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Elementos de

matemática II
Elementos de
matemática II

Eduardo Aparecido da Rosa Neto


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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Neto, Eduardo Aparecido da Rosa


N469e Elementos de matemática II / Eduardo Aparecido da Rosa
Neto. – Londrina : Editora e Distribuidora Educacional S.A.,
2017.
232 p.

ISBN 978-85-522-0171-7

1. Matemática – Compêndios. 2. Formação profissional.


I. Título.

CDD 510

2017
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário

Unidade 1 | Trigonometria no triângulo 7

Seção 1.1 - Triângulo retângulo 9


Seção 1.2 - Trigonometria no triângulo retângulo 29
Seção 1.3 - Trigonometria em um triângulo qualquer 47

Unidade 2 | Funções e identidades trigonométricas 67

Seção 2.1 - Trigonometria na circunferência 69


Seção 2.2 - Funções trigonométricas 89
Seção 2.3 - Outras identidades trigonométricas 107

Unidade 3 | Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões 125

Seção 3.1 - Função exponencial 127


Seção 3.2 - Função logarítmica 145
Seção 3.3 - Progressões aritmética e geométrica 163

Unidade 4 | Números complexos 183

Seção 4.1 - A ideia de número complexo 185


Seção 4.2 - Operações com números complexos 201
Seção 4.3 - Forma trigonométrica ou forma polar de um número
complexo 215
Palavras do autor
Esta disciplina é imprescindível para a formação do futuro profissional
da área de Matemática, pois fornece os elementos indispensáveis para
a compreensão e desenvolvimento de várias outras disciplinas.
Para tratar dos conteúdos desta disciplina, este livro está subdividido
em quatro unidades, descritas a seguir.
No início da primeira unidade será realizada uma revisão
envolvendo o triângulo retângulo. Ela é importante, uma vez que
esses conceitos serão constantemente retomados ao longo dos
demais tópicos. Em seguida, abordaremos a trigonometria, primeiro
no triângulo retângulo, depois em um triângulo qualquer.
Na segunda unidade, os conceitos de seno, cosseno e tangente,
antes discutidos apenas no triângulo retângulo, agora serão estendidos
e formalizados na circunferência. Com essas duas abordagens, você
irá reconhecer que o cosseno e o seno representam as medidas
dos catetos de um triângulo retângulo com medida 1, pois são as
projeções de um ponto nos eixos de uma circunferência.
A Unidade 3 visa desenvolver diversos conceitos relacionados a
funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões, sendo
utilizados para isso, tanto quanto possível, exemplos e situações
contextualizadas. Você perceberá padrões e regularidade em
fenômenos da natureza e em situações reais do seu dia a dia.
Na Unidade 4, inicialmente por meio de uma breve abordagem
histórica, você conhecerá um pouco a respeito da necessidade
de construção de um novo conjunto numérico: os números
complexos. Apresentada a definição formal desse conjunto, vamos
explorar diversas operações algébricas, bem como suas respectivas
representações geométricas no plano de Argand-Gauss.
Cabe ressaltar que você será desafiado na demonstração de
teoremas. Portanto, é necessário empenho no estudo, bem como
na visualização das imagens indicadas, que enriquecerão sua
aprendizagem. É de extrema importância manter uma rotina de
estudos que possibilite dedicar-se à realização das atividades, abrindo
caminho para a autonomia intelectual.
Bons estudos!
Unidade 1

Trigonometria no triângulo

Convite ao estudo
Como você faria se alguém o desafiasse a calcular a altura de
um prédio de maneira indireta, ou seja, sem subir ao seu topo
ou utilizar equipamentos específicos?

O matemático grego, Tales de Mileto (640-564 a.C.),


considerado um dos sete sábios da Antiguidade, deparou-se com
um desafio semelhante: calcular a altura de uma das pirâmides
dos faraós do Egito, utilizando somente seus conhecimentos e
os recursos daquela época. As informações a seu respeito e de
seus feitos são cercadas por incertezas e existem várias versões
sobre o método empregado por Tales para realizar a medição.
A mais antiga delas diz que Tales desenhou uma circunferência
de raio igual à sua própria altura e postou-se no centro dela.
Numa segunda versão, Tales, em vez do próprio corpo, usou
uma vareta fincada perpendicularmente ao solo.

Nessas duas versões o raciocínio era o mesmo. Quando sua


sombra (ou a sombra da vareta) atingisse a circunferência, isto
é, no momento em que o comprimento de sua sombra fosse
igual ao da sua altura (ou da altura da vareta), o comprimento da
sombra e o da altura da pirâmide também seriam iguais. Assim,
bastava que, nesse momento, a extremidade da sombra da
pirâmide fosse marcada com uma estaca e seu comprimento
medido por meio de uma corda bem esticada.

A realização de medições indiretas, situações nas quais


não temos acesso ao que pretendemos medir, ainda é muito
utilizada, por exemplo, na astronomia e na engenharia. Na
topografia, por exemplo, para determinar com precisão a medida
de ângulos horizontais e verticais, que possibilitem o cálculo de
distâncias, geralmente inacessíveis, é utilizado um instrumento
óptico chamado teodolito e algumas relações trigonométricas
que estudaremos nesta unidade.

E, para deixar o estudo ainda mais interessante, suponha


que você é docente de certa turma do ensino médio em
início de carreira. Para estimular o aprendizado dos alunos,
a coordenadora pedagógica sugeriu abordar os principais
conceitos de trigonometria no triângulo por meio de três
atividades práticas, em sala de aula ou no ambiente escolar. Com
essas oportunidades de estudos diferenciados, o interesse dos
alunos em aprender será mantido. Essas atividades devem ser
elaboradas com o objetivo de explorar os conceitos estudados
na respectiva seção do livro, de tal maneira que o aluno seja o
foco da aprendizagem, com um papel extremamente ativo.

Na primeira atividade prática, relacionada ao conteúdo


da seção “Triângulo retângulo”, você terá de discutir e aplicar
juntamente com os alunos uma das técnicas mais utilizadas na
construção: aferir se as paredes da sala de aula estão no esquadro,
ou seja, se formam um ângulo reto, sem utilizar a ferramenta
esquadro. Na segunda atividade prática, relacionada ao conteúdo
da seção “Trigonometria no triângulo retângulo”, o desafio será
calcular a altura de alguns pontos inacessíveis na escola ou
próxima a ela, utilizando um teodolito construído pelos próprios
alunos. Nesse caso, os três pontos tomados como referência para
o cálculo formam um triângulo retângulo. Já a terceira atividade
prática, relacionada ao conteúdo da seção “Trigonometria em
um triângulo qualquer”, é semelhante à atividade anterior, no
entanto os três pontos tomados como referência não formam
necessariamente um triângulo retângulo. Vamos lá?
Seção 1.1
Triângulo retângulo
Diálogo aberto

Olá! Seja bem-vindo!


Você deve se lembrar que, ainda na apresentação da unidade,
vimos duas versões do possível método empregado por Tales de
Mileto para realizar a medição da altura de uma das pirâmides dos
faraós do Egito. O raciocínio de Tales culminou, com no que hoje
conhecemos como teorema de Tales, assunto pelo qual iniciaremos
o estudo da trigonometria no triângulo. Ainda por meio de uma
abordagem histórica, estudaremos também o teorema de Pitágoras,
desde a medição de terras no Egito até a sua demonstração formal.
Também estudaremos outras relações métricas no triângulo retângulo,
assim como a distância entre dois pontos no plano cartesiano. Esses
conteúdos servem como base para o trabalho que será desenvolvido
posteriormente na unidade, em que serão abordadas as relações
trigonométricas em um triângulo e suas propriedades geométricas.
Esse assunto é normalmente trabalhado nos anos iniciais do
ensino médio na disciplina de Matemática. Você se recorda?

Figura 1.1 | (a) ilustração de Tales de Mileto; (b) estátua de Pitágoras de Samos

(a) (b)

Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Tales_de_Mileto>. <https://pt.wikipedia.org/wiki/Pit%C3%A1goras>. Acesso em:


23 fev. 2017.

U1 - Trigonometria no triângulo 9
Vamos voltar também à situação hipotética apresentada no
Convite ao estudo? Suponhamos que você é docente de certa turma
do ensino médio em início de carreira, com a tarefa de elaborar uma
atividade prática com o objetivo de discutir e aferir se as paredes da
sala de aula estão no esquadro, ou seja, se formam um ângulo reto,
sem utilizar a ferramenta esquadro.

Figura 1.2 | Parede em esquadro

Fonte: Ribeiro (2013, p. 45).

Você conseguiria propor uma abordagem interessante para essa


aula prática, com base nos conteúdos desta seção? Uma maneira de
descrevê-la é por meio de um plano de aula, constando, em detalhes,
as justificativas teóricas, o tempo disponível para a aula, os conteúdos
matemáticos envolvidos, os materiais necessários, os resultados
esperados, dentre outros aspectos.

Não pode faltar

A palavra trigonometria vem das palavras gregas trigonón, que


significa “triângulo”, e metria, que significa “medição”. Assim como
em sua origem, trigonometria consiste no cálculo de medidas nos
triângulos. Vimos que a utilização de triângulos retângulos semelhantes
para a determinação de distâncias é bastante antiga. Vamos, então,
reconstruir um processo que poderia ser utilizado por Tales para
medir a altura da pirâmide? Para deixar um pouco mais interessante,
vamos considerar um terceiro método: o da vareta que foi fincada,
perpendicularmente, ao solo em um momento qualquer do dia.

10 U1 - Trigonometria no triângulo
Pesquise mais
Para mais detalhes sobre Trigonometria, acesse o link disponível em:
<http://www.uel.br/projetos/matessencial/trigonom/trigo00.htm>.
Acesso em: 3 mar. 2017. Elaborado pelo professor Ulysses Sodré, da
Universidade Estadual de Londrina, esse site traz, além de vários outros
assuntos, alguns dos conceitos relacionados com a Trigonometria:
notações utilizadas, exemplos numéricos e aplicações práticas, com
linguagem bastante acessível. Vale a pena conferir!

Observe a representação artística desse processo e sua secção vertical.


Figura 1.3 | (a) representação artística do processo de medição da altura da
pirâmide (os elementos ilustrados não estão em proporção); (b) secção vertical do
processo de medição da altura da pirâmide

(a) (b)

raios solares raios solares

Fonte: elaborada pelo autor.

Na Figura 1.3, temos:


• H: altura da pirâmide.
• D: distância do eixo da pirâmide à sua borda.
• S: extensão da sombra projetada no solo pela pirâmide (sombra visível).
• h: altura da vareta.
• s: extensão da sombra projetada no solo pela vareta.
Comparando os triângulos retângulos destacados:
• Como o solo é horizontal, suas bases são paralelas.
• Suas alturas são paralelas.
• Considerando que os raios solares são paralelos, seus lados
também são.
Em outras palavras, os dois triângulos apresentam os três lados
correspondentemente paralelos, ou seja, eles são semelhantes e seus
lados são proporcionais.

U1 - Trigonometria no triângulo 11
Lembre-se
Dois triângulos são semelhantes quando satisfazem ao menos um dos
critérios a seguir:

• Possuem dois ângulos iguais.

• Possuem um ângulo igual compreendido entre lados proporcionais.

• Possuem três lados proporcionais.

Desse modo, para obter a medida H, basta utilizar a seguinte


proporção:
H D+S
=
h s
Isolando H:
D+S
H = h⋅
s
Como as medidas h, D, S e s podem ser facilmente obtidas por Tales
e substituídas na expressão, obtém-se H, que é a altura da pirâmide.
Na resolução desse problema, Tales utilizou conhecimentos acerca de
semelhança de triângulos. Esse método resultou no que atualmente
denominamos teorema de Tales.

12 U1 - Trigonometria no triângulo
Assimile
Teorema de Tales

Um feixe de retas paralelas determina, sobre retas transversais, segmentos


correspondentes proporcionais.

AB DE
=
BC EF
Figura 1.4 | Feixe de retas paralelas sobre retas transversais

Fonte: elaborada pelo autor.

Atenção
Um conjunto de três ou mais retas paralelas em um plano é chamado de
feixe de retas paralelas. Na Figura 1.4, as retas r, s e t formam um feixe
de retas paralelas ( r //s //t ). Já as retas u e v, que cortam o feixe de retas
paralelas, são chamadas de retas transversais. Nesse feixe de retas:

• A e D, B e E, C e F são chamados pontos correspondentes.

• AB e DE , BC e EF , AC e DF são chamados segmentos


correspondentes.

Vamos demonstrar o teorema de Tales? Para isso, devemos


considerar o feixe de retas paralelas da Figura 1.4 e dois casos.
1º caso: AB e BC são congruentes, isto é, possuem a mesma
medida, logo AB . Devemos mostrar que DE e EF também são
=1
BC
DE AB DE
congruentes, ou seja, = 1 , consequentemente = = 1.
EF BC EF

U1 - Trigonometria no triângulo 13
Vamos traçar os segmentos DM e EN , paralelos a u, obtendo
os paralelogramos ABMD e BCNE, tais que AB ≡ DM e BC ≡ EN ,
como mostra a figura a seguir.

Figura 1.5 | Feixe de retas paralelas sobre retas transversais e construção dos
paralelogramos ABMD e BCNE (1º caso)

Fonte: elaborada pelo autor.

Como AB ≡ BC , então DM ≡ EN . Note que os triângulos DEM


e EFN são congruentes pelo caso de congruência de triângulos LAAO
(lado, ângulo e ângulo oposto). Logo, DE ≡ EF , como queríamos.
Portanto, AB DE .
= = 1
BC EF
2º caso: AB e BC não são congruentes, isto é, não possuem a
mesma medida. Devemos mostrar que AB e BC são proporcionais
aos segmentos DE e EF , ou seja, AB = DE .
BC EF
Sem perda de generalidade, escolhemos uma medida m conveniente
de modo que AB e BC possam ser divididos por essa medida
uma quantidade inteira de vezes, digamos que med AB = 2m e ( )
( )
med BC = 3m
.

14 U1 - Trigonometria no triângulo
Reflita
A expressão “sem perda de generalidade” é muito comum em
demonstrações que usam uma suposição, nesse caso a medida m. Os
demais casos podem ser demonstrados de maneira semelhante. Como
seria, por exemplo, a demonstração para uma medida m escolhida de tal
( )
maneira que med AB = 5m e med BC = 4m ? ( )

Vamos traçar pontos que dividem AB , traçando as retas paralelas


a r, s e t, como mostra a figura a seguir.

Figura 1.6 | Feixe de retas paralelas sobre retas transversais, divididos em uma
quantidade inteira de vezes (2º caso)

Fonte: elaborada pelo autor.

Basta observar que, como os segmentos obtidos em u são


congruentes, pelo primeiro caso, segue que os segmentos obtidos em
v também são. Logo:

AB 2m 2 DE 2n 2
= = = =
BC 3m 3 e EF 3n 3
Portanto, AB DE .
=
BC EF

U1 - Trigonometria no triângulo 15
Atenção
No 2º caso, demonstramos o teorema de Tales considerando que é
possível obter uma medida m que divide os segmentos AB e BC
uma quantidade inteira de partes. Quando isso acontece, dizemos
que esses segmentos são comensuráveis. Por escapar do conteúdo
deste livro, admitiremos sem prova o caso no qual AB e BC são
incomensuráveis, ou seja, quando não é possível obter uma unidade de
medida na qual seja possível dividir os segmentos em uma quantidade
inteira de partes.

Exemplificando
Suponha que você foi desafiado a calcular a largura de um rio utilizando
apenas uma trena e seus conhecimentos acerca do assunto. Além disso,
você não pode atravessá-lo para realizar medições na outra margem.
Tomando alguns pontos como referência, você realizou algumas
medições e construiu o esquema a seguir.
Figura 1.7 | Esquema para calcular a largura de um rio

Fonte: elaborada pelo autor.

Qual a largura do rio nesse ponto?


AB AD
Resolução: segundo o teorema de Tales, temos que = .
Resolvendo essa proporção, temos: BC DE

AB AD 12 9 252
= ⇒ = ⇒ 9 ⋅ BC = 12 ⋅ 21 ⇒ BC = ⇒ BC = 28
BC DE BC 21 9

Portanto, a largura do rio nesse ponto é 28 m.

16 U1 - Trigonometria no triângulo
Os triângulos semelhantes, em especial os triângulos retângulos,
são de grande importância para a resolução de situações-problema,
principalmente aqueles que envolvem a determinação de distâncias
inacessíveis. Vamos relembrar seus elementos?

Elementos do triângulo retângulo


Um triângulo é retângulo quando um de seus ângulos internos é
reto, ou seja, mede. Nele, podemos destacar os seguintes elementos.

Figura 1.8 | Elementos do triângulo retângulo

Fonte: elaborada pelo autor.

• Lados: AB , BC e AC .
^ ^ ^
• Ângulos internos: BAC , ABC e ACB.
• Medidas dos lados:

a : medida de BC
b : medida de AC
c : medida de AB
• Medidas dos ângulos:
^ ^
A : medida de BAC
^ ^
B : medida de ABC
^ ^
C : medida de ACB
O lado BC , oposto ao ângulo reto, é chamado hipotenusa, e os
lados AB e BC , adjacentes ao ângulo reto, são chamados catetos.

U1 - Trigonometria no triângulo 17
Atenção

Para simplificar, às vezes usaremos letras gregas minúsculas α e β


para indicar os ângulos internos do triângulo. Além disso, indicaremos
um ângulo (ou um segmento) e sua medida por um mesmo símbolo.

Teorema de Pitágoras
Você provavelmente deve se recordar da afirmação: “o quadrado
da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos”.

Assimile
Teorema de Pitágoras

Em um triângulo retângulo, a soma dos quadrados das medidas dos


catetos é igual ao quadrado da medida da hipotenusa.
a2 = b2 + c 2
Figura 1.9 | Catetos e hipotenusa no triângulo retângulo

Fonte: elaborada pelo autor.

“Há registros de que agrimensores no Antigo Egito demarcavam


ângulos retos (90°) utilizando triângulos de medidas proporcionais à 3,
4 e 5, construídos com base em cordas divididas em 12 partes iguais,
por 11 nós.” (ROSA NETO; BALESTRI, 2013, p. 280)
Porém, não sabemos se os antigos egípcios conheciam o teorema.
“O teorema de Pitágoras, por exemplo, não aparece em forma
nenhuma nos documentos egípcios encontrados, mas tabletas até do
período babilônio antigo mostram que na Mesopotâmia o teorema era,
largamente usado.” (BOYER, 1974, p. 29)

18 U1 - Trigonometria no triângulo
Figura 1.10 | Procedimento utilizado pelos egípcios para demarcar ângulo reto

Fonte: elaborada pelo autor.

Atualmente, alguns operários da construção civil utilizam um método


semelhante para aferirem se as paredes estão no esquadro, mesmo sem
utilizar a ferramenta esquadro. Mas vamos deixar esse assunto para o
tópico Sem medo de errar. Ambos os métodos decorrem da recíproca
do teorema de Pitágoras, ou seja, se em um triângulo o quadrado da
medida do maior lado for igual à soma dos quadrados das medidas dos
outros dois lados, então esse triângulo é retângulo.
O teorema de Pitágoras possui diversas demonstrações. Vamos
estudar uma delas.
Considere o quadrado ABCD com lado de medida a e um triângulo
retângulo, com hipotenusa também de medida a. Vamos construir,
sobre cada lado desse quadrado, um triângulo congruente ao inicial.
Note que obtemos um quadrado EFGH, cujo lado mede b + c , como
mostra a figura a seguir.

Figura 1.11 | Procedimento geométrico para a demonstração do teorema de Pitágoras

Fonte: elaborada pelo autor.

U1 - Trigonometria no triângulo 19
Agora, vamos calcular a área do quadrado EFGH. Como há pelo
menos duas maneiras distintas de calcular essa área, podemos escrever
uma igualdade entre elas:
1ª maneira: adicionando
a área do quadrado 2ª maneira: elevando
ABCD1ª e maneira : adicionando
a dos quatro ao quadrado
2ª maneira : elevando a
a área do quadrado ABCD ao quadrado a medida
triângulos retângulos.
e a dos quatro triângulos medida
de seu de
lado.seu lado.
retângulos.

b⋅c
(b + c )
2 2
a + 4⋅ =
2
a 2 +2bc = b 2 +22bc + c 2
a2 = b2 + c 2

Com isso, demonstramos a relação dada pelo teorema de Pitágoras


a2 = b2 + c 2 .

Relações métricas no triângulo retângulo


Além do teorema de Pitágoras, os triângulos retângulos possuem
outras relações métricas envolvendo as medidas de seus lados. Vamos
estudar algumas delas?
Em um triângulo retângulo ABC, a altura AD em relação à
hipotenusa BC divide-o em dois triângulos retângulos semelhantes ao
maior e, consequentemente, semelhantes entre si.
Figura 1.12 | Triângulos retângulos DBA e DCA semelhantes ao triângulo retângulo ABC

Fonte: elaborada pelo autor.

20 U1 - Trigonometria no triângulo
Em que:
• a: medida da hipotenusa.
• b e c: medidas dos catetos.
• h: medida da altura relativa à hipotenusa.
• m e n: medidas das projeções dos catetos sobre a hipotenusa.
Vamos obter as relações métricas entre o triângulo maior e um
dos triângulos menores, digamos o triângulo DBA. De fato, dados dois
triângulos semelhantes, seus lados correspondentes são proporcionais.
Vamos comparar os triângulos e escrever as relações.

Figura 1.13 | Triângulos retângulos ABC e DBA

Fonte: elaborada pelo autor.

a c
c b a b =
= = c n
n h c h a⋅n = c ⋅c
c ⋅h = b⋅n a⋅h = b⋅c
c2 = a ⋅ n

Portanto, outras três relações métricas em um triângulo retângulo


são c ⋅ h = b ⋅ n , a ⋅ h = b ⋅ c e c 2 = a ⋅ n .

Faça você mesmo


2
Verifique as relações métricas b = a ⋅ m e a ⋅ h = b ⋅ c
comparando o triângulo maior e o triângulo DCA. Verifique
também a relação métrica h 2 = m ⋅ n comparando os triângulos
DBA e DCA.

U1 - Trigonometria no triângulo 21
Distância entre dois pontos no plano cartesiano
Podemos ainda utilizar o teorema de Pitágoras para calcular a
distância entre dois pontos do plano cartesiano. Observe como podemos
determinar a distância entre os pontos B ( 3, 8 ) e C (10, 2 ), por exemplo.
Para isso, determinamos o ponto A de modo que o triângulo ABC seja
retângulo.
Note que AB = 8 − 2 = 6 e AC = 2 − 10 = 8 .

Figura 1.14 | Triângulos retângulos ABC no plano cartesiano

Fonte: elaborada pelo autor.

Aplicando o teorema de Pitágoras:


( AB ) + ( AC ) = ( BC ) ⇒ 62 + 82 = ( BC ) ⇒ 100 = ( BC ) ⇒ BC = 10
2 2 2 2 2

Portanto, a distância entre os pontos B ( 3, 8 ) e C (10, 2 ) é de


10 unidades.

Sem medo de errar

Após o estudo do triângulo retângulo, vamos retomar a primeira


situação hipotética apresentada no Convite ao estudo? Vamos
relembrar! Você é docente de certa turma do ensino médio em início de
carreira e tem a tarefa de elaborar uma atividade prática com o objetivo
de discutir e aferir se as paredes da sala de aula estão no esquadro, ou
seja, se formam um ângulo reto, sem utilizar a ferramenta esquadro.
Como já mencionado, no Antigo Egito já se demarcavam ângulos
retos utilizando triângulos formados por uma corda dividida em 12
partes iguais, por 11 nós, conforme ilustrado na Figura 1.15.

22 U1 - Trigonometria no triângulo
Figura 1.15 | Triângulo retângulo obtido no procedimento utilizado pelos egípcios para
demarcar ângulo reto

Fonte: elaborada pelo autor.

Atualmente, na construção civil, é do conhecimento do profissional


pedreiro aferir o esquadro de uma parede utilizando triângulos
retângulos cujas medidas também são proporcionais a 3, 4 e 5, numa
mesma unidade. Digamos que as medidas escolhidas são 30 cm, 40
cm e 50 cm. Em uma das paredes, rente ao chão, o pedreiro marca
um ponto a 30 cm do canto. Em seguida, na outra parede, ele marca
um ponto a 40 cm do canto. Então, ele mede a distância entre os dois
pontos e concluiu que:
• se a distância for 50 cm, o canto tem 90°.
• se a distância for maior que 50 cm, o canto tem mais de 90°.
• se a distância for menor que 50 cm, o canto tem menos de 90°.
Em ambos os métodos, é utilizado o conceito do teorema de Pitágoras.
Que tal descrever em um plano de aula os passos a serem realizados
a fim de que os alunos experimentem na prática esse método? Uma
sugestão de abordagem é organizá-los em grupos e solicitar que
discutam e apresentem uma justificativa matemática para mostrar a
validade desse método.

U1 - Trigonometria no triângulo 23
Avançando na prática

Representação geométrica de um número irracional

Descrição da situação-problema
Suponha ainda que você é docente de certa turma do ensino
médio e estão estudando os conjuntos numéricos, especificamente
os números irracionais. Considere que, em uma das aulas, é
necessário representar um número irracional geometricamente na
reta numérica, utilizando régua, compasso e um par de esquadros.
Qual seria um passo a passo interessante para realizar essa tarefa?

Resolução da situação-problema
Com base no que estudamos nesta seção, podemos utilizar
novamente o conceito do teorema de Pitágoras. Por exemplo, veja
como representar o número irracional 13 na reta numérica.
1. Inicialmente, construímos um triângulo retângulo com
catetos medindo 2 cm e 3 cm com o auxílio do par de esquadros.
Figura 1.16 | Construção do triângulo retângulo com catetos medindo 2 cm e 3 cm

Fonte: elaborada pelo autor.

2. Determinamos a medida da hipotenusa por meio do teorema


de Pitágoras.

a 2 = b 2 + c 2 ⇒ a 2 = 22 + 32 ⇒ a 2 = 13 ⇒ a = 13

24 U1 - Trigonometria no triângulo
3. Por fim, transportamos para a reta numérica a medida da
hipotenusa do triângulo utilizando o compasso.

Figura 1.17 | Transportando a medida da hipotenusa para a reta numérica

Fonte: elaborada pelo autor.

Esse procedimento pode ser aplicado para representar na reta


numérica os números irracionais construtíveis, isto é, números
irracionais cuja medida pode ser representada por um segmento
de reta construído com um número finito de passos, usando
apenas um compasso e uma régua. A raiz quadrada de um número
inteiro positivo é construtível, então, números irracionais do tipo
2 , 3 , 5 , 7 ,..., também são construtíveis.
Que tal agora elaborar um plano de aula para arquivar
esse procedimento? Nele, você pode solicitar aos alunos que
representem na reta numérica outros números irracionais, por
exemplo, 17 , 41 e 53 .

U1 - Trigonometria no triângulo 25
Faça valer a pena
1. A Figura 1.18 representa parte do mapa de um bairro em que a linha de
divisão entre os terrenos A e B e as ruas Minas Gerais e Alagoas são paralelas.
Além disso, a rua Bahia é perpendicular às ruas Minas Gerais e Alagoas.

Figura 1.18 | Parte do mapa de certo baixo

Fonte: elaborada pelo autor.

Assinale a alternativa que contém a medida do lado do terreno B que faz


divisa com a Rua Goiás.
a) 25 m
b) 50 m
c) 100 m
d) 40 m
e) 20 m

2. O sítio de Joaquim fica a 4,5 km, contados perpendicularmente em


direção a uma estrada reta. Na beira da estrada, a uma distância de 7,5 km
do sítio, está localizado um posto de combustível. Também na beira dessa
estrada, há um supermercado que fica igualmente distanciado do posto de
combustível e do sítio de Joaquim, em linha reta, conforme representado
na Figura 1.19.

26 U1 - Trigonometria no triângulo
Figura 1.19 | Estrada reta e pontos de referência

Fonte: elaborada pelo autor.

Assinale a alternativa que contém essa distância comum, em quilômetros.


a) Entre 4,5 km e 5 km.
b) Menos que 4,5 km e mais que 4 km.
c) Mais que 6 km e menos que 6,5 km.
d) Mais que 5,5 km e menos que 6 km.
e) Entre 5 km e 5,5 km.

3. O problema a seguir, citado em um livro de história da Matemática,


aparece no livro Lilavati, do século Xll, de autoria de Bhaskara, o último
matemático medieval importante na Índia.
“Também usando o Teorema de Pitágoras temos o problema seguinte: um
pavão está sobre o topo de uma coluna em cuja base há um buraco de
cobra. Vendo a cobra a uma distância da coluna igual a três vezes a altura da
coluna, o pavão avançou para a cobra em linha reta alcançando-a antes que
chegasse a sua cova. Se o pavão e a cobra percorreram distâncias iguais, a
quantos cúbitos da cova eles se encontraram?” (BOYER, 1974, p. 162)
Considerando uma unidade para a altura da coluna, assinale a alternativa
que contém a solução do problema, em cúbitos.
a) 8
3
b) 3

c) 3
4

U1 - Trigonometria no triângulo 27
d) 4
3
e) 5
3

28 U1 - Trigonometria no triângulo
Seção 1.2
Trigonometria no triângulo retângulo
Diálogo aberto

Na seção anterior, estudamos o teorema de Pitágoras, que estabelece


uma relação entre as medidas dos lados de um triângulo retângulo. Agora,
vamos estudar relações que envolvem também os ângulos internos do
triângulo retângulo, chamadas relações trigonométricas.
Você deve se lembrar da situação hipotética apresentada no
Convite ao estudo. Suponhamos que você é docente de certa turma
do ensino médio em início de carreira, com a tarefa de elaborar uma
atividade prática com o objetivo de calcular a altura de alguns pontos
inacessíveis na escola ou próxima a ela, utilizando um teodolito
construído pelos próprios alunos. Nesse caso, os três pontos tomados
como referência para o cálculo formam um triângulo retângulo.
Mas, afinal, o que é um teodolito? Você já viu ou utilizou um? É um
instrumento que mede com precisão ângulos horizontais e verticais.
No tópico Sem medo de errar, você verá que é possível construir uma
versão simples desse instrumento utilizando poucos materiais. Uma
maneira de descrever essa atividade prática, incluindo a construção do
teodolito, é por meio de um plano de aula, constando, em detalhes,
os materiais necessários, as justificativas teóricas, o tempo disponível
para a aula, os conteúdos matemáticos envolvidos e os resultados
esperados, dentre outros aspectos.

Não pode faltar

Nesta seção, vamos focar nosso estudo nas relações


trigonométricas em um triângulo retângulo. Elas servem como
base para o trabalho desenvolvido posteriormente na Seção 1.3, em
que são abordadas as relações trigonométricas em um triângulo
qualquer e apresentadas a lei dos senos, a lei dos cossenos e o
cálculo da área de um triângulo qualquer.

U1 - Trigonometria no triângulo 29
Razões trigonométricas
Considere duas semirretas de mesma origem em O, formando
um ângulo agudo, digamos, de medida 30°. Veja a Figura 1.20.

Figura 1.20 | Semirretas de origem em O e abertura 30° (as medidas consideradas


não estão necessariamente em verdadeira grandeza)

Fonte: elaborada pelo autor.

Na semirreta inferior, vamos marcar os pontos A1 e A2 , distantes


4 cm e 6 cm da origem, respectivamente, e conduzir por cada
um deles uma perpendicular, obtendo os triângulos retângulos
semelhantes A1B1O e A2B2O , conforme ilustra a Figura 1.21.

Figura 1.21 | Construção dos triângulos retângulos A1B1O e A2B2O (as medidas
consideradas não estão necessariamente em verdadeira grandeza)

Fonte: elaborada pelo autor.

Utilizando uma régua, vamos medir os lados desses triângulos:

_ 2, 3 cm
A1B1 ~ _ 4, 6 cm
OB1 ~ OA1 = 4 cm
_ 3, 5 cm
A2B2 ~ _ 6, 9 cm
OB2 ~ OA2 = 6 cm

30 U1 - Trigonometria no triângulo
Calculando a razão entre esses lados, temos:
No triângulo A1B1O :

_ 2, 3 ~
A1B1 ~ _ 0, 5
OB1 4, 6
OA1 _ 4 _
~ ~ 0, 9
OB1 4, 6

_ 2, 3 ~
A1B1 ~
= _ 0, 6
OA1 4

No triângulo A2B2O :

_ 3, 5 ~
A2B2 ~ _ 0, 5
OB2 6, 9

_ 6 ~
OA2 ~ _ 0, 9
OB2 6, 9

_ 3, 5 ~
A2B2 ~ _ 0, 6
OA2 6

Podemos repetir esse processo indefinidamente, obtendo


outros triângulos retângulos semelhantes A3 B3O , A4 B4O , ...,
An BnO .

Figura 1.22 | Construção dos triângulos retângulos A3B3O , A4B4O , ... An BnO , (as
medidas consideradas não estão necessariamente em verdadeira grandeza)

Fonte: elaborada pelo autor.

U1 - Trigonometria no triângulo 31
Nesses triângulos semelhantes, temos uma igualdade entre as
seguintes razões envolvendo as medidas desses triângulos:

A1B1 A2B2 A3B3 A4B4 AB _


= = = = ... = n n ~ 0, 5
OB1 OB2 OB3 OB4 OBn

OA1 OA2 OA3 OA4 OAn ~


_ 0, 9
= = = = ... =
OB1 OB2 OB3 OB4 OBn

A1B1 A2B2 A3B3 A4B4 AB _


= = = = ... = n n ~ 0, 6
OA1 OA2 OA3 OA4 OAn

Pesquise mais
No objeto interativo, disponível no link: <https://www.geogebra.org/m/
M3vta5Uv#material/GPnb5U5Z>. Acesso em: 10 mar. 2017, é possível
simular as razões trigonométricas. Ao alterar o tamanho, o formato ou
a medida dos ângulos agudos nos triângulos retângulos, a simulação
mostra que a igualdade entre as razões é mantida. Vale a pena conferir!

De fato, as relações acima não dependem do tamanho dos triângulos


^
retângulos, mas apenas do valor da medida do ângulo O . Isso se deve
ao fato de que, assim como na situação da medida da altura da pirâmide
apresentada no Convite ao estudo, os triângulos apresentam os três
lados correspondentemente paralelos, ou seja, eles são semelhantes e
seus lados são proporcionais. Isso levou à ideia de nomear essas razões.

32 U1 - Trigonometria no triângulo
Assimile
Considerando um triângulo retângulo e fixando um de seus ângulos
agudos α , temos:
Figura 1.23 | Triângulo retângulo ABC e ângulo agudo grandeza

(cateto oposto)

(cateto adjacente)
Fonte: elaborada pelo autor.

• Seno de um ângulo agudo é a razão entre o cateto oposto ao ângulo


e a hipotenusa.

b
sen α =
a

• Cosseno de um ângulo agudo é a razão entre o cateto adjacente ao


ângulo e a hipotenusa.

c
cos α =
a

• Tangente de um ângulo agudo é a razão entre o cateto oposto ao


ângulo e o cateto adjacente ao ângulo.

b
tg α =
c

Vocabulário
Adjacente: que está posto ao lado, situado em local próximo.

U1 - Trigonometria no triângulo 33
Com essas razões trigonométricas, podemos determinar a medida
de um lado do triângulo retângulo, conhecendo a medida de um ângulo
e de outro lado. Também é possível determinar a medida de um ângulo
conhecendo a medida de dois lados.

Faça você mesmo


Existem algumas relações envolvendo seno, cosseno e tangente dos
ângulos agudos α e β de um triângulo retângulo, por exemplo,
sen α = cos β , que nos informa que o seno de um ângulo é igual ao
cosseno do complementar desse ângulo e vice-versa.

Figura 1.24 | Triângulo retângulo ABC e ângulos agudos αe β

Fonte: elaborada pelo autor.

Demonstre as seguintes relações:


sen α
• tg α =
cos α

• sen2 α. + cos2 α = 1
Essa última igualdade é chamada relação fundamental da trigonometria.
Para demonstrá-la, utilize o teorema de Pitágoras.

Atenção

2
Não podemos confundir sen α , que é igual a ( sen α )2 , com
(
sen α 2 , que é igual a sen α ⋅ α . )

34 U1 - Trigonometria no triângulo
Valores para o seno, cosseno e tangente no triângulo retângulo
Anteriormente, no tópico de “Razões trigonométricas”, ao construir os
triângulos semelhantes A1B1O e A2B2O , obtemos valores aproximados
nas razões.

A1B1 A2B2 ~
_ 0, 5
=
OB1 OB2

OA1 OA2 _
= ~ 0, 9
OB1 OB2

A1B1 A2B2 _
= ~ 0, 6
OA1 OA2

Figura 1.25 | Construção dos triângulos retângulos A1B1O e A2B2O

Fonte: elaborada pelo autor.

A precisão desses valores depende da exatidão com que o


triângulo foi construído e medido. No entanto, em alguns ângulos
as razões trigonométricas podem ser determinadas algebricamente,
sem se recorrer à medição direta, eliminando o inconveniente da
imprecisão da régua, por exemplo. Desse modo, seus senos, cossenos
e tangentes podem ser expressos com exatidão, sem necessidade de
arredondamentos ou aproximações. São os ângulos de 30°, 45° e 60°,
conhecidos como ângulos notáveis.

Reflita
Por que os ângulos de medidas 30°, 45° e 60° são conhecidos como
ângulos notáveis?

U1 - Trigonometria no triângulo 35
Considere um triângulo equilátero de lado a. Sabemos que cada um
de seus ângulos internos mede 60°. Traçando a altura h e pelo teorema
de Pitágoras, temos:

Figura 1.26 | Triângulo equilátero de lado a e altura h

Fonte: elaborada pelo autor.

2
a a2 a2 3a 2 a 3
a2 = h2 +   ⇒ a2 = h2 + ⇒ a2 − = h2 ⇒ h2 = ⇒h=
2 4 4 4 2

Então, podemos calcular as razões trigonométricas de 30° e 60°.

a
1
• sen 30° = 2 =
a 2

a 3
3
• cos 30° = 2 =
a 2
a
2 1 3 3
• tg30° = = ⋅ =
a 3 3 3 3
2
a 3
3
• sen 60° = 2 =
a 2
a
1
• cos 60° = 2 =
a 2

36 U1 - Trigonometria no triângulo
a 3
• tg 60° = 2 = 3
a
2

Agora, considere um triângulo retângulo isósceles de catetos a.


Sabemos que seus ângulos agudos são congruentes e medem 45°. Pelo
teorema de Pitágoras, temos:
Figura 1.27 | Triângulo retângulo isósceles de lado a e hipotenusa x

Fonte: elaborada pelo autor.

x 2 = a 2 + a 2 ⇒ x 2 = 2a 2 ⇒ x = a 2
Assim, podemos calcular as razões trigonométricas de 45°.

a 1 2 2
• sen 45° = = ⋅ =
a 2 2 2 2

a 2
• cos 45° = =
a 2 2

a
• tg 45° = = 1
a

Resumidamente, podemos organizar esses valores em uma tabela


de dupla entrada.

U1 - Trigonometria no triângulo 37
Tabela 1.1 | Valores do seno, cosseno e tangente para os ângulos notáveis

Fonte: elaborada pelo autor.

Para os demais ângulos, podemos utilizar uma calculadora científica


ou construir uma tabela com os valores do seno, do cosseno e da
tangente por meio de aproximações de números irracionais. De acordo
com a necessidade, podemos obter aproximações com uma quantidade
maior de casas decimais, por exemplo, sen 1° com aproximação de sete
casas decimais: sen 1° = 0, 0174524 .

Pesquise mais
Veja uma tabela trigonométrica com aproximação de cinco casas
decimais disponível em: <http://www.ufrgs.br/biomec/materiais/
Tabela%20Trigonometrica.pdf>. Acesso em: 27 mar. 2017.

Dica
Além de consultar a tabela, você pode usar uma calculadora científica
para obter os valores do seno, cosseno e tangente de um ângulo. Para
obter o seno do ângulo de, por exemplo, efetuamos:
Figura 1.28 | Sequência de teclas para obter o valor de sen 47°

Fonte: adaptada de Rosa Neto e Balestri (2013, p. 289).

38 U1 - Trigonometria no triângulo
Também é possível determinar a medida do ângulo α dado sen α ,
−1 −1 −1
cos α ou tg α usandoafunção sen , cos ou tg ,respectivamente.
Para determinar a medida do ângulo ao qual cos α = 0, 974 , por
exemplo, efetuamos:
Figura 1.29 | Sequência de teclas para obter a medida do ângulo ao qual
cos α = 0, 974

Fonte: adaptada de Rosa Neto e Balestri (2013, p. 289).

Nesse caso, a medida do ângulo α é aproximadamente 13°. Vale


ressaltar que algumas calculadoras científicas oferecem três opções
para a unidade de medida de ângulo: graus (Deg), radianos (Rad) ou
grados (Gra). Nos exemplos acima, estamos considerando a medida
do ângulo em graus, conforme a indicação D no canto superior direito
do visor.

Exemplificando
Ao decolar, um avião percorre um trajeto retilíneo que forma com
o solo um ângulo de 25°. Seu deslocamento horizontal é de 2500
m. Determine a altura aproximada H atingida pelo avião e a distância
aproximada percorrida d, conforme a figura a seguir.
Figura 1.30 | Representação do trajeto de um avião ao decolar pirâmide (os
elementos ilustrados não estão em proporção)

Fonte: elaborada pelo autor.

U1 - Trigonometria no triângulo 39
Resolução: como a altura é perpendicular ao solo, o triângulo formado
é retângulo. A razão entre as medidas do cateto oposto e do cateto
adjacente é dada por:

H
tg 25° =
2 500

A razão entre as medidas do cateto adjacente e a hipotenusa é dada por:

2 500
cos 25° =
d

Considerando os valores da tabela trigonométrica, temos que


tg 25° = 0, 466 e cos 25° = 0, 906 . Substituindo os valores:

H H
tg 25° = ⇒ 0, 466 = ⇒ H = 2 500 ⋅ 0, 466 ⇒ H = 1165
2 500 2 500

2 500 2 500 2 500 _ 2 759


cos 25ϒ = ⇒ 0, 906 = ⇒d = ⇒d~
d d 0, 906

Portanto, a altura atingida pelo avião é de aproximadamente 1165 m e a


distância percorrida pelo avião é de 2759 m.

Sem medo de errar

Após o estudo do triângulo retângulo, vamos retomar a segunda


situação hipotética apresentada no Convite ao estudo? Vamos relembrar!
Você é docente de certa turma do ensino médio em início de carreira e
tem a tarefa de elaborar uma atividade prática com o objetivo de calcular
a altura de alguns pontos inacessíveis na escola ou próxima a ela. Para
isso, os alunos construirão um teodolito. Será preciso providenciar:
• Fotocópias de um transferidor de 180°.
• Bases firmes para colar o transferidor (papel-cartão, papelão, etc.).
• Canudos resistentes.
• Barbante.

40 U1 - Trigonometria no triângulo
• Porcas, parafusos ou outro tipo de material para contrapeso.
• Tesouras e fita adesiva.
A montagem é simples e o teodolito ficaria como na figura a seguir.
Figura 1.31 | Teodolito construído com canudos, barbante e transferidor de papel

Fonte: Chavante (2015, p. 311).

O uso desse teodolito também é simples. Um aluno deve olhar pelo


furo do canudo, mirando-o na direção da base do que se deseja medir,
digamos a altura de uma árvore, até que o barbante sobreponha a marca
de 90° do transferidor. Um segundo aluno pode ajudar na leitura desse
ângulo. Um terceiro aluno fica próximo ao tronco da árvore para marcar
a altura h1 orientada pelo aluno observador, como sugere o item (a) da
Figura 1.32. Do mesmo local, o aluno observador aponta o canudo para a
extremidade mais alta da árvore e o colega anota o ângulo indicado pelo
barbante no transferidor. Esse ângulo, digamos 120°, é o complementar
do ângulo desejado, no caso, 180° − 120° = 60°, como indicado no item
(b) da Figura 1.32. A medida do cateto d é facilmente obtida utilizando
uma trena.
Figura 1.32 | (a) uso do teodolito para medir a altura h1 no tronco da árvore; (b)
uso do teodolito para medir o ângulo interno do triângulo retângulo formado (os
elementos ilustrados não estão em proporção)
(a) (b)

Fonte: Chavante (2015, pg. 311).

U1 - Trigonometria no triângulo 41
Conhecendo a medida do ângulo BAC � , do cateto d, e com
base nos conteúdos desta seção, é possível obter a medida h2 e,
consequentemente, a altura da árvore ( h1 + h2 ).
Cabe agora a você documentar tudo por meio de um plano de
aula. Explique, detalhadamente, os materiais necessários e o passo
a passo da construção do teodolito, assim como o processo de
medição dos ângulos, as justificativas teóricas, o tempo disponível
para a prática, os conteúdos matemáticos envolvidos e os resultados
esperados, dentre outros aspectos.

Avançando na prática

Escada: cada centímetro conta


Descrição da situação-problema
Jorge é engenheiro fiscal de obras públicas. Nosso personagem
irá inspecionar se a construção de uma escada na entrada de um
prédio público atende as exigências da NBR 9050 (ABNT, 2004).
Ergonomicamente e por razões de segurança, as normas exigem que
o espelho de degraus de escadas deve ser superior a 16 cm e inferior
a 18 cm e que o piso deve ser superior a 28 cm e inferior a 32 cm.
A escada tem quatro degraus iguais e foi construída com 1,2 m
de comprimento e inclinação de 30° em relação ao solo, conforme
ilustra a figura a seguir.

Figura 1.33 | (a) escada construída em um prédio público; (b) secção vertical da escada

(a) (b)

largura do
degrau (piso)

altura do
degrau
(espelho)

Fonte: elaborada pelo autor.

42 U1 - Trigonometria no triângulo
Jorge tem a responsabilidade de verificar se o piso e o espelho dessa
escada estão de acordo com a norma NBR 9050 (ABNT, 2004). Que
tal ajudar nosso personagem na resolução dessa situação-problema?

Resolução da situação-problema
Observando o item (b) da figura, notamos que o comprimento
total dos quatro degraus é de 1,20 m. Para calcular a largura de
cada degrau, basta dividir esse comprimento pela quantidade de
degraus, ou seja, 1, 20 . Como cada piso tem 30 cm, eles
= 0, 3
4
estão de acordo com a NBR 9050 (ABNT, 2004).
Agora, vamos verificar os espelhos. Com base no que estudamos
x 3 x
nesta seção, podemos utilizar a relação tg 30° para
= ⇒ = a
determinar ⇒ 3 x = 1, 2
altura total dos quatro degraus. Vamos indicar essa1,medida
20 3 x.1, 20
por
x 3 x 1, 20 3
tg 30° = ⇒ = ⇒ 3 x = 1, 20 3 ⇒ x = ⇒ x = 0, 4 3
1, 20 3 1, 20 3

Para calcular a altura de cada degrau, basta dividir


esse comprimento pela quantidade de degraus, ou seja,
0, 4 3 _ 0,17 .
= 0,1 3 ~
4

Como cada espelho tem aproximadamente 17 cm, eles


também estão de acordo com as normas da ABNT. Portanto, o
piso e o espelho dessa escada estão de acordo com a NBR 9050
(ABNT, 2004).
Que tal verificar isso na prática? Coloque-se na situação do
nosso personagem, observe ao seu redor e escolha uma escada.
Elabore um relatório contendo as medidas da escada escolhida,
apresentando os cálculos e a conclusão em relação à conformidade
com a NBR 9050 (ABNT, 2004).

U1 - Trigonometria no triângulo 43
Reflita
Por que é importante estabelecer normas tão rigorosas a respeito do
dimensionamento de escadas fixas? Na escada de certo metrô de Nova
York, um degrau é pouco mais de 2 cm mais alto que os demais, o
que é suficiente para que muitas pessoas que passem por ali acabem
tropeçando. Não acredita? Veja o vídeo demonstrando esse fato curioso
em: <https://youtu.be/ap-22FjgoE4>. Acesso em: 9 mar. 2017.

Faça valer a pena


1. Para demonstrar a potência da nova picape, certa concessionária montou
uma ladeira em frente ao pátio de estacionamento, na qual os clientes
podem realizar um test drive com o veículo. Essa ladeira possui inclinação
de 30° em relação ao plano horizontal e 25 m de comprimento total.
Assinale a alternativa que indica quantos metros a picape se eleva
verticalmente, após percorrer toda a ladeira.
a) 25 m

b)
25 3
3
c) 25 3

2
d) 12,5 m
e) 20 m

2. Um topógrafo está usando o teodolito para medir a altura de certa


torre. Primeiro ele posicionou o teodolito em um ponto A, indicando
45° em relação ao topo da torre. Depois, ele caminhou 40 metros em
direção à torre, até um ponto B, indicando 30° em relação ao topo.
Assinale a alternativa que indica a altura aproximada dessa torre. Considere
17 .
3 = 1,

44 U1 - Trigonometria no triângulo
Figura 1.34 | Processo de medição da altura da torre

Fonte: elaborada pelo autor.

a) 80 m
b) 57,14 m
c) 137,14 m
d) 40 m
e) 97,14 m

3. O tamanho das telas de televisores, smarthphones, tablets, monitores e


diversos outros equipamentos é informado em polegadas ( 1" = 2,54 cm ). Esse
valor refere-se à medida da diagonal da tela. No padrão de tela widescreen
(do inglês wide: largo e screen: tela), a razão entre o comprimento e a largura
da tela é de 16:9, ou seja, 16 ~
_ 1, 7
78 . Isso quer dizer que o comprimento é
9
aproximadamente 1,78 vezes a altura da tela.
Considere uma tela widdescreen de 50”. Assinale a alternativa que indica os
valores aproximados do ângulo entre a diagonal e o lado maior, da largura e
do comprimento da tela, nessa ordem.
a) 29°; 62 cm; 110 cm
b) 26°; 62 cm; 110 cm
c) 29°; 102 cm; 61 cm
d) 31°; 64 cm; 102 cm
e) 29°; 62 cm; 102 cm

U1 - Trigonometria no triângulo 45
46 U1 - Trigonometria no triângulo
Seção 1.3
Trigonometria em um triângulo qualquer
Diálogo aberto

Na seção anterior, estudamos as razões trigonométricas seno,


cosseno e tangente de ângulos agudos associados a triângulos
retângulos. Agora, estudaremos relações trigonométricas associadas
à triângulos que não são retângulos, envolvendo seno e cosseno de
ângulos cuja medida está entre 90° e 180°. Desse modo, é possível
realizar outras medições indiretas, tomando pontos como referência
que não formam necessariamente um triângulo retângulo.
E, falando em medições indiretas, vamos retomar à terceira situação
hipotética apresentada no Convite ao estudo? Assim como na segunda
situação hipotética, suponhamos que você é docente de certa turma do
ensino médio em início de carreira, com a tarefa de elaborar uma atividade
prática com o objetivo de calcular a altura de alguns pontos inacessíveis
na escola ou próxima a ela, utilizando um teodolito construído pelos
próprios alunos. Dessa vez, os três pontos tomados como referência
para o cálculo não formam necessariamente um triângulo retângulo.
A confecção do teodolito e o plano de aula solicitado no tópico
Sem medo de errar da seção anterior nos fornecem “dicas” de como
realizar essa aula prática. Resta agora elaborar um plano de aula para
arquivar os detalhes dessa nova aula prática, constando os materiais
necessários, as justificativas teóricas, o tempo disponível para a aula,
os conteúdos matemáticos envolvidos e os resultados esperados,
dentre outros aspectos.

Não pode faltar

Na próxima unidade, vamos estender as razões trigonométricas aos


elementos de uma circunferência. Isso nos permitirá compreender a
ideia de seno, cosseno e tangente para além dos ângulos internos de
um triângulo retângulo, ou seja, para qualquer medida de ângulo maior
do que 90°. No entanto, nesta seção, vamos estudar apenas as relações
trigonométricas envolvendo seno e cosseno de ângulos cuja medida
está entre 90° e 180°.

U1 - Trigonometria no triângulo 47
Por ora, precisaremos admitir duas relações que podem ser
demonstradas e serão estudadas com mais detalhes na próxima unidade.

Assimile

Considere um ângulo obtuso AOB � = α , com 90° < α < 180° , e seu

suplemento BOC = 180° − α , conforme ilustra a Figura 1.35
Figura 1.35 | Ângulo obtuso α e seu suplemento

Fonte: elaborada pelo autor.

1. O seno de um ângulo obtuso é igual ao seno de seu suplementar.


sen α = sen (180° − α )

2. O cosseno de um ângulo obtuso é igual ao oposto do cosseno de


seu suplementar.
cos α = − cos (180° − α )

Em outras palavras, podemos “reduzir” os valores do seno ou


cosseno de ângulos obtusos para valores correspondentes nos
ângulos agudos, estudados anteriormente.
Além disso, vamos definir o seno e o cosseno para o caso
particular de um ângulo de medida 90°, nesse caso, sen 90° = 1 e
cos 90° = 0 .

48 U1 - Trigonometria no triângulo
Exemplificando
1
Veja como podemos calcular sen 150° ,=cos (180° ,°=sen
sen135 cos
−−150 °()180
132 °=e=sen 135
° −30
sen
cos 170° °=°.=)° =
(180 − cos
132
− cos ) 45
(°180 °−=170
= °sen − °°
48
2
1
• sen 150° = sen (180° − 150° ) = sen 30° =
2
2
• cos 135° = − cos (180° − 135° ) = − cos 45° = −
2
• sen 132° = sen (180° − 132° ) = sen 48° ~_� 0, 743
• cos 170° = − cos (180° − 170° ) = − cos 10° = −0, 985
sen 132°cos 170(Os
= sen 180 °cos (180
− 132
° = −valores ) =° −sen
°de ° )°=e� −0cos
17048 , 743
10° =foram
−0, 985
consultados em uma tabela
trigonométrica. Utilize uma calculadora científica para verificar essas igualdades.

Lei dos senos


Um importante teorema da trigonometria é conhecido por
lei dos senos. Ele relaciona os lados de um triângulo aos ângulos
respectivamente opostos a ele.

Assimile
Segundo a lei dos senos, em um triângulo ABC qualquer, a medida de
um lado é proporcional ao seno do ângulo oposto (vide Figura 1.36).

Figura 1.36 | Triângulo ABC qualquer e medidas dos lados

Fonte: elaborada pelo autor.

a b c
^= ^= ^
sen A sen B sen C

U1 - Trigonometria no triângulo 49
Sem perda de generalidade, vamos fazer a demonstração para
um triângulo acutângulo, ou seja, que possui os ângulos internos
agudos. Considere um triângulo ABC e duas de suas alturas,
conforme Figura 1.37.

Figura 1.37 | Triângulo ABC acutângulo e duas de suas alturas

Fonte: elaborada pelo autor.

� no triângulo retângulo BCE, temos:


Utilizando a razão sen B
^ EC ^
sen B = ⇒ EC = a ⋅ sen B
a
^
Utilizando a razão sen A no triângulo retângulo ACE, temos:
EC
sen^
A= ⇒ EC = b ⋅ sen^
A
b
Comparando essas duas igualdades, tem-se:

^ ^ a b
a ⋅ sen B = b ⋅ sen A ⇒ ^= ^(I)
sen A sen B
^
Utilizando a razão sen B no triângulo retângulo ABD, temos:
^AD ^
sen B = ⇒ AD = c ⋅ sen B
c
^ no triângulo retângulo ACD, temos:
Utilizando a razão senC
^ AD ^
sen C = ⇒ AD = b ⋅ sen C
b
Comparando essas duas igualdades, tem-se:

50 U1 - Trigonometria no triângulo
^ ^ b c
c ⋅ sen B = b ⋅ sen C ⇒ ^= ^ (II)
sen B sen C

Das relações I e II, temos a b c , como


^
= ^= ^
sen A sen B sen C
queríamos demonstrar. Esse resultado também é válido para
triângulos obtusângulos e para triângulos retângulos, mas não
vamos demonstrá-los.

Lei dos cossenos


Outro importante teorema da trigonometria é conhecido por lei
dos cossenos. Ele relaciona um lado do triângulo aos outros dois e
ao ângulo por eles formado.

Assimile
Segundo a lei dos cossenos, em um triângulo ABC qualquer, o quadrado
da medida de um dos lados é igual à soma dos quadrados das medidas
dos outros lados, subtraído o dobro do produto das medidas desses
lados pelo cosseno do ângulo formado por eles (vide Figura 1.38).
Figura 1.38 | Triângulo ABC qualquer e medidas dos lados

Fonte: elaborada pelo autor.

a 2 = b 2 + c 2 − 2bc ⋅ cos A
^

b 2 = a 2 + c 2 − 2ac ⋅ cos B
^

c 2 = a 2 + b 2 − 2ab ⋅ cos c

U1 - Trigonometria no triângulo 51
Novamente, sem perda de generalidade, vamos fazer a
demonstração para um triângulo acutângulo. Considere um
triângulo ABC e uma de suas alturas, conforme Figura 1.39.
Figura 1.39 | Triângulo ABC acutângulo e uma de suas alturas

Fonte: elaborada pelo autor.

^
Utilizando a razão cos A e o teorema de Pitágoras no triângulo
retângulo ACD, temos:
^ AD ^
cos A = ⇒ AD = b ⋅ cos A
b

( ) ( ) ( )
2 ^
b 2 = AD + h 2 ⇒ h 2 = b 2 − AD ⇒ h 2 = b 2 − b ⋅ cos A ⇒ h 2 = b 2 − b 2 ⋅ cos ^
A (I)

Fazendo algumas substituições e utilizando o teorema de


Pitágoras no triângulo retângulo BCD, temos:

( ) ( ) ( )
2 2 2
^
a 2 = h 2 + BD ⇒ a 2 = h 2 + c − AD ⇒ h 2 = a 2 − c − b ⋅ cos A ⇒

(
⇒ h 2 = a 2 − c 2 − 2bc ⋅ cos A + b 2 ⋅ cos2 A ⇒
^ ^
)
^ ^ ^
⇒ h = a − c + 2bc ⋅ cos A − b ⋅ cos A − b 2 ⋅ cos2 A
2 2 2 2
(II)

Das relações I e II, temos:


^ ^ ^ ^
b 2 − b 2 ⋅ cos2 A = a 2 − c 2 + 2bc ⋅ cos A − b 2 ⋅ cos2 A ⇒ a 2 = b 2 + c 2 − 2bc ⋅ cos A

Como queríamos demonstrar. Também é possível demonstrar


esse resultado para triângulos obtusângulos e para triângulos
retângulos, de maneira semelhante à apresentada.

52 U1 - Trigonometria no triângulo
Pesquise mais
A demonstração da lei dos senos e da lei dos cossenos para um
triângulo qualquer (acutângulo, retângulo ou obtusângulo) pode
ser encontrada em: <http://pessoal.sercomtel.com.br/matematica/
trigonom/trigo05.htm>. Acesso em: 15 mar. 2017. Nas demonstrações
da lei dos senos, são utilizadas propriedades dos triângulos inscritos
em uma circunferência. Vale a pena conferir!

Área de um triângulo qualquer


b⋅h
Você deve conhecer a fórmula A = para calcular a área de
2
um triângulo, em que b representa a medida de um dos lados e h
a medida correspondente à altura relativa a esse lado. No entanto,
pode ser que não tenhamos à disposição a medida de sua altura,
mas de seus lados e ângulos.

Assimile
A área de um triângulo ABC qualquer é igual ao semiproduto das medidas
de dois lados do triângulo pelo seno do ângulo formado por eles (vide
Figura 1.40).

Figura 1.40 | Triângulo ABC qualquer e medidas dos lados

Fonte: elaborada pelo autor.

ab ^ ac ^ bc ^
A= ⋅ sen C A= ⋅ sen B A= ⋅ sen A
2 2 2

U1 - Trigonometria no triângulo 53
Mais uma vez, sem perda de generalidade, vamos demonstrar a
validade dessas expressões para triângulos acutângulos. Considere
um triângulo ABC e uma de suas alturas, conforme Figura 1.41.

Figura 1.41 | Triângulo ABC acutângulo e uma de suas alturas

Fonte: elaborada pelo autor.

^
Utilizando a razão sen A no triângulo retângulo ABD, temos:
^ h ^
sen A = ⇒ h = c ⋅ sen A
c

b⋅h
Agora, vamos utilizar a expressão A = citada anteriormente
para calcular a área desse triângulo. 2

A=
b⋅h
⇒A=
b ⋅ c ⋅ sen A
⇒A=
bc ( ^
⋅ sen A
)
^

2 2 2
De maneira semelhante, é possível obter as demais expressões.
Também é possível demonstrar esse resultado para triângulos
obtusângulos e para triângulos retângulos.

Faça você mesmo


ab ^ ac ^
Demonstre as demais relações A = ⋅ sen C e A = ⋅ sen B .
2 2

54 U1 - Trigonometria no triângulo
Reflita
Dependendo das medidas conhecidas, podemos utilizar uma fórmula
diferente para calcula a área do triângulo. Conhecendo as medidas da
base (b) e da altura (h), utilizamos a fórmula A = b ⋅ h . Já conhecendo as
2 ^
medidas de dois lados (b e c) e do ângulo formado por eles (A ),
utilizamos a fórmula A = bc ⋅ sen ^
A . Mas e se conhecermos apenas as
2
medidas dos três lados? Será que existe uma fórmula para calcular a área
desse triângulo? Se você ficou curioso, pesquise pela fórmula de Herão,
cujo nome é em homenagem ao matemático Herão de Alexandria, que
viveu por volta da segunda metade do século I d.C. E porque não existe
uma fórmula para calcular a área de um triângulo conhecendo apenas
as medidas dos três ângulos?

Outras propriedades geométricas: alturas, medianas, bissetrizes


internas e circunferências inscritas ou circunscritas
Conhecendo as medidas dos lados e dos ângulos internos de
um triângulo qualquer, podemos deduzir fórmulas que permitem o
cálculo de segmentos notáveis desse triângulo: alturas, medianas,
bissetrizes internas, raio da circunferência inscrita ou circunscrita.
A dedução dessas fórmulas utiliza os resultados estudados nessa
e nas seções anteriores: teorema de Pitágoras, relações métricas
e trigonométricas no triângulo retângulo, lei dos senos, lei dos
cossenos e área de um triângulo qualquer. No entanto, devido à
extensão dos cálculos vamos deduzir apenas a primeira delas. A
dedução das demais ocorre de maneira semelhante e pode ser
encontrada no livro do professor Gelson Iezzi (1993, p. 263).
Num triângulo ABC, conhecendo-se as medidas dos lados a, b
e c, podemos calcular as três alturas. Sem perda de generalidade,
considere um triângulo ABC, cuja altura h é traçada sobre o lado
BC , dividindo-o em dois segmentos de medidas m e n, como
mostra a Figura 1.42.

U1 - Trigonometria no triângulo 55
Figura 1.42 | Triângulo ABC e altura relativa ao lado BC

Fonte: elaborada pelo autor.

O teorema de Pitágoras, aplicado ao triângulo retângulo DBA,


deriva a expressão seguinte:
c 2 = n 2 + h 2 (1)
E, aplicado ao triângulo retângulo DCA, resulta em:
b 2 = m 2 + h 2 ⇒ h 2 = b 2 − m 2 (2)
Como n = a − m , elevando ao quadrado ambos os membros, temos:
n 2 = ( a − m ) ⇒ n 2 = a 2 − 2am + m 2 (3)
2

Substituindo (3) e (2) em (1), segue que:


1 2
c 2 = a 2 − 2am + m 2 + b 2 − m 2 ⇒ 2am = a 2 + b 2 − c 2 ⇒ m =
2a
(
a + b2 − c 2 ) (4)
Substituindo (4) em (2), tem-se:

( ) ( )
2 2
 1 2 
2 a2 + b2 − c 2 4a 2 b 2 − a 2 + b 2 − c 2
2
h =b −
 2a
2


(
a + b2 − c 2  = b2 −
4a 2
) =
4a 2
=

=
( 2ab )
2
(
− a2 + b2 − c 2 )
2
( ) (
( 2ab ) + a 2 + b 2 − c 2  ⋅ ( 2ab ) − a 2 + b 2 − c 2 
=   = )
4a 2 4a 2

=
(   ) (
= )
 a 2 + 2ab + b 2 − c 2  ⋅ c 2 − a 2 − 2ab + c 2  ( a + b )2 − c 2  ⋅ c 2 − ( a − b )2 
  =
4a 2 4a 2

=
{(a + b ) + c  ⋅ (a + b ) − c } ⋅ {c + (a − b ) . c − (a + b )} =
4a 2

=
[a + b + c ] ⋅ [a + b − c ] ⋅ [c + a − b ] . [c − a + b ]
4a 2

56 U1 - Trigonometria no triângulo
Atenção
Nos cálculos anteriores são utilizados, por mais de uma vez, os seguintes
produtos notáveis:

(x + y )
2
= x 2 + 2 xy + y 2

(x − y )
2
= x 2 − 2 xy + y 2

x2 − y 2 = ( x + y ) ( x − y )

Chamando o perímetro do triângulo ABC por 2p , temos:

a + b + c = 2 p

a + b − c = a + b + c − 2c = 2 p − 2c = 2 ( p − c )

c + a − b = a + b + c − 2b = 2 p − 2b = 2 ( p − b )
c − a + b = a + b + c − 2a = 2 p − 2a = 2 p − a
 ( )
Substituindo essas expressões em (5), temos:

2p ⋅ 2 ( p − c ) ⋅ 2 ( p − b ) ⋅ 2 ( p − a ) 2
h2 = ⇒h= p ( p − a) ( p − b) ( p − c )
4a 2 a

Assimile
Dado um triângulo ABC qualquer de lados a, b e c, temos:

• A altura h relativa ao lado BC é dada por:


2
h= p ( p − c ) ( p − b) ( p − a)
a
• A mediana m relativa ao lado BC é dada por:
1
m=
2
(
2 b2 + c − a2 )
• A bissetriz interna s relativa ao lado BC é dada por:
2
s= bcp ( p − a )
b+c

U1 - Trigonometria no triângulo 57
• O raio r da circunferência inscrita é dado por:

r=
( p − a) ( p − b) ( p − c )
p

• O raio R da circunferência circunscrita é dado por:


abc
r=
4 p ( p − a) ( p − b) ( p − c )

a+b+c
Em que p é o semiperímetro do triângulo, isto é, p = .
2

Sem medo de errar

Após o estudo da trigonometria em um triângulo qualquer, vamos


retomar a terceira situação hipotética apresentada no Convite
ao estudo? Vamos relembrar! Você é docente de certa turma do
ensino médio em início de carreira, com a tarefa de elaborar uma
atividade prática com o objetivo de calcular a altura de alguns pontos
inacessíveis na escola ou próxima a ela, utilizando um teodolito
construído pelos próprios alunos. Dessa vez os três pontos tomados
como referência para o cálculo não formam necessariamente um
triângulo retângulo.
A confecção e o uso do teodolito são semelhantes ao solicitado
na seção anterior. Nessa nova aula prática, você poderá propor
situações mais diversas. Comparando com a situação exemplificada
na Seção 1.2, não será necessário marcar o ponto correspondente
ao ângulo de 90° no teodolito. Isso facilita o cálculo indireto de
outras distâncias, horizontais ou verticais (vide Figura 1.43).

58 U1 - Trigonometria no triângulo
Figura 1.43 | Uso do teodolito para medir a altura de uma árvore, formando um
triângulo que não é retângulo

Fonte: adaptada de Chavante (2015, p. 311).

Com base nos conteúdos desta seção, conhecendo três


informações sobre o triângulo, sendo uma delas, pelo menos, o
comprimento de um dos segmentos do triângulo, é possível obter
as demais informações. Veja na seção Avançando na prática a seguir,
os casos possíveis.
Cabe agora a você documentar tudo por meio de um plano de
aula. Explique, detalhadamente, os materiais necessários e o passo
a passo da construção do teodolito, assim como o processo de
medição dos ângulos, as justificativas teóricas, o tempo disponível
para a prática, os conteúdos matemáticos envolvidos, os resultados
esperados, dentre outros aspectos.

Avançando na prática

Resolver um triângulo qualquer: os quatro problemas clássicos


Descrição da situação-problema
Suponha ainda que você é docente de certa turma do ensino
médio e estão estudando trigonometria, especificamente os
assuntos trabalhados nesta seção. Você separou um momento
pós-aula para a resolução de exercícios e constatou que alguns
alunos apresentam dificuldades na escolha da fórmula correta para
resolver o triângulo. Que tal elaborar uma proposta de atividade
para discutir com os alunos os quatro problemas clássicos de
resolução de triângulos quaisquer?

U1 - Trigonometria no triângulo 59
Resolução da situação-problema
Mas você já ouviu a expressão “resolva o triângulo”? Resolver
um triângulo qualquer significa calcular seus elementos principais:
^ ^ ^
A , B , C , a, b e c. Para isso, é necessário que sejam fornecidos,
no mínimo, três informações sobre o triângulo, sendo uma delas,
pelo menos, o comprimento de um dos segmentos do triângulo
(lado, altura, mediana, bissetriz, etc.). Como já mencionado, os
problemas desse tipo recaem num dos quatro problemas clássicos
de resolução de triângulos quaisquer, listados a seguir.
1. Resolver um triângulo, conhecendo um lado (a) e dois ângulos
^ ^
adjacentes a ele ( B e C ).
2. Resolver um triângulo, conhecendo dois lados (b e c) e o
^
ângulo que eles formam ( A ).
3. Resolver um triângulo, conhecendo os três lados (a, b e c).
4. Resolver um triângulo, conhecendo dois lados (a e b) e o
ângulo oposto a um deles.
Vamos discutir o último caso. Considere um triângulo ABC, no
^ ^ ^
qual são conhecidos a, b e A . Precisamos calcular c, B e C .
Há mais de um método para isso, dependendo da ordem em que
^
eles são calculados. Por exemplo, a medida do ângulo B pode ser
obtida com o auxílio de uma tabela trigonométrica ou calculadora
científica ao aplicar diretamente a lei dos senos.
a b ^ b ^
^= ^ ⇒ sen B = ⋅ sen A
sen A sen B a
^
Em seguida, com a medida do ângulo B obtida, podemos
^
calcular a medida do ângulo C .
^
(
C = 180 − A + B )
^ ^

Por fim, obtemos a medida do lado c aplicando novamente a


lei dos senos. ^
a c a ⋅ sen C
^
= ^
⇒c = ^
sen A sen C sen A
Ou então, aplicando a lei dos cossenos.

c 2 = a 2 + b 2 − 2ab ⋅ cos c ⇒ c = a 2 + b 2 − 2ab ⋅ cos c

60 U1 - Trigonometria no triângulo
Que tal agora elaborar um plano de aula contendo uma
maneira de resolver os triângulos dos demais casos? A resolução
do último caso nos “dá dicas” sobre os demais. Você poderá prever
um momento de discussão com os alunos, possibilitando que eles
apresentem outras maneiras de resolver cada caso, buscando
sempre a simplificações de cálculo. Esse estudo pode ser útil para
o desenvolvimento da atividade proposta no tópico Sem medo de
errar, apresentado anteriormente.

Faça valer a pena


1. Do ponto A, uma pessoa avista um balão sob o ângulo de 65° e a 250
metros dali, no mesmo instante, do ponto C, outra pessoa avista o mesmo
balão sob o ângulo de 77°, conforme indicado na Figura 1.44.

Figura 1.44 | Representação do momento em que duas pessoas avistam um balão,


no mesmo instante (os elementos ilustrados não estão em proporção)

Fonte: elaborada pelo autor.

Assinale a alternativa que contém a distância aproximada do balão à primeira


pessoa, nesse instante (considere senn 38° = 0,,616 e sen
n 77° = 0,,974 ).
a) 395,3 m
b) 149,0 m
c) 243,5 m
d) 410,3 m
e) 380,2 m

U1 - Trigonometria no triângulo 61
2. Considere uma circunferência construída por um compasso com
abertura de 60°. Sabe-se que o comprimento das hastes desse compasso,
da ponta até o parafuso de fixação, é de 8 cm, conforme Figura 1.45.

Figura 1.45 | Construção de uma circunferência por um compasso

Fonte: elaborada pelo autor.

Assinale a alternativa que contém a medida do comprimento dessa


circunferência.
a) 16 cm
b) 2π cm
c) 16π cm
3
d) cm
2
e) 8 cm

3. O Triângulo Mineiro é uma das regiões mais ricas do estado, com a


economia voltada principalmente para o agronegócio. A região recebeu
este nome justamente porque tem a forma de um triângulo, fazendo
divisas com os estados de São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul, e tendo
como limites os rios Grande e Paraíba e as três cidades mais populosas
dessa região. Observe na Figura 1.46 o triângulo formado pelas linhas retas
que ligam cada uma delas e duas distâncias.

62 U1 - Trigonometria no triângulo
Figura 1.46 | Triângulo formado pelas cidades Uberlândia, Uberaba e Patos de Minas

Fonte: elaborada pelo autor.

Assinale a alternativa que contém a distância aproximada em linha reta de


Uberaba a Patos de Minas, e a área aproximada da região delimitada por
esse triângulo, nessa ordem.
a) 9312,68; 199 km2
b) 95 km; 9312,68 km2
c) 199 km; 1644,01 km2
d) 210 km; 10213,86 km2
e) 199 km; 9312,68 km2

U1 - Trigonometria no triângulo 63
64 U1 - Trigonometria no triângulo
Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR. 9050: 2004. Disponível em:
<http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/sites/default/files/arquivos/%5Bfield_
generico_imagens-filefield-description%5D_24.pdf>. Acesso em: 29 jun. 2017.
BOYER, Carl Benjamin. História da matemática. Tradução de Elza F. Gomide. São Paulo:
Edgard Blucher, 1974.
CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do trabalho. 9. ed. rev. e atual. São Paulo: Método,
2014. (Obra completa e didática, com jurisprudência e caso práticos, sobre o Direito do
Trabalho e os tópicos estudados nesta unidade)
CHAVANTE, Eduardo Rodrigues. Convergências: Matemática. São Paulo: Edições SM,
2015. v. 4.
IEZZI, Gelson et al. Fundamentos de matemática elementar: trigonometria. São Paulo:
Atual, 1993. v. 3.
ROSA NETO, Eduardo Aparecido da; BALESTRI, Rodrigo Dias. Matemática: interação e
tecnologia. São Paulo: Leya, 2013. v.1.
RIBEIRO, Jackson da Silva. Matemática: Ciência, linguagem e tecnologia. 2. ed. São
Paulo: Scipione, 2013. v. 3.

U1 - Trigonometria no triângulo 65
Unidade 2

Funções e identidades
trigonométricas

Convite ao estudo
Você já participou ou teve oportunidade de assistir a uma
prova de atletismo? Já percebeu que na posição de largada de
algumas provas, os atletas estão em posições diferentes, ou
seja, estão “desalinhados”? Além disso, eles não podem sair de
suas raias até a linha de chegada. Por quê?

Esse “desalinhamento” ocorre justamente para compensar


a diferença da distância percorrida no trajeto das curvas,
uma vez que os atletas das raias mais externas percorrem
uma trajetória com raio maior. Na parte das curvas, que são
arcos de circunferência, as raias possuem raios diferentes e,
consequentemente, aumentam de comprimento à medida
que o raio da circunferência correspondente aumenta. Se
pudéssemos “esticar” as raias a partir da largada de cada atleta,
notaríamos que todos possuem o mesmo comprimento, no
caso da Figura 2.1, de 200 m.

Figura 2.1 | Trajetos das raias de uma prova de 200 m (os elementos
ilustrados não estão em proporção)

Fonte: adaptada de Rosa Neto e Balestri (2013, p. 8).


Mas como é possível calcular o comprimento de um arco de uma
circunferência, que não é linear? Essa e outras perguntas podem ser
respondidas a partir das relações que estudaremos nesta unidade.

E, para deixar o estudo ainda mais interessante, suponha que


você foi contratado por uma empresa do ramo educacional para
produzir três objetos virtuais interativos, abordando os principais
conceitos de funções e identidades trigonométricas. Para
isso, você deve utilizar um software matemático que permite
construções geométricas de pontos, retas, planos, etc., e que
permita também inserir funções e alterar seus parâmetros. Para
criar os objetos virtuais, a empresa sugeriu o GeoGebra, que é
um programa de computador gratuito com recursos dinâmicos
voltados para aprendizagem de Matemática. Disponível em:
<www.geogebra.org>. Acesso em: 22 abr. 2017.

Esses objetos interativos devem ser elaborados com o


objetivo de explorar os conceitos estudados na respectiva seção
do livro, de tal maneira que o aluno seja o foco da aprendizagem,
com um papel extremamente ativo.

No primeiro objeto, relacionado ao conteúdo da seção


“Trigonometria na circunferência”, o objetivo é explorar e
manipular o “comportamento” das razões trigonométricas na
circunferência trigonométrica. No segundo objeto, relacionado
ao conteúdo da seção “Funções trigonométricas”, o desafio será
construir uma representação animada para os gráficos das funções
trigonométricas seno e cosseno. Já o terceiro objeto, relacionado
ao conteúdo da seção “Outras identidades trigonométricas”, o
objetivo é a verificação das fórmulas de transformação.

É possível construir os eixos das razões trigonométricas


e as respectivas projeções de um ângulo central no círculo
trigonométrico de modo que seja possível manipulá-lo, por meio
de controle deslizante ou animação. Em todo caso, é importante
explicar as opções de arredondamento, controle deslizante,
rastro habilitado, variáveis, grid, entre outras, assim como utilizar
imagens obtidas por capturas de tela do software. Vamos lá?
Seção 2.1
Trigonometria na circunferência
Diálogo aberto

Na unidade anterior, utilizamos a trigonometria para calcular


medidas de lados ou ângulos internos de triângulos. Estudamos que,
para cada ângulo agudo de um triangulo retângulo, temos um valor
para seno, um valor para cosseno e um valor para tangente. Nesta
seção, os conceitos de seno, cosseno e tangente serão estendidos
e formalizados na circunferência. Nesse caso, você irá reconhecer
que o cosseno e o seno representam as medidas dos catetos de um
triângulo retângulo de hipotenusa 1, pois são as projeções de um
ponto nos eixos de uma circunferência.
Esses conteúdos servem como base para o trabalho que será
desenvolvido posteriormente na unidade, em que serão abordadas
as funções trigonométricas e suas propriedades algébricas e gráficas.
Vamos voltar também à situação hipotética apresentada no Convite
ao estudo? Suponhamos que você foi contratado por uma empresa
do ramo educacional para produzir um objeto virtual interativo para
explorar e manipular o “comportamento” das razões trigonométricas
na circunferência trigonométrica.
Você conseguiria descrever todas as etapas de elaboração desse
objeto com base nos conteúdos desta seção? Uma maneira de fazer
isso é por meio de um relatório detalhado, contendo o passo a passo
da construção da circunferência trigonométrica e das projeções nos
eixos do seno, cosseno e tangente, utilizando, sempre que possível,
imagens obtidas por captura de tela do software GeoGebra.

Não pode faltar

Medida linear e medida angular de um arco


Como podemos medir um arco AB � ? Imagine um ponto na
circunferência deslocando-se de A para B. Ele percorre uma distância
sobre a circunferência, digamos  , ao mesmo tempo que ele gira
um ângulo em torno do centro da circunferência, digamos α . Nesse

U2 - Funções e identidades trigonométricas 69


caso,  é uma medida linear, ou simplesmente comprimento do arco
� , e a unidade de medida utilizada é a mesma do raio (metro, centímetro
AB
etc.), como se fosse “esticado” e medido com uma régua. Já a medida
α refere-se à medida angular, ou simplesmente medida do arco AB � ,e
é igual à medida do ângulo central correspondente. Note que a medida
depende apenas da medida do ângulo central, enquanto o comprimento
depende também do raio da circunferência que o contém. Na figura a

seguir, AB �
e CD têm a mesma medida ( med AB �
( ) �
= med CD ( )
= 60° ), mas
comprimentos diferentes (  1 <  2 ).

Figura 2.1 | Arcos de mesma medida e comprimentos diferentes em circunferências


concêntricas

Fonte: elaborada pelo autor.

Exemplificando

Considerando ainda o exemplo da Figura 2.2, para calcular  1 e  2


utilizando uma regra de três simples, pois você deve se lembrar que a
circunferência inteira mede 360° e tem comprimento 2≠ π r=. 3Quando
,14
necessário, vamos considerar π = 3,14 .

70 U2 - Funções e identidades trigonométricas


Medida (°) Comprimento (cm)
3,14
}
360 2 ⋅ π≠ ⋅ r{ = 18, 84
3 cm

60 1

360 18, 84
= ⇒ 18, 84 ⋅ 60 = 360 ⋅ l1 ⇒
60 l1
1130, 4
⇒ l1 = ⇒ l1 ≅ 3,14
360
Medida (°) Comprimento (cm)
3,14
}
360 π ⋅ r{ = 31, 4
2⋅ ≠
5 cm

60 2

360 31, 4
= ⇒ 31, 4 ⋅ 60 = 360 ⋅ l 2 ⇒
60 l2
1884
⇒ l2 = ⇒ l 2 ≅ 5, 23
360

( ) ( )
Portanto, med AB = med CD = 60°ϒ, mas  1 = 3,14 <  2 = 5, 23 ,
como citado anteriormente.

Mas o grau não é a única unidade de medida para o ângulo. Outra


unidade é o radiano. Um arco de medida um radiano (1 rad) tem o mesmo
comprimento do raio da circunferência que o contém.

U2 - Funções e identidades trigonométricas 71


Reflita
Qual a vantagem em utilizar a medida de um arco em radianos ao invés
de em graus? A resposta é que podemos fazer uma associação entre
a medida e o comprimento do arco. Por exemplo, quando temos um
arco que mede α radianos, podemos deduzir que seu comprimento
corresponde ao de α vezes o comprimento do raio dessa circunferência.

Com base na relação entre as unidades angulares, podemos converter


uma medida de arco de graus para radianos e vice-versa. Por exemplo, 1
4
≠π 1 3
de volta mede 90° ou rad;
2
de volta mede 180° ou π≠ rad; de
2 4


volta mede 270° ou rad; e 1 volta mede 360° ou 2≠
π rad.
2
Pesquise mais
No objeto interativo, disponível em: <https://www.geogebra.org/m/
M3vta5Uv#material/zEpUdwCJ>. Acesso em: 26 abr. É possível
manipular e comparar as medidas em graus e em radianos de um arco
de até uma volta completa.

Dica
Algumas calculadoras científicas oferecem três opções para a unidade
de medida de ângulo: graus (Deg), radianos (Rad) ou grados (Gra). Essas
opções são úteis para realizar uma conversão de medida angular ou
calcular o valor do seno, cosseno ou tangente de um ângulo em radianos.

Consulte essas e outras funções no manual de certo modelo de


calculadora científica. Disponível em: <http://support.casio.com/storage/
pt/manual/pdf/PT/004/GY300_Dtype_PT.pdf>. Acesso em: 26 abr. 2017.

Circunferência trigonométrica
Considere novamente um ponto na circunferência, deslocando-
se de A para B. Em algumas situações, poderíamos questionar: em qual
sentido esse ponto se desloca: horário ou anti-horário? E se esse ponto

72 U2 - Funções e identidades trigonométricas


girou mais do que uma volta completa? Para responder a perguntas
desse tipo, vamos construir uma circunferência trigonométrica ou ciclo
trigonométrico. Para isso, tome uma circunferência de centro O e raio
unitário, e, em seguida, posicione o centro dessa circunferência sob a
origem de um sistema de coordenadas cartesianas, que irá dividi-la em
quatro partes, denominadas quadrantes. Vamos convencionar que todo
arco tem origem no ponto A ( 0,1) e com medida positiva no sentido
anti-horário e negativa no sentido horário. Desse modo, a cada ponto P
da circunferência trigonométrica, está associado o arco AP de medida α
(em graus ou radianos).

Figura 2.3 | Quadrantes e arco AP de medida α em uma circunferência


trigonométrica

Fonte: elaborada pelo autor.

Atenção
É importante destacar que, como o raio da circunferência trigonométrica
é 1 unidade, a medida do arco em radianos é numericamente igual ao
seu comprimento. Portanto, daqui em diante, deixaremos de utilizar a
notação rad para indicar um arco na circunferência trigonométrica.

Observe algumas medidas de arcos na circunferência trigonométrica


nos dois sentidos.

U2 - Funções e identidades trigonométricas 73


Figura 2.4 | Alguns arcos no sentido anti-horário (a) e no sentido horário (b), em
graus e radianos

a) b)

Fonte: elaborada pelo autor.

Como o ponto P também pode dar mais de uma volta completa,


ele está associado a infinitos arcos. Por exemplo, o ponto P pode estar
associado à extremidade final de um arco AP de medidas 60° ou ≠π, -300°
3

ou − (se ele estivesse se deslocado no sentido horário), ou mesmo
3
π
420° ou 7≠ , conforme ilustra a figura a seguir.
3
Figura 2.5 | (a) arco AP de extremidade em 60° ou π ; (b) arco AP de extremidade
3

em -300° ou − ; (c) arco AP de extremidade em 420° ou 7≠
π
3 3
a) b) c)

Fonte: elaborada pelo autor.

uma volta uma volta


completa completa
 π  7π
Note que 60° + 360° = 420° ou + 2π = . Além disso, o
3 3
ponto P poderia dar k voltas completas, em ambos os sentidos. Em todo
caso, eles se diferenciam apenas no sentido de deslocamento ou na
quantidade de voltas e podemos representar a medida do arco AP por

74 U2 - Funções e identidades trigonométricas


π
60° + k ⋅ 360° ou + k ⋅ 2π , com k ∈ . Dizemos então que eles
são arcos côngruos. 3

Assimile

A expressão geral dos arcos côngruos a um arco AP de medida α,


com 0 ≤ α < 360° ou 0 ≤ α < 2π pode ser escrita como:

α + k ⋅ 360° ou α + k ⋅ 2π , com k ∈
O arco AP de medida α é chamado 1ª determinação positiva dos
côngruos a ele.

Seno, cosseno e tangente na circunferência trigonométrica


Considere o arco AP na circunferência trigonométrica a seguir.

Figura 2.6 | Arco AP de medida α em uma circunferência trigonométrica e as


projeções do ponto P nos eixos x e y

• AP : arco cujo ângulo central tem


medida

• P ' : projeção do ponto P no eixo x


• OP : raio da circunferência ( r = 1)
• OPP ' : triângulo retângulo

Fonte: elaborada pelo autor.

Como a medida da hipotenusa no triângulo retângulo OPP ' é 1


unidade, das razões trigonométricas seno e cosseno, temos:

PP ' PP ' OP ' OP '


sen α = = = PP ' cos α = = = OP '
OP 1 OP 1
Isso nos leva a perceber que, dado um arco de medida α e
extremidade P, as projeções do ponto P nos eixo x e y representam o

U2 - Funções e identidades trigonométricas 75


seno e o cosseno do arco AP, respectivamente. Dizemos, então, que
o eixo y é o eixo dos senos e x, o eixo dos cossenos.

Figura 2.7 | Eixo dos senos e eixo dos cosseno

Fonte: elaborada pelo autor.

De acordo com a orientação no sistema de coordenadas


cartesianas, temos a seguinte variação de sinal para os valores de
seno e cosseno na circunferência trigonométrica.

Figura 2.8 | (a) variação de sinal no eixo dos senos; (b) variação de sinal no eixo
dos cossenos

a) b)

Fonte: elaborada pelo autor.

Simetria e redução ao 1º quadrante


Agora faz sentido pensar≠ em seno e cosseno de ângulos (ou
π
arcos) maiores que 90° ou 2 . Também podemos pensar em seno
e cosseno de ângulos negativos. Para isso, vamos utilizar a simetria
na circunferência trigonométrica em relação aos eixos. Por exemplo:

76 U2 - Funções e identidades trigonométricas



Figura 2.9 | Simetria na circunferência trigonométrica para o ângulo de 45° ou π
4

2º Q 1º Q }2º Q 1º Q
}
} }
sen 135ϒ ° =sen 45ϒ ° e cos 135ϒ ° =− cos 45°ϒ

}3º Q 1º Q
} }3º Q 1º Q
}
sen 225ϒ ° =− sen 45°ϒ e cos 225ϒ ° =− cos 45°ϒ

4º Q 1º Q }4º Q 1º Q
}
} }
sen 315°ϒ =− sen 45°ϒ e cos 315ϒ ° =cos 45ϒ °

Fonte: elaborada pelo autor.

O procedimento de relacionar o seno e o cosseno de um arco do 2º,


3º ou 4º quadrante com o seno e o cosseno do arco correspondente
no 1º quadrante é chamado de redução ao 1º quadrante.

Assimile

De modo geral, dado um arco de medida α , com 0 ≤ α < 90° ou


π
0 ≤ α < , podemos organizar as igualdades no seguinte quadro:
2
Figura 2.10 | Simetria para ângulos em graus e em radianos

Redução do 2º sen (180° − α ) = sen α sen (π − α ) = sen α


quadrante para o 1º
quadrante: cos (180° − α ) = − cos α cos (π − α ) = − cos α

U2 - Funções e identidades trigonométricas 77


Redução do 3º sen (180° + α ) = − sen α sen (π + α ) = − sen α
quadrante para o 1º
quadrante: cos (180° + α ) = − cos α cos (π + α ) = − cos α

Redução do 4º
sen ( 360° − α ) = − sen α sen ( 2π − α ) = − sen α
quadrante para o 1º
quadrante: cos ( 360° − α ) = cos α cos ( 2π − α ) = cos α

Fonte: elaborada pelo autor.

Agora, vamos fazer o mesmo com outra razão trigonométrica:


a tangente. Para isso, acrescentamos um eixo t, tangenciando a
circunferência trigonométrica no ponto A ( 0,1) , ou seja, tocando a
circunferência em um único ponto A. Essa reta é denominada eixo
das tangentes. Assim como no eixo dos senos, convencionamos a
orientação positiva “para cima” e negativa “para baixo”.
Figura 2.11 | Variação de sinal no eixo das tangentes

Fonte: elaborada pelo autor.

78 U2 - Funções e identidades trigonométricas


Desse modo, dado um arco AP de medida α , o prolongamento
do segmento OP irá interceptar o eixo t em um ponto T. Utilizando a
ração tangente no triângulo OAT, temos:

Figura 2.12 | Arco AP de medida α em uma circunferência trigonométrica e o


prolongamento do segmento OP no eixo das tangentes

AT AT
tg α = = = AT
OA 1

Fonte: elaborada pelo autor.

Portanto, tg α corresponde à medida de AT .

Figura 2.13 | Representação de tg α

Fonte: elaborada pelo autor.

De acordo com a figura, é importante ressaltar dois casos:


1. Caso α = 0° (ou α = 0 ), o arco AP terá extremidade sobre o
eixo dos cossenos e OP intercepta o eixo t no ponto A (1, 0 ) , então,
AT = 0 . Em outras palavras, tg0° = 0 (ou tg0 = 0 ). Pelo mesmo
motivo, tg180° = tg 360° = 0 (ou tg π = tg 2π = 0 ).

U2 - Funções e identidades trigonométricas 79


π
2. Caso α = 90° (ou α = ), o arco AP terá extremidade sobre o
2
eixo dos senos e OP é paralelo ao eixo t, isto é, não intercepta o eixo
° (ou tg ≠π ). Pelo mesmo motivo, não
t. Nesse caso, não se define tg90ϒ
2
° (ou tg 3≠π ).
se define tg 270ϒ
2

Pesquise mais
Além do seno, cosseno e tangente, existem outras relações que também
estão associadas aos valores dessas razões trigonométricas, entre elas as
chamadas cotangente (cotg), secante (sec) e cossecante (cossec):
1 1 1
cotg α = , sec α = e cos sec α = , respeitadas
tg α cos α sen α

as devidas restrições para o ângulo α . Veja como é a representação dessas


relações na circunferência trigonométrica, entre outras propriedades. Vale
a pena conferir! Disponível em: <http://www.uel.br/projetos/matessencial/
trigonom/trigo04.htm>. Acesso em: 27 abr. 2017.

Também podemos utilizar o procedimento de redução para o 1º


quadrante e determinar o valor da tangente do arco correspondente
em qualquer outro quadrante, como exemplificado na figura a seguir.

Figura 2.14 | Simetria na circunferência trigonométrica para a tangente dos ângulos


notáveis

Fonte: elaborada pelo autor.

80 U2 - Funções e identidades trigonométricas


Com isso, estendemos a ideia de seno, cosseno e tangente para
além dos ângulos internos de um triângulo retângulo. Esse estudo é
muito importante para compreendermos as funções trigonométricas,
que iremos estudar na próxima seção.

Sem medo de errar

Após o estudo da trigonometria na circunferência trigonométrica,


vamos retomar a primeira situação hipotética apresentada no Convite
ao estudo? Suponhamos que você foi contratado por uma empresa
do ramo educacional para produzir um objeto virtual interativo para
explorar e manipular o “comportamento” das razões trigonométricas
na circunferência trigonométrica. Descreva, em detalhes, as etapas de
elaboração desse objeto, com base nos conteúdos desta seção.

Pesquise mais
No endereço eletrônico, disponível em: <https://www.youtube.com/
user/ogeogebra/featured>. Acesso em: 8 maio 2017, você encontra
diversas videoaulas nos aspectos técnicos do GeoGebra, com aplicações
do seu uso em variadas situações do processo de ensino e aprendizagem
de Matemática. Vale a pena conferir!

Construa uma circunferência trigonométrica de raio igual a 1, com


centro O na origem de um sistema de coordenadas cartesianas. Em seguida,
construa o ponto A (1, 0 ) de origem dos arcos e um ponto P qualquer
da circunferência, exibindo o ângulo central AOP = α . Acrescente um
eixo t, tangenciando a circunferência trigonométrica no ponto A ( 0,1) e
construa o prolongamento do segmento OP , interceptando o eixo t em
um ponto T. Por fim, exiba o rótulo dos pontos P e T com nome e valor.
Desse modo, as coordenadas do ponto P indicam o cosseno e o seno do
ângulo α , pois o cosseno de α corresponde à projeção de P no eixo x e
o seno de α corresponde à projeção de P no eixo y. Além disso, a abscissa
do ponto T é sempre 1 e a ordenada é a tangente do ângulo α .

U2 - Funções e identidades trigonométricas 81


Figura 2.15 | Coordenadas de um ponto na circunferência trigonométrica e no eixo
das tangentes

Fonte: elaborada pelo autor.

Durante a construção, é importante utilizar várias imagens


obtidas por captura da tela. Ao final, você deverá obter uma figura
como exemplificada a seguir, na qual temos cos 51, 3ϒ ° ≅ 0, 63,
° ≅ 0, 78 e tg 51, 3ϒ° ≅ 1, 25 .
sen 51, 3ϒ

Figura 2.16 | Imagem obtida por captura de tela na construção da circunferência


trigonométrica pelo software GeoGebra

Fonte: elaborada pelo autor.

82 U2 - Funções e identidades trigonométricas


Com a ferramenta mover selecionada, é possível mover o ponto
P sobre a circunferência, manipulando os arcos da circunferência
trigonométrica, ao mesmo tempo que são exibidos os valores do
seno, cosseno e tangente de arcos no sentido positivo, de até uma
volta completa.
Que tal registrar o passo a passo com mais detalhes e utilizando
várias imagens obtidas por captura de tela? O GeoGebra está
disponível gratuitamente para download no endereço: <https://
www.geogebra.org/download>. Acesso em: 27 abr. 2017. Também
é possível realizar essa construção on-line, ou seja, sem a instalação
do software no computador, utilizando o endereço: <https://www.
geogebra.org/apps/>. Acesso em: 27 abr. 2017, ou, ainda, utilizando o
aplicativo gratuito disponível para celular ou tablet.

Avançando na prática

Atletismo: 1ª raia x 8ª raia


Descrição da situação-problema
Você deve se lembrar do contexto da pista de atletismo,
apresentado ainda na apresentação da unidade. Vamos supor
que em determinada pista de atletismo de oito raias, reformada
recentemente e com as faixas repintadas, o atleta da 1ª raia diz estar
sempre em desvantagem em relação ao atleta da 8ª raia. Solicitado
pelos atletas, você ficou responsável por verificar, algebricamente,
o comprimento dos trajetos da pista.
Após tomadas as medidas, foi construído o esquema da figura a
seguir, representando os ângulos percorridos no trajeto inicial das
duas raias.

U2 - Funções e identidades trigonométricas 83


Figura 2.17 | Trajetos e ângulos da 1ª e 8ª raia de certa pista de atletismo (os
elementos ilustrados não estão em proporção)

Fonte: adaptada de Rosa Neto; Balestri (2013, p. 15).

Resolução da situação-problema
Supondo que a medida do raio de cada semicircunferência é
constante, os atletas têm razão em desconfiar sobre a desvantagem
do atleta da 1ª raia?
O percurso realizado pelos atletas, da largada até o final da curva,
indicada pela linha tracejada no esquema da figura anterior, é um
arco de circunferência. Para analisarmos se o atleta da 1ª raia está em
desvantagem em relação ao atleta da 8ª raia, precisamos calcular a
distância, em metros, do percurso desses dois participantes.
Com base no que estudamos nesta seção, podemos calcular esse
comprimento utilizando uma regra de três simples.
• Atleta da 1ª raia:

Ângulo (em graus) Distância (em metros)

360 2 ⋅ π ⋅ r = 128, 74
20,5

167,8

180 −12,2
x

84 U2 - Funções e identidades trigonométricas


360 128, 74
= ⇒
167, 8 x
⇒ 167, 8 ⋅ 128, 74 = 360 x ⇒
167, 8 ⋅ 128, 74
⇒x= ⇒ x � 60, 00
360
• Atleta da 8ª raia:

Ângulo (em graus) Distância (em metros)

360 2 ⋅ π ⋅ r = 185, 26
29,5

116,6

180 −( 51,2 +12,2 )
x

360 185, 26
= ⇒
116, 6 x
⇒ 116, 6 ⋅ 185, 26 = 360 x ⇒
116, 6 ⋅ 185, 26
⇒x= ⇒ x � 60, 00
360
Portanto, os dois participantes percorrem a mesma distância
de 60 m, ou seja, não há razão para desconfiar sobre uma possível
desvantagem do atleta da 1ª raia.
Agora, que tal calcular qual deve ser a medida aproximada do
ângulo das demais raias, de modo que a distância percorrida pelos
outros participantes seja a mesma que a dos atletas da 1ª e da 8ª raia?

Faça valer a pena


1. Uma bicicleta sem marchas (ou de marcha única) possui uma única relação
de transmissão, em que uma corrente liga duas rodas dentadas de tamanhos
diferentes: a coroa (fixa nos pedais) e a catraca (fixa na roda traseira). Ao girar
os pedais, a coroa também irá girar, e a corrente transmitirá o movimento para
a catraca, que, por sua vez, faz com que a roda traseira gire, impulsionando a
bicicleta. Considere uma bicicleta em que o raio da coroa, o raio da catraca e
o diâmetro das rodas meçam 15 cm, 5 cm e 110 cm, respectivamente.
Assinale a alternativa que contém a distância aproximada percorrida pela
bicicleta em cada pedalada, ou seja, a cada volta completa dos pedais.
Considere π = 3,1 14 .

U2 - Funções e identidades trigonométricas 85


a) 9,5 m
b) 11,3 m
c) 13,4 m
d) 10,4 m
e) 14,0 m

2. Os números do mostrador de um relógio de ponteiros estão posicionados


dividindo a circunferência em 12 arcos iguais, cada um medindo 30°, pois
360° . Assim, à 1h os ponteiros formam dois ângulos: um menor
= 30°
12
de 30° e um maior de 330°.
Figura 2.18 | Ângulos formados pelos ponteiros de um relógio marcando 13h

elaborada pelo autor.

Assinale a alternativa que contém o menor dos ângulos formados pelo


ponteiro do relógio que marca 3h40min.
a) 110°
b) 120°
c) 130°
d) 140°
e) 150°

3. Na circunferência, um ponto P pode dar k voltas completas, em ambos


os sentidos, que irá determinar arcos côngruos. A expressão geral dos
arcos côngruos a um arco AP de medida α , com 0 ≤ α < 360° ou
0 ≤ α < 2π , pode ser escrita como: α + k ⋅ 360° ou α + k ⋅ 2π
O arco AP de medida α é chamado 1ª determinação positiva dos
côngruos a ele.

86 U2 - Funções e identidades trigonométricas


Assinale a alternativa que contém a expressão que determina todos os
arcos côngruos ao arco cuja medida é 17π≠ .
3
π
a) + k ⋅ 2π , com k ∈
3

b) + k ⋅ 2π , com k ∈
6
π
c)
6
+ k ⋅ 2π , com k ∈

11π
d) + k ⋅ 2π , com k ∈
6

e) + k ⋅ 2π , com k ∈
3

U2 - Funções e identidades trigonométricas 87


88 U2 - Funções e identidades trigonométricas
Seção 2.2
Funções trigonométricas
Diálogo aberto

Na seção anterior, os conceitos de seno, cosseno e tangente


foram estendidos e formalizados na circunferência trigonométrica.
Agora, iremos estudar as funções relacionadas a essas razões. Essa
família de funções é utilizada para descrever diversos movimentos
físicos e fenômenos naturais periódicos, como a duração do dia, do
ano ou da incidência de luz solar, o movimento de descida e subida
das marés, o movimento de um pêndulo simples ou de um corpo
preso a uma mola oscilando, o movimento das ondas sonoras, entre
outras situações.
Inicialmente, para compreender melhor o conceito de função
seno/cosseno e reconhecer a curva senoidal que a representa, faremos
uma analogia à circunferência trigonométrica, de modo a destacar a
correspondência entre um ponto pertencente à circunferência e o
ponto correspondente em sua representação gráfica. Discutiremos
as propriedades algébricas e características gráficas dessas funções.
Em seguida, vamos transladar, ampliar e comprimir a senoide,
verticalmente ou horizontalmente. Discutiremos também outros
tipos de funções trigonométricas, entre elas a função tangente.
Vamos voltar também à situação hipotética apresentada no
Convite ao estudo? Suponhamos que você foi contratado por
uma empresa do ramo educacional para produzir um objeto virtual
interativo que represente, de maneira animada, os gráficos das
funções trigonométricas seno e cosseno.
Você conseguiria descrever todas as etapas de elaboração desse
objeto com base nos conteúdos desta seção? Uma maneira de fazer
isso é por meio de um relatório detalhado, contendo o passo a passo
da construção dessa representação, utilizando, sempre que possível,
imagens obtidos por captura de tela do software GeoGebra.

U2 - Funções e identidades trigonométricas 89


Não pode faltar

Nesta seção, estudaremos as razões trigonométricas sob a ótica


das funções. Vamos recordar o conceito de função? Dados dois
conjuntos A e B, não vazios, uma função f de A em B ( f : A → B ) é
uma correspondência que associa a cada elemento de A um único
elemento de B. O conjunto A é chamado domínio de f e o conjunto
B de contradomínio de f. De acordo com a lei de correspondência f,
o elemento y de B, que corresponde ao elemento x de A, é chamado
imagem de x por f, que indicamos por y = f ( x ) . O conjunto contendo
todos os elementos de B que são imagem de algum elemento de A é
chamado conjunto imagem de f, indicado por Im ( f ) .
Função seno

Assimile

A função seno é a função f : ( )


→ , dada por f x = sen x , que
associa a cada número real x, um único número sen x , também real.

Figura 2.19 | Diagrama de Venn representando a função f ( x ) = sen x

Fonte: elaborada pelo autor.

Para construir o gráfico que representa a função seno no plano


cartesiano, podemos atribuir alguns valores a x, a fim de obtermos os
valores correspondentes para y = f ( x ) . Com isso, obtemos os pares
ordenados ( x, y ) .

90 U2 - Funções e identidades trigonométricas


Dica
Você já aprendeu a utilizar a calculadora para obter o valor do seno,
cosseno e tangente de um ângulo, em graus ou radianos. Mas você
sabia que existe um comando para realizar a “operação inversa”, ou seja,
calcular o ângulo correspondente ao valor da razão trigonométrica? Os
comandos que permitem efetuar esse tipo de cálculo são dados pela
−1 −1 −1
indicação sin , cos e tan em cima das respectivas teclas das
razões trigonométricas.

Vamos escolher os ângulos notáveis e os ângulos com menos


de uma volta completa, no sentido anti-horário, cuja redução ao 1º
quadrante também é um ângulo notável. Organizando esses valores
em um quadro, temos:

Tabela 2.1 | Valores do seno para ângulos notáveis e cuja redução ao 1º quadrante
é um ângulo notável

π
≠ π
≠ π
≠ π
≠ 7π
≠ 11π

x 0  2π

6 4 3 2 4 6

1 2 3 2 1
y = sen x 0 1  − − 0
2 2 2 2 2

( x, y ) ( 0, 0 ) π 1 π 2  π 3 
 ,   4 , 2   3 , 2 
 6 2    
π 
 2 , 1
 
  7π

 4
,−
2

2 
 11π

 6
1
,− 
2
( 2π , 0 )

Fonte: elaborada pelo autor.

( )
No entanto, como D f = , existem infinitos pontos para x e,
consequentemente, infinitos pares ordenados ( x, y ) . Logo, entre
dois pontos qualquer da figura anterior, há infinitos pontos. Unindo
esses pontos de acordo com a lei de correspondência f, obtemos
o gráfico de f. Para ficar mais claro, vamos comparar, lado a lado, os
valores na circunferência trigonométrica e no gráfico da função seno,
para ângulos menores que uma volta completa.

U2 - Funções e identidades trigonométricas 91


Figura 2.20 | Circunferência trigonométrica e esboço do gráfico da função
f ( x ) = sen x

Fonte: elaborada pelo autor.

Observando essa figura, podemos verificar que cada número


real representa o comprimento de um arco de medida x radianos
na circunferência trigonométrica. É como se “esticássemos” a
circunferência de comprimento 2≠
π sobre o eixo x.
Outra característica importante acerca do gráfico da função seno
é que, se um ponto P movendo-se sobre a circunferência executa
mais de uma volta completa sobre ela, o ponto coincidirá com a
extremidade de um arco côngruo, já representado na parte do gráfico
anterior. Em outras palavras, os valores de seno se repetem de 2π ≠
em 2≠ π . Quando isso ocorre, dizemos que a função é periódica e
seu período é 2≠ π . Na figura anterior, está representado apenas
um período da função. Isso pode ser justificado observando que
sen x = sen ( x + k ⋅ 2π
≠ ) , com k ∈ .
De maneira prática, se estendermos o gráfico da função para valores
de x menores do que zero e maiores do que 2≠ π , os infinitos pontos se
repetirão indefinidamente, formando uma curva chamada senoide.

Figura 2.21 | Gráfico da função f ( x ) = sen x

Fonte: elaborada pelo autor.

92 U2 - Funções e identidades trigonométricas


Algumas características importantes que podemos observar no
gráfico estão listadas a seguir:
• O domínio e o contradomínio da função seno são iguais a ,
no entanto, como sen x é sempre um valor maior ou igual a −1, a
imagem da função fica restrita ao intervalo [ −1, 1] . Isso fica evidente
na circunferência trigonométrica, pois a imagem da função seno
corresponde à projeção da extremidade do arco sobre o eixo dos senos.

 π π 
+ 2kπ ,
• A função é crescente para x ∈  − + 2kπ  e
 2 2 
π 3π 
decrescente para x ∈  + 2kπ , + 2kπ  , com k ∈ . Isso
2 2 
fica evidente na circunferência trigonométrica, pois, à medida que x
aumenta, os valores de sen x aumentam do 4º para o 1º quadrante,
e diminuem do 2º para o 3º quadrante.
• Dado um valor x ∈ , temos sen ( x ) = − sen ( − x ) . Quando
isso ocorre, isto é, f ( x ) = −f ( − x ) para todo x ∈ D ( f ) , dizemos que
f é uma função ímpar. Isso também fica evidente devido à simetria
dos pontos na circunferência trigonométrica em relação ao eixo
horizontal. Observe no gráfico que:

18 ( )
− −1 () − 1
− (0) 67 64 47 44
8 4−14
67 8 64 47 448
} 0 64748 ≠ ≠ π
3≠
π  π  3π≠ 
≠ = − sen ( −≠
sen π π) sen = − sen  −  sen = − sen  − 
2  2 2  2 

Função cosseno
De maneira semelhante, podemos definir a função cosseno.

U2 - Funções e identidades trigonométricas 93


Assimile

A função cosseno é a função g : → , dada por g ( x ) = cos x , que


associa a cada número real x um único número cos x , também real.

Figura 2.22 | Diagrama de Venn representando a função g ( x ) = cos x

Fonte: elaborada pelo autor.

Assim como no caso do seno, para construir o gráfico que


representa a função cosseno no plano cartesiano, podemos atribuir
alguns valores a x, a fim de obtermos os valores correspondentes para
y = g ( x ) . Com isso, obtemos os pares ordenados ( x, y ) .
De maneira conveniente, escolhemos os mesmos ângulos:
Tabela 2.2 | Valores do cosseno para ângulos notáveis e cuja redução ao 1º
quadrante é um ângulo notável

π
≠ π
≠ π
≠ π
≠ 7π
≠ 11π

x 0  2π

6 4 3 2 4 6

3 1
y = sen x 1
2
0  − 2 3
1
2 2 2 2 2

( x, y )
π 3  π 2
( 0, 1)  ,   ,
6 2  4 2 

π 1
 3, 2
 
π 
 , 0
2  
 7π
 ,
2
 4 2 

 11π

 6
,
3

2  ( 2π , 1)

Fonte: elaborada pelo autor.

O gráfico da função cosseno também é constituído por infinitos


pontos, formando uma curva que se repete para valores de x menores
do que zero e maiores do que 2π
≠.

94 U2 - Funções e identidades trigonométricas


Figura 2.23 | Gráfico da função g ( x ) = cos x

Fonte: elaborada pelo autor.

Reflita
Se a curva que descreve o gráfico da função seno pode ser chamada
de senoide, como podemos chamar a curva que descreve o gráfico da
função cosseno?

O gráfico da função cosseno é periódica e seu período também é


≠ , pois cos x = cos ( x + k ⋅ 2π ) , com k ∈
2π . Pode-se demonstrar

 π
também que sen  x + = cos x . Isso equivale a dizer que o
 2 

gráfico da função g ( x ) = cos x corresponde ao gráfico da função


f ( x ) = sen x , porém transladado ≠π unidades para a esquerda.
2
Figura 2.24 | Comparação dos gráficos das funções f ( x ) = sen x e g ( x ) = cos x

Fonte: elaborada pelo autor.

Por conta dessa translação, o gráfico da função cosseno possui


algumas características próprias:
• O domínio e o contradomínio da função cosseno são
iguais a , no entanto, Im ( g ) = [ −1, 1] . Isso fica evidente na

U2 - Funções e identidades trigonométricas 95


circunferência trigonométrica, pois a imagem da função cosseno
corresponde à projeção da extremidade do arco sobre o eixo dos
cossenos.
• A função é crescente para x ∈ ]−π + 2kπ , 2kπ [ e decrescente
para x ∈ ]2kπ , π + 2kπ [ , com k ∈ . Isso fica evidente na
circunferência trigonométrica, pois, à medida que x aumenta, os
valores de cos x aumentam do 3º para o 4º quadrante, e diminuem
do 1º para o 2º quadrante.
• Dado um valor x ∈ , temos cos ( x ) = cos ( − x ) . Quando isso
ocorre, isto é, g ( x ) = g ( − x ) para todo x ∈ D ( g ) , dizemos que g
é uma função par. Isso também fica evidente devido à simetria dos
pontos na circunferência trigonométrica em relação ao eixo vertical.
Observe no gráfico que:
08 647 0 48
−1 −1 67 1 647 1 48
} 6474 8 678
≠π  ≠π  ≠ = cos ( −2≠
π)
cosπ≠ = cos ( −π
≠) cos = cos  −  cos 2π
2  2

Reflita
Se dois arcos na circunferência trigonométrica são simétricos em
relação ao eixo x, os valores dos cossenos desses arcos são iguais ou
são opostos? E no caso dos senos?

Já que falamos de translação da função seno, vamos falar de funções


do tipo trigonométricas?
Funções do tipo f ( x ) = a + b ⋅ sen ( cx + d ) e f ( x ) = a + b ⋅ cos ( cx + d )
De modo geral, as funções definidas por f ( x ) = a + b ⋅ sen ( cx + d )
ou f ( x ) = a + b ⋅ cos ( cx + d ) , sendo a, b, c e d números reais, com
b≠ ↑0 e c ≠ ↑ 0 , são funções do tipo trigonométricas, e seus gráficos
são senoides transladadas, ampliadas ou comprimidas, verticalmente
ou horizontalmente, se comparadas com os gráficos das funções
seno e cosseno. Elas são utilizadas para criar modelos matemáticos
que representam situações cuja característica é ser periódica, isto é,
que se repetem de maneira regular. Por exemplo, os movimentos das
marés, da radiação eletromagnética, da luz visível, dos pêndulos, das
molas, entre outros, todos são periódicos.
Podemos dizer, então, que as funções f ( x ) = sen x e g ( x ) = cos x
são casos particulares de funções trigonométricas, quando
a= d= 0 e b= c= 1 . Os parâmetros a, b, c e d das funções do
tipo trigonométricas alteram algumas características dos gráficos das

96 U2 - Funções e identidades trigonométricas


funções seno e cosseno, estudadas anteriormente. Vamos analisar
cada caso separadamente, construindo o gráfico das funções em um
único plano cartesiano para apenas um período, como exemplificado
na Figura 2.24. Mas lembre-se de que a curva se repete infinitamente.
• O parâmetro a nos fornece o deslocamento do gráfico na direção do eixo
y. Ele translada verticalmente em a unidades para cima se a > 0 ou para
baixo se a < 0 . Por exemplo, o gráfico de h ( x ) = 1 + sen x é semelhante
ao gráfico de f ( x ) = sen x , porém transladado 1 = 1 unidade para cima,
pois a = 1 > 0 . Logo, Im ( h ) = [0, 2] e o período é 2π≠.
• O parâmetro b nos fornece a amplitude do gráfico. Ele amplia
verticalmente o gráfico da função se b > 1 ou comprime verticalmente
se b < 1 . Por exemplo, o gráfico de j ( x ) = 2 ⋅ cos x é semelhante
ao gráfico de g ( x ) = cos x , porém ampliado verticalmente, pois
b = 2 > 1. Logo, Im ( j ) = [ −2, 2] e o período é 2π
≠.
• O parâmetro c nos fornece o período da função. Ele amplia o
período da função se c < 1 e comprime o período se c > 1 . O

período da função é dado por p = . Por exemplo, o gráfico de
c
x
m ( x ) = sen é semelhante ao gráfico de f ( x ) = sen x , porém
2
1
ampliado horizontalmente, pois c = < 1. Logo, Im ( m ) = [ −1, 1]
2

e o período é p = = 2 ⋅ 2π = 4π .
1
2

• O parâmetro d nos fornece o deslocamento do gráfico na direção


do eixo x. Ele translada horizontalmente em d unidades para a
c
esquerda se d > 0 ou para a direita se d < 0 . Por exemplo, o

 π
gráfico de n ( x ) = sen  x −
3 
é semelhante ao gráfico de

π

f ( x ) = sen x , porém transladado horizontalmente 3 = π
1 3
π
unidades para a direita, pois d = − < 0 . Logo, Im ( n ) = [ −1, 1] e o
período é 2≠ π. 3

U2 - Funções e identidades trigonométricas 97


Figura 2.25 | Comparação dos gráficos das funções f ( x ) = sen x , g ( x ) = cos x ,
x  π
h ( x ) = 1 + sen x , j ( x ) = 2 ⋅ cos x , m ( x ) = sen e n ( x ) = sen  x −  .
2  3

Fonte: elaborada pelo autor.

Resumidamente, os parâmetros a e b alteram as características


relacionadas à imagem da função e os parâmetros c e d alteram as
características relacionadas ao período da função.

Exemplificando
Combinando as características dos parâmetros, podemos construir
x π 
o gráfico da função p ( x ) = 3 + 2 ⋅ sen  +  , por exemplo,
2 6
comparando com o gráfico da função f ( x ) = sen x . Nesse caso, o
gráfico de p ( x ) é semelhante ao gráfico de f ( x ) , porém:

98 U2 - Funções e identidades trigonométricas


Figura 2.26 | Comparação dos gráficos das funções f ( x ) e p ( x )

Fonte: adaptada de Rosa Neto; Balestri (2013, p. 48).

Reflita

Qual seria o aspecto do gráfico de uma função do tipo g ( f ( x ) = f ( x ) ,


com f ( x ) = sen x ?

Outras funções trigonométricas


Além das funções seno e cosseno, existem outras funções
trigonométricas que também estão associadas aos valores dessas
sen x
y tg
razões trigonométricas, entre elas função tangente= =x ,
cos x
1 cos x
=
função cotangente y cotg
= x = , função secante
tg x sen x
1 1
=y sec
= x =
e função cossecante y cossec
= x ,
cos x sen x

respeitadas as devidas restrições para o domínio. Embora possam ser


escritas em função de seno e cosseno, elas possuem características
específicas em relação ao domínio, contradomínio, imagem, período
e representação gráfica. Por exemplo, as curvas que representam o
gráfico dessas funções não se assemelham à senoide.
Veja algumas características da função tangente, por exemplo.

U2 - Funções e identidades trigonométricas 99


Assimile

A função tangente é a função h :


π
→ , com x ≠ + kπ e k ∈ ,
2
dada por h ( x ) = tg x , que associa, a cada número real x, um único
número tg x , também real.

Figura 2.27 | Diagrama de Venn representando a função h ( x ) = tg x

Fonte: elaborada pelo autor.

Figura 2.28 | Gráfico da função h ( x ) = tg x

Fonte: elaborada pelo autor.

Nesse gráfico, as retas tracejadas verticais são chamadas assíntotas


π
e passam pelos pontos de abscissas + kπ , com k ∈ . Algumas
características dessa função: 2

100 U2 - Funções e identidades trigonométricas


• É periódica e seu período é π . Isso pode ser justificado observando
que: tg x = tg ( x + k ⋅ π ) , com k ∈
• O contradomínio é , mas o domínio da função tangente é
 ≠ 
↑ π + kπ
D (h) = x ∈ | x ≠ ≠ , k ∈  . No entanto, ao contrário das
 2 
funções seno e cosseno, os valores de tg x não estão restritos
ao intervalo [ −1, 1] , ou seja, Im ( h ) = . Isso fica evidente na
circunferência trigonométrica, pois os valores da tangente se estendem
infinitamente para cima e para baixo sobre o eixo das tangentes.

 π   3π 
• É crescente para x ∈  0, + kπ  ∪  kπ , + kπ  (1º e 3º
 2   2 
π   3π 
quadrantes) e decrescente para x ∈  + kπ , kπ  ∪  + kπ , 2kπ 
2   2 

(2º e 4º quadrantes), com k ∈ .


• É ímpar, pois h ( x ) = −h ( − x ) para todo x ∈ D ( f ) .

Pesquise mais
Você pode consultar um estudo detalhado sobre as propriedades
algébricas e características gráficas das funções seno, cosseno e tangente
e também das demais funções trigonométricas no endereço eletrônico,
disponível em: em: <http://www.uel.br/projetos/matessencial/trigonom/
trigo07.htm>. Acesso em: 28 abr. 2017. Vale a pena conferir!

Sem medo de errar

Após o estudo da trigonometria na circunferência trigonométrica,


vamos retomar a segunda situação hipotética apresentada no Convite
ao estudo? Suponhamos que você foi contratado por uma empresa
do ramo educacional para produzir um objeto virtual interativo
que represente, de maneira animada, os gráficos das funções
trigonométricas seno e cosseno. Descreva, em detalhes, as etapas de
elaboração desse objeto, com base nos conteúdos dessa seção.

U2 - Funções e identidades trigonométricas 101


Que tal realizar essa construção fazendo uma analogia à circunferência
trigonométrica, de modo a destacar a correspondência entre um
ponto pertencente à circunferência e o ponto correspondente em
sua representação gráfica, semelhante à apresentada na Figura 2.19?
Para isso, construa uma circunferência trigonométrica de raio igual a
1, com centro em O ( −2, 0 ) , passando pelo ponto A (1, 0 ) .
Utilizando a ferramenta Controle Deslizante , crie um ângulo

α e associe-o ao ângulo AOA ' utilizando a ferramenta Ângulo com


Amplitude Fixa , sendo A ' um ponto qualquer da circunferência.

Em seguida, crie uma reta paralela ao eixo x, passando por A ' . Agora,
defina o ponto B (α , sen α ) , digitando B = (α , sin(α )) no campo
Entrada. Por fim, clique com o botão direito sobre o ponto B e acione o
comando Habilitar Rastro. Depois, arraste o botão do controle deslizante
ou clique com o botão direito sobre ele e acione o comando Animar.
Durante a construção, é importante utilizar várias imagens obtidas
por captura da tela. Ao final, você deverá obter uma figura como
exemplificada a seguir, em que a cada ponto da circunferência é criado
o ponto correspondente e, consequentemente, sua representação
gráfica (senoide) no rastro criado pela animação.

Figura 2.29 | Imagem obtida por captura de tela pelo software GeoGebra, na
construção do gráfico da função seno com correspondência entre os pontos da
circunferência trigonométrica

Fonte: elaborada pelo autor.

102 U2 - Funções e identidades trigonométricas


No caso da função cosseno, basta alterar as coordenadas do ponto B
para B (α , cos α ) . Que tal registrar o passo a passo com mais detalhes
e utilizando várias imagens obtidas por captura de tela? O GeoGebra
está disponível gratuitamente para download no endereço: <https://
www.geogebra.org/download/>. Acesso em: 28 abr. 2017). Também
é possível realizar essa construção on-line, ou seja, sem a instalação
do software no computador, utilizando o endereço: <https://www.
geogebra.org/apps/>. Acesso em: 28 abr. 2017, ou, ainda, utilizar o
aplicativo gratuito para celular ou tablet.

Avançando na prática

Manipulando os parâmetros de funções do tipo trigonométricas


Descrição da situação-problema
No item Sem medo de errar, você produziu um objeto virtual
interativo representando, de maneira animada, os gráficos das funções
trigonométricas seno e cosseno com analogia à circunferência
trigonométrica. Suponhamos que você atendeu as expectativas da
empresa contratante, e ainda lhe foi solicitado um segundo objeto
virtual, dessa vez com o objetivo de explorar e manipular os parâmetros
a, b, c e d nos gráficos das funções do tipo f ( x ) = a + b ⋅ sen ( cx + d ) ,
com b ≠ ↑0ec ≠ ↑ 0 . Qual seria o passo a passo dessa construção?

Resolução da situação-problema
Você vai precisar definir os parâmetros a, b, c e d de maneira que
possibilite alterar os seus valores posteriormente. Para isso, utilize a
ferramenta Controle Deslizante e clique em qualquer lugar

da área gráfica. Na janela que irá abrir, digite o nome “a” e tecle
Enter. Repita esse procedimento para criar um controle deslizante
para cada um dos parâmetros b, c e d. No campo Entrada, digite
f(x)=a+b*sin(c*x+d) para plotar o gráfico da função. Agora, é
possível arrastar os botões dos controles deslizantes para verificar o
que ocorre com o gráfico de ao alterar os valores dos parâmetros
a, b, c e d. Ao final da construção, você deverá obter um objeto
interativo semelhante ao disponível em: <https://www.geogebra.
org/m/M3vta5Uv#material/wdetmPun>. Acesso em: 28 abr. 2017.

U2 - Funções e identidades trigonométricas 103


Confira!
No caso da função cosseno, basta digitar f(x)=a+b*cos(c*x+d) no
campo Entrada. Agora, que tal registrar o passo a passo com mais
detalhes e utilizando várias imagens obtidas por captura de tela?

Faça valer a pena


1. Observe, em um mesmo plano cartesiano, os gráficos de duas
funções do tipo trigonométricas f ( x ) = a1 + b1 ⋅ cos ( c1x + d1 ) e
g ( x ) = a2 + b2 ⋅ sen ( c2 x + d 2 ) , sendo a1 , a2 , b1 , b2 , c1 , c2 , d1 e d 2
números reais, com b1 ≠ 0 , b2 ≠ 0, c1 ≠ 0 e c2 ≠ 0 .

Figura 2.30 | gráfico das funções f ( x ) e g ( x ) em um mesmo plano cartesiano

Fonte: elaborada pelo autor.

Assinale a alternativa que contém os valores de x para os quais f ( x ) = g ( x ) ,


com 0 ≤ x ≤ 2π .
π 7π
a) x = ou x =
6 6
π 5π
b) x = ou x =
6 6
π 7π
c) x= ou x=
3 6
π 5π
d) x= ou x =
3 6

104 U2 - Funções e identidades trigonométricas


π 7π
e) x= ou x=
4 4

2. A partir do gráfico de uma função do tipo trigonométrica, é possível atribuir


uma lei de formação. Para o gráfico a seguir, por exemplo, é possível atribuir
 3π 
uma lei de formação dada por f ( x ) = −5 + 3 ⋅ sen  x + .
 2 
Figura 2.31 | Gráfico de uma função do tipo trigonométrica

Fonte: elaborada pelo autor.

Também é possível atribuir uma lei de formação do tipo


g ( x ) = a + b ⋅ cos ( cx + d ) , sendo a, b, c e d números reais, com b ≠ 0
e c ≠ 0.
Assinale a alternativa que contém a lei de formação dessa função cosseno.
 3π 
g ( x ) = −5 + 3 ⋅ cos  x +
2 
a)

π
b) g ( x ) = −5 + 3 ⋅ cos  x − 
 2 

c) g ( x ) = −3 + 5 ⋅ cos ( x + 2π )

 π
d) g ( x ) = −5 + 3 ⋅ cos  x + 
 2
e) g ( x ) = −5 + 3 ⋅ cos ( x + π )

π
3. A função tangente f : → , com x≠ + kπ e k ∈ , dada por
2
f ( x ) = tg x , é periódica e seu período é p = π . Para justificar isso, basta

U2 - Funções e identidades trigonométricas 105


verificar que tg x = tg ( x + k ⋅ π ) , para todo k ∈ .

Devido a translações, ampliações ou compressões, a função

 π
g ( x ) = 3 + tg  3 x −  tem o seu período alterado, se compararmos ao
 2
gráfico de f ( x ) .
 π
Assinale a alternativa que contém o período da função g ( x ) = 3 + tg  3 x − .
 2 
a) π
b)
π
3
c) 2π

π
d)
2
e)
π
6

106 U2 - Funções e identidades trigonométricas


Seção 2.3
Outras identidades trigonométricas
Diálogo aberto

No estudo da trigonometria no triângulo retângulo, deduzimos os


valores do seno, do cosseno e da tangente para os ângulos notáveis
(30°, 45° e 60°). Já na Seção 2.1, com base na simetria dos pontos da
circunferência, estendemos esses valores aos ângulos com menos
de uma volta na circunferência trigonométrica, também no sentido
anti-horário. No entanto, como você faria para calcular os valores
de sen 15° e cos 105°, por exemplo, sem recorrer a uma tabela
trigonométrica ou a uma calculadora científica?
Note que esses arcos podem ser expressos como uma soma
ou uma diferença de dois ângulos notáveis, ou cuja redução ao 1º
quadrante é um ângulo notável:
sen (15° ) = sen ( 60° − 45° ) ou sen (15° ) = sen ( 45° − 30° )
cos (105° ) = cos ( 60° + 45° ) ou cos (105° ) = cos (150° − 45° )
Então, será que podemos utilizar os valores de seno e cosseno
desses ângulos? A resposta é: sim! Estudaremos ainda outras identidades
trigonométricas e também como resolver uma equação trigonométrica.
Vamos voltar também à situação hipotética apresentada no
Convite ao estudo? Suponhamos que você foi contratado por
uma empresa do ramo educacional para produzir um objeto virtual
interativo cujo objetivo é a verificação das fórmulas de transformação.
Você conseguiria descrever todas as etapas de elaboração desse
objeto com base nos conteúdos desta seção? Uma maneira de fazer
isso é por meio de um relatório detalhado, contendo o passo a passo
da construção dessa representação, utilizando, sempre que possível,
imagens obtidas por captura de tela do software GeoGebra.

Não pode faltar

Agora, vamos estudar algumas fórmulas que nos permitem calcular


o seno, o cosseno e a tangente de um ângulo, transformando-o em
uma soma ou diferença de outros dois ângulos. Em diversos casos,

U2 - Funções e identidades trigonométricas 107


não precisamos recorrer a uma tabela trigonométrica ou a uma
calculadora científica. Basta conhecer os valores de seno, cosseno e
tangente para os ângulos notáveis (ou cuja redução ao 1º quadrante
é um ângulo notável).

Reflita

Podemos afirmar que a sentença sen ( a + b ) = sen a + sen b é


verdadeira? Nesse caso, ela não é válida para quaisquer valores reais de a
e b. Por exemplo, fazendo a = 30° e b = 60° , teríamos:
1 3 1+ 3
sen 90° = sen ( 30° + 60° ) = sen 30° + sen 60° = + =
2 2 2
Que é um resultado falso, pois sen 90° = 1. Reflita sobre os demais casos,
considerando também o cosseno e a tangente. Dê contraexemplos e
utilize uma calculadora científica ou consulte uma tabela trigonométrica.

Fórmulas de transformação
As fórmulas de transformação que vamos descrever a seguir
podem ser demonstradas, porém não é o nosso enfoque nesse
momento, devido à extensão dos cálculos. Vamos deduzir apenas a
primeira delas.
Na circunferência trigonométrica a seguir, considere A, B e C as
extremidades dos ângulos de medidas a , −b , e a + b , respectivamente.

Figura 2.32 | Alguns arcos na circunferência trigonométrica

Fonte: elaborada pelo autor.

108 U2 - Funções e identidades trigonométricas


As coordenadas desses pontos são A ( cos a, sen a ) ,
B ( cos ( −b ) , sen ( −b ) ) e C ( cos ( a + b ) , sen ( a + b ) ) . Note que o
par de pontos A e B, assim como C e D, determinam arcos de medida
a + b ; logo, os segmentos AB e CD possuem mesma medida.
Podemos utilizar o teorema de Pitágoras nos triângulos retângulos
destacados nas figuras a seguir e utilizar a relação fundamental da
trigonometria sen2 α + cos2 α = 1 , apresentada na Seção 1.2.

Figura 2.33 | Triângulo retângulo destacado nos pontos A e B

Fonte: elaborada pelo autor.

( AB )
2 2 2
= cos a − cos ( −b ) + sen a − sen ( −b )

= ( cos a − cos b ) + ( sen a + sen b )


2 2

= cos2 a − 2 cos a ⋅ cos b + cos2 b + sen2 a + 2 sen a ⋅ sen b + sen2 b


(
144 42444 3 144
) (
42444 3
)
= sen2 a + cos2 a + sen2 b + cos2 b − 2 ( cos a ⋅ cos b − sen a ⋅ sen
n b)
1 1

= 1 + 1 − 2 ( cos a ⋅ cos b − sen a ⋅ sen b )


= 2 − 2 ( cos a ⋅ cos b − sen a ⋅ sen b )

U2 - Funções e identidades trigonométricas 109


Figura 2.34 | Triângulo retângulo destacado nos pontos C e D

Fonte: elaborada pelo autor.

(CD )
2 2 2
= 1 − cos ( a + b ) + sen ( a + b ) − 0

= (1 − cos ( a + b ) ) + ( sen ( a + b ) )
2 2

= 12 − 2 ⋅ cos ( a + b ) + cos2 ( a + b ) + sen2 ( a + b )


14444 4244444 3
1

= 1 − 2 cos ( a + b ) + 1
= 2 − 2 cos ( a + b )

Mas AB = CD , então:

( AB )
2
= (CD )
2

2 − 2 ( cos a ⋅ cos b − sen a ⋅ sen b ) = 2 − 2 cos ( a + b )


cos ( a + b ) = cos
s a ⋅ cos b − sen a ⋅ sen b (I)

Utilizando a igualdade (I) e as relações sen ( x ) = − sen ( − x ) e


cos ( x ) = cos ( − x ) que estudamos na seção anterior, temos:

110 U2 - Funções e identidades trigonométricas


cos ( a − b ) = cos ( a + ( −b ) ) =
= cos a ⋅ cos ( −b ) − sen a ⋅ sen ( −b )
1424 3 1424 3
cos b − se n b

= cos a ⋅ cos b + sen a ⋅ sen b

Portanto, cos ( a + b ) = cos a ⋅ cos b − sen a ⋅ sen b e


cos ( a − b ) = cos a ⋅ cos b + sen a ⋅ sen b .
A dedução das demais fórmulas de transformação ocorre de
maneira recorrente, ou seja, utilizando um resultado anterior. Para
deduzir as fórmulas de transformação do seno, por exemplo,

 π
podemos utilizar a relação sen  x + = cos x na igualdade (I).
 2 

Elas estão disponíveis no livro do professor Gelson Iezzi (1993, p. 119-138).

Assimile
Seno da soma e da diferença:

sen ( a + b ) = sen a ⋅ cos b + sen b ⋅ cos a


sen ( a − b ) = sen a ⋅ cos b − sen b ⋅ cos a
Cosseno da soma e da diferença:

cos ( a + b ) = cos a ⋅ cos b − sen a ⋅ sen b


cos ( a − b ) = cos a ⋅ cos b + sen a ⋅ sen b
Tangente da soma e da diferença:
tg a + tg b
tg ( a + b ) =
1 − tg a ⋅ tg b

≠π π π
Válida para a ≠
2
≠,
↑ + kπ b≠ + kπ e (a + b ) ≠ + kπ , com
k∈ . 2 2

U2 - Funções e identidades trigonométricas 111


tg a − tg b
tg ( a − b ) =
1 + tg a ⋅ tg b
π π π
Válida para a≠ + kπ , b ≠ + kπ e (a − b ) ≠ + kπ , com
k∈ . 2 2 2

Relações trigonométricas
Já estudamos duas relações fundamentais envolvendo seno,
sen x 2 2
cosseno e tangente, a citar: tg x = e sen x + cos x = 1. Além
cos x
dessas, existem outras que também estão associadas aos valores
1
dessas razões, entre elas cotangente cotg x = , com x ≠ kπ ;
1 π tg x
secante sec x = , com x ≠ + kπ ; e cossecante
cos x 2
1
cossec x = , com x ≠ kπ , sendo k ∈ .
sen x

Delas, decorrem outras, que iremos deduzir.


2 2
Dividimos os dois membros da igualdade sen x + cos x = 1
2
por cos x :
sen2 x cos2 x 1
sen2 x + cos2 x = 1 ⇒ + = ⇒ tg2 x + 1 = sec 2 x
cos x cos x cos2 x
2 2

π
Válida para todo x ≠ + kπ , com k ∈ .
2
2 2
Dividimos os dois membros da igualdade sen x + cos x = 1
2
por sen x :
sen2 x cos2 x 1
sen2 x + cos2 x = 1 ⇒ + = ⇒ 1 + cotg2 x = cossec 2 x
sen x sen x sen2 x
2 2

Válida para todo x ≠ kπ , com k ∈ .

Equações trigonométricas
Em diversas situações, precisamos resolver uma equação
trigonométrica, ou seja, determinar todos os valores que a satisfazem.
Por exemplo, para resolver uma equação trigonométrica do tipo

112 U2 - Funções e identidades trigonométricas


sen x = α , com α ∈ , não basta determinar um único valor de x
que satisfaça a igualdade, pois existem infinitos valores que, atribuídos
a x, também a tornam verdadeira. Ora, algebricamente não há
diferença na resolução de uma equação qualquer ou de uma equação
trigonométrica, desde que as devidas restrições para o ângulo α
sejam respeitadas. A vantagem é que podemos nos orientar pela
circunferência trigonométrica para encontrarmos todas as soluções.

Pesquise mais
No endereço eletrônico, disponível em: <http://sites.uem.br/profmat/
ClaudioSaldan.pdf> (Acesso em: 5 maio 2017), é explicada uma
construção no software GeoGebra, de forma a obter a solução de
[
equações trigonométricas elementares, no intervalo 0, 2π . As demais ]
soluções são dadas utilizando a notação de arcos côngruos.

No entanto, quase todas as equações trigonométricas reduzem-se a


uma das três equações: sen x = sen α , cos x = cos α e tg x = tg α .
Por esse motivo, são denominadas equações fundamentais. Antes de tudo,
é importante saber resolver as equações fundamentais para poder resolver
qualquer outra equação trigonométrica.
Para resolver equações do tipo sen x = sen α , podemos representar
na circunferência trigonométrica o ponto P de tal modo que sen α = OP .
Por ele, traçamos uma reta r perpendicular ao eixo dos senos, cortando a
circunferência nos pontos P ' e P " , cujas possibilidades são α + 2kπ
ou (π − α ) + 2kπ , com k ∈ , respectivamente.

Figura 2.35 | Arcos de medida α e π − α , e pontos P, P’ e P” na circunferência trigonométrica

Fonte: elaborada pelo autor.

U2 - Funções e identidades trigonométricas 113


De modo geral, temos, para k ∈ :
 x = α + 2kπ

sen x = sen α ⇔  ou
 x = π − α + 2kπ
 ( )
Portanto, o conjunto solução da equação sen x = sen α é dado por:
S = {x ∈ | x = α + 2kπ
≠ ou x = (π≠ − α ) + 2kπ≠ , com k ∈ }
Agora, para resolver equações do tipo cos x = cos α , podemos
representar na circunferência trigonométrica o ponto P de tal modo
que cos α = OP . Por ele, traçamos uma reta r perpendicular ao eixo
dos cossenos, cortando a circunferência nos pontos P ' e P " , cujas
possibilidades são α + 2kπ ou −α + 2kπ , com k ∈ , respectivamente.

Figura 2.36 | Arcos

Fonte: elaborada pelo autor.

De modo geral, temos, para k ∈ :


 x = α + 2kπ

cos x = cos α ⇔  ou
 x = −α + 2kπ

Portanto, o conjunto solução da equação cos x = cos α é dado por:
S = {x ∈ | x = ±α + 2kπ
≠ , com k ∈ }
Por fim, para resolver equações do tipo tg x = tg α podemos
representar na circunferência trigonométrica o ponto T sobre o eixo
das tangentes de tal modo que tg α = AT . Por ele, traçamos uma

114 U2 - Funções e identidades trigonométricas


reta passando por O, cortando a circunferência nos pontos P ' e P " ,
que correspondem a α + kπ , com k ∈ .

Figura 2.37 | Arcos

Fonte: elaborada pelo autor.

π
De modo geral, temos, para α ≠ + kπ e k ∈ :
2
tg x = tg α ⇔ x = α + kπ
Portanto, o conjunto solução da equação tg x = tg α é dado por:

S = {x ∈ | x = α + kπ≠ , com k ∈ }
π
Para o caso α = + kπ e k ∈ , o conjunto solução é vazio, isto
2
é, S = ∅ , pois a tangente desses arcos não existe.

Exemplificando

3 π
Para a equação sen x = , por exemplo, além da solução x = ,
2 3
2π 7π
temos as soluções x = e x= . Para determinarmos todas as
3 3
3
soluções da equação sen x = , devemos escrever as expressões
2
que determinam todos os arcos côngruos aos arcos positivos de primeira

U2 - Funções e identidades trigonométricas 115


volta que são solução da equação. Na primeira volta positiva, temos
π 3 2π 3
sen = e sen = , então, a solução nas infinitas voltas é:
3 2 3 2
 ≠ 2≠π 
S =  x ∈ | x = π + 2kπ
≠ ou x = + 2kπ≠ , com k ∈ 
 3 3 

Sem medo de errar

Após o estudo das identidades trigonométricas, vamos retomar


a primeira situação hipotética apresentada no Convite ao estudo?
Suponhamos que você foi contratado por uma empresa do ramo
educacional para produzir um objeto virtual interativo cujo objetivo é
a verificação das fórmulas de transformação. Descreva, em detalhes, as
etapas de elaboração desse objeto, com base nos conteúdos desta seção.
Vejamos como verificar as fórmulas de transformação do seno:

sen ( a + b ) = sen a ⋅ cos b + sen b ⋅ cos a


sen ( a − b ) = sen a ⋅ cos b − sen b ⋅ cos a
Uma maneira de realizar essa verificação é comparando,
separadamente, os valores dos dois membros de cada fórmula.
Antes, oculte os eixos e a malha da janela de visualização. Em seguida,
utilizando a ferramenta Controle Deslizante , crie os ângulos a

e b, ambos com intervalo de variação de 0° a 360°. Utilizando a


ferramenta Texto , clique na janela de visualização e digite

sen(a+b)=, e depois, ainda nessa janela, clique em Avançado


e na aba com o símbolo para exibir os objetos a e b criados
anteriormente. Escolha e clique sobre um dos ângulos, que ficará
destacado por um retângulo colorido, por exemplo:
. Clique no retângulo para editá-lo, complementando a fórmula
e clique em OK. Desse modo, o primeiro membro
é exibido na forma de texto, e o segundo, na forma do valor
correspondente de sen ( a + b ) . De maneira semelhante, crie o
objeto de texto para o segundo membro da fórmula de transformação

116 U2 - Funções e identidades trigonométricas


, que irá exibir o texto e
o valor correspondente de sen ( a ) ⋅ cos ( b ) + sen ( b ) ⋅ cos ( a ) .
Repita o procedimento acima, criando outros dois objetos
de texto, dessa vez para os dois membros da fórmula do seno
da diferença. Modifique as propriedades dos textos para um
arredondamento maior, digamos 5 casas decimais. Você deverá
obter uma figura como exemplificada a seguir, na qual temos para
os ângulos a = 258° e b = 158° , os valores aproximados de
sen ( a + b ) = sen ( a ) ⋅ cos ( b ) + sen ( b ) ⋅ cos ( a ) ≅ 0, 82904 e
sen ( a − b ) = sen ( a ) ⋅ cos ( b ) − sen ( b ) ⋅ cos ( a ) ≅ 0, 98481 .

Figura 2.38 | Imagem obtida por captura de tela na verificação das fórmulas de
transformação do seno

Fonte: elaborada pelo autor.

Com a ferramenta mover selecionada, é possível manipular os


valores dos ângulos a e b, ao mesmo tempo que são alterados os
valores nas fórmulas de transformação. Como os demais arcos são
côngruos aos de primeira volta, a fórmula também é válida.
Que tal registrar, para essa e as demais fórmulas de transformação,
o passo a passo com mais detalhes e utilizando várias imagens obtidas
por captura de tela?
Lembre-se, depois, de sintetizar todo o seu trabalho de elaboração

U2 - Funções e identidades trigonométricas 117


dos objetos de aprendizagem, desde a primeira seção desta unidade
para finalização e entrega para a empresa que o contratou.
O GeoGebra está disponível gratuitamente para download no
endereço: <https://www.geogebra.org/download/>. Acesso em:
28 abr. 2017. Também é possível realizar essa construção on-line,
ou seja, sem a instalação do software no computador, utilizando o
endereço: <https://www.geogebra.org/apps/>. Acesso em: 28 abr.
2017, ou, ainda, utilizar o aplicativo gratuito para celular ou tablet.

Avançando na prática

Deduzindo fórmulas do arco duplo e do arco metade


Descrição da situação-problema
Suponha que você é docente de certa turma do ensino médio
que está estudando as fórmulas de transformação trigonométricas
apresentadas no início deste material. Considere que você
trabalhou em sala de aula as fórmulas da soma e da diferença do
seno, cosseno e tangente. Com base nessas fórmulas, combinadas
2 2
com a relação fundamental sen α + cos α = 1 , você pretende
deduzir com os alunos as fórmulas a seguir.
Fórmulas do arco duplo:
• sen ( 2a ) = 2 ⋅ sen a ⋅ cos a
• cos ( 2a ) = cos2 a − sen2 a

2 ⋅ tg a
• tg ( 2a ) =
1 − tg2 a
Fórmulas do arco metade:

a 1 − cos a
• sen   =±
2 2
a 1 + cos a
• cos   = ±
2 2
a 1 − cos a
• tg   = ±
2
  1 + cos a

Qual seria uma abordagem interessante para realizar essas deduções?

118 U2 - Funções e identidades trigonométricas


Resolução da situação-problema
Com base no que estudamos nesta seção, para deduzir as
fórmulas do arco duplo e do arco metade, podemos utilizar as
fórmulas da soma já estudadas.
Fórmulas do arco duplo:
• sen ( a + a ) = sen a ⋅ cos a + sen a ⋅ cos a ⇒ sen ( 2a ) = 2 ⋅ sen a ⋅ cos a

• cos ( a + a ) = cos a ⋅ cos a − sen a ⋅ sen a ⇒ cos ( 2a ) = cos2 a − sen2 a

tg a + tg a 2 ⋅ tg a
• tg ( a + a ) = ⇒ tg ( 2a ) =
1 − tg a ⋅ tg a 1 − tg2 a

Fórmulas do arco metade:


2 2
Utilizando a relação fundamental sen α + cos α = 1 na
fórmula do cosseno do arco duplo, temos:

cos ( 2a ) = cos2 a − sen


123
2
( )
a ⇒ cos ( 2a ) = cos2 a − 1 − cos2 a ⇒ cos ( 2a ) = 2 ⋅ cos2 a − 1
1− cos2 a

(I)
Da mesma maneira:

cos ( 2a ) = cos
123
2
a − sen2 a ⇒ cos ( 2a ) = 1 − sen2 a − sen2 a ⇒ cos ( 2a ) = 1 − 2 ⋅ sen2 a
1− sen2 a

(II)
a
Substituindo a por na igualdade (I), temos a fórmula do
2
cosseno do arco metade:
 a a a a 1 + cos a
cos  2 ⋅  = 2 ⋅ cos2   − 1 ⇒ cos a = 2 ⋅ cos2   − 1 ⇒ cos   = ±
 2 2 2 2 2
a
Já substituindo a por na igualdade (II), temos a fórmula do
seno do arco metade: 2
 a a a a 1 − cos a
cos  2 ⋅  = 1 − 2 ⋅ sen2   ⇒ cos a = 1 − 2 ⋅ sen2   ⇒ sen   = ±
 2 2 2 2 2

Com essas duas fórmulas, obtemos também a fórmula da


tangente do arco metade:

U2 - Funções e identidades trigonométricas 119


a 1 − cos a
sen2  
 a  2
  ⇒ tg2  a  2 a 1 − cos a
tg2   =   = ⇒ tg   = ±
 2  cos2  a  2 1 + c os a 2 1 + cos a
2 2
 
Que tal agora elaborar um plano de aula para arquivar essas
deduções? Nele, você pode propor alguns arcos e solicitar aos
alunos que verifiquem os cálculos utilizando uma calculadora
científica ou uma tabela trigonométrica.

Faça valer a pena


1. Considere as seguintes razões trigonométricas, para ângulos em graus ou
radianos com menos de uma volta completa, no sentido anti-horário.
A) sen 75°
B) cos 105°

C) tg
3
Agora, considere os seguintes valores.

I) − 3
6− 2
II)
4
III) 6 + 2
4
Assinale a alternativa que associa corretamente a razão trigonométrica ao seu
respectivo valor, com a letra e o símbolo romano correspondente.
a) A – I; B – II; C – III.
b) A – II; B – I; C – III.
c) A – III; B – I; C – II.
d) A – II; B – III; C – I.
e) A – III; B – II; C – I.

2. Considere uma função f : A → do tipo trigonométrica, dada por


1  π
f ( x ) = ⋅ cos  x +  , tal que A = D ( f ) = {x ∈ | 0 ≤″ x ″≤ π } .
2  6
Essa função intercepta o eixo das abscissas (x) no ponto P, e o eixo das
ordenadas (y) no ponto Q.

120 U2 - Funções e identidades trigonométricas


Assinale a alternativa que contém as coordenadas dos pontos P e Q, nessa ordem.

π   3
a) P  , 0  e Q  0, 
3   4 
π   3
b) P  , 0  e Q  0, 
6   2 

π   3
c) P  , 0  e Q  0, 
3   2 

π   3
d) P  , 0  e Q  0, 
6   4 

π 3
e) P ( 0, 0 ) e Q  ,
 3 4 
 

3. A fórmula que permite calcular a tangente da diferença de dois arcos é


dada por:
tg a − tg b
tg ( a − b ) =
1 + tga
tg a ⋅ tg b
π π π
Ela é válida para a ≠ + kπ , b ≠ + kπ e ( a − b ) ≠ + kπ , com
k∈ . 2 2 2
Sabendo disso, considere um triângulo retângulo ABC. Nesse triângulo o
cateto AB mede 3 cm e o cateto BC é tal que o ponto D divide-o em
duas partes de medidas BD = 1 cm e CD = 2 cm . O ponto D forma ainda
um ângulo C AD que vamos denotar por α .
Assinale a alternativa que contém a medida desse ângulo α , em radianos.

a)
π
7
b) π
5
c)
π
4
d)
π
3
e) π
6

U2 - Funções e identidades trigonométricas 121


122 U2 - Funções e identidades trigonométricas
Referências
IEZZI, Gelson et al. Fundamentos de matemática elementar: Trigonometria. São Paulo:
Atual, 1993. v. 3.
ROSA NETO, Eduardo Aparecido da; BALESTRI, Rodrigo Dias. Matemática: interação e
tecnologia. São Paulo: Leya, 2013. v. 2.

U2 - Funções e identidades trigonométricas 123


Unidade 3

Funções exponenciais,
funções logarítmicas e
progressões
Convite ao estudo
Para demonstrar a importância de pequenos investimentos,
certo palestrante lançou uma pergunta aparentemente simples:

– “Hoje, vocês preferem ter um milhão de reais, ou um


investimento de um centavo, que seria dobrado a cada dia
durante um mês?”

Intuitivamente, a maioria dos espectadores escolhe a primeira


opção, que parece óbvia.

– “Reflitam, pois é a escolha errada!”, alertou o palestrante.

Para a segunda opção, a conta é simples: 1 centavo no 1º


dia, 2 centavos no 2º dia, 4 centavos no 3º dia, 8 centavos no
4º dia, 16 centavos no 5º dia, 32 centavos no 5º dia, e assim por
diante. Isso não convence ninguém, pelo contrário. No entanto,
os valores crescem rapidamente, a uma taxa exponencial,
assunto que estudaremos na Seção 1 desta unidade. Ao final
do 30º dia, teremos 536 870 912 centavos, que equivale a
R$ 5 368 709,12 , ou seja, mais de cinco vezes a quantia escolhida
pelos espectadores.

– “Não acreditam? Façam as contas!”, disse o palestrante.

Obviamente, esse método funciona apenas na teoria, não


na prática. O exemplo é puramente hipotético, pois não existe
um investimento que dobre o valor todos os dias, mas serve
para ficarmos atentos ao poder dos juros compostos. Assim
como dobrar os centavos todos os dias, um sistema de juros
compostos se refere a juros adicionais aos já recebidos, por isso
é conhecido como “juros sobre juros”. Dívidas nesse sistema de
juros começam inocentemente, com um valor relativamente
baixo, na fatura do cartão de crédito, por exemplo, mas
em pouco tempo podem virar uma bola de neve, a qual se
transforma numa avalanche de contas atrasadas.

E como escrever uma fórmula ou construir um gráfico


para representar situações desse tipo, sem a necessidade
de realizar todos os cálculos separadamente? Essa e outras
perguntas podem ser respondidas a partir dos conceitos que
estudaremos nesta unidade. E para deixar o estudo ainda mais
interessante, suponha que você foi contratado para ministrar
uma palestra sobre matemática financeira, abordando os juros
simples e compostos. Você deve utilizar uma situação com
um capital de R$ 5.000,00 aplicado por um período de sete
meses a uma taxa mensal de 6%, sob os dois sistemas de juros.
Serão propostas três situações complementares a partir desse
contexto inicial. Na primeira situação, relacionada ao conteúdo
da seção Função exponencial, o objetivo é modelar funções
que permitem determinar o montante obtido ao término de
cada mês. Na segunda situação, relacionada ao conteúdo da
seção Função logarítmica, o desafio será analisar e resolver
equações relacionadas à situação anterior, utilizando conceitos
de logaritmo. Já a terceira situação, relacionada ao conteúdo
da seção Progressões aritmética e geométrica, o objetivo é
comparar expressões do termo geral da progressão dos meses
transcorridos para ambos os sistemas de juros. Vamos lá?
Seção 3.1
Função exponencial
Diálogo aberto

Nesta seção, estudaremos as funções exponenciais, um tipo de


função que descreve várias situações além dos rendimentos obtidos em
uma aplicação na Economia, por exemplo, na Biologia, para representar
o crescimento populacional de bactérias; na Química, em situações
relacionadas ao decaimento radioativo de certas substâncias, entre outras.
Vamos analisar a aplicação hipotética apresentada no Convite ao
estudo: 1 centavo no 1º dia, 2 centavos no 2º dia, 4 centavos no 3º
dia, 8 centavos no 4º dia, 16 centavos no 5º dia, 32 centavos no 5º
dia, e assim por diante. Como estamos dobrando o valor todo dia,
podemos escrever essa sequência utilizando potências de 2:
• 1º dia: 20 = 1 centavo.
• 2º dia: 21 = 2 centavos.
• 3º dia: 2 x 2 = 22 = 4 centavos.
• 4º dia: 2 x 2 x 2 = 23 = 8 centavos.
• 5º dia: 2 x 2 x 2 x 2 = 24 = 16 centavos.
• 6º dia: 2 x 2 x 2 x 2 x 2 = 25 = 32 centavos.
•.
Observando a regularidade, não é preciso calcular dia por
dia, podemos pular para o final do 30º dia, que é obtido por
229 = 536 870 912 centavos. Nesse caso, podemos escrever a
função f (n ) = 2n−1 , a qual permite determinar o valor ao final do
enésimo dia.
Ao final desta seção, vamos voltar também à situação hipotética
apresentada no Convite ao estudo. Suponhamos que você foi
contratado para ministrar uma palestra sobre matemática financeira,
abordando os juros simples e compostos. Você seria capaz de modelar
funções que permitem determinar o montante M obtido após a
aplicação de um capital c , a uma taxa i , durante certo tempo t ? Uma
maneira de fazer isso é perceber uma regularidade, assim como na
situação anterior com os centavos. Você deve preparar alguns slides
com tabelas e gráficos comparando as duas modalidades de juros.

U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões 127


Não pode faltar

Antes de iniciar o trabalho com função exponencial, vamos revisar


alguns conceitos de potenciação?

Revendo potenciação e suas propriedades


Uma potência com expoente não nulo equivale a uma
multiplicação de fatores iguais.

Quando a base é um número não nulo e o expoente é um número


negativo, o resultado é igual ao inverso da base elevado ao oposto
desse expoente. Além disso, as potências com expoentes racionais
podem ser escritas na forma de raiz, e vice-versa.

Assimile

• Se a é um número real diferente de zero (a ≠ 0) e n é um número


natural, temos:
n
 1 1
a−n =   = n
a a

• Se a é um número real positivo, m e n números inteiros, com n > 1


e a ≠ 0 se m ≤ 0 , temos:

m
n
am = a n

Exemplos:
5 −2 2
−5  1 1 1 3 2 22 4
3 =  = 5 = 2 =  = 2 =
3 3 243   3 3 9

128 U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões


3 5
4
53 = 5 4 2 3 = 3 25

Dica
No caso das potências com expoente irracional, ou seja, potências
m *
do tipo a , em que a ∈ + e m é irracional, podemos calcular
as potências por meio de aproximações utilizando uma calculadora
científica. Como 6 ≅ 2, 449, utilize uma calculadora e verifique que
2 6 ≅ 22,449 ≅ 5, 46, por exemplo.

É possível demonstrar as seguintes propriedades, porém, não é o


nosso enfoque nesse momento. Elas são muito úteis na resolução de
uma equação ou inequação envolvendo expoentes ou logaritmos.

Assimile
De maneira, geral, para a e b reais e m e n inteiros, temos:

• a m ⋅ a n = a m + n , com a ≠ 0 se m ≤ 0 ou n ≤ 0 ;
• a m : a n = a m −n , com a ≠ 0 ;

(a )
n
• m
= a m ⋅ n , com a ≠ 0 se m ≤ 0 ou n ≤ 0 ;
• a m ⋅ a n = a m + n , com a ≠ 0 se m ≤ 0 ou n ≤ 0 ;

( a ⋅ b ) = an ⋅ bn , com a ⋅ b ≠ 0 se n ≤ 0 ;
n

• ( a : b ) = a n : b n , com b ≠ 0 e, além disso, a ≠ 0 se n ≤ 0 .


n

Exemplos:

23 ⋅ 22 = 23 + 2 = 25
65
65 : 6 2 = = 65 − 2 = 63
62

(5 )
3
2
= 52 ⋅ 3 = 56

U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões 129


3 2 ⋅ 35 = 3 2 + 5 = 37

(2 ⋅ 3)
4
= 24 ⋅ 3 4
3
 12  123
(12 : 7 )
3
=   = 3 = 123 : 73
 7  7

Função exponencial

Assimile

A função exponencial é uma função f : → *+, dada por f x = a x , ( )


com a > 0 e a ≠ 1, que associa a cada número real x um único número
a x , também real.

Reflita

Por que as restrições a > 0 e a ≠ 1 são necessárias? Caso contrário,


não seria possível caracterizar uma função exponencial. Por exemplo, se

a = 1, teríamos f ( x ) = a1 = a , que é uma função constante para todo


1
x ∈ . Já se a < 0 , digamos a = −3 e x = , por exemplo, temos
2
 1 1
f   = ( −3 ) 2 = −3 ∉ . Agora, justifique com um contraexemplo o
2
caso a = 0.

Gráfico da função exponencial


Em diversas situações, como na apresentada no Convite ao
estudo, quando dizemos que uma grandeza cresce (ou decresce)
exponencialmente, é uma maneira de enfatizar que, quanto maior
a quantidade existente, mais rápido ela vai aumentar (ou diminuir).
Essa é uma característica da função exponencial e fica mais evidente
no formato da curva que representa seu gráfico, chamada curva
exponencial. Ela apresenta o aspecto representado nas figuras a seguir.

130 U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões


Para a > 1, a função é crescente.
Figura 3.1 | Aspecto da função exponencial crescente

Fonte: elaborada pelo autor.

Para 0 < a < 1, a função é decrescente.


Figura 3.2 | Aspecto da função exponencial decrescente

Fonte: elaborada pelo autor.

Para exemplificar, vamos construir o gráfico de duas funções


x
1 
exponenciais: f ( x ) = 3 x e g ( x ) =   . Podemos atribuir alguns
2 
valores a x , a fim de obtermos os valores correspondentes para
y = f ( x ) . Com isso, obtemos os pares ordenados ( x, y ) .

U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões 131


x f (x ) = 3x ( x, y )
1  1 
−3 f (−3) = 3−3 =  −3, 27 
27  

1  1
−2 f (−2) = 3−2 =  −2, 9 
9  

1  1
−1 f (−1) = 3−1 =  −1, 3 
3  

0 f (0) = 30 = 1 ( 0, 1)
1 f (1) = 31 = 3 (1, 3 )
2 f (2) = 32 = 9 ( 2, 9 )

Figura 3.3 | Gráfico da função f ( x ) = 3 x

Fonte: elaborada pelo autor.

132 U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões


x
 1
x g (x) =   ( x, y )
 2
- 3
 1
−3 g (- 3 ) =   =8 ( −3, 8 )
2
- 2
1
−2 g (- 2 ) =   = 4 ( −2, 4 )
2
- 1
1
−1 g ( -1 ) =   = 2 ( −1, 2 )
2
0
 1
0 g (0 ) =   = 1 ( 0, 1)
 2
1
 1 1  1
1 g (1 ) =   =  1, 2 
2 2  
2
 1 1  1
2 g (2 ) =   =  2, 4 
 2 4  
3
 1 1  1
3 g ( 3) =   =  3, 8 
2 8  

U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões 133


x
 1
Figura 3.4 | Gráfico da função g ( x ) =  
 2

Fonte: elaborada pelo autor.

Equação e inequação exponencial


Uma equação exponencial é uma igualdade, cuja incógnita
aparece no expoente, por exemplo, a equação 4 x = 64 . Assim
como estudamos anteriormente, com as equações trigonométricas,
algebricamente, não há diferença na resolução de uma equação
qualquer ou de uma equação exponencial, desde que as devidas
restrições para a base a sejam respeitadas. A vantagem é que
podemos utilizar as propriedades das potências.
Para resolver uma equação exponencial, podemos reduzir
ambos os membros a potências de mesma base e utilizar a seguinte
propriedade, apoiada no fato de que a função exponencial é injetora:
a x = a y ⇔ x = y , com a > 0 e a ≠ 1

Lembre-se

Uma função f : A → B é injetora quando a dois elementos distintos


de A correspondem a dois elementos distintos de B , isto é, dados
( ) ( )
x ≠ y ⇒ f x ≠ f y , com x, y ∈ A e f x , f x ∈ B . ( ) ( )

134 U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões


x
Na equação 4 = 64 , temos:
( )
x
4 x = 64 ⇒ 22 = 26 ⇒ 22 x = 26 ⇒ 2 x = 6 ⇒ x = 3
Portanto, o conjunto solução da equação 4 = 64 é S = {3} .
x

No entanto, nem sempre é possível reduzir os membros da


equação a potências de mesma base. Por exemplo, a equação
7 ⋅ 3 x − 32 x = −18 :
( )
2
7 ⋅ 3 x − 32 x = −18 ⇒ 7 ⋅ 3 x − 3 x = −18
Substituindo y = 3 x , temos:
7 y − y 2 = −18 ⇒ y 2 − 7 y − 18 = 0

Resolvendo essa equação do 2º grau, obtemos y = −2 , ou y = 9 .


Para y = −2 , não há x , tal que y = 3 x , pois 3 x > 0 para todo x ∈ .
Já para y = 9 , temos:
y = 9 ⇒ 3 x = 9 ⇒ 3 x = 32 ⇒ x = 2
Portanto, o conjunto solução da equação 7 ⋅ 3 x − 32 x = −18 é
S = {2} .
Uma inequação exponencial é uma desigualdade, cuja incógnita
aparece no expoente, por exemplo, a inequação 2 x ≥ 8 . Para
resolvê-la, reduzimos os dois membros a potências de mesma base;
depois, sabendo que a função exponencial f ( x ) = a x é crescente
quando a > 1 e decrescente quando 0 < a < 1, aplicamos a seguinte
propriedade:

• Se a > 1:
ax > ay ⇔ x > y
• Se 0 < a < 1:
ax < ay ⇔ x > y

x
Na inequação 2 ≥ 8 , temos a > 1, então a igualdade se mantém:
2 x ≥ 8 ⇒ 2 x ≥ 23 ⇒ x ≥ 3
Portanto, o conjunto solução da inequação 2x ≥ 8 é
S = {x ∈ | x ≥ 3} .

U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões 135


− x +1
 1 1
Já para a inequação   > , como 0 < a < 1 , então a
2 4
igualdade é invertida:
− x +1 − x +1 2
 1 1  1 1
2 >   ⇒ − x + 1 < 2 ⇒ x > −1
> ⇒ 
  4 2 2
− x +1
 1 1
Portanto, o conjunto solução da inequação   > é
2 4
S = {x ∈ � | x > −1} .

Função exponencial e juros compostos


O sistema de juros simples é pouco utilizado em situações financeiras
reais. Em geral, grande parte das operações utiliza o sistema de juros
compostos, em que, a partir do primeiro período, o juro é calculado
sobre o montante do período anterior. Alguns termos utilizados são:
capital ( c ); juro ( j ); taxa de juro ( i ); tempo ( t ); montante ( M ).

Exemplificando

Suponhamos que uma pessoa invista R$ 1.000,00 em uma instituição


financeira, a uma taxa de juro composto de 6% ao ano. Vamos calcular
o montante obtido nos primeiros anos.
Tabela 3.1 | Valores obtidos para o montante nos primeiros anos

t M =c+ j

0 M ( 0 ) = 1000

1 M (1) = 1000 + 1000 ⋅ 0, 06 = 1000 ⋅ (1 + 0, 06 ) = 1060 → R$ 1060, 00

M ( 2 ) = 1060 + 1060 ⋅ 0, 06 = 1000 ⋅ (1 + 0, 06 ) ⋅ (1 + 0, 06 ) =


1442443
2 M (1) =1060

= 1000 ⋅ (1 + 0, 06 ) = 1123, 6 → R$ 1123, 60


2

136 U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões


M ( 3 ) = 1123, 60 + 1123, 60 ⋅ 0, 06 = 1000 ⋅ (1 + 0, 06 ) ⋅ (1 + 0, 06 ) =
2

144 42444 3
3 M ( 2 ) =1123,60

= 1000 ⋅ (1 + 0, 06 )
3
≅ 1191, 02 → R$ 1191, 02

M ( 4 ) = 1191, 02 + 1191, 02 ⋅ 0, 06 = 1000 ⋅ (1 + 0, 06 ) ⋅ (1 + 0, 06 ) =


3

144 42444 3
4 M ( 3 ) =119102
,

= 1000 ⋅ (1 + 0, 06 )
4
≅ 1262, 48 → R$ 1262, 48

 
M ( t ) = M ( t − 1) + M ( t − 1) ⋅ i = 1000 ⋅ (1 + 0, 06 ) ⋅ (1 + 0, 06 ) =
t −1

14442444 3
t M ( t −1)

= 1000 ⋅ (1 + 0, 06 )
t

Fonte: elaborada pelo autor.

Note que é possível perceber que o montante ao final


de um ano t qualquer pode ser obtido por meio da função
M ( t ) = 1000 ⋅ (1 + 0, 06 ) .
t

Assimile
De modo geral, o cálculo do montante no sistema de juros compostos
pode ser interpretado como uma função M : → *+ definida
() ( )
t
por M t = c ⋅ 1 + i , sendo c um número real não nulo, t e
i números reais positivos (ambas restrições com base no contexto
financeiro). A taxa de juros deve ser escrita na forma decimal, sendo que
o tempo e a taxa devem estar na mesma unidade de medida de tempo.

Reflita

Na prática, o que significa o valor c ser negativo?

U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões 137


Como o investimento exemplificado tem rendimento anual, o
gráfico a seguir apresenta apenas os pontos relacionando a cada
um dos 10 anos de investimento. Esses pontos pertencem à curva
exponencial da função definida por M ( t ) = 1000 ⋅ (1 + 0, 06 ) ,
t

indicada pela linha tracejada.

Figura 3.5 | Gráfico da função M ( t ) = 1000 ⋅ (1 + 0, 06 )


t

Fonte: elaborada pelo autor.

A função M ( t ) = 1000 ⋅ (1 + 0, 06 ) , que não pode ser escrita na


t

forma f ( t ) = at , é denominada função do tipo exponencial.

Pesquise mais
Além das situações envolvendo juros compostos, há várias outras que
podem ser relacionadas à função exponencial. No endereço eletrônico
a seguir, há exemplos de aplicações na lei de resfriamento dos corpos,
curvas de aprendizagem, crescimento populacional e desintegração
radioativa. Vale a pena conferir!

Disponível em: <http://pessoal.sercomtel.com.br/matematica/medio/


expolog/exponenc.htm>. Acesso em: 29 maio 2017.

138 U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões


Sem medo de errar

Após o estudo da função exponencial, vamos retomar a situação


hipotética apresentada no Convite ao estudo? Vamos relembrar!
Supomos que você foi contratado para ministrar uma palestra sobre
matemática financeira, abordando os juros simples e compostos.
Utilize uma situação com um capital de R$ 5.000,00, aplicado por um
período de sete meses a uma taxa mensal de 6%, sob os dois sistemas
de juros: simples e composto.
Vamos modelar o primeiro caso, referente ao sistema de juros
simples. Nesse sistema, a cada período de tempo os juros são
calculados considerando o capital inicial, ou seja, o crescimento do
montante é constante.
• Final do 1º mês: R$ 5.000,00 mais 6% de R$ 5.000,00:
6
5000 + ⋅ 5000 = 5000 + 300 = 5300 → R$ 5300, 00
100
• Final do 2º mês: R$ 5.300,00 mais 6% de R$ 5.000,00:
6
5300 + ⋅ 5000 = 5300 + 300 = 5600 → R$ 5600, 00
100
• Final do 3º mês: R$ 5.600,00 mais 6% de R$ 5.000,00:
6
5600 + ⋅ 5000 = 5600 + 300 = 5900 → R$ 5900, 00
100
• Final do 4º mês: R$ 5.900,00 mais 6% de R$ 5.000,00:
6
5900 + ⋅ 5000 = 5900 + 300 = 6200 → R$ 6200, 00
100
Não é preciso continuar os cálculos para perceber que, a cada
mês, o valor é acrescido em R$ 300,00. Então, podemos escrever a
seguinte função afim, para o final do enésimo mês:

M ( n ) = 5000 + 300 n

Nesse caso, ao final do 5º, 6º e 7º mês, temos, respectivamente:

M ( 5 ) = 5000 + 300 ⋅ 5 = 6500 → R$ 6500,00

M ( 6 ) = 5000 + 300 ⋅ 6 = 6800 → R$ 6800,00

U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões 139


M ( 7 ) = 5000 + 300 ⋅ 7 = 7100 → R$ 7100,00

Agora, que tal modelar o segundo caso, referente ao sistema de


juros compostos? Faça uma análise comparando os montantes a cada
mês para os juros simples e compostos. Este último está associado
a uma função do tipo exponencial, que aumenta mais rapidamente
quando comparada à função afim, associada aos juros simples.
Para a palestra, prepare três slides, o primeiro com a modelagem
e a função exponencial resultante, assim como apresentado no
item Exemplificando; o segundo slide com uma tabela comparando
os montantes obtidos para os sete meses em ambos os sistemas
de juros; e o terceiro slide com o esboço dos dois gráficos em um
mesmo plano cartesiano, conforme a figura a seguir. Você pode
utilizar os recursos do GeoGebra, disponível em: <www.geogebra.
org>. Acesso em: 2 jun. 2017.
Figura 3.6 | Gráficos das funções associadas aos juros simples e compostos

Fonte: adaptada de Rosa Neto e Balestri (2013, p. 237).

Como o objetivo da palestra é abordar e comparar os juros simples


e compostos, o último slide é fundamental para analisar os dois casos
simultaneamente. Ele mostra que, para t = 0 e t = 1 , o montante
obtido em cada uma das aplicações é o mesmo. A partir de t = 2 ,

140 U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões


o montante no regime de juros compostos é cada vez maior que o
verificado no regime de juros simples.

Avançando na prática

Um experimento com papéis picados


Descrição da situação-problema
No item Convite ao estudo, apresentamos um investimento
hipotético, exemplificando um crescimento exponencial, no qual
um centavo se transformou rapidamente em mais de cinco milhões.
Agora, suponha que você é docente de certa turma do Ensino Médio
e deseja propor uma questão semelhante para instigar os alunos,
exemplificando um decrescimento exponencial, dessa vez, por meio
de um experimento baseado nas ideias de probabilidade. Nesse caso,
a probabilidade de um pedaço de papel de forma quadrada cair com
uma das faces pintadas voltada para cima é de 50%. Qual seria uma
abordagem interessante para realizar esse experimento?

Resolução da situação-problema
Em qualquer atividade envolvendo ideias de probabilidade, é
importante propor uma quantidade considerável de repetições para
certo evento. Vamos considerar 250 pedaços de cartolina ou papel-
cartão de forma quadrada, todos com a mesma medida e com um
dos lados pintados.
Explique a ideia aos alunos: ao lançar aleatoriamente esses 250
papéis sobre uma mesa, vamos retirar todos aqueles que caíram
com a parte pintada voltada para cima; depois, vamos repetir o
procedimento com os papéis que sobraram, e assim sucessivamente,
até que todos os papéis sejam retirados.
Assim como o investimento com um centavo, a ideia é bastante
simples. No caso do centavo, os valores são dobrados a cada dia. Já no
experimento, a cada lançamento, aproximadamente, metade dos papéis
deve cair com a parte pintada voltada para cima, pois a probabilidade
de isso ocorrer para cada pedaço é de 50%. Antes de discutir isso com
os alunos, seria interessante questioná-los a respeito da quantidade de
lançamentos necessários para que sobre apenas um pedaço sobre a

U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões 141


mesa. Intuitivamente, eles podem estimar uma grande quantidade de
lançamento ou a metade do total, ou seja, 125 lançamentos.
A partir das anotações organizadas em um quadro, os alunos
poderiam construir um gráfico que represente a quantidade ( y )
restante em função do lançamento ( x ), como exemplificado a seguir.
Esse gráfico se assemelha ao gráfico de uma função exponencial,
com a característica de função decrescente.

Figura 3.7 | Gráfico exemplificando os resultados do experimento

Fonte: elaborada pelo autor.

Que tal, agora, elaborar um plano de aula para arquivar esse


procedimento? Nele você deve listar os materiais necessários e a
orientação na construção do quadro e do gráfico. Sugira também outros
questionamentos a respeito da ideia de decrescimento exponencial e
como esse assunto está relacionado com o conceito de potências.

Faça valer a pena

1. A figura a seguir apresenta o gráfico de quatro funções exponenciais


em um mesmo plano cartesiano, entre elas, a função f ( x ) , cuja lei de
formação é dada por f ( x ) = 2 x . Duas a duas, elas possuem ao menos uma
relação de simetria em relação aos eixos x e y .

142 U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões


Figura 3.8 | Gráfico das funções exponenciais f ( x ) , g ( x ) , h ( x ) e m ( x ) em um
mesmo plano cartesiano

Fonte: elaborada pelo autor.

Assinale a alternativa que contém a lei de formação das funções g ( x ) ,


h ( x ) e m ( x ) representadas no gráfico.
a) g ( x ) = 2 ; h ( x ) = −2− x ; m ( x ) = −2 x .
−x

b) g ( x ) = −2 ; h ( x ) = 2− x ; m ( x ) = −2 x .
−x

c) g ( x ) = −2 ; h ( x ) = −2− x ; m ( x ) = 2− x .
x

d) g ( x ) = 2 ; h ( x ) = −2− x ; m ( x ) = −2 x .
−x

e) g ( x ) = −2 ; h ( x ) = 2− x ; m ( x ) = −2 x .
−x

2. Para resolver uma equação exponencial, podemos reduzir ambos os


membros a potências de mesma base e utilizar a seguinte propriedade,
apoiada no fato de que a função exponencial é injetora: a x = a y ⇔ x = y ,
com a > 0 e a ≠ 1 .
Assinale a alternativa que contém o conjunto solução da equação
2
exponencial 2 x + 4 = 3
32 .
a) S = {−2, 2}
b) S = {−1, 1}
c) S = { } ou S = ∅
d) S = − −1, 1 { }
e) S =

3. O site do Banco Central do Brasil disponibiliza a Calculadora do Cidadão


nas versões online e para dispositivos móveis. Com esse recurso, podemos

U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões 143


simular operações do cotidiano financeiro envolvendo juros compostos.
Na opção Valor futuro de um capital (disponível em: <https://www3.bcb.
gov.br/CALCIDADAO/publico/calcularValorFuturoCapital.do>. Acesso em:
2 jun. 2017), é possível inserir o valor de três parâmetros, clicar em Calcular
e obter o quarto parâmetro como resultado. Para calcular o montante
obtido para um capital de R$ 1.200,00 aplicado sob o regime de juros
compostos por 36 meses, a uma taxa de 3% ao mês, basta preencher os
campos, como na figura a seguir, e clicar em Calcular.

Figura 3.9 | Recurso de Valor futuro de um capital da Calculadora do Cidadão

Fonte: <https://www3.bcb.gov.br/CALCIDADAO/publico/calcularValorFuturoCapital.do>. Acesso em: 2 jun. 2017.

Assinale a alternativa que contém o resultado que será mostrado no campo


Valor obtido ao final da figura anterior.
a) R$ 1.336,64.
b) R$ 3.477,93.
c) R$ 3.547,95.
d) R$ 2.987,15.
e) R$ 3.490,00.

144 U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões


Seção 3.2
Função logarítmica
Diálogo aberto

Na seção anterior, estudamos a função exponencial f : → *+,


dada por f ( x ) = a x , com a > 0 e a ≠ 1, que associa a cada número
real x uma única potência a x , também real. Nesta seção, estudaremos a
x
sua função inversa, que associa a cada potência a um único expoente
x . Grosso modo, podemos dizer que a inversa de uma função f ,
denotada por f −1 , é a função que “desfaz” a operação executada pela
função f . Isso fica mais evidente na figura a seguir.

Figura 3.10 | Diagrama de Venn representando as funções f e f −1

Fonte: elaborada pelo autor.

Ainda na seção anterior, no estudo das equações exponenciais,


tratamos apenas de situações em que era possível reduzir as
potências à mesma base. Quando é preciso resolver uma equação,
como 9 x = 2 , não conseguimos utilizar esse método. Para resolver
equações como essa, vamos estudar, nesta seção, os logaritmos e a
função logarítmica, a qual é a inversa da função exponencial.
Utilizando o conceito e as propriedades dos logaritmos, você será
convidado a resolver equações relacionadas à situação hipotética
apresentada no Convite ao estudo. Na seção anterior, você modelou
a função exponencial que representa a situação com juros compostos

U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões 145


de uma aplicação de R$ 5.000,00, aplicada por um período de sete
meses a uma taxa mensal de 6%. Agora, o desafio será analisar e
resolver equações relacionadas a essa função, utilizando conceitos
de logaritmo. Uma sugestão é propor e responder na palestra a
seguinte pergunta: “Por quanto tempo é necessário deixar o capital
inicial aplicado para obtermos um montante final de, no mínimo, R$
8.000,00?”. Sintetize os cálculos e apresente-os na forma de slides.

Não pode faltar

Qual é o expoente x ao qual se deve elevar a base 10 para obter


o resultado 950? Nesse caso, não podemos utilizar as propriedades
das potências para escrever 950 como uma potência de base 10, mas
podemos fazer a seguinte estimativa:
2 x 3
10
{ < 10
{ < 10
{⇒2<x <3
100 950 1000

Então, esse expoente x deve estar entre 2 e 3.


Para resolver esse e outros problemas, vamos definir o que é logaritmo.

Logaritmo

Assimile

Sendo a e b números reais e positivos, com a ≠ 1, chamamos de


logaritmo de b na base a o expoente ao qual se deve elevar a base a
de modo que a potência a x seja igual a b .

loga b = x ⇔ a x = b
No logaritmo, podemos destacar os seguintes elementos:

• Quando a base do logaritmo é 10, não costumamos indicá-la, e denominamos


por logaritmo decimal. Assim, log7 é o logaritmo de 7 na base 10.

146 U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões


• Quando a base é o número irracional e = 2,718281828... ,
indicamos por loge b ou ln b , e denominamos logaritmo neperiano
ou natural.

Utilizando essa definição e voltando ao problema anterior, temos que:


x = log10 950
E para determinar x , podemos utilizar uma calculadora científica,
por exemplo.

Dica
Em uma calculadora científica, podemos realizar cálculos de logaritmo
decimal com a tecla , ou de logaritmo natural com a tecla .
Veja como efetuar log10 950 :
Figura 3.11 | Sequência de teclas para calcular log10 950

Fonte: adaptada de Rosa Neto e Balestri (2013, p. 180).

É importante ressaltar que, para efetuar cálculos de logaritmos de outras


bases, utilizamos a propriedade dos logaritmos de mudança de base, a
qual estudaremos mais adiante.

Reflita

Por que as restrições a > 0 , b > 0 e a ≠ 1 são necessárias? Elas


são necessárias para garantir a própria existência do logaritmo, caso
contrário, teríamos equações que não são definidas no conjunto dos
números reais, por exemplo:

• log1 9 = x ⇔ 1x = 9
• log2 ( −4 ) = x ⇔ 2 x = − 4

U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões 147


• log0 5 = x ⇔ 0 x = 5
Agora, justifique com um contraexemplo um caso em que a < 0,
com a ≠ 1 e b > 0 .

Consequências da definição
Por consequência da definição de logaritmo, temos os seguintes
casos que são muito úteis para simplificar os cálculos envolvendo
logaritmos, dados a > 0 , b > 0 e a ≠ 1.
• O logaritmo de 1 em qualquer base é igual a zero.
loga 1 = 0 ⇔ a0 = 1
• O logaritmo da própria base é igual a 1.
loga a = 1 ⇔ a1 = a
• O logaritmo de uma potência da base é igual ao expoente.
loga a n = x ⇔ a x = a n ⇒ x = n
• A potência de base a e o expoente loga b é igual a b .
loga b = x ⇔ a x = b ⇒ aloga b = b
• Se dois logaritmos em uma mesma base são iguais, então os
logaritmandos também são iguais.
loga b = loga c = x 

loga b = x ⇒ a = b  x
 loga b = loga c ⇔ b = c
x
b = c
loga c = x ⇒ a = c  
Esta última propriedade é muito importante para resolvermos uma
equação logarítmica, ou seja, uma equação cuja incógnita está no
logaritmando, na base ou em ambos.
Há também as propriedades operatórias e a mudança de base dos
logaritmos, que estudaremos a seguir.

Propriedades operatórias dos logaritmos


Assim como no caso das potências, a grande vantagem do uso
dos logaritmos é reduzir as multiplicações e divisões a operações
de adição e subtração por meio de suas propriedades, facilitando os

148 U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões


cálculos. É possível demonstrar as seguintes propriedades, porém
não é o nosso enfoque nesse momento.

Assimile

Para a , b e c reais positivos, com a ≠ 1, temos:

• Logaritmo do produto: loga ( b ⋅ c ) = loga b + loga c


b
• Logaritmo do quociente: loga   = loga b − loga c
c
• Logaritmo da potência: loga b n = n ⋅ loga b

logc b
• Mudança de base (com c ≠ 1): loga b =
logc a
A mudança de base é muito útil quando precisamos operar com
logaritmos de bases diferentes.

Exemplos:
• log5 8 = log5 ( 2 ⋅ 4 ) = log5 2 + loga 4

 10 
• log4 5 = log4   = log4 10 − log4 2
 2 
• log100 = log102 = 2 ⋅ log10

log10 6 log 6
log3 6
•= =
log10 3 log 3

Pesquise mais
Você pode consultar a demonstração das propriedades dos logaritmos
no endereço eletrônico a seguir. Nele, também há um levantamento
histórico dos logaritmos e diversos problemas do cotidiano que
envolvem logaritmo. Vale a pena conferir!

Disponível em: <http://bit.profmat-sbm.org.br/xmlui/bitstream/hand


le/123456789/1443/2012_01250_MARINA_MARRA.pdf?sequence=1>.
Acesso em: 9 jun. 2017.

U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões 149


Equação logarítmica
Assim como já citado, utilizando as propriedades estudadas
anteriormente, podemos resolver várias equações, cuja incógnita
está no logaritmando, na base ou em ambos, chamadas equações
logarítmicas. No entanto, antes de afirmar qual é o conjunto solução
de uma equação logarítmica, devemos ficar atentos às condições
de existência do logaritmo. Veja alguns exemplos de como resolver
algumas equações logarítmicas:
• log4 x = log2 3
Condição de existência: x > 0
Transformamos log4 x em logaritmo de base 2 e simplificamos:

log2 x log2 x
log4 x = log2 3 ⇒ = log2 3 ⇒ = log2 3 ⇒ log2 x = 2 ⋅ log2 3
log2 4 2 ⋅ log2 2

Agora, resolvemos a equação utilizando a consequência da


definição loga b = loga c ⇔ b = c .
log2 x = 2 ⋅ log2 3 ⇒ log2 x = log2 32 ⇒ x = 9
Como x = 9 satisfaz a condição de existência, temos que
S = {9} .
• 2 log x = log ( − x + 2 )
Condição de existência: x > 0 e − x + 2 > 0 .
Aplicando a propriedade do logaritmo da potência e utilizando a
consequência da definição, temos:
2 log x = log ( − x + 2 ) ⇒ log x 2 = log ( − x + 2 ) ⇒ x 2 = − x + 2 ⇒ x 2 + x − 2 = 0
Resolvendo a equação do 2º grau, obtemos x1 = −2 e x2 = 1.
Substituindo nas condições de existência, temos:
x1 > 0 ⇒ −2 > 0 (falsa)
− x1 + 2 > 0 ⇒ − ( −2 ) + 2 > 0 ⇒ 4 > 0 (verdadeira)
x2 > 0 ⇒ 1 > 0 (verdadeira)
− x2 + 2 > 0 ⇒ −1 + 2 > 0 ⇒ 1 > 0 (verdadeira)
Como somente x2 = 1 satisfaz todas as condições de existência,
temos que S = {1} .

150 U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões


Exemplificando
Determinado plano de investimento a longo prazo, oferecido por uma rede
bancária, tem juros compostos de 15% ao ano. Considere que você pretende
investir um capital c nesse plano, a fim de retirar o montante quando
conseguir o equivalente a quatro vezes o capital que investiu. Quantos anos
você deve deixar o dinheiro aplicado para conseguir esse valor?

Já estudamos que o montante é dado pela função exponencial


M ( t ) = c ⋅ (1 + i ) , em que c é o capital inicial, i a taxa de juros e t o
t

tempo de investimento. Então, podemos usar a definição de logaritmo e


uma calculadora científica para resolver este problema:

4c = c (1 + 0,15 ) ⇒ 4 = 115
t
, t ⇒ log115
, 4 = log115 , t⇒
, 115

, 2 = t log115
⇒ 2 log115 , 115
, ⇒t ≅ 2 ⋅ 4, 959 ⇒ t ≅ 9, 918

Portanto, para quadruplicar o seu capital, você deve deixar seu dinheiro
investido por 10 anos.

Função logarítmica
Estudamos, na seção anterior, a função exponencial f : → *+,
dada por f ( x ) = a x , com a > 0 e a ≠ 1, que associa a cada número
x
real x uma única potência a , também real. Essa função está definida
de modo que seu contradomínio é igual à sua imagem, ou seja,
D ( f ) = CD ( f ) = *+. Com isso, obtemos uma função bijetora, isto é,
para todo x1, x2 ∈ D ( f ) com x1 ≠ x2 temos f ( x1 ) ≠ f ( x2 ) . Então,
podemos determinar a sua função inversa f −1 . Para isso, trocamos
x por y , e vice versa.
y = ax → x = ay
Agora, aplicamos a definição de logaritmo e isolamos y .
x = a y ⇒ loga x = y
Portanto, f −1 ( x ) = loga x . Essa é a função logarítmica.

Assimile

A função logarítmica é a função g :


*
+ → , dada por g ( x ) = loga x ,
com a > 0 e a ≠ 1.

U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões 151


Gráfico da função logarítmica
Como a função logarítmica é inversa da função exponencial,
então seus gráficos são simétricos em relação à função identidade
y = x . Como já estudamos o gráfico da função exponencial na
seção anterior, podemos construir o gráfico da função logarítmica
conforme as figuras a seguir.
Para a > 1, as funções são crescentes.

Figura 3.12 | Aspecto das funções exponencial e logarítmica crescente

Fonte: elaborada pelo autor.

Para 0 < a < 1, as funções são decrescentes.


Figura 3.12 | Aspecto das funções exponencial e logarítmica crescente

Fonte: elaborada pelo autor.

152 U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões


Para exemplificar, vamos construir o gráfico de duas funções
logarítmicas: f ( x ) = log2 x e g ( x ) = log1/ 2 x . Podemos atribuir
alguns valores a x , a fim de obtermos os valores correspondentes
para y = f ( x ) . Com isso, obtemos os pares ordenados ( x, y ) .

x f ( x ) = log2 x ( x, y )
1  1 1 1 
f   = log2 = - 3  8 , − 3
8 8  8  

1  1 1 1 
f   = log2 = - 2  4 , − 2
4  4 4  

1  1 1 1 
f   = log2 = - 1  2 , − 1
2 2 2  

1 f (1) = log2 1 = 0 (1, 0 )


2 f (2) = log2 2 = 1 ( 2, 1)
4 f (4) = log2 4 = 2 ( 4, 2 )
8 f (8) = log2 8 = 3 ( 8, 3 )
Figura 3.14 | Gráfico da função f ( x ) = log2 x

Fonte: elaborada pelo autor.

U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões 153


x g ( x ) = log1/ 2 x ( x, y )
1 1 1 1 
g   = log1/ 2 = 3  8 , 3
8 8 8  

1  1 1 1 
g   = log1/ 2 = 2  4 , 2
4 4 4  

1 1 1 1 
g   = log1/ 2 = 1  2 , 1
2 2 2  

1 g (1) = log1/ 2 1 = 0 (1, 0 )


2 g (2) = log1/ 2 2 = −1 ( 2, − 1)
4 g (4) = log1/ 2 4 = −2 ( 4, − 2 )
8 g (8) = log1/ 2 8 = −3 ( 8, − 3 )

Figura 3.15 | Gráfico da funçã g ( x ) = log1/ 2 x

Fonte: elaborada pelo autor.

154 U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões


Como consequência da análise dos gráficos e da definição de
função logarítmica, podemos perceber que:
• loga 1 = 0 ⇒ f (1) = 0 , ou seja, o gráfico da função logarítmica
passa pelo ponto (1, 0 ) .
• O gráfico não toca o eixo y .
• O domínio da função é composto somente por valores positivos,
pois apenas números positivos possuem logaritmo real.
• Quando a > 1, os números maiores que 1 têm logaritmo positivo
e os números entre 0 e 1 têm logaritmo negativo.
• Quando 0 < a < 1, os números maiores que 1 têm logaritmo
negativo e os números entre 0 e 1 têm logaritmo positivo.

Sem medo de errar

Após o estudo da função exponencial, vamos retomar a situação


hipotética apresentada no Convite ao estudo? Suponhamos que
você foi contratado para ministrar uma palestra sobre matemática
financeira, abordando os juros simples e compostos. Utilize uma
situação com um capital de R$ 5.000,00, aplicado por um período
de sete meses a uma taxa mensal de 6%, sob os dois sistemas de
juros: simples e composto. Na seção anterior, você modelou a
função exponencial que representa a situação com juros compostos.
Nesta seção, o desafio será analisar e resolver equações relacionadas
à essa função, utilizando conceitos de logaritmo. A função obtida foi
t
M (t ) = 5000 (1, 06) .
Agora, podemos responder a questões sobre o tempo necessário
para obter certo montante, por exemplo, o tempo necessário para
um imóvel valorizar 30% segundo o Índice Nacional de Custo da
Construção (INCC), o tempo necessário para que uma dívida do
cartão de crédito dobre de valor, ou então a questão da palestra:
“Por quanto tempo é necessário deixar o capital inicial aplicado para
obtermos um montante final de, no mínimo, R$ 8.000,00?”.
Para resolver essa questão, devemos resolver a seguinte equação:
8
8000 = 5000 (1, 06 ) ⇒
t
= 1, 06t
5
Podemos aplicar o logaritmo:

U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões 155


8 8
= 1, 06t ⇒ log1,06 = log1,06 1, 06t
5 5
Utilizando as propriedades dos logaritmos:
8 t
log1,06 = log106
, 1, 06 ⇒ log1,06 8 − log106
, 5=t
5
Da mudança de base, temos:
log 8 log 5
log1,06 8 − log1,06 5 = t ⇒ − =t
log1, 06 log1, 06
Utilizando uma calculadora científica, temos que log 8 ≅ 0, 903 ,
log 5 ≅ 0, 699 e log1, 06 ≅ 0, 025, então:

log 8 log 5 0, 903 0, 699


− =t ⇒ − = t ⇒ 36,12 − 27, 96 = t ⇒ t ≅ 8,16
log1, 06 log1, 06 0, 025 0, 025

Portanto, é preciso deixar o capital inicial aplicado por, no mínimo,


9 anos.
Agora, que tal propor e resolver outras questões em que seja
preciso utilizar os conceitos de logaritmo? Na resolução, realize um
passo a passo, explicando as propriedades dos logaritmos utilizadas e
os valores obtidos na calculadora científica, se necessário. Acrescente
o que você sintetizou aqui aos slides da palestra, preparados a partir
do Sem medo de errar da primeira seção dessa unidade. Depois,
esboce o gráfico da função M −1 (t ) a partir do gráfico da função
M (t ) , conforme a figura a seguir, sem utilizar recursos de softwares.

156 U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões


t
Figura 3.16 | Gráfico da função inversa de M (t ) = 5000 (1, 06)

Fonte: elaborada pelo autor.

Avançando na prática

Logaritmo e terremotos
Descrição da situação-problema
Suponha que você é docente de certa turma do Ensino Médio.
Como complemento ao trabalho com os logaritmos, uma proposta
de abordagem é por meio da escala Richter, utilizada para medir a
magnitude ou intensidade dos terremotos. Que tal elaborar um plano
de aula interessante para esse contexto?

Resolução da situação-problema
Utilizando um aparelho chamado sismógrafo, é possível determinar
a intensidade de um terremoto na escala Richter, desenvolvida em
1935, pelo sismólogo norte-americano Charles Richter (1900-1985).
Nessa escala, a intensidade I de um terremoto é um número que
parte de I = 0 até I = 8, 9 para o maior terremoto registrado, dado
pela função I = 2 log  E  , na qual E representa a energia
 3 −3 
 7 ⋅ 10 

U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões 157


liberada pelo terremoto, em quilowatts-hora. De acordo com a
intensidade registrada na escala Richter, um terremoto pode causar
as seguintes consequências.
Tabela 3.2 | Intensidades de um terremoto

Possíveis efeitos Registros


Intensidade ( I ) (no epicentro) (por ano)

Até 1,9 Detectável apenas por sismógrafo Muitos

2,0 - 2,9 Sentido por algumas pessoas 800000

3,0 - 3,9 Sentido pela maioria das pessoas 20000

4,0 - 4,9 Vidros partidos 2800

5,0 - 5,9 Queda de mobiliário 1000

6,0 - 6,9 Fendas no chão; queda de edifícios 185

7,0 - 7,9 Queda de pontes e barragens 14

Maior que 8,0 Desastre em larga escala 0,2

Fonte:<http://www.if.ufrgs.br/mpef/mef004/20021/Marcelo/richter-escala>. Acesso em: 13 jun. 2017.

Podemos calcular, por exemplo, a energia liberada por um


terremoto de intensidade 8:

2  E  2  E  3  E   E 
I= log  −3  ⇒ 8 = 3 log  −3  ⇒ 8 ⋅ 2 = log  −3  ⇒ 12 = log  −3 ⇒
3  7 ⋅ 10   7 ⋅ 10   7 ⋅ 10   7 ⋅ 10 
 E 
log 
 7⋅10−3  E
⇒ 1012 = 10 ⇒ 1012 = ⇒ E = 7 ⋅ 1012 ⋅ 10−3 ⇒ E = 7 ⋅ 109
7 ⋅ 10−3

Assim, a energia liberada num terremoto de intensidade 8 é de


7 ⋅ 109 kWh .
Como tem base logarítmica, podemos calcular quantas vezes a
energia liberada é multiplicada ao aumentar em apenas uma unidade
a intensidade do terremoto. Para isso, vamos expressar E em função
de I :

158 U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões


3I  E 
2  E  3I  E  log 
 7⋅10−3 
I= log  −3  ⇒ 2 = log  −3  ⇒ 10 = 10
2 ⇒
3  7 ⋅ 10   7 ⋅ 10 
3I 3I
E
⇒ 10 2 = ⇒ E = 10 2 ⋅ 7 ⋅ 10−3
7 ⋅ 10−3
Sendo E * a energia liberada quando aumentamos a intensidade
em uma unidade, temos:
3(I +1) 3I + 3 3I 3
E * = 10 2 ⋅ 7 ⋅ 10−3 ⇒ E * = 10 2 ⋅ 7 ⋅ 10−3 ⇒ E * = 10 2 ⋅ 10 2 ⋅ 7 ⋅ 10 −3 ⇒
3 3I 3
⇒ E * = 10 2 ⋅ 10 2 ⋅ 7 ⋅ 10 −3 ⇒ E * = 10 2 ⋅ E
14 4244 3
E

Portanto, aumentando em uma unidade a intensidade, a energia


3
fica multiplicada por 10 2 ou, aproximadamente, 31,6.
Agora, que tal elaborar um plano de aula utilizando esse contexto?
Sugira e responda a outras questões envolvendo conceitos de
logaritmos na resolução, por exemplo:
• Qual foi a energia liberada pelos terremotos ocorridos no Haiti,
em janeiro de 2010, e na Espanha, em abril de 2011, cujas intensidades
foram 7,0 e 5,1, respectivamente?
• Qual é a intensidade e suas possíveis consequências de um
terremoto que libera 7 ⋅ 109 kWh de energia?
Você também pode sugerir que os alunos esbocem o gráfico
2  E 
que representa a função I = log  −3  , ou então que eles
3  7 ⋅ 10 
pesquisem outros terremotos já registrados, suas consequências e a
quantidade de energia liberada.

Faça valer a pena

1. Considere as seguintes equações com logaritmos:


I) log log8 ( 3 x + 1)
g8 4 x = log
II) logx −1 ( 5 x + 1) = 2
(
III) log3 x 2 + 5 = 2)
E os seguintes conjuntos solução:
A) S = {7}

U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões 159


B) S = {1}
C) S = {−2, 2}
Assinale a alternativa que contém a associação correta da equação
logarítmica e da sua solução correspondente.
a) I – A; II – B; III – C.
b) I – B; II – C; III – A.
c) I – A; II – C; III – B.
d) I – C; II – B; III – A.
e) I – B; II – A; III – C.

2. O valor de certo automóvel daqui a t anos, em reais, pode ser obtido a


partir da função exponencial dada por v ( t ) = 30 000 ⋅ 0, 9t . Considere que
hoje é o tempo t = 0 , ano que vem é o tempo t = 1 , e assim por diante.
Considere também que log g 3 = 0, 477 .
Assinale a alternativa que contém o tempo mínimo necessário,
aproximadamente, para que o valor do automóvel seja um terço do valor atual.
a) Após 8 anos.
b) Após 9 anos.
c) Após 10 anos.
d) Após 11 anos.
e) Após 12 anos.

3. Na figura a seguir, estão representados, em um mesmo plano cartesiano,


os gráficos das funções logarítmicas dadas por f ( x ) = 2 + log 1 x ,
2
g ( x ) = 2 + log2 x , h ( x ) = log 1 ( x − 2 ) e m ( x ) = log2 ( x − 2 ) .
2

Figura 3.17 | Gráficos das funções logarítmicas f ( x ) = 2 + log 1 x , g ( x ) = 2 + log2 x ,


h ( x ) = log 1 ( x − 2 ) e m ( x ) = log2 ( x − 2 ) 2

Fonte: elaborada pelo autor.

160 U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões


Assinale a alternativa que associa corretamente cada uma dessas funções
aos seus respectivos gráficos.
a) f – II; g – IV; h – III; m – I.
b) f – I; g – III; h – IV; m – II.
c) f – I; g – II; h – III; m – IV.
d) f – III; g – IV; h – I; m – II.
e) f – IV; g – III; h – II; m – I.

U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões 161


162 U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões
Seção 3.3
Progressões aritmética e geométrica
Diálogo aberto

Nas seções anteriores, vimos que a função exponencial M = c ⋅ (1 + i )


t

expressa o montante M em função do tempo t , com t ≥ 0 . Nesse


caso, o montante aumenta um valor cada vez maior, equivalente ao juro
composto calculado sobre o montante obtido no período anterior. Como
a variável tempo é uma grandeza contínua, teoricamente, obteríamos
infinitos valores para os montantes correspondentes. No entanto, na
prática, isso não ocorre, pois em qualquer sistema monetário consideramos
os valores até a casa dos centésimos. Além disso, os montantes são
atualizados de acordo com a unidade de medida de tempo considerada
para o rendimento dos juros (ao dia, ao mês, ao ano etc.). É por isso que
o gráfico desse tipo de situação apresenta apenas os pontos relacionados
a cada um dos rendimentos, que são pertencentes à curva exponencial
citada anteriormente.
Reveja, por exemplo, os 10 primeiros anos de uma aplicação de
R$ 1.000,00 a uma taxa de juro composto de 6% ao ano e a curva da
função exponencial M ( t ) = 1000 ⋅ (1 + 0, 06 ) , indicada pela linha
t

tracejada, apresentada na Seção 3.1.

U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões 163


M ( t ) = 1000 ⋅ (1 + 0, 06 )
t
Figura 3.18 | Gráfico da função

Fonte: elaborada pelo autor.

Esses montantes obtidos num sistema de juros compostos


formam uma sequência denominada Progressão Geométrica (PG),
assunto normalmente trabalhado nos anos iniciais do Ensino Médio,
na disciplina de Matemática, e que iremos retomar nessa seção.
Para ilustrar o assunto, vamos voltar à situação hipotética
apresentada no Convite ao estudo. Suponhamos que você
foi contratado para ministrar uma palestra sobre matemática
financeira, abordando os juros simples e compostos. Uma sugestão
é fazer uma relação dos conceitos e as propriedades da PG e de
outro tipo de sequência, denominada Progressão Aritmética (PA),
com os conceitos de função exponencial, estudados nas seções
anteriores. Após isso, você deverá elaborar ou utilizar um problema
das seções anteriores envolvendo aplicações financeiras e resolvê-
lo por meio das progressões. Sintetize os cálculos e apresente-os
na forma de slides.

Não pode faltar


Comumente, os termos de uma sequência são indicados por uma
letra e um índice, que representa a ordem ou a posição desse termo.
Por exemplo, podemos indicar o primeiro termo por a1 , o segundo
termo por a2 , o terceiro termo por a3 , e assim por diante. Já para

164 U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões


representar um termo em uma posição qualquer, convencionamos
por an , chamado de enésimo termo ou de ordem n .
Vamos representar essa sequência com os seus termos entre
parênteses:
( a1, a2 , a3 , ..., an , ...)
Essa sequência pode ser finita ou infinita.

Sequências
Assim como na situação com juros, associamos as sequências ao
conceito de função.

Assimile

Uma sequência é uma função definida em * = {1, 2, 3, ..., n, ...} e obtendo


valores no conjunto dos números reais, ou seja, f : * → . A sequência
( a1, a2 , a3 , ..., an , ...) é o conjunto imagem dessa função, isto é, f (1) = a1 ,
f ( 2 ) = a2 , ..., f ( n ) = an , ...

Exemplos de sequências finitas:


• Dias da semana: (segunda-feira, terça-feira, ..., domingo).
• Cinco primeiros múltiplos de 10: ( 0, 10, 100, 1000, 10000 ) .

Exemplos de sequências infinitas:


• Números primos positivos: ( 2, 3, 5, 7, 11, 13, ...) .
• Seja a função f : * → , tal que f ( n ) = 2n . Essa é a sequência
infinita dos números naturais pares: ( 2, 4, 6, 8, ..., 2n, ...) .

Progressão aritmética
Situações envolvendo grandezas que sofrem variações iguais em
intervalos de tempo iguais são muito comuns, por exemplo, situações
envolvendo juros simples. Já vimos que, em uma aplicação de R$ 5.000,00,
por um período de sete meses a uma taxa mensal de 6% sob o regime de
juros simples, a cada período de tempo os juros são calculados considerando
o capital inicial, ou seja, o crescimento do montante é constante e pode ser
representado pela sequência:

U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões 165


( 5000, 5300, 5600, 5900, 6200, 6500, 6800, 7100 )
Nessa sequência, cada termo a partir do segundo é obtido por
meio de uma adição do termo anterior a 300. Ou seja, o montante
sofre aumentos iguais de R$ 300,00, em intervalos de tempo iguais
a um mês. Essa sequência é um exemplo de progressão aritmética,
ou simplesmente PA. O aumento de 300 em cada termo é sempre o
mesmo e é chamado de razão da progressão aritmética.

Assimile
Uma progressão aritmética (PA) é uma sequência de números reais,
na qual a diferença entre cada termo (a partir do segundo) e o termo
anterior é constante. Essa diferença recebe o nome de razão da PA e é
representada pela letra r .

• Se r < 0 , a PA é decrescente, isto é, cada termo, a partir do segundo,


é menor que o anterior.

• Se r = 0 , a PA é constante, isto é, todos os seus termos são iguais.


• Se r > 0 , a PA é crescente, isto é, cada termo, a partir do segundo, é
maior que o anterior.

Exemplos:
• (10, 15, 20, 25, 30, ...) é uma PA infinita de razão r = 5 , em
que a1 = 10 . Essa PA é crescente.
• ( 20, 10, 0, − 10, − 20, − 30, ...)
é uma PA infinita de razão
r = −10 e a1 = 20 . Essa PA é decrescente.
• ( 5, 5, 5, 5, ...) é uma PA infinita de razão r = 0 e a1 = 5 . Essa
PA é constante.
Por consequência, em uma PA ( a1, a2 , a3 , ..., an −1, an , ...)
de razão r , para avançar um termo, basta somar r ao termo
imediatamente anterior:

166 U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões


a2 = a1 + r ⇒ a2 − a1 = r
a3 = a2 + r ⇒ a3 − a2 = r
a4 = a3 + r ⇒ a4 − a3 = r

an = an −1 + r ⇒ an − an −1 = r
Consequentemente:
a2 − a1 = a3 − a2 = a4 − a3 = ... = an − an −1 = r
Desse modo, podemos encontrar o enésimo termo an ,
denominado termo geral da PA, por meio de uma fórmula de recorrência.

Assimile

O enésimo termo de uma PA em que a1 é o primeiro termo e a razão


é r dado pela fórmula de recorrência: an = an −1 + r , com n ∈ *
e n ≥ 2.

Por outro lado, escrevendo os termos da PA


( a1, a2 , a3 , ..., an −1, an , ...) de razão r , em função do primeiro termo
e da razão, temos:

a1 = a1 + 0 ⋅ r
a2 = a1 + 1⋅ r
a3 = a2 + r = ( a1 + r ) + r = a1 + 2r
a4 = a3 + r = ( a1 + 2r ) + r = a1 + 3r
a5 = a4 + r = ( a1 + 3r ) + r = a1 + 4r

an = an −1 + r = a1 + ( n − 1) r

Em outras palavras, em cada igualdade a razão r está sendo


multiplicada por uma unidade a menos que o próprio índice do termo
considerado. Portanto, também podemos encontrar o enésimo
termo da PA por meio da fórmula do termo geral.

U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões 167


Assimile

O termo geral é dado por an = a1 + ( n − 1) r , em que an é o termo


geral, a1 é o primeiro termo, n é a ordem do termo ou o número de
termos até an e r é a razão.

Reflita

Vimos como encontrar um termo an qualquer da PA pela fórmula de


recorrência, dados a razão r e o termo anterior an−1 . Também, vimos
como encontrar an pela fórmula do termo geral, dados a razão r e
a1 . Mas será que é possível encontrar an dados a razão r e outro
termo? A resposta é sim! Por exemplo, temos que a9 = a4 + 5r , pois,
ao passar de a4 para a9 , avançamos cinco termos. Agora, escreva
como podemos obter a3 em função de a15 e da razão r .

Soma dos termos de uma progressão aritmética


Leia o extrato a seguir do livro Introdução à história da matemática,
a respeito do alemão Carl Friedrich Gauss (1777-1855).

[...] Há uma história segundo a qual o professor de


Carl na escola pública, quando ele tinha dez anos de
idade, teria passado à classe, para mantê-la ocupada,
a tarefa de adicionar os números de 1 a 100. Quase
que imediatamente Carl colocou sua lousa sobre a
escrivaninha do irritado professor. Quando as lousas
foram finalmente viradas, o professor surpreso verificou
que Carl tinha sido o único a acertar a resposta correta,
5 050 , mas sem fazê-la acompanhar de nenhum cálculo.
Carl havia mentalmente calculado a soma dos termos da
progressão aritmética 1 + 2 + 3 + ... + 98 + 99 + 100
observando que 100 + 1 = 101 , 99 + 2 = 101,
98 + 3 = 101 e assim por diante com os cinquenta
pares possíveis dessa maneira, sendo a soma portanto
50 × 101 = 5 050 . Mais tarde, quando adulto, Gauss
costumava jactar-se de ter aprendido a contar antes de
aprender a falar [...] (EVES, 2004, p. 519)

168 U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões


Na história, o menino Carl, mais conhecido por Gauss, usou o fato
de que, ao se adicionar os termos extremos e os termos equidistantes,
obtém-se o mesmo resultado:

Como, ao total, são 50 somas iguais a 101, Gauss concluiu que:


1 + 2 + 3 + ... + 98 + 99 + 100 = 50 × 101 = 5 050
Podemos generalizar esse raciocínio de Gauss para deduzir a
fórmula da soma Sn dos n primeiros termos de uma PA qualquer.
Para isso, adicionamos os termos de duas maneiras:
• Em ordem crescente: Sn = a1 + a2 + a3 + ... + an −2 + an −1 + an (I)
• Em ordem decrescente: Sn = an + an −1 + an −2 + ... + a3 + a2 + a1 (II)
Adicionando, membro a membro, (I) e (II), temos:
Sn = a1 + a2 + a3 + ... + an −2 + an −1 + an
+ Sn = an + an −1 + an −2 + ... + a3 + a2 + a1
2Sn = ( a1 + an ) + ( a2 + an −1 ) + ( a3 + an −2 ) + ... + ( an −2 + a3 ) + ( an −1 + a2 ) + ( an + a1 )
14243 14243 14243 14243
a1 + an a1 + an a1 + an a1 + an
1444444444444444 2444444444444444 3
n vezzes

E como há n parcelas iguais a ( a1 + an ) , podemos reescrever


essa igualdade da seguinte maneira:
n ( a1 + an )
2Sn = n ⋅ ( a1 + an ) ⇒ Sn =
2

Assimile
A soma dos n primeiros termos de uma PA é dada por:

n ( a1 + an )
Sn =
2
Em que Sn é a soma dos n primeiros termos, a1 é o primeiro termo,
n é a quantidade de termos e an é o enésimo termo.

U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões 169


Por exemplo, utilizando essa fórmula para calcular a soma
1 + 2 + 3 + ... + 98 + 99 + 100 , temos que a1 = 1, n = 100 e
an = 100 , logo:

n ( a1 + an ) 100 (1 + 100 ) 100 ⋅ 101


Sn = = = = 50 ⋅ 101 = 5 050
2 2 2

Progressão geométrica
Situações envolvendo grandezas que crescem ou decrescem
através do produto por uma taxa constante podem ser resolvidas com
o auxílio da função exponencial, conforme estudamos na Seção 3.1. Lá,
vimos que, em uma aplicação de R$ 5.000,00, por um período de sete
meses a uma taxa mensal de 6% sob o regime de juros compostos, a
cada período de tempo os juros são calculados sobre o montante do
período anterior, e pode ser representado pela sequência:

(5000; 5000 ⋅1, 06; 5000 ⋅1, 06 ; 5000 ⋅1, 06 ; 5000 ⋅1, 06 ; 5000 ⋅1, 06 ; 5000 ⋅1, 06 ; 5000 ⋅1, 06 )
2 3 4 5 6 7

Nessa sequência, cada termo a partir do segundo é obtido


multiplicando o termo anterior por um número fixo, no caso, 1,06.
Ou seja, a cada intervalo de tempo igual a um mês o montante sofre
um aumento a uma taxa constante de 1, 06 . Essa sequência é um
exemplo de progressão geométrica, ou simplesmente PG. O valor de
1,06 é chamado de razão da progressão geométrica.

Assimile
Uma progressão geométrica (PG) é uma sequência de números reais em
que, a partir do segundo, o quociente entre um termo e seu antecessor
resulta em uma constante. Esse quociente recebe o nome de razão da
PG e é representado pela letra q .

• Se q < 0 , a PG é alternante, isto é, todos os seus termos são diferentes


de zero e dois termos consecutivos quaisquer têm sinais opostos.

• Se q = 1, a PG é constante, isto é, todos os seus termos são iguais.


• Se q > 1 e a1 > 0 ou se 0 < q < 1 e a1 < 0 , a PG é crescente, isto
é, cada termo, a partir do segundo, é maior que o anterior.

170 U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões


• Se q > 1 e a1 < 0 ou se 0 < q < 1 e a1 > 0 , a PG é decrescente,
isto é, cada termo, a partir do segundo, é menor que o anterior.

Exemplos:
• (1, − 5, 25, − 125, 625, ...) , como q = −5 , essa PG é alternante.

• ( 2, 2, 2, 2, 2, ...) , como q = 1, essa PG é constante.

• (1, 2, 4, 8, 16, ...) , como a1 = 1 e q = 2 , essa PG é crescente.

1
•  −64, − 16, − 4, − 1, − 1 , ...  , como a1 = −64 e q = , essa
 4  4
 
PG é crescente.

• ( −4, − 20, − 100, − 500, − 2500, ...) , como a1 = −4 e q = 5 ,


essa PG é decrescente.

1
•  18, 6, 20, 2 , 2 , ...  , como a1 = 18 e q = , essa PG é
 3 9  3
 
decrescente.
De maneira semelhante à apresentada para a PA, é possível deduzir
as seguintes fórmulas do termo geral da PG. Que tal deduzir essas
fórmulas como exercício?

Assimile

O enésimo termo de uma PG em que a1 é o primeiro termo e a razão


é r é dado pela fórmula de recorrência:

an = an −1 ⋅ q , com n ∈ *e n ≥2
an = a1 ⋅ q (
n −1)
O termo geral também pode ser calculado por:

Em que an é o termo geral, a1 é o primeiro termo, n é a ordem do


termo ou o número de termos até an e q é a razão.

U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões 171


Soma dos termos de uma progressão geométrica
Vamos considerar a PG finita ( a1, a2 , a3 ,..., an −2 , an −1, an ) de
n termos e razão q . Também, podemos dizer que esses são os
primeiros termos de uma PG qualquer (finita ou infinita). Vamos
indicar a soma de seus termos por Sn :
Sn = a1 + an + a3 + ... + an −2 + an −1 + an (I)

Multiplicando ambos os membros da igualdade pela razão q ,


obtemos:

Sn ⋅ q = a1 ⋅ q + a2 ⋅ q + a3 ⋅ q + ... + an −2 ⋅ q + an −1 ⋅ q + an ⋅ q ⇒
⇒ Sn ⋅ q = a2 + a3 + a4 + ... + an −1 + an + an ⋅ q (II)

Subtraindo membro a membro (I) − (II) , temos:


Sn = a1 + a2 + a3 + ... + an −2 + an −1 + an
− Sn ⋅ q = a2 + a3 + a4 + ... + an −1 + an + an ⋅ q
Sn − Sn ⋅ q = a1 − an ⋅ q

( n −1)
Como an = a1 ⋅ q , podemos reescrever essa última igualdade
da seguinte maneira:
Sn − Sn ⋅ q = a1 − an ⋅ q
Sn (1 − q ) = a1 − a1 ⋅ q (
n −1) 
⋅q
 
Sn (1 − q ) = a1 − a1 ⋅ q n
Sn (1 − q ) = a1 1 − q n( )
a (1 − q )
1
n

Sn = , com q ≠ 1
1− q

172 U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões


Assimile
A soma dos n termos de uma PG finita (ou dos n primeiros termos de
uma PG qualquer) é dada por:

Sn =
(
a1 1 − q n ) , com q ≠ 1
1− q
Em que Sn é a soma dos n termos, a1 é o primeiro termo, n é a
quantidade de termos e q é a razão.

Por exemplo, para calcular a soma dos seis primeiros termos da


PG (1, 2, 4, 8, 16, ...) , temos n = 6 , a1 = 1 e q = 2 , temos:

Sn =
(
a1 1 − q n ) ⇒S =
(
1 1 − 26 ) = 63
1− q
6
(1 − 2 )
Verificando: 1 + 2 + 4 + 8 + 16 + 32 = 63 .
É possível também demonstrar a fórmula que permite calcular o limite
da soma dos termos de uma PG infinita (ou simplesmente soma dos
infinitos termos da PG), porém não é o nosso enfoque nesse momento.

Assimile
A fórmula que permite calcular o limite da soma dos termos de uma PG
infinita de razão 0 < q < 1 é dada por:

a1
lim Sn
n→ ∞ 1− q

Em que Sn é a soma dos infinitos termos, a1 é o primeiro termo e q


é a razão.

Essa soma é chamada de série geométrica convergente.


Já quando a PG infinita é tal que q ≤ −1 ou q ≥ 1, não existe o
limite lim Sn e dizemos que é uma série geométrica divergente.
n→ ∞

U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões 173


Por exemplo, utilizando a fórmula apresentada, podemos calcular
 1 1 1 1 1 
a soma dos infinitos termos da PG  1, , , , , , ...  ,
 4 16 64 256 1024 
1
em que a1 = 1 e q = , temos:
4

a1 a 1 1 4
lim Sn = 1 = = =
n→ ∞ 1− q 1− q 1− 1 3 3
4 4
4
Portanto, o limite da soma dos infinitos termos da PG é , isto é,
3
4.
lim Sn =
n→ ∞ 3

Pesquise mais
No endereço eletrônico a seguir está disponível um estudo mais
aprofundado sobre as sequências reais. Há também a demonstração de
outros resultados acerca das progressões aritméticas e geométricas e
alguns exercícios resolvidos. Vale a pena conferir!

Disponível em: <http://pessoal.sercomtel.com.br/matematica/medio/


sequenc/sequenc.htm#seq15>. Acesso em: 25 jun. 2017.

Exemplificando
Suponha que você fará um investimento no valor de R$ 15.000,00. O
investimento tem rendimento de 0,6% ao mês no sistema de juros compostos.

a) Qual será o montante obtido ao final de cada um dos três primeiros


meses de investimento?

b) Seja n a quantidade de meses após o investimento, qual será o valor


do montante em função de n ?

c) Supondo que você não realize saques nem depósitos nesse investimento,
6
após quanto tempo você terá do valor investido inicialmente?
5

174 U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões


Dessa vez, podemos utilizar os conceitos de PA e PG para responder às
perguntas, quando necessário:

a) Ao final de cada um dos três primeiros meses, temos:

1º mês: 15000 ⋅ 1, 006 = 15090 → R$ 15090,00 ;

2º mês: 15090 ⋅ 1, 006 = 15180, 54 → R$ 15180,54 ;

3º mês: 15180, 54 ⋅ 1, 006 � 15271, 62 → R$ 15271, 62 ;

b) O montante obtido ao final de cada mês forma uma PG em que


a1 = 15090 e q = 1, 006 . Então, utilizamos a fórmula do termo geral:

an = a1 ⋅ q n −1 ⇒ an = 15090 ⋅ 1, 006n −1

Como 15090 = 15000 ⋅ 1, 006 , temos que o montante em função de


n é dado por:
an = 15090 ⋅ 1, 006n −1 ⇒ an = (15000 ⋅ 1, 006 ) ⋅ 1, 006n −1 ⇒ an = 15090 ⋅ 1, 006n

6
c) Para obter do valor investido inicialmente, temos:
5
6 6 6
an = ⋅ 15000 ⇒ 15000 ⋅ 1, 006n = 15000 ⇒ 1, 006n = ⇒
5 5 5
6
⇒ log1,006 1, 006n = log1,006   ⇒ n = 30, 48
5
6
Como n deve ser inteiro, n = 31, ou seja, você terá do valor
investido inicialmente após 31 meses. 5

Sem medo de errar

Após o estudo das progressões aritméticas e geométricas, vamos


retomar a situação hipotética apresentada no Convite ao estudo?
Vamos relembrar! Suponhamos que você foi contratado para ministrar

U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões 175


uma palestra sobre matemática financeira, abordando os juros
simples e compostos. Que tal aproveitar os conceitos de progressão
aritmética e geométrica desta seção para fazer uma relação com a
função exponencial, assunto das seções anteriores?
Estudamos, nesta seção, que as sequências numéricas são
funções de domínio em * e contradomínio não vazio, sendo que a
PG é um caso específico de sequência numérica em que, a partir do
segundo termo, o quociente entre um termo e seu antecessor resulta
em uma constante, chamada de razão q .
1 x
Agora, vamos considerar a função do tipo exponencial f ( x ) = ⋅2
8
e a PA (0, 3, 6, 9, 12, 15, ...) de razão r = 3 . Calculando f (0) , f (3) ,

f (6) , f (9) , f (12) , f (15) , ..., obtemos outra sequência:

xn 0 3 6 9 12 15 ...

1
f ( xn ) 1 8 64 512 4096 ...
8

Analisando os termos dessa nova sequência, percebemos que


1 
 , 1, 8, 64, 512, 4096, ... é uma PG, cuja razão q = 8 é igual à base
8 
a da função, isto é, 8 = 23 . Além disso, temos que o expoente de
23 é igual à razão da PA, isto é, r = 3 .
Podemos formalizar o seguinte resultado:

Assimile

Dada uma função do tipo exponencial f ( x ) = b ⋅ a x e x1, x2 , x3 , x 4 ,


 , xn ,  os termos de uma PA de razão r , temos que a sequência
formada por f ( x1 ) , f ( x2 ) , f ( x3 ) , f ( x 4 ) ,  , f ( xn ) ,  , é uma
PG de razão q = a r , em que a é a base de f e r é a razão da PA.

176 U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões


Com isso mostramos que os conceitos de função exponencial e
progressões estão diretamente relacionados. Mas qual é a vantagem
disso? Agora, podemos utilizar os resultados apresentados nesta
seção sobre PA e PG para calcular um termo qualquer ou a soma dos
primeiros termos dessas progressões, o que pode facilitar muito os
cálculos envolvidos.
Que tal elaborar ou utilizar um problema das seções anteriores
envolvendo aplicações financeiras e resolvê-lo por meio das
progressões, assim como no Exemplificando desta seção? Você
deverá sintetizar os cálculos e apresentá-los na forma de slides. Para
isso, você ainda pode precisar das propriedades dos logaritmos
estudadas anteriormente.
Não se esqueça de elaborar os slides restantes e finalizar a
apresentação para a sua palestra!

Avançando na prática

A lenda da invenção do jogo de xadrez


Descrição da situação-problema
Uma famosa lenda atribui ao matemático indiano Sessa ibn
Daher, a criação do jogo Chaturanga, predecessor do jogo de
xadrez. Muito provavelmente, a história a seguir é um mito criado
pelo autor do livro que o cita.
Sessa teria inventado o jogo a fim de diminuir a agonia de um
príncipe indiano pela perda de seu filho numa batalha. Maravilhado
com o jogo, o príncipe disse a Sessa que poderia pedir o que quisesse
como recompensa. Então, ele pediu ao príncipe um grão de trigo
pela primeira casa do tabuleiro, dois grãos pela segunda, quatro pela
terceira, oito pela quarta, e assim por diante, dobrando a quantidade
em progressão geométrica, até chegar à última casa, na posição
sessenta e quatro.
Inicialmente, o príncipe se sentiu ofendido, pois o pedido era muito
simples e aparentemente humilde, mas ordenou aos tesoureiros para
separarem o trigo mesmo assim. Porém, assim que eles calcularam,
verificaram que era muito mais trigo que havia em todo o reino,
ou mesmo em toda a Ásia. O príncipe foi informado e chamou
Sessa, reconhecendo que não poderia pagar o preço. Ele elogiou o

U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões 177


matemático, pois a engenhosidade do pedido o deixou ainda mais
maravilhado do que a própria invenção do jogo.
Suponha que você é o tesoureiro do príncipe, responsável por
calcular a quantidade de trigo que Sessa pediu. Qual é essa quantidade?

Resolução da situação-problema
A sequência dos grãos de trigo é uma PG, tal que o primeiro termo
é a1 = 1 e a razão é q = 2 , ou seja, (1, 2, 4, 8, 16, ...) . Desse modo,
podemos calcular a soma dos n = 64 termos com a fórmula da
soma dos termos de uma PG finita:

Sn =
(
a1 1 − q n ) ⇒S =
(
1 1 − 264 ) = 1− 2 64
= 264 − 1 = 18 446 744 073 709 551615
1− q
60
(1 − 2 ) −1

Portanto, a quantidade de grãos que Sessa pediu ao príncipe é


de 18 446 744 073 709 551615 grãos, um gigantesco número de 20
algarismos. Lemos: dezoito quintilhões, quatrocentos e quarenta e
seis quatrilhões, setecentos e quarenta e quatro trilhões, setenta e três
bilhões, setecentos e nove milhões, quinhentos e cinquenta e um mil
seiscentos e quinze.
Agora, que tal elaborar um plano de aula utilizando esse contexto?
Sugira e responda a outras questões envolvendo conceitos de PG na
resolução, por exemplo:
• Qual é o vigésimo termo dessa sequência, ou seja, a quantidade
de trigo solicitada na casa do tabuleiro de xadrez de ordem 20?
• Qual é a soma dos vinte primeiros termos dessa sequência, ou
seja, a quantidade total de trigo solicitada até a casa do tabuleiro de
ordem 20?

Faça valer a pena

1. Considere sequência real do tipo progressão aritmética (PA) crescente


de cinco termos ( a1, a2 , a3 , a4 , a5 ) tal que o produto dos extremos, ou seja,
do primeiro termo ( a1 ) com o último termo ( a5 ) é igual a 9 ( a1 ⋅ a5 = 9 ). Além
disso, a soma dos outros três termos é igual a 15, isto é, a2 + a3 + a4 = 15 .
Assinale a alternativa que contém a soma dos termos dessa sequência.
a) 30.
b) 28.

178 U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões


c) 25.
d) 20.
e) 40.

2. Considere a sequência real de três termos dada por ( −6, 4, 64 ) . Note


que essa sequência não é uma progressão aritmética nem geométrica. No
entanto, ao adicionarmos a cada termo dessa sequência um determinado
número inteiro a , obtemos os três primeiros termos de uma progressão
geométrica de razão q .
Assinale a alternativa que contém o termo geral dessa progressão geométrica.
n −1
a) an = 2 ⋅ 6
b) an = 6 ⋅ 2n −1
c) an = 2 ⋅ 6n
d) an = 6n −2
e) an = 6 ⋅ 2n

3. Certo vídeo foi publicado na internet. No primeiro dia, houve quatro


visualizações do vídeo; no segundo dia, 20 visualizações; e no terceiro
dia, 100 visualizações. Suponha que o número de visualizações continue
crescendo, dia a dia, nesse mesmo ritmo.
Assinale a alternativa que contém a quantidade total de visualizações do
vídeo até o final do décimo segundo dia.
a) 195 312 496
b) 48 828 125
c) 4 194 303
d) 244 140 624
e) 48 828 124

U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões 179


180 U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões
Referências
EVES, Howard. Introdução à história da matemática. Tradução de Hygino H. Domingues.
Campinas: Editora da Unicamp, 2004.
ROSA NETO, Eduardo Aparecido da; BALESTRI, Rodrigo Dias. Matemática: interação e
tecnologia. v. 1. São Paulo: Leya, 2013.

U3 - Funções exponenciais, funções logarítmicas e progressões 181


Unidade 4

Números complexos

Convite ao estudo
Como você faria se alguém lhe desafiasse a dividir um segmento
de 10 unidades em duas partes, cujo produto é 40? O matemático
italiano Girolamo Cardano (1501-1576) publicou esse problema,
aparentemente simples, em seu famoso livro Ars magna. Ainda
nesse livro, Cardano deduziu uma fórmula para resolver equações
3
de terceiro grau do tipo x + ax + b = 0 . Mais tarde, Rafael
Bombelli (1526-1573), que era admirador de Cardano, utilizou
essa fórmula para resolver a equação cúbica x 3 − 15 x − 4 = 0
, chegando à solução x = 4 , que é verdadeira. No entanto,
para chegar a essa solução, foi preciso resolver uma expressão
envolvendo a raiz quadrada de um número negativo, −121 ,
que não faz sentido no conjunto dos números reais.

A questão que motivou Cardano, Bombelli e vários outros


matemáticos foi: como um número real pode ser obtido como
resultado de uma expressão que contém a raiz quadrada de
números negativos? E para deixá-los ainda mais instigados,
os trabalhos mostravam que era possível operar como esses
números “imaginários”, o que fazia ainda menos sentido.

Inicialmente, por meio de uma abordagem histórica,


você conhecerá um pouco a respeito da necessidade de
construção desse “novo” conjunto numérico. Apresentada
a definição formal na forma algébrica, vamos explorar suas
representações geométricas no plano de Argand-Gauss, bem
como diversas operações algébricas, propriedades, forma
trigonométrica, forma polar, entre outras características. Em
outras palavras, estudaremos, nesta unidade, a construção de
um conjunto numérico.
Cabe ressaltar que, ao contrário das situações envolvendo
medição indireta que aparecem nas unidades de trigonometria,
ou dos contextos de aplicações financeiras que permeiam
a unidade de função exponencial, função logarítmica e
progressões, os números complexos não possuem aplicações
assim tão imediatas ou simples, o que não minimiza a importância
desse assunto. Os números complexos surgiram como uma das
maiores contribuições ao desenvolvimento da Álgebra, e sem a
presença deles hoje seria impossível imaginar o desenvolvimento
de algumas áreas, como Engenharia, Aerodinâmica, Mecânica
dos Fluidos, Física Quântica, Relatividade, entre outras.

E para deixar o estudo ainda mais interessante, suponha


que você é docente de certa turma do ensino médio, em
início de carreira. Para estimular o que os alunos aprendem,
a coordenadora pedagógica sugeriu abordar as principais
características dos números complexos por meio de três objetos
virtuais interativos, utilizando o software GeoGebra, que é um
programa de computador gratuito com recursos dinâmicos
voltados para a aprendizagem de Matemática. Ele pode ser
obtido em: <www.geogebra.org>. Acesso em: 9 jul. 2017.

As atividades devem ser elaboradas com o objetivo de


explorar os conceitos estudados na respectiva seção da unidade.
No primeiro objeto, relacionado ao conteúdo da seção A ideia
de número complexo, o objetivo é construir uma representação
manipulável do número complexo no plano de Argand-Gauss.
No segundo objeto, relacionado ao conteúdo da seção
Operações com números complexos, o desafio é explorar a
interpretação geométrica das operações com esses números.
Já o terceiro objeto, relacionado ao conteúdo da seção Forma
trigonométrica ou forma polar de um número complexo, o
objetivo, novamente, é a interpretação geométrica, dessa vez
relacionada à ideia de rotação de um ponto no plano.

Vamos iniciar! Bom estudo!


Seção 4.1
A ideia de número complexo
Diálogo aberto

Nesta seção, iremos estudar um pouco a respeito do processo de


construção de um “novo” conjunto numérico: os números complexos.
Apresentada a definição de conjunto dos números complexos, vamos
identificar as representações algébrica e geométrica, bem como
associar um número complexo aos seus respectivos afixo e vetor no
plano de Argand-Gauss.
Esse assunto, normalmente, é introduzido nos anos iniciais do
ensino médio, na disciplina de Matemática. Você se recorda?
Esses conteúdos servem como base para o trabalho que será
desenvolvido na unidade posteriormente, em que serão exploradas
as operações usuais e as propriedades das operações, tais como
comutativa, distributiva, entre outras.
Vamos voltar também à situação hipotética apresentada no
convite ao estudo. Suponhamos que você é docente de certa turma
do ensino médio, em início de carreira. Para estimular o que os alunos
aprendem, você deve produzir um objeto virtual interativo, com o
objetivo de interpretar geometricamente um número complexo no
plano de Argand-Gauss.
Você conseguiria descrever todas as etapas de elaboração desse
objeto, com base nos conteúdos desta seção? Uma maneira de fazer
isso é através de um plano de aula contendo o passo a passo da
construção desse objeto, utilizando, sempre que possível, imagens
obtidas por captura de tela do software GeoGebra.

Não pode faltar

Antes de definir o conceito de número complexo, vamos conhecer


um pouco da história que levou ao surgimento desse novo número.

U4 - Números complexos 185


Contexto histórico: a descoberta de um novo número
Antigamente, para uma equação ter significado, ela precisava
ter uma formulação baseada em um contexto real, isto é, em uma
necessidade. Desse modo, se a solução dessa equação envolvesse
um cálculo com raiz quadrada de um número negativo, o problema
era abandonado e dizia-se simplesmente que não havia solução, ou
que a solução era impossível.
Vamos considerar um problema desse tipo, publicado no capítulo
37, do livro Ars magna, de Girolamo Cardano (1501-1576):

Como dividir um segmento de 10 unidades em duas partes, cujo


produto é 40?

Vamos indicar por x o comprimento de uma dessas partes,


consequentemente, a outra será 10 − x .

Figura 4.1 | Segmento de 10 unidades divididas em duas partes

Fonte: elaborada pelo autor.

Como o produto dessas partes é 40, o problema consiste em


resolver a seguinte equação:
x ⋅ (10 − x ) = 40
Resolvendo essa equação por qualquer método, obtemos as
soluções 5 + −15 e 5 − −15 , em unidades de comprimento, ou
seja, envolvem o cálculo com raiz quadrada de um número negativo.
De fato, Cardano admite no livro que esse problema não tem solução,
pois −15 não faz sentido no conjunto dos números reais, mas,
logo em seguida, ele supõe que as operações usuais nesse conjunto
sejam válidas para esse caso e adicionam os dois valores da solução
da equação x ⋅ (10 − x ) = 40 :

5+ −15 + 5 − −15 = 5 + 5 = 10

E ainda multiplica:
(5 + )( ) ( )
2
−15 5 − −15 = 25 + 5 −15 − 5 −15 − −15 = 25 − ( −15 ) = 40

186 U4 - Números complexos


Mostrando que satisfazem a condição do problema.
Ainda nesse livro, Cardano publicou uma fórmula resolutiva para
equações cúbicas do tipo x 3 + mx + n = 0 , em que m > 0 e n > 0 ,
conhecida por fórmula de Tartáglia-Cardano.
2 3 2 3
n n m n n m
x=3− +   +  + 3 − −   + 
2 2 3
    2 2  3 

Pesquise mais
Ficou curioso sobre o nome de fórmula de Tartáglia-Cardano? Imaginou
que Cardano foi o descobridor original dela? Saiba que há uma história
interessante entre Cardano e o matemático Niccolo Tartaglia (c.1500-
1557). Ela envolve conversas por cartas, juramentos e arrependimento.
Pesquise mais!

Veja um trecho extraído do livro História da matemática, de Carl


Benjamim Boyer:

[...] Deve-se assinalar imediatamente, porém, que


Cardano (ou Cardan) não foi o descobridor original da
solução quer da cúbica quer da quártica. Ele próprio
admitiu isso francamente em seu livro. A sugestão
para resolver a cúbica, ele afirma, lhe tinha sido dada
por Niccolo Tartaglia (c.1500-1557); a solução da
quártica tinha sido descoberta primeiramente pelo
antigo amanuense de Cardano, Ludovico Ferrari
(1522-1565). O que Cardano deixou de mencionar na
Ars magna foi o solene juramento que havia feito a
Tartaglia de não revelar o segredo, pois esse último
pretendia firmar sua reputação publicando a solução
da cúbica como coroação de seu tratado sobre
álgebra [...]. (BOYER, 1974, p. 206-7)

Sugerimos também a leitura do capítulo 4, do livro intitulado História da


matemática, da autora Tatiane Roque.

ROQUE, Tatiane. História da matemática. Rio de Janeiro: Zahar,


2012. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9788537809099/cfi/6/24!/4/462/2@0:0>. Acesso em: 12 jul. 2017.

U4 - Números complexos 187


Rafael Bombelli (1526-1572) estudou profundamente o trabalho de
Cardano, principalmente os casos que levam a raízes de números
negativos. Podemos dizer que ele foi o primeiro a dar a devida
importância e perceber que um novo tipo de número estava surgindo
na Matemática. Admirador de Cardano, Bombelli utilizou a fórmula
3
deste para resolver a equação x − 15 x − 4 = 0 , mesmo contrariando
as condições iniciais para o uso da fórmula, pois m = −15 < 0 e
n = −4 < 9 (BOYER, 1974).
Vejamos:

2 3 2 3
−4  4   −15  −4  4   −15 
x=3− +   +  + − 2 − 2 + 3 
3
2 2
   3     
= 3 2 + −121 + 3 2 − −121

Note que o valor de x envolve o cálculo de −121 , que não


está definido no conjunto dos números reais. No entanto, Bombelli
supôs mesmo assim, no que ele chamou de “ideia louca”, que as
propriedades operatórias usuais são válidas, e considerou ainda que os
dois membros obtidos anteriormente poderiam ser escritos na forma
a + b e a − b . Ele efetuou os cálculos e obteve a = 2 e b = 1.
Com isso, as duas partes com −121 se anulariam:

x = 3 2 + −121 + 3 2 − −121
=2+ −1 + 2 − −1
=4
Portanto, ele obteve x = 4 como uma solução da equação, que
pode ser facilmente verificado:
x 3 − 15 x − 4 = 43 − 15 ⋅ 4 − 4 = 0
Esse fato evidenciou o que Bombelli desconfiava: realmente,
existe uma solução para uma equação envolvendo o cálculo da raiz
quadrada de um número negativo em um dos membros, desde que
fossem válidas as propriedades operatórias das operações, tais como
comutativa, distributiva, entre outras.
Inspirados por esse trabalho, vários outros matemáticos dedicaram-
se ao estudo das raízes quadradas de números negativos, pois ainda
havia muito a se investigar sobre esse novo conjunto que surgia.

188 U4 - Números complexos


Reflita
Naquela época, o estudo com situações envolvendo o cálculo com
raízes quadradas de números negativos parecia não ter significado
prático, ou seja, situações impossíveis de se resolver na prática. Isso
nos leva a refletir sobre o uso da palavra “imaginário” e “complexo” para
descrever esse tipo de número, em sentido pejorativo.

Para simplificar a notação, em algum momento foi definido que


o número i é a unidade imaginária, tal que i = −1 . Portanto, a
expressão 3 + −4 , por exemplo, passou a ser escrita por:

3 + 4 ⋅ ( −1) = 3 + 2 −1 = 2 + 4i

Mais adiante veremos que essa forma é a representação algébrica


de um número complexo.

O conjunto dos números complexos


Como dito anteriormente, os conjuntos numéricos que os matemáticos
consideravam eram apenas o conjunto dos números naturais:
= {0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, ..., n, ...}

Para que a operação de subtração fizesse sentido, estenderam e


obtiveram o conjunto dos números inteiros:
= {..., − n, ..., − 3, − 2, − 1, 0, 1, 2, 3, ..., n, ...}

Para que a operação de divisão também fizesse sentido,


estenderam e obtiveram o conjunto dos números racionais:
a 
=  , com a ∈ , b ∈ e b≠
↑ 0
b 
2
Nesse conjunto, a equação x = 2 , por exemplo, não fazia
sentido, pois as soluções x = 2 e x = − 2 não pertencem ao
conjunto , então criaram o conjunto dos números irracionais,
indicados por I . Finalmente, da união dos racionais com os
irracionais surgiu o conjunto dos números reais:
= ∪I
Desse forma, podemos representar as relações ⊂ ⊂ ⊂ e
I⊂ no seguinte diagrama de Venn:

U4 - Números complexos 189


Figura 4.2 | Diagrama de Venn representando o conjunto dos números reais

Fonte: elaborada pelo autor.

Como explicado anteriormente, foi preciso, novamente, estender


o conjunto dos números reais para obter um novo conjunto, chamado
conjunto dos números complexos ( ), que também podem ser
somados, multiplicados e extraídos da raiz quadrada de um número
negativo.

Figura 4.3 | Diagrama de Venn representando o conjunto dos números complexos

Fonte: elaborada pelo autor.

Representação algébrica: parte real e parte imaginária


Ao longo do tempo, os números complexos foram definidos de
diversas formas. A mais comum é chamada de forma algébrica, ou
forma binomial de um número complexo.

190 U4 - Números complexos


Assimile
Forma algébrica

Todo número complexo z pode ser escrito na forma algébrica, de


maneira única:

z = x + yi

Onde x e y são números reais e i é a unidade imaginária, isto é,


i = −1 ou i 2 = 1 .

Note que, nessa representação, o número tem duas partes,


chamadas de parte real de z e parte imaginária de z , indicadas por
Re ( z ) = x e Im ( z ) = y , respectivamente:

z = x + yi

Parte real de z: Re(z) Parte imaginária de z: Im(z)

Veja outros exemplos:


• z = 3 + 2i , tal que Re ( z ) = 3 e Im ( z ) = 2 .
• z = −5 + i 3 , tal que Re ( z ) = −5 e Im ( z ) = 3 .
• z = 8 , tal que Re ( z ) = 8 e Im ( z ) = 0 .
2 2
• z = i , tal que Re ( z ) = 0 e Im ( z ) = .
3 3
• z = 3 + 2i , tal que Re ( z ) = 3 e Im ( z ) = 2 .
Por definição, quando a parte imaginária de um número complexo é
nula, ou seja, Im ( z ) = 0 , dizemos que o número é real. Por outro lado,
quando a parte real de um número complexo é nula, isto é, Re ( z ) = 0 , e a
parte imaginária é diferente de zero, dizemos que o número é imaginário
puro. Identifique esses casos nos exemplos anteriores.

Representação geométrica: afixo, imagem geométrica ou vetor


Outra maneira de representar um número complexo z é por
meio de um par ordenado de números reais.
A associação dos números complexos a pontos no plano
cartesiano, de tal maneira que a parte real e imaginária correspondam

U4 - Números complexos 191


à distância horizontal e vertical dos eixos cartesianos, respectivamente,
é atribuída a três matemáticos: Caspar Wessel (1745-1818), Jean
Robert Argand (1768-1822) e Carl Friedrich Gauss (1777-1855). No
entanto, o trabalho de Wessel demorou quase cem anos para ser
reconhecido, por isso o plano cartesiano em que esses números são
representados é conhecido até hoje apenas como plano de Argand-
Gauss, ou simplesmente plano complexo (EVES, 2004).
Sobre a representação do número complexo em um plano cartesiano:

[...] fez com que os matemáticos se sentissem muito


mais à vontade com os números imaginários, pois esses
números podiam agora ser efetivamente visualizados, no
sentido de que a cada número complexo corresponde
um único ponto do plano e vice-versa. Ver é crer, e ideias
anteriores sobre a não existência e o caráter fictício dos
números imaginários foram geralmente abandonadas.
(EVES, 2004, p. 524)

Assimile

Cada número complexo z = x + yi pode ser associado a um par


ordenado z = ( x, y ) , com x e y reais. O eixo x é chamado eixo real
(Re) e o eixo y , eixo imaginário (Im).

Figura 4.4 | Representação geométrica de um número complexo z = x + yi

Fonte: elaborada pelo autor.

O ponto P é chamado afixo ou imagem geométrica do número


complexo z .

192 U4 - Números complexos


Como esse par ordenado representa um ponto no plano
complexo, a cada ponto P ( x, y ) do plano podemos associar um
único número complexo z = x + yi , e vice-versa.

Exemplificando
Veja como podemos representar, em um plano de Argand-Gauss, os
pontos (afixos) associados a alguns números complexos na forma algébrica.

Número complexo Afixo


z = x + yi P ( x, y )

z1 = 3 + 4i P1 ( 3, 4 )

z2 = −2 + 2i P2 ( −2, 2 )

z3 = −4 + −2i P3 ( −4, − 2 )

z4 = 4 − 5i P4 ( 4, − 5 )

z5 = 6 P5 ( 6, 0 )

z6 = 5i P6 ( 0, 5 )

Figura 4.5 | Pontos no plano de Argand-Gauss

Fonte: elaborada pelo autor.

U4 - Números complexos 193


Reflita
Sobre qual eixo estão localizados todos os números imaginários puros?
E todos os números reais?

O número complexo z = x + yi também pode ser representado


por um vetor com uma extremidade na origem ( 0, 0 ) , e outra no
ponto de coordenadas ( x, y ) .

Figura 4.6 | Representação do vetor associado ao número complexo z = x + yi

Fonte: elaborada pelo autor.

Sem medo de errar

Após o estudo inicial dos números complexos, vamos retomar


a situação hipotética apresentada no convite ao estudo? Vamos
relembrar! Suponhamos que você é docente de certa turma do ensino
médio, em início de carreira. Para estimular que os alunos aprendam,
você deve produzir um objeto virtual interativo, com o objetivo de
interpretar geometricamente um número complexo no plano de
Argand-Gauss. Descreva, em detalhes, as etapas de elaboração desse
objeto, com base nos conteúdos desta seção.
No GeoGebra, um número complexo é definido por meio da
representação algébrica z = x + yi e pode ser representado na
janela de visualização do programa se considerarmos que y é o
eixo imaginário e x é o eixo real. Isso acontece porque os números
complexos são tratados como números "normais" na maioria

194 U4 - Números complexos


das vezes e, além disso, as funções pré-definidas trabalham com
argumentos de complexos, por exemplo, bastaria entrar com o
comando cos ( 5 + 2i ) que o programa reconhecerá. Por outro lado,
na atual versão do programa, ainda não é possível representar funções
com esses números.
Para indicar o afixo correspondente ao ponto z = 3 + 4i , basta digitar
no campo Entrada a expressão 3 + 4i e pressionar Enter. Para auxiliar
na visualização desse número, podemos utilizar um vetor que parte
da origem 0 + 0i e tem extremidade em 3 + 4i . Para isso, primeiro,
definimos o ponto na origem digitando 0 + 0i e, depois, criamos o
vetor usando a ferramenta Vetor . Inicialmente, clicamos na origem
e, em seguida, na extremidade. Também é interessante incluir, na janela
de visualização, dois campos de Texto para exibição, um para a
parte real e outro para a parte imaginária do número complexo. Agora,
com a ferramenta Mover selecionada, é possível manipular o ponto
sobre o plano, ao mesmo tempo em que são exibidos os valores da
parte real e imaginária do número complexo.
Durante a construção, é importante utilizar várias imagens obtidas
por captura da tela. Ao final, você deverá obter uma figura, como
a exemplificada a seguir, na qual temos a representação do vetor
correspondente ao número complexo z = 3 + 4i .
Figura 4.7 | Imagem obtida por captura de tela na representação do vetor
correspondente ao número complexo z = 3 + 4i pelo software GeoGebra

Fonte: elaborada pelo autor.

U4 - Números complexos 195


Que tal descrever com mais detalhes e utilizando várias imagens
obtidas por captura de tela? O GeoGebra está disponível gratuitamente
para download para computadores, tablets e celulares em: <https://
www.geogebra.org/download>. Acesso em: 9 jun. 2017.
Também é possível realizar essa construção online, ou seja, sem a
instalação do software no computador, em: <https://www.geogebra.
org/apps/>. Acesso em: 22 abr. 2017.

Avançando na prática

Um pouco mais de história da Matemática


Descrição da situação-problema
Suponha ainda que você é docente de certa turma do ensino
médio. De fato, a Matemática ainda se apresenta um tanto isolada
das demais disciplinas, restrita apenas a poucas explorações
relacionadas à história da Matemática. Na maioria das vezes, recai-
se ao isolamento, com suas teorias e definições apresentadas sem
um apelo histórico do que levou à necessidade deste ou daquele
resultado. Nessa perspectiva, com a história da Matemática, temos
a oportunidade de levar o aluno a ver e entender essa disciplina,
tornando-a mais agradável. Ela pode estar presente na sala de aula
em vários contextos, uma vez que ela acompanha a história da
humanidade, mas nem todo aluno tem iniciativa própria ou acesso
a livros especializados. Cabe, então, ao professor, em formação
continuada, participar de cursos, leituras e pesquisas para melhorar
a preparação de sua aula. Diante desse contexto, que tal aproveitar
a fascinante história do surgimento dos números complexos e
elaborar um plano de aula sobre a história da Matemática?

Resolução da situação-problema
Uma sugestão para uma abordagem por meio da história da
Matemática é propor algumas questões para os alunos responderem,
por exemplo:
1. Antigamente, uma equação precisava ter uma formulação baseada
em um contexto real, isto é, em uma necessidade. Por mais simples que
a situação parecesse, poderia recair em uma equação envolvendo um
cálculo com raiz quadrada de um número negativo. Qual foi o problema

196 U4 - Números complexos


aparentemente simples que levou aos primeiros estudos sobre os
números complexos? Onde e por quem ele foi publicado?
2. Qual é a equação quadrada associada ao problema da questão
anterior? Explique como ele foi modelado.
3. Por que a fórmula resolutiva para equações cúbicas do tipo
x 3 + mx + n = 0 , em que m > 0 e n > 0 , é conhecida por fórmula de
Tartáglia-Cardano, embora tenha sido publicada apenas por Cardano?
4. Quem foi Rafael Bombelli (1526-1572) e qual foi a sua
contribuição no desenvolvimento do estudo dos números
complexos?
5. A quais matemáticos é atribuída a representação dos números
complexos no plano complexo? Como esse plano complexo é
conhecido?
6. Quem foi o responsável pela simplificação da notação da
unidade imaginária i = −1 ou i 2 = −1 ?
7. Qual foi a contribuição do matemático alemão Karl Friedrich
Gauss no desenvolvimento dos números complexos?
A maioria das questões anteriores pode ser resolvida com base
nos conteúdos desta seção; outras precisam ser pesquisadas. Veja a
resposta da primeira delas.
1. O problema foi publicado no Capítulo 37, do livro Ars magna, de
Girolamo Cardano (1501-1576), e tinha o seguinte enunciado: como
dividir um segmento de 10 unidades em duas partes, cujo produto é 40?
Que tal, agora, elaborar um plano de aula para arquivar as respostas
das demais questões? Nele você também poderá elaborar outras
questões que julgar interessantes e sugerir alguns livros ou sites para
os alunos pesquisarem.

Faça valer a pena

1. O número complexo z = x + yi também pode ser representado por


um vetor com uma extremidade na origem ( 0, 0 ) , e outra no ponto de
coordenadas ( x, y ) .

U4 - Números complexos 197


Considere os seguintes números complexos.
I) z = 2 + 6i .
II) z = 5 − 5i .
III) z = −5 + 4i .
IV) z = 5 + 3i .
V) z = −3 − 6i .

E os vetores representados no plano complexo:

A)

B)

198 U4 - Números complexos


C)

D)

E)

Assinale a alternativa que associa corretamente o número complexo à


sua respectiva representação vetorial, com a letra e o símbolo romano
correspondente.
a) A – I; B – II; C – III; D – IV; E – V.
b) A – I; B – II; C – III; D – V; E – IV.
c) A – III; B – I; C – II; D – IV; E – V.
d) A – II; B – III; C – I; D – V; E – IV.
e) A – III; B – II; C – I; D – IV; E – V.

2. Considere as equações do segundo grau:


2
I) 2 x + 1818 = 0 .
II) x 2 + 6 x + 13 = 0 .
III) x 2 − 8 x + 17 = 0 .
2
IV) x .
−x +5=0
4

U4 - Números complexos 199


E os seguintes afixos em um mesmo plano complexo:

Assinale a alternativa que associa corretamente as equações e os pontos


das suas respectivas soluções no plano complexo, com o símbolo romano
e os afixos correspondentes.
a) I – P2 e P6 ; II – P3 e P5 ; III – P4 e P8 ; IV – P1 e P7 .
b) I – P1 e P7 ; II – P3 e P5 ; III – P4 e P8 ; IV – P2 e P6 .
c) I – P1 e P7 ; II – P4 e P8 ; III – P3 e P5 ; IV – P2 e P6 .
d) I – P4 e P8 ; II – P1 e P7 ; III – P3 e P5 ; IV – P2 e P6 .
e) I – P4 e P8 ; II – P1 e P7 ; III – P2 e P6 ; IV – P3 e P5 .

3. Por definição, quando a parte imaginária de um número complexo é nula,


ou seja, Im ( z ) = 0 , dizemos que o número é real. Por outro lado, quando
a parte real de um número complexo é nula, isto é, Re ( z ) = 0, e a parte
imaginária é diferente de zero, dizemos que o número é imaginário puro.
Assinale a alternativa que contém os valores de k , com k ∈ , para os quais
( )
o número complexo z = k 2 − 9 + ( k − 3 ) i é imaginário puro.
a) k = 3 ou k = −3 .
b) k = 3 .
c) k = −3 .
d) k = 9 .
e) k = −9 .

200 U4 - Números complexos


Seção 4.2
Operações com números complexos
Diálogo aberto

Na seção anterior, estudamos um pouco a respeito do processo de


construção de um “novo” conjunto numérico: os números complexos.
Apresentada a definição formal e as representações algébrica e
geométrica, agora estudaremos as operações elementares nesse
conjunto: adição, subtração, multiplicação e divisão. Abordaremos
ainda algumas propriedades operatórias conhecidas até então apenas
no conjunto dos números reais. As operações de adição e subtração
também serão exploradas na forma geométrica.
E falando em representação geométrica, vamos voltar à situação
hipotética apresentada no convite ao estudo? Suponhamos que você
é docente de certa turma do ensino médio, em início de carreira. Para
estimular que os alunos aprendam, você deve produzir um objeto
virtual interativo, com o objetivo de interpretar, geometricamente, as
operações de adição e subtração com números complexos no plano
de Argand-Gauss.
Você conseguiria descrever todas as etapas de elaboração desse
objeto com base nos conteúdos dessa seção? Uma maneira de fazer
isso é através de um plano de aula contendo o passo a passo da
construção desse objeto, utilizando, sempre que possível, imagens
obtidas por captura de tela do software GeoGebra.

Não pode faltar

Antes de apresentar as operações, vamos definir a igualdade de


dois números complexos. Para simplificar a notação, usaremos outras
letras no lugar de x e y para representar a forma algébrica de um
número complexo z = x + yi .

Igualdade de dois números complexos

U4 - Números complexos 201


Assimile

Dados dois números complexos z1 = a + bi e z2 = c + di , eles são


iguais se, e somente se, suas partes reais e suas partes imaginárias são,
respectivamente, iguais, ou seja:

a
{ + di ⇔ a = c e b = d
+ bi = c{
z1 z2

Por exemplo:
16
• z1 = 4 − 2i é igual a z2 = − i 4 , pois:
4
16
Re ( z1 ) = 4 = = Re ( z2 ) e Im ( z1 ) = −2 = − 4 = Im ( z2 )
4
• z1 = 3 − i não é igual a z2 = 3 + i , pois:
Re ( z1 ) = 3 = Re ( z2 ) , mas Im ( z1 ) = −1 ≠ 1 = Im ( z2 )

Reflita
Dados dois números complexos, além de afirmar se eles são iguais ou
diferentes, podemos realizar a adição, subtração, multiplicação e divisão
entre eles. No entanto, não podemos verificar se um é maior que o
outro, ou seja, estabelecer uma relação de ordem entre eles. Em sua
opinião, porque isso não é possível? Reflita!

Operações elementares com números complexos


Usando a forma algébrica dos números complexos, as operações
de adição, subtração e multiplicação são intuitivas e ocorrem da
mesma maneira que fazemos com expressões algébricas. É como
se considerássemos i sendo uma variável qualquer, assim como x
ou y . Por exemplo, na multiplicação, basta aplicar a propriedade
distributiva já conhecida na multiplicação de binômios. No entanto, é
preciso lembrar que i 2 é um número real que vale −1.
Veja alguns exemplos:
• (1 + i ) + ( 2 + 3i ) = (1 + 2 ) + (1 + 3 ) i = 3 + 4i
• ( 5 − 2i ) + ( 3 + 4i ) = ( 5 + 3 ) + ( −2 ) + 4  i = 8 + 2i
 

202 U4 - Números complexos


• 7i + (1 − i ) = ( 0 + 1) + 7 + ( −1)  i = 1 + 6i
• ( 3 + 2i ) − ( 5 + 4i ) = ( 3 − 5 ) + ( 2 − 4 ) i = −2 − 2i
• ( 8 − 3i ) − ( 2 + 5i ) = ( 8 − 2 ) + ( −3 ) − 5  i = 6 − 8i
• 6 − ( 2 + i ) = ( 6 − 2 ) + ( 0 − 1) i = 4 − i
• (1 + 2i ) ( 2 + i ) = 1⋅ 2 + 1⋅ i + 2i ⋅ 2 + 2i ⋅ i =
= 2 + i + 4i + 2 i{2 = 2 + 5i − 2 = 5i
−1
• ( 3 − 4i ) ( 5 + 7i ) = 3 ⋅ 5 + 3 ⋅ 7i + ( −4i ) ⋅ 5 + ( −4i ) ⋅ 7i =
= 15 + 21i − 20i − 28 i{2 =
−1

= 15 + i + 28 = 43 + i

Pesquise mais
Você deve se recordar de uma questão da seção anterior que deixou
os antigos matemáticos instigados na construção do “novo” conjunto
numérico: como entender algebricamente uma soma a + bi ,
considerando que as parcelas a e bi são de espécies diferentes? Era
como somar laranjas e maçãs atualmente.

Quem tomou a si essa difícil tarefa foi Wiliam Rowan Hamilton (1805-1865).

[...] Foi num artigo de 1833, apresentado à Academia


Irlandesa, que Hamilton introduziu a álgebra formal dos
números complexos. Estes, segundo sua ideia básica,
passavam a ser encarados como pares ordenados ( a, b )
de números reais, com os quais se operava segundo as leis
( a, b ) + ( c, d ) = ( a + c, b + d )
( a, b ) ⋅ ( c, d ) = ( ac − bd, ad + bc )
Nessa ordem de ideias, um par ( a,0 ) equivale ao
número real a ; em particular ( −1, 0 ) = −1. Assim,
fazendo i = ( 0, −1) , i 2 = ( 0, −1) ⋅ ( 0, −1) = ( −1, 0 ) = −1.
Finalmente obtinha-se uma explicação lógica para
o símbolo −1 .
Mas o que Hamilton tinha em vista quando colheu
esses resultados era algo mais pretensioso [...].
(IEZZI et al., 1993, p. 53)

U4 - Números complexos 203


Mesmo não sendo necessário decorar regras, vamos formalizar
as três operações exemplificadas, destacando também os elementos
oposto e neutro em .

Assimile

Considere dois números complexos z1 = a + bi e z2 = c + di .

Para realizar a adição, adicionamos, separadamente, as partes reais e as


partes imaginárias, ou seja:

(12
a + bi ) + ( c + di ) = ( a + c ) + ( b + d ) i
4 4 3 12 4 4 3
z1 z2

O elemento 0 + 0i = 0 é chamado elemento neutro para a adição, que


somado a qualquer complexo z dá como resultado o próprio z .

Para cada número complexo há um elemento oposto complexo, tal


que a soma deles é zero, ou seja:

(12
a + bi ) + ( −a − bi ) = ( a − a ) + ( b − b ) i = 0 + 0i
4 4 3 1424 3
z1 elemento
oposto de z1

Para realizar a subtração, subtraímos, separadamente, as partes reais e as


partes imaginárias, ou seja:

(12
a + bi ) − ( c + di ) = ( a − c ) + ( b − d ) i
4 4 3 12 4 4 3
z1 z2

Para realizar a multiplicação, aplicamos a propriedade distributiva da


multiplicação e fazemos i 2 = −1 , ou seja:

(12
a + bi ) ⋅ ( c + di ) = ac + ad i + bc i + bd i{2 = ( ac − bd ) + ( ad + bc ) i
4 4 3 12 4 4 3 −1
z1 z2

O elemento 1 + 0i = 1 é chamado elemento neutro para a


multiplicação, o qual, multiplicado por qualquer complexo z , dá como
resultado o próprio z .

204 U4 - Números complexos


Reflita
Represente, em um plano de Argand-Gauss, os afixos de um número
complexo e de seu oposto. O que você percebeu sobre a posição deles
em relação à origem?

Conjugado de um número complexo


Entre as operações elementares, falta definir a divisão entre
números complexos. Antes, porém, precisamos da propriedade do
inverso multiplicativo de um número complexo, ou seja, um número
1 1 1 1
tal que ⋅ z = z ⋅ = 1 , com z ≠ 0. Mas qual o significado de ?
z z z z
Para responder a essa pergunta, precisamos definir o conjugado
de um número na forma z = a + bi , que nada mais é do que o número
na forma z = a − bi , isto é, invertemos o sinal da parte imaginária.
Por exemplo:
• Se z = −1 + 2i , então z = −1 − 2i .
• Se z = 3 − 7i , então z = 3 + 7i .
• Se z = 4 , então z = 4 .
• Se z = 5i , então z = −5i .

Reflita
Agora, represente, em um plano de Argand-Gauss, os afixos de um
número complexo e de seu conjugado. O que você percebeu sobre
a posição deles em relação ao eixo y ? Em quais casos temos z = z ?

Uma característica interessante envolvendo um número complexo


e seu conjugado é que o produto entre z e z é igual a um número
real não negativo, dado pela soma dos quadrados da parte real e
imaginária de z . Vejamos:

z ⋅ z = ( a + bi ) ( a − bi ) = a 2 −abi +abi − b 2 i{2 = a 2 + b 2


−1

Você deve se lembrar do problema que Cardano propôs em seu


livro, apresentado na seção anterior: como dividir um segmento de 10

U4 - Números complexos 205


unidades em duas partes, cujo produto é 40? Cardano obteve como
resposta os números complexos 5 + −15 e 5 − −15 , em que um
é conjugado do outro.
Usando a propriedade anterior, é fácil verificar que o produto
desses números é de fato 40, pois é igual ao quadrado da parte real
mais o quadrado da parte imaginária do primeiro número:

(5 + )( ) ( )
2
−15 5 − −15 = 52 + 15 = 25 + 15 = 40

Divisão com números complexos


Usando essa propriedade, agora podemos “transformar” a divisão
de dois números complexos em uma multiplicação de números
complexos divididos por um número real.

Assimile

Dados dois números complexos z1 = a + bi e z2 = c + di , com


z2 ≠ 0, para realizar a divisão entre z1 e z2 , multiplicamos o numerador
e o denominador pelo conjugado do denominador, ou seja:
z1 z1 ⋅ z2
=
z2 z2 ⋅ z2

Veja alguns exemplos: −1


}
3 + 4i ( 3 + 4i ) ( 2 − i ) 6 − 3i + 8i − 4 i 2 10 + 5i 10 5
• = = = = + i =2+i
2+i (2 + i ) (2 − i ) 4 − i{2 5 5 5
−1
−1
}
2 + 6i ( 2 + 6i ) ( 2 + 4i ) 4 + 8i − 12i + 24 i 2 −20 + 20i 20 20
• = = = =− + i = −1 + i
2 − 4i ( 2 − 4i ) ( 2 + 4i ) 4 − 16 i{2 20 20 20
−1

Perceba que, nas operações com multiplicação e divisão com


números complexos, utilizamos a igualdade i 2 = −1 .
Vamos deduzir uma propriedade interessante que pode nos ajudar
a calcular qualquer potência i n , com n ∈ . Faremos isso de maneira
recursiva, até o expoente 12:
• i 0 = 1
• i1 = i

206 U4 - Números complexos


• i 2 = −1
• i 3 = i 2 ⋅ i = ( −1) ⋅ i = −i
• i 4 = i 2 ⋅ i 2 = ( −1) ⋅ ( −1) = 1
• i 5 = i 4 ⋅ i = 1⋅ i = i
• i 6 = i 4 ⋅ i 2 = 1⋅ ( −1) = −1
• i 7 = i 4 ⋅ i 3 = 1 ⋅ ( −i ) = −i
• i 8 = i 4 ⋅ i 4 = 1⋅ 1 = 1
• i 9 = i 8 ⋅ i 1 = 1⋅ i = i
• i 10 = i 8 ⋅ i 2 = 1⋅ ( −1) = −1
• i 11 = i 8 ⋅ i 3 = 1⋅ ( −i ) = −i
• i 12 = i 8 ⋅ i 4 = 1⋅ 1 = 1

Perceba que os valores de i n se repetem a cada ciclo de quatro


expoentes, isto é:
0 4
• i= i= i 8 i 12
= = 1
1 5 9
• i= i = i = i
• i 2 = i 6 = i 10 = −1
• i 3 = i 7 = i 11 = −i
Portanto, sem efetuar cálculos, sabemos que os próximos são
15
i 13 = i , i 14 = −1 e i = −i .
Mas como você faria para calcular para um expoente qualquer,
por exemplo, i 62 ? Uma maneira é dividir o expoente por 4 e, se o
resto for:
• 0, o valor é 1.
• 1, o valor é i .
• 2, o valor é −1.
• 3, o valor é −i
Efetue a divisão e calcule i 62 .

U4 - Números complexos 207


Exemplificando
n
Ao contrário do que você pode ter imaginado, a propriedade para i
não é muito útil para calcular a potência de um número complexo na
forma algébrica.

Nesse momento, para realizar um cálculo desse tipo, ainda devemos


realizar uma multiplicação de fatores iguais. Por exemplo, para
calcularmos z 3 , com z = 2 + 3i , efetuamos:

z3 = z ⋅ z ⋅ z =
= ( 2 + 3i ) ( 2 + 3i ) ( 2 + 3i ) =

(
= 4 + 6i + 6i + 9i 2 ) ( 2 + 3i ) =
= ( −5 + 12i ) ( 2 + 3i ) =
= −10 − 15i + 24i + 36i 2 =
= −46 + 9i
Na próxima seção, veremos uma maneira mais prática de calcular
potenciação de números complexos, dessa vez representando o
número complexo na forma trigonométrica. Ela é chamada de primeira
fórmula De Moivre.

Sem medo de errar

Após o estudo inicial das operações fundamentais com números


complexos, vamos retomar a situação hipotética apresentada no
convite ao estudo? Vamos relembrar! Suponhamos que você é
docente de certa turma do ensino médio, em início de carreira. Para
estimular o que os alunos aprendem, você deve produzir um objeto
virtual interativo, com o objetivo de interpretar geometricamente as
operações de adição e subtração com números complexos no plano
de Argand-Gauss. Descreva, em detalhes, as etapas de elaboração
desse objeto, com base nos conteúdos desta seção.
Assim como explicado na seção anterior, represente dois números
complexos por vetores no plano de Argand-Gauss, digamos z1 = −2 + 4i
e z2 = 6 + i . Depois, faça a translação do vetor z1 , fazendo com que
a origem dele coincida com a extremidade de z2 . Para isso, com a

208 U4 - Números complexos


ferramenta Vetor a partir de um ponto selecionada, clique em z1
e, depois, na extremidade de z2 , não nessa ordem necessariamente.
Desse modo, a solução geométrica de z1 + z2 = 4 + 5i é dada
pelo vetor que tem como origem o ponto ( 0, 0 ) e extremidade igual
à do vetor z1 transladado.
Durante a construção, é importante utilizar várias imagens obtidas
por captura da tela. Também é interessante incluir na janela de
visualização dois campos de Texto para a exibição dos vetores z1 ,
z2 e z1 + z2 na forma algébrica.
Ao final, você deverá obter uma figura, como a exemplificada a
    
seguir, na qual os vetores u , v , b , w e c representam o número
complexo z1 , o número complexo z2 , a translação de z1 , a translação
de z2 e o número complexo z1 + z2 , respectivamente.

Figura 4.8 | Imagem obtida por captura de tela na representação dos vetores
correspondentes aos números complexos z1 = −2 + 4i , z2 = 6 + i e z1 + z2 = 4 + 5i
pelo software GeoGebra

Fonte: elaborada pelo autor.

Note que, se ao invés de transladar o vetor z1 , tivéssemos


transladado o vetor z2 , seguindo o mesmo procedimento, o resultado
seria o mesmo. Desse modo, os quatro vetores formam, no plano

U4 - Números complexos 209


complexo, um paralelogramo, e é por isso que esse procedimento é
conhecido por Regra do paralelogramo.
Agora, com a ferramenta Mover selecionada, é possível
manipular z1 e z2 e verificar que a ideia da construção para z1 + z2 é
mantida para quaisquer números complexos z1 e z2 . Já para o caso
da subtração, basta lembrar que z1 − z2 = z1 + ( − z2 ) e proceder de
maneira semelhante, dessa vez, ao invés de z2 , devemos representar
seu oposto −z2 .
Que tal descrever com mais detalhes e utilizando várias imagens
obtidas por captura de tela? O GeoGebra está disponível gratuitamente
para download no endereço <https://www.geogebra.org/download>
(Acesso em: 9 jun. 2017). Também é possível realizar essa construção
online, ou seja, sem a instalação do software no computador, em:
<https://www.geogebra.org/apps/>. Acesso em: 9 jun. 2017.

Avançando na prática

Algumas propriedades dos números complexos


Descrição da situação-problema
Suponha que você é docente de certa turma do ensino médio,
a qual está estudando os números complexos, especificamente as
propriedades operatórias da adição, da multiplicação e do conjugado
desses números. Considere que, em uma das aulas, você propôs aos
alunos que demonstrassem a propriedade distributiva da multiplicação
em relação à adição, mas muitos deles demonstraram dificuldade.
De modo geral, eles se confundem nas etapas em que é preciso
remanejar termos para chegar à expressão final.
Que tal elaborar um plano de aula, com o objetivo de proporcionar
uma apreensão significativa das demonstrações matemáticas,
envolvendo as propriedades operatórias dos números complexos?

Resolução da situação-problema
Ao definir as operações de adição e multiplicação com números
complexos, é possível verificar algumas propriedades que facilitam
cálculos envolvendo esses números.

210 U4 - Números complexos


Vamos listar algumas delas, que são válidas para todo z1 , z2 e z3
em :
1. Associativa da adição: ( z1 + z2 ) + z3 = z1 + ( z2 + z3 ) .
2. Associativa da multiplicação: ( z1 ⋅ z2 ) ⋅ z3 = z1 ⋅ ( z2 ⋅ z3 ) .
3. Comutativa da adição: z1 + z2 = z2 + z1 .
4. Comutativa da multiplicação: z1 ⋅ z2 = z2 ⋅ z1 .
5. Distributiva da multiplicação em relação à adição:
z1 ⋅ ( z2 + z3 ) = z1 ⋅ z2 + z1 ⋅ z3
6. Propriedades do conjugado:
a. z + z = 2 ⋅ Re ( z )
b. z − z = 2 ⋅ Im ( z ) ⋅ i
c. z = z ⇔ z ∈
d. z1 + z2 = z1 + z2
e. z1 ⋅ z2 = z1 ⋅ z2
Para demonstrar a propriedade (5), proposta na descrição da
situação-problema, vamos utilizar, de maneira recursiva, a definição
de multiplicação ( a + bi ) ⋅ ( c + di ) = ( ac − bd ) + ( ad + bc ) i . Vejamos:
12
4 4 3 12 4 4 3
z1 z2

z1 ⋅ ( z2 + z3 ) = ( a + bi ) ( c + di ) + ( e + fi )  =
= ( a + bi ) ( ce − df ) + ( cf + de ) i  =
= a ( ce − df ) − b ( cf + de ) + a ( cf + de ) + b ( ce − df )  i =
cf − bde + ( acf + ade + bce − bdf ) i =
= ace − adf − bc
= ( ac − bd ) e − ( ad + bc ) f + ( ac − bd ) f + ( ad + bc ) e  i =
= ( ac − bd ) + ( ad + bc ) i  ( e + fi ) =
= z1 ⋅ z2 + z1 ⋅ z3
Agora, elabore um plano de aula para arquivar a demonstração
dessa e das demais propriedades.
Se julgar conveniente, ao invés de utilizar a forma algébrica
z = a + bi , você pode representar o número complexo por um par
ordenado de números reais ( a, b ) , como foi sugerido por Hamilton
na seção Pesquise mais desta unidade.

U4 - Números complexos 211


Faça valer a pena

1. Dados dois números complexos z1 = a + bi e z2 = c + di , com z2 ≠ 0 ,


para realizar a divisão entre z1 e z2 , devemos multiplicar o numerador e o
denominador pelo conjugado do denominador, ou seja:
z1 z1 ⋅ z2
=
z2 z2 ⋅ z2
Com base nisso, assinale a alternativa que contém o valor de a para que o
−3 + 2i
resultado da divisão seja real.
a−i
2
a)
3
3
b)
2
c) 1
1
d)
2
1
e)
3

2. Sabemos que, para realizar uma divisão com números complexos,


devemos multiplicar o numerador e o denominador pelo conjugado do
denominador. Então, considere um número complexo na forma algébrica
z = a + bi . Considere ainda que z ≠ 0, assim seu conjugado z também
é diferente de zero.
Assinale a alternativa que contém o inverso multiplicativo de z , que pode
−1 1 1
ser indicado por z ou , tal que z ⋅ = 1.
z z
z
a)
a2 + b2
z2
b) 2
a + b2
z
c)
(a + b )
2

z
d)
a+b
z
e) 2
a + b2
3. Uma equação quadrática ax 2 + bx + c = 0 tal que ∆ = b2 − 4ac < 0

212 U4 - Números complexos


só admite solução no conjunto dos números complexos , pois nele
consideramos i = −1 − . Nesse caso, a solução é dada por um par de
números complexos conjugados.
Assinale a alternativa que contém o par de números complexos conjugados
que são soluções da equação quadrática x 2 + 4 x + 5 = 0 .
a) 2 + i e 2 − i .
b) −2 + i e 2 − i .
c) −1 + 2i e −1 − 2i .
d) −2 + i e −2 − i .
e) 2 + i e −2 − i .

U4 - Números complexos 213


214 U4 - Números complexos
Seção 4.3
Forma trigonométrica ou forma polar de um
número complexo
Diálogo aberto

Conforme estudamos nas seções anteriores, os números


complexos podem ser representados de várias formas. Até agora
vimos a forma algébrica z = x + yi e a forma geométrica, por meio de
um par ordenado de números reais ( x, y ) , que são as coordenadas
cartesianas do ponto z . Foi Jean Robert Argand (1768-1822) e Karl
Friedrich Gauss (1777-1855) que, de forma independente e em épocas
distintas, tiveram a mesma ideia para a representação geométrica, e
eles só usavam a notação ( x, y ) . É por isso que o plano complexo é
conhecido por plano de Argand-Gauss (BOYER, 1974).
Mas qual a vantagem em representar geometricamente um
número complexo no plano? Veja um trecho extraído do livro
Introdução à história da matemática, de Howard Eves:

A simples ideia de considerar as partes real e imaginária


de um número complexo como as coordenadas
retangulares de um ponto do plano fez com que os
matemáticos se sentissem muito mais à vontade com
os números imaginários, pois esses números podiam
agora ser efetivamente visualizados, no sentido de que
a cada número complexo corresponde um único ponto
do plano e vice-versa. Ver é crer, e ideias anteriores
sobre a não existência e o caráter fictício dos números
imaginários foram geralmente abandonadas. (EVES,
2004, p. 522-4)

Ainda respondendo à pergunta anterior, o conjunto dos números


reais representa, em sua totalidade e geometricamente, uma reta,
à qual podemos associar apenas dois parâmetros: um sentido e a
distância dos pontos à origem. Já os números complexos, por sua
vez, representam todo um plano. Nesse caso, a principal vantagem

U4 - Números complexos 215


é que, no plano de Argand-Gauss, podemos associar a cada
número complexo um segmento, ao qual podemos determinar o
comprimento e o ângulo formado com o eixo das abscissas. Nesta
seção, veremos que esses parâmetros, que são as coordenadas
polares do ponto z, permitem representam um número complexo
na forma trigonométrica ou forma polar.
E falando em comprimento e ângulo de um segmento, vamos
voltar também à situação hipotética apresentada no convite ao estudo?
Suponhamos que você é docente de certa turma do ensino médio,
em início de carreira. Para estimular que os alunos aprendam, você
deve produzir um objeto virtual interativo, com o objetivo de explorar
novamente a interpretação geométrica, dessa vez relacionada à ideia
de rotação de um ponto no plano de Argand-Gauss.
Você conseguiria descrever todas as etapas de elaboração desse
objeto, com base nos conteúdos desta seção? Uma maneira de fazer
isso é através de um plano de aula contendo o passo a passo da
construção desse objeto, utilizando, sempre que possível, imagens
obtidos por captura de tela do software GeoGebra.

Não pode faltar

Vamos considerar um número complexo z = a + bi , cuja


representação geométrica é o ponto P ( a, b ) no plano de Argand-
Gauss. Consideramos ainda, um segmento OP , tal que O é a origem
do plano. Desse modo, podemos calcular o comprimento de OP e o
ângulo formado entre ele e o eixo real, no sentido anti-horário.
Em linguagem vetorial, o comprimento do segmento OP é
chamado de módulo do número complexo z , o qual indicamos por
z . Já o ângulo α , tal que 0 ≤ α < 2π , é chamado de argumento de
z , o qual indicamos por arg ( z ) .

216 U4 - Números complexos


Figura 4.9 | Módulo e argumento de um número complexo z trigonométrico

Fonte: elaborada pelo autor.

Para o comprimento, vamos adotar que a unidade de medida é a


mais intuitiva, ou seja, que a unidade que separa dois números inteiros
consecutivos de cada eixo.
Utilizando o teorema de Pitágoras, podemos calcular o
comprimento de OP :

(OP )
2
= a2 + b2 ⇒ z = a2 + b2

Veja alguns exemplos:


• z = 3 + 4i
z = 32 + 42 = 25 = 5

O segmento OP mede 5 unidades.

Figura 4.10 | Módulo de z = 3 + 4i

Fonte: elaborada pelo autor.

U4 - Números complexos 217


• z = −5 − 3i
( −5 ) + ( −3 ) = 34
2 2
z =

O segmento OP mede 34 unidades.

Figura 4.11 | Módulo de z = −5 − 3i

Fonte: elaborada pelo autor.

Ainda em relação ao módulo de um número complexo, temos


algumas propriedades:
2
z⋅z = z

z = z

z ⋅ z = z1 ⋅ z2
• 1 2
z z1
• 1 = , com z2 ≠ 0
z2 z2

A demonstração de cada uma delas fica como exercício.

Forma trigonométrica ou forma polar de um número complexo


Agora, vamos relacionar o módulo de z com o ângulo formado
entre OP e o eixo real, no sentido anti-horário, ou seja, o argumento
de z .

218 U4 - Números complexos


Figura 4.12 | Triângulo retângulo obtido pelo ponto P ( a, b )

Fonte: elaborada pelo autor.

Já estudamos, na Unidade 1 deste livro, que:


a
cos α = ⇒ a = z ⋅ cos α
z

b b
sen α = cos α =
⇒ b = z ⋅ sen ⇒ b = z ⋅ cos α
z z

Substituindo esses valores na forma algébrica z = a + bi , temos:


z = a + bi = z ⋅ cos α + z ⋅ sen α ⋅ i = z ( cos α + i sen α )

Portanto:
z = z ( cos α + i sen α )

Essa representação é chamada de forma trigonométrica, ou


forma polar do número complexo z .

Multiplicação, divisão e potenciação de números complexos na


forma trigonométrica
Vamos estudar algumas operações com números complexos na
forma trigonométrica. Antes, porém, vamos relembrar duas fórmulas
de transformação estudadas na Unidade 2:

Seno da soma e da diferença:


sen ( a + b ) = sen a ⋅ cos b + sen b ⋅ cos a (I)

U4 - Números complexos 219


sen ( a − b ) = sen a ⋅ cos b − sen b ⋅ cos a (II)
Cosseno da soma e da diferença:
cos ( a + b ) = cos a ⋅ cos b − sen a ⋅ sen b (III)
cos ( a − b ) = cos a ⋅ cos b + sen a ⋅ sen b (IV)

Agora, considere os números complexos z1 e z2 :


z1 = z1 ( cos α1 + i sen α1 )
z2 = z2 ( cos α 2 + i sen α 2 )

O produto z1 ⋅ z2 é dado por:

z1 ⋅ z2 = z1 ( cos α1 + i sen α1 ) ⋅ z2 ( cos α 2 + i sen α 2 )

(
= z1 z2 cos α1 cos α 2 + i cos α1 sen α 2 + i sen α1 cos α 2 + i 2 sen α1 sen α 2 )
= z1 z2 cos α1 cos α 2 − sen α1 sen α 2 + i ( cos α1 sen α 2 + sen α1 cos α 2 ) 

Fazendo a substiutição das fórmulas de transformação (I) e (III), fica:


z1 ⋅ z2 = z1 z2 cos (α1 + α 2 ) + i sen (α1 + α 2 ) 

Portanto, o produto de dois números complexos z1 e z2 escritos


na forma trigonométrica é o número complexo z1 ⋅ z2 , cujo módulo
é igual ao produto dos módulos dos fatores e cujo argumento é igual
à soma dos argumentos dos fatores, reduzida à primeira volta, isto é,
0 ≤ α1 < 2π e 0 ≤ α 2 < 2π . Em outras palavras, basta multiplicar os
módulos e somar seus argumentos.
De maneira recursiva, podemos generalizar para n números
complexos:
z1 ⋅ z2 ⋅ z3 ⋅ ... ⋅ zn = z1 z2 z3 ⋅ ... ⋅ zn cos (α1 + α 2 + α 3 + ... + α n ) + i sen (α1 + α 2 + α 3 + ... + α n ) 

Considerando z = z= 1 z=2 z=3 ... = zn e, consequentemente,


α = α1 = α 2 = α 3 = ... = α n , essa fórmula nos levará à potenciação de
números complexos na forma trigonométrica:
z n = z ⋅ z ⋅ z ⋅ ... ⋅ z = z z z ⋅ ... ⋅ z cos (α + α + α + ... + α ) + i sen (α + α + α + ... + α ) 

Portanto:

220 U4 - Números complexos


z n = z cos ( nα ) + i sen ( nα ) 
n

Então, podemos dizer que a potência de ordem n de um número


complexo escrito na forma trigonométrica é o número complexo,
cujo módulo é igual ao módulo do número elevado a n e cujo
argumento é igual ao argumento do número multiplicado por n ,
reduzido à primeira volta, isto é, 0 ≤ α < 2π . Em outras palavras, basta
calcular a potência dos módulos e somar seus argumentos.

Assimile
Para um número complexo na forma trigonométrica
z = z ( cos α + i sen α ) , a potência z n , n ∈ é dada por:

z n = z cos ( nα ) + i sen ( nα ) 
n

Essa relação é conhecida como 1ª fórmula de De Moivre.

De maneira semelhante à demonstrada para a multiplicação


e fazendo a substiutição das fórmulas de transformação (II) e (IV),
z
podemos mostrar que o quociente 1 , com z2 ≠ 0, é dado por:
z2
z1 z1
= cos (α1 − α 2 ) + i sen (α1 − α 2 ) 
z2 z2 
Outra maneira de mostrar essa relação é verificando que o produto
z1
entre z2 e a expressão cos (α1 − α 2 ) + i sen (α1 − α 2 )  é igual a
z  2
z1 . Escolha um desses métodos e faça a demonstração mencionada.
Portanto, o quociente de dois números complexos z1 e z2 escritos
z
na forma trigonométrica é o número complexo 1 , cujo módulo é
z2
igual ao quociente dos módulos e cujo argumento é igual à diferença
dos argumentos, reduzida à primeira volta, isto é, 0 ≤ α1 < 2π e
0 < α 2 < 2π . Em outras palavras, basta dividir os módulos e subtrair
seus argumentos.

U4 - Números complexos 221


Reflita

Considerando os números complexos z = a + bi e w = c + di como


pontos no plano, a definição de módulo nos permite estabelecer
algumas conexões interessantes com a Geometria analítica. Uma delas
é que o módulo da diferença entre esses pontos representa a distância
entre eles:

z − w = d ( z, w ) = (c − a ) + (d − b )
2 2

Exemplificando
Você deve saber que as imagens na tela de um computador ou
televisão são formadas por pequenos pontos, chamados pixels. Se a
imagem de resolução da tela é 800x600 pixels, por exemplo, ela tem
800 ⋅ 600 = 480 000 pixels organizados em 800 colunas e 600
linhas. Quando essa imagem é refletida, rotacionada ou sua escala é
alterada, na verdade, está “mudando” a posição dos pixels que a formam.
Basicamente, essas transformações se resumem a quatro: rotação,
reflexão, escala e translação.

Podemos considerar esses pixels como sendo pontos de um plano


cartesiano. A rotação de um ponto no plano, por exemplo, é uma
interessante aplicação da multiplicação de números complexos na
forma trigonométrica, pois multiplicam-se os módulos e somam-
se os argumentos. Em outras palavras, se um ponto ( a, b ) deve ser
rotacionado no plano de Argand-Gauss em relação à origem em α
graus no sentido anti-horário, basta multiplicar o número complexo
a + bi pelo complexo 1( cos α + i sen α ) .
Considerando, por exemplo, os números complexos
z1 = 3 ( cos 30° + i sen 30° ) e z2 = 1( cos 90° + i sen 90° ) e
calculando z1 ⋅ z2 , temos:

z1 ⋅ z2 = 3 ( cos 30° + i sen 30° )  ⋅ 1( cos 90° + i sen 90° ) 
= 3 ⋅ 1cos ( 30° + 90° ) + i sen ( 30° + 90° ) 
= 3 ( cos 120° + i sen 120° )

222 U4 - Números complexos


Veja que o número complexo z1 ⋅ z2 = 3 ( cos 120° + i sen 120° )
possui módulo igual ao de z1 , pois z2 = 1. Além disso, como o
argumento de z1 ⋅ z2 é a soma dos argumentos de z1 e z2 , a
representação geométrica de z1 ⋅ z2 é igual à de z1 rotacionada 90°
em torno da origem, no sentido anti-horário.

Figura 4.13 | Representação

Fonte: elaborada pelo autor.

De modo geral, se um ponto P representa um número complexo z1


no plano de Argand-Gauss, para rotacionarmos ele em α graus em
torno da origem, no sentido anti-horário, multiplicamos z1 pelo número
complexo z2 = cos α + i sen α .

Pesquise mais
Os números complexos surgiram como uma das maiores contribuições
ao desenvolvimento da Álgebra. Em algum momento da história da
Matemática, notou-se que, para resolver equações que envolvessem
raízes quadradas de números negativos, somente os números reais
não eram suficientes, portanto precisava-se de algo a mais. A partir de
Cardano, foram muitos anos de estudos, com contribuições de diversos
matemáticos, como a formalização rigorosa de Gauss, até surgirem os
números complexos e toda a teoria matemática que estudamos até aqui.

Além de possuírem grande aplicação na área da Matemática, na


qual são estudados em geometria analítica, álgebra linear, entre
outros, sem a presença deles hoje seria impossível imaginar o
desenvolvimento de algumas áreas, como engenharia, aerodinâmica,

U4 - Números complexos 223


mecânica dos fluidos, física quântica, eletromagnetismo, relatividade,
teoria do caos, entre outras.

No link a seguir, você pode consultar um tópico específico com algumas


aplicações dos números complexos, mesmo que não tão imediatas ou
simples, o que não minimiza a importância desse assunto.

Disponível em: <http://www.ime.unicamp.br/~ftorres/ENSINO/MONOGRAFIAS/


NC2.pdf>. Acesso em: 9 jun. 2017.

Sem medo de errar

Após o estudo da forma trigonométrica ou forma polar de um


número complexo, vamos retomar a situação hipotética apresentada
no Convite ao estudo? Vamos relembrar! Suponhamos que você é
docente de certa turma do ensino médio, em início de carreira. Para
estimular que os alunos aprendam, você deve produzir um objeto
virtual interativo, com o objetivo de interpretar a ideia de rotação de
um ponto no plano de Argand-Gauss, como apresentado na seção
exemplificando.
Com base nisso, descreva, em detalhes, as etapas de elaboração
dessa representação com o auxílio do GeoGebra. Por exemplo,
para rotacionar um ponto P correspondente ao número complexo
z1 = 1 − 2i , defina esse número digitando 1 − 2i no campo Entrada.
Em seguida, represente o vetor associado a ele, assim como
explicado na Seção 4.1. Em seguida, utilizando a ferramenta Controle
Deslizante , crie o ângulo a com intervalo de variação de 0° a
360°. Depois, defina o número complexo z2 = 1( cos α + i sen α )
digitando 1* cos ( a ) + i * sin ( a ) no campo Entrada. Por fim, você
vai definir o número complexo z3 digitando z _ 1 * z _ 2 no campo
Entrada. Modifique as propriedades dos pontos para exibir o nome e
o valor. Também é importante representar os vetores associados a z2
e z3 , além do ângulo formado entre z1 e z3 .
Agora, é possível mover o controle deslizante e verificar que o
número z2 = 1( cos α + i sen α ) é responsável por rotacionar o número
z1 = 1 − 2i em torno da origem, no sentido anti-horário. O resultado
dessa rotação é o próprio número complexo z3 = z1 ⋅ z2 . Note que o

224 U4 - Números complexos


argumento de z3 corresponde ao ângulo de rotação também exibido
no controle deslizante. Para verificar que essa rotação é válida para
qualquer ponto, basta mudar a posição do número complexo z1 com
a ferramenta Mover selecionada.
Durante a construção, é importante utilizar várias imagens
obtidas por captura da tela. Ao final, você deverá obter uma figura,
como a exemplificada a seguir, na qual temos a representação
dos vetores correspondentes aos números complexos z1 = 1 − 2i ,
z2 = 1 (cos 76ϒ+ ° ) ≅ 0, 24 + 0, 97i e z3 = z1 ⋅ z2 ≅ 2,18 + 0, 49i .
° i sen 76ϒ

Figura 4.14 | Imagem obtida por captura de tela do software GeoGebra, na


representação da rotação do vetor z1 de acordo com o ângulo indicado no
controle deslizante

Fonte: elaborada pelo autor.

Que tal descrever com mais detalhes e utilizando várias imagens


obtidas por captura de tela? O GeoGebra está disponível gratuitamente
para download para computadores, tablets e celulares em:<https://
www.geogebra.org/download>. Acesso em: 9 jun. 2017.
Também é possível realizar essa construção online, ou seja, sem a
instalação do software no computador, em: <https://www.geogebra.
org/apps/>. Acesso em: 9 jun. 2017.

U4 - Números complexos 225


Agora que você elaborou três objetos virtuais com o objetivo
de explorar os conceitos estudados nas respectivas seções desta
unidade, sistematize a sucessão de três planos de aula em um único
arquivo, sugerindo o aproveitamento de um objeto para a construção
do seguinte. Durante esse processo, você pode aproveitar para
explorar outras propriedades dos números complexos.

Avançando na prática

Segunda fórmula de De Moivre


Descrição da situação-problema
Suponha que você é docente de certa turma do ensino médio, a
qual está estudando a forma trigonométrica ou polar dos números
complexos, especificamente a primeira fórmula de De Moivre.
Considere que, em uma das aulas, você propôs aos alunos que
pesquisassem e demonstrassem a segunda fórmula de De Moivre,
mas muitos deles demonstraram dificuldade. De modo geral, eles
se confundem nas operações envolvendo módulo e argumento de
um número complexo na forma trigonométrica. Que tal elaborar
um plano de aula com o objetivo de proporcionar uma apreensão
significativa dessa fórmula?

Resolução da situação-problema
A 1ª fórmula de De Moivre permite calcular a potência z n , n ∈ , para
um número complexo na forma trigonométrica z = z ( cos α + i sen α ) ,
por meio da seguinte relação:
z n = z cos ( nα ) + i sen ( nα ) 
n

Já a 2ª fórmula de De Moivre está relacionada com a radiciação


de números complexos na forma trigonométrica. Vamos calcular a
raiz enésima n z , n ∈ , ou seja:
n
z = n z ( cos α + i sen α )

Calcular essa raiz significa determinar um número complexo w tal


n
que w = z , isto é:
w n = z ( cos α + i sen α )

226 U4 - Números complexos


Vamos considerar w = w ( cos β + i sen β ) , então:
n
w n = z ⇒  w ( cos β + i sen β )  = z ( cos α + i sen α )
Ora, podemos utilizar a 1ª fórmula de De Moivre no primeiro
membro, que fica:
( cos nβ + i sen nβ ) = z ( cos α + i sen α )
n
w
Chegamos, então, a uma igualdade de números complexos na
forma algébrica. Para que a igualdade seja verdadeira, é preciso que os
módulos sejam iguais e os argumentos sejam ângulos congruentes.
Então:
n
• w = z ⇒w =n z
α + 2kπ
• n β = α + 2kπ ⇒ β = , com k ∈
n
Com isso, podemos reescrever a seguinte igualdade, agora com
w em função de k :
  α + 2kπ   α + 2kπ  
w k = n z cos   + i sen  
  n   n 
Que é conhecida como 2ª fórmula de De Moivre. Analisando os
valores de k , podemos verificar que os valores de w k começam a
se repetir após k = n − 1, pois recaem em argumentos côngruos.
Portanto, qualquer número complexo z , não nulo, admite n raízes
distintas, uma para cada valor de k variando de 0 a n − 1 .
Que tal elaborar um plano de aula para arquivar essa demonstração?
Nele você também poderá elaborar e responder a algumas questões
sugeridas para o aluno, por exemplo, para determinar e interpretar 4 1 + i .

Faça valer a pena

1. Um número complexo z pode ser representado na forma algébrica


z = a + bi , na forma geométrica ( a, b ) ou na forma trigonométrica
z = z ( cos α + i sen α ) , em que z é o módulo de z , e α é o argumento
de z .
Assinale a alternativa que contém os números complexos
 π π  7π 7π 
z1 = 2  cos + i sen  e z2 = 8  cos + i sen  na forma algébrica e
 4 4   6 6 
geométrica.

U4 - Números complexos 227


a) z1 = 2 + i 2 e z2 = −4 3 − 4i ; ( ) (
2, 2 e −4 3 , − 4 )
b) z1 = 2 − i 2 e z2 = 4 3 − 4i ; ( 2, − 2 ) e (4 3, − 4 )

c) z1 = 2 + i 2 e z2 = −4 3 + 4i ; (
) ( )
2, 2 e −4 3 , 4

d) z1 = − 2 + i 2 e z2 = −4 3 + 4i ; ( − 2, 2 ) e ( −4 3 , 4 )

e) z1 = 2 2 − i 2 e z2 = −4 3 − 4i ; ( 2, − 2 ) e ( −4 3 , − 4 )

2. Considere os seguintes subconjuntos de :


I) S1 = { z ∈ ; z = 4}
II) S 2 = { z ∈ ; z + 2i = 1}
III) S3 = { z ∈ ; z − 1 ″≤ 3}

E as seguintes circunferências ou círculos no plano de Argand-Gauss:

A)

B)

228 U4 - Números complexos


C)

Assinale a alternativa que contém a associação entre o subconjunto de e a sua


representação geométrica, com a letra e o símbolo romano correspondente.
a) I – A; II – B; III – C.
b) I – B; II – A; III – C.
c) I – B; II – C; III – A.
d) I – A; II – C; III – B.
e) I – C; II – B; III – A.

3. No plano de Argand-Gauss representado na figura a seguir, os pontos


A e B representam os afixos dos números complexos z1 e z2 .

Representação dos pontos A e B associados aos números complexos z1 e z2 ,


respectivamente.

Fonte: elaborada pelo autor.

Assinale a alternativa que contém o módulo do produto entre os


conjugados de z1 e z2 , ou seja, z1 ⋅ z2 .
a) 10
b) 6
c) 10
d) 4 5
e) 8 2

U4 - Números complexos 229


230 U4 - Números complexos
Referências
BOYER, Carl Benjamin. História da matemática. Tradução de Elza F. Gomide. São Paulo:
Edgard Blucher, 1974.
EVES, Howard. Introdução à história da matemática. Tradução de Hygino H. Domingues.
Campinas: Editora da Unicamp, 2004.
IEZZI, Gelson et al. Fundamentos de matemática elementar: complexos, polinômios,
equações. São Paulo: Atual, 1993. v. 6.
ROQUE, Tatiane. História da matemática. Rio de Janeiro: Zahar, 2012. Disponível em: <https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788537809099/cfi/6/24!/4/462/2@0:0>.
Acesso em: 12 jul. 2017.

U4 - Números complexos 231

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