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A recusa do absolutismo na sociedade inglesa

Desde a Idade Média, os ingleses procuraram limitar o poder do rei ao obrigar o


monarca João Sem Terra a assinar a Magna Carta.

A Magna Carta (1215) era um documento que limitava a autoridade real, sobretudo:
 o lançamento de impostos;
 garantia, também, aquilo a que hoje chamamos direitos individuais;
 possibilitou a criação de uma comissão parlamentar que votava as leis e
concedia subsídios pedidos pelo rei, vigiava o cumprimento das promessas do
rei.

No século XVII, a Inglaterra viveu um período muito conturbado, oscilando entre o


absolutismo e o parlamentarismo.

A primeira revolução e a instauração da república

O fortalecimento do poder régio acentuou-se com a subida ao trono de Carlos I:


 aumentou a divisão entre a Coroa e o Parlamento ao tomar medidas
consideradas ilegais;
 aumentou impostos sem o consentimento do Parlamento;
 procedeu a prisões arbitrárias;
 obrigou ao acolhimento de soldados em casas particulares, o que deu origem a
inúmeros protestos por parte do parlamento.

O culminar do descontentamento ocorreu quando o parlamento apresentou ao rei a


Petição dos Direitos:
 neste documento, pedia-se ao rei respeito pelos direitos dos seus súbditos,
nomeadamente as liberdades individuais, recusando a prisão arbitrária e a
necessidade de respeitar o Habeas Corpus (previa que ninguém pudesse ser
preso sem culpa formada), consagrado na Magna Carta.

O descontentamento aumentou devido:


 ao lançamento de impostos;
 às perseguições aos protestantes radicais, o que originou uma guerra civil que
opôs os realistas (defensores do rei – igreja, católicos, alta nobreza) e os
apoiantes do parlamento (burguesia, campesinato – soldados que tinham a
cabeça rapada). Estes foram liderados por Cromwell (os apoiantes do
parlamento) e conseguiram derrotar o rei. Julgado por alta traição, o rei foi
condenado à morte. A monarquia foi abolida e proclamada/instaurada a
república.

A restauração da monarquia. A revolução gloriosa.

Carlos II, filho do malogrado rei Carlos I que tinha sido assassinado, subiu ao trono.
Apesar de católico e da sua admiração pelo absolutismo, o monarca conseguiu
equilibrar estas ideias com os interesses e anseios dos ingleses defensores do
anglicanismo e do parlamentarismo. Carlos II promulgou o Habeas Corpus mediante o
qual ninguém podia ser preso por mais de 24 horas sem culpa formada. Ele aboliu a
censura, garantiu a liberdade de petição e devolveu ao parlamento a sua influência e
importância.

Carlos II morreu sem deixar herdeiros pelo que lhe sucedeu o seu irmão Jaime II,
católico, pouco hábil na relação com o parlamento, cedo provocou o
descontentamento entre os seus súbditos.

Guilherme III e Maria II (filha mais velha de Jaime II, casada com Guilherme e ambos
protestantes), foram proclamados reis de Inglaterra pelo parlamento mediante a
aceitação da Declaração dos Direitos, que impunha aos monarcas uma série de
condicionantes e os subordinava ao parlamento.

De acordo com a Declaração dos Direitos:


 os reis submetiam-se ao direito comum que era aplicado tanto aos monarcas
como aos seus súbditos;
 eram obrigados a reunir o parlamento;
 ficavam impedidos de suspender leis sem o consentimento parlamentar;
 era-lhes proibido criar exceções ao cumprimento da lei;
 estavam impossibilitados de lançar impostos sem o consentimento do
parlamento;
 estavam impossibilitados de recrutar um exército permanente em tempo de
paz sem o consentimento do parlamento.

A revolução gloriosa (1688) foi menos violenta que a primeira e contribuiu mais para a
consolidação do regime parlamentar. Guilherme III e Maria II assinaram a Declaração
dos Direitos e partilharam a soberania com o Parlamento.

O Parlamento (poder legislativo) aprova a lei e o rei (poder executivo) aplica a lei.

Locke e a justificação do parlamentarismo

O ambiente social e cultural, vivido na Inglaterra, marcado pelo protestantismo,


defensor da leitura individual da Bíblia, bem como a valorização da educação e do
ensino, contribuíram para formar uma população alfabetizada e crítica e permitiram a
afirmação de novas teorias sobre o poder político. Todo o poder depende da vontade
dos governados.

Locke foi determinante na formação dos sistemas políticos modernos, nomeadamente:


 ao nível dos direitos e das liberdades individuais e da afirmação do
parlamentarismo;
 foi o grande teórico da Revolução Gloriosa justificada na sua obra Dois Tratados
do Governo Civil onde fundamentava a autoridade do rei no consentimento
popular, assente num contrato entre o monarca e os seus súbditos. Este
contrato tinha como objetivo a manutenção da paz e a garantia da livre
organização da sociedade.

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