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Liberalismo em

Portugal
Introdução
O presente trabalho e sobre o Liberalismo em Portugal mais
concretamente as razões para a sua implementação e as
Invasões Francesas e a Revolução Liberal em Portugal,
identificação e caracterização de cada momento que o
marcou. O objetivo deste trabalho e aprender mais sobre o
assunto.
Indice:
• Introdução pessoal;
• A implementação do Liberalismo em Portugal
• As invasões Francesas e a dominação Inglesa em Portugal
• A Revolução de 1820 e as Dificuldades de Implantação da ordem Liberal
(1820-1834)
• A desagregação do Império Atlântico: a independência do Brasil.
• A resistência ao liberalismo.
• Importância da legislação de Mouzinho da Silveira.
• Os projetos setembristas e cabralista.
• O cabralismo e o regresso à Carta Constitucional.
• O Legado do Liberalismo na Primeira Metade do Século XIX
• O liberalismo político; a secularização das instituições.
• O liberalismo económico; o direito à propriedade e à livre iniciativa.
• Abolição da Escravatura
• Abolição da escravatura em Portugal
A implementação do Liberalismo em Portugal
Antecedentes e conjuntura (1807-1820)

Ao abrir o século XIX, Portugal parecia escapar aos ventos do Liberalismo,


que sopravam fortemente na França e dela irradiavam para o resto do
continente. Mas, na verdade, o príncipe D. João (futuro D. João VI), que D.
Maria I fizera regente, governava um país profundamente ligado ao Antigo
Regime.

→ As atividades primárias predominavam.


→ Pesadas obrigações senhoriais condenavam o campesinato á miséria.

O absolutismo estava para durar

Todavia, nos principais centros urbanos, uma burguesia comercial, ligada aos
tráficos com o

Brasil, ansiava pela mudança.

Lutavam pelo exercício da liberdade política e económica; pelo fim dos


privilégios sociais, dos constrangimentos religiosos, do fanatismo. Em suma,
pelo fim da tirania.

Uma conjuntura favorável lançou em breve o país no caminho das


transformações liberais, permitindo materializar as aspirações de mudança.
Mais concretamente, ao impacto que as Invasões Francesas tiveram em
Portugal.
As Invasões Francesas e a dominação inglesa em
Portugal
Efeitos das invasões francesas
Decidido a abater o poderio da Inglaterra Napoleão Bonaparte decretou, em
finais de 1806, o Bloqueio Continental, nos termos do qual nenhuma nação
europeia deveria comerciar com as Ilhas Britânicas.

Fiel à sua velha aliada, mas não querendo hostilizar o imperador dos
Franceses e arriscar uma invasão, o Príncipe Regente adotou uma política
ambígua.

Esta atitude custou ao país de 1807 a 1877, o flagelo das três invasões
napoleónicas. O embarque da família real para o Brasil, que de colónia passou
a sede de Governo, permitiu a Portugal manter a independência do Estado.

O preço a pagar revelou-se bem alto, pela devastação e pela destruição que as
invasões causaram, mas, especialmente, pelo domínio político e económico
que a Inglaterra exerceu, entre nós.

Quatro anos de guerra com a França deixaram o país na miséria.

→ A região a norte do Tejo ficou particularmente destruída pelos combates


e crueldades dos soldados.
→ A agricultura, o comércio e a indústria foram profundamente afetados.
→ O património nacional sofreu importantes perdas em consequência do
saque de mosteiros, igrejas e palácios.

Corte ausente, ingleses presentes


De 1808 a 1821, Portugal viveu na dupla condição de protetorado inglês e de
colónia brasileira. D. João V teimava em permanecer no Brasil, proclamado
reino em 1815, para grande descontentamento dos Portugueses.
O marechal Beresford tornou-se comandante das tropas portuguesas:

→ responsável pela reestruturação do exército e pela organização da


defesa do reino contra os Franceses.

Os seus poderes chegaram, até, a sobrepor-se aos da Regência Beresfor:

→ exerceu um rigoroso controlo sobre o funcionalismo e a economia.


→ reativou a Inquisição.
→ encheu as prisões de suspeitos de jacobinismo.

A repressão de Beresford atingiu particular crueldade em 1817, quando o


general Gomes Freire de Andrade e mais 11 oficiais do exército foram
executados, por suspeita de envolvimento numa conspiração.

Entretanto, a situação económica e financeira assumia controlos de elevada


gravidade:

→ em 1820, as despesas ultrapassavam as receitas.


→ a agricultura definhava.
→ o comércio decrescia.

Para esta situação muito contribuíram a abertura dos portos do Brasil, em


1808, ao comércio internacional – assim como o tratado do comércio de 1810
com a Grã-Bretanha, considerado uma espécie de confirmação do Tratado de
Methuen. As mercadorias britânicas, nomeadamente as manufaturas,
entravam com grandes facilidades em Portugal e seus domínios.

A perda do exclusivo comercial com o Brasil revelou-se desestruturante para a


economia portuguesa.

Ao abrigo do pacto colonial, a colónia brasileira abastecia, a bom preço, a


metrópole de alimentos (arroz, café, açúcar) e de matérias-primas (algodão,
peles, couros, tabaco, madeira), muito deles reexportados.
→ constituía, ao mesmo tempo, um mercado garantido de escoamento para
a produção manufatureira nacional.

Privada de importantes tráficos, em consequência da conjuntura relatada, a


burguesia portuguesa sofreu sérios prejuízos.

A rebelião em marcha
Não espanta, portanto, que a agitação revolucionária lavrasse no seio da
burguesia – a ela se ficou a dever a preparação da rebelião.

No Porto, Manuel Fernandes Tomás fundou, em 1817, uma associação secreta


com o nome de Sinédrio, cujos membros pertenciam a Maçonaria.

Atento aos acontecimentos políticos, o Sinédrio propunha-se intervir logo que


a situação se revelasse propícia, o que veio a acontecer em 1820.

Em janeiro, em Espanha, uma revolução liberal restaurou a Constituição de


1812. A Espanha tornou-se, então, centro de uma vasta rede de agitação
política e Portugal passou a receber muita propaganda liberal.

Depois, em março, Beresford embarcou em direção ao Brasil, com o objetivo


de solicitar ao rei:

→ dinheiro para pagamento das despesas militares.


→ mais amplos poderes para reprimir a crescente onda de agitação.

A ausência do marechal favoreceu a ação do Sinédrio. Esta revolução viria a


ocorrer a 24 de agosto de 1820.
A Revolução de 1820 e as Dificuldades de
Implantação da ordem Liberal (1820-1834)
O Vintismo
O movimento sucedido no Porto, a 24 de agosto de 1820, foi essencialmente
um pronunciamento militar com larga participação de negociantes, de
magistrados e até de proprietários fundiários.

Esta união de interesses permitiu o sucesso de acontecimento e poderá explicar-


se pelo facto de o ressentimento contra a presença britânica tanto afetar os
militares portugueses (preteridos nas promoções) como a burguesia comercial
e os proprietários (dependentes do tráfico e escoamento do vinho e de outras
produções).

Dirigentes da revolução: António da Silveira, Manuel Fernandes Tomás, José


Ferreira Borges e José da Silva Carvalho. Todos eles vieram a fazer parte da
Junta Provisional do Supremo Governo do Reino.

A Manuel Fernandes Tomás coube a redação do Manifesta aos Portugueses, no


qual dava a conhecer os objetivos do movimento.

→ Os homens de 1820 veiculavam um profundo sentimento de


nacionalismo e respeito pela monarquia e pelo catolicismo.
→ Dispostos a regenerar a Pátria, apelavam à aliança do rei com as forças
sociais representadas nas Cortes.

Da convocação de umas novas Cortes esperavam uma Constituição, defensora


da autoridade régia e dos direitos dos portugueses.

Por todo o país, a revolução de 24 de agosto encontrou adesão imediato.


Em Lisboa, a 15 de setembro, um movimento autónomo de oficiais, apoiados
pelos burgueses e populares, expulsou os regentes e constituiu um governo
interino.

A 28 de setembro, os governos do Porto e de Lisboa fundiram-se numa nova


Junta Provisional do Supremo Governo do Reino:

→ Freire de Andrade na presidência


→ António da Silveira na vice-presidência
→ Manuel Fernandes Tomás, encarregado dos Negócios do Reino e
Fazenda.

O novo governo exerceu funções durante quatro meses. Teve, como principal
tarefa:

→ A organização de eleições para as Cortes Constituintes – iniciadas a 24 de


janeiro de 1821.

A Constituição de 1822
A Constituição de 1822 é baseada na Constituição espanhola de 1812 e nas
Constituições francesas de 1781.

→ Reconhece os direitos e os deveres do indivíduo, garantindo a liberdade,


a segurança, a propriedade e a igualdade perante a lei.
→ Afirma a soberania da Nação, cabendo aos maiores de 25 anos, que
soubessem ler e escrever, a eleição direta dos deputados.
→ Aceita a independência dos poderes legislativo, executivo e judicial.
→ Não reconhece qualquer prerrogativa à nobreza e ao clero.
→ Submete o poder real à supremacia das Cortes Legislativas.

A Constituição foi fruto da ala mais radical dos deputados presentes às Cortes
Constituintes, cuja ação é conhecida por vintismo.
Sobre o funcionamento das Cortes Legislativas, os deputados conservadores
defenderam o sistema bicameral:

→ uma Câmara de Deputados do Povo


→ uma Câmara Alta, que representaria as classes superiores

Mas a ala radical presente nas Constituições impôs a solução oposta – Câmara
única.

O mesmo aconteceu com o problema do veto, solucionado o contento dos


radicais:

→ quando não concordasse com uma lei, o monarca poderia remetê-la ao


Congresso para efeito de segunda votação, mas esta seria definitiva e de
aceitação obrigatório para o rei.

Precaridade da legislação vintista de caráter


socioeconómico
Nas Cortes Extraordinárias e Constituintes, também chamadas de Soberano
Congresso, pulsou o coração da vida política portuguesa.

Embora a elaboração da Constituição e a instauração do primeiro sistema de


governo parlamentar tenha sido a fundamental incumbência, as Cortes
legislaram em muitos outros domínios.

→ propondo grandes reformas para eliminar as estruturas do Antigo


Regime.

Entre as medidas mais significativas que as Cortes tomaram, contam-se:

→ a extinção da Inquisição e da censura prévia.


→ a instituição da liberdade de imprensa e da liberdade de ensino.
→ a fundação do primeiro banco português, o Banco de Lisboa,
→ a transformação dos bens da Coroa em bens nacionais.
→ encerramento de numerosos mosteiros e conventos.
→ a suspensão do pagamento da dízima à Igreja.
→ a reforma dos forais e das prestações fundiária.
→ a eliminação das justiças privadas, bem como dos privilégios judiciais
quanto a assuntos criminais e civis.

A reforma dos forais pretendeu libertar os camponeses dos vínculos de cariz


senhorial, procurando solucionar o atraso da agricultura.

Uma vez que a ordem social do Antigo Regime repousava na propriedade da


terra por parte de uma minoria privilegiada, havia que desembaraçar a
agricultura de obstáculos que impediam o campesinato de aceder mais
plenamente aos seus frutos.

Para o conseguir, os deputados das Cortes suprimiram, em 1821, todo um


conjunto de direito banais e de tributos pessoais, entre os quais:

→ o monopólio de fornos e lagares


→ o relego – obrigatoriedade de os camponeses só venderem o seu vinho
após o escoamento da colheita dos proprietários
→ a aposentadoria – dever de alojar e alimentar os senhores e suas
comitivas.
→ as coudelarias – dever de sustentarem cavalos para a guerra.
→ as portagens e as jeiras – trabalho gratuito na reserva.

Em 1822 (3 de junho), a “Lei dos Forais” reduziu para metade as rendas e


pensões devidas pelos agricultores.

Mas esta lei dececionou o pequeno campesinato dos rendeiros por dois
motivos.

1) As referidas rendas, de um modo geral variáveis, passaram a prestações


fixas convertíveis em dinheiro, o que gerou arbitrariedades na conversão.
2) Nas terras não regulamentadas por cartas de foral, as prestações tradicionais
mantiveram-se. A desigualdade criada resultou num clima de instabilidade
social.

A ação do vintismo revelou-se plena de contradições. Medidas liberais foram


tomadas, de que a mais ousada resultou na elaboração da Constituição.

A desagregação do Império Atlântico: a


independência do Brasil.
A caminho da separação.
De 1808 a 1821, D. João VI e a corte residiram no Brasil.

Transformada em sede da monarquia portuguesa e elevado a reino em 1815, a


antiga colónia acusou um progresso económico, político e cultural.

Com os seus portos abertos à navegação estrangeira e dotado de:

→ indústrias, um banco, uma nova divisão administrativa (as províncias),


tribunais para todas as causas e apelos, instituições prestigiadas de
ensino, uma biblioteca, um teatro e uma imprensa local.

O Brasil era o orgulho de uma forte colónia branca que ultrapassava o milhão
de visitantes.

Em 1789, ocorreu uma rebelião nacionalista em Vila Rica, dirigida por


estudantes e homens esclarecidos que chegaram a projetar.

→ a independência de Minas Gerais.


→ a formação de um governo republicano.

A revolta ficou conhecida por Inconfidência Mineira.

Outro motivo independentista sucedeu em 1817:

→ foi a Revolução Republicana de Pernambuco.


A atuação das Cortes Constituintes
A revolução Liberal de 24 de agosto de 1820 forçou o regresso de D. João VI a
Portugal.

Pressionado pela opinião pública brasileira a manter-se na América, o


monarca sentiu a inevitabilidade de uma independência próxima. Talvez por
isso tenha dito ao seu primogénito o Príncipe Real D. Pedro, que lá
permaneceu como regente.

A independência veio, realmente, a verificar-se a 7 de setembro de 1822 e teve,


como motivos próximos:

→ a política antibrasileira das Cortes Constituintes de Portugal.

A maioria dos deputados queria, efetivamente, restituir o Brasil á condição de


colónia.

Com esse objetivo, legislaram no sentido de:

→ anular os benefícios comerciais atribuídos ao Brasil, ao longo da


permanência de D. João VI.
→ subordinar D. João VI administrativa, judicial e militarmente a Lisboa.

Golpe profundo no patriotismo brasileiro foi dado com a ordem de regresso a


Lisboa, em setembro de 1821, do príncipe regente D. Pedro, com o objetivo
de concluir a sua educação na Europa.

Aconselhado a desobedecer, D. Pedro permaneceu no Brasil contra as Cortes


Constituintes.

A independência declarada por D. Pedro a 7 d setembro de 1822, só viria a ser


reconhecida por Portugal em 1825.
Traumática para Portugal, a separação do Brasil representou um rude golpe
para os revolucionários vintistas.

→ Pôs em causa os seus interesses comerciais e industriais.


→ Comprometeu a recuperação financeira do país, fazendo crescer o
descontentamento e a oposição.

A resistência ao liberalismo.
A conjuntura externa desfavorável e a oposição absolutista.
A Revolução de 1820 deparou-se com várias dificuldades.

Efetivamente, em 1815, constituíra-se a Santa Aliança entre a Rússia, a Áustria


e a Prússia.

→ Destinava-se a manter a ordem política estabelecida na Europa, isto é, a


evitar a disseminação dos ideais de liberdade e igualdade individuais e
dos povos.

O ambiente hostil ao vintismo ficou patente:

→ em tentativas de bloqueio comercial ao nosso país


→ na recusa de passaportes para portugueses
→ no apoio fornecido aos opositores absolutistas

Na verdade, apesar de os vintistas terem declarado que não pretendiam


subverter as instituições- base do país (monarquia e religião católica), a
nobreza e o clero mais conservadores encetaram a contrarrevolução
absolutista.

Descontentes com o radicalismo da Constituição e prejudicados pela abolição


de antigos privilégios senhoriais, encontraram um declarado apoio por parte
da rainha D. Carlota Joaquina e do seu filho mais novo, o infante D. Miguel.
A contrarrevolução eclodiu em 1823.

Dois regimentos de Lisboa, mandados para defender a fronteira de um


eventual ataque, revoltaram-se em Vila Franca, tendo-se-lhes juntado o
infante D. Miguel, que assumiu a direção do movimento e dirigiu um
manifesto aos Portugueses.

A revolta – que ficou conhecida por Vila-Francada – terminou quando o rei D.


João VI intimou o filho para se lhe apresentar e retomou o comando da
situação.

• Ao mesmo tempo remodelou o Governo, entregando-o a liberais


moderados, e propôs-se a alterar a Constituição.

Esta tentativa de reprimir os excessos doutrinários do vintismo não serenou os


ânimos.

Em abril de 1824, os partidários de D. Miguel prenderam os membros do


Governo e semearam a confusão em Lisboa, no sentido de levar o rei a
abdicar e a confiar a regência à sua esposa.

Auxiliado pelo corpo diplomático, D. João VI conseguiu, mais uma vez,


debelar o golpe – conhecido por Abrilada – e disciplinar o filho, a quem
apontou o caminho do exílio.

A carta Constitucional e a tentativa de apaziguamento político-social.


O falecimento de D. João VI, em março de 1826, agravou as tensões que
desestabilizavam a cena política dos últimos anos.

O problema delicado d sucessão não fora resolvido pelo monarca falecido:

• o filho mais velho, D. Pedro, era imperador do Brasil


• o filho mais novo, D. Miguel, identificava-se com o Absolutismo e
estava exilado em Viena de Áustria.
Isso remeteu para um Conselho de Regência provisório, presidido pela sua
filha, a infanta D. Isabel Maria.

A Regência enviou, de imediato, ao Brasil uma deputação para esclarecer o


assunto da sucessão.

D. Pedro considerou-se o legítimo herdeiro da Coroa portuguesa e tomou um


conjunto de medidas conciliatórias.

→ A 26 de abril, confirmou a regência provisoria da infanta D. Isabel Maria


→ No dia 29, outorgou um novo diploma constitucional, mais moderado e
mais conversador – a Carta Constitucional.
→ A 2 de maio, abdicou dos seus direitos à Coroa portuguesa na filha mais
velha, princesa D. Maria da Glória, de 7 anos.
• Esta deveria celebrar esponsais com o seu tio, o infante D. Miguel, que,
ao regressar a Portugal, juraria o cumprimento da Carta Constitucional
e, de imediato, assumiria a regência do Reino de Portugal.

Sendo a Carta Constitucional um diploma outorgado pelos governantes, ao


contrário das constituições, obviamente seria de esperar uma recuperação do
poder real e dos privilégios da nobreza.

A carta de 1826 introduziu um grande número de inovações antidemocráticas.

Para começar, as Cortes compunham-se de duas câmaras:

→ Câmara dos Deputado


→ Câmara dos Pares

Porém, a eliminação do vintismo não foi suficiente para derrotar a


contrarrevolução absolutista, novamente liderada pelo infante D. Miguel.

A guerra Civil
Cumprindo o estipulado, D. Miguel regressou a Portugal em 1828.
A adesão ao Liberalismo revelou-se falsa, uma vez que se faz aclamar rei
absoluto por umas Cortes convocadas à maneira tradicional, isto é, por
ordens. E, de imediato, também se abateu uma repressão sem limites sobre os
simpatizantes do Liberalismo.

Milhares de liberais fugiram para França e Inglaterra e organizaram a


resistência.

A partir de 1831, contaram com o apoio de D. Pedro, que abandonou o trono


brasileiro e veio lutar pela restituição à filha do trono português.

O desembarque das forças liberais deu-se, em 1832, no Mindelo, a que se


seguiu a ocupação da cidade do Porto – contrariando as expectativas do
exército de D. Miguel, concentrado em Lisboa.

Os absolutistas não encontraram mais forças para continuarem os combates.


Com a derrota D. Miguel partiu definitivamente para o exilio e assim o
Liberalismo Constitucional instalou-se em Portugal.

Importância da legislação de Mouzinho da Silveira.


Num dos seus escritos, Mouzinho da Silveira afirmou que “sem terra livre em
vão se invoca a liberdade política”. Por isso:

• aboliram-se, de vez, os pequenos morgadios, os forais e os dízimos.


• Extinguiram-se os bens da Coroa e respetivas doações.

Com estas medidas pretendia-se disponibilizar mais terra e trabalho para as


massas rurais.

A libertação da terra fez-se acompanhar da libertação do comércio e, de um


modo geral, da eliminação de situações de privilégio na organização das
atividades económicas.

→ Extinguiram-se as portagens e os encargos sobre a circulação interna de


mercadorias
Quanto ao comércio externo:

→ diminuíram-se os direitos de exportação.


→ Suprimiram-se também os monopólios do sabão e do vinho do Porto.

Em 1833, publicou-se o primeiro Código Comercial.

Outras medidas de Mouzinho de Silveira permitiram lançar as bases de uma


nova organização administrativa de índole centralizada.

Mouzinho da Silveira foi considerado o único homem público do século XIX.


Na verdade, se o Rei-Soldado destruiu o Absolutismo com a força das armas,
ajudou na construção do Estado e da sociedade moderna.

Os projetos setembristas e cabralista.


A Revolução de Setembro de 1836
A vitória definitiva do Liberalismo, em 1834, não significou a estabilidade por
que o país tanto ansiava.

Volvidos dois anos, a Revolução de Setembro agitou a cena política.

O movimento ocorreu em Lisboa e teve um caráter eminentemente civil,


verificando-se depois, a adesão militar.

Protagonizada pela pequena e média burguesia e com largo apoio das


camadas populares, a Revolução reagiu tanto aos excessos de miséria como à
atuação do Governo cartista.

→ Este, sobretudo, era acusado de corrupção e de apenas defender os


interesses da alta burguesia.

Em lugar da Carta Constitucional, os organizadores do movimento


propunham o regresso da Constituição de 1822.
Os acontecimentos precipitaram-se em 9 e 10 de setembro de 1836, aquando
da chegada a Lisboa dos deputados eleitos no Norte para as Cortes.

Sentindo faltar-lhe o apoio do povo e perante o comprometimento da Guarda


Nacional (que era destinada a proteger o novo regime liberal) e do Exército
com os revoltosos, a rainha D. Maria II acabou por entregar o poder aos
radicais.

A atuação do Governo setembrista


O novo governo:

→ declarou-se mais democrático


→ empenhou-se em valorizar a soberania da Nação
→ reduziu a intervenção régia

Para o efeito, preparou-se um novo diploma constitucional, a Constituição de


1838:

→ que funcionou como um compromisso entre o espírito monárquico da


Carta de 1826 e o radicalismo democrático da Constituição de 1822.

A Câmara dos Pares, escolhida pela realeza, transformou-se em Câmara dos


Senadores, eleitos pelos cidadãos.

Por sua vez, a orientação económica do setembrismo procurou corresponder


aos propósitos de desenvolvimento nacional da pequena e da média
burguesia.

A pauta protecionista, de 10 de janeiro de 1837, marcou o verdadeiro arranque


da industrialização portuguesa.

→ Obrigava ao pagamento de direitos todos os produtos que entrassem nas


alfandegas da metrópole e ilhas adjacentes.
A perda do mercado brasileiro levou os dirigentes setembristas a virarem- se
para a exploração colonial em África.

Para atrair o investimento de capitais para outras áreas mais produtivas,


proibiu-se o tráfico de escravos nas colónias a sul do equador.

Um certo fracasso caracteriza a política económica setembrista.

→ Nos domínios fiscal e agrário, não se atreveu a abolir taxas gravosas para
os pequenos agricultores, nem penalizou com impostos os grandes
proprietários.
→ Até no plano industrial, apesar do protecionismo adotada, os resultados
mostraram-se bem aquém do pretendido.

Para o fracasso económico do setembrismo, aponta-se:

→ Falta de capitais.
→ a falta de vias de comunicação
→ Permanentemente instabilidade política.

O cabralismo e o regresso à Carta Constitucional.


Com efeito, o governo setembrista enfrentou contantes tentativas da
restauração da Carta Constitucional.

Em fevereiro de 1842, num golpe de Estado pacífico, foi António Bernardo da


Costa Cabral quem pôs termo à Constituição de 1838.

A nova governação, conhecida por cabralismo:

→ alicerçou-se nos princípios da Carta


→ Fez regressar a grande burguesia ao poder

Sob a bandeira da ordem pública e do desenvolvimento económico, Costa


Cabral apostou:

→ Obras públicas
→ Na reforma administrativa e fiscal.
→ Difundiu-se a energia a vapor.

A inovação e a exigência das medidas de Costa Cabral estiveram na origem de


uma série de motins populares, basicamente camponeses.

Alastraram por todo o país e mereceram o aproveitamento político dos


opositores de Costa Cabral, que se tornou alvo de ódios por parte da
população.

Na verdade, em 1846-1847, vive-se um clima de verdadeira guerra civil entre


os adeptos do cabralismo e uma ampla frente de setembristas.

A demissão do Governo e a saída de Costa Cabral não foram suficientes para


trazer a acalmia social e política.

A guerra civil reacendeu-se com a chamada “Patuleia”, que decorreu de


outubro de 1846 e junho de 1847.

A deposição de D. Maria II esteve na mira dos revoltosos.

A gravidade da situação levou o Governo de Lisboa a solicitar a intervenção


da Espanha e da Inglaterra.

Em 1849, Costa Cabral regressou à gerência política, apesar de este seu


governo se revestir de um cariz mais moderado, não logrou conciliar as forças
políticas opostas nem estabilizar a vida nacional.
O Legado do Liberalismo na Primeira Metade do
Século XIX
Os direitos naturais ou direitos do Homem
No rescaldo das revoluções liberais, o mundo ocidental assistiu à implantação
de um novo sistema de organização política, económica e social conhecido
por Liberalismo.

De forma geral:

→ o Liberalismo opõe-se ao Absolutismo e a qualquer forma de tirania


política
→ defenda a soberania da nação e a livre iniciativa económica
→ Promove as classes burguesas.

No centro do Liberalismo está a ideologia liberal:

→ sobrevaloriza os direitos do indivíduo:


➢ Igualdade
➢ Segurança
➢ Liberdade
➢ Propriedade

Os liberais fazem da defesa da liberdade individual o centro da sua ideologia,


apropriadamente chamada de Liberalismo.

→ A própria igualdade deriva de toda a Humanidade nascer livre


→ A segurança protege o Homem das ameaças à liberdade
→ A propriedade dota-o de bens e liberta-o da sujeição a outros homens.
O liberalismo político; a secularização das
instituições.
O Liberalismo faz da consagração dos direitos individuais o supremo objetivo
das instituições e dos regimes políticos.

Pretende um Estado neutro, que respeite as liberdades e que faça aplicar uma
lei igual para todos.

Para evitar o despotismo, o liberalismo político socorre-se de uma variedade


de fórmulas que limitam o poder.

Este deverá:

→ fundamentar-se em diplomas constitucionais


→ funcionar na base da separação dos poderes e da soberania nacional
exercida por uma representação
→ proceder à secularização das instituições

O constitucionalismo
É através dos textos constitucionais que os liberais legitimam o seu poder
político.

Quanto às constituições liberais, resultam de dois processos:

→ as Constituições, votadas pelos representantes da Nação


→ as Cartas Constitucionais, outorgadas pelos soberanos

Para o liberalismo moderado, deveria ser o rei, fazendo uso das prerrogativas
e privilégios que detém, a outorgar um documento constitucional que se
transforme no código político da Nação.
A separação dos poderes.
Os liberais moderados fazem também depender os direitos e garantias dos
cidadãos da observância rigorosa da separação e do equilíbrio dos poderes
político-constitucionais.

Para evitar que uma assembleia legislativa ou o supremo magistrado chame a


si a totalidade das competências políticas:

→ advogam a necessidade de se proceder à distribuição dos diversos


poderes pelos diferentes órgãos de soberania.

Para os liberais moderados, o princípio da separação e do equilíbrio dos


poderes não invalida o reforço do poder executivo.

O reforço do executivo ficou consignado, em Portugal, na Carta


Constitucional de 1826.

O liberalismo económico; o direito à propriedade e


à livre iniciativa.
Defensor dos direitos e das liberdades individuais, o Liberalismo reage contra
qualquer forma de tirania política e económica. O liberalismo económico tem
raízes no fisiocratismo:

→ ambas as correntes defendem a iniciativa individual e a ausência estatal


de intervenção na economia, insurgindo-se contra o dirigismo
mercantilista.

Quesnay foi um dos teóricos do fisiocratismo.

Gournay, outro fisiocrata, advogou a liberdade de produção industrial e de


circulação das mercadorias.

A Adam Smith se deve as linhas-mestras do liberalismo económico.


Para este teórico, só a livre iniciativa em busca da riqueza promoveria o
trabalho produtivo, a poupança, a acumulação de capital, o investimento.

Adam Smith proclamou também as chamadas leis do mercado, assentes no


livre jogo da oferta e da procura e na livre concorrência.

Das ideias apontadas decorre, para A. Smith, a necessidade da ausência de


intervenção do Estado na regulação da economia:

O Estado deveria abster-se de:

→ práticas protecionistas e monopolistas


→ lançar impostos sobre a circulação
→ fixar preços e salários
→ controlar a contratação de mão de obra

Todos foram unanimes em concordar que a livre concorrência e a lei da oferta


e da procura são os fundamentos do progresso.

Abolição da Escravatura
A contradição entre a defesa da liberdade e a prática da escravatura colocou-se
aos liberais.

Na França, uma série de medidas foi tomada a fim de pôr cobro ao


esclavagismo.

Também nos Estados Unidos da América os princípios da liberdade e da


igualdade conviveram, contraditoriamente, com a escravatura dos negros.

O afrontamento entre abolicionistas e esclavagistas intensificou-se na segunda


metade do século XIX, vindo a culminar numa guerra civil de1861 a 1865 – a
Guerra da Secessão, que opôs os estados do Sul aos do Norte.
A abolição da escravatura em Portugal.
A problemática da abolição da escravatura em Portugal gravitou em torno da
proibição do tráfico negreiro.

Na segunda metade do século XVIII, a legislação pombalina preparou a


extinção da escravatura na metrópole, ao proibir o transporte de escravos
negros para Portugal.

Finalmente, em fevereiro de 1869, o rei D. Luís assinava e fazia publicar o


decreto do Governo, onde se determinava que: “Fica abolido o estado de
escravidão em todos os territórios da monarquia portuguesa, desde o dia da
publicação do presente decreto”.

Foi o último ato, em Portugal, de um processo que não deixou de expressar a


vitória da liberdade, da igualdade e da dignidade do ser humano à escala
internacional.

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