O documento discute o investimento em obras públicas, especialmente ferrovias, em Portugal no século XIX. A construção de ferrovias foi vista como forma de desenvolvimento econômico e aproximação da Europa. Muitos governos entre 1851 e 1890 lançaram projetos de ferrovias para impulsionar a economia, apesar de desafios técnicos e políticos. O texto analisará discursos políticos e técnicos sobre os princípios, expectativas, desafios e relações de poder em torno da construção das ferrovias portuguesas.
O documento discute o investimento em obras públicas, especialmente ferrovias, em Portugal no século XIX. A construção de ferrovias foi vista como forma de desenvolvimento econômico e aproximação da Europa. Muitos governos entre 1851 e 1890 lançaram projetos de ferrovias para impulsionar a economia, apesar de desafios técnicos e políticos. O texto analisará discursos políticos e técnicos sobre os princípios, expectativas, desafios e relações de poder em torno da construção das ferrovias portuguesas.
O documento discute o investimento em obras públicas, especialmente ferrovias, em Portugal no século XIX. A construção de ferrovias foi vista como forma de desenvolvimento econômico e aproximação da Europa. Muitos governos entre 1851 e 1890 lançaram projetos de ferrovias para impulsionar a economia, apesar de desafios técnicos e políticos. O texto analisará discursos políticos e técnicos sobre os princípios, expectativas, desafios e relações de poder em torno da construção das ferrovias portuguesas.
Com a Regeneração, Portugal abraçaria definitivamente a política de investimento em
obras públicas (inaugurada antes por Costa Cabral) como meio de se aproximar dos países mais ricos e desenvolvidos da Europa e de debelar uma crise que persistentemente nos afetiva e que consistia precisamente num atraso latente em relação ao estrangeiro. De entre essas obras públicas, a predominância ia claramente para os caminhos-de- ferro, cuja construção já se tinha há muito iniciado na Europa civilizada. Numa altura em que os países do Norte da Europa contavam já com milhares de quilómetros de caminhos-de-ferro e países semelhantes ao nosso traçavam já esse caminho, quase todos os governos portugueses entre 1851 e os anos 1890 sentiram que não podiam esperar mais e tinham de lançar o país na política dos melhoramentos materiais preconizada por todos as demais nações e por economistas como Chevalier. A comunicação que pretendo apresentar gira precisamente em torno dos princípios que presidiram ao projecto de construção ferroviária em Portugal: expectativas em relação aos efeitos dos caminhos-de-ferro no nosso país (nomeadamente a resolução do problema do défice orçamental), sacrifícios justificáveis para os ter, regiões a servir, desenho da rede, complemento com outras vias e meios de comunicação e outros aspectos que constituem uma face do pensamento económico nacional do século XIX. A partir de muitos destes aspectos outras ramificações se poderão estabelecer. Desde logo, para a questão financeira, para a forma como os caminhos-de-ferro seriam feitos e pagos. Também para a questão técnica, pois a potencialidade e carácter das linhas dependia das condições em que eram construídas (declive de subidas e descidas, largueza das curvas, peso dos carris, que condicionavam a potência e velocidade dos comboios), o que colocava em campo uma figura profissional que se viria a destacar ao longo do século XIX – o engenheiro – com a qual o poder político teria de se relacionar. Também esta relação entre política e engenharia será abordada no texto que pretendo apresentar, assim como a questão militar e o receio que as vias-férreas pudessem ser formas de invasão do reino. Obviamente, a questão política, que subjazia a todo negócio ferroviário também não será esquecida, pois muitas vezes o caminho-de-ferro não era a forma mais rápida para chegar à Europa, mas sim a mais rápida de se chegar ao poder. Para se atingir estes objetivos de investigação serão analisados dois tipos de discurso: o político e o técnico. Para o primeiro, recorrer-se-á aos debates parlamentares do parlamento português (publicados nos Diários das sessões), escrutinados através da técnica da análise de conteúdo e já vastamente usados para outras investigações; para o segundo, dois tipos de fontes: as consultas dos dois órgãos consultivos do Ministério das Obras Públicas durante o período em estudo (o Conselho Superior entre 1852 e 1868 e a Junta Consultiva a partir de 1869) e também estudos organizados na Associação dos Engenheiros Civis Portugueses (e publicados na sua Revista de Obras Públicas e Minas desde 1870). Estes últimos permitem conhecer a opinião da engenharia nacional sem as peias que possuem as consultas daqueles dois órgãos consultivos, que apenas se limitavam a consultar directamente sobre o que lhes era pedido. Em todo o caso, quer o discurso mais independente da Associação dos Engenheiros, quer o outro servirão de controlo para a análise do discurso parlamentar que na maioria das vezes estaria eivado de interesses demagógicos e político-partidários. Estes serão os aspectos principais do artigo que pretendo apresentar e que decorrem de parte da investigação para o meu projecto de doutoramento. Outros mais poderão ser apresentados durante o encontro, assim o tempo o permita.