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O Liberalismo – ideologia e revolução, modelos e

práticas nos séculos XVIII e XIX


11ºano – Modulo 5 – Unidade 4

A IMPLEMENTAÇAO DO LIBERALISMO EM PORTUGAL:

Antecedentes e conjuntura (1807 - 1820)

- No início do século XIX, Portugal era um país típico do Antigo regime;

- Governado pelo príncipe D. João (futuro d. João VI), a agricultura era a principal atividade
económica e a sociedade continuava com os antigos privilégios da nobreza e clero;

- Nos principais centros urbanos, uma burguesia comercial ligada aos tráfegos do Brasil,
ansiava pela mudança.

- Os ideias da Revoluçao Francesa (liberdade, igualdade e fraternidade) começavam a


espalhar-se por todo o lado.

- Muitos destes ideais propagavam-se através de lojas maçónicas, pelo fim dos privilégios
sociais, dos constrangimentos religiosos, do fanatismo, ou seja, da tirania.

O que é a maçonaria?

 É uma sociedade secreta, cujos membros cultivam os princípios da liberdade,


igualdade, fraternidade e aperfeiçoamento intelectual.
 Os maçons estruturam-se e reúnem-se em células autónomas, designadas por lojas,
todas iguais em direitos e honras e independentes entre si.

- No início do século XIX, as invasões francesas vão proporcionar grandes transformações em


Portugal;

AS INVASÕES FRANCESAS E A DOMINAÇÃO INGLESA EM PORTUGAL

- Em 1806, Napoleão Bonaparte decreta o Bloqueio Continental (impedimento dos países


europeus comerciarem com Inglaterra);

- Portuga continuava fiel à sua velha aliada (Inglaterra) e, após muita hesitação, não aceitou o
bloqueio;

- Esta escolha custou ao país de 1807 a 1811 a invasão por parte da França por três vezes em
Portugal. Foram comandadas, sucessivamente pelo general Junot, Soult e Massena;

- A família real portuguesa refugiou-se no Brasil, e a colónia passou a ser a sede do governo;

Consequências:

- As invasões francesas devastaram o país, e a fuga da família real para o Brasil implicou o
domínio político e económico por parte do Ingleses.
- Destruíram o país, sobretudo na região norte, afetada pela violência dos combates e pela
excessiva crueldade do exército francês:

 As atividades económicas (agricultura, comercio e indústria) foram profundamente


afetadas;
 Os mosteiros, palácio e igrejas foram saqueados;
 D. João VI, prolongou até 1821, a sua permanência no Brasil e em 1815, o Brasil é
proclamado reino.

- O marechal Beresford (inglês), incumbido de reorganizar o exército, tornou-se o comandante


do exército português, os mais altos cargos militares foram ocupados por ingleses;

- Beresford exerceu um rigoroso poder sobre o Estado e a economia;

- Este reativou a Inquisição e encheu prisões de suspeitos de serem jacobinos;

- Em 1817, o general Gomes Freire Andrade, e mais 11 oficiais do exército português foram
executados, por serem suspeitos de estarem envolvidos numa conspiração;

- Enquanto isso, a situação económica do país tornava-se deplorável;

- As despesas ultrapassavam as receitas, a economia definhava;

- Em 1808, os portos do Brasil, são abertos ao comercio internacional, levando ao fim do


monopólio colonial;

- Para esta situação contribuíram:

 A abertura dos portos do Brasil, em 1808 ao comércio internacional;


 O tratado de comércio em 1810 com a Grã-Bretanha, este é uma espécie de reedição
do Tratado de Methuen, as mercadorias britânicas tinham grandes facilidades para
serem comercializadas em Portugal;

- A perda da exclusividade comercial com o Brasil, revelou-se desestruturante para a economia


portuguesa.

- A Burguesia Portuguesa sofreu, sérios prejuízos, sendo privada de importantes tráficos.

A Rebelião em Marcha:

- A burguesia começou a agitar-se;

- No Porto, em 1817, Manuel Fernandes Tomás, funda uma associação secreta, o Sinédrio, que
defendia os princípios do liberalismo;

- A maior parte dos seus membros pertenciam à maçonaria;

- Em janeiro de 1820, em Espanha, ocorre uma revolução liberal, que restaurou a Constituição
de 1812 (liberal) que deixara de vigorar por causa da reação absolutista de 1814; Assim, a
Espanha tornou-se um centro de agitação e de propaganda política liberal;

- Em março de 1820, Beresford, embarcou para o Brasil para solicitar ao rei dinheiro para o
pagamento de despesas militares e mais poderes para reprimir a agitação que alastrava em
Portugal;
- Os membros do Sinédrio aproveitaram a ausência de Beresford, desencadeando-se, assim,
uma revolução liberal a 24 de agosto de 1820;

CONSEQUENCIAS DAS INVASOES FRANCESAS:

- A família real foge para o brasil;

- Na ausência do rei os ingleses dominam o povo português. Perseguição aos jacobinos;

- As invasões francesas contribuíram para a divulgações das ideias liberais;

- As invasões foram responsáveis pela destruição e desorganização da produção económica;

- A abertura dos portos brasileiros aos comercio internacional;

- Tratado de comercio com a Inglaterra que abria o mercado nacional aos têxteis ingleses;

- A burguesia foi muito afetada economicamente;

A REVOLUÇÃO DE 1820 E AS DIFICULDADES DE IMPLANTAÇÃO DA ORDEM LIBERAL (1820 -


1834)

- No dia 24 de agosto de 1820, no Porto, deu-se um levantamento militar com o apoio da


burguesia comercial e até de alguns proprietários rurais de origem aristocrática;

- Militares, burguesia comercial e proprietários rurais estavam unidos contra a dominação


inglesa porque todos se sentiam prejudicados;

- Os revoltosos constituíram uma “Junta Provisional do Supremo Governo do Reino”;

- Manuel Fernandes Tomas redigiu o “Manifesto dos Portugueses” para dar a conhecer os
objetivos do movimento;

OBJETIVOS DO MOVIMENTO DE 1820:

 Respeito pela monarquia e pelo catolicismo;


 Apelam à aliança com o rei;
 Pretendiam convocar novas Cortes para redigirem uma Constituição para Portugal;
 Defesa dos direitos portugueses;
 A implementação de um governo justo e eficaz;

- A revolução encontrou por todo o país uma forte adesão;

- A 15 de setembro, em lisboa, um grupo de oficiais do exército, expulsaram os regentes e


constituíram um governo interino;

- A 28 de setembro, os governos do porto e lisboa fundiram-se numa nova “Junta Provisional


Do supremo governo do reino”;

- Freire de Andrade é eleito presidente;

- Manuel Tomás, encarregado dos negócios do reino e da fazenda;


- O governo exerceu funções por 4 meses, e organizou eleições para as cortes constituintes
que iniciaram os seus trabalhos a 24 de janeiro de 1821;

- A revolução tinha triunfado sem violência;

A CONSITUTIÇÃO DE 1822:

- Coube às Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa, reunidas desde


janeiro de 1821, a elaboração do mais antigo texto constitucional português, decretado pelo
rei D. João VI a 1 de outubro de 1822;

- A Constituição de 1822 é baseada na Constituição espanhola de 1812 e nas Constituições


francesas de 1791, 1793 e 1795, esta:

- Reconhece os direitos e os deveres do individuo, garantindo liberdade, segurança,


propriedade e igualdade perante a lei;

- Afirma a Soberania da Nação;

- O direito de voto é concebido a todos os homens com mais de 25 anos, que


soubessem ler e escrever;

- A eleição direta dos deputados;

- Aceita a independência dos poderes legislativo, executivo e judicial.

- Não reconhece qualquer privilégio à nobreza e ao clero;

- Submete o poder real à supremacia das Cortes Legislativas.

- A Constituição de 1822, foi fruto da ala mais radical dos deputados presentes às Cortes
Constituintes, cuja a ação é conhecida por Vintismo.

- Nas cortes constituintes defrontam-se duas fações, a do vintismo, mais radical e democrática
e a dos moderados, estes pretendiam uma constituição mais moderada;

- As questões mais polêmicas desenrolaram-se em torno da questão religiosa, da estrutura


das câmaras e da natureza do veto régio;

- No que toca à religião:

 Os deputados conservadores entendiam que o catolicismo deveria ser a única religião


permitida no reino, ao mesmo tempo que defendiam uma censura prévia aos escritos
sobre a Igreja e Religião.

- Sobre as Cortes Legislativas:

 Os deputados conservadores defendiam a existência de duas câmaras (sistema


inglês), uma Câmara de Deputados do Povo e outra Câmara Alta para representar as
classes superiores;
 Mas ala radical presente nas Constituintes impôs a solução oposta – Câmara única.

- Em relação ao veto do rei, ficou decidido que quando este não concordasse com uma lei, o
monarca poderia enviare-la ao Congresso, mas esta seria definitiva e de aceitação obrigatória
para o rei;
- No fundo a verdadeira Soberania residia nas Cortes, representativas da Nação.

Precariedade da legislação vintista de caracter socioeconómico

- As cortes legislaram em muitos domínios no sentido de erradicarem as estruturas do Antigo


Regime:

 Estabelece uma monarquia Constitucional;


 Extinção da Inquisição e da censura prévia;
 Separação dos três poderes dos políticos do estado;
 Poderes do rei limitados pela constituição (o rei tem o poder executivo);
 Garante aos portugueses a liberdade, segurança e propriedade;
 Sufrágio não universal;
 As cortes criaram o primeiro banco português, o banco de lisboa;
 Os bens da coroa são transformados em bens nacionais;
 É abolido o pagamento da dizima à igreja;
 São eliminadas as justiças privadas;

- É realizada a reforma dos forais (lei dos forais) que procuraram libertar os camponeses dos
pagamentos a que eram obrigados;

- Esta reforma não atingiu totalmente os seus objetivos, a lei dos forais reduziu as rendas e
pensões o que dececionou os camponeses porque as rendas foram convertidas em dinheiro o
que gerou abusos nas conversões.

- A ação do vintismo foi contraditória:

 Adotou medidas claramente liberais;


 Mas numas cortes constituídas, maioritariamente, por burgueses proprietários rurais,
protegeu os seus interesses, mantendo privilégios para a Companhia da agricultura das
vinhas do alto douro;
 Isto levou ao descontentamento das classes populares que pretendiam uma reforma
socioeconómica mais profunda que se elimina as estruturas do antigo regime;
 O vintismo contou com a oposição das classes privilegiadas que não queriam perder
os seus direitos, e estes eram apoiados pela rainha, D. Carlota Joaquina e pelo filho D.
Miguel;

A desagregação do império atlântico: a independência do brasil

- D. João VI e a corte, residiram no Brasil entre 1807 e 1821;

- Transformada em sede da monarquia e elevada a reino em 1815, o brasil registou um


grande progresso económico, político e cultural.

- Com os portos abertos à navegação estrangeira e com muitas indústrias, de um banco, nova
divisão administrativa, de tribunais, de instituições prestigiais de ensino, biblioteca, um teatro
e uma empresa local. Apesar de tudo isto, surgiam anseios autonomistas.
- Em 1789, deu-se um motim nacionalista em Vila Rica, dirigida por estudantes e homens
esclarecidos que chegaram a projetar a independência de minas gerais e a formação de um
governo republicano.

- A revolta ficou conhecida por Inconfidência Mineira e José xavier foi o grande herói da
libertação nacional.

A atuação das cortes constituintes

- A revolução liberal de 1820 forçou a vinda de D. João VI a Portugal, porém, achava que a
independência estava para vir e por isso pediu a seu filho D. Pedro para ficar lá.

- E de facto deu-se a independência, do brasil, em 1822 e teve como motivos:

 A política antibrasileira das cortes constituintes de Portugal.


 A maioria dos deputados queria que o brasil voltasse a ser colónia.
 Por isso decidiram fazer leis no sentido de acabar com os benefícios comerciais da
antiga colónia, ao longo do reinado de D. João VI, e de o subordinar administrativa,
judicial e militarmente a Lisboa.

- As Cortes legislaram no sentido de tornar o Brasil dependente de Portugal em matérias


judiciais e administrativas.

- Foi retirada a liberdade comércio (retornava o monopólio comercial português sobre a sua
colónia);

- O príncipe regente foi chamado a Portugal, sobre o pretexto de terminar a sua educação na
Europa; D. Pedro tinha de regressar à Europa para concluir os seus estudos, mas este
desobedece.

- A independência foi proclamada por D. Pedro, nas margens do rio Ipiranga, São Paulo, 7 de
setembro de 1822;

- A independência do Brasil só foi reconhecida por Portugal em 1825;

- A independência do Brasil foi um grande fracasso para a política vintista, colocou em causa
os interesses económicos da burguesia portuguesa e comprometeu a recuperação económica
do Brasil;

- Cresceu o descontentamento da oposição;

- Entre 1823 e 1824, o vintismo entra em decadência e desaparece em 1826;

A Resistência ao Liberalismo

- A Revolução de 1820 desenrola-se no seio de uma conjuntura externa desfavorável;

- Em 1825, constitui-se a Santa Aliança, entre a Rússia, Áustria e Prússia, com a entrada da
Inglaterra, surge a Quádrupla Aliança, mais tarde a França também adere;

- Destinava-se a manter a ordem política estabelecida na Europa após o Congresso de Viena,


ou seja, tentar impedir o desenvolvimento das ideias liberais na Europa;
- O desenvolvimento em Portugal dos ideais vintistas levou a várias tentativas de estabelecer
um bloqueio comercial e no apoio fornecido à oposição absolutista portuguesa;

- A contrarrevolução absolutista conspira contra o liberalismo, são apoiados pelas fações


mais conservadoras do clero e da nobreza (que viram alguns dos seus privilégios abolidos) e
contam com a liderança da rainha, D. Carlota Joaquina e o infante D. Miguel;

- Em 1823, animados pela restauração do absolutismo em Espanha, estala uma revolta em Vila
Franca de Xira (Vila-Francada);

- A revolta é liderada por D. Miguel;

- A tentativa de rebelião termina quando D. João VI toma o comando da situação e obriga o


filho a ceder;

- D. João VI, remodela o governo, afasta os elementos mais radicais e propõe-se alterar a
Constituição;

- Apesar dos esforços de D. João VI para moderar o governo liberal, surge uma nova tentativa
de impor o absolutismo em Portugal;

- No dia 30 de abril de 1824 (Abrilada), os opositores absolutistas prendem os membros do


governo, e pretendem que o rei abdique em favor da rainha;

- D. João VI conseguiu dominar a situação, e D. Miguel foi obrigado a partir para o estrangeiro
(exilado);

A carta constitucional e a tentativa de apaziguamento político-social

- D. João VI morre em março de 1826;

- Reativam-se as tensões político-sociais;

- O filho mais velho, D. Pedro, era imperador do Brasil;

- O filho mais novo, exilado na Áustria, era adepto do Absolutismo;

- O país é governado por um Conselho de Regência provisório presidido pela filha do monarca
falecido, D. Isabel Maria;

- Este Conselho enviou ao Brasil uma delegação para resolver o problema da sucessão;

- D. Pedro foi considerado o legítimo herdeiro da Coroa Portuguesa;

- Em abril confirmou a regência da sua irmã, D. Isabel Maria;

- No final do mês concedeu um novo documento constitucional, mais conservador e


moderado que a Constituição de 1822, a Carta Constitucional;

- Este documento foi concedido e não aprovado pelos representantes do povo (parlamento);

- A Carta Constitucional introduz inovações antidemocráticas:

 As Cortes são constituídas por duas câmaras: A Câmara dos Deputados é eleita
através de sufrágio indireto, homens, com mais de 100$00 réis de renda anual líquida;
 A Câmara dos Pares (Nobreza e Clero) eram nomeados pelo rei a título vitalício;
 Ao rei era atribuído um quarto poder, o poder moderador;
 O rei nomeava os Pares, convocava as Cortes, podia dissolver a Câmara dos
deputados, podia nomear e demitir o Governo, suspender os magistrados, conceder
indultos e proibir, a título definitivo, as decisões das Cortes;
 Os direitos individuais eram afastados para o fim do documento;

- D. Pedro abdicou dos seus direitos ao trono em favor da sua filha mais velha, D. Maria (7
anos de idade);

- Ela deveria celebrar os nupciais com o seu tio D. Miguel, que deveria jurar cumprir a Carta
Constitucional e assumir a regência imediata de Portugal;

- Apesar dos poderes do rei serem manifestamente ampliados isso não foi suficiente para os
adeptos do absolutismo;

A guerra Civil

- D. Miguel regressou a Portugal em 1828;

- Convocou umas cortes ao modo do Antigo Regime (ordens) e nelas foi proclamado rei;

- Inicia uma perseguição e repressão sobre os simpatizantes do liberalismo;

- Muitos fogem para o estrangeiro e começam a organizar a resistência;

- Em 1831, D. Pedro abdica do trono brasileiro, e assume a liderança dos liberais;

- Estes organizam-se na ilha Terceira (Açores) que, entretanto, se tinha revoltado contra o
absolutismo;

- Na ilha Terceira constituem um exército de 7500 homens que em 1832, desembarca no


Mindelo (Matosinhos);

- Dirigem-se para o Porto que praticamente não ofereceu resistência;

- No entanto aí foram cercados pelo exército absolutista;

- A guerra durou 2 anos;

- Os liberais organizaram uma expedição ao Algarve, e a partir daí conseguiram conquistar


Lisboa;

- Após ser derrotado em duas batalhas (Almoster e Asseiceira), D. Miguel, assina a Convenção
de Évora-Monte e parte definitivamente para o exílio;

O novo ordenamento político e socioeconómico (1832/34-1851)

- O ministro de D. Pedro, José Mouzinho da Silveira, ministro da Fazenda e da Justiça


(1832/1833), realizou um enorme trabalho legislativo (publicação de leis) que tinham como
objetivo criar em Portugal um Estado Liberal;
Legislação de Mouzinho da Silveira:

- Agricultura: Aboliu a dízima, morgadios e forais (liberta os camponeses das dependências


tradicionais);

- Comércio: Acabou com as alfândegas internas e reduziu os impostos das exportações;

- Indústria: Acabou com os monopólios;

- Territórios: Criou o Registo Civil, dividiu o território em províncias, comarcas e concelhos;


criou circunscrições judiciais e o Supremo Tribunal de Justiça;

- Finanças: Criou os impostos a nível nacional;

- Educação e Cultura: Criou novas escolas e a Biblioteca Pública do Porto;

- O objetivo da legislação promulgada por Mouzinho da Silveira foi criar um Estado moderno e
liberal.

O setembrismo (1836/1842)

- Em setembro de 1836, dá-se uma revolução civil, que obrigou a rainha D. Maria (1826/1853)
a revogar a Carta Constitucional e a jurar a Constituição de 1822 e a convocar eleições.

- O setembrismo foi um movimento da pequena e média burguesia, apoiada pelo povo, que
reagiam contra o domínio da alta burguesia que levara o país à miséria e o governo era
acusado de corrupção.

- Os líderes setembristas eram o visconde Sá da Bandeira e Passos Manuel;

- O novo governo procurou desenvolver um país mais democrático;

- Em 1838, foi promulgada uma nova constituição (Constituição de 1838) que procurava um
compromisso entre o conservadorismo da Carta Constitucional e o radicalismo da
Constituição de 1822.

Constituição de 1838:

- O rei perde o poder moderador, mas continua com a possibilidade de proibir definitivamente
as leis;

- O voto é censitário;

- Dá relevo aos direitos individuais;

- Existem duas Câmaras: Deputados e Senadores;

- Em termos económicos:

 O governo setembrista tomou medidas protecionistas:


 Aumentando as taxas alfandegárias para as importações;
 Estimulou o associativismo comercial;
 Desenvolveram a exploração colonial em África, o tráfico de escravos foi proibido a
sul do equador, para fomentar o desenvolvimento de outras áreas económicas (não
baseadas na mão de obra escrava);
 Não aboliram as taxas fiscais aplicadas aos pequenos agricultores;
 Em termos económicos a política setembrista saldou-se por um relativo fracasso;

- Ao nível do ensino:

 promoveu a reforma do ensino primário, secundário e universitário;


 Reformaram-se as universidades;
 Foram criados os liceus, onde se lecionava um ensino moderno que preparasse os
filhos da burguesia para seguirem para estudos superiores;
 A criação dos liceus não teve efeitos imediatos, devido à falta de professores com
preparação;

- O setembrismo falhou por não ter abolido os pesados impostos que recaíam sobre os
pequenos agricultores e pelo facto de não ter aumentado as taxas dos grandes proprietários;

- Em termos de desenvolvimento industrial também se pode dizer que foi um relativo


fracasso;

- A falta de capitais para investir e o seu desvio para fins especulativos e de usura dificultou o
desenvolvimento económico;

- No entanto pode-se dizer que o governo setembrista permitiu algum desenvolvimento à


burguesia;

CABRALISMO:

- O governo setembrista enfrentou a oposição dos liberais mais radicais, como dos mais
conservadores (cartistas);

- Em fevereiro de 1842, o ministro da justiça, António Costa Cabral, através de um golpe de


estado pacifico, pôs termo à constituição de 1838, com o apoio da rainha;

- O novo governo será conhecido por cabralismo, caracteriza-se por:

 Poder autoritário, restauração da Carta constitucional e representa o regresso ao


poder da grande burguesia sob a bandeira da ordem publica e do desenvolvimento
económico.

Principais medidas do cabralismo:

- Fomento industrial (difusão do vapor);

- Desenvolvimento das obras públicas (Companhia das Obras Públicas de Portugal (1844)
(reparação e construção de estradas), construíram-se pontes, entre essas a ponte sobre o rio
Douro;

- Realizou-se uma reforma fiscal (Código Administrativo de 1842), criação do Tribunal de


Contas para fiscalizar as despesas do estado;

- A Lei da Saúde Pública (1846) proibia o enterramento nas Igrejas;


- Esta lei e o excesso de autoritarismo e burocracia do governo cabralista desencadearam
duas movimentações de cariz popular:

 Entre 1846 e 1847 vive-se num clima de guerra civil;


 Em abril/maio de 1846, no Minho, desencadeia-se a revolta da Maria da Fonte;
 A Patuleia decorre de outubro de 1846 a junho de 1847.
 Começa no Porto e alastra a todo o país.
 A razão foi o facto do não cumprimento da promessa da rainha de realizar eleições
por sufrágio direto para a Câmara dos Deputados;

- Alguns falam em renunciar a rainha e falam na implantação de uma República;

- Perante a gravidade da situação o governo pediu a intervenção da Espanha e da Inglaterra;

- Na Convenção do Gramido (Valbom, Gondomar, junho de 1847) foi assinada a paz entre as
fações em disputa (setembrista e cabralistas);

- Costa Cabral foi demitido, mas voltaria ao governo em 1849;

- Foi afastado do poder em 1851, pelo golpe militar do marechal Duque de Saldanha, que
instituiu a Regeneração (cartismo moderado).

UNIDADE 5 - O legado do Liberalismo


O legado do Liberalismo na primeira metade do século XIX
- Durante o século XIX, implantou-se um novo sistema político, económico, cultural e social, o
Liberalismo;

- A implantação do Liberalismo levou ao desaparecimento do Antigo Regime e ao início da


Idade Contemporânea;

- O Liberalismo defende os direitos do indivíduo, são os direitos naturais, são inerentes à


condição humana;

- Os direitos naturais:

 Direito à liberdade – o mais importante pois engloba todos os outros (liberdade de


expressão, liberdade de reunião, liberdade religiosa, etc.;
 Direito à igualdade – todos são iguais perante a lei. A distinção social é baseada na
riqueza dos indivíduos. A questão da escravatura (contrária aos direitos naturais
colocou-se em muitos países);
 Direito à segurança e à propriedade - a burguesia dá importância à posse de bens e
propriedades. Os mais ricos são os mais instruídos, é uma ideia típica dos liberais que
levou ao sufrágio censitário que excluía os mais pobres da vida apolítica.

- O cidadão (interveniente na política) substitui o súbdito do Antigo Regime;

- O cidadão intervém na governação, é um ator político;

- O cidadão participa na vida política como eleitor, como detentor de cargos políticos;
- O cidadão participa nas assembleias e clubes, nos grupos de discussão, escrevendo livros ou
artigos nos jornais;

- A defesa dos direitos individuais previa o direito à liberdade religiosa dos indivíduos;

- Os liberais defendem a liberdade individual (civil, religiosa, política, económica);

- No entanto esta cidadania política tinha restrições, só os cidadãos com uma razoável
situação económica tinham a possibilidade de ocupar cargos públicos;

- Considerava-se que estes cidadãos tinham mais oportunidades de se instruírem e, por


conseguinte, poderiam governar melhor;

- A burguesia aproveitou-se da situação para dominar o poder político através do sufrágio


censitário;

- O liberalismo moderado fez do Estado um defensor da ordem social burguesa;

- Para o Liberalismo moderado a soberania nacional não era igual a soberania popular, por
isso Liberalismo e Democracia são duas conceções diferentes;

O Liberalismo político; A secularização das instituições:

- O Liberalismo pretende um Estado neutro que respeite e proteja as liberdades dos cidadãos
e aplique uma lei igual para todos;

- O poder era limitado pela Constituição, pela separação dos poderes do estado, pela
soberania nacional exercida por uma representação e pela secularização das instituições;

O constitucionalismo:

- Os Liberais legitimam o seu poder através da Constituição (conjunto das leis fundamentais), é
um regime assente na ordem jurídica que substitui o Antigo Regime que estava baseado no
costume;

- Os regimes liberais podem ser monarquias ou repúblicas;

- As constituições liberais podem resultar de dois processos diferentes: votadas pelos


representantes da Nação (Constituição) ou atribuídas por um rei (Carta Constitucional);

- Os liberais moderados defendiam que devia ser o rei a conceder um documento à Nação.

- Os liberais moderados defendem a divisão dos poderes do Estado (judicial, executivo e


legislativo) como forma de evitar que um destes poderes concentre a totalidade das
competências políticas caindo assim no despotismo;

- Os liberais moderados defendem o reforço do poder executivo tal como existe em


Inglaterra;

- O reforço do poder executivo foi executado em França (Carta de 1814) e em Portugal com a
Carta Constitucional (1826);
- Os liberais moderados defendem a soberania nacional entregue a uma representação
(deputados) dos mais cultos e inteligentes que eram aqueles que eram mais abastados;

- Só os cidadãos com um determinado grau de fortuna podiam eleger e ser eleitos para o
parlamento, que exercia as funções legislativas;

- Os liberais moderados, eram, na sua maioria, defensores do bicameralismo;

- Bicameralismo – existência de duas câmaras no parlamento: Câmara Baixa – deputados


eleitos e Câmara Alta – nobres e personalidades escolhidas pelo soberano;

- Para os liberais o Estado é laico, o temporal separa-se do espiritual e as instituições são


secularizadas;

- Para os liberais a questão religiosa é íntima e pessoal e não pode ser imposta pelo Estado às
pessoas, por isso propõem a separação entre o Estado e a Igreja;

- Criaram o registo civil (nascimentos, casamentos, óbitos. No Antigo Regime esta


responsabilidade era exercida pela Igreja;

- Desenvolveram uma rede de ensino e de assistência (hospitais) laica;

- A escola pública foi um instrumento de divulgação das virtudes cívicas (fraternidade,


patriotismo, tolerância) que se pretendia substituir à fé, subserviência e caridade cristã
pregadas pelos padres;

- As expropriações e nacionalizações das propriedades das ordens religiosas debilitaram o


poder económico da Igreja;

- A Igreja submeteu-se ao poder político;

- Foram publicadas numerosas leis que retiraram ao clero privilégios;

- No século XIX e inícios do século XX assiste-se à descristianização dos costumes e até a


alguns episódios de anticlericalismo (a Igreja, é muitas vezes associada ao Antigo Regime);

- Devido à secularização (sujeição às leis da Nação) a Igreja perdeu os seus privilégios;

O Liberalismo económico: O direito à propriedade privada e à livre iniciativa

- O Liberalismo económico opõe-se à intervenção do Estado na economia;

- O liberalismo económico é o produto das ideias de Adam Smith (1723-1790), Quesnay (1694-
1774) e Gournay (1712-1759);

- Quesnay foi o criador do fisiocratismo, teoria económica que defende que a base da riqueza
de um país reside na agricultura;

- Os agricultores devem cultivar e comercializar os seus produtos livremente;

- O fisiocratismo foi a base ideológica da revolução agrícola inglesa do século XVIII;

- Gournay defendeu a liberdade de concorrência que se traduz na expressão “laissez faire,


laissez passer” (deixai fazer, deixai passar);

- É o ideal do liberalismo económico;


- Adam Smith defende que o trabalho é a verdadeira fonte de riqueza;

- A riqueza do Estado depende da existência do direito individual à propriedade privada e à


busca de fortuna; A vantagem pessoal identifica-se com o interesse da coletividade;

- Adam Smith afirmou que “Quando o indivíduo trabalha para si próprio, serve a sociedade
com mais eficácia do que quando trabalha para o interesse social”;

- Só a livre iniciativa em busca da riqueza promoveria o trabalho, a acumulação de capital e o


investimento, isto é, o progresso económico;

- Segundo este economista o Estado deve privar de participar na economia, pois o mercado
rege-se por leis próprias, a lei da oferta e da procura que se encarregariam de equilibrar o
consumo e a produção;

- Não deve existir nenhum entrave à livre concorrência;

- Adam Smith foi o grande teórico do liberalismo económico;

- O Estado não devia de ter qualquer intervenção na economia, não devia impor limites de
produção, criar monopólios, lançar impostos, ou tabelar preços ou salários;

- O Estado apenas deveria facilitar a produção, estabelecer a ordem, proteger a propriedade e


fazer funcionar a justiça;

- Adam Smith foi o grande defensor da iniciativa privada;

- Foi a afirmação dos interesses da burguesia e do capitalismo, e foi posta em prática na


maior parte dos países de regime liberal;

Os limites da universalidade dos Direitos Humanos: A problemática da abolição da


escravatura:

- Os liberais definiram a liberdade, a igualdade e a propriedade como direitos humanos


universais;

- Mas na realidade o Estado Liberal nem sempre garantiu essa universalidade; A propriedade
nunca foi um direito natural;

- A igualdade nunca foi uma realidade, o voto censitário transformava a esmagadora maioria
dos cidadãos em “cidadãos passivos”;

- O princípio da liberdade, o mais sagrado para os liberais, chocava frontalmente com a


prática da escravatura;

- Em França, os primeiros debates em relação à escravatura tiveram lugar na Assembleia


Constituinte, em maio de 1791, e foram concedidos direitos civis aos homens livres de cor,
em setembro foi abolida a escravatura na metrópole, mas continuou nas colónias;

- A polémica entre abolicionistas e defensores da escravatura vai subindo de tom; Em São


Domingos (Antilhas) eclodiu uma revolta de escravos;

- O governo da Convenção decreta a abolição da escravatura nas colónias (fevereiro de 1794);


- Perante as pressões dos grandes proprietários, em maio de 1802, Napoleão restabelece a
escravatura nas colónias;

- Só a revolução republicana de fevereiro de 1848 irá acabar definitivamente com a


escravatura;

- Nos Estados Unidos da América a escravatura, pela Constituição, estava ao critério dos
diversos estados;

- Em meados do século XIX, o Congresso americano declarou a intenção de proibir a


escravatura nos novos territórios que iriam ser convertidos em estados;

- Os estados do Sul, onde a economia assentava no cultivo de algodão e tabaco eram contra a
abolição;

- Os do Norte cuja economia dependia das atividades industriais e comerciais apoiavam as


ideias abolicionistas;

- Em 1860, é eleito presidente dos EUA, Abraham Lincoln, um defensor do abolicionismo;

- De 1861 a 1865, trava-se a Guerra da Secessão, que devastou o país;

- Em 1963, foi proclamada a abolição da escravatura nos EUA;

- Em dezembro de 1865, a 13ª emenda à Constituição dos EUA pôs fim à escravatura nos EUA;

- A 15ª emenda à Constituição (fevereiro de 1869) reconhece direitos políticos aos negros;

- Em Portugal a questão da abolição da escravatura começou pela questão de proibir o


tráfico negreiro;

- O visconde de Sá da Bandeira (governo setembrista, dezembro de 1836) decreta a proibição


de tráfico de escravos nas colónias portuguesas a sul do equador;

- Esta medida foi tomada depois da independência do Brasil e surgiu da necessidade de


promover a colonização de África;

- A Inglaterra pressionava o país para abolir a escravatura (interesse económico britânico);

- Em fevereiro de 1869, o rei D. Luís assinava o decreto emanado do governo do Marquês de


Sá da Bandeira que abolia a escravatura em todo o território nacional.

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