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1. INTRODUÇÃO
• “No final da Idade Média a Europa começou a assistir o nascimento de Estados
centralizados nas mãos de Monarcas. Na Inglaterra o caminho foi um tanto
diferente; nos séculos XI e XII a monarquia inglesa era bastante poderosa e
conseguia centralizar o poder e, nos séculos seguintes, enquanto o resto da Europa
via nascer o Poder Central, este perdia fôlego no Reino Britânico.” (Lages)
• Disputa de poder entre a monarquia e os nobres (e posteriormente burgueses).
• Formação do Estado baseado em uma instituição representativa, o
Parlamentarismo.
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• Revolução Gloriosa em 1688, que resultou na expulsão do Rei católico Jaime II,
substituído por Guilherme de Orange, protestante (casado com a filha de Jaime II)
- O Parlamento passa a ser predominante, formando-se o Conselho de Gabinete.
• Promulgação da Declaração de Direitos (Bill of Rights), limitando em definitivo
a monarquia, fazendo com que o rei não pudesse mais governar sem apoio
parlamentar, pois do próprio parlamento dependeria a administração das Forças
Armadas e a cobrança de impostos.
• A maioria dos autores correlaciona o surgimento da figura do Primeiro-Ministro
à chegada ao poder na Inglaterra dos “reis impossíveis” da dinastia dos Hanover
(Jorge I e Jorge II), após a morte da Rainha Ana, em 1714.
• Os Hannover foram soberanos alemães que nem mesmo sabiam falar inglês,
desconheciam os problemas políticos do Reino e eram negligentes com ele, nem
mesmo participando de reuniões de gabinete.
• A partir daí, o Gabinete passou a ganhar mais autonomia, passando a se reunir e
tomar decisões sozinho, surgindo o cargo de Primeiro Ministro (um representante
do Gabinete que trataria diretamente com os reis da Dinastia Hannover, servindo
originalmente de intérprete/emissário, mas passando a reunir poder executivo) –
“o rei reina, mas não governa”.
• Consolidação do Primeiro Ministro como Chefe do Poder Executivo, enquanto o
Rei permanece como Chefe do Estado.
• Acquaviva: “Com o Ato do Estabelecimento, no dealbar do século XVIII, já se
nota que, se ao gabinete compete a função governamental, ao monarca resta
apenas a função representativa ou chefia do Estado.”
• Bertrand Russel: “O Primeiro-Ministro tem mais poder do que glória, e o rei
mais glória do que poder.”
• A partir de 1782, o Primeiro Ministro Inglês só pode ser escolhido de acordo com
a decisão da Câmara dos Comuns – supremacia da representação popular. Institui-
se também o “voto de desconfiança”, que permitiria a destituição do governo.
Dallari: “Quanto às razões que determinam seu aparecimento, não é difícil explicá-
las. Houve, antes de tudo, o temor dos excessos do poder pessoal e, em conseqüência, o
desejo de transferir a maior soma de poder político para os Parlamentos.”
É um sistema típico das Monarquias Constitucionais, embora possa ser adotado por
Repúblicas.
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• Resultado da edição dos documentos como a Magna Carta, Petition of Rights e
Habeas Corpus Act.
• Ferreira Filho: O Rule of law “(...) consiste exatamente na sujeição de todos,
inclusive e especialmente das autoridades, ao império do Direito. Equivale, pois,
ao Estado de Direito como limitação do poder, num sistema de direito não
escrito.”
• Ferreira Filho: “Dicey sintetiza o rule of law em três pontos:
▪ Primeiro, ausência de poder arbitrário por parte do Governo;
▪ Segundo, a igualdade perante a lei;
▪ Terceiro, serem regras da Constituição a consequência e não a
fonte dos direitos individuais.”
• É expressão da common law.
• “A concepção de Direito que os Ingleses sustentam é, de fato, ao contrário do que
prevalece no continente europeu, essencialmente jurisprudencial, ligado ao
contencioso. O Direito inglês, que foi elaborado pelas Cortes reais, apresenta-se
aos ingleses como o conjunto de regras processuais e materiais que essas Cortes
consolidaram e aplicaram tendo em vista a solução dos litígios. A regra de Direito
inglesa (legal rule), condicionada historicamente, de modo estrito, pelo processo,
não possui o caráter de generalidade que tem na França uma regra de direito
formulada pela doutrina ou pelo legislador. As categorias e conceitos, no Direito
inglês, derivam de regras processuais formalistas que as Cortes Reais foram
obrigadas a observar até uma época recente; a distinção entre direito público e
direito privado, em particular por esse motivo, é desconhecida na Inglaterra.”
(René David)
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locais e submeteu clérigos à Legislação comum, buscando a unificação da
Inglaterra, obra que não foi continuada por seu filho (Ricardo I, Coração de Leão),
que atuava mais em guerra que administração.
• Com a morte de Ricardo nas Cruzadas, assume seu irmão, João (João Sem-Terra),
que já atuava como príncipe regente, que se envolve em políticas externas
desastrosas e perde feudos na França, passa a ter más relações com o Papado. Ele
ainda buscou criar e aumentar impostos e diminuir poderes dos nobres, que
impõem a ele a Magna Charta Libertatum, inaugurando-se o Statute Law.
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• Magna Charta Libertatum seu Concordiam inter regem Johannem et Barones pro
concessione libertatum ecclesiae et regni Andliae – Carta Magna das Liberdades
ou Concórdia entre o rei João e os Barões para a outorga das liberdades da Igreja
e do Reino Inglês)
• Tendência de centralização política na Europa a partir do Século XI e progressiva
extinção/limitação do Feudalismo e estabelecimento de um suserano sobre os
demais (um primus inter pares), o Rei.
• Resposta dos senhores feudais com a Declaração das Cortes de Leão (Espanha –
1188).
• Enfraquecimento político/militar da Coroa inglesa no reinado de João Sem-Terra,
aumento da pressão tributária para financiamento bélico e colisão com o papado,
levando à submissão da Inglaterra como feudo de Roma (1213) a uma revolta
armada dos barões (1215), com a imposição da Carta Magna.
• Ferreira Filho: “Apesar de formalmente outorgada por João sem Terra, é ela um
dos muitos pactos da história constitucional da Inglaterra, pois, efetivamente
consiste no resultado de um acordo entre esse rei e os barões revoltados, apoiados
pelos burgueses (no sentido próprio da palavra) de cidades como Londres.”
• Mesmo com a declaração de Nulidade por parte do Papa Inocêncio III, a Magna
Carta foi ratificada pelos sucessores de João.
• Comparato: “(...) a Magna Carta deixa implícito pela primeira vez, na história
política medieval, que o rei achasse naturalmente vinculado pelas próprias leis
que edita. Quinhentos anos antes, Santo Isidoro (560-636), bispo de Sevilha, já
havia defendido a idéia de que o príncipe devia submeter-se às leis que ele próprio
promulgara, pois “só quando também ele respeita as leis, pode-se esperar que elas
sejam obedecidas por todos” (Sententiae III, 51.4.).”
• Comparato: “(...) se a Magna Carta contribuiu, num primeiro momento, para
reforçar o regime feudal, ela já trazia em si o germe de sua definitiva destruição ,
a longo prazo. O sentido inovador do documento consistiu, justamente, no fato de
a declaração régia reconhecer que os direitos próprios dos dois estamentos livres
– a nobreza e o clero – existiam independentemente do consentimento do
monarca, e não podiam, por conseguinte, ser modificados por ele. Aí está a pedra
angular para a construção da democracia moderna: o poder dos governantes passa
a ser limitado, não apenas por normas superiores, fundadas no costume ou na
religião, mas também por direitos subjetivos dos governados. (...)”
• Concessão de grande poder ao Conselho de Nobres (Conselho do Reino), que já
existia desde a conquista Normanda, submetendo ao consentimento do Conselho
a criação de impostos e contribuições. É o embrião do Parlamento.
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• Cláusulas 12 e 14: estabelecem que o exercício do poder tributário do poder
tributário deve ser consentido pelos súditos (no taxation without representation),
considerado como um dos elementos originadores do moderno sistema
parlamentar de governo. – Ferreira Filho: “Ora, isto não só provocou mais tarde
a institucionalização do parlamento, como lhe serviu de arma para assumir o papel
de legislador e de controlador da atividade governamental.”
• Cláusulas 16 e 23: “O sentido primogênito da norma fundamental, inscrita em
quase todas as Constituições modernas, segundo a qual ninguém será obrigado a
fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei, encontra-se nessa
disposição da Magna Carta.” (Comparato)
• Cláusulas 17 e 40: estabelecimento de que o rei não é dono da justiça, mas tem
um poder-dever de assegurá-la, sempre que demandado, pois a justiça seria uma
função de interesse público.
• Cláusulas 20 e 21: lançadas as bases do Tribunal do Júri. É também estabelecida
a graduação das penas em relação à importância do delito.
• Cláusulas 30 e 31: garantia do respeito à propriedade privada contra confiscos ou
requisições arbitrários.
• Cláusula 39: estabelecimento do princípio do devido processo legal (due process
of law). A judicialidade é estabelecida como um dos princípios do Estado de
Direito.
• Cláusulas 41 e 41: liberdade de ir e vir.
• Cláusula 61: firma o início do processo de estabilização do princípio de
responsabilização do soberano (ou fim da irresponsabilidade do soberano).
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• Luta com os escoceses (guerra entre os Anglicanos ingleses e os presbiterianos da
Escócia), com a convocação do Parlamento por Carlos I, retomando-se a oposição
entre eles, com a tentativa de nova imposição da Petição de Direitos.
• Represália de Carlos e início da Revolução Puritana, com fortalecimento do
parlamentarismo.
• Breve período Republicano, com o governo de Oliver Cromwell, e fortalecimento
econômico da burguesia e da parcela da nobreza que tinha interesses burgueses,
mas restabelecimento da monarquia com seu falecimento, com o governo de
Carlos II.
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• É fruto da crise religiosa entre católicos e protestantes e da crise sucessória após
a deposição de Carlos I (que havia tentado reestabelecer o catolicismo como
religião de Estado), que resultou na Ditadura Cromwell, os posteriores reinado e
fuga de Jaime II, que tinha a oposição da nobreza e do clero e teria supostamente
cometido crimes contra o Estado e a Igreja – ocorrência da Revolução Gloriosa.
• Com a fuga de Jaime II assunção do Príncipe Guilherme de Orange e de sua
esposa, Maria de Stuart, filha de Jaime II, que foram coroados após aceitarem a
Declaração de Direitos votada pelo parlamento, estabelecendo-se uma separação
de poderes (que viria a ser elogiada por Montesquieu, posteriormente).
• Comparato: “Promulgado exatamente um século antes da Revolução Francesa,
o Bill of Rights pôs fim, pela primeira vez, desde o surgimento na Europa
renascentista, ao regime de monarquia absoluta, no qual todo poder emana do rei
e em seu nome é exercido. A partir de 1689, na Inglaterra, os poderes de legislar
e criar tributos já não são prerrogativas do monarca, mas entram na esfera da
competência reservada ao Parlamento. Por isso mesmo, as eleições e o exercício
das funções parlamentares são cercados de garantias especiais, de modo a
preservar a liberdade desse órgão político diante do chefe de Estado.”
• Comparato: “A transformação social provocada pelo Bill of Rights não pode
deixar de ser encarecida. Não é exagero sustentar que, ao limitar os poderes
governamentais e garantir as liberdades individuais, essa lei fundamental suprimiu
a maior parte das peias jurídicas que embaraçavam a atividade profissional dos
burgueses. É sabido, aliás, que a Glorious Revolution contou com o apoio maciço
dos comerciantes e armadores ingleses, decididos a enfrentar a concorrência
francesa no campo do comércio marítimo.”
• Moraes: “(...) significou enorme restrição ao poder estatal, prevendo, dentre
outras regulamentações: fortalecimento ao princípio da legalidade, ao impedir que
o rei pudesse suspender leis ou a execução das leis sem o consentimento do
Parlamento; criação do direito de petição; liberdade de eleição dos membros do
Parlamento; imunidades parlamentares; vedação à aplicação de penas cruéis;
convocação frequente do Parlamento. Saliente-se, porém, que, apesar do avanço
em termos de declaração de direitos, o Bill of Rights expressamente negava a
liberdade e a igualdade religiosa, (...)”
• A estabilidade econômica e política e a liberdade de comércio e de ciência
provenientes do Bill of Rights possibilitou a ocorrência da Revolução Industrial.
• “Apesar de minimizar as prisões advindas dos antagonismos políticos, o Ato de
Habeas Corpus não foi uma solução. Nem a morte de Carlos II, que apenas
transferiu os problemas para o reinado de seu irmão, Jaime II. Diante do impasse
político, os parlamentares tramaram a queda do Rei e ofereceram o trono ao genro
dele, Guilherme de Orange, que inaugurou a era do Parlamentarismo de fato na
Inglaterra, tão bem ilustrada na frase: o rei reina, mas não governa.” (Lages)
• O Parlamento passa a ter a exclusividade legislativa.
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3.5. ACT OF SETTLEMENT (1701)
• Moraes: “(…) basicamente, configurou-se em um ato normativo reafirmador do
princípio da legalidade (item IV – E considerando que as leis de Inglaterra
constituem direitos naturais do seu povo e que todos os reis e rainhas que subirem
ao trono deste reino deverão governa-lo, em obediência às ditas leis, e que todos
os seus oficiais e ministros deverão servi-los também de acordo com as mesmas
leis...) e da responsabilização política dos agentes públicos, prevendo-se a
possibilidade, inclusive, de impeachment de magistrados.”
Próximo Ponto:
VII. O DIREITO MODERNO, O ILUMINISMO E AS REVOLUÇÕES:
ILUMINISMO, LIBERALISMO, INDEPENDÊNCIA AMERICANA E A
PRIMEIRA CONSTITUCIONÇÃO, REVOLUÇÃO FRANCESA E
DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO E PERÍODO
NAPOLEÔNICO.
Este material não substitui a doutrina, sendo mero fichamento orientador do conteúdo
ministrado em sala de aula.
O aluno deverá pautar seus estudos pela leitura da doutrina, jurisprudência e legislação.
Referências (literatura obrigatória):
CASTRO, Flávia Lages de. História do Direito Geral e do Brasil. 3ª edição. Rio de
Janeiro: Ed. Lumen Júris, 2006.
GILISSEM, Jonh. Introdução histórica ao direito. 7. ed. Lisboa: Caloustre Gulbenkian,
2013.
WOLKMER, Antônio Carlos. Fundamentos da história do direito. 8. ed. Belo Horizonte:
Del Rey, 2014.
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COULANGES, Fustel. A cidade antiga. 2. ed. São Paulo: Hemus, 2003.
LOPES, José Reinaldo de Lima. O Direito na História: Lições Introdutórias. Max
Limonad, 2002.
MARCOS, Rui de Figueiredo, MATHIAS, Carlos Fernando e NORONHA, Ibsen.
História do Direito Brasileiro. 1 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014.
MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais: Teoria Geral. 10 ed. São
Paulo: Atas, 2013.
NASCIMENTO, Walter Vieira do. Lições de história do direito. 15. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2011.
PALMA, Rodrigo Freitas. História do Direito. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
PIOVESAN, Flávia; SOARES, Inês Virgínia Prado. Direitos Humanos atual. São Paulo:
Elsevier, 2014.
REALE, Miguel. Horizontes do Direito e da História. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 1999.
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