunção inclusiva


p q p˅q
V V V
V F V
F V V
F F F
Fonte: A autora (2015).

Sua negação será: ~ ( p v q ) = ~p ^ ~q

Ao afirmarmos que existe número racional que é natural ou inteiro, a sua


negação será todo número racional não é natural e não é inteiro.

• Disjunção (exclusiva): a disjunção exclusiva é verdadeira se apenas um dos


disjuntivos for verdadeiro, o que significa que será falsa no caso de ambos
disjuntivos serem falsos ou verdadeiros.

Tabela 1.4 | Disjunção exclusiva


p q p ˅ q ^ ~ (p ^ q)
V V F
V F V
F V V
F F F
Fonte: A autora (2015).

Sua negação será: ~ ( p v q ) = ~p ^ ~q

Ao afirmarmos que um número real será estritamente racional ou irracional,


a sua negação será um número real não será estritamente racional e irracional.

• Condicional: caracteriza-se uma relação de consequência necessária entre a


primeira e a segunda proposições – de tal forma que a primeira proposição é tida
como a causa ou condição suficiente para que aconteça a segunda proposição e
a segunda proposição é a consequência ou condição necessária da primeira. Um
enunciado condicional afirma que seu antecedente implica seu consequente.

Conjuntos Numéricos 29
U1

Tabela 1.5 | Condicional


p q p→q
V V V
V F F
F V V
F F V
Fonte: A autora (2015).

Sua negação será: ~ (p → q) = p ^ ~q

Ao afirmarmos que se um número é divisível por 9 então também é divisível por


3, a sua negação será um número é divisível por 9 e não é divisível por 3.

• Bicondicionais: são proposições em que a verdade de uma das condições – seja


o antecedente, seja o consequente – implica a verdade da outra e a falsidade de
uma das condições, qualquer que seja, implica a falsidade da outra. Neste caso,
temos que a recíproca de uma proposição será verdadeira. Seu símbolo é “ ”
que é lido “se e somente se”.

Tabela 1.6 | Bicondicional


p q p↔q
V V V
V F F
F V F
F F V
Fonte: A autora (2015).

Sua negação será: ~ (p ↔ q) = ~p V ~q

Ao afirmarmos que um número é primo se, e somente se, possuir dois divisores,
a sua negação será um número não é primo ou não possui dois divisores.

Observamos que temos proposições que são tidas como equivalentes, por
exemplo, p → q é equivalente a ~q � → ~p, podemos verificar por meio de uma
tabela verdade essa equivalência, vejamos o caso da contrapositiva:

Tabela 1.7 | Contrapositiva


p q ~p ~q p→q ~q → ~p (p → q )↔(~q → ~p)
V V F F V V V

30 Conjuntos Numéricos
U1

V F F V F F V
F V V F V V V
F F V V V V V
Fonte: A autora (2015).

Observe que na parte destacada temos uma coluna com resultados apenas
verdadeiros, isso ocorre, pois a coluna de p � → q possui os mesmos valores lógicos
de ~q � → ~p. Quando aplicarmos a bicondicional e tivermos todos os resultados
verdadeiros, temos uma tautologia, ou seja, há uma equivalência lógica: se tivermos
todos os resultados falsos, então será uma contradição, e se tivermos resultados
verdadeiros e falsos teremos uma contingência. Outro exemplo é a redução por
absurdo em que p � → q é equivalente a p ^ ~q � → F, vejamos a tabela verdade:

Tabela 1.8 | Redução ao absurdo


p q ~q p �→ q p ^ ~q F p ^ ~q → F (p → q )↔(p ^ ~q → F)
V V F V F F F V
V F V F V F V V
F V F V F F F V
F F V V F F F V
Fonte: A autora (2015).

Conheça mais sobre conectivos e tabelas verdades, acesse o link a


seguir e estude sobre o assunto.
Disponível em: <https://docente.ifrn.edu.br/cleonelima/disciplinas/
fundamentos-de-programacao-2.8401.1m/fundamentos-de-logica-
e-algoritmos-1.8401.1v/apostila-proposicoes-tabelas-verdade-
conectivos-logicos>. Acesso em: 24 jul. 2015.

1.2.2 Conceituando demonstrações matemáticas


Quando precisamos provar um resultado, podemos recorrer a métodos
empíricos como experiências realizadas em áreas como a química e a física, ou
podemos precisar de um método dedutivo que é o aplicado em matemática.
Neste sentido, na Matemática alguma propriedade é aceita como verdadeira se for
válida para todos os elementos do conjunto ao qual pertence.

Conjuntos Numéricos 31
U1

No contexto da matemática, provas e demonstrações são


sinônimos?

Demonstrações são tidas como um método dedutivo ou raciocínio dedutivo


que valida as afirmações matemáticas, porém outro termo utilizado é que são
provas matemáticas.

Averiguamos os significados de prova e demonstrações, conforme indicado a


seguir. No dicionário Houaiss (2009), prova é “1 aquilo que demonstra que uma
afirmação ou um fato são verdadeiros; evidência, comprovação; 2 experiência
científica; demonstração, experimento; 3 qualquer experimento para verificar ou
testar a qualidade de uma coisa”.

Quanto ao dicionário filosófico Abbagnano (2000, p. 239-240), prova é um:

Procedimento apto a estabelecer um saber,


isto é, um conhecimento válido. Constitui P.
todo procedimento desse gênero, qualquer que
seja sua natureza: mostrar uma coisa ou um
fato, exibir um documento, dar testemunho,
efetuar uma indução são P. tanto quanto as
demonstrações da matemática e da lógica.
Portanto esse termo é mais extenso que
demonstração (v): as demonstrações são P., mas
nem todas as P. são demonstrações.

Já o termo demonstrações no dicionário Houaiss (2009) significa “1 ato ou


efeito de demonstrar; 2 qualquer recurso capaz de atestar a veracidade ou a
autenticidade de alguma coisa; prova; 3 raciocínio que torna evidente o caráter
verídico de uma proposição, ideia ou teoria”.

No dicionário filosófico Abbagnano (2000, p. 805), demonstração está definida


como:

32 Conjuntos Numéricos
U1

O termo D. e seu conceito foram introduzidos na Lógica por


Aristóteles (Top., I 100a 27; An.post., I, 2 e passim) como silogismo
que deduz uma conclusão de princípios primeiros e verdadeiros
de outras proposições deduzidas silogisticamente de princípios
primeiros e evidentes. [...] Mas, enquanto do ponto de vista
gnosiológico se acentuaram os caracteres de necessidade e
evidência intuitiva da D. (Descartes, Kant), do ponto de vista lógico
evidenciou-se o caráter de dedução formal a partir de premissas
(Descartes, Leibniz), o que distingue a D. (cujo tipo ou ideal
continua sendo a D. matemática) de outros gêneros de prova.

Se considerarmos o termo prova em qualquer contexto, pode ser entendida


como prova empírica ou prova dedutiva, sendo o termo demonstração aplicado
ao processo dedutivo. Mas no contexto específico da matemática, recorremos a
Almouloud (2009) que adota os termos provas e demonstrações como sinônimos
e outros autores utilizam esses termos deste modo. Sendo assim, mesmo que
prova seja uma palavra abrangente a outras ciências, quando citarmos prova em
matemática entenderemos como uma demonstração.

Bicudo (2002) define uma demonstração em termos lógicos sendo um sistema


formal que é a parte sintática de um sistema axiomático, formado pela linguagem
e seus símbolos, expressões e fórmulas, pelos axiomas e pelas regras de inferência.
Tais componentes asseguram a partir de certas condições, que a conclusão da
demonstração que denominamos de tese pode ser inferida de outras premissas que
denominamos de hipótese. O mesmo autor caracteriza demonstração de modo que:

Seja, agora, F um sistema formal em que


todas as regras sejam finitas. Então, uma
DEMONSTRAÇÃO em F é uma sequência finita
de fórmulas, em que cada uma seja ou um axioma
ou seja conclusão de uma regra cujas hipóteses
precedem essa fórmula na sequência dada. Se
A for a última fórmula em uma demonstração
P, diremos que P é uma DEMONSTRAÇÃO de A.
Uma fórmula de A de F será um teorema de F se
existir uma demonstração de A (BICUDO, 2002,
p. 83, grifos do autor).

Conjuntos Numéricos 33
U1

O que é preciso para realizar uma demonstração matemática?

Considerando os processos mentais envolvidos em uma demonstração


matemática, entendemos que um indivíduo recorre à razão ou racionalidade.
Segundo Balacheff (2004), é por meio da racionalidade que se busca o raciocínio
lógico necessário para se demonstrar. O autor explica que a racionalidade,

[...] densa em toda a vida do ser humano, seja


em um indivíduo ou em um nível coletivo.
Por ‘racionalidade’ entendemos o sistema dos
critérios ou regras mobilizado quando se tem
que fazer escolhas, tomar decisões, ou para
realizar julgamentos. [...] Essas regras e critérios
poderiam originar-se de opinião, crença
ou saber, mas em todos os casos, eles são
organizados em uma estrutura, que permite a
tomada de decisão1 (BALACHEFF, 2004, p. 1).

Entendemos que no processo de demonstração está implícita a racionalidade


do indivíduo, que em muitos casos é chamado de raciocínio lógico dedutivo.
Sobre o assunto, Balacheff (2004, p. 2) assegura que,

[...] a racionalidade nos permite raciocinar e decidir, é então


a base de qualquer processo de prova. Como vemos, a
racionalidade em geral, e sua relação com a matemática, em
particular, é um ponto-chave para nossa compreensão de
qualquer obra de arte em nosso campo de pesquisa.2

1
Tradução nossa: “[...] rationality is dense everywhere in human being life, either at an individual or a
collective level. By “rationality” is meant here the system of the criteria or rules mobilized when one have to
make choices, to take decisions, or to perform judgements. [...] These rules and criteria could originate in
opinion, belief or knowing but in all case they are organized in a structure, which allows decision-making”.
2
Tradução nossa: “Rationality allows us to reason and to decide, it is then the foundation of any proving
process. How we see rationality in general, and its relation to mathematics in particular, is a key point for

34 Conjuntos Numéricos
U1

1.2.3 Procedimentos para demonstrações matemáticas


Na Matemática, é preciso definir os conceitos de modo que esta significação
satisfaça às características de tal conceito e somente deste conceito. Nesse sentido,
há proposições que são aceitas sem demonstração, que denominamos de axiomas3
que são considerados a base para definirmos as propriedades relacionadas com
os axiomas, porém essas propriedades precisam ser demonstradas dedutivamente,
neste caso denominamos de teorema, ou seja, requer demonstração. Sendo
necessário provar um resultado para justificar um teorema, denominamos de lema,
ainda há possibilidade de que ao provarmos um teorema surjam consequências
imediatas da demonstração, neste caso denominamos de corolário.

No procedimento de prova matemática adotamos a hipótese sendo verdadeira


e desenvolvemos uma sequência lógica dedutiva para justificar a tese, que é a
conclusão da demonstração. Vejamos um exemplo da forma condicional em que
p � → q ou p implica q sendo que:

p: hipótese ou condição suficiente para q.

q: tese ou condição necessária para p.

Considere a proposição:

Se n é um número que pode ser escrito na forma 2k, com k ∈ N então n é um


número par.

Neste caso temos:

p: n é um número que pode ser escrito na forma 2k, com k ∈ N.

q: n é um número par.

Se p for verdadeira, então q necessariamente será verdadeira, caso contrário,


ou seja, se apenas q for falsa, a sentença toda p � → q será falsa.

our understanding of any piece of work in our field of research”.


3
Axiomas, postulados e hipóteses são utilizados como sinônimos.

Conjuntos Numéricos 35
U1

No exemplo dado temos uma relação de causa e consequência em que


a recíproca é verdadeira, ou seja, q � → p. Quando a recíproca de um teorema é
verdadeira, temos uma bicondicional, ou seja, ambas as proposições p � → q e q � →
p são condição necessária e suficiente para a validade da outra.

Porém, em uma condicional nem sempre isso ocorre. Considere a proposição:

Todo número primo maior que dois é ímpar

Temos que a sentença é verdadeira, analisemos a recíproca:

Todo número ímpar é primo e maior do que dois.

Segue que a recíproca é falsa, para provar basta indicarmos um contraexemplo:


temos que 15 é um número ímpar, porém não é um número primo, assim
mostramos que a sentença é falsa.

Quando uma proposição é falsa, não se aplica o método dedutivo, apenas


apresentamos um contraexemplo para justificar a falsidade da sentença. Vejamos
um outro exemplo de proposição:

Seja n um número ímpar, então n² é um número ímpar.

Para provar essa sentença, utilizaremos uma forma de demonstração que


chamamos de direta, em que realizamos uma sequência de argumentos baseados
na hipótese e a conclusão será a tese.

DEMONSTRAÇÃO: Suponha que n é um número natural ímpar, sendo assim,


existe um número natural k de modo que n = 2k+1. Substituindo o n temos:

n ² = (2k + 1)²

Realizando as operações elementares e organizando na estrutura de número


ímpar, teremos:

36 Conjuntos Numéricos
U1

4k + 4k +1= 2(2k + 2k) +1

Ou seja, n é um número ímpar.

Realizando a contrapositiva, teremos uma sentença equivalente, ou seja, p � → q


é equivalente a ~q � → ~p, deste modo a contrapositiva da proposição anterior será:

O quadrado de um número par também é par.

Sendo uma proposição equivalente em termos de lógica, logo a validade da


proposição anterior implica na validade dessa proposição. Neste sentido, podemos
recorrer à contrapositiva para demonstrarmos os resultados. Para isso, negamos a
tese e chegamos à negação da hipótese. Considere a proposição:

Se x² − 6x + 5 é par, então x é ímpar.

Ao realizarmos a contrapositiva, obteremos:

Se x é par, então x² – 6x + 5 é impar.

DEMONSTRAÇÃO: Como x é par, pode ser representado na forma x = 2k,


com k ∈ N. Deste modo, substituindo o x obtemos:

x² - 6x + 5 = (2k)² -6(2k) +5

Realizando as operações elementares e organizando na estrutura de número


ímpar teremos:

4k² - 12k + 5 = (4k² - 12k +4 ) +1 = 2(2k² - 6k +2) +1

Concluímos que x² - 6x + 5 é ímpar. Assim a sentença:

Se x é par, então x² – 6x + 5 é impar.

Conjuntos Numéricos 37
U1

é verdadeira. E por equivalência lógica, a sentença:

Se x² − 6x + 5 é par, então x é ímpar.

também será verdadeira. Vejamos outro exemplo, considere a seguinte proposição:

Se n2 é impar, então n é impar.

A demonstração direta se torna difícil neste caso, então é conveniente utilizar


a forma contrapositiva, ou seja:

Se n é par, então n2 é par.

DEMONSTRAÇÃO: se n é par, n = 2k, logo n2 = 4k2 = 2(2k2), ou seja, um número par.

Outra forma de demonstrar um resultado é por meio da demonstração por


absurdo, ou ainda, da redução ao absurdo. Neste caso, aceitamos a hipótese
sendo verdadeira e utilizamos a negação da tese para obtermos um resultado falso.
Assim, obteremos um resultado com valor lógico verdadeiro, então a proposição
inicial também será verdadeira. Vejamos um exemplo:

Se afirmarmos que existe um número real que satisfaz a equação x2 + 9 =


0, por absurdo, suponhamos que x exista. Então, temos que x2 = -9, sendo um
absurdo, pois não existe raiz quadrada de números negativos, assim concluímos
que não existe x real que verifica a equação dada.

Verificamos anteriormente que a medida da diagonal de um quadrado unitário


é 2 , provaremos por redução ao absurdo a seguinte proposição:

2 é um número irracional.

Assumimos que um número irracional não pode ser representado na forma de


uma fração, além disso, utilizaremos o resultado da demonstração anterior.

DEMONSTRAÇÃO: Suponha que 2 é um número racional, deste modo

38 Conjuntos Numéricos
U1

podemos representá-lo na forma de uma fração irredutível a , sendo a e b


b
números inteiros, logo:
a
2 =
b
Elevando ambos os membros da igualdade ao quadrado, temos que:

a2
2 =�
b2

Segue que,

2b² = a²

Temos que 2b² é um número inteiro par, isso implica em a² ser um número
inteiro par, logo a também é par, deste modo, podemos assumir a = 2c, sendo c
um número inteiro. Substituindo o a temos:

2b² = (2c)²

2b² = 4c²

b²= 2c²

Segue que, deste modo, a fração a não será irredutível, ou seja, temos um
b
absurdo. Logo, 2 é um número irracional.

Apesar dos irracionais serem uma dízima não periódica, é possível


localizá-los na reta numérica, acesse o link a seguir e aprofunde o seu
conhecimento sobre o assunto.
Disponível em: <http://www.im.ufrj.br/dmm/projeto/projetoc/
precalculo/sala/conteudo/capitulos/cap14.html>. Acesso em: 15 jul.
2015.

Conjuntos Numéricos 39
U1

1. X e Y são números tais que: Se X ≤ 4, então Y > 7. Se a


proposição é do tipo p → q, analise cada item e traduza
para linguagem simbólica verificando se é uma sentença
equivalente.
a) Se Y ≤ 7, então X > 4.
b) Se Y > 7, então X ≥ 4.
c) Se X ≥ 4, então Y < 7.
d) Se Y < 7, então X ≥ 4.
e) Se X < 4, então Y ≥ 7.

2. Utilize uma forma de demonstração e mostre que: a soma


de dois números pares será um número par.

40 Conjuntos Numéricos
U1

Seção 2
Conjuntos Numéricos
Introdução à seção
Aos nos depararmos com a teoria elementar dos números, tratamos apenas a
aritmética básica do conjunto dos números naturais e, pelo princípio da extensão,
os números inteiros e os demais conjuntos numéricos. Porém, mesmo nessa
abordagem, precisamos recorrer à teoria elementar dos conjuntos e introdução
da lógica matemática.

Usualmente admitimos a existência do conjunto dos números naturais munidos


das operações de adição e multiplicação. A partir disso, definimos as propriedades
das operações e outros conceitos relacionados, conforme exposto na seção
anterior. Entretanto, a construção do conjunto dos números naturais requer
um processo axiomático, ou seja, admitimos alguns conceitos primitivos como
número natural, definimos alguns axiomas, sendo que essas proposições são
consideradas como verdadeiras sem a necessidade de demonstrações. No caso
dos números naturais, um conjunto mínimo de axiomas é dado pelos conhecidos
Axiomas de Peano. A partir disso, demonstram-se as propriedades dos números
naturais, inclusive as propriedades da adição e da multiplicação. Trataremos na
próxima subseção sobre esse tema.

2.1 Axiomatização dos números naturais


O matemático italiano Giuseppe Peano (1858-1932) publicou no livro
Arithmetices Principia: Nova Methodo Exposita a axiomatização do conjunto
dos números naturais realizada em 1889. Nesta obra, foram enunciados alguns
axiomas sobre números naturais, posteriormente conhecidos como os Axiomas
de Peano. Primeiramente, precisamos admitir três conceitos primitivos:

1º) zero ou um;

2º) número natural;

3º) o sucessor de um número natural.

Sendo n um número natural, denotamos por s(n) o seu sucessor. Deste modo,

Conjuntos Numéricos 41
U1

os Axiomas de Peano podem ser enunciados do seguinte modo:

I) O um é um número natural e não é sucessor de um número natural.

II) Todo número natural tem um único sucessor, que também é um número natural.

III) Se dois números naturais têm o mesmo sucessor, então eles são iguais entre si.

IV) Se um subconjunto X dos números naturais possui o elemento um e também


o sucessor de todos os elementos de X, então X é igual ao conjunto dos números
naturais.

Considerando os axiomas e os conceitos primitivos como verdadeiros, segue


que o axioma IV) é adotado no processo de demonstração por indução. Esse
método de demonstração matemática possui aplicações em quase todas as áreas
da matemática, inclusive na Análise.

Uma demonstração fundamentada na Indução Matemática é denominada


de Prova por Indução ou pelo Princípio da Indução e se compõe de duas
propriedades: é preciso que a afirmação seja válida para um primeiro natural a,
não necessariamente o número 1, pois o adotaremos de uma forma generalizada.
Sendo satisfeita essa propriedade, considerando a afirmação válida para um natural
k arbitrário é válida também para o sucessor de k. Sendo essas duas propriedades
satisfeitas, podemos concluir que a afirmativa inicial é verdadeira. Definimos o
Princípio da Indução Generalizado da seguinte forma:

Suponha que para cada natural n se tenha uma afirmativa P(n) que satisfaça
às seguintes propriedades:

I) P(a) é verdadeira.

II) Sempre que a afirmativa é verdadeira para um natural k qualquer e é verdadeira


para o seu sucessor k+1.

Então:

P(n) é verdadeira para todo n natural.

Destacamos que a Indução Matemática se baseia em duas propriedades, a


primeira garante que estamos considerando um fato verdadeiro para o primeiro
número natural a; a segunda garante que se a afirmação é verdadeira para um
natural k ≥ a qualquer e implica verdadeira para o seu sucessor, então é verdadeira

42 Conjuntos Numéricos
U1

para todo natural. Denominamos as duas propriedades de hipótese de indução;


satisfeita a hipótese, a tese de que uma propriedade P é válida para o número
natural n, será verdadeira.

O Princípio da Indução não é aplicado apenas como método de demonstração.


Pode ser utilizado para definir funções do tipo f: N → Y que possui como domínio
o conjunto N dos números naturais. Temos da definição de função que f : X →
Y necessita de uma regra bem definida, na qual seja determinado como se deve
associar a cada elemento x ∈ X um único elemento y = f(x) ∈ Y.

Entretanto, no caso específico em que o domínio da função é o conjunto N


dos números naturais, com o propósito de definir uma função f : N → Y , podemos
definir os elementos se tivermos os seguintes dados:

I) Podemos determinar o valor f (1).

II) Tenhamos uma regra para calcular f (s(n)) tendo f (n).

A partir disso, é possível conhecer f (n) para todo número natural n, neste caso
temos uma função com recorrência. Assim, se denominarmos de X o conjunto
dos números naturais n em que se pode determinar f (n) por meio de:

I) 1 ∈ X

II) n ∈ X ⇒ s(n) ∈ X.

Logo, pelo axioma da indução, tem-se X = N.

Observamos que uma função f : N → Y em que o domínio é o conjunto dos


números naturais denomina-se de uma sequência ou sucessão de elementos de Y.
Vejamos a seguir uma aplicação do Princípio da Indução, mostraremos que:

Todo número é diferente do seu sucessor.

DEMONSTRAÇÃO: denominamos a proposição de P. Sendo que dado o


número natural n, utilizaremos P(n) como n ≠ s(n).

Prova de I) Sendo assim, P(1) é verdadeira, pois 1 ≠ s(1), pois o 1 não é sucessor
de número algum, logo o 1 não é sucessor de si próprio.

Conjuntos Numéricos 43
U1

Prova de II) Suponha que P(n) é verdadeira, ou seja, se considerarmos que n ≠


s(n), então s(n) ≠ s(s(n)), pois a função s : N → N é injetiva. Porém a afirmação s(n)
≠ s(s(n) significa que P(s(n)) é verdadeira. Deste modo, a verdade de P(n) implica
na verdade de P(s(n)).

Então, pelo Princípio da Indução, todos os números naturais que satisfazem a


propriedade P, isto é, são diferentes de seus sucessores, é verdadeira.

Retome o conceito de funções, pois recorreremos a esse conteúdo


posteriormente, acesse os links e bons estudos.
Disponível em: <http://educacao.globo.com/matematica/assunto/
funcoes/conceito-de-funcoes.html>. Acesso em: 17 jul. 2015.
Disponível em: <http://www.matematicadidatica.com.br/FuncaoSobre
jetoraInjetoraBijetora.aspx>. Acesso em: 17 jul. 2015.

Considerando as formas de demonstrações apresentadas, qual


seria a estratégia adequada para provar o teorema fundamental
da aritmética?

Retomando o exposto na seção anterior e associando com as formas de


demonstrações, iremos provar o teorema fundamental da aritmética. Assim,
teremos que demonstrar a seguinte proposição:

Todo número inteiro maior ou igual a dois pode ser representado por fatores
de números primos. Essa decomposição será única, podendo mudar apenas a
ordem dos fatores.

44 Conjuntos Numéricos
U1

DEMONSTRAÇÃO: Sendo n = 2 um número primo. Mostraremos a existência


da fatoração por primos por meio do Princípio da Indução: Se n é primo não
há o que provar. Se n é composto, n = ab, a, b ∈ N, a < n, b < n e, por hipótese
de indução, a e b se decompõem como produto de primos, portanto n se
decompõe como produto de primos.

Temos que demonstrar a unicidade, recorrendo à indução: Suponha que n


possua duas fatorações n = p1p2…pr e n = q1q2…qs como produto de primos.
Como p1|q1q2…qr, p1 deve dividir algum qi e, portanto, p1 = qi (pois são ambos
números primos) e, como n|p1 = n|qi < n admite uma única fatoração prima, por
hipótese de indução, concluímos que a fatoração de n é única.

Na próxima seção, retomaremos as definições e propriedades das estruturas


algébricas.

2.2 Estruturas algébricas aplicadas aos conjuntos numéricos


Vimos que a partir de alguns axiomas podemos construir o conjunto dos naturais
recorrendo ao Princípio da Indução. A partir disso, podemos definir os números
inteiros sendo construídos por meio de uma relação de equivalência no conjunto
dos pares ordenados de números naturais. O mesmo ocorre com o conjunto dos
números racionais, em que um número é novamente definido como um conjunto.
Porém, encontraríamos dificuldades em justificar os números irracionais e os reais
por meio das relações de equivalência, para tanto, precisaríamos do conceito
de infinito e das estruturas algébricas, ou seja, são as propriedades satisfeitas por
conjuntos não necessariamente numéricos. A seguir, retomaremos os conceitos
das estruturas de grupos, anéis e corpos que serão aplicados posteriormente nas
próximas unidades.

2.2.1 Grupos
Mostramos anteriormente que os conjuntos numéricos satisfazem algumas
propriedades, no caso de satisfazer um número mínimo para alguma operação
binária, podemos classificar como:

I) Grupoide: trata-se de um conjunto G não vazio com uma operação binária


fechada tal que denotamos de (G, *). Temos um exemplo de grupoide (Z, -), e um
contraexemplo de (N, -).

Conjuntos Numéricos 45
U1

II) Semigrupo: atende à propriedade de grupoide e à propriedade associativa, ou


seja, dados a, b e c ∈ G, temos que (a * b) * c = a * (b * c). Temos que (N,+) atende
a essa estrutura.

III) Monoide: atende à propriedade de semigrupo e possui o elemento neutro. Por


exemplo (N, *) é um exemplo dessa estrutura.

Considerando um monoide, que outras estruturas são necessárias


para termos um grupo?

Para termos uma estrutura de grupo temos que: seja G um conjunto e *


uma operação binária, ou ainda, lei de composição interna, definida sobre G, o par
ordenado (G,*) é um grupo se são atendidas as seguintes propriedades:

I) Associativa:

Sejam a, b e c ∈ G, temos que ( a * b ) * c = a * ( b * c) .

II) Elemento neutro:

Existe e ∈ G, de modo que para todo a ∈ G temos que e * a = a * e = a

III) Elemento simétrico:

Seja a ∈ G existe a’ ∈ G de modo que a * a’ = a’ * a = e, em que e trata-se do


elemento neutro.

Quanto à ordem de um grupo (G,*), temos que G é finito se o  número  de


elementos do conjunto G é finito. No caso de G ser um conjunto infinito, como,
por exemplo, os números inteiros, racionais e reais, afirmamos que (G,*) possui
ordem infinita.

No caso do tipo de operação que indicamos por *, se for uma adição temos
então um grupo denominado de aditivo, e quando for uma multiplicação temos
um grupo denominado de multiplicativo.

Ainda temos que e se um grupo (G,*) atender à propriedade comutativa G e'

46 Conjuntos Numéricos
U1

denominado comutativo ou abeliano, ou seja, atende à propriedade:

IV) Comutativa:

Para todo a e b ∈ G, temos que a * b = b * a.

Podemos destacar, como exemplo, que os conjuntos (Z, +) e ( Z, .) são exemplos


de grupos abelianos.

2.2.2 Anéis
Temos que um conjunto A não vazio é um anel se os elementos podem ser
adicionados e multiplicados, ou seja, existem leis de composição interna em que
são dadas duas operações (x, y) → x + y e (x, y) → x.y aos pares de elementos de A
em A, satisfazendo aos seguintes axiomas para todo x, y e z ∈ A:

Axiomas para a operação de adição:

I) Associativa:

(x + y) + z = x + (y + z)

II) Elemento neutro:

Existe 0 em A tal que x + 0 = 0 + x = x

III) Elemento simétrico:

x + (-x) = (-x) + x = 0

IV) Comutatividade:

x+y=y+x

Axiomas para a operação de multiplicação:

Conjuntos Numéricos 47
U1

I) Associativa:

(x.y).z = x.(y.z)

II) Distributiva:

x.(y + z) = x.y + x.z

(y + z).x = y.x + z.x

OBSERVAÇÕES

Considere o anel ( A , + , .)

I) Ao adotarmos A como um conjunto numérico, indicamos o elemento neutro da


adição pelo número 0, mas em outro conjunto pode-se indicar o elemento neutro
não sendo necessariamente um número.

II) Para cada elemento x ∈ A, seu inverso em relação à adição pode ser denominado
de elemento oposto de a e é indicado por -x.

III) Se operação de multiplicação é comutativa, caracterizando o anel comutativo,


ou seja, para todo x e y ∈ A temos que x . y = y . x.

IV) Se a operação de multiplicação possui elemento neutro, ou seja: para todo x ∈ A


temos que x . 1 = 1 . x = x , temos um anel com elemento identidade ou com unidade.

Estude o artigo intitulado Associações de estruturas algébricas das


páginas de 2 a 11 e aprofunde o seu conhecimento, acesse o link:
<http://www.unoeste.br/site/pos/enapi/2011/suplementos/documentos/
Exactarum-PDF/Matem%C3%A1tica.pdf>. Acesso em: 24 jul. 2015.

2.2.3 Domínios de integridade e corpos


Em um domínio de integridade ou anel de integridade, precisamos considerar

48 Conjuntos Numéricos
U1

um anel A comutativo com unidade e atender à seguinte proposição:

Para todo x, y ∈ A, se x . y = 0 então x = 0 ou y = 0.

A partir dessa definição, temos um corolário sobre o cancelamento que decorre


do fato de um anel A ser domínio de integridade, vejamos:

Para todo x, y e z ∈ A, sendo x ≠ 0 e xy = xz implica em y = z.

São exemplos de domínio de integridade os anéis do conjunto dos números


inteiros (Z, +, .), dos racionais (Q, +, .), dos reais (R, +, .) .

Quanto à estrutura de corpos, todo corpo é um domínio de integridade, porém


a recíproca não é verdadeira, isso significa que um corpo atende mais alguma
propriedade, ou seja, um anel A de integridade é um corpo se todo elemento não
nulo de A possui elemento inverso para operação de multiplicação, vejamos a
definição:

Para todo x ∈ A e x ≠ 0 existe x-1 ∈ A tal que x. x-1 = 1.

Para compreender a definição, podemos analisar os anéis (Z,+,.) e (Q, +,.).


Em ambos os casos temos anéis comutativos com unidades que valem a lei do
anulamento do produto. Porém no anel Z somente os elementos 1 e -1 possuem
simétrico multiplicativo, enquanto em Q todo elemento não nulo admite simétrico
multiplicativo, deste modo, Q é considerado um corpo e Z é considerado apenas
um domínio de integridade. Consequentemente pelo princípio da extensão temos
que (R,+, . ) é um corpo.

Quais são as propriedades a que o conjunto dos números


reais satisfaz?

Conjuntos Numéricos 49
U1

1. Utilize o Princípio da Indução Generalizado para provar que:


2n + 1 < 2n, para todo n ≥ 3.

2. Analise a seguinte demonstração de (-a).(-b) sabendo que a


e b são elementos de um anel (A, +,.).
(-a).(-b)=(-1)a.(-1).b= (-1).(-1)a.b = 1ab = ab

A demonstração é válida?

Nesta unidade você aprendeu sobre:

- Noções intuitivas sobre os números.

- Princípios da lógica, conectivos e tabelas verdades.

- Formas de demonstrações: direta, contrapositiva e redução


por absurdo.

- Axiomatização dos números naturais.

- Princípio da Indução.

- Estruturas algébricas aplicadas aos conjuntos numéricos.

50 Conjuntos Numéricos
U1

Esta unidade foi elaborada com o intuito de conduzir o processo


de construção do conhecimento a respeito dos conjuntos
numéricos, formas de demonstrações baseadas nos princípios da
lógica, a construção dos números naturais por meio de axiomas
e a aplicação do princípio de indução matemática, juntamente
com as estruturas algébricas que nos auxiliarão posteriormente.

Ao aprofundar os conteúdos apresentados, por meio de seus


estudos com as leituras complementares, de pensar e buscar
respostas para as questões de reflexão, além de realizar as
atividades de aprendizagem tanto da seção quanto da unidade,
atingiremos o objetivo de compreender os conceitos tratados
nesta unidade, além de conhecer os conteúdos prévios que
serão tratados nas próximas unidades deste livro.

1. Considerando o conjunto dos números naturais incluindo


o zero, represente por meio da notação de conjuntos os itens
a seguir:

a) N = os números naturais.
b) P= números pares.
c) I= números ímpares.
d) A = números menores que 7 (sem listar os elementos).
e) B = números múltiplos de cinco.
f) C = números quadrados perfeitos.
g) D = números cubos perfeitos.

2. Analise as sentenças a seguir e indique (V) para verdadeiro


e (F) para falso.

( ) Para todo número real y, tem-se que y < 3 e que y > 2.


( ) Para algum número real x, tem-se que x < 4 e que x² + 5x = 0.

Conjuntos Numéricos 51
U1

( ) Para todo número real positivo x, tem-se que x² > x.


( ) Para algum número real k, tem-se que k > 5 e que k² – 5k = 0.

3. Utilize a formas de demonstrações tratadas nesta unidade


e prove que para um inteiro n, n3 + 5 é ímpar se e somente se
n for par.

4. Utilize uma prova por indução para a seguinte proposição:


1+ 3 + 5 + ... + (2n -1) = n² é verdadeira para qualquer inteiro
positivo n.

5. Apresente dois exemplo de conjuntos numéricos que sati-


fazem a estrutura algébrica de corpo.

52 Conjuntos Numéricos
U1

Referências

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes,


2000.

ALMOULOUD, S. A. Prova e demonstração em matemática: problemática de seus


processos de ensino e aprendizagem. Rio de Janeiro: EMANPED, GT: Educação
Matemática, 2009. Disponível em: http://www.ufrrj.br/emanped/paginas/conteudo_
producoes/docs_30/prova.pdf. Acesso em: 15 jul. 2015.

BALACHEFF, N. The researcher epistemology: a deadlock for educational research


on proof. Leibniz: Grenoble, 2004. n. 109. Disponível em: <http://www.tpp.umassd.
edu/rc/reading/Balachef_Taiwan2002.pdf>. Acesso em: 3 set. 2015.

BICUDO, Irineu. Demonstração em matemática. BOLEMA: Boletim de Educação


Matemática, Ano 15, nº 18, p.79-90. Rio Claro: UNESP, 2002.

GERÔNIMO, J. R.; FRANCO, V. S. Fundamentos de matemática: uma introdução


à lógica matemática, teoria dos conjuntos, relações e funções. Maringá: Eduem,
2006.

HOUAISS eletrônico 3.0. Dicionário de língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva,


2009.

MACHADO, N. J.; CUNHA, M. O. da. Lógica e linguagem cotidiana: verdade,


coerência, comunicação, argumentação. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.

MARIOTTI, M. A.; BALACHEFF, N. Introduction to the special issue on didactical


and epistemological perspectives on mathematical proof. Heidelberg: ZDM
Mathematics Education, 2008.

SALMON, W. C. Lógica. 3. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2010.

Conjuntos Numéricos 53
Unidade 2

CONJUNTOS FINITOS
E INFINITOS

Debora Cristiane Barbosa Kirnev

Objetivos de aprendizagem: Nesta unidade, temos como objetivo


discutir sobre conjuntos com as principais propriedades e definições,
conjuntos finitos, infinitos, conjuntos enumeráveis e não enumeráveis.
Além disso, baseado na estrutura de corpo, definiremos axiomaticamente o
conjunto dos números reais como um corpo ordenado completo.

Ao final desta unidade, espero que compreenda as definições e


propriedades de conjuntos, como também as operações com conjuntos.
Retome o conteúdo de funções, principalmente funções injetoras,
sobrejetoras e bijetoras, que são base para conceituar os conjuntos infinitos,
diferenciando dos finitos. Além disso, compreenda a correspondência
biunívoca entre conjuntos para conceituar conjuntos enumeráveis e
não enumeráveis. É esperado também que compreenda o conjunto dos
números reais como uma estrutura algébrica de corpo, em que temos uma
relação de ordem e que podemos lidar com intervalos e o conceito de
valores absolutos.

Os conceitos e propriedades apresentados neste capítulo terão como


base o método axiomático adotado nas demonstrações matemáticas,
que serão adotadas para justificar proposições, teoremas e corolários
apresentados, para que assim conheça sobre a Matemática Abstrata, sendo
esta fundamental para a Análise Real.

Bons estudos.
U2

Seção 1 | Noções sobre conjuntos


A teoria dos conjuntos influenciou o desenvolvimento da lógica e
da matemática do século XX, contribuindo em áreas como a teoria das
funções, álgebra, topologia e análise funcional. Veremos nessa seção os
princípios dessa teoria e definiremos conceitos relacionados às funções
para subsidiar as definições de conjuntos finitos, infinitos, enumeráveis e
não enumeráveis.

Seção 2 | Números reais


Intuitivamente, conhecemos as estruturas do conjunto dos números
naturais, sendo possível mostrar por meio de um processo axiomático
a construção desse conjunto. A partir disso, podemos estabelecer
definições e propriedades válidas para os demais conjuntos numéricos.
Para lidarmos com os números reais, recorremos a axiomas, proposições
e teoremas, justificados por meio de demonstrações de resultados que
veremos posteriormente, nessa seção.

56 Conjuntos Finitos e Infinitos


U2

Introdução à unidade

Nesta unidade, trataremos de elementos relacionados à Análise Real, para isso


precisamos conhecer a teoria dos conjuntos de Georg Cantor (1845-1918), que
foi um dos primeiros matemáticos a lidar com o conceito de conjuntos infinitos e
assim forneceu subsídios importantes para o desenvolvimento da análise. Como
estamos lidando com a Análise Real, definiremos, baseados na teoria dos conjuntos
e de outros teoremas relacionados, o conjunto dos números reais.

Na primeira seção trataremos de tópicos relacionados com conjuntos, o


primeiro tópico aborda conceitos, definições e propriedades que são a base da
teoria dos conjuntos, posteriormente tratamos das operações entre conjuntos
como a união, interseção, completar e diferença, bem como as propriedades
relacionadas a essas operações.

Uma vez definidas, no segundo tópico abordado na segunda seção,


retomamos os conceitos de funções, tratando da definição, e também definimos
e exemplificamos os tipos de funções como injetora, sobrejetora e bijetora,
essenciais para definirmos os conceitos posteriores. Em seguida, lidamos com
os conceitos de conjuntos finitos e infinitos, e também enumeráveis e não
enumeráveis, baseados nas definições anteriores de conjuntos e funções.

Nessa segunda seção, também aprenderemos sobre o processo de


axiomatização dos números reais, definindo as principais propriedades e mostrando
que os reais atendem à estrutura de corpo ordenado e completo.

Aprofunde os conhecimentos adquiridos aproveitando ao máximo o conteúdo


disponibilizado neste material.

Conjuntos Finitos e Infinitos 57


U2

58 Conjuntos Finitos e Infinitos


U2

Seção 1
Noções sobre conjuntos
Segundo Boyer (1974), diversos matemáticos como Augustus De Morgan (1806-
1871) e George Boole (1815-1864), ao desenvolverem princípios lógicos, também
contribuíram para o desenvolvimento da teoria dos conjuntos. Boole publicou em
1854 uma obra em que apresentou seus estudos que deram origem à álgebra de
Boole, na qual utilizou relações entre conjuntos. Porém o processo axiomático da
teoria dos conjuntos ocorreu por volta de 1890, sendo iniciado por Georg Cantor
(1845-1918), tomando como base a teoria dos números.

Figura 2.1 | Georg Cantor

Fonte: <http://famous-mathematicians.org/wp-content/uploads/2013/07/
Georg_Cantor2-228x300.jpg>. Acesso em: 10 ago. 2015.

Cantor se interessava pela análise e estudou o conceito de infinito trabalhando com


propriedades aplicadas aos conjuntos infinitos. A partir de seus estudos, desenvolveu-
se o que denominamos atualmente de teoria dos conjuntos. Esta teoria teve origem
com a publicação de Cantor, em 1874, a respeito de coleções infinitas que consistiam
em comparar os elementos de conjuntos infinitos termo a termo por meio de uma
relação de correspondência. Por meio desse estudo, Cantor provou por redução ao
absurdo que o conjunto dos números reais não possuía correspondência um a um
com os conjuntos dos números naturais. Posteriormente, Richard Dedekind (1831-
1916) utilizou os estudos da teoria dos conjuntos para desenvolver o conceito de
contínuos. Em síntese, temos que as descobertas de Cantor originaram a teoria dos
conjuntos abstratos, generalizando o conceito de conjunto.

Conjuntos Finitos e Infinitos 59


U2

Aprofunde seu conhecimento, estude o artigo de Geraldo Ávila Cantor e


a teoria dos Conjuntos, acesse o link: <http://www.educadores.diaadia.
pr.gov.br/arquivos/File/2010/veiculos_de_comunicacao/RPM/RPM43/
RPM43_02.PDF>. Acesso em: 25 ago. 2015.

1.1 Primeiros conceitos e propriedades de conjuntos


Na teoria dos conjuntos, um conjunto é descrito como uma coleção ou classe
de objetos bem definidos, denominados de elementos, ou seja, são os membros
do conjunto. Os objetos podem ser, por exemplo: números, pessoas, outros
conjuntos, entre outros.

Outra forma de se obter um conjunto é por meio de uma regra de formação,


na qual determinamos os elementos, de modo que cada elemento seja único.
Podemos definir pertinência de um elemento, a qual é representada pelo símbolo
∈, em um conjunto como x é um elemento de A ou x pertence a A; em termos
notacionais temos:

� A
x∈

A não pertinência de um elemento, representada pelo símbolo ∈, indica que x


não é um elemento de A ou x não pertence a A, conforme:

x∉ A

A pertinência é somente para elementos de um conjunto, utilizamos o contido


ou contém para indicar elementos de subconjuntos, os quais são representados
pelos símbolos ⊂ e ⊃, respectivamente. Se considerarmos dois conjuntos A e B,
de modo que todos os elementos de A sejam também elementos de B, então A é
subconjunto de B e adotamos que A está contido em B ou B contém A, de modo
que indicamos respectivamente como:

60 Conjuntos Finitos e Infinitos


U2

A ⊂ B� � e B ⊃ A

No caso de A ser diferente de B, temos que A é um subconjunto próprio de B


e B é um superconjunto de A. Se o conjunto A está contido em B e B está contido
em A, logo A=B, ou seja, os conjuntos possuem os mesmos elementos, o que
implica em:

A ⊂ B� � e B ⊂ A , ou seja, A ⊆ B

Existe um conjunto que contém todos os outros conjuntos?

Baseados em Gerônimo e Franco (2006), destacamos o paradoxo de


Russel no qual podemos concluir que: nada contém tudo, ou seja, não
existiria um conjunto que contivesse todas as coisas. Vejamos esse
paradoxo, conhecido como o paradoxo do barbeiro.
“O barbeiro da cidade, que só faz a barba de todos os homens que não
se barbeiam a si mesmos, se barbeia a si mesmo?”

Temos que os elementos de todos os conjuntos pertencem ao conjunto


universo, que indicamos por U.

Por outro lado, quando um conjunto não possuir elementos, denominamos de


conjunto vazio e ele é denotado por:

∅ ou {}

Conjuntos Finitos e Infinitos 61


U2

O conjunto vazio é um subconjunto de qualquer outro subconjunto. Por meio


das demonstrações matemáticas mostraremos que todo elemento pertencente
ao conjunto vazio também pertence a A.

DEMONSTRAÇÃO: Se x ∈�  , logo que x ∈� A . Pela contrapositiva, suponhamos


� A , assim temos que x ∉ , pois o conjunto vazio não contém elementos.
que x ∉
Então x ∈� A implica que x ∉ .

Há outra forma de demonstrar esse resultado, por redução ao absurdo, vejamos:

DEMONSTRAÇÃO: Se o   A , assim existe x ∈�  e x ∉ A , o que é um


∈�  , logo  ⊂ A .
absurdo, pois não existe x pertencente ao

Observamos que caso um conjunto possua um único elemento, denominamos


de conjunto unitário.

Qual seria a representação notacional do conjunto unitário do vazio?

Outro conceito relevante é o conjunto das partes. Sendo um conjunto A,


indicamos como P(A) o conjunto constituído por todos os subconjuntos de A (lê-
se: partes de A). Por exemplo, sendo A = {1, 2, 3} temos um conjunto formado por
3 elementos, logo:

P ( A ) = {∅ , {1} , {2} , {3} , {1, 2} , {1, 3} , {2, 3} , {1, 2, 3}}

Quanto às operações de conjuntos que resultam em outros conjuntos,

62 Conjuntos Finitos e Infinitos


U2

destacamos a união, a interseção, o complementar e a diferença.

A união de dois conjuntos A e B, denotada por ∪, é um conjunto de todos os


elementos que pertencem a A ou a B, em termos notacionais temos:

A  B = { x : x ∈ A ou x ∈ B}

A interseção de dois conjuntos A e B, denotada por ∩, é um conjunto de todos


os elementos que pertencem a A e a B, em termos notacionais temos:

Se não existirem elementos comuns a A e B, temos dois conjuntos disjuntos.


No caso do complementar que adotaremos Ac, é o conjunto de elementos
pertencentes ao universo, mas que não pertencem a A, em termos notacionais
temos que:

Ac = { x : x ∈ U e x ∉ A}

Podemos ter o caso de complementar relativo, que denominamos a diferença


entre dois conjuntos A e B, indicados por A – B, neste caso consideramos os
elementos que pertencem a A, mas não pertencem a B, tal que:

A − B = { x : x ∈ A e x ∉ B}

São propriedades das operações entre conjuntos as destacadas a seguir:

I) União: quaisquer que sejam os conjuntos A, B, C, partes de um conjunto universo


U, temos que:

Conjuntos Finitos e Infinitos 63


U2

Quadro 2.1 | União


1) A∪∅ = A
2) A∪U = U
3) A ∪ A C= A
4) A∪A = A
5) A∪B = B∪A
6) (A ∪ B) ∪ C = A ∪ (B ∪ C)
7) A∪B = A ⇔ B⊂A
8) A ∪ (B ∩ C) = (A ∪ B) ∩ (A ∪ C)
Fonte: O autor (2015).

II) Interseção: quaisquer que sejam os conjuntos A, B, C, partes de um conjunto


universo U, temos que:

Quadro 2.2 | Interseção


1) A∩∅ = ∅
2) A∩U = A
3) A ∩ A C= A
4) A∩A = A
5) A∩B = B∩A
6) (A ∩ B) ∩ C = A ∩ (B ∩ C)
7) A∩B = A ⇔ B⊂A
8) A ∩ (B ∪ C) = (A ∩ B) ∪ (A ∩ C)
Fonte: O autor (2015).

III) Complementar: sejam os conjuntos A e B contidos em um universo U no qual


estamos considerando os complementares.

Quadro 2.3 | Complementar


1) (A C) C = A
2) A ⊂ B ⇔ B C ⊂ A C
3) A = ∅ ⇔ C A = U
4) (A ∪ B) C = A C ∩ B C
5) (A ∩ B) C = A C ∪ B C
Fonte: O autor (2015).

IV) Diferença: sejam A, B e C conjuntos quaisquer num universo U.

64 Conjuntos Finitos e Infinitos


U2

Quadro 2.4 | Diferença


1) A - ∅ = A e ∅-A=∅
2) A - U = ∅ e U - A = A C
3) A - A = ∅
4) A - A C = A
5) (A - B) C = AC ∪ B
6) A - B = B C - A C
7) A ∪ (B - C) = (A ∪ B) - (C - A)
8) A ∩ (B - C) = (A ∩ B) - (A ∩ C)
Fonte: O autor (2015).

A seguir demonstraremos algumas propriedades referentes às operações com


conjuntos:

PROPRIEDADE 1:

A ∩ ( B ∪ C ) = ( A ∩ B) ∪ ( A ∩ C ) .
DEMONSTRAÇÃO: Seja x ∈ A ∩ ( B ∪ C ) ou seja, x ∈ x ∈ logo x ∈ u x ∈ assim x
∈ A B u x ∈ A C deste modo x ∈ u A ∩ C podemos concluir que x ∈ Por outro
lado, se x ∈ x ∈ u A ∩ C isto implica que x ∈ A B u x ∈ C e ainda x ∈ x ∈ u x
∈C sendo assim, x ∈ x ∈ de modo que x ∈ Segue que a igualdade é verdadeira.

PROPRIEDADE 2:
( A ∪ B)
C
= � Ac ∩ B c .
DEMONSTRAÇÃO: Seja x ∈ assim x ∉ a A ∪ B ou seja, x ∉ A� x ∉ B logo x ∈ x
∈ isto implica que x ∈ Por outro lado, se x ∈ então x ∈ x ∈ deste modo, x ∉�� A x
∉� B consequentemente x ∉ A ∪ B assim x ∈ Podemos concluir que a igualdade
é verdadeira.

PROPRIEDADE 3:
A ⊂ B�⇔
� A − B =� .
DEMONSTRAÇÃO: Temos que demonstrar duas condicionais, isto é:

I) A ⊂ B → A – B = ∅

Conjuntos Finitos e Infinitos 65


U2

II) A – B = ∅ → A ⊂ B

Demonstração de I): Seja x ∈ A por hipótese A ⊂ B ogo x ∈ B, deste modo


não existe x ∈ A e x ∉ B, sendo assim A − B =� 

Demonstração de II): pela contrapositiva da proposição temos: A ⊄ B → A –


B ≠ ∅ Considere que x ∈ . Se x ∉ B� Segue que x ∈� e x ∉ , assim A - B Logo a
condicional II é verdadeira.

Pela prova de I) e II) temos que a bicondicional é verdadeira.

1. No contexto da Matemática Moderna, o que são conjuntos?

2. Relacione, se possível, as palavras a seguir com conjuntos,


caracterizando cada uma:
a) Classe:
b) Coleção:
c) Elemento:
d) Pertinência:
e) Números:

1.2 CONJUNTOS FINITOS, ENUMERÁVEIS E NÃO ENUMERÁVEIS


Os conjuntos podem ser finitos e infinitos, enumeráveis e não enumeráveis.
Para abordar este tema precisaremos resgatar os conceitos e propriedades de
funções.

1.2.1 Funções
Gerônimo e Franco (2006) abordam alguns matemáticos que contribuíram
para o desenvolvimento de funções, entre eles: René Descartes (1596-1650);
Gottfried Wilhelm Von Leibniz (1646-716); Joseph-Louis Lagrange (1736-1813);
Georg Friedrich Bernhard Riemann (1826-1866). Destacamos que Leonhard Euler

66 Conjuntos Finitos e Infinitos


U2

(1007-1783) introduziu a notação y= f(x) que adotamos na atualidade. Funções são


casos particulares de relações, podemos entender em aplicações práticas como
grandezas que se relacionam entre si, porém precisam satisfazer a definição desta.

Segundo esses autores, uma definição de função que é abordada no Ensino


Médio seria: “uma regra de correspondência, que associa cada elemento x de um
certo conjunto, chamado de domínio da função, a um único elemento y em um
outro conjunto de contradomínio da função” (GERÔNIMO; FRANCO, 2006, p. 176).

Além dessa definição, o autor apresenta outra em termos formais:

Sejam A e B dois conjuntos quaisquer. Uma


função de A em B, denotada por f: A � → B, é uma
terna (f,A,B), onde f é uma relação de A em B
satisfazendo as seguintes condições:
i) Dom (f) = A, ou seja, para qualquer x em A,
existe y em B tal que (x, y) está em f;
ii) Seja x f y e x f z, então y = z. (GERÔNIMO;
FRANCO, 2006, p. 176).

Na definição formal apresentada, temos que A é denominado de domínio da


função indicado por f: A � → B e denotado por Dom (f), onde Dom representa domínio.
Quanto ao conjunto B, é denominado de contradomínio da função e denotado por
Cdom (f). A segunda condição da definição garante que cada elemento do domínio
está relacionado com um único elemento do contradomínio. E adotaremos, ao
invés de x f y (lê-se: x está relacionado com y), utilizaremos que y= f(x).

Retome o conteúdo de relações binárias que envolvem os conceitos de


produto cartesiano, relações de equivalência e relação de ordem. Estude
a Unidade 1 do livro de Estruturas Algébricas.

Considerando x ∈� A e y = f(x), temos que y é denominado de imagem de x sob


função, em que x é a pré-imagem de y sob a f. Em termos notacionais, indicamos

Conjuntos Finitos e Infinitos 67


U2

a imagem (Im) como:

Im(f) = { f(x)/ x ∈� A}

Quanto às variáveis, os elementos do conjunto A são denominados de variáveis


independentes e os elementos do conjunto Im(f) são denominados de variáveis
dependentes.

Além disso, quando o contradomínio da função é o conjunto dos números


reais, então a função é denominada função real. No caso de um contradomínio
não ser um conjunto numérico, denominamos apenas de aplicação, ou seja, a
aplicação atende à mesma definição de função, mas não temos necessariamente
um conjunto numérico no contradomínio.

Como definir o gráfico de uma função?

EXEMPLO:

Considere o conjunto A = {1,2,3} e B = {4,6,8,12,15} e a relação f={(x, 4x) /


x ∈� A}. Deste modo, a terna (f, A, B) define uma função f: A � → B em que f(x)=
4x. Temos que Dom(f) = A, segue que x f y e x f z, é dado por y= 4x e z = 4x,
assim y=z. Podemos observar que o contradomínio (Cdom) e a imagem (Im) são
conjuntos diferentes, segue que Cdom(f)= B e Im(f)= { 4, 8, 12). Porém a imagem
é subconjunto do contradomínio.

Utilizaremos as definições apresentadas sobre funções e as propriedades de


conjuntos para demonstrarmos as proposições a seguir.

PROPOSIÇÃO 1:

Considere f: X � → Y uma função e A ⊂ X e B ⊂ X. Verifique se f(A ∩ B) = f(A) ∩ f(B)

DEMONSTRAÇÃO: Mostraremos que esta proposição é falsa, por meio de um

68 Conjuntos Finitos e Infinitos


U2

contraexemplo.

Seja f: X � → Y definida por f(x) = n² e A, B contidos em X, tal que; A= {-2,-1,0,1} e B


= {-1,0,1,2,3}; logo A∩B = {-1,0,1}, assim f(A∩B) = {0,1}, segue que f(A) = {0,1,4} e f(B)
= {0,1,4,9}, deste modo f(A) ∩f(B) = {0,1,4}, o que implica que f(A ∩B) ≠f(A) ∩ f(B).

PROPOSIÇÃO 2:

Considere f: X � → Y uma função e A ⊂ X e B ⊂ X. Verifique se f(A ∪ B) = f(A) ∪ f(B)

DEMONSTRAÇÃO: temos que provar que as sentenças a seguir são verdadeiras

i) f(A ∪ B) ⊂ f(A) ∪ f(B)

Seja y ∈� f(A ∪ B , existe x em que f(x) = y e x ∈� A ∪ B, sendo assim, x ∈� A ou


x ∈� B, deste modo f(x) ∈� f(A) ou f(x) ∈� f(B), segue que f(x) ∈� f(A) ∪ f(B), como
y=f(x), y ∈� f(A) ∪ f(B), o que implica em f(A ∪ B) ⊂ f(A) ∪ f(B).

II) f(A) ∪ f(B) ⊂ f(A ∪ B)

Seja y ∈� f(A) ∪ f(B), assim y ∈� f(A) ou y ∈� f(B) existe x em que f(x) = y em que
x ∈� A ou x ∈� B, segue que x ∈� A ∪ B , logo f(x) ∈� f(A ∪ B), como y=f(x), y ∈� f(A
∪ B), o que implica em f(A) ∪ f(B) ⊂ f(A ∪ B).
Por I) e II) a proposição f(A ∪ B) = f(A) ∪ f(B) é verdadeira.

Existem casos particulares de funções, acesse os links a seguir e


aprofunde seus conhecimentos sobre os tipos de funções:
Função identidade: <http://www.infoescola.com/matematica/funcao-
identidade/>.
Função constante: <http://www.mundoeducacao.com/matematica/
funcao-constante.htm>.
Função maior inteiro: <http://sbemparana.com.br/arquivos/anais/
epremxii/ARQUIVOS/COMUNICACOES/CCTitulo/CC019.PDF>. Acesso
em: 10 ago. 2015.

Conjuntos Finitos e Infinitos 69


U2

Definiremos, a seguir, alguns conceitos pertinentes às funções. Iniciamos pelo


conceito de igualdade. Duas funções são iguais se possuírem o mesmo gráfico, ou seja,
as mesmas características e o mesmo contradomínio. Conceituamos anteriormente o
contradomínio, quanto ao gráfico (Gr) de uma função temos o seguinte:

Gr(f) = {(x,f(x)) ∈ AXB / x ∈ A}

Outro conceito é o de imagem inversa de conjuntos. Segue que a imagem


inversa de B sob f, denotada por f -1(B) trata-se do conjunto de todas as pré-imagens
dos elementos de B, ou seja:

f -1(B) = {x ∈ A/ f(x) ∈ B}

Vejamos a demonstração de uma proposição sobre o assunto:

Considere f: X → Y uma função e U ⊆ X e V ⊆ X. Prove que: se U ⊂ V então

f -1(U) ⊂ f -1(V).

DEMONSTRAÇÃO: Seja x ∈ f -1(U), sendo assim, existe y = f(x) tal que y ∈ f(U)
e x ∈ U, segue que U ⊂ V, logo x ∈ V e y ∈ f(V), como y = f(x) então x ∈ f -1(V), o
que implica em f -1(U) ⊂ f -1(V).

As definições de funções injetoras, sobrejetoras e bijetoras são de suma importância


para lidarmos com as proposições posteriores. Uma função f: A→B denomina-se
injetiva ou injetora se dois elementos distintos de A após a aplicação de f resultam em
dois elementos distintos em B. Em termos notacionais definimos como, seja f : A→B
tal que para todo x1, x2 ∈ A, e f(x1), f(x2) ∈ B, se f(x1) = f(x2) então x1=x2

Utilizando as equivalências lógicas, podemos escrever utilizando a forma


contrapositiva uma proposição equivalente, vejamos:

70 Conjuntos Finitos e Infinitos


U2

se x1 ≠ x2 então f(x1) ≠ f(x2)

Vejamos uma demonstração de uma proposição que envolve esse conceito.

Seja f: X → Y uma função, mostre que f é injetiva se, e somente se, quaisquer que
sejam A, B ⊂ X, f(A∩B) = f(A) ∩f(B).

DEMONSTRAÇÃO:

Temos que mostrar que as sentenças a seguir são verdadeiras

I) Se f é injetiva, então f(A∩B) = f(A) ∩f(B).

Se f é injetiva segue que f(x1) = f(x2) implica x1 = x2. Seja y ∈ f(A ∩B), deste
modo, existe x = x1 = x2 tal que f(x) = y e x ∈ A ∩B, sendo assim x ∈ A e x ∈ B,
logo f(x) ∈ f(A) e f(x) ∈ f(B), deste modo, f(x) ∈ f(A) ∩ f(B), segue que f(x) = y logo
y ∈ f(A) ∩ f(B) o que implica f(A ∩ B) ⊂ f(A) ∩ f(B). Por outro lado, se y ∈ f(A) ∩
f(B), temos que y ∈ f(A) e y ∈ f(B), deste modo, existe x1 = x2 tal que x1 ∈ A e x2 ∈
B, no qual f (x1) = y e f(x2) = y, pois a f é injetiva. Considerando x = x1 = x2 temos
que x ∈ A ∩ B, ou seja, f(x) ∈ f(A ∩ B), logo f(x) = y ∈ f(A ∩B), sendo assim, f(A) ∩
f(B) ⊂ f(A∩B), temos que f(A ∩ B) = f(A) ∩ f(B).

II) Se f(A∩B) = f(A) ∩ f(B) então f é injetiva.

Consideremos a contrapositiva da sentença, isto é, se a f não é injetiva, então


f(A∩B) ≠ f(A) ∩ f(B). Temos em I) que f(A∩B) ⊂ f(A) ∩ f(B) sem necessariamente
ser injetiva. Mostraremos que se a f não é injetiva então f(A) ∩ f(B) ⊄f(A ∩B). Seja y
∈ f(A) ∩ f(B), assim y ∈ f(A) e y ∈ f(B), sendo assim existe x1 ∈ A e x2 ∈ B em que
x1 ≠ x2 e f(x1) = y e f(x1) ∈ f(A), f(x2) = y e f(x2) ∈ f(B), deste modo, f(x1) = f(x2) = y,
mas x1≠ x2, pois a f não é injetiva. Logo, f(A) ∩f(B) ⊄f(A∩B) sendo assim, f(A∩B) ≠
f(A) ∩ f(B). Por I) e II) a proposição é verdadeira.

Definiremos o conceito de função sobrejetora. Uma função f : A→B é


denominada de sobrejetiva, ou ainda, sobrejetora se para qualquer elemento y ∈
B, existe um elemento x ∈ A, de modo que f(x) = y.

Conjuntos Finitos e Infinitos 71


U2

O que seria uma função bijetora e qual a relação desse tipo de


função com a correspondência entre os conjuntos numéricos?

Quando uma função é sobrejetora, o contradomínio é igual ao conjunto imagem.


No caso de uma função ser injetora e sobrejetora, denominamos de bijetiva, ou
ainda bijetora, ou seja, temos uma função bijetora se há uma correspondência
entre os dois conjuntos A e B, de modo que cada elemento de A possui uma
correspondência a um dos elementos de B, que denominamos de correspondência
biunívoca. Vejamos um diagrama para ilustrar uma correspondência biunívoca.

Figura 2.2 | Correspondência biunívoca

Fonte: O autor (2015).

Aprofunde seus conhecimentos sobre as aplicações de conceitos de


funções injetora, sobrejetoras e bijetoras. Acesse os links a seguir e
bons estudos.
Funções: <http://www.mat.ufmg.br/~anacris/Funcoes.pdf>.
Função composta: <http://www.calculo.iq.unesp.br/sitenovo/
Calculo1/funcao-composta.html>.
Função inversa: <http://www.calculo.iq.unesp.br/sitenovo/Calculo1/
funcoes-inversas.html>. Acesso em: 10 ago. 2015.

72 Conjuntos Finitos e Infinitos


U2

1.2.2 Conjunto finito e conjunto infinito


Baseados em Boyer (1974) e Eves (1995), descreveremos as contribuições
principalmente de Georg Cantor para o conceito de conjunto infinito. A teoria
dos conjuntos, desenvolvida por Cantor, é composta por demonstrações novas
de fatos conhecidos e o surgimento de diversos fatos novos. Deste modo houve
subsídios para se reformular diversos problemas da matemática, originando os
fundamentos da matemática que sustentam o desenvolvimento da álgebra, da
análise e da geometria.

O surgimento de paradoxos que levaram a resultados inaceitáveis em pleno


século XIX, além da rejeição de axiomas clássicos, fizeram com que a teoria não
fosse bem aceita pelos matemáticos da época. Porém, com o passar do tempo,
essa teoria foi fundamental para o progresso da análise.

Cantor, por volta de 1870, ao estudar a continuidade dos números reais,


demonstra que há conjuntos não enumeráveis. Além de distinguir números
algébricos e transcendentais, ou não algébricos, isto é, um número irracional
que não é uma raiz de qualquer equação polinomial com coeficientes inteiros.
Além disso, Cantor determina um modo de comparar os tamanhos de conjuntos
infinitos, demostrando que o conjunto de todos os números é maior do que o
conjunto dos números algébricos.

Nesse sentido, Cantor adota conjuntos de modo que as totalidades desses conjuntos
possuem propriedades que não são atendidas pelos objetos dessas totalidades.

Em 1872, Cantor definiu números irracionais em termos de sequências


convergentes de números racionais. Além disso, define conjuntos equipotentes,
ou seja, aqueles que possuem uma correspondência biunívoca, e demonstra a
diferença entre cardinais e ordinais, que não é tão simples em conjuntos infinitos
quanto nos finitos. Já em 1873, foi provado que os números racionais estão em
correspondência biunívoca com os números naturais. Em 1874 demonstrou-se
que a classe de todos os números algébricos é enumerável e em 1878 apresentou
um modo para construir classe não enumerável de números reais.

Devido aos estudos de Cantor, pode-se provar que existem conjuntos que não
são equipotentes, como um conjunto infinito ser indicado em correspondência
com uma de suas partes próprias. Os estudos sobre os tipos de infinitude, nos quais
destacamos os números transfinitos, deram origem à definição de continuidade
aplicada no cálculo diferencial e integral.

Vimos nas subseções anteriores os conceitos mais gerais de conjuntos e


funções, recorreremos a esses conceitos para tratar de outros resultados para
lidarmos com conjuntos finitos e infinitos.

Conjuntos Finitos e Infinitos 73


U2

Por meio dos axiomas de Peano, tratados na unidade anterior, abordamos as


sequências de números naturais como números ordinais, ou seja, são objetos que
ocupam determinados lugares em uma sequência ordenada. Outro conceito é o
de números cardinais, que seria o resultado de uma operação de contagem, isto
é, seria a resposta à pergunta: quantos elementos possui um conjunto? Podemos
definir cardinalidade como:

Seja n ∈ N, adotaremos com a notação In, o conjunto dos números naturais de 1


até n. Deste modo, I1 = {1}, I2 = {1,2}, I3 = {1,2,3} e, generalizando, um número k
pertence a In se, e somente se, 1 ≤ k ≤ n.

Considere A um conjunto, temos que A é finito, ou seja, A tem n elementos


quando for possível estabelecer uma correspondência biunívoca f: In → A. O
número natural n chama-se então número cardinal do conjunto A ou, somente, o
número de elementos de A. A correspondência f: In → A denomina-se contagem
dos elementos de A. Sendo f(1) = x1, f(2) = x2, ... , f(n) = xn, podemos indicar A = {x1,
x2, ... , xn}. Para todo n, o conjunto é finito e seu número cardinal é n. Assim, todo
número natural n é o número cardinal de algum conjunto finito. Admitimos que o
conjunto vazio ∅ trata-se de um conjunto finito, no qual ∅ tem zero elemento. Sendo
assim, por definição, zero é o número cardinal do conjunto vazio. Denotamos o
cardinal de um conjunto A por #|A|. Dessa forma, temos:

# |∅ |= 0

# | {0}| = 1

# | {0, 1} | = 2

# |{0, 1, 2} | = 3

...

# | {0, 1, 2, ... , n–1} | = n

74 Conjuntos Finitos e Infinitos


U2

Considere A e B conjuntos quaisquer. Se existe uma bijeção f : A → B, temos que


o conjunto A é equipotente ao conjunto B e denotamos por A ≈ B. Deste modo,
tem-se que A e B possuem a mesma cardinalidade, ou seja, ambos têm o mesmo
número de elementos, ou ainda, têm a mesma potência. Segue que a relação de
equipotência é uma relação de equivalência, pois satisfaz as propriedades reflexiva,
simétrica e transitiva.

Outro resultado é que dados dois conjuntos A e B, temos que #|A| ≤ #|B| se
existe f: A → B injetiva, ou ainda, se A é equipotente a um subconjunto de B. Por
meio da teoria dos conjuntos, pode-se deduzir de todo conjunto outro conjunto
de cardinalidade superior. Vejamos um exemplo:

Considere um conjunto A, tal que A = {0, 1, 2}. Indicamos por P(A) o conjunto
das partes de A, ou seja, o conjunto formado pelos subconjuntos de A, sendo assim:

P(A) = {∅, {0}, {1}, {2}, {1, 2}, {1, 3}, {2, 3}, {1,2, 3}}

Segue que #| P(A)| = 8 > 3 = #|A|. Generalizando o processo de construção do


conjunto das partes de um conjunto, temos que os subconjuntos de um conjunto
de n elementos possui o número total de possibilidades de formação de 2n. Deste
modo, se #|A| =n então #|P(A)| = 2n.

A partir dos conceitos apresentados temos que:

Um conjunto é finito se sua cardinalidade é determinada, ou seja, possui n


elementos. Caso contrário, temos um conjunto infinito.

Vejamos a seguir uma proposição que relaciona as funções bijetoras com os


conjuntos. Considere o seguinte teorema:

Um conjunto é infinito, se e somente se, está em correspondência biunívoca


com um subconjunto próprio.

A partir desse resultado mostraremos que:

O conjunto dos números naturais é infinito por meio de uma correspondência


biunívoca.

Conjuntos Finitos e Infinitos 75


U2

DEMONSTRAÇÃO: Seja a função definida por f: N→2N tal que f(n) = 2n, temos
que mostrar que f é injetora. Para mostrar que f é injetora, consideremos que se
n1≠n2 então f(n1) ≠f(n2). Suponha que f(n1) = f(n2) que implica em n1 = n2, sendo
assim, f(n1)=2n1 e f(n2)=2n2, considere n1≠n2 e f(n1)=f(n2), deste modo, 2n1=2n2 o
que é um absurdo, logo a f é injetora. Temos que 2N é um subconjunto próprio
de N e existe uma correspondência biunívoca com N, segue que N é infinito.

Veremos a seguir exemplos de correspondências biunívocas.

EXEMPLO 1:

Ilustraremos a correspondência biunívoca dos naturais aos números pares, cuja


função é definida por f: N→2N tal que f(n) = 2n. Com esse exemplo, podemos
averiguar que o conjunto dos números naturais é infinito.

Quadro 2.5 | Correspondência biunívoca dos pares


Naturais Pares
0 0
1 2
2 4
3 6
⋮ ⋮
n 2n
⋮ ⋮
Fonte: O autor (2014).

EXEMPLO 2

A seguir ilustramos uma relação dos naturais aos inteiros, cuja função f: N→Z
é definida por:

Por meio dessa função verificamos a correspondência biunívoca e também que


o conjunto dos números inteiros é enumerável, que definiremos posteriormente.

76 Conjuntos Finitos e Infinitos


U2

Quadro 2.6 | Correspondência biunívoca dos naturais aos inteiros


Naturais Inteiros
0 0
1 -1
2 1
3 -2
4 2
5 -3
6 3
⋮ ⋮
N f(n)
⋮ ⋮
Fonte: O autor (2014).

1.2.3 Conjunto enumerável e conjunto não enumerável


Cantor atribuiu aos números naturais o conceito de enumerável, ou seja, são os
números que podemos contar, porém esse conceito pode ser estendido a outros
conjuntos. Podemos definir conjunto enumerável como:

Todo conjunto que possui uma relação de equivalência com o conjunto dos
números naturais.

A relação de equivalência é satisfeita se houver uma correspondência biunívoca,


ou ainda, uma função bijetora entre o conjunto dos naturais e outro conjunto.
Como verificamos no exemplo 2, indicado anteriormente, há uma função bijetora
que satisfaz a relação de equivalência entre os naturais e os inteiros, logo o conjunto
dos inteiros é enumerável.

Como verificar que o conjunto dos números racionais é


enumerável?

Conjuntos Finitos e Infinitos 77


U2

Comparando o conjunto dos inteiros com os das frações racionais, temos


a impressão de que o conjunto dos inteiros é menor do que os racionais, isso
decorre do fato de que entre duas frações há uma infinidade de outras frações,
além das frações equivalentes, porém, apesar disso, podemos verificar que ambos
os conjuntos são enumeráveis.

Para verificarmos, vamos organizar as frações em grupos, cada grupo contendo


aquelas que são irredutíveis e a soma do numerador com o denominador seja
constante, vejamos alguns exemplos aplicados aos racionais positivos:

EXEMPLO 1:

O grupo das frações cujo numerador e denominador somados resulta em 6.

EXEMPLO 2:

O grupo das frações cujo numerador e denominador somados resulta em 9.

Note que cada grupo de frações possui um número finito de elementos. Para
enumerar, por exemplo, os racionais positivos, basta escrever todos os grupos,
um após o outro, na ordem crescente das somas correspondentes. Deste modo,
todos os números racionais serão indicados, ou seja, teremos a sequência a seguir
para os racionais positivos:

A seguir, ilustramos a sequência dos racionais positivos distribuindo as frações


racionais em linhas e colunas de modo que em cada linha fixamos o numerador e
aumentamos de um em um os denominadores seguintes. Deste modo, na primeira
linha temos todas as frações de numerador igual a 1, na segunda linha, todas as

78 Conjuntos Finitos e Infinitos


U2

frações de numerador igual a 2, na terceira igual a 3 e assim sucessivamente.


Podemos observar que são representados todos os números racionais e que
poderemos enumerar os racionais positivos seguindo as flechas. De modo análogo,
podemos realizar os grupos com os racionais negativos.

Figura 2.3 | Enumeração dos racionais

Fonte: Adaptado de Gerônimo e Franco (2006).

Sendo assim, a correspondência biunívoca dos naturais aos racionais pode ser
indicada por:

Quadro 2.7 | Correspondência biunívoca dos naturais aos racionais


positivos
Naturais Racionais
0 0
1 1/1
2 1/2
3 2/1
4 3/1
5 2/2
6 1/3
⋮ ⋮
Fonte: O autor (2014).

É possível enumerar o conjunto dos números irracionais?

Conjuntos Finitos e Infinitos 79


U2

Ao estudarmos os números irracionais, lidamos com números transcendentais


como π e números algébricos como 2 , 3 , 13, entre outros. Mostramos
anteriormente que números como 2 , não podem ser escritos na forma de fração
irredutível, de modo análogo podemos demonstrar para as demais raízes irracionais.
Além disso, os irracionais podem ser expressos por dízimas não periódicas. Apenas
com esses temos a impressão de que existe um número reduzido de termos
pertencentes ao conjunto dos irracionais, mais isso de fato não ocorre, trata-se
de um conjunto infinito e não enumerável. Em consequência disso, temos que
o conjunto dos números reais é não enumerável, uma vez que é a união dos
racionais, que é enumerável, e dos irracionais, que é não enumerável.

A seguir, veremos a demonstração de proposições relacionadas com a


enumerabilidade.

TEOREMA

Se X é enumerável e Y ⊂ X, então Y é enumerável.

DEMONSTRAÇÃO: Temos que se X é enumerável e finito implica em Y ⊂ X ser


finito. Como o conjunto X é enumerável, segue que Y é enumerável. Por outro
lado, se X é enumerável e infinito, existe uma bijeção f : N → X , de modo que X =
{ f (1), f (2), f (3), f (4), ...}, o que implica do fato de que Y ⊂ X em Y ser enumerável.

A partir desse resultado temos alguns corolários.

COROLÁRIO 1

Considere f : X → Y uma função injetiva. Se Y é enumerável, implica em X ser


enumerável.

DEMONSTRAÇÃO: Como f : X → Y é uma função injetora, temos que f : X →


f (X), o qual f (X) é o conjunto imagem de X em relação a f, é uma bijeção. Temos
que f (X ) ⊆ Y e Y é enumerável, segue que f (X) é enumerável e, portanto, X é
enumerável devido à bijeção com f(X).

COROLÁRIO 2

Considere f : X → Y uma função sobrejetiva. Se X é enumerável, implica em Y ser

80 Conjuntos Finitos e Infinitos


U2

enumerável.

DEMONSTRAÇÃO: Como f : X → Y é uma função sobrejetiva, então para


cada y ∈ Y existe pelo menos um x ∈ X, tal que f (x) = y, deste modo, para cada
y escolhemos um único elemento x do domínio que satisfaz a relação f (x) = y.
Dessa forma, definimos uma função g : Y → X dada por g(y) = x, tal que f (g(y)) =
f (x) = y para todo y ∈ Y, deste modo g é uma função injetiva. Como por hipótese
X é enumerável, temos que Y será um conjunto enumerável.

COROLÁRIO 3

Considere X1, X2, X3, ..., Xn, ... conjuntos enumeráveis, então a união

X = X1 ∪ X2 ∪ X3 ∪ ... ∪ Xn ∪ ... será enumerável.

DEMONSTRAÇÃO: Seja a união X = X1 ∪ X2 ∪ X3 ∪ ... ∪ Xn ∪ ... de conjuntos


enumeráveis disjuntas dois a dois, pois, caso contrário, poderíamos considerar os
conjuntos X1, X2 − X1, X3 − (X2 ∪ X1),..., em que a união resulta em X. Como os Xn
são conjuntos enumeráveis, temos que:

X1 = {x11, x12, x13, x14, x15, x16, ..}

X2 = {x21, x22, x23, x24, x25, x26, ..}

X3 = {x31, x32, x33, x34, x35, x36, ..}

...

Xn = {xn1, xn2, xn3, xn4, xn5, xn6, ..}

...

Enumeramos todos os elementos da união X = X1 ∪ X2 ∪ X3 ∪ ... ∪ Xn ∪ ... de


modo que:

I) Os elementos da união de enumeráveis X = X1 ∪ X2 ∪ X3 ∪ ... ∪ Xn ∪ ... são


alinhados de forma que a linha Li, fica com aqueles elementos que pertencem ao
conjunto enumerável Xi com i = 1, 2, 3, ...;

II) A partir dessa organização, enumeramos os conjuntos, como, por exemplo,


indicado no diagrama de setas a seguir:

Conjuntos Finitos e Infinitos 81


U2

Figura 2.4 | Enumeração do conjunto X

Fonte: Adaptado de Souza (2013).

Com essa organização, os elemento de X estarão em correspondência com


um número natural, estabelecendo-se uma bijeção f : N → X, o que implica em X
ser enumerável.

1. Julgue as sentenças a seguir em verdadeiro (V) ou falso (F).


( ) Todo conjunto equipotente a um conjunto enumerável é
enumerável.
( ) Todo superconjunto de um conjunto enumeráveis é
enumerável.
( ) A união de dois conjuntos finitos é um conjunto finito.
( ) A união de dois conjuntos enumerável pode ser não
enumerável.
( ) A interseção de conjuntos disjuntos é o conjunto vazio.
( ) Se um conjunto possui uma correspondência biunívoca
com os naturais então o conjunto é enumerável.

2. Justifique por que uma relação de equivalência é também


uma correspondência biunívoca dos naturais a um outro
conjunto.

82 Conjuntos Finitos e Infinitos


U2

Seção 2
Números Reais
Introdução à seção
Segundo Ávila (2001), diversos matemáticos no século XIX trataram da
construção dos números reais, dentre eles Richard Dedekind, Karl Weierstrass,
Charles Meray e Georg Cantor, mas as teorias consistentes foram de Cantor
e Dedekind, nas quais nos apoiaremos para abordar sobre a axiomatização do
conjunto dos números reais.

Temos que o conjunto dos números reais satisfaz a estrutura algébrica de


corpo, ou seja, é um anel comutativo com unidade que satisfaz a definição de
domínio de integridade e possui elemento inverso multiplicativo, por essa razão
atende aos seguintes axiomas:

Sejam os corpos dos reais com as operações da adição e multiplicação, tal que
(R, +, .), e os elementos x, y e z em R, temos:

Para a adição:

I) Fechamento: para x, y em R, temos x + y em R

II) Elemento neutro: x + 0 = 0 +x = x

III) Elemento oposto: x + (-x) = (-x) + x = 0

IV) Associatividade: x + ( y + z) = (x + y) + z

V) Comutatividade: x + y = y + x

VI) Cancelamento: se x ≠ 0, x + y = x + z implica y = z

Para a multiplicação:

I) Fechamento: para x, y em R, temos x . y em R

II) Unidade: x . 1 = 1 . x = x

III) Elemento inverso: x . x -1 = 1

IV) Associatividade: x. (y . z) = (x . y). z

Conjuntos Finitos e Infinitos 83


U2

V) Comutatividade: x . y = y . x

Para ambas as operações:

I) A distributiva da multiplicação em relação à adição: x. (y ± z) =(y ± z). x = x . y ± x . z

Além disso, possui as seguintes propriedades:

Quadro 2.8 | Propriedades do corpo dos reais


Para todo a, b, x, y, z e w em R, temos que:
1) -0 = 0
2) Se x ≠ 0 então x-1 ≠ 0
3) - ( x + y ) = ( - x ) +( - y ) = - x – y
4) - ( x – y) = y – x
5) (x – y) +(y – z) = x – z
6) (x + y) - ( y – z) = x + z
7) (x – y).( z – w) = (xz + yw) – (xw + yz)
8) x - y = z - w se e somente se, x + w = z + y
9) Seja e o elemento neutro da adição assim e-1 = e
x
10) Seja x ≠ 0, x.y = x.z se, e somente se, y = z
y
x w
11) Seja y ≠ 0 e z ≠ 0, assim ± =
y z

x w
12) Seja y ≠ 0 e z ≠ 0, assim . =
y z
x w
13) Seja y ≠ 0 e z ≠ 0, assim = implica em x.z = y.w
y z
A equação ax + b = 0 em que x é uma incógnita e a, b constantes,
14) possui única solução se a≠0; não possui solução se a = 0 e b ≠ 0; e
possui infinitas soluções se a = 0 e b = 0.
Fonte: O autor (2015).

Como são definidas as operações de subtração e de divisão no


conjunto dos números reais?

84 Conjuntos Finitos e Infinitos


U2

Estude o artigo intitulado A caracterização dos números reais por


Georg Cantor, em tradução de Denise Silva Vilela do artigo publicado
originalmente por Cantor, no qual se discutirá do conceito de
continuidade dos números reais. Acesse o link a seguir e bons estudos.
<http://www.sbhc.org.br/arquivo/download?ID_ARQUIVO=264>.
Acesso em: 10 ago. 2015.

2.1 Corpo ordenado


Para que um conjunto não vazio seja ordenado, é necessário satisfazer a
relação de ordem. Temos que uma relação de ordem de um conjunto A que é um
subconjunto R, e considerando AXA, no qual os elementos satisfazem as seguintes
propriedades reflexiva, antissimétrica e transitiva, ou seja:

a) Reflexiva: para todo x ∈ A temos que (x,x) ∈ R.

b) Antissimétrica: se (x,y) ∈ R e (y,x) ∈ R, então x = y.

c) Transitiva: se (x,y) ∈ R e (y,z) ∈ R, então (x,z) ∈ R.

Definimos um corpo (K, +, ·) ordenado se nele está contido um subconjunto


próprio P ⊂ K, que satisfaz as seguintes condições:

I) Considere x, y ∈ P, temos que x + y ∈ P e x · y ∈ P, ou seja, P é fechado em


relação às operações de adição e multiplicação.

II) Considere x ∈ K, temos que exatamente uma das três possibilidades ocorre: ou
x = 0 ou x ∈ P ou −x ∈ P, sendo que 0 é o elemento neutro da adição.

Uma consequência da definição é que se (K, +, ·) é um corpo ordenado,


podemos formar o conjunto −P = {−x; x ∈ P} e assim obtemos K =P ∪ {0}∪ −P, em
que os conjuntos P, {0} e −P são dois a dois disjuntos.

Outro fato é que, sejam a e b elementos de um corpo ordenado (K, +, ·) e P ⊂


K é um subconjunto que satisfaz as propriedades I) e II) temos que:

Conjuntos Finitos e Infinitos 85


U2

Quadro 2.9 | Elementos de um corpo ordenado


1) a é menor do que b, indicado por a < b quando, b − a ∈ P
2) a é maior do que b, indicado por a > b, quando a − b ∈ P
Fonte: O autor

2.1.1 Relação de ordem nos reais


Segue que a relação a < b e a > b são as relações de ordem em (K, +, ·). Em
consequência, são satisfeitas as seguintes propriedades para a relação de ordem a
< b em (R, +, ·):

Quadro 2.10 | Propriedades relacionadas à ordem em R


Para todo a, b, c, d e x ∈ R, temos que:
1) a < b e b < c implica a < c
2) Para a, b em R temos a = b ou a < b ou b < a
3) a < b implica a + c < b + c
4) 0 < c e a < b implica a · c < b · c
5) a < b se, e somente se, b - a for positivo
6) a > b se, e somente se, a – b for positivo
7) a ≤ b se, e somente se, a < b ou a = b
8) a ≥ b se, e somente se, a > b ou a = b
9) a > 0 implica em a ser positivo
10) a < 0 implica em a ser negativo
11) a< x < b implica em x é maior que a e menor que b
12) a ≤ x ≤ b implica em x é maior ou igual que a e menor ou igual que b
13) a ≤ x < b implica em x é maior ou igual que a e menor que b
14) a< x ≤ b implica em x é maior que a e menor ou igual que b
15) Se a > 0 e b > 0 então a + b> 0
16) Se a > 0 e b > 0 então a.b> 0
17) Se a < b e b < c então a < c
18) Se a < b então a + c < b + c
19) Se a < b e c> 0 então a.c < b.c
20) Se a < b e c < 0 então a.c > b.c
21) a < b e c < d então a + c < b + d
Fonte: O autor (2015).

2.1.2 Intervalos
Além dos conceitos de maior e menor, podemos analisar intervalos, de modo
que entre dois números inteiros existem infinitos números reais. Por exemplo:

86 Conjuntos Finitos e Infinitos


U2

I) Entre os números 1 e 2 existem infinitos números reais:

1,09 ; 1,009 ; 1,0009 ; 1,1 ; 1,3 ; 1,4 ; 1,89 ; 1,988 ; 1,9987 ...

II) Entre os números 5 e 6 existem infinitos números reais:

5,001 ; 5,002 ; 5,003 ; 5,01 ; 5,02 ; 5,05 ; 5,099 ; 5,999 ; 5,9999 ...

Considere dois números reais indicados por a e b, denomina-se intervalo: o conjunto


dos números reais compreendidos entre a e b, podendo inclusive incluir a e b.

Neste caso, o intervalo de números reais pode ser entendido como o conjunto
de números reais entre dois extremos, que indicamos como a e b, podendo a e b
pertencer ou não ao conjunto. Os números a e b são os limites do intervalo, sendo a
diferença p - q, denominada de amplitude do intervalo. No caso do intervalo incluir a e
b, o intervalo é denominado de fechado e, caso contrário, o intervalo é denominado
aberto. No quadro a seguir indicamos intervalos em termos notacionais:

Quadro 2.11 | Intervalos


INTERVALO NOTAÇÃO OBSERVAÇÃO
Fechado [a, b] = {x ∈ R/ a ≤ x ≤ a} inclui os limites a e b.
Aberto (a, b) =]a, b[= { x ∈ R/ a < x < b} exclui os limites a e b.
Fechado à esquerda [a, b) = [a, b[= { x ∈ R/ a ≤ x < b} inclui a e exclui b.
Fechado à direita (a, b] = ]a, b]={x ∈ R/ a < x ≤ b} exclui a e inclui b.
Semi-fechado à esquerda [a, ∞ ) = [a, ∞ [= {x ∈ R/ x ≥ a} números maiores ou iguais a a.
Semi-fechado à direita (- ∞ , a] =]- ∞ , a ]= { x ∈ R/ x ≤ a} números menores ou iguais a a.
Semi-aberto à direita (a, ∞ ) = ]a, ∞ [= { x ∈ R/ x > a } números maiores do que a.
Semi-aberto à esquerda (-∞ , a) = ]- ∞ , a [= { x ∈ R/ x < a} números menores do que a.
Reta real (-∞ , ∞ )= ]-∞ , ∞[ = R números reais.
Fonte: O autor (2015).

A seguir, apresentamos exemplos para a aplicação de intervalos.

EXEMPLO 1

Qual o conjunto solução em R da desigualdade 2 + 3x < 5 x + 8 ?


SOLUÇÂO

2 + 3 x < 5 x + 8 ⇒ 2 − 8 < 5 x − 3 x ⇒ 2 x > −6 ⇒ x > −3


S= { x / x > −3} = ]−3, +∞[

Conjuntos Finitos e Infinitos 87


U2

EXEMPLO 2

Qual o conjunto solução em R da desigualdade 4 < 3 x − 2 ≤ 10 ?


SOLUÇÂO
4 < 3 x − 2 ≤ 10 ⇒ 4 + 2 < 3 x ≤ 10 + 2 ⇒ 6 < 3 x ≤ 12 ⇒ 2 < x ≤ 4
S = { x / 2 < x ≤ 4} = ]2, 4]

Acesse os links a seguir e estude mais sobre relação de ordem e


intervalos.
Representação geométrica de intervalos:
<http://www.infoescola.com/matematica/intervalo/>.
Operações com conjuntos e intervalos:
<http://conteudoonline.objetivo.br/Conteudo/Index/1737?token=5%
2F2Yd2%2Bzzv%2F29umTApxi0Q%3D%3D>. Acesso em: 10 ago. 2015.

2.1.3 Módulo ou valor absoluto


Intuitivamente podemos entender o módulo como a distância de um número
real ao número zero, essa é uma abordagem tratada na Educação Básica quando
justificamos que precisamos medir a distância de um número negativo ao zero e
estendemos esse conceito para os números reais.

Nesta abordagem, ao verificarmos a distância de um número negativo qualquer


ao zero teríamos uma medida negativa que não é adequada, para esse caso temos
a atribuição do módulo de número real a que se atribui um valor positivo.

Deste modo, temos as seguintes situações:

I) O módulo ou valor absoluto de um número real é o próprio número, se for zero


ou positivo.

II) O módulo ou valor absoluto de um número real será o seu simétrico, no caso
de ser um número negativo. 

Adotamos a notação com duas barras verticais para representar o módulo

88 Conjuntos Finitos e Infinitos


U2

ou valor absoluto de um número real, ou seja, |x| (lê-se: o módulo de x). Assim,


podemos defini-lo como:

x = x se x ≥ 0 e x = − x se x < 0

Por exemplo, temos que o |5|= 5 e o |-2| = 2. Uma das aplicações do conceito
de módulo é para a raiz quadrada de um número, neste caso temos que:

x2 = x

Podemos destacar os exemplos:

I) 52= 5= 5
II) (-3) 2 = −3 = 3
A seguir apresentamos propriedades relativas ao módulo ou valor absoluto.

Quadro 2.12 | Propriedades relacionadas ao módulo ou valor absoluto


Para todo a, b, ∈ R e b ≠ 0 temos que:
1) x < a ⇔ −a < x < a onde a > 0
2) x ≤ a ⇔ −a ≤ x ≤ a onde a > 0
3) x > a ⇔ x < −a ou x > a onde a > 0
4) x ≥ a ⇔ x ≤ −a ou x ≥ a onde a > 0
5) |a.b| = |a|.|b|
a a
6) =
b b
7) a+b ≤ a + b
8) a −b ≤ a + b
9) a − b ≤ a −b
Fonte: O autor (2015).

Veremos a seguir alguns exemplos de aplicações de módulos nas resoluções


de equações e inequações:

EXEMPLO 1

Conjuntos Finitos e Infinitos 89


U2

7
3 x + 2 = 5 ⇒ 3 x + 2 = 5 ou 3x + 2 = -5 ⇒ x = 1 ou x = -
3

EXEMPLO 2

5 x + 4 = −3
Neste caso, a equação não possui solução, pois o valor absoluto de um número
não resulta em número negativo.

EXEMPLO 3

-7
3 x + 2 > 5 ⇒ 3 x + 2 < −5 ou 3x + 2 > 5 ⇒ x < ou x > 1
3
 7
S =  −∞, −   ]1, +∞[
 3

2.1.4 A não enumerabilidade dos reais


Ávila (2001), baseado na demonstração de Cantor em 1874, mostra que o
conjunto dos números reais não possui uma correspondência biunívoca com
os naturais e consequentemente não é enumerável, sendo assim, é de tamanho
estritamente superior. Por meio de um simples e elegante método denominado
de diagonal, Cantor provou a impossibilidade da bijeção entre os dois conjuntos
e denominou o conjunto dos reais de contínuo. Justificamos a impossibilidade da
correspondência por meio da seguinte proposição:

R é equipotente ao intervalo ]0, 1[, ou seja, existe uma bijeção de R em ]0,1[.

Para mostrar que existe essa bijeção, basta definirmos a função f: R → ]0,1[ tal que:

90 Conjuntos Finitos e Infinitos


U2

Sendo que essa função possui uma bijeção entre R e ]0,1[, ou seja, é injetora e
sobrejetora.

Por meio do método diagonal, podemos demonstrar que R não é enumerável.


Adotaremos a redução ao absurdo como forma de demonstração.

DEMONSTRAÇÃO: Supomos que R seja enumerável. Como existe uma


bijeção entre R e ]0,1[, temos que há uma relação de equivalência entre os dois
conjuntos, ou seja, R ≈ ]0,1[, sendo assim o intervalo ]0,1[ é também enumerável.
Deste modo, para cada k ∈ N associamos ak pertencente ao intervalo ]0,1[,
consideremos a representação decimal infinita dada por:

ak = 0,bk1bk2 ...bkn...

Sendo assim, temos as seguintes representações decimais:

Quadro 2.13 | Representações decimais


k ak Representação decimal
1 a1 0,b11b12 ...b1n...
2 a2 0,b21b22 ...b2n...
3 a3 0,b31b32 ...b3n...
⋮ ⋮ ⋮
n ak 0,bk1bk2 ...bkn...
⋮ ⋮ ⋮
Fonte: O autor (2015).

A partir disso, definiremos o número x = 0,x1x2 ...x j... pertencente ao intervalo


]0,1[, definido tal que:

Da definição de x segue que xj ≠ bjj, para todo j = 0, 1, 2, ..., e assim x ≠ ak para


todo k = 0, 1, 2, ... Portanto b ∈ [0, 1] não está associado com nenhum ak, qualquer
que seja k, e assim o intervalo ]0,1[ é não enumerável e consequentemente R não
pode ser enumerável.

Conjuntos Finitos e Infinitos 91


U2

Aprofunde seu conhecimento sobre esse tópico, estude o livro de


Geraldo Ávila (2001) intitulado Análise matemática para licenciatura e
veja mais sobre o conjunto dos números reais.

2.2 Corpo ordenado e completo


Os números reais podem ser definidos axiomaticamente como formando um
corpo ordenado completo, pois satisfazem a seguinte proposição conhecida
como Princípio Arquimediano.

Considere os números x, y ∈ R, se x > 0 existe n ∈ N tal que n x > y.

Temos que, num corpo ordenado, o princípio Arquimediano é equivalente a


qualquer uma das seguintes sentenças:

I) Qualquer que seja o número x existe um inteiro n ∈ N tal que x < n.


1
II) A sucessão { � } converge para 0, ou seja, qualquer que seja x > 0 existe p ∈ N
n
tal que para todo n ≥ p, 0 < 1 n < x.

Há outras construções para corpos ordenados completos, temos a construção


dos cortes de Dedekind em que, a uma partição (A, B) de Q em duas metades,
sendo que todo o elemento de A seja um minorante de B, e, reciprocamente, todo
o elemento de B seja um majorante de A. Um corte de Dedkind (A, B) representa
o único número x que é simultaneamente um majorante de A e um minorante
de B. Também temos a construção das sucessões de Cauchy, nesta construção
de um corpo ordenado completo, os números reais são tidos como classes
de equivalência de sucessões de Cauchy, todas convergindo para o número
que representam. Quaisquer dois corpos ordenados completos são sempre
univocamente isomorfos, por esse motivo, qualquer corpo ordenado completo
será tido como o corpo dos números reais, e designado por R, sendo indiferente à
natureza específica dos objetos.

92 Conjuntos Finitos e Infinitos


U2

O conjunto dos números racionais é um corpo ordenado


completo?

Aprofunde seu conhecimento sobre a análise dos conjuntos numéricos,


estude o livro intitulado Introdução à análise matemática na reta, das
páginas 9 a 19. Acesse o link a seguir: <http://www.sbm.org.br/docs/
coloquios/NE-1.02.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2015.

Observamos que as propriedades de corpo e as propriedades de corpo


ordenado também são válidas nos conjuntos dos racionais. Veremos a seguir as
propriedades válidas apenas para os reais que caracterizam esse conjunto como
um corpo ordenado completo.

PROPRIEDADE 1

Considere um subconjunto A ⊂ R, temos que A é limitado se existe k>0 tal que:

x ∈ A implica em – k< x < k.

PROPRIEDADE 2

Temos que s ∈ R é supremo de A se s for a menor das cotas superiores de A, ou seja:

x ≤ s, para todo x ∈ A

x ≤ c, para todo x ∈ A implica em s ≤ c

PROPRIEDADE 3

Temos que i ∈ R é ínfimo de A se i for a maior das cotas inferiores de A, ou seja:

Conjuntos Finitos e Infinitos 93


U2

x ≥ i, para todo x ∈ A

x ≥ c, para todo x ∈ A implica em i ≥ c

A partir dessas propriedades temos o que denominamos de axioma do


supremo, enunciado como:

Todo conjunto limitado e não vazio de números reais possui um supremo e um


ínfimo em R.

Esse axioma que é satisfeito em R garante que os reais são um corpo ordenado
completo. Mostraremos um contraexemplo para demonstrar que o axioma do
supremo não é satisfeito no conjunto dos racionais.

Considere o conjunto A = {x ∈ Q / 0 < x² < 2}, temos que o supremo de A é o


2 , que não é um número racional. Logo, os racionais são um corpo ordenado
apenas.

Ainda relacionado com os conceitos apresentados, temos o seguinte teorema:

Entre dois números reais distintos há sempre um número irracional e também há


sempre um número racional.

Retome o conceito de limite aplicado ao cálculo diferencial e integral


para compreender a próxima proposição. Consulte o material da
disciplina de cálculo!

Além desse princípio arquimediano apresentado anteriormente, podemos


denominar de ordenado completo qualquer corpo ordenado que satisfaça o que
denominamos de Princípio do Encaixe.

94 Conjuntos Finitos e Infinitos


U2

Considere uma sucessão de intervalos fechados encaixados [a1, b1] ⊇ [a2, b2] ⊇
· · · ⊇ [an, bn] ⊇ [an+1, bn+1] ⊇ · · · com limn→∞ bn − an = 0, existe um único elemento
que é comum a todos os intervalos [an, bn].

Aprofunde seu conhecimento sobre o estudo de análise real, veja os


exemplos e demonstrações de proposições relacionadas com essa
unidade de estudo no livro de Elon Lages Lima (2004), intitulado Um
curso de análise, nas páginas 32 a 87. Além disso, acesse o link a seguir e
veja outros resultados relacionados aos números reais.
Disponível em: <http://www.math.ist.utl.pt/~pmartins/CI/NotasCDI01.
pdf>. Acesso em: 10 ago. 2015.

1. Estudamos as propriedades dos números reais por meio das


demonstrações matemáticas; mostre que x.0 = 0, para todo
x ∈ R.

2. Considere as definições e propriedades dos números reais e


resolva a inequação modular:
x − 1 + x + 1 < 10 .

Nesta unidade você aprendeu sobre:

- Conceitos e propriedades sobre conjuntos.

- Operações com conjuntos.

- Conceitos e propriedades sobre funções.

Conjuntos Finitos e Infinitos 95


U2

- Conjuntos finitos e infinitos.

- Conjuntos enumeráveis e não enumeráveis.

- Corpo ordenado dos números reais.

- Relação de Ordem nos reais.

- Intervalos em R.

- Valor absoluto de um número real.

- Corpo ordenado e completo dos reais.

- A não enumerabilidade dos reais.

- Provas e demonstrações matemáticas.

Nesta unidade lidamos com conceitos relacionados a conjuntos


finitos e infinitos. Tivemos como objetivo a partir do tema
definido, tratar sobre conjuntos com as principais propriedades e
definições, diferenciando conjuntos finitos e infinitos, conjuntos
enumeráveis e não enumeráveis. Baseado na estrutura de
corpo, definiu-se axiomaticamente o conjunto dos números
reais como um corpo ordenado completo, tratando da relação
de ordem nos reais e módulo de um número real.

Espero que tenha compreendido esses conteúdos importantes


para o desenvolvimento, sendo que muitos dos tópicos
abordados serão tratados na Educação Básica. Tais conteúdos
são necessários para estudarmos as unidades posteriores.

Aprofunde os conteúdos apresentados, complemente seus


estudos com as leituras sugeridas, pense e busque respostas
para as questões de reflexão. Também recomendo que realize as
atividades de aprendizagem tanto da seção quanto da unidade.

Anseio que obtenha bons estudos e compreenda os conceitos


tratados nesta unidade e continue aprofundando seus
conhecimentos nas próximas unidades deste livro.

96 Conjuntos Finitos e Infinitos


U2

1. (FUVEST - adaptado) Considere que P é uma propriedade


relativa aos números naturais. Sabe-se que:
I- P é verdadeira para o natural n = 10.
II- Se P é verdadeira para n, então P é verdadeira para 2n.
III- Se P é verdadeira para n e n > 2, então P é verdadeira para n - 2.

Pode-se concluir que:


a) P é verdadeira para todo número natural n.
b) P é verdadeira somente para números naturais n, n ≥ 10.
c) P é verdadeira para todos os números naturais pares.
d) P é somente verdadeira para potências de 2.
e) P não é verdadeira para os números ímpares.

2. Considere as operações com conjuntos e A = { a, b },


classifique as sentenças em verdadeiro (V) ou falso (F):
( ) { b } ∈ A.
( ) ∅ ∈ A.
( ) { a } ⊂ A.
( ) a ⊂ A.

3. Justifique, por meio das demonstrações matemáticas


apresentadas na unidade, por que o conjunto dos números
inteiros é um conjunto infinito.

4. Considerando as propriedades e operações com números


reais, qual a solução da equação 2 x − 1 = 4 x + 3 ?

5. Justifique por que o intervalo ]0,1[ no conjunto dos números


reais é infinito e não enumerável?

Conjuntos Finitos e Infinitos 97


U2

98 Conjuntos Finitos e Infinitos


U2

Referências

ÁVILA, G. Análise para licenciatura. São Paulo: Edgard Blucher, 2001.

BOYER, C. B. História da matemática. Tradução: Elza F. Gomide. São Paulo: Edgard


Blucher, 1974.

EVES, H. Introdução à história da matemática. Campinas: UNICAMP, 1995.

GERÔNIMO, J. R., FRANCO, V. S. Fundamentos de matemática: uma introdução à


Lógica Matemática, Teoria dos Conjuntos, Relações e Funções. Maringá: Eduem, 2006.

LIMA, E. L. Um curso de análise. IMPA, Projeto Euclides. Rio de Janeiro: IMPA, 2004.

SOUZA, J. S. Números reais: um corpo ordenado e completo. Dissertação de


mestrado profissional. Goiana: UFG, 2013.

Conjuntos Finitos e Infinitos 99


Unidade 3

SEQUÊNCIAS E SÉRIES
DE NÚMEROS REAIS

Debora Cristiane Barbosa Kirnev

Objetivos de aprendizagem: Nesta unidade, temos como objetivo


definir, conceituar e demonstrar resultados relacionados à sequência e limite
de uma sequência, convergência de sequência, sequências monótonas,
limites e desigualdades, operações com limites e os testes de convergência
para séries.

Ao final desta unidade, espero que compreenda os conceitos, definições


e propriedades abordados.

Bons estudos.

Seção 1 | Sequências Numéricas


Nesta seção, conceituaremos sequências numéricas, apresentando
a definição e retomando os conceitos de progressões aritméticas e
geométricas. Posteriormente, trataremos de sequências limitadas e
monótonas, apresentando definições, exemplos e propriedades.

Seção 2 | Séries Numéricas


Nesta seção, conceituaremos séries numéricas por meio de exemplos,
apresentando as definições e propriedades, posteriormente realizaremos
testes de convergências para séries.
U3

102 Sequências e Séries de Números Reais


U3

Introdução à unidade

Segundo Boyer (1967), na antiguidade Pitágoras (585 a.C.-500 a.C.) e outros


teóricos contribuíram para o desenvolvimento da Aritmética, desde essa época os
pitagóricos já lidavam com as progressões aritméticas, geométricas, harmônicas
e outras sequências numéricas. Nesta unidade, trataremos sobre sequências e
séries, destacando as principais características acerca desses conteúdos.

Na primeira seção, o tema trabalhado será sequências. Definiremos sequências


como uma função e veremos exemplos que explicitam essa definição para
posteriormente analisarmos o conceito de limites e indicarmos se uma sequência
é convergente ou divergente, também veremos propriedades relacionadas às
sequências e classificaremos em monótonas crescentes, decrescentes e constantes.

Na segunda seção, conceituaremos séries numéricas, primeiramente por meio


de exemplos e posteriormente apresentando a definição, propriedades e testes de
convergência para séries.

Aprofunde os conhecimentos adquiridos aproveitando ao máximo o conteúdo


disponibilizado neste material.

Sequências e Séries de Números Reais 103


U3

104 Sequências e Séries de Números Reais


U3

Seção 1
Sequências Numéricas

Introdução à seção
Constantemente nos deparamos com conjuntos em que os elementos estão
ordenados. Na própria natureza temos padrões e regularidades nos quais podemos
estabelecer sequências. Denominamos de sequência ou sucessão qualquer
conjunto ordenado.

Podemos ter sequências finitas e infinitas, sendo representadas da seguinte forma:

(a1, a2, a3, ... , ... , an, ...) em que temos a1 como primeiro termo, a2 como
segundo termo, ... , an como n-ésimo termo.

EXEMPLO:

O conjunto dos múltiplos de cinco indicados por X=(0, 5, 10, 15, 20, ...) é um
caso de sequência numérica infinita.

Existem sequências em que podemos estabelecer uma lei de formação, ou


seja, há uma relação matemática entre os termos, sendo possível estabelecer o
que denominamos de termo geral.

Após conceituarmos o que seria uma sequência, apresentamos a definição


formal baseada em Ávila (2001) e em Lima (2004), vejamos:

Definição: uma sequência real (ou sucessão) é uma função f: N → R que associa
a cada número natural n um número real f(n). O valor numérico f(n) é o termo de
ordem n da sequência. Do modo como definimos a sequência, o domínio de f é
um conjunto infinito, mas o contradomínio poderá ser finito ou infinito. O domínio
de uma sequência é indicado por Dom(f)=N e a imagem de uma sequência por
Im(f)={a1, a2, a3, ...}.

Sequências e Séries de Números Reais 105


U3

Para compreendermos o conceito e a definição de sequência, abordaremos os


conteúdos de progressões aritméticas e progressões geométricas que envolvem
os conceitos de sequências e de séries que veremos posteriormente. Faremos
uma breve retomada desses conteúdos para tratarmos de conceitos mais abstratos
relacionados ao tema desta unidade.

1.1 Conceito de Progressão Aritmética (PA)


Segundo Boyer (1974), desde a antiguidade temos indícios de resolução de
problemas que envolvem progressões. Destacamos, por exemplo, egípcios que
buscaram estabelecer padrões para as enchentes do rio Nilo, analisando os
períodos em que ocorriam cheias do rio e se organizando para o plantio na baixa
do rio. Quanto aos babilônicos, eram um povo no centro das rotas de navios
e utilizaram a troca de experiências com os diferentes povos para resolverem
problemas matemáticos.

Um dos registros históricos de problemas da antiguidade é o papiro Rhind,


datado de em torno de 1650 a.C. Neste papiro destacamos o exemplo sobre
progressão: divida 100 pães entre cinco homens de modo que as partes recebidas
estejam em Progressão Aritmética e que um sétimo da soma das três partes
maiores seja igual à soma das duas menores.

Atualmente os conceitos de progressão aritmética (PA) são aplicados em


problemas cotidianos abordados no ensino desse conteúdo.

1.1.1 Termo geral de uma PA


Para compreendermos o que seria um termo geral, vamos analisar o seguinte
problema.

EXEMPLO:

(Osec-SP - adaptado) Um jardim tem uma torneira e dez roseiras dispostas em linha
reta. A torneira dista 50 m da primeira roseira e cada roseira dista 2 m da seguinte.
Um jardineiro, para regar as roseiras, enche um balde na torneira e despeja seu
conteúdo na primeira. Volta à torneira e despeja seu conteúdo na segunda Volta à
torneira e repete a operação para cada roseira seguinte. Após regar a última roseira
e voltar à torneira para deixar o balde, ele terá andado quantos metros?

SOLUÇÃO: Vejamos a seguinte representação para a situação-problema:

106 Sequências e Séries de Números Reais


U3

Figura 3.1 | Representação do problema das roseiras

Fonte: O autor (2015).

Ao analisar a imagem construímos uma sequência que representa quantos


metros o jardineiro caminhou em cada percurso de ida e volta (100, 104, 108, 112,
116, 120, 124, 128, 132, 136). Para determinar o percurso realizado pelo jardineiro,
basta somarmos os termos dessa progressão aritmética, ou seja:

S= 100+104+108+112+116+120+124+128+132+136 = 1180

Portanto, o jardineiro andou 1180 m.

A partir desse exemplo podemos definir progressões aritméticas, vejamos:

Definição: denominamos de progressão aritmética uma sequência numérica em


que termos, a partir do segundo, são obtidos por meio da soma de um número
constante chamado de razão (r).

Vejamos algumas sequências que são progressões aritméticas:

X = (1, 7, 13, 19, ...) neste caso a razão será r = 6, ou seja, temos uma sequência
crescente.

Y = (-17,- 17,- 17, ...) neste caso a razão será r = 0, ou seja, temos uma sequência
constante.

Z = (50, 40, 30, 20, ...) neste caso a razão será r = -10, ou seja, temos uma
sequência decrescente.

Após a conceituação de progressão aritmética precisamos deduzir o termo


geral de uma PA, vejamos:

Definição: considere a sequência (a1, a2, a3, ... , an, ...) em progressão aritmética e
de razão r. Segue que:

Sequências e Séries de Números Reais 107


U3

a2 = a1 + 1.r

a3 = a2 + r = (a1 + r) + r = a1 + 2r

a4 = a3 + r = (a1 + 2r) + r = a1 + 3r

Observe os destaques; generalizando temos que:

an = a1 + (n – 1) . r

Sendo que essa expressão representa o termo geral de uma PA no qual o an é o


n-ésimo termo, r é a razão e a1 é o primeiro termo da sequência.

Vejamos alguns exemplos sobre essa definição:

EXEMPLO 1:

Um escritor escreveu, em certo dia, as 20 primeiras linhas de um livro. A partir


desse dia, ele escreveu, em cada dia, mais 5 linhas. O livro tem 17 páginas, cada
uma com exatamente 25 linhas.

a) Em quantos dias o escritor concluiu o livro?

b) Quantas linhas foram escritas neste livro, considerando que a 17ª página está
completa?

c) Qual a representação gráfica do número de dias relacionado com o número de


linhas escritas nos primeiros 10 dias?

d) Existe um nome específico para o relacionamento de dados? Analise se a


representação gráfica dos dados é crescente ou decrescente.

SOLUÇÃO:

a) Construindo uma tabela com os dados do problema temos:

Tabela 3.1 | Representação do problema do escritor


Dia Número de linhas escritas Número de páginas escritas
1 20 0
2 25 1
3 30 -
4 35 -
5 40 -
6 45 -
7 50 2

108 Sequências e Séries de Números Reais


U3

8 55 -
... ...
n
Fonte: O autor (2015).

Pela tabela, podemos perceber que no segundo dia ele conclui a primeira
página e, a partir do segundo dia, a cada cinco dias uma nova página vai sendo
escrita, deste modo, podemos construir a função que relaciona o número de dias
(n − 2)
(n) com o número de páginas escritas (f(n)), ou seja, f ( n) = 1 + . Assim,
5
(n − 2)
para 17 páginas escritas teremos 17 = 1 + , ou seja, n = 82.
5
b) Utilizando a tabela do item a podemos estabelecer a relação f(n) = 20 + (n-1)5.
Assim, em 82 dias conforme obtemos no item anterior, teremos escrito 425 linhas.

c) Temos a seguinte representação gráfica:

Figura 3.2 | Gráfico do problema do escritor

Fonte: O autor (2015).

d) Podemos relacionar os dados desse problema com o conceito de função, e neste


caso se trata de uma função linear definida de f: N → R e estritamente crescente.

EXEMPLO 2:

Uma bola é lançada do topo de uma torre. Ao cair no vácuo, percorre 9,8 m após
um segundo de queda, 19,6 m após dois segundos de queda, 29,4 m após três
segundos de queda, e assim sucessivamente. Sabendo que a altura desta torre é
de 196 metros, responda os itens a seguir.

Sequências e Séries de Números Reais 109


U3

a) Depois de quantos segundos a bola estará a 49 metros do chão?

b) Qual a representação gráfica da situação?

SOLUÇÃO:

a) Construindo uma tabela com os dados do problema temos:

Tabela 3.2 | Representação do problema do lançamento de bola


N Segundo Quantidade de metros percorridos Altura do chão
1 0 0 196
2 1 9,8 186,2
3 2 19,6 176,4
4 3 29,4 166,6
Fonte: O autor (2014).

Note que, 19,6 – 9,8 =9,8 e que 29,4 – 19,6 = 9,8. Podemos observar uma
progressão aritmética em que a razão é 9,8 sendo uma PA decrescente, assim,
adotando a razão como r = – 9,80 temos que:

an= a1+(n-1).r

49= 196 + ( n-1) . (-9,80), deste modo n = 16

b) A partir dos dados do problema temos a seguinte representação gráfica:

Figura 3.3 | Gráfico do problema do lançamento da bola

Fonte: O autor (2015).

110 Sequências e Séries de Números Reais


U3

Observamos que as progressões aritméticas satisfazem às seguintes propriedades:

1ª) A soma de termos equidistantes é a mesma.

2ª) Temos a mesma média aritmética para termos equidistantes.

Vejamos um exemplo sobre essas propriedades:

EXEMPLO 3:

Numa escola da Alemanha, um professor pediu que os alunos somassem todos os


números naturais de 1 a 100:

1 + 2 + 3 + ... + 98 + 99 + 100.

Para surpresa de todos, um dos alunos deu a resposta imediatamente: 5.050

Realize a soma desses termos e verifique se está correta.

SOLUÇÃO:

Vamos somar uma sequência de números menores, isto é,

1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + 7 + 8 + 9 + 10 = 55

Deste modo, vamos fazer a soma como Gauss,

1+10 = 11

2+ 9 = 11

3+ 8 = 11

4+ 7 = 11

5+ 6 = 11

Agora temos 5 somas de 11, ou seja, 5 x 11 = 55.

Fazendo de modo análogo a soma dos termos de 1 até 100 podemos verificar
que a soma dos termos é igual a 5050.

Esclarecendo a história: a pedido do professor, ele explicou que a soma de 1


com 100, de 2 com 99, de 3 com 98, e assim por diante, até a última soma, que é

Sequências e Séries de Números Reais 111


U3

de 50 com 51, é sempre igual a 101. Assim:

1+2+3+ ... + 50 + 51 + ... + 98 + 99 + 100

Como eram 50 somas iguais de 101, o resultado só poderia ser 50 x 101, e essa
multiplicação ele fizera “de cabeça”. Este menino chamava-se Gauss.

Analisando a soma de Gauss, como generalizar a soma de uma PA?

Geralmente, consideramos uma PA = (a1 , a2 , a3 , ... , an), segue que Sn é a soma


dos n termos dessa PA, logo

Deste modo,

Segue que,

Portanto, deduzimos uma expressão para soma de uma PA.

Apresentamos a seguir alguns desafios, construa as resoluções desses


problemas.

112 Sequências e Séries de Números Reais


U3

Riquinho, que é muito esperto, disse a seu pai que, em vez da mesada
de R$ 300,00, gostaria de receber um pouquinho a cada dia: R$ 1,00 no
primeiro dia de cada mês e, a cada dia, R$ 1,00 a mais que no dia anterior.
Seu Juca concordou, mas, ao final do primeiro mês, logo percebeu
que havia saído no prejuízo. Calcule quanto, em um mês com 30 dias,
Riquinho receberá a mais do que receberia com a mesada de R$ 300,00.
SOLUÇÃO: Receberá R$ 165,00
Fonte do desafio 1: <http://www.profezequias.net/papg.html>. Acesso
em: 11 set. 2015.

DESAFIO 2: (UFRJ) Felipe começa a escrever números naturais em uma


folha de papel muito grande, uma linha após a outra, como mostrado
a seguir

1
2 3 4
3 4 5 6 7
4 5 6 7 8 9 10
5 6 7 8 9 10 11 12 13
6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
...........
...........

Considerando que Felipe mantenha o padrão adotado em todas as linhas:


a) Determine quantos números naturais ele escreverá na 50ª linha.
b) Determine o somatório de todos os números escritos na 50ª linha.
c) Prove que o somatório de todos os elementos de uma linha é sempre
o quadrado de um número ímpar.

SOLUÇÃO:
Item a)
Como a linha 1 temos (2.1-1) = 1 termo.
Como a linha 2 temos (2.2-1) = 3 termos.
Como a linha 3 temos (2.3-1) = 5 termos.
Como a linha 4 temos (2.4-1) = 7 termos.
Portanto a linha n terá (2n-1) termos, assim a linha 50 tem portanto
(2.50-1) = 99 termos.

Item b)
Como o primeiro termo da linha 50 é 50, e como ela forma uma
progressão aritmética de razão 1 e tem 99 termos, o seu último termo é
50 + (99-1).1 = 148. Logo a linha 50 é a sequência 50, 51, 52, 53, ..., 148.
Segue que a soma dos seus termos será 9801.

Sequências e Séries de Números Reais 113


U3

Item c)
Seja q(n) a quantidade de números na n-ésima linha. Observando que
a quantidade de números na 1º linha é 1, na 2º é 3, na 3º é 5, e assim
sucessivamente, temos q(n) = 2n -1.
S = n + (n+1) + (n + 2) + ... + [n + q(n) -1]
S = q(n) . n + { 1 + 2 + ... + [q(n) -1] }
S = q(n) . n + { q(n). [(q(n) - 1]/2 }
Sabendo que q(n) = 2n - 1, segue que,
S = (2n -1)2.
Fonte do desafio 2: <http://www.anchietaba.com.br/portal/canal-
damatematica/resolucao/ufrj_vest2004_resposta.pdf>. Acesso em: 11
set. 2015.

1.2 Conceito de Progressões Geométricas (PG)


Uma progressão geométrica trata-se de uma sequência numérica na qual a partir
do primeiro termo cada elemento é igual ao produto do termo anterior por uma razão
q. Um exemplo desse tipo de sequência é (3, 12, 48, 192,...), neste caso o primeiro
termo que indicamos por a1 = 3, a razão q= 4. Uma aplicação desse tipo de sequência
é no cálculo de juros compostos, que são aplicados no mercado financeiro.

1.2.1 Termo geral de uma PG


Para compreendermos o que seria um termo geral, vamos analisar o seguinte
problema.

EXEMPLO:

Qual o montante produzido em 3 meses a uma taxa de 20% a.m., no regime de


juros compostos, a partir de um capital inicial de R$ 10.000,00?

SOLUÇÃO: Construindo uma tabela para verificar o rendimento mensal dos juros
temos:

Tabela 3.3 | Representação do problema do juros compostos


Período Juros Montante
0 0 10.000
1 2.000 12.000
2 2.400 14.400

114 Sequências e Séries de Números Reais


U3

3 2.880 17.280
... .... ...
n j 10.000 (1+0,2)n
Fonte: O autor (2015).

Assim, o montante (M) que é o acúmulo do capital inicial e os juros do período será:

M = 10000. (1+0,2)3

M = 17.280,00

Relacionando com progressões geométricas, temos que o a1= 10000 e a razão


será q=1,2.

Qual o tipo de função que podemos associar com o juro


composto? Como seria a representação gráfica?

Além desse exemplo, podemos observar padrões geométricos nos fractais que
dão origens a sequências com caracterizações de uma PG.

EXEMPLO:

Observemos o fractal triminó indicado na Figura 3.4:

Figura 3.4 | Fractal triminó

Fonte: O autor (2015).

Sequências e Séries de Números Reais 115


U3

Qual o padrão geométrico do fractal triminó?

Após analisarmos o padrão geométrico desse fractal podemos construir a


seguinte tabela:

Tabela 3.4 | Representação do problema do fractal triminó


Nível Quantidade de quadrados
1 31=3
2 3² =9
3 3³ = 27
4 34 = 81
... ...
n 3n
Fonte: O autor (2015).

Associando esse exemplo com PG temos que a1 = 3 e a razão q = 3.

Existem sequências em que não podemos definir a razão entre dois


termos consecutivos? O que seriam sequências recursivas?

Para aprofundar seu conhecimento sobre progressões geométricas,


estude o artigo intitulado de Fractais: progressão e série geométrica
uma metodologia de ensino. Disponível em: <http://facos.edu.
br/publicacoes/revistas/modelos/agosto_2011/pdf/fractais_
progressao_e_serie_geometrica.pdf>. Acesso em: 11 set. 2015.

116 Sequências e Séries de Números Reais


U3

Nas progressões geométricas ao considerarmos três termos consecutivos,


o termo médio será a média geométrica dos outros dois termos. Além disso,
podemos observar outras características nas sequências em PG, vejamos os casos
a seguir:

X= (4, 16, 64, 256, ...) neste caso a razão será q = 4, ou seja, temos uma sequência
crescente.

Y = (180, 90, 45, ...) neste caso a razão será q = 1/2, ou seja, temos uma sequência
decrescente.

Z = (-6, 12, -24, 48, ...) neste caso a razão será q = -2, ou seja, temos uma sequência
oscilante.

W = (13, 13, 13, 13, ...) neste caso a razão será q = 1, ou seja, temos uma sequência
constante.

Observamos que temos a razão de uma PG por meio de:

q = a2 / a1 = a3 / a2 = a4 / a3 = an / an-1

Quanto ao termo geral de uma PG, podemos obtê-lo por meio da seguinte
generalização:

a2 / a1 = q → a2 = a1 . q

a3 / a2 = q → a3 = a2 . q → a3 = a1 . q . q → a3 = a1 . q2

a4 / a3 = q → a4 = a3 . q → a4 = a1 . q2 . q → a4 = a1 . q3

Continuando esse procedimento para uma sequência qualquer, isto é:

( a1, a2, a3, a4, ...., an-1, an)

Temos que:

( a1, a1. q, a1. q², a1. q³, a1. q4, ..., a1.q(n-1))

Deste modo, o termo geral para qualquer n pertencente aos naturais é definido por:

an = a1 .q(n-1)

Sequências e Séries de Números Reais 117


U3

Se tivermos partes de uma PG, ou ainda não tivermos o primeiro termo,


poderíamos ajustar a generalização anterior, isto é:

an = ak .q(n-k)

Como determinar a soma dos termos de uma PG?

Acesse o link a seguir e veja exemplos resolvidos sobre progressões


geométricas. Disponível em: <http://exercicios.brasilescola.com/
exercicios-matematica/exercicios-sobre-progressao-geometrica.
htm>. Acesso em: 11 set. 2015.

1.3 Sequências Monótonas e Limitadas


Por meio dos exemplos apresentados nas subseções anteriores, podemos notar
que as sequências são funções cujo domínio é o conjunto dos números naturais,
ou seja, os números inteiros e positivos. Quanto à imagem, são os elementos da
sequência. No caso do n-ésimo termo indicado por f(n), temos o par ordenado
associado com a função (n, f(n)), em que n é um número inteiro positivo.

EXEMPLO:

Seja a função definida por segue que:

Para n=1 temos

Para n=2 temos

118 Sequências e Séries de Números Reais


U3

Para n=3 temos

Para n=4 temos

E assim sucessivamente, formando a sequência ( ..., .

Para essa sequência temos os seguintes pares ordenados associados:

Tabela 3.5 | Pares ordenados da sequência 


1 

2n + 1  
Termo Par ordenado
1
1 A= ( 1, )
3
1
2 B= ( 2, )
5
1
3 C= ( 3, )
7
1
4 D= ( 4, )
9
... ...

( n,
1
n )
2n + 1
Fonte: O autor (2015).

Representando graficamente temos que:

Figura 3.5 | Representação gráfica da função

Fonte: O autor (2015).

Observe que a representação gráfica de uma sequência é um gráfico com

Sequências e Séries de Números Reais 119


U3

dados discretos, isso ocorre porque o domínio é o conjunto dos números naturais.

Se continuarmos indicando os pares ordenados dessa função, os pontos


aproximam-se infinitamente do eixo horizontal, ou seja, se aplicarmos o limite nessa
função tenderíamos a zero, neste caso temos uma sequência que denominamos
de convergente, pois, existe um limite, caso contrário teríamos uma sequência
divergente.

Geralmente, se existir um número L em que |an – L| seja arbitrariamente pequeno


para n suficientemente grande, temos que a sequência (an) possui o limite L, neste
caso denominamos a sequência de convergente, vejamos a definição:

Definição: A sequência (an) possui o limite L se para qualquer ɛ > 0 existir um


número N>0, tal que se n for um inteiro e se n > N, então |an – L|< ɛ.

Vejamos um exemplo para aplicarmos a definição.

EXEMPLO: (Adaptação de LEITHOUD, 1994, p. 690)


1
Provaremos que a sequência definida pela função possui o limite ,
2
ou seja, , vejamos:

DEMOSTRAÇÃO: precisamos mostrar que para todo ɛ > 0 existe um número N>0,
tal que se n for um inteiro e se n > N, então:
n
| 2n + 1 |< ɛ

2n − 2n − 1
|
2. ( 2n + 1)
|< ɛ
−1
| 2. 2n + 1 |< ɛ
( )


1
2. ( 2n + 1)

1
2n + 1 > 2ε

n> 1 − 2ε

1 − 2ε
Para que a afirmação seja válida, consideramos N = e se n for um número

120 Sequências e Séries de Números Reais


U3

inteiro temos que:


n
Se n > 1 − 2ε
, então | 2n + 1 |< ɛ.

1 3
Verificando a proposição para ε = , então N = , reescrevendo a proposição
8 2
anterior com esses dados temos:
n
Se n >
3 1
, então | 2n + 1 |< .
2 8

Considerando n = 4 temos que:


4 1
| 2.4 + 1 |<
8
4 1
|9 |<
8
1
| |<
8
1
Deste modo, mostramos que o limite dessa sequência será .
2

Aprofunde seus conhecimentos sobre sequências convergentes e


divergentes estudando os exemplos indicados no link a seguir:
Disponível em: <http://www2.sorocaba.unesp.br/professor/luiza/CDI-
III/series1.pdf>. Acesso em: 11 set. 2015.

Considere c uma constante e an e bn sequências numéricas, assim temos as


seguintes propriedades:

1ª) Uma sequência constante (c), tem c como seu limite.

2ª)

3ª) lim an ± bn =
n →∞

Sequências e Séries de Números Reais 121


U3

4ª) lim an .bn =


n →∞

an lim an
5ª) lim = n→∞
n →∞ b
n
lim bn
n →∞

Qual a diferença de sequência limitada e uma sequência que


possui limite?

Além de analisarmos a convergência ou divergência de uma sequência,


podemos classificá-la, vejamos a seguinte definição:

Definição: denominamos de sequências monótonas uma sequência que seja


crescente, decrescente ou constante, de modo que:

1º) Se an < an+1 para todo n então a sequência é estritamente crescente.

2º) Se an > an+1 para todo n então a sequência é estritamente decrescente.

3º) Se an = an+1 para todo n então a sequência é constante.

EXEMPLO:
1
Classificaremos a sequência   , primeiramente verificaremos quais são os termos
n
dessa sequência:

Tabela 3.6 | Termos da sequência 1


 
n

Número
Termo da sequência
inteiro
1 1
1
2 2
1
3 3
1
4 4

122 Sequências e Séries de Números Reais


U3

... ...
n
Fonte: O autor (2015).

Analisando os elementos da tabela, temos uma sequência monótona


decrescente, ou seja, para todo n inteiro e positivo. Essa sequência é

denominada como sequência harmônica.

A seguir definiremos limitantes para sequências, vejamos:

Definição: Um número C é denominado de limitante inferior de uma sequência


(an) se C ≤ an para todo n inteiro e positivo. Um número D é denominado de
limitante superior de uma sequência (an) se an ≤ D para todo n inteiro positivo.

EXEMPLO:
1
Representaremos graficamente a sequência   para analisarmos os limitantes.
n
Temos os seguintes pares ordenados para essa sequência:

Tabela 3.7 | Pares ordenados da sequência 1


 
n
Termo Par ordenado
1 A= ( 1,1)
1
2 B= ( 2, )
2
1
3 C= ( 3, )
3
1
4 D= ( 4, 4 )
1
5 E= ( 5, )
5
1
6 F= ( 6, 6 )
1
7 G =( 7, )
7
... ...
 11 
n ( n, ))
 nn 
Fonte: O autor (2015).

Sequências e Séries de Números Reais 123


U3

Indicando os pares ordenados no plano cartesiano temos que:

Figura 3.6 | Representação gráfica da sequência 1


 
n

Fonte: O autor (2015).

Retomando a definição de limitante e analisando o gráfico, podemos concluir que:

1º) -3 é um limitante inferior da sequência, assim como -2.

2º) O limitante inferior máximo da sequência será o número zero.

3º) 4 é um limitante superior da sequência, assim como 3.

4º) O limitante superior mínimo dessa sequência será o número um.

A partir dessa análise concluímos que:

Definição: uma sequência (an) é limitada se, e somente se, possuir limitantes
superior e inferior.

1
Baseadas nas análises realizadas na sequência   , podemos
n
verificar que a sequência converge ou diverge?

124 Sequências e Séries de Números Reais


U3

Para aprofundar seus conhecimentos sobre sequências monótonas e


limitadas acesse o link a seguir e veja mais exemplos e demonstrações
de resultados referentes a esse conteúdo: <https://galdino.catalao.ufg.
br/up/635/o/sequencia.pdf>. Acesso em: 11 set. 2015.

1. Considere a sequência, (1, 1, 2, 3, 5, 8, 13 ...) o termo que


ocupa da 13ª posição será:
a) 95
b) 144
c) 89
d) 233
e) 68

2. Observe a sequência de figuras que representam os números


quadrangulares e responda:

Figura 3.7 | Representação dos números quadrangulares

Fonte: O autor (2015).

a) Quantos quadrados possuirá o décimo elemento dessa


sequência?
b) Indique os dez primeiros termos dessa sequência.
c) Qual o termo geral da sequência?

Sequências e Séries de Números Reais 125


U3

126 Sequências e Séries de Números Reais


U3

Seção 2

Séries Numéricas

Introdução à seção
Vimos anteriormente o conceito de uma sequência numérica de números reais.
Nesta seção, trataremos de séries numéricas que estão relacionadas à soma de
elementos de uma sequência real. Temos que para a operação de adição definida
nos reais podemos aplicar a propriedade associativa, ou seja, se somarmos 23
+ (34+56) = (23 + 34) + 56, assim em uma sequência finita podemos agrupar
os termos de modo apropriado e realizarmos a adição. Mas como realizar esse
procedimento para sequências infinitas?

Inicialmente conceituaremos séries numéricas para posteriormente lidarmos


com problemas como o levantado na questão anterior.

2.1 Conceituando Séries Numéricas


Segundo Boyer (1974), na antiguidade Arquimedes, por volta do ano 250 a.C., já
precisou calcular a soma dos termos da sequência:

1 + ¼ + (¼)2 + (¼)3 + ... = 4/3

Mesmo não adotando procedimento para séries infinitas, essa foi uma das
primeiras somas de sequências. Somente por volta de 1350 é que temos registros
de soma de sequências por meio de procedimentos de cálculos infinitesimais.
 n  , ou seja:
Como, por exemplo, a soma da sequência
 n
2 
1 2 3 n
+ + + ... + n + ... = 2
2 4 8 2
Nesse mesmo período, Oresme contribuiu com o desenvolvimento matemático,
apresentou a primeira demonstração de que a série harmônica é divergente, isto é:

1 1 1 1
+ + + ... + + ... = + ∞
2 3 4 n

Sequências e Séries de Números Reais 127


U3

Agrupando os termos dessa sequência do seguinte modo:


1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
+ + + ... + + ... = +( + ) + ( + + + ) + ( + + ... + ) + ...
2 3 4 n 2 3 4 5 6 7 8 9 10 16

Concluímos que cada soma entre parênteses será maior ou igual a ½, assim
podemos indicar que:
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
+( + ) + ( + + + ) + ( + + ... + ) + ... ≥ + + + ... = + ∞
2 3 4 5 6 7 8 9 10 16 2 2 2

Em torno de 1668, Gregory e Mercator estudaram e apresentaram resultados


sobre o que denominaram de séries de potências de x, que representam funções
como sen x, cos x, tg x, entre outras, como os exemplos que indicamos a seguir.

EXEMPLO 1: a função arcotangente de x, indicada por:

x3 x5 x 7 .
arctg x = x − + − + ...
3 5 7

EXEMPLO 2: a função ln (1+x) indicada por:

x2 x3 x4
ln(1+x) = x - + - + ...
2 3 4

Já em 1748, Euler publicou trabalhos que demonstravam somas de séries como


as indicadas a seguir.

EXEMPLO 1:
1 1 1 1 1
+ + + +. . . =
π 2
(2π ) (3π ) (4π )
2 2 2
6

EXEMPLO 2:
1 1 1 1 π2
+ + + =
12 22 32 42 6

Vários matemáticos contribuíram com estudos acerca da convergência de


séries numéricas e de séries de funções, veremos a seguir definições, propriedades

128 Sequências e Séries de Números Reais


U3

acerca de séries infinitas.

2.2 Séries Infinitas


Analisaremos a convergência de dízimas periódicas para compreendermos o
conceito de convergência de séries numéricas. Temos que

0,1 + 0,01 + 0,001 + .... = 0,111...

Neste caso, temos a soma de uma PG de infinitos termos, segue que a razão é
1 1 1
q= +e a soma
+ dos
+ termos
... dessa sequência pode ser indicada por:
10 10 1032
1 1 1
+ 2 + 3 + ...
10 10 10

No qual converge, ou seja:


1 1 1 1
+ 2 + 3 + ... =
10 10 10 9

De modo análogo, considerando 0,333... = x temos 3, 333... = 10x. Ao


subtrairmos estas equações temos que 9x = 3, isto é, x = 3/9 = 1/3 . Segue que:

3 3 3 1
+ + + ... =
10 100 1000 3

No caso de dízimas periódicas, podemos verificar a convergência das séries,


vejamos um exemplo diferente.

Considere a seguinte soma S = 1 – 1 + 1 – 1 + 1 – 1 + .....

Aplicando a propriedade associativa de algumas formas, obtemos:

1º) caso: S = (1 – 1) + ( 1 – 1) + ( 1 – 1) +.... = 0

2º) caso: S = 1 + (– 1 + 1) + ( – 1 + 1) + ( – 1 +1 ) + .... = 1

3º) caso: S = 1 – (1 – 1 + 1 – 1 + 1 – 1+ ...) ⇒ S = 1 – S ⇒ 2S = 1 ⇒ S = ½

Sequências e Séries de Números Reais 129


U3

Podemos verificar a convergência da série S indicada anteriormente?

Outro exemplo conhecido como o paradoxo de Zenão é obtido a partir do


seguinte problema: para se andar um quilômetro, deve-se andar primeiramente
meio quilômetro. Porém, antes de andar esse meio quilômetro deve-se andar um
quarto de quilômetro. Mas antes andar esse um quarto de quilômetro, deve-se
primeiro andar um oitavo de quilômetro e assim sucessivamente. Zenão afirmou
que esse movimento era impossível, pois sequer se iniciaria a caminhada.

Traduzindo o problema obtemos a seguinte representação:


1 1 1
1= + + + .... .
2 4 8

1
Essa série pode ser entendida como a soma de uma PG infinita de razão . Na
1 2
a1
qual podemos aplicar que S = . Assim S = 2 = 1
1− q 1−
1
2
A partir dos exemplos apresentados, definiremos os conceitos relacionados a séries.

Definição: uma série infinita é uma expressão que pode ser escrita na forma

∑a
n =1
n = a1 + a 2 + a 3 + .....

Em que os números a1, a2, a3, ... são denominados de termos da série e an de
termo geral da série. Retomando um exemplo anterior
1 1 1
0,111... = 0,1 + 0,01 + 0,001 +... = + 2 + 3 + ...
10 10 10

Realizaremos a soma parcial dos termos dessa sequência, vejamos:


1
= =
s1 0,1
10

130 Sequências e Séries de Números Reais


U3

1 1 1 1
s 2 = 0,1 + 0, 01 = + = + 2
10 100 10 10
1 1 1 1 1 1
s3 = 0,1 + 0, 01 + 0, 001 = + + = + 2+ 3
10 100 1000 10 10 10
1 1 1 1 1 1 1 1
s 4 = 0,1 + 0, 01 + 0, 001 + 0, 0001 = + + + = + 2+ 3+ 4
10 100 1000 10000 10 10 10 10

Segue que s1, s2, s3, s4,... pode ser entendida como uma sequência cujos
resultados das somas se aproximam de 1/9.

Se continuarmos esse procedimento, quanto mais termos considerarmos, mais


precisa será a aproximação do limite dessa série. Podemos comprovar esse fato
se calcularmos o limite dessa sequência para um número n de termos em que n
tende ao infinito, ou seja, n → ∞.

Considere que,
1 1 1 1
sn = + 2 + 3 + ... + n
10 10 10 10

Temos uma expressão equivalente para sn para o cálculo do limite obtida


1
multiplicando sn por , ou seja:
10

1 1 1 1 1 1
s n = 2 + 3 + 4 + ... + n + n +1
10 10 10 10 10 10

Ao subtrairmos a primeira sequência pela segunda temos que:


1 1 1 1 1 
sn − s n = − n +1 = 1 − n 
10 10 10 10  10 
9 1 1 
sn = 1 − n 
10 10  10 
1 1 
sn = 1 − n 
9  10 

Segue que:

Sequências e Séries de Números Reais 131


U3

1 1  1
lims = lim 9 1 − 10
n →+∞
n
n →+∞
n 
=
 9

Ou seja, tivemos o valor de 1/9 que é o esperado para a soma dessa série. Neste
procedimento, construímos uma sequência de somas infinitas e aplicamos o limite
para verificar o valor de convergência dessa série. Deste modo,

1
0,11111... =
9

Como podemos definir a soma de uma série infinita?

A partir do exemplo, podemos pensar em um processo de generalização para


a soma de uma série infinita. Considere a série

∑a
n =1
n = a1 + a 2 + a 3 + .....

Realizamos as somas parciais da sequência (s n ) do seguinte modo:


s1 = a1

s2 = a1 + a2

s3 = a1 + a2 + a3

...
n
sn = a1 + a2 + a3 +...+an = sn-1 + an = ∑a k =1
k

Para um n crescente, as somas parciais anexam mais termos da série. Assim,


quando n → +∞ se a soma sn tender para um número finito, esse limite será a soma
de todos os termos da série. A partir disso definimos que:

Definição: Considere ∑
• (aa
11
nn
+ b n ) série e (sn) a sequência de somas parciais
uma

associada a essa série. Se lim s n = S , tal que S < ∞ temos que a série
n →+∞

• (aa
11
nn
+ bn )

132 Sequências e Séries de Números Reais


U3

é convergente a S e que S é a sua soma. Indicamos ∑


• (aa =+S.b Caso
11
nn ) contrário, a
n

série será divergente, ou seja, não possui a soma determinada.

+∞
Observamos que as notações a1 + a2 + a3 +...+ an + ….= ∑a
n =1
n = ∑ an = ∑ an
1

são utilizadas para indicarmos uma série. No caso específico de ∑


• (aanné+mais
11
b n ) usual
para as séries convergentes. Outro, termo notacional é referente ao índice que
pode iniciar em n = 0 ou de n = 1, dependendo do tipo de série a ser analisada.

EXEMPLO 1:
1 1
Considere a série • (na
∑11
+b )
n cujon o termo geral é dado por a n =
n
. Temos que a

sequência das somas parciais será:

s1 = 1
1
s2 = 1 +
2
1 1
s3 = 1 + +
2 3
...
1 1 1
s n = 1 + + + ...
2 3 n

Ao aplicarmos o limite nessa sequência temos que lims n = +∞ e deste


n →+∞
1
•11 (na n será
modo a série ∑ )
+ b ndivergente.

EXEMPLO 2:

O número de Euler representado por e pode ser indicado como:


n
 1
lim 1 +  = e = 2,718281828...
n →+∞  n

Temos que a série a seguir converge para e, vejamos:

Sequências e Séries de Números Reais 133


U3


1 1 1 1 1
∑ n ! = 1 + 1 + 2 + 3! + 4! + ... + n ! + ... = e
0

Construindo algumas somas parciais podemos verificar esse fato:

s0 = 1
s1 = 1 + 1 = 2
1
s2 = 1 + 1 + = 2 + 0,5 = 2,5
2!
1 1 1
s3 = 1 + 1 + + = 2,5 + = 2, 5 + 0,166666666 = 2, 666666667
2! 3! 6

1 1 1 1
s4 = 1 + 1 + + + = 2, 666666667... + = 2, 708333334...
2! 3! 4 ! 24

1 1 1 1 1
s5 = 1 + 1 + + + + = 2, 708333334... + = 2, 716666667...
2! 3! 4 ! 5! 120

1 1 1 1 1 1
s6 = 1 + 1 + + + + + = 2, 716666667... + = 2, 718055556...
2! 3! 4 ! 5! 6 ! 720

1 1 1 1 1 1 1
s7 = 1 + 1 + + + + + + = 2, 718055556... + = 2, 718255969...
2! 3! 4 ! 5! 6 ! 7 ! 5040

1 1 1 1 1 1 1 1
s8 = 1 + 1 + + + + + + + = 2, 718255969... + = 2, 718278771...
2! 3! 4 ! 5! 6 ! 7 ! 8! 40320

1 1 1 1 1 1 1 1 1
s9 = 1 + 1 + + + + + + + + = 2, 718278771... + = 2, 718281527...
2! 3! 4 ! 5! 6 ! 7 ! 8! 9 ! 362880

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
s10 = 1 + 1 + + + + + + + + + = 2, 718281527.... + = 2, 718281803...
2! 3! 4 ! 5! 6 ! 7 ! 8! 9 ! 10 ! 3628800

Note que a partir da sétima soma parcial obtemos precisão de quatro casas
decimais.

134 Sequências e Séries de Números Reais


U3

2.3 Convergências e Divergência de Séries


Nesta subseção, veremos métodos e procedimentos para verificar a
convergência ou divergência de séries, além de apresentarmos propriedades
pertinentes a elas.

Definição: Em geral podemos aplicar o teste da divergência, ou seja:

1º) Caso: se lim a n ≠ 0 então


n →+∞
∑• (aa é+divergente.
b )
11
nn n

2º) Caso: se lim a n = 0 então ∑


• (aa poderá
+ b ) ser convergente ou divergente.
nn n
n →+∞
11

A definição apresentada se refere ao critério do termo geral para convergência


de séries, também será tida como uma condição necessária para a convergência
de uma série. A partir disso, podemos concluir os seguintes resultados:

I) Se ∑
• (aa converge
+ b ) então lima = 0 .
nn n
n →+∞
n

• (na são
II) As séries do tipo ∑
11
)
+ bdivergentes, devido an n lim n = +∞ .
n→+∞
11

III) No caso do lim a n = 0 não podemos inferir sobre a convergência ou


n →+∞

divergência da série ∑
• (aa . + b )
11
nn n

IV) Uma série convergente ou divergente não é comprometida por remover ou


acrescentar uma quantidade finita de termos.

V) Se ∑
• (aa é+convergente,
11
b ) nn
uma série ∑
n • (ba 11
nn bn )
+construída a partir de ∑
• (aa com
11
+b )
nn n

o acréscimo ou retirada de termos, neste caso essa nova série será convergente,
para uma número geralmente diferente da soma ∑
• (aa . + b )
11
nn n

VI) Se ∑
• (aa e+∑
11
•b ()ba
nn
11
n nn +
são ) séries que convergem para S e R respectivamente,
b nduas
temos os seguintes casos:

1º) Caso: A série ∑ (a1


n ± b n ) é convergente a S ± R.

2º) Caso: A série ∑


• (ka11
)
a +ébconvergente
nn a kS com k pertencente aos reais.
n

3º) Caso: Se ∑
11
+b ) e ∑
• (aa converge
nn • (ba n
11
nn b n ) então
+diverge, ∑ (a
1
n + b n ) diverge.

Sequências e Séries de Números Reais 135


U3

4º) Caso: Se ∑ 11
+ b ) e k ≠ 0, então ∑
• (aa diverge
nn n • (ka b )
a +diverge.
11
nn n

Observamos que se ∑
• (aa e+∑
11
•b ()bann
11
n nn +são ) séries que divergem, não se pode
b nduas

concluir nada sobre ∑ (a + b ) .


1
n n

EXEMPLO 1:
1 1
As séries ∑2
1
n−1
e ∑2
3
n−1
convergem para números distintos.

EXEMPLO 2:

As séries ∑2
1
n−1
e ∑b n = 3 − 5 + 12 + 1 + 2 + 4 + 8 + 16 + .....divergem.

EXEMPLO 3:

As séries ∑2 n
e ∑ −2 n
são divergentes e ∑ (2 n
− 2n ) é convergente a 0.

Que exemplos de séries com termos exclusivamente positivos


podemos destacar?

Aprofunde seus conhecimentos sobre convergências e divergências


de séries, acesse o link a seguir e veja as demonstrações referentes a
esse tema: <http://www.spm.uem.br/bspm/pdf/vol29-2/Art8-2.pdf>.
Acesso em: 11 set. 2015.

136 Sequências e Séries de Números Reais


U3

2.3.1 Série Geométrica


Retomando o exemplo anterior da série infinita 0,1 + 0,01 + 0,001 + ... temos
um exemplo de uma série geométrica.

Definição: Considere uma série o tipo ∑ a.r


1
n −1
= a + ar + ar 2 + ar 3 + ... + ar n-1 + .... em

que a ≠ 0; denominamos esse caso de série geométrica e o número r é a razão


da série.

De modo equivalente, podemos representar a série geométrica por:

∑ ar
0
n
= a + ar + ar 2 + ...

Ou de modo mais geral por:

∑ ar
n =k
n −k
= a + ar + ar 2 + ar 3 + ...

EXEMPLO 1:

1 1 1 1 1
Segue que 0,1 + 0,01+ 0,001 + 0,0001 + ... = + 2 + 3 + 4 + ...∑ n
10 10 10 10 1 10
trata-se de uma série geométrica cuja razão r = 1/10 e a = 1.

EXEMPLO 2:

Temos que 3 − 3.2 + 3.22 − 3.23 + 3.24 −..... = ∑ 3.(−2) n
trata-se de uma série
geométrica de razão r = −2 e a = 3. 0

Ao analisarmos os exemplos de séries geométricas anteriores


podemos inferir que convergem ou divergem?

Para verificarmos a convergência ou divergência desse tipo de série aplicamos


o seguinte teste:

Sequências e Séries de Números Reais 137


U3

Definição para o teste de série geométrica: A série geométrica ∑ a.r n −1


a≠0e
r∈R 1

a
1º) Caso: será convergente para S = se r < 1 .
1− r
2º) Caso: será divergente, se r ≥ 1 .

DEMONSTRAÇÃO:

1º) Caso: para r = 1

Se r = 1 a série será indicada por ∑ a = a + a + a + a + .... assim a n-ésima soma


parcial será: 1

sn = (n+1).a

Assim,
lim s n = ±∞
n →+∞

Concluímos que a série é divergente.

2º) Caso: para r = –1

Se r = –1 a série será indicada por ∑∑a(a(−−1)1)


11
n −n1−1
==aa−−aa++aa−−aa++aa−−aa++.....
.
.....
Assim as somas parciais seriam a, 0, a, 0, a, 0,... e acarretando que a série diverge
por não existir o limite das somas parciais.

3º) Caso: r ↑
≠ 11
Considere a sequência das somas parciais (sn):

s n = a + ar + ar 2 + ar 3 + ... + ar n −1
rs n = ar + ar 2 + ar 3 + ... + ar n −1 + ar n
Subtraindo a primeira expressão da segunda temos que:

s n − rs n = a − ar n .
Deste modo,
a(1 − r n )
sn = .
1− r

138 Sequências e Séries de Números Reais


U3

Aplicando o limite temos,

 a
a(1 − r n )  ; se r <1
lim s n = lim = 1 − r
n →+∞ n →+∞ 1− r ∞;
 se r >1

Deste modo, validamos o teste de convergência ou divergência para séries geométricas.

2.3.2 Série-p

1
Observe a seguinte estrutura de série ∑n
n=1
p
, sendo que p>0, essa estrutura é

denominada série-p, sendo convergente se p > 1 e divergente se 0 < p ≤ 1.


1
Um caso particular desse tipo de série ∑n
n=1
que denominamos de série

harmônica e, como vimos anteriormente, será divergente. Vejamos a seguir o teste


da integral para definirmos a convergência ou divergência desse tipo de série.

•k
Definição teste da integral: Considere a série ∑ ak com termos positivos e seja f a
k
função geradora de (ak ) . Se f é decrescente e contínua em [a;+∞), então:
+∞

•∑ ak
kk
é convergente se, e somente, se ∫ f ( x).dx for convergente.
a


1
Por exemplo, ao aplicarmos o teste da integral na série ∑n
n=1
2
temos um

caso de série convergente. Porém, aplicaremos o teste da integral na estrutura da


série-p, vejamos:

1º) Caso: aplicaremos o teste da integral considerando para p ≠ 1


∞ 1
∫ 1 xp
dx =

b
lim ∫ x − p dx =
b →∞ 1

Sequências e Séries de Números Reais 139


U3

b
 x − p +1 
lim 
b →∞ − p + 1
 =
 1
1
lim(b1− p − 1)
1 − p b→∞

2º) Caso: para p > 1 temos que,


1
lim(b1− p − 1) =
1 − p b→∞

1 1 1
lim( p −1 − 1) =
1− p b →∞ b 1− p

Deste modo, a série-p será convergente.

3º) Caso: para 0 < p < 1 temos que,


1
lim(b1− p − 1) = ∞ .
1 − p b→∞
Assim, a série-p será divergente.

4º) Caso: para p< 0 temos que,


1
lim an = lim p
= lim n − p = ∞ .
n →∞ n →∞ n n →∞

Segue que a série-p será divergente.


5º) Caso: para p = 0 temos que, a série-p é indicada por ∑ 1 que é uma série que
n=1
diverge.

Concluímos que a série-p será convergente apenas quando p > 1.

2.3.3 Série alternada


Considerando os elementos de uma sequência alternada, ao aplicarmos a

140 Sequências e Séries de Números Reais


U3

soma obtemos uma série alternada.

Vejamos a seguir alguns exemplos de séries alternadas.


+∞
EXEMPLO 1: ∑ (−1)
k =0
k

+∞
(−1) k +1
EXEMPLO 2: ∑
k =1 k
+∞
cos( k .π )
EXEMPLO 3: ∑ k =1 k

Como seriam as representações gráficas das sequências que


dão origem às séries alternadas dos exemplos anteriores?

Definição do teste de Leibniz (Teste da Série Alternada): Uma série alternada


converge quando satisfaz às seguintes condições:

1ª) Condição: an 〉 an +1 para todo n ≥1


2ª) Condição: lim an = 0
n →∞

2.3.4 Teste da Comparação dos Limites


•k •k
Considere ∑ ak e ∑ bk séries de termos positivos de modo que:
k k
ak
L = lim
k →+∞ b
k

Se 0 < L < +∞ temos que ambas são convergentes ou ambas são divergentes.

2.3.5 Séries absolutas


Podemos ter séries com termos positivos e negativos, podemos aplicar a esses
termos o módulo obtendo uma série absoluta.

Sequências e Séries de Números Reais 141


U3

Vejamos a seguir um exemplo:

EXEMPLO:

Considere a série
1 1 1 1
1 − − + + − ...
4 9 16 25

Aplicando o módulo aos elementos da sequência obtemos a seguinte série absoluta:


1 1 1 1
1 + + + + + ...
4 9 16 25

Em geral, a série absoluta de •∑k a


k
k é representada por • ak

kk
. Ao obtermos

uma série absoluta podemos aplicar a seguinte proposição:


Dada uma série ∑a
n=1
n esta será absolutamente convergente se e somente


n=1
an for convergente.

3.2.3.6 Teste da Razão

•k
Se ∑ ak é uma série de termos não nulos então, resolvendo o
k
ak +1
L = lim
k →+∞ ak

Temos que:

1º) Caso: se L •k
< 1, então ∑ ak converge absolutamente e, portanto, converge.
k
2º) Caso: se L = 1, então nada se pode afirmar sobre ∑ ak . •k
k
3º) Caso: se L •k
> 1, então ∑ ak diverge.
k

Observamos que o teste da razão é recomendado quando an possui potências


e produtos e aplicável o teste da série-p.

142 Sequências e Séries de Números Reais


U3

Aprofunde os seus conhecimentos sobre testes de convergências


de séries, acesse o link a seguir e veja proposições, definições
exemplos resolvidos: <http://www.aedmoodle.ufpa.br/pluginfile.
php?file=%2F104051%2Fmod_resource%2Fcontent%2F0%2FLivro%2FC
apitulo5.pdf>. Acesso em: 11 set. 2015.

A seguir apresentamos exemplos diversos para analisarmos a convergência ou


a divergência de séries.

EXEMPLO 1: (Adaptação de LEITHOULD, 1994, p. 713)



1
Determine se a série é convergente ou divergente: ∑ 4n
n=1
SOLUÇÃO:

1 1 1 1 1 ∞
1
Temos que ∑ 4n
n=1 4
= + +
8 16
+...+
4n
+..., segue que ∑ é a série
n=1 n

1 1 ∞
1
harmônica e é divergente, assim ∑ = ∑ que será divergente também.
n=1 4n 4 n=1 n

EXEMPLO 2: (Adaptação de LEITHOULD, 1990, p. 716)



4
Determine se a série é convergente ou divergente: ∑3
n =1
n
+1
SOLUÇÃO:

4 4 4 4 4
Temos que ∑3
n =1
n
= +
+ 1 4 10
+
28
+...+ n
3 +1
+... neste caso podemos


4 4 4 4 4
comparar com a série
n=1
∑3 n
=+
3 9
+
27
+...+ n +... que é uma série
3
1 4 4
geométrica de razão que será convergente. Assim n < n o que implica
3 3 +1 3

4
que a série ∑ n será convergente.
n =1 3 + 1

Sequências e Séries de Números Reais 143


U3


1. Verifique se a série ∑a n = 1 + 1 − 1 + 1 − 1 + ....é convergente ou
divergente. 1

2. Qual o primeiro procedimento para verificar se uma série é


convergente?

3. A figura a seguir mostra os quatro primeiros termos de uma


série infinita de quadrados. O quadrado exterior tem uma área
de 4 m2 e cada um dos outros é obtido ligando-se aos pontos
médios dos lados do quadrado anterior. Encontre a soma das
áreas de todos os quadrados.

Nesta unidade você aprendeu sobre:

- Conceituação de sequências.
- Progressões aritméticas.
- Progressões geométricas.
- Sequências convergentes e divergentes.
- Sequências monótonas.
- Sequências limitadas.
- Conceituação de séries.
- Somas parciais de séries.
- Teste da divergência e propriedades de séries.

144 Sequências e Séries de Números Reais


U3

- Séries geométricas.
- Séries-p.
- Séries alternadas.
- Séries absolutas.
- Testes de convergências para séries.

Nesta unidade lidamos com conceitos relacionados com


sequências e séries. Primeiramente conceituamos séries,
apresentamos as definições relacionadas às progressões
aritméticas e geométricas, para deste modo compreendermos
como são construídas algumas sequências, utilizamos esses
temas para definirmos, por exemplo, os termos, o termo geral,
e verificarmos que sequências são funções cujo domínio é
o conjunto dos naturais e o contradomínio é o conjunto dos
números reais, sendo os termos dessa sequência o conjunto
imagem da função.

Após a conceituação de sequências abordamos definições


e propriedades que envolvem convergência e divergência,
classificação em sequências monótonas crescentes,
decrescentes e constantes, além de definirmos limitantes e
sequências limitadas.

Já na segunda seção conceituamos séries e apresentamos


exemplos sobre somas parciais. Em seguida, definimos e
elencamos propriedades relacionadas a séries, apresentamos
alguns tipos de séries e testes de convergência para séries.

Espero que tenha compreendido os conteúdos abordados nesta


unidade. Aprofunde os conteúdos apresentados, complemente
seus estudos com as leituras sugeridas, pense e busque respostas
para as questões de reflexão. Além de realizar as atividades de
aprendizagem tanto da seção quanto da unidade.

Sequências e Séries de Números Reais 145


U3

A figura a seguir mostra uma sequência de triângulos de Sierpinski.

Figura 3.8 | Representação do triângulo de Sierpinski

Nível 0 Nível 1 Nível 2

Fonte: O autor (2015).

O processo começa no nível zero, com um triângulo equilátero


de área 1. Em cada passo a seguir cada triângulo equilátero é
dividido por meio dos seguimentos que ligam os pontos médios
dos seus lados e é eliminado o triângulo central assim formado.

1. Qual será a área branca dos níveis apresentados na


sequência?

2. Qual o termo geral dessa sequência?

1
Considere a série ∑ n(n + 1) para resolução dos exercícios
de 3 a 5. 1

3. Indique os quatro primeiros termos da série.

4. Indique a sequência das somas parciais dessa série.

5. Verifique se a série é convergente ou divergente.

146 Sequências e Séries de Números Reais


U3

Referências

ÁVILA, G. Análise para licenciatura. São Paulo: Edgard Blucher, 2001.

BOYER, C. B. História da matemática. São Paulo: Edgard Blucher, 1974.

LEITHOULD, L. O cálculo com geometria analítica. São Paulo: Harbra, 1994.

LIMA, E. L. Um curso de análise. Rio de Janeiro: IMPA, Projeto Euclides, 2004.

Sequências e Séries de Números Reais 147


Unidade 4

TOPOLOGIA DA RETA
E APLICAÇÕES

Debora Cristiane Barbosa Kirnev

Objetivos de aprendizagem: Nesta unidade temos como objetivo lidar


com conjuntos abertos e fechados, pontos de acumulação e conjuntos
compactos, definindo e conceituando os itens destacados. Além disso,
apresentaremos aplicações da análise em limites e continuidades por meio
de demonstrações de resultados.

Ao final desta unidade, espero que compreenda os conceitos, definições


e propriedades abordados.

Bons estudos.

Seção 1 | Topologia da Reta


Nesta seção conceituaremos o conjuntos abertos, conjuntos fechados,
pontos de acumulação e conjuntos compactos. Apresentaremos
conceitos relacionados com vizinhança, interior de um conjunto, para
definirmos conjuntos abertos e fechados, e complemento de um
conjunto para definirmos conjuntos fechados. Além disso, trazemos a
demonstração de resultados e exemplos sobre esses tópicos.

Seção 2 | Aplicações da Análise Real


Nesta seção relacionaremos os conceitos topológicos abordados
na seção anterior com limites e continuidade, mostrando algumas
das aplicações da análise real, sendo que a análise contribuiu para
o desenvolvimento do cálculo diferencial e integral da forma como
conhecemos atualmente.
U4

150 Topologia da Reta e Aplicações


U4

Introdução à unidade

Abordaremos nesta unidade conceitos topológicos no conjunto dos números


reais e aplicações da análise real.

Na primeira seção trataremos especificamente de topologia, primeiramente


conceituaremos os elementos que utilizamos nesse ramo da matemática,
para assim lidarmos com as definições e os teoremas sobre conjuntos abertos
e fechados, pontos de acumulação e conjuntos compactos. Essa é a parte da
matemática que lida com limites e proximidades, podendo esses conceitos serem
expandidos para topologia mais geral.

Iniciamos a segunda seção com a noção intuitiva de limites, para posteriormente


definirmos limites e continuidades, juntamente com suas respectivas propriedades,
apresentamos exemplos a fim de esclarecer as aplicações dos conceitos
topológicos.

Topologia da Reta e Aplicações 151


U4

152 Topologia da Reta e Aplicações


U4

Seção 1
Topologia da Reta
Introdução à seção
Segundo Boyer (1974), por volta do início do século XX, as contribuições de
Poincaré, com o trabalho denominado de analysis situs, a teoria dos conjuntos de
Cantor e os estudos de Brouwer deram origem à topologia. Veremos a seguir os
conceitos desse ramo da matemática.

1.1 Conceitos Topológicos


Para introduzirmos os conceitos topológicos, consideraremos um conjunto
não vazio que possui uma métrica na qual podemos verificar o conceito de distân-
cia. Por exemplo, no conjunto dos números reais, consideramos a reta real para
analisarmos a distância entre dois pontos. A partir da definição de distância verifica-
remos as definições dos elementos representados no diagrama a seguir:

Figura 4.1 | Conceitos topológicos

Fonte: O autor (2015).

Topologia da Reta e Aplicações 153


U4

Iniciamos apresentando a definição de distância, vejamos:

Definição: Considere x, y pertencentes aos reais, temos que a distância entre x e y


é dada por um número real não negativo de modo que d(x, y) = | x – y |.

A partir dessa definição podemos constatar que são válidas as seguintes


propriedades:

1ª) Propriedade: temos que d(x, y) = 0 se, e somente se, x = y.

2ª) Propriedade: é válida a simetria, ou seja, d(x, y) = d(x, y).

3ª) Propriedade: é válida a desigualdade triangular, ou seja, d(x, y) ≤ d(x, z) + d(z, y).

Provaremos a propriedade da desigualdade triangular, vejamos:

DEMONSTRAÇÃO:

d(x, y) = | x – y |

= | (x – z) + (z – y) |

≤ |x–z|+|z–y|

≤ d(x, z) + d(z, y)

Além da definição de distância, precisamos definir vizinhança, vejamos:

Definição: Considere o número real a pertencente aos reais e seja ε > 0, de modo
que a vizinhança de a com raio ε é definida em termos notacionais por:

Vε (a) = {x: d(x, a) < ε }= { x : | x – a | < ε }= ] a – ε , a + ε [

(Vε (a), lê-se: vizinhança de a com raio ε)

154 Topologia da Reta e Aplicações


U4

Para ilustramos a definição de vizinhança, vejamos a figura a seguir:

Figura 4.2 | Representação de vizinhança

Fonte: O autor (2015).

Associadas à definição de vizinhança, temos as seguintes propriedades:

1ª) Propriedade: Seja ε < δ neste caso, Vε (a) ⊂ Vδ (a).

2ª) Propriedade: Considere Vε (a) = {a} de modo que a ≠ b assim existe ε > 0 tal que:

Vε (a) ∩ Vε (b) = ∅

1.2 Topologia na Reta Real


Segundo Lima (2004), o conjunto dos números reais é o espaço topológico
mais frequentemente utilizado e, por isso, o mais importante. Os conceitos
topológicos são aplicados, por exemplo, em funções contínuas, sendo possível
esclarecer sobre limites e continuidades de funções.

Para abordamos tais conceitos precisamos de elementos geométricos


associados à aritmética no conjunto dos números reais, vejamos alguns exemplos:

Tabela 4.1 | Exemplos de conceitos topológicos


TERMO ELEMENTO GEOMÉTRICO
Corpo dos reais A reta numérica
Número real Ponto
a<b a está à esquerda de b
a>b a está à direita de b
Valor absoluto da diferença |x - y| Distância do ponto x ao ponto y
Segmento de reta em que os extremos são os
Intervalo [a, b]
pontos a e b
Fonte: O autor (2015).

Topologia da Reta e Aplicações 155


U4

A seguir definiremos elementos topológicos.

1.2.1 Conjuntos abertos


Para definirmos conjuntos abertos precisamos da definição de ponto interior,
sendo assim, temos que:

Definição: Seja x ∈ R um ponto interior de um conjunto X ⊂ R, deste modo


existe alguma Vε (x) contida no conjunto X.

Podemos entender os pontos interiores como todos os pontos suficientes


próximos de x que ainda pertencem ao conjunto X, sendo assim, (x - ε, x + ε) ⊂ X.
Vejamos uma ilustração dessa definição.

EXEMPLO: (adaptação de LIMA, 2004, p. 163)

Se x ∈ (a, b) ⊂ X, seja ε o menor dos números positivos x - a e b - x, então (x- ε, x+


ε) ⊂(a,b), logo (x- ε, x+ ε) ⊂ X. Vejamos:

Figura 4.3 | Exemplo de ponto interior

Fonte: O autor (2015).

Adotaremos a seguinte notação para os pontos interiores de um conjunto X:


int (X). Note que se X ⊂ Y, significa que int(X) ⊂ X implica em int(X) ⊂ int(Y).

OBSERVAÇÕES:

1º Caso: nem todo conjunto possui pontos interiores.

2º Caso: se um conjunto X possui algum ponto interior, ele deve ter pelo menos
um intervalo aberto, assim será infinito.

3º Caso: se temos um intervalo aberto, temos um conjunto não enumerável, ou


seja, se int(X) ≠ ∅ então X é não enumerável.

156 Topologia da Reta e Aplicações


U4

Definição: um conjunto A ⊂ R será um conjunto aberto se, e somente se, coincidir


com o seu interior, ou seja, A = int(A).

Vejamos a seguir a ilustração de conjunto aberto:

Figura 4.4 | Exemplo de conjunto aberto

Fonte: O autor (2015).

Baseado na definição anterior, temos que em qualquer conjunto A, se existir, o


int(A) ⊂ A para demonstrar que A é aberto temos que provar que A ⊂ int (A).

A partir da definição de conjunto aberto provaremos as seguintes proposições:

Teorema 1: as vizinhanças Vε (a) são conjuntos abertos.

DEMONSTRAÇÃO: Considere b ∈ Vε (a), temos que d(a, b) < ε. Indicando,


δ = ε – d(a, b) > 0 , segue que Vδ (b) ⊂ Vε (a). Vejamos, se x ∈ Vδ (b) implica
em d(x, b) < δ = ε – d(a, b) , sendo assim, d(x, b) + d(a, b) < ε deste modo, d(x, a)
< ε implica em x ∈ Vε (a). Baseado na definição de ponto interior temos que
b ∈ int (Vε (a)), ou seja, Vε (a) ⊂ int (Vε (a)). Sendo assim é válida a igualdade Vε (a)
= int (Vε (a)), e podemos concluir que Vε (a) é um conjunto aberto.

Teorema 2: Considere X um conjunto qualquer, int ( X) é um conjunto aberto.

DEMONSTRAÇÃO: Temos que mostrar que int (X) ⊂ int (int(X)), de modo que
tenhamos int(X) = int (int (X)), ou seja, int (X) será um conjunto aberto. Segue que
se X ⊂ Y implica em int (X) ⊂ int(Y). Assim x ∈ int (X) implica em que existe Vε (x) tal
que Vε (x) ⊂ X, isto é, existe Vε (x), tal que int(Vε (a)) ⊂ int(X). Segue que o conjunto
Vε (x) é aberto e temos int(Vε (x)) = Vε(x) deste modo, x ∈ int(X) implica que existe

Topologia da Reta e Aplicações 157


U4

Vε (x), tal que Vε (x) ⊂ int(X) implica em x ∈ int (int(X)), ou seja, int(X) ⊂ int (int (X)) .

Vejamos a seguir alguns exemplos relacionados com a definição e as


proposições anteriores.

EXEMPLO 1:

Se X= (3, + ∞), temos uma margem de segurança de um ponto x ∈ X que é x - 3.


Sendo tanto menor quanto mais próxima de 3 esteja o ponto x. Em geral, um
conjunto X é aberto se, e somente se, para cada x ∈ X, existe um intervalo, aberto
(a,b), tal que x ∈ (a,b) ⊂ X, neste caso, o intervalo (a,b) seria a margem de segurança
do ponto x para garantir que este ponto pertença ao conjunto X.

EXEMPLO 2:

Temos que o conjunto vazio é aberto. Segue que um conjunto qualquer X só pode
deixar de ser aberto se existir em X algum ponto que não seja interior. Como não
existe nenhum ponto no vazio, temos que admitir que este conjunto é aberto.

EXEMPLO 3:

O conjunto dos números reais é um conjunto aberto.

EXEMPLO 4:

Considere X= (0,2) ∪ (3,6). Segue que X é um subconjunto aberto da reta. Neste


caso, para todo x ∈ X temos x ∈ (0,2) ou x ∈ (3,6). Em qualquer caso temos um
intervalo aberto que contém x e está contido em X.

EXEMPLO 5:

Um intervalo, sendo limitado ou não, será um conjunto aberto se, e somente se,
for um intervalo aberto. Temos ainda que todo conjunto aberto não vazio é não
enumerável. Deste modo, os conjuntos Q e Z, seus subconjuntos, os conjuntos
finitos da reta não são abertos. Além disso, nenhum conjunto composto apenas
por números irracionais pode ser aberto, pois não possui intervalos.

158 Topologia da Reta e Aplicações


U4

A definição de conjunto aberto se aplica às operações de


conjuntos?

A seguir apresentamos algumas sentenças e resultados sobre conjuntos abertos.

Teorema 1: A união de dois conjuntos abertos será um conjunto aberto.

Teorema 2: A união de uma família arbitrária de conjuntos abertos será um


conjunto aberto.

Teorema 3: A interseção de um número finito de conjuntos abertos é um


conjunto aberto.

Observamos que a interseção de uma infinidade de conjuntos pode não ser


um conjunto aberto. Considerando esses teoremas sobre a união e interseção de
conjuntos, apresentamos alguns exemplos:

EXEMPLO 1:
 1 1
Se considerarmos a interseção infinita da família do conjunto  − ,  para n=
 n n
1, 2, 3,... temos que a interseção resultará no conjunto {0} que não é um conjunto
aberto. Observe que {0} é o conjunto unitário do vazio, que possui o conjunto
vazio como elemento.

EXEMPLO 2:

Todo conjunto aberto contido nos números reais é uma união de intervalos abertos.

Topologia da Reta e Aplicações 159


U4

O que seria um conjunto conexo?

Aprofunde seu conhecimento sobre conjuntos abertos e fechados


estude o texto de apoio disponível no link a seguir até a página 11, e
veja outros exemplos sobre o assunto e exercícios propostos.
<http://www.mat.uc.pt/~caldeira/AnaliseIII-1.pdf>. Acesso em: 19 set. 2015.

1.2.2 Conjuntos fechados


Para definirmos conjuntos fechados precisaremos de alguns conceitos.
Portanto partiremos do conceito ponto aderente.

Definição: Considere x ∈ R um ponto aderente de um conjunto X ⊂ R, deste modo


x é um limite de uma sequência de pontos xn ∈ X.

Temos que todo ponto pertencente ao conjunto X é ponto aderente, mas


temos outro caso que satisfaz essa definição.

EXEMPLO:

Considere o conjunto (0, +∞) temos que 0 ∉ X, porém 0 é ponto aderente de X,


1 1
pois lim   = 0 , em que   � ∈ X para qualquer n .
n →∞ n
  n

Relacionado com essa definição temos o seguinte teorema:

160 Topologia da Reta e Aplicações


U4

Teorema: Um ponto x ∈ R é aderente a um conjunto X ⊂ R se, e somente se, para


todo ε>0 temos X ( x - ε , x + ε ) ≠ 0.

Como consequência desse teorema, temos os seguintes corolários:

Corolário 1: um ponto x é aderente ao conjunto X se, e somente se, para todo


intervalo aberto I contendo x temos que I ∩ X ≠ 0.

Corolário 2: Considere X ⊂ R limitado inferiormente e Y ⊂ R limitado superiormente.


Temos que um ponto x ínfimo de X (denotaremos por x= inf X) é aderente a X e y
supremo de Y (denotaremos por y = sup Y) é aderente a Y1.

Com base nisso podemos definir o fecho de um conjunto.

Definição: Denominamos de fecho de um conjunto X, denotado por X̅, o conjunto


formado pelos pontos aderentes a X.

Analisando a definição apresentada podemos concluir que se X ⊂ Y, implica


em X̅ ⊂ Y̅, e ainda que, X ⊂ X̅, para todo X. A partir dos conceitos apresentados
podemos definir conjunto fechado, vejamos:

Definição: Um conjunto X ⊂ R será fechado se, e somente se, todo ponto aderente
a X pertence a X.

Ou seja, se temos um conjunto não vazio em R, limitado e fechado, o ínfimo e


o supremo pertencem a esse conjunto. Além disso, temos o seguinte:

Teorema: O fecho de todo conjunto X ⊂ R é um conjunto fechado, ou seja, X̅ =X̅

1
Os conceitos de ínfimo e supremo foram abordados na Unidade 2.

Topologia da Reta e Aplicações 161


U4

Também podemos definir se um conjunto é denso, vejamos:

Definição: Considere X e Y conjuntos dos números reais, de modo que, X ⊂ Y.


Temos que X é denso em Y quando todo ponto de Y for aderente a X.

Um conjunto ser denso implica que todo ponto de Y é limite de uma sequência
de pontos de X. Por meio dessa definição, podemos constatar que os racionais
Q são densos nos reais, ou seja, em R. Segue que os R-Q, isto é, os irracionais,
também são densos em R.

Relacionado à definição anterior temos o seguinte teorema:

Teorema: Todo conjunto X de números reais possui um subconjunto enumerável


E, denso em X.

A seguir, apresentamos alguns exemplos a respeito desses conceitos:

EXEMPLO 1:

O fecho do conjunto dos racionais é a reta real.

EXEMPLO 2:

O fecho do conjunto R-Q dos números irracionais também é a reta real.

EXEMPLO 3:

Os racionais e R-Q (irracionais) não são conjuntos fechados.

EXEMPLO 4:

O conjunto vazio é fechado.

162 Topologia da Reta e Aplicações


U4

EXEMPLO 5:

O conjunto dos inteiros Z é fechado.

EXEMPLO 6:

O conjunto dos números reais é fechado.

EXEMPLO 7:

Todo conjunto finito é fechado, pois o seu complementar é aberto.

EXEMPLO 8:

Existem conjuntos que não são fechados nem abertos, como, por exemplo, os
racionais Q e os irracionais R-Q.

Como justificar que os conjuntos vazio e dos números reais


são simultaneamente abertos e fechados?

Apresentamos agora algumas sentenças e resultados sobre conjuntos fechados.

Teorema 1: A união finita de uma família arbitrária de conjuntos fechados será um


conjunto fechado.

Teorema 2: A interseção de conjuntos fechados será um conjunto fechado.

Topologia da Reta e Aplicações 163


U4

Os conceitos apresentados foram definidos para o conjunto dos


números reais, porém podemos aplicá-los a um conjunto qualquer e
teremos o que denominamos de espaços métricos, veja no link a seguir
as definições, proposições e teoremas anteriores aplicados em um
contexto qualquer:
<http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAcv0AC/topologia-rn>.
Acesso em: 3 out. 2015.

Veremos a seguir definições que irão complementar as apresentadas para


conjuntos abertos e fechados.

1.2.3 Pontos de acumulação


Um caso que temos que considerar são os pontos de fronteira, ou seja, aqueles
pontos que possuem uma vizinhança em um conjunto X e no Xc, vejamos a
ilustração desse caso:

Figura 4.5 | Exemplo de ponto de fronteira

Fonte: O autor (2015).

Definição: Considere x ∈ R, x é um ponto de fronteira (ou ponto exterior) ao


conjunto X ⊂ R se, e somente se existir uma Vε (x) contida no complementar do
conjunto X.

Outro conceito relevante é o de ponto de acumulação, vejamos a definição:

164 Topologia da Reta e Aplicações


U4

Definição: Considere x ∈ R, x é ponto de acumulação de um conjunto X ⊂ R se


e somente se em qualquer Vε (x) existe pelo menos um ponto de X diferente de x.

Temos que o conjunto dos pontos de acumulação de X é denominado de


derivado de X e representa-se por X′, pode ocorrer que X′ = ∅.

No conjunto dos números inteiros, temos pontos de


acumulação?

Por meio dos conceitos apresentados podemos verificar diversas propriedades.


Temos o teorema a seguir que é relacionado com a definição de conjunto fechado,
vejamos:

Teorema: Um conjunto X ⊂ R é fechado se, e somente se, seu complementar


R – X = Xc é aberto.

DEMONSTRAÇÃO: Consideremos X um conjunto fechado e Xc um conjunto aberto,


dado x ∈ Xc há uma vizinhança de x em que não há pontos de X. Segue que, se em
alguma vizinhança de x existir aos menos um ponto do conjunto X, que não seja o
próprio x, sendo o conjunto X fechado por hipótese, esse ponto x pertenceria então
ao conjunto X e não a Xc como admitimos inicialmente. Portanto, se existe uma
vizinhança de x sem nenhum ponto de X, implica que essa vizinhança está contida
no complementar de X, ou seja, existe uma Vε (x) ⊂ X, deste modo se provando que,
x ∈ X implica em existir uma vizinhança Vε (x) tal que Vε (x) ⊂ Xc implica em x ∈ int(Xc),
significando esta implicação que Xc ⊂ int(Xc), ou ainda, que Xc é um conjunto aberto.

Por termos uma proposição bicondicional, temos que provar a recíproca, ou seja,
sendo X um conjunto aberto mostraremos que Xc é fechado. Considere que x ∉ X,
temos que x ∈ Xc assumindo que X é aberto, há uma vizinhança de x contida no
conjunto X o que implica que esse ponto x não pode ser ponto de acumulação de A.

Temos também o teorema indicado a seguir sobre pontos de acumulação:

Topologia da Reta e Aplicações 165


U4

Teorema: Temos que x é um ponto de acumulação de um conjunto X em


qualquer vizinhança desse ponto se, e somente se, encontra-se infinitos pontos
de X nessa vizinhança.

DEMONSTRAÇÃO: Se para cada vizinhança do ponto x encontramos infinitos


pontos do conjunto X, encontramos pelo menos um ponto do conjunto e assim,
por definição, temos um ponto de acumulação do conjunto. Por outro lado, se
admitirmos que x é ponto de acumulação do conjunto X, se em alguma Vε (x)
encontramos apenas finitos pontos do conjunto, indicados por x1, x 2, ... , xk os
pontos de X diferentes de x se encontram na vizinhança de modo que:

δ = Mín { d(x1 , x) ; d(x2 , x) ; ... ; d(xk , x) } > 0


Podemos constatar que na vizinhança de Vδ (x) não existem pontos do
conjunto X para eventualmente próprio x, sendo assim, se algum y ≠ x pertencente
ao conjunto X e também a Vδ (x), teríamos d(y, x) < δ < ε e nesse caso esse y
pertenceria igualmente a Vδ (x), ou seja, o ponto y seria então um dos xj (j = 1
, 2 , ... , k) e seria necessário que a d(y, x) ≥ δ , dado o modo como se definiu o
valor δ . Porém, se em Vδ (x) não existem pontos do conjunto X para mais do
que eventualmente o próprio x, concluímos que o ponto x não pode ser ponto
de acumulação do conjunto X, chegando a um absurdo. Assim, se considerarmos
um ponto de acumulação de um conjunto X e admitir-se a existência de uma
vizinhança para esse ponto em que apenas haja um número finito de pontos do
conjunto, concluímos que o mesmo não pode ser ponto de acumulação desse
conjunto. Deste modo, sendo x o ponto de acumulação de X, então existem
infinitos pontos do conjunto na vizinhança de x.

A partir desse teorema temos os seguintes corolários.

Corolário 1: Os conjuntos finitos não possuem pontos de acumulação.

Corolário 2: Uma condição necessária de existência de pontos de acumulação de


um conjunto é que este seja um conjunto infinito.

O que seria um conjunto discreto?

166 Topologia da Reta e Aplicações


U4

Temos que o fecho de um conjunto X é obtido acrescentando a X os seus


pontos de acumulação. Assim temos o seguinte teorema:

Teorema: Para todo X ⊂ R, temos que X = X ∪ X `'.

X = X ∪ X `', lê-se: o fecho de X é igual ao conjunto X unido com o conjunto dos


pontos de acumulação de X, o derivado de X).

A partir desse teorema temos os seguintes corolários.

Corolário 1: X é fechado se, e somente se, X'⊂ X

Corolário 2: Se todos os pontos do conjunto X são isolados, então X é enumerável.

Vejamos casos para analisarmos a definição de ponto de acumulação.

EXEMPLO 1:

Considere o conjunto no intervalo da reta entre 0 e 1, denominado de conjunto K


de Cantor, neste conjunto todo ponto x é um ponto de acumulação.

EXEMPLO 2:

Considere o conjunto X = {1, 1/2, 1/3, ..., 1/n, ...}, temos que 0 é ponto de acumulação
a direita do conjunto, mas não a esquerda de X.

1.2.4. Conjuntos compactos


Apresentaremos uma definição para conjuntos compactos aplicada à topologia
na reta, denominada de compacidade sequencial.

Definição: um conjunto não vazio X ⊂ R é compacto se toda sequência de pontos

Topologia da Reta e Aplicações 167


U4

de X possui uma subsequência convergente para um ponto de X.

Para aprofundar seus conhecimentos sobre sequências numéricas


acesse o link a seguir e veja exemplos de sequências e subsequências:
<http://www.icmc.usp.br/~andcarva/sma333/notasdeaula.pdf>.
Acesso em: 3 out. 2015.

Relacionado com os conceitos tratados anteriormente temos o teorema de


Bolzano-Weierstrass, por meio desse teorema podemos verificar que qualquer
subconjunto dos números reais que seja limitado e infinito possui pelo menos um
ponto de acumulação.

Teorema: um conjunto A ⊂ R sendo limitado e infinito possui pelo menos um


ponto de acumulação.

DEMONSTRAÇÃO: Considere a e b, respectivamente, o limite inferior (ou minorante)


e o limite superior (ou majorante) de um conjunto A. Sendo o conjunto X representado
por x ∈ [a, b] que possuam à sua direita (sejam excedidos por) uma infinidade de
elementos do conjunto A. Temos que X é não vazio, pois ao menos a ∈ X, que é
o limite inferior de A e temos à sua direita infinitos elementos do conjunto A que
por hipótese é infinito. Entretanto, X é limitado superiormente por b, assim nenhum
elemento de X excede b, porque à direita desse b não há elementos do conjunto A.
Por ser X limitado superiormente, possui supremo que será indicado por λ. Segue
que supremo λ é ponto de acumulação do conjunto A, pois dada uma vizinhança
qualquer, temos que Vε (λ) = ] λ - ε , λ + ε [ . Portanto:

I) À direita de λ - ε há elementos de X, caso contrário λ - ε seria um limite superior


de X inferior ao respectivo supremo.

II) À direita de λ - ε há infinitos elementos do conjunto A.

III) À direita de λ + ε não poderá existir uma infinidade de elementos de A, caso


contrário λ + ε ∈ X o que seria contraditório ao fato de λ ser o supremo de X.

IV) Em Vε (λ) = ] λ - ε, λ + ε [ precisa existir uma infinidade de elementos do conjunto


A. Deste modo, concluímos que λ ∈ A′.

168 Topologia da Reta e Aplicações


U4

Outro teorema relevante é o de Heine-Borel, vejamos.

Teorema: Um subconjunto não vazio X ⊂ R é compacto se, e somente se, é


fechado e limitado.

Observamos que, pelo teorema de Bolzano-Weierstrass, toda sequência de um


conjunto que é limitado possui uma subsequência convergente. Assim, se além de
limitado o conjunto for fechado implica em que o limite dessa subsequência é um
elemento do conjunto, ou seja, todo conjunto fechado e limitado é compacto.

Qual a demonstração do teorema de Heine-Borel?

Aprofunde seus conhecimentos sobre topologia na reta, estudando


a referência de Lima (2004), Curso de análise, das páginas 161 a 186.
Neste livro há outras demonstrações de teoremas para complementar
seus estudos.

1. Justifique a sentença: “um conjunto será necessariamente


aberto ou fechado”.

2. Analise o conjunto de Cantor definido no intervalo da reta


real entre 0 e 1, e infira em que condições será aberto ou
fechado.

Topologia da Reta e Aplicações 169


U4

170 Topologia da Reta e Aplicações


U4

Seção 2
Aplicações da análise real

Introdução à seção
Nas unidades anteriores abordamos o conceito de função, esse é um conceito
de grande relevância em um curso de Análise Matemática. Segundo Ávila (2001),
os estudos sobre funções se deram a partir do século XVII. Nessa época, com o
surgimento da Geometria Analítica, muitos problemas eram resolvidos utilizando as
variáveis e incógnitas que podiam ser representadas por meio dos eixos coordenados.

A palavra “função” foi introduzida por Leibniz (1646-1716) em 1673, utilizada


para designar qualquer das várias variáveis geométricas associadas com uma curva
dada. Porém, gradativamente, passou a significar a dependência de uma variável
em termos de outras. Já no século XVIII, o conceito de função permaneceu quase
restrito à ideia de uma variável, tida como dependente, e sendo expressa em
termos de outra ou outras variáveis que eram independentes.

Porém, com os estudos de processos infinitos estudados no campo da análise


matemática, a ideia de função existente, que já era associada ao conceito de
derivadas e integrais, começa a ser definida por meio de processos infinitos aplicados
ao cálculo. Nesta subseção, trataremos dos processos infinitos associados a limites
e continuidades, que deram origem ao cálculo conforme é aplicado na atualidade.

2.1 Limites
Como vimos anteriormente, podemos entender um número real como um
ponto de uma reta. Também definimos vizinhança de um ponto: de modo geral, é
qualquer conjunto que contenha um ponto x internamente, sendo que entendemos
vizinhança, quando não explicitado, como um intervalo aberto. Às vezes, há o caso
de termos uma vizinhança excluindo o próprio ponto que indicaremos por V'. Ainda
relacionando com o conceito de ponto de acumulação de um conjunto X, temos
que x é ponto de acumulação do conjunto X, se em toda vizinhança de x há algum
elemento de X diferente do ponto. No caso de um ponto não ser de acumulação
teremos um ponto isolado. E teremos um conjunto discreto para todo conjunto
em que os elementos são todos pontos isolados. Vejamos a seguir um caso.

Topologia da Reta e Aplicações 171


U4

EXEMPLO:

Temos um conjunto discreto em:

A=

n
Sendo que essa função é dada por f: N → R tal que f(n) = , temos a
seguinte representação: n +1

Figura 4.6 | Exemplo de função discreta

Fonte: O autor (2015).

Ou seja, se n é um número natural, temos que a função é limitada superiormente


por 1, além disso temos todos os pontos do conjunto isolados, o único ponto
de acumulação será o número 1 que não pertence ao conjunto. Nesse tipo de
representação gráfica indicamos apenas os pontos, pois não teríamos uma função
contínua.

No caso de um subconjunto em R possuir todos os seus pontos de acumulação,


temos um caso de um conjunto denso.

Se considerarmos o domínio da função anterior, sendo o conjunto dos números

reais, temos uma indeterminação para o x= -1, sendo que poderíamos representar a
x
função por f: R-{-1} → R, tal que f(x) = , e a representação gráfica seria dada por:
x +1

172 Topologia da Reta e Aplicações


U4

Figura 4.7 | Exemplo de função real

Fonte: O autor (2015).

Destacamos nessa representação gráfica os pontos indicados no caso discreto,


porém como definimos a função no conjunto dos números reais, podemos analisar
a continuidade da função, para isso precisamos entender os processos infinitos
aplicados aos pontos dessa função, pois podemos observar que a função não é
definida para x=-1. Ocorre que podemos analisar esse tipo de indeterminação por
meio dos conceitos de limites.

A partir dos conceitos apresentados, podemos verificar a noção intuitiva de limite.

2.1.1 Noção intuitiva de limite


Realizaremos um estudo informal de limites no qual nos preocuparemos
em entender o que é limite, relacionando com o que vimos sobre pontos de
acumulação.

Em muitos casos de funções, precisamos analisar se os valores f(x) de uma


função f, em que x assume valores próximos de um número a, ou seja, temos que
verificar se a f(x) se aproxima de um número b quando x se aproxima de a. Caso
isso ocorra, afirmamos que o limite de f(x) quando x tende para a, é igual a b e
indicamos pela notação lim f ( x) = b . Vejamos um exemplo.
x→a

EXEMPLO:

Considere a função f, indicada por:

Topologia da Reta e Aplicações 173


U4

x2 −1
f ( x) = .
x −1
Observe que o domínio da f será os R – {1}. De modo que temos que investigar
o que ocorre com a f(x) quando se aproxima de algum número quando x assume
valores próximos de 1. Verificamos na tabela a seguir valores de x próximos do
número 1 e os correspondentes valores de f(x).

Tabela 4.2 | Exemplos de noção intuitiva de limite

Fonte: O autor (2015).

Observamos que para um valor de x cada vez mais próximo de 1, a f(x) está
cada vez mais próxima de 2. Simbolicamente, temos que lim f ( x) = 2. Note que,
x →1
lim f ( x) = 2 não significa que x vai assumir o valor 1 e nem que a f(x) vai assumir
x →1
o valor 2. Podemos inferir que no ponto x=1 temos um ponto de acumulação em
que o ponto não pertence ao conjunto.

Vejamos a representação gráfica dessa função:

Figura 4.8 | Exemplo de noção intuitiva de limites

Fonte: O autor (2015).

Segue que x ↑1
≠ 1, assim

174 Topologia da Reta e Aplicações


U4

x 2 − 1 ( x − 1) ( x + 1)
f ( x) = = = x +1
x −1 x −1
Deste modo, a função f se comporta como a função g dada por g ( x) = x +1 ,
ou seja, f(x) = g(x) para todo x ≠
↑11. Como a representação gráfica da função g é uma
reta, temos que a representação de f é a mesma reta, apenas excluímos o ponto
(1,2), pois x ≠
↑11.

Considere a função f(x) representada no gráfico a seguir:

Figura 4.9 | Exemplo de noção intuitiva de limites

Fonte: O autor (2015).

Analise e verifique intuitivamente se existem os seguintes limites:

a) lim x →0+ f ( x)

b) lim x →0− f ( x)

c) lim x →0 f ( x)
d) lim x →+∞ f ( x)
e) lim x →−∞ f ( x)
f) lim x →2 f ( x)

Topologia da Reta e Aplicações 175


U4

2.2 Limites e Continuidade


Segundo Ávila (2001), o conceito de limite é posterior ao de derivada. Ele surgiu
devido à necessidade de se calcular limites de razões incrementais que definem
derivadas para limites do tipo 0/0 em que há indeterminações. Vejamos um caso
de função com indeterminação.

EXEMPLO:
sen ( x )
Seja a f: R-{0} → R tal que f(x) = � , a representação gráfica é dada por:
x

Figura 4.10 | Exemplo de função com indeterminação

Fonte: O autor (2015).

Observe que com x tendendo a zero, temos um ponto de acumulação, porém


a função não é definida no ponto, sendo necessário o estudo dos limites laterais
no ponto.

Outra necessidade de se considerar o estudo dos limites é para o cálculo de


integrais impróprias de funções do tipo:

Com x tendendo a 1.

Note que nos casos apresentados e em outros similares, a variável se aproxima


de algum valor, sem coincidir com esse valor que será o limite no ponto analisado,
atendendo à definição de ponto de acumulação. A partir disso, realizamos a
definição de limite indicada a seguir:

176 Topologia da Reta e Aplicações


U4

Definição: Considere uma função f com domínio D, seja um ponto de acumulação


de D, que poderá pertencer ou não a D. Seja um número L, esse será limite de f(x)
com x tendendo a a, se, dado qualquer ε > 0 existe δ > 0 tal que:

Note que na definição apresentada utilizamos o conceito de vizinhança


apresentado anteriormente. Porém, para simplificarmos a notação escrevemos a
definição do seguinte modo:

lim f ( x) = L ou lim x →a f ( x) = L
x→a

EXEMPLO:

Considere f a função indicada na representação gráfica a seguir:

Figura 4.11 | Exemplo de função com indeterminação

Fonte: O autor (2015).

Analisaremos alguns casos de limites, vejamos:

1º Caso: lim f(x)


x→0

Observamos que quando x = 0, f(x)=3, sendo o limite lateral a esquerda e a


direita igual a 3, temos que lim f(x) = 3.
x→0

2º Caso: lim f(x)


x→5

Observamos que quando x = 5, f(x)=3, sendo o limite lateral a esquerda e a


direita igual a + ∞, temos que lim f(x) = + ∞
x→5

3º Caso: lim f(x)


x→−5

Observamos que quando x = 5, f(x) não está determinada, sendo o limite lateral
a esquerda igual a- ∞ e a direita igual a + ∞, temos que lim f(x) não existe.
x→5

Topologia da Reta e Aplicações 177


U4

4º Caso: lim f(x)


x→−10

Observamos que quando x = -10, f(x)= 3, sendo o limite lateral a esquerda e a


direita igual a 3, temos que lim f(x) = 3.
x→−10

Quais as condições para termos uma função contínua?

O conceito de limite é utilizado para caracterizar o comportamento de uma função


f(x) nas proximidades do valor a, ou seja, na vizinhança do ponto a, se mantendo
diferente de a. Se a função tiver definida no ponto a e, além disso, o valor de f(a)
coincidir com o valor do limite, então teremos continuidade no ponto. Sendo assim,
podemos ter o limite no ponto sem que a função seja contínua. Ao nos referirmos ao
limite de um ponto, devemos entender que esse ponto é um ponto de acumulação
do domínio da função. A partir disso, podemos definir continuidade, vejamos:

Definição: Temos que f é contínua no ponto x = a se existir o limite de f(x) com x


tendendo a a e se esse limite for igual a f(a).

Indicamos que f é contínua em seu domínio, ou apenas contínua, se satisfazer


a definição para todos os pontos do domínio.

Em resumo, temos que função f é contínua no ponto a se forem satisfeitas as


seguintes condições:

I) f(a) existe.

II) lim f ( x) existe.


x→a

III) lim f ( x) = f(a).


x→a

Observamos que se uma ou mais destas três condições não for satisfeita, temos
um caso de uma função f que é descontínua em a. Vejamos a seguir alguns casos
de funções contínuas:

178 Topologia da Reta e Aplicações


U4

EXEMPLO 1:

As funções do tipo polinomial f(x) = a0xn + a1xn-1 +a2xn-2 + ... + an .

Representação gráfica de f(x) = x³ + 2x² - x

Figura 4.12 | Exemplo de função polinomial contínua

Fonte: O autor (2015).

EXEMPLO 2:
p( x)
As funções do tipo racional f(x) =
q( x)
7x
Representação gráfica de f(x) =
x² + 2

Figura 4.13 | Exemplo de função racional contínua

Fonte: O autor (2015).

Topologia da Reta e Aplicações 179


U4

Observamos que há funções do tipo racional que possuem indeterminações e


acabam gerando representações gráficas com assíntotas ou com um furo no valor
1
de x que gera o denominador igual a zero, como na função f(x) = , vejamos a
x -1
representação gráfica:

Figura 4.14 | Exemplo de função racional descontínua

Fonte: O autor (2015).

EXEMPLO 3:

As funções do tipo raiz n-ésima n


x , para x > 0 para n par.
Representação gráfica de f(x) = x

Figura 4.15 | Exemplo de função raiz n-ésima contínua

Fonte: O autor (2015).

180 Topologia da Reta e Aplicações


U4

EXEMPLO 4:

As funções do tipo exponencial f(x) = ax , a > 0 e a ≠ 1.

Representação gráfica de f(x) = 2x

Figura 4.16 | Exemplo de função exponencial contínua

Fonte: O autor (2015).

EXEMPLO 5:

As funções do tipo logarítmicas f(x) = log a x , a > 0 e a ≠ 1.


Representação gráfica de f(x) = ln (x)

Figura 4.17 | Exemplo de função logarítmica contínua

Fonte: O autor (2015).

Topologia da Reta e Aplicações 181


U4

EXEMPLO 6:

As funções do tipo senoides f(x) = sen x.

Representação gráfica de f(x) = sen(x)

Figura 4.18 | Exemplo de função senoide contínua

Fonte: O autor (2015).

De modo análogo, temos que as funções cossenoides são contínuas.

A seguir, apresentamos alguns resultados referentes aos conceitos definidos:

Teorema: Se uma função f com domínio D possui limite L com x → a, então |f(x)|
tem limite |L|.

Por meio desse teorema podemos constatar que se uma função f é contínua
em x=a, então o módulo dessa função, ou seja, a |f(X)| também será contínua
nesse ponto. Isto é:
lim x →a | f ( x) |=| f (a ) |

Outro teorema relevante será:

Teorema: Se uma função f com domínio D possui limite L com x → a e se A< L<
B, então existe δ > 0, tal que x pertence à interseção da vizinhança de a com D,
ou seja, V´δ (a) D implica em A < f(x) < B.

A partir desse teorema temos os seguintes corolários:

Corolário 1: Se uma função f com domínio D possui limite L com x → a então

182 Topologia da Reta e Aplicações


U4

existe δ > 0 tal que f(x) é limitada em V´δ (a) ∩D.

Corolário 2: Se uma função f com domínio D possui limite diferente de zero com
x → a, então existe δ > 0, tal que x pertence a V´δ (a)∩D e implica em f(x) > L/2 se
L>0 e f(x)< L/2 se L<0, isto é, |f(x)| > |L|/2 em V´δ (a)∩D.

No link a seguir há outros resultados decorrentes de limites e


continuidade que são aplicados em diversos ramos da matemática,
como, por exemplo, em análise numérica. Acesse o link e aprofunde
os seus conhecimentos: <https://uspdigital.usp.br/siicusp/cdOnlineTr
abalhoVisualizarResumo?numeroInscricaoTrabalho=4102&numeroEdi
cao=18>. Acesso em: 3 out. 2015.

Que operações podemos aplicar aos limites?

Para as operações com limites temos as seguintes propriedades:

Teorema: Dadas duas funções f e d com o mesmo domínio D com os limites x


→ a, temos que:
I) f(x) + g(x) possui limite e lim [f(x) + g(x)] = lim f(x) + lim g(x).

II) Considere uma constante k, assim k.f(x) possui limite e lim k.f(x) = k.lim f(x).

III) f(x) . g(x) possui limite e lim [f(x) . g(x)] = lim f(x) . lim g(x).
f ( x) limf ( x )
IV) Se tivermos lim g(x) ≠ 0 , então f(x)/(gx) possui limite e lim = .
g ( x) limg ( x )

Temos como consequência desse teorema o seguinte corolário:

Topologia da Reta e Aplicações 183


U4

Corolário: Se f e g são funções contínuas em x=a, então são contínuas em x=a as


funções f+g, f.g, sendo k uma constante a função k.f, e a função f/g se g(a) ≠ 0.

Em que situações temos limites infinitos?

No caso do quociente temos que analisar o comportamento da função, pois


poderá ocorrer limites infinitos, precisamos analisar quando os limites são infinitos,
ou seja, lim f ( x) = −∞ e lim f ( x) = +∞ e simbolizam, respectivamente, que
x→a x→a
f(x) decresce indefinidamente quando x se aproxima de a, e ainda que f(x)
cresce indefinidamente quando x se aproxima de a.

EXEMPLO:
1
Considere a função f, dada por f ( x) = .
x2
Figura 4.19 | Exemplo de função com limites infinitos

Fonte: O autor (2015).

Analisemos o limite nos seguintes casos:

1º Caso: limite lateral esquerdo de x tendendo a zero resulta em

lim f ( x) = +∞ .
x → 0−

2º Caso: limite lateral direito de x tendendo a zero

184 Topologia da Reta e Aplicações


U4

lim f ( x) = +∞ .
x → 0+
Segue que como os limites laterais convergem para o mesmo valor, implica que:

lim f ( x) = +∞ .
x →0

Os teoremas e proposições a seguir definem limites de uma função em termos


de limite de sequências, sendo outra forma de abordar limites.

Teorema: Uma condição necessária e suficiente para que uma função f com
domínio D possua limite L com x → a é que, para toda sequência xn pertencente
a D- {a}, ter xn → a implica em f(xn) → L.

A partir desse teorema, podemos concluir que f é contínua em um ponto a se,


e somente se, para toda xn pertencente a D- {a}, quando xn → a temos f(xn) → f(a) .

Como explicitar a condição necessária e a condição suficiente


apresentada no teorema anterior?

Um resultado decorrente do teorema anterior é que:

Corolário: uma condição necessária e suficiente para que uma função f com
domínio D possua limite para x → a é que f(xn) possua limite para qualquer que
seja a sequência xn pertencente a D- {a}, quando xn → a.

Outro teorema que envolve sequências é o critério de convergência de Cauchy,


que é enunciado a seguir:

Teorema: uma condição necessária e suficiente para que uma função f(x) com
domínio D possua limite com x → a é que dado qualquer ε > 0 existe δ > 0 tal que:

x, y pertencente V´δ (a) ∩D implica em |f(x) – f(y)| < ε

Topologia da Reta e Aplicações 185


U4

Os tópicos apresentados nesta seção surgiram em decorrência do


desenvolvimento da análise e subsidiam o cálculo diferencial e integral.

1ª) Recomendação: no link a seguir há exercícios resolvidos que envol-


vem conceitos de topologia aplicados ao cálculo diferencial e integral.
Acesse e estude para aprofundar seus conhecimentos:
<https://fenix.tecnico.ulisboa.pt/downloadFile/3779571794473/Lis-
ta4.1.pdf>. Acesso em: 3 out. 2015.

2ª) Recomendação: no link a seguir temos um trabalho que relaciona


a análise com a álgebra linear, acesse e estude uma nova abordagem
para os conceitos apresentados nessa unidade:
<http://www.sbm.org.br/docs/coloquios/SU3-01.pdf>. Acesso em: 3
out. 2015.

3ª) Recomendação: no livro de Ávila (2001), intitulado de Análise


Matemática para Licenciatura, p. 113 a 125, indicado nas referências
bibliográficas, você poderá aprofundar seus conhecimentos sobre as
aplicações de análise.

Considere a f(x) indicada na representação gráfica a seguir


para resolver as questões a seguir.

Figura 4.20 | Atividade sobre limites

Fonte: O autor (2015).

186 Topologia da Reta e Aplicações


U4

1. Analise, intuitivamente, e determine se existe o limite nos pontos:


a) lim x →3− f ( x)
b) lim x →3+ f ( x)
c) lim x →3 f ( x)
d) lim x →−∞ f ( x)
e) lim x →+∞ f ( x)
f) lim x →4 f ( x)

2. Responda os seguintes itens:


a) A função está definida em todos os pontos do domínio?
b) Todos os pontos do domínio são pontos de acumulação?
c) Podemos afirmar que a função é contínua? Justifique.

Nesta unidade aprendemos sobre:

- Conceitos topológicos.

- Ponto Interior.

- Vizinhança.

- Conjuntos abertos.

- Teoremas relacionados com conjuntos abertos.

- Ponto aderente.

- Fecho de um conjunto.

- Conjunto fechado.

- Teoremas relacionados com conjuntos fechados.

- Conjunto denso.

Topologia da Reta e Aplicações 187


U4

- Ponto de fronteira.

- Ponto de acumulação.

- Teoremas relacionados com ponto de acumulação.

- Conjuntos compactos.

- Teoremas relacionados com conjuntos compactos.

- Noção intuitiva de limites.

- Definição formal de limites.

- Conceito de continuidade.

- Definição formal de continuidade.

- Propriedades e teoremas para aplicação de limites e


verificação de continuidades.

- Operações com funções e aplicação de limites e continuidades.

- Limites infinitos.

Nesta unidade lidamos com conceitos relacionados com


conjuntos abertos, conjuntos fechados, pontos de acumulação
e conjunto compactos. Apresentamos conceitos relacionados
com vizinhança, interior de um conjunto para definir conjuntos
abertos, também abordou-se sobre fecho e complemento de
um conjunto para definirmos conjuntos fechados. Além disso,
realizamos a demonstração de resultados e exemplos sobre
esses tópicos.

Após a conceituação de elementos topológicos, abordamos


os limites e continuidade, apresentando uma noção intuitiva
e posteriormente a definição formal que recorre a processos
infinitos vistos anteriormente.

188 Topologia da Reta e Aplicações


U4

Espero que tenha compreendido esses conteúdos abordados


nesta unidade. Aprofunde os conteúdos apresentados,
complemente seus estudos com as leituras sugeridas, pense
e busque respostas para as questões de reflexão, além de
realizar as atividades de aprendizagem tanto da seção quanto
da unidade.

1. Utilizando os conceitos topológicos tratados na unidade,


apresente ao menos uma característica para cada item a seguir:

a) Conjunto aberto:
b) Conjunto fechado:
c) Conjunto denso:
d) Conjunto compacto:

2. Quais as condições para que um conjunto seja


simultaneamente denso e aberto?

3. Um ponto de fronteira pode ser um ponto de acumulação?

4. Considere a função f representada no gráfico a seguir:

Figura 4.21 - Atividade sobre limites

Fonte: O autor (2015).

Verifique a existência do limite nos pontos indicados:


a) lim f(x)
x→0
b) lim f(x)
x→8
c) lim f(x)
x→−4

Topologia da Reta e Aplicações 189


U4

d) lim f(x)
x→4
e) lim f(x)
x→+∞
f) lim f(x)
x→−∞

5. Represente graficamente a função e investigue a


continuidade nos pontos indicados:

 senx
 x ,x ≠ 0

a) f ( x) =  em x = 0.
0, x = 0


 x 2 , x ≥ −1

b) f ( x) =  em x = - 1.
1− | x |, x < −1

x 2 − 3x + 7
c) f ( x) = , em x = -1.
x2 + 1

190 Topologia da Reta e Aplicações


U4

Referências

ÁVILA, G. Análise para licenciatura. São Paulo: Edgard Blucher, 2001.

BOYER, C. B. História da matemática. São Paulo: Edgard Blucher, 1974.

LIMA, E. L. Um curso de análise. Rio de Janeiro: IMPA, Projeto Euclides, 2004.

Topologia da Reta e Aplicações 191


Matemática
Análise
UNOPAR ANÁLISE MATEMÁTICA

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