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Universidade de Aveiro Departamento de Matemática

2019/2020 1.o semestre

Cónicas e Quádricas

Capı́tulo 6 ALGA - agrupamento I 1 / 21


Equação geral de uma cónica ou quádrica

Se A ∈ Mn é simétrica não nula, B ∈ M1×n e k ∈ R, então

X TA X + B X = k (∗)

é a equação geral, na forma matricial, de uma superfı́cie algébrica de segundo grau Υ,

sendo X ∈ Rn a colunas das variáveis.

Se n = 2, então Υ é uma cónica (curva em R2 , resultante da interseção entre um plano e


uma superfı́cie cónica). Se n = 3, então Υ é uma quádrica (uma superfı́cie em R3 ).

Exemplo 1

A equação x2 + y 2 + 4 xy + 2 x −2 y = 6 representa uma cónica.


Pode escrever-se esta equação na forma matricial (∗) com
   
1 2   x
A= , B = 2 −2 , X= , k = 6.
2 1 y

Capı́tulo 6 ALGA - agrupamento I 2 / 21


Equação reduzida às direções principais

Quando a matriz simétrica A não é diagonal, simplifica-se a equação da superfı́cie.

Seja B = (X1 , . . . , Xn ) uma base o.n. de vetores próprios de A e P a matriz de


colunas X1 , . . . , Xn . Ora P = MBc ←B é uma matriz ortogonal:

P TA P = D

é diagonal com os valores próprios de A na diagonal principal.

Considerando X = P Y e B0 = B P ,

X TA X + B X = k ⇔ Y T D Y + B 0 Y = k,

obtém-se a equação de Υ num novo referencial cartesiano (obtido por rotação dos

eixos), chamada equação reduzida às direções principais.

Os eixos do novo referencial cartesiano têm a direção dos vetores próprios da base B.

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Equação reduzida ao centro

Se B 0 é não nula, simplifica-se de novo a equação. Tomando Y = Z + C,

Y TD Y + B 0 Y = k ⇔ Z TD Z + (2 C TD + B 0 ) Z = k0

com k0 = k − (B 0 + C TD)C , obtém-se a equação de Υ num referencial cartesiano


com uma nova origem (obtido por uma translação dos eixos).

Se existe C tal que 2 C TD = −B 0 , a superfı́cie Υ é centrada e satisfaz a equação


reduzida ao centro e às direções principais:

Z T D Z = k0
com k0 = k − 21 B 0 C .

Nota: A superfı́cie Υ é centrada ⇔ AX = − 21 B T representa um sistema possı́vel


⇔ car [A|B T ] = car A.

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Exemplo 1 (continuação do slide 2)

Para determinar uma equação reduzida e classificar a cónica, observa-se que


   √ √ 
2 2
3 0
PTAP = D com D=  e P = 2
√ 2
√ 
2
0 −1 2
− 22

uma matriz ortogonal (pelo slide 14 do Capı́tulo 5). Se X = P Y , então

X TA X + B X = 6 ⇔ Y T D Y + B 0 Y = 6,

sendo
0
 √ 
B = BP = 0 2 2 .
 
x0
Considerando Y = , obtém-se a equação reduzida às direções principais:
y0

0 2
√ 0 0 2
3(x ) −1 (y ) + 2 2 y = 6.

Eliminou-se assim o termo ’cruzado’ (o termo em xy ) da equação inicial da cónica.


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Como B 0 é não nula, efetua-se nova mudança de variável:

0 2
√ 0
0 2 0 2 02
√ 0
(x ) −(y ) + 2 2 y = 6 ⇔ 3(x ) − (y − 2 2 y + 2) = 6 − 2

0 2
√ 0
⇔ 3 (x ) − (y − 2)2 = 4
|{z} | {z }
x00 y 00

(x00 )2 (y 00 )2
⇔ 4 − = 1,
3
4

obtendo-se a equação reduzida ao centro e às direções principais de uma hipérbole.

Nota: Se o 2o membro na equação inicial da cónica tivesse k = 2, obter-se-ia

00 2 00 2
√ 0000
3(x ) − (y ) = 0 ⇔ y = ± 3x ,

a equação reduzida de duas retas concorrentes (caso de uma hipérbole degenerada).

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Exemplo 2

Vamos determinar uma equação reduzida e classificar a cónica definida por

2x2 + 12x − 3y + 21 = 0.

Não existe termo ’cruzado’, logo a matriz A já é diagonal.

Portanto, basta efetuar uma mudança de variável:


2 2

2x + 12x − 3y = −21 ⇔ 2 x + 6x + 9 − 3y = 18 − 21

⇔ 2 (x + 3)2 = 3 (y − 1)
| {z } | {z }
x0 y0

0 2
⇔ y = (x0 )2 ,
3
obtendo-se a equação reduzida de um parábola.

A parábola é uma cónica não centrada.

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Exemplo 3

Vamos determinar uma equação reduzida e classificar a quádrica representada por

−8x2 − 8y 2 + 10z 2 + 32xy − 4xz − 4yz = 24.

Esta é equivalente à equação, na forma matricial, X TAX


= 24, em que
   
x −8 16 −2
   
X= y 

 e A =  16 −8 −2 


z −2 −2 10

é uma matriz simétrica de valores próprios 12, 6 e −24. Então existe P ortogonal:
 
12 0 0
T
 
P AP = D com D=  0 6 0 .

0 0 −24
T
 0 0 0
Se X = P Y e tomando Y = x y z , tem-se

Capı́tulo 6 ALGA - agrupamento I 8 / 21


X T A X = 24 ⇔ Y T D Y = 24 ⇔ 12(x0 )2 + 6(y 0 )2 − 24(z 0 )2 = 24.

Obtém-se a seguinte equação reduzida de um hiperbolóide de uma folha:

(x0 )2 (y 0 )2
+ − (z 0 )2 = 1.
2 4

Note que a interseção da quádrica com o plano


(y 0 )2
 x0 = 0 é − (z 0 )2 = 1 (uma hipérbole no plano y0 O z0 );
4
(x0 )2
 y 0 = 0 é − (z 0 )2 = 1 (uma hipérbole no plano x0 O z0 );
2
0
(x0 )2 (y 0 )2
 z = 0 é + = 1 (uma elipse no plano x0 O y0 ).
2 4

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Equações reduzidas das cónicas

Equação reduzida de uma elipse:


  
x2 y2   1/a2 0 x
+ = 1 ⇔ x y    = 1.
a2 b2 0 1/b2 y

y (0, b)
a>b>0

(−a, 0) (a, 0)
x

(0, −b)

No caso particular a = b, tem-se uma circunferência.

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Equação reduzida de uma hipérbole:

  
x2 y2   1/a2 0 x
− = 1 ⇔ x y    = 1.
a2 b2 0 −1/b2 y

y
a, b > 0

(−a, 0) (a, 0)
x

As assı́ntotas desta hipérbole são as retas y = ± ab x.

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Equação reduzida de uma parábola:

    
2 a 0 x x
y = ax ⇔ [x y]    + [0 − 1]   = 0.
0 0 y y

a>0

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Cónicas degeneradas

Exemplos

x2 y2
1. a2 + b2
= 0 → um ponto: (x, y) = (0, 0) (a origem do referencial);

x2 y2
2. a2 + b2
= −1 → conjunto vazio

x2
3. a2 = 0 → duas retas coincidentes: x = 0 (o eixo Oy);

x2
4. a2 = 1 → duas retas estritamente paralelas: x = ±a;

x2 y2
5. a2 − b2
= 0 → duas retas concorrentes: y = ± ab x.

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Equações reduzidas das quádricas

Equação reduzida de um elipsóide:

x2 y2 z2
+ + = 1.
a2 b2 c2

No caso particular a = b = c, tem-se uma superfı́cie esférica.

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Equação reduzida de um Equação reduzida de um

hiperbolóide de uma folha: hiperbolóide de duas folhas:

x2 y2 z2 x2 y2 z2
+ − = 1. − − = 1.
a2 b2 c2 a2 b2 c2

Capı́tulo 6 ALGA - agrupamento I 15 / 21


Equação reduzida de uma superfı́cie cónica (caso de um hiperbolóide degenerado):

x2 y2 z2
+ − = 0.
a2 b2 c2

Nota: No elipsóide e nos hiperbolóides, as três variáveis figuram na equação com grau 2.

Capı́tulo 6 ALGA - agrupamento I 16 / 21


Equação reduzida de Equação reduzida de Equação reduzida de

um cilindro elı́tico: um cilindro hiperbólico: um cilindro parabólico:

x2 y2 x2 y2
+ = 1. − = 1. y = ax2 .
a2 b2 a2 b2

Nota: Nos cilindros, uma das variáveis não figura na equação.

Capı́tulo 6 ALGA - agrupamento I 17 / 21


Equação reduzida de um Equação reduzida de um

parabolóide elı́tico: parabolóide hiperbólico:


x2 y2 x2 y2
z= + . z= − .
a2 b2 a2 b2

Nota: Nos parabolóides, uma das variáveis figura na equação com grau 1.

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Anexo I - Cónicas

2
Identificação da cónica representada pela equação λ1 x + λ2 y 2 = k.

k λ1 > 0 elipse

Caso 1. λ1 e λ2 têm o mesmo sinal k λ1 < 0 conjunto vazio

k=0 ponto (0, 0)

Caso 2. λ1 e λ2 têm sinais contrários


k 6= 0 hipérbole
q
λ
k=0 2 retas concorrentes y = ± − λ1 x
2

2
Identificação da cónica representada pela equação λ1 x + η y = k.

η 6= 0 → parábola
q
k
k λ1 > 0 2 retas paralelas x =± λ1

η=0 → k λ1 < 0 conjunto vazio

k=0 eixo Oy

Capı́tulo 6 ALGA - agrupamento I 19 / 21


Anexo II - Quádricas

2
Identificação da quádrica representada pela equação λ1 x + λ2 y 2 + λ3 z 2 = k.

k λ1 > 0 elipsóide

Caso 1. λ1 , λ2 e λ3 têm o mesmo sinal k λ1 < 0 conjunto vazio

k=0 ponto (0, 0, 0)

Caso 2. λ1 e λ2 têm o mesmo sinal que é contrário ao de λ3


k λ1 > 0 hiperbolóide de uma folha

k λ1 < 0 hiperbolóide de duas folhas

k=0 cone

2
Identificação da quádrica representada pela equação λ1 x + η y = k.
η 6= 0 → cilindro parabólico
q
k λ1 > 0 dois planos paralelos x = ± λk
1

η=0 → k λ1 < 0 conjunto vazio

k=0 plano yOz

Capı́tulo 6 ALGA - agrupamento I 20 / 21


2
Identificação da quádrica representada pela equação λ1 x + λ2 y 2 + η z = k.

Caso 1. λ1 e λ2 têm o mesmo sinal

η 6= 0 → parabolóide elı́tico

k λ1 > 0 cilindro elı́tico

η=0 → k λ1 < 0 conjunto vazio

µ=0 eixo Oz

Caso 2. λ1 e λ2 têm sinal contrário

η 6= 0 → parabolóide hiperbólico

k 6= 0 cilindro hiperbólico
q
λ
η=0 → 2 planos concorrentes y = ± − λ1 x
2
k=0
que se intersectam no eixo Oz

Capı́tulo 6 ALGA - agrupamento I 21 / 21

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