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A Europa dos Parlamentos 2.2.

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 Desde a Idade Média que os ingleses
procuraram limitar o poder do Rei ao
obrigar o monarca João Sem Terra a assinar
a Magna Carta.
 A Magna Carta (1215) era um documento

que limitava a autoridade real, sobretudo:


 em matéria de lançamento de impostos.
 Garantia, também, aquilo a que hoje
chamamos direitos individuais
 Possibilitou a criação de uma comissão

parlamentar que votava as leis e concedia


subsidios pedidos pelo rei, vigiava o
cumprimento das promessas do rei
 No século XVII, entre 1603 e a Revolução
Gloriosa (1689), a Inglaterra viveu um período
muito conturbado, oscilando entre o
absolutismo e o parlamentarismo

 Isabel I morreu em 1603 sem deixar


descendentes . O trono foi assegurado por
Jaime VI, rei da Escócia e primo da rainha, com
o título de Jaime I

 Era um rei autoritário e católico que assentava


o seu poder na estrutura eclesiástica, opondo-
se assim aos protestantes puritanos
 Apresentava-se como o «pai natural» que
apenas prestava contas a Deus e a sua falta
de habilidade para lidar com o Parlamento
impossibilitaram que recolhesse o apoio das
elites inglesas

 O fortalecimento do poder régio acentuou-se


com a subida ao trono de Carlos I, em 1625:

 Profundamente católico ampliou a cisão entre


a Coroa e o Parlamento ao tomar medidas
consideradas ilegais :
 aumentou impostos sem o consentimento do
Parlamento
 Procedeu a prisões arbitrárias
 Obrigou ao acolhimento de soldados em
casas particulares o que deu origem a
inumeros protestos por parte do parlamento

O culminar do descontentamento ocorreu


quando o parlamento apresentou ao rei a
Petição dos Direitos
 Neste documento pedia-se ao rei respeito
pelos direitos dos seus súbditos,
nomeadamente as liberdades individuais,
recusando a prisão arbitrária e a necessidade
de respeitar o Habeas Corpus, consagrado na
Magna Carta
 O Habeas Corpus previa que ninguém
pudesse ser preso sem culpa formada :

« (…) 3. Considerando que está também


decidido e estabelecido pelo estatuto
intitulado Magna Carta das Liberdades da
Inglaterra que nenhum homem livre poderá
ser preso nem posto numa prisão, nem
desapossado das suas liberdades , nem posto
fora da lei ou exilado ou molestado de
qualquer modo se não for em virtude de uma
sentença legal dos seus pares ou das leis do
país»
Petição dos Direitos (Petition of Rights), 1628
 O descontentamento aumentou devido :
 Ao lançamento de impostos
 Às perseguições aos protestantes radicais o
que originou uma guerra civil que opôs os
realistas (defensores do rei – Igreja, católicos,
alta nobreza ) e do outro lado os apoiantes
do parlamento (burguesia, campesinato,
protestantes radicais – conhecidos como
cabeças redondas pelo facto de os seus
soldados terem a cabeça rapada). Estes foram
liderados por Cromwell e conseguiram
derrotar o rei. Julgado por alta traição, o rei
foi condenado à morte. A monarquia foi
abolida e proclamada a república
 Oliver Cromwell tornou-se Lorde Protetor da
República pela Constituição de 1653,
assumindo o poder executivo, enquanto o
Parlamento se afirmava como órgão supremo.
Aboliu a Câmara dos Lordes, destituiu todos
os que se lhe opunham e acabou por
dissolver o Parlamento, governando em
ditadura.
 A oposição ao seu governo aumentou quando

nomeou o seu filho como sucessor o que fez


com que alguns setores começassem a
defender o regresso à monarquia
 Foi neste contexto que subiu ao trono Carlos
II, filho do rei Carlos I que tinha sido
assassinado.
 Apesar de católico e da sua admiração pelo
absolutismo, o monarca conseguiu equilibrar
estas ideias com os interesses e anseios dos
ingleses defensores do anglicanismo e do
parlamentarismo
 As primeiras medidas visaram compensar as
vítimas da guerra civil (diapositivo 8): os
regicidas foram condenados, as terras
conquistadas foram devolvidas à Igreja
Anglicana, revogou grande parte das leis
promulgadas por Cromwell
 Promulgou o Habeas Corpus mediante o qual
ninguém podia ser preso por mais de 24
horas sem culpa formada
 Aboliu a censura
 Garantiu a liberdade de petição
 Devolveu ao parlamento a sua influência e
importância

 Carlos II morreu sem deixar herdeiros pelo


que lhe sucedeu o seu irmão Jaime II,
católico, pouco hábil na relação com o
parlamento , cedo provocou o
descontentamento entre os seus súbditos
 Alguns membros do Parlamento solicitaram a
intervenção de Guilherme de Orange e
Nassau, Stathouder da Holanda, protestante e
casado com Maria, a filha mais velha de Jaime
II, também ela protestante. Guilherme III
entrou em Inglaterra e Jaime II refugiou-se
em França
 Guilherme III e Maria II foram proclamados
reis de Inglaterra pelo Parlamento mediante a
aceitação do Bill of Rights – Declaração dos
Direitos, que impunha aos monarcas uma
série de condicionantes e os subordinava ao
parlamento
 De acordo com a Declaração dos Direitos :
 Os reis submetiam-se ao direito comum que era
aplicado tanto aos monarcas como aos seus
súbditos
 Eram obrigados a reunir o Parlamento
 Ficavam impedidos de suspender leis sem o
consentimento parlamentar
 Era-lhes proibido criar exceções ao cumprimento
da lei
 Estavam impossibilitados de lançar impostos sem
o consentimento do parlamento
 Estavam impossibilitados de recrutar um exército
permanente em tempo de paz sem o
consentimento do parlamento
 Guilherme III e Maria II assinaram o Bill of
Rights e partilharam a soberania com o
Parlamento. Estava em marcha a Revolução
Gloriosa que levou à deposição de Jaime II e
ao fim do absolutismo régio de direito divino
na Inglaterra
 A Declaração legitimou o poder régio através

de um pacto entre a Nação e o soberano :


estava instituída uma monarquia parlamentar,
baseada na lei e na separação dos poderes
Analisea Declaração dos
Direitos (pág. 66 do manual)

Destaque a importância da
Declaração dos Direitos para
a afirmação do
parlamentarismo com recurso
a três evidências
 Como forma de garantir a sucessão
protestante ao trono, o Parlamento votou
ainda o Act of Settlement, em 1701, segundo
o qual só podia ascender ao trono um
príncipe anglicano.

 Afirmava-se definitivamente o
parlamentarismo e a recusa do
absolutismo na Inglaterra
 Nos países onde o poder absoluto dos reis
foi limitado, como nas Províncias Unidas e
na Inglaterra, o regime parlamentar
assume-se como defensor das
liberdades políticas, económicas e
religiosas.

O cidadão protegido das


arbitrariedades do governo, substitui
o súbdito, e os poderes legislativo,
executivo e judicial são divididos por
vários órgãos de poder
Oambiente social e cultural, vivido na
Inglaterra, marcado pelo
protestantismo, defensor da leitura
individual da Bíblia, bem como a
valorização da educação e do ensino,
contribuíram para formar uma
população alfabetizada e crítica e
permitiram a afirmação de novas
teorias sobre o poder político
O tempo politicamente conturbado que
se viveu em Inglaterra entre 1603 e
1689 também teve consequências ao
nível da teorização das ideias políticas

 Thomas Hobbes (1588-1679) e John


Locke (1632-1704), são considerados
fundamentais no âmbito do debate
entre a defesa do absolutismo e a
afirmação do parlamentarismo
 A guerra civil inglesa (diapositivo 8 ) serviu de
fundamento a Thomas Hobbes para
defender , na sua obra Leviatã, publicada em
1651, a necessidade de um poder ilimitado
do soberano
 A autoridade régia devia assentar num

contrato entre o rei e a nação


 Hobbes recusava a conceção da origem divina

do poder
 Hobbes defendia que todos os homens eram
naturalmente iguais e que a defesa dos seus
interesses conduzia à agressão, levando a
um estado de guerra permanente. Assim, a
delegação noutra pessoa ( o soberano) dos
interesses individuais, surgia como a melhor
forma de evitar o estado de guerra.
 Defendeu uma nova abordagem do poder

assente num contrato do governante com a


sociedade, influenciando pensadores como
John Locke, Jean-Jacques Rousseau (1712-
1778) e Immanuel Kant (1724-1804)
 Locke foi determinante na formação dos
sistemas políticos modernos, nomeadamente:
 ao nível dos direitos e das liberdades

individuais e da afirmação do parlamentarismo


 Foi o grande teórico da Revolução Gloriosa

justificada na sua obra Dois Tratados do


Governo Civil (1690) onde fundamentava a
autoridade do rei no consentimento popular,
assente num contrato entre o monarca e os
seus subditos
 Este contrato tinha como objetivo último a
manutenção da paz e a garantia da livre
organização da sociedade
 Este contrato contrapunha-se à doutrina da

origem divina do poder ( típica do


absolutismo), pois , em seu entender, a
sociedade tinha origem na natureza que não
estabelecia limites ou proibições
 Porque o poder absoluto podia degenerar em

tirania, os súbditos tinham o poder para


destituir o monarca, caso este não cumprisse
o contrato ( recordar no slide 13 o que
aconteceu a Jaime II )
 O poder estava, assim, nas mãos do povo.
Locke justificou desta forma a substituição
de Jaime II por Guilherme III de Orange que
assinou o Bill of Rights com os seus
súbditos. ( Declaração do Direitos , pág. 66)

 Neste sentido, o poder do soberano,que não


era absoluto mas limitado por princípios
fundamentais, estabelecidos pela lei e pelo
contrato, era partilhado. A sua argumentação
baseava-se na razão e na natureza e não nos
desígnios divinos ou na fé
 A teoria de John Locke não se aplicava
apenas ao caso inglês pois defendia os
direitos universais como a vida, a liberdade
e a propriedade.
 Os princípios enunciados por John Locke

influenciaram os sistemas políticos


modernos e parlamentares, tendo as suas
ideias sido acolhidas nos Estados Unidos da
América, na Declaração da Independência,
em 1776 . Em França inspirou a Declaração
dos Direitos do Homem e do Cidadão, em
1789

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