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LIGA DE ENSINO DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO UNIVERSITÁRIO DO RIO GRANDE DO NORTE


HISTÓRIA DO DIREITO I - 2019.1
PROFESSOR Me. LUIZ FELIPE PINHEIRO NETO

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Ponto VI – O DIREITO INGLÊS

1. Introdução; parlamentarismo na Inglaterra.


2. Rule of Law, Common Law e Statute Law.
3. Cartas e Declarações inglesas (Magna Carta, Petition of Rights, Habeas Corpus
Amendment Act, Bill of Rights, Act of Settlement, Rule of Law)

1. INTRODUÇÃO
• “No final da Idade Média a Europa começou a assistir o nascimento de Estados
centralizados nas mãos de Monarcas. Na Inglaterra o caminho foi um tanto
diferente; nos séculos XI e XII a monarquia inglesa era bastante poderosa e
conseguia centralizar o poder e, nos séculos seguintes, enquanto o resto da Europa
via nascer o Poder Central, este perdia fôlego no Reino Britânico.” (Lages)
• Disputa de poder entre a monarquia e os nobres (e posteriormente burgueses).
• Formação do Estado baseado em uma instituição representativa, o
Parlamentarismo.

1.1. PARLAMENTARISMO NA INGLATERRA


• Surgido na Inglaterra, a partir da submissão do Rei João sem terra à Carta Magna
e ao baronato, em 1215 (Casa dos Lordes).
• Posterior consolidação da Câmara dos Comuns, em que houve combinação da
burguesia ascendente e a pequena e média nobreza rural, firmando-se na Inglaterra
um parlamentarismo bicameral (1332), existente até hoje.
• Relações atravessadas com Carlos I (Tudor) e Revolta Puritana, com
fortalecimento do Parlamento e instauração de um breve período republicano
(Oliver Cromwell).

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• Revolução Gloriosa em 1688, que resultou na expulsão do Rei católico Jaime II,
substituído por Guilherme de Orange, protestante (casado com a filha de Jaime II)
- O Parlamento passa a ser predominante, formando-se o Conselho de Gabinete.
• Promulgação da Declaração de Direitos (Bill of Rights), limitando em definitivo
a monarquia, fazendo com que o rei não pudesse mais governar sem apoio
parlamentar, pois do próprio parlamento dependeria a administração das Forças
Armadas e a cobrança de impostos.
• A maioria dos autores correlaciona o surgimento da figura do Primeiro-Ministro
à chegada ao poder na Inglaterra dos “reis impossíveis” da dinastia dos Hanover
(Jorge I e Jorge II), após a morte da Rainha Ana, em 1714.
• Os Hannover foram soberanos alemães que nem mesmo sabiam falar inglês,
desconheciam os problemas políticos do Reino e eram negligentes com ele, nem
mesmo participando de reuniões de gabinete.
• A partir daí, o Gabinete passou a ganhar mais autonomia, passando a se reunir e
tomar decisões sozinho, surgindo o cargo de Primeiro Ministro (um representante
do Gabinete que trataria diretamente com os reis da Dinastia Hannover, servindo
originalmente de intérprete/emissário, mas passando a reunir poder executivo) –
“o rei reina, mas não governa”.
• Consolidação do Primeiro Ministro como Chefe do Poder Executivo, enquanto o
Rei permanece como Chefe do Estado.
• Acquaviva: “Com o Ato do Estabelecimento, no dealbar do século XVIII, já se
nota que, se ao gabinete compete a função governamental, ao monarca resta
apenas a função representativa ou chefia do Estado.”
• Bertrand Russel: “O Primeiro-Ministro tem mais poder do que glória, e o rei
mais glória do que poder.”
• A partir de 1782, o Primeiro Ministro Inglês só pode ser escolhido de acordo com
a decisão da Câmara dos Comuns – supremacia da representação popular. Institui-
se também o “voto de desconfiança”, que permitiria a destituição do governo.

Dallari: “Quanto às razões que determinam seu aparecimento, não é difícil explicá-
las. Houve, antes de tudo, o temor dos excessos do poder pessoal e, em conseqüência, o
desejo de transferir a maior soma de poder político para os Parlamentos.”
É um sistema típico das Monarquias Constitucionais, embora possa ser adotado por
Repúblicas.

2. RULE OF LAW E COMMON LAW


2.1. RULE OF LAW

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• Resultado da edição dos documentos como a Magna Carta, Petition of Rights e
Habeas Corpus Act.
• Ferreira Filho: O Rule of law “(...) consiste exatamente na sujeição de todos,
inclusive e especialmente das autoridades, ao império do Direito. Equivale, pois,
ao Estado de Direito como limitação do poder, num sistema de direito não
escrito.”
• Ferreira Filho: “Dicey sintetiza o rule of law em três pontos:
▪ Primeiro, ausência de poder arbitrário por parte do Governo;
▪ Segundo, a igualdade perante a lei;
▪ Terceiro, serem regras da Constituição a consequência e não a
fonte dos direitos individuais.”
• É expressão da common law.
• “A concepção de Direito que os Ingleses sustentam é, de fato, ao contrário do que
prevalece no continente europeu, essencialmente jurisprudencial, ligado ao
contencioso. O Direito inglês, que foi elaborado pelas Cortes reais, apresenta-se
aos ingleses como o conjunto de regras processuais e materiais que essas Cortes
consolidaram e aplicaram tendo em vista a solução dos litígios. A regra de Direito
inglesa (legal rule), condicionada historicamente, de modo estrito, pelo processo,
não possui o caráter de generalidade que tem na França uma regra de direito
formulada pela doutrina ou pelo legislador. As categorias e conceitos, no Direito
inglês, derivam de regras processuais formalistas que as Cortes Reais foram
obrigadas a observar até uma época recente; a distinção entre direito público e
direito privado, em particular por esse motivo, é desconhecida na Inglaterra.”
(René David)

2.2. STATUTE LAW


• Pouca influência do Direito Romano (romanização) nos direitos dos povos que
habitaram a Bretanha, com resistência dos povos bretões, que também resistiram
aos povos germânicos (Anglos e Saxões) que posteriormente invadiram a região,
com formação de reinos instáveis, inclusive no campo do Direito, com pouca
regulação, principalmente da vida privada.
• “O Direito anglo-saxônico ou germânico na Bretanha (...) começa quando, no
final do século VI d.C., a Inglaterra converte-se ao cristianismo.” (Lages)
• Invasão da Bretanha em 1066 por Guilherme, o Conquistador (da Normandia,
França), governando a região (1066-1087), na condição de vassalo do rei da
França, com a instauração do feudalismo (relações feudo-vassálicas) e a divisão
da Inglaterra em condados, com administração de funcionários reais (os xerifes),
e centralização do governo no rei, que resultou em modificações no Direito Inglês.
• Henrique II (primeiro dos Plantagenetas) impõe leis válidas em todo o reino, e
não apenas em seus domínios particulares, nomeia juízes para presidir os tribunais

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locais e submeteu clérigos à Legislação comum, buscando a unificação da
Inglaterra, obra que não foi continuada por seu filho (Ricardo I, Coração de Leão),
que atuava mais em guerra que administração.
• Com a morte de Ricardo nas Cruzadas, assume seu irmão, João (João Sem-Terra),
que já atuava como príncipe regente, que se envolve em políticas externas
desastrosas e perde feudos na França, passa a ter más relações com o Papado. Ele
ainda buscou criar e aumentar impostos e diminuir poderes dos nobres, que
impõem a ele a Magna Charta Libertatum, inaugurando-se o Statute Law.

2.3. COMMON LAW


• O Direito inglês é “(...) um direito forjado por precedentes e não por legislações
estabelecidas por legisladores especificamente. Este procedimento poderia ser
prejudicial ao direito de um país, pois, se respeitados demasiadamente, o direito
não evoluiria, se pouco respeitado o precedente, a legislação poderia tornar-se um
caos que a impediria de cumprir seu papel.” (Lages)
• “A Common Law nasce como a lei comum a todos os ingleses, em oposição aos
direitos locais feudais. Seu aparecimento, a partir do século XIII, será obra
exclusiva dos Tribunais Reais de Justiça (...)” (Lages)
• “E lícito afirmar, em consequência, que a Common law, formalmente, se apresenta
como um direito jurisprudencial, mas substancialmente e por sua origem
corresponde a um direito costumeiro, consagrado e perpetuada pela
jurisprudência. Dentro desse regime, a lei (statute law) constitui, em relação ao
direito comum e em certo sentido, um direito especial, que só disciplina,
restritamente, as matérias que contempla, e só em relação a estas matérias
prevalece, afastando-se da common law, que é o direito geral.” (Vicente Ráo)

3. CARTAS E DECLARAÇÕES INGLESAS


• José Afonso: “Na Inglaterra, elaboraram-se cartas e estatutos assecuratórios de
direitos fundamentais, como a Magna Carta (1215-1225), a Petition of Rights
(1628), o Habeas Corpus Amendment Act (1679) e o Bill of Right (1688). Não
são, porém, declarações de direitos no sentido moderno, que só aparecem no
século XVIII com as Revoluções americana e francesa. Tais textos, limitados e às
vezes estamentais, no entanto, condicionaram a formação de regras
consuetudinárias de mais ampla proteção dos direitos humanos fundamentais.”

3.1. MAGNA CARTA (Magna Charta Libertatum - 1215)

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• Magna Charta Libertatum seu Concordiam inter regem Johannem et Barones pro
concessione libertatum ecclesiae et regni Andliae – Carta Magna das Liberdades
ou Concórdia entre o rei João e os Barões para a outorga das liberdades da Igreja
e do Reino Inglês)
• Tendência de centralização política na Europa a partir do Século XI e progressiva
extinção/limitação do Feudalismo e estabelecimento de um suserano sobre os
demais (um primus inter pares), o Rei.
• Resposta dos senhores feudais com a Declaração das Cortes de Leão (Espanha –
1188).
• Enfraquecimento político/militar da Coroa inglesa no reinado de João Sem-Terra,
aumento da pressão tributária para financiamento bélico e colisão com o papado,
levando à submissão da Inglaterra como feudo de Roma (1213) a uma revolta
armada dos barões (1215), com a imposição da Carta Magna.
• Ferreira Filho: “Apesar de formalmente outorgada por João sem Terra, é ela um
dos muitos pactos da história constitucional da Inglaterra, pois, efetivamente
consiste no resultado de um acordo entre esse rei e os barões revoltados, apoiados
pelos burgueses (no sentido próprio da palavra) de cidades como Londres.”
• Mesmo com a declaração de Nulidade por parte do Papa Inocêncio III, a Magna
Carta foi ratificada pelos sucessores de João.
• Comparato: “(...) a Magna Carta deixa implícito pela primeira vez, na história
política medieval, que o rei achasse naturalmente vinculado pelas próprias leis
que edita. Quinhentos anos antes, Santo Isidoro (560-636), bispo de Sevilha, já
havia defendido a idéia de que o príncipe devia submeter-se às leis que ele próprio
promulgara, pois “só quando também ele respeita as leis, pode-se esperar que elas
sejam obedecidas por todos” (Sententiae III, 51.4.).”
• Comparato: “(...) se a Magna Carta contribuiu, num primeiro momento, para
reforçar o regime feudal, ela já trazia em si o germe de sua definitiva destruição ,
a longo prazo. O sentido inovador do documento consistiu, justamente, no fato de
a declaração régia reconhecer que os direitos próprios dos dois estamentos livres
– a nobreza e o clero – existiam independentemente do consentimento do
monarca, e não podiam, por conseguinte, ser modificados por ele. Aí está a pedra
angular para a construção da democracia moderna: o poder dos governantes passa
a ser limitado, não apenas por normas superiores, fundadas no costume ou na
religião, mas também por direitos subjetivos dos governados. (...)”
• Concessão de grande poder ao Conselho de Nobres (Conselho do Reino), que já
existia desde a conquista Normanda, submetendo ao consentimento do Conselho
a criação de impostos e contribuições. É o embrião do Parlamento.

• Cláusula 1: reconhece as liberdades eclesiásticas, o que é apontado como germe


da futura separação institucional entre Igreja e Estado.

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• Cláusulas 12 e 14: estabelecem que o exercício do poder tributário do poder
tributário deve ser consentido pelos súditos (no taxation without representation),
considerado como um dos elementos originadores do moderno sistema
parlamentar de governo. – Ferreira Filho: “Ora, isto não só provocou mais tarde
a institucionalização do parlamento, como lhe serviu de arma para assumir o papel
de legislador e de controlador da atividade governamental.”
• Cláusulas 16 e 23: “O sentido primogênito da norma fundamental, inscrita em
quase todas as Constituições modernas, segundo a qual ninguém será obrigado a
fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei, encontra-se nessa
disposição da Magna Carta.” (Comparato)
• Cláusulas 17 e 40: estabelecimento de que o rei não é dono da justiça, mas tem
um poder-dever de assegurá-la, sempre que demandado, pois a justiça seria uma
função de interesse público.
• Cláusulas 20 e 21: lançadas as bases do Tribunal do Júri. É também estabelecida
a graduação das penas em relação à importância do delito.
• Cláusulas 30 e 31: garantia do respeito à propriedade privada contra confiscos ou
requisições arbitrários.
• Cláusula 39: estabelecimento do princípio do devido processo legal (due process
of law). A judicialidade é estabelecida como um dos princípios do Estado de
Direito.
• Cláusulas 41 e 41: liberdade de ir e vir.
• Cláusula 61: firma o início do processo de estabilização do princípio de
responsabilização do soberano (ou fim da irresponsabilidade do soberano).

3.2. PETITION OF RIGHTS (1628)


• Moraes: “(…) previa expressamente que ninguém seria obrigado a contribuir com
qualquer dádiva, empréstimo ou benevolência e a pagar qualquer taxa ou imposto,
sem o consentimento de todos, manifestado por ato do Parlamento; e que ninguém
seria chamado a responder ou prestar juramento, ou a executar algum serviço, ou
encarcerado, ou, de qualquer forma, molestado ou inquietado, por causa destes
tributos ou da recusa em pagá-los. Previa, ainda, que nenhum homem livre ficasse
sob prisão ou detido ilegalmente.”
• Instauração do absolutismo pelos Tudor.
• Busca reforçar a Magna Carta e lembrar a Carlos I (filho de Jaime I, que havia
fechado o Parlamento, cujas políticas foram radicalizadas pelo filho). Não foi
considerado pelo rei como documento jurídico, tendo o monarca deixado de
convocar o Parlamento por onze anos, em retaliação.
• Petição de Direitos: “Os lordes espirituais e temporais e os comuns reunidos em
Parlamento, humildemente lembram ao rei, nosso soberano e senhor (...)”

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• Luta com os escoceses (guerra entre os Anglicanos ingleses e os presbiterianos da
Escócia), com a convocação do Parlamento por Carlos I, retomando-se a oposição
entre eles, com a tentativa de nova imposição da Petição de Direitos.
• Represália de Carlos e início da Revolução Puritana, com fortalecimento do
parlamentarismo.
• Breve período Republicano, com o governo de Oliver Cromwell, e fortalecimento
econômico da burguesia e da parcela da nobreza que tinha interesses burgueses,
mas restabelecimento da monarquia com seu falecimento, com o governo de
Carlos II.

3.3. HABEAS CORPUS AMENDMENT ACT (1679)


• Governo de Carlos II.
• “No reinado de Carlos II, com o objetivo de minimizar os danos causados por
antagonismos que geravam violências e prisões indevidas foi redigido o Habbeas
Corpus Act em 1679.” (Lages)
• “Habeas Corpus é o instituto jurídico que visa, atualmente, dar uma garantia
individual ao direito de locomoção, consubstanciada por uma ordem dada pelo
juiz ou por Um Tribunal ao coautor, com vistas a fazer cessar a ameaça ou coação
de liberdade.” (Lages) – É um instituto do Direito Romano, resgatado nos
documentos do Statute Law.
• Moraes: “(…) regulamentou este instituto (o habeas corpus) que, porém, já
existia na common law. A lei previa que, por meio de reclamação ou de
requerimento escrito de algum indivíduo ou a favor de algum indivíduo detido ou
acusado da prática de um crime (exceto e se tratar de traição ou felonia, assim
declarada no mandado respectivo, ou de cumplicidade, no passado, em qualquer
traição ou felonia, também declarada no mandado, e salvo o caso de formação de
culpa ou incriminação em processo legal), o lorde-chanceler ou, em tempo de
férias, algum juiz dos tribunais superiores, depois de terem visto cópia do
mandado ou o certificado de que a cópia foi recusada, poderiam conceder
providência de habeas corpus (exceto se o próprio indivíduo tivesse
negligenciado, por dois períodos, em pedir a sua libertação) em benefício do
preso, a qual será imediatamente executada perante o mesmo lorde-chanceler ou
o juiz; e, se afiançável, o indivíduo seria solto, durante a execução da providência,
comprometendo-se a comparecer e a responder à acusação no Tribunal
competente. Além de outras previsões complementares, o Habeas Corpus Act
previa multa de 500 libras àquele que voltasse a prender, pelo mesmo fato, o
indivíduo que tivesse obtido a ordem de soltura.”

3.4. BILL OF RIGHTS (Declaração de Direitos - 1689)

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• É fruto da crise religiosa entre católicos e protestantes e da crise sucessória após
a deposição de Carlos I (que havia tentado reestabelecer o catolicismo como
religião de Estado), que resultou na Ditadura Cromwell, os posteriores reinado e
fuga de Jaime II, que tinha a oposição da nobreza e do clero e teria supostamente
cometido crimes contra o Estado e a Igreja – ocorrência da Revolução Gloriosa.
• Com a fuga de Jaime II assunção do Príncipe Guilherme de Orange e de sua
esposa, Maria de Stuart, filha de Jaime II, que foram coroados após aceitarem a
Declaração de Direitos votada pelo parlamento, estabelecendo-se uma separação
de poderes (que viria a ser elogiada por Montesquieu, posteriormente).
• Comparato: “Promulgado exatamente um século antes da Revolução Francesa,
o Bill of Rights pôs fim, pela primeira vez, desde o surgimento na Europa
renascentista, ao regime de monarquia absoluta, no qual todo poder emana do rei
e em seu nome é exercido. A partir de 1689, na Inglaterra, os poderes de legislar
e criar tributos já não são prerrogativas do monarca, mas entram na esfera da
competência reservada ao Parlamento. Por isso mesmo, as eleições e o exercício
das funções parlamentares são cercados de garantias especiais, de modo a
preservar a liberdade desse órgão político diante do chefe de Estado.”
• Comparato: “A transformação social provocada pelo Bill of Rights não pode
deixar de ser encarecida. Não é exagero sustentar que, ao limitar os poderes
governamentais e garantir as liberdades individuais, essa lei fundamental suprimiu
a maior parte das peias jurídicas que embaraçavam a atividade profissional dos
burgueses. É sabido, aliás, que a Glorious Revolution contou com o apoio maciço
dos comerciantes e armadores ingleses, decididos a enfrentar a concorrência
francesa no campo do comércio marítimo.”
• Moraes: “(...) significou enorme restrição ao poder estatal, prevendo, dentre
outras regulamentações: fortalecimento ao princípio da legalidade, ao impedir que
o rei pudesse suspender leis ou a execução das leis sem o consentimento do
Parlamento; criação do direito de petição; liberdade de eleição dos membros do
Parlamento; imunidades parlamentares; vedação à aplicação de penas cruéis;
convocação frequente do Parlamento. Saliente-se, porém, que, apesar do avanço
em termos de declaração de direitos, o Bill of Rights expressamente negava a
liberdade e a igualdade religiosa, (...)”
• A estabilidade econômica e política e a liberdade de comércio e de ciência
provenientes do Bill of Rights possibilitou a ocorrência da Revolução Industrial.
• “Apesar de minimizar as prisões advindas dos antagonismos políticos, o Ato de
Habeas Corpus não foi uma solução. Nem a morte de Carlos II, que apenas
transferiu os problemas para o reinado de seu irmão, Jaime II. Diante do impasse
político, os parlamentares tramaram a queda do Rei e ofereceram o trono ao genro
dele, Guilherme de Orange, que inaugurou a era do Parlamentarismo de fato na
Inglaterra, tão bem ilustrada na frase: o rei reina, mas não governa.” (Lages)
• O Parlamento passa a ter a exclusividade legislativa.

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3.5. ACT OF SETTLEMENT (1701)
• Moraes: “(…) basicamente, configurou-se em um ato normativo reafirmador do
princípio da legalidade (item IV – E considerando que as leis de Inglaterra
constituem direitos naturais do seu povo e que todos os reis e rainhas que subirem
ao trono deste reino deverão governa-lo, em obediência às ditas leis, e que todos
os seus oficiais e ministros deverão servi-los também de acordo com as mesmas
leis...) e da responsabilização política dos agentes públicos, prevendo-se a
possibilidade, inclusive, de impeachment de magistrados.”

Próximo Ponto:
VII. O DIREITO MODERNO, O ILUMINISMO E AS REVOLUÇÕES:
ILUMINISMO, LIBERALISMO, INDEPENDÊNCIA AMERICANA E A
PRIMEIRA CONSTITUCIONÇÃO, REVOLUÇÃO FRANCESA E
DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO E PERÍODO
NAPOLEÔNICO.
Este material não substitui a doutrina, sendo mero fichamento orientador do conteúdo
ministrado em sala de aula.
O aluno deverá pautar seus estudos pela leitura da doutrina, jurisprudência e legislação.
Referências (literatura obrigatória):
CASTRO, Flávia Lages de. História do Direito Geral e do Brasil. 3ª edição. Rio de
Janeiro: Ed. Lumen Júris, 2006.
GILISSEM, Jonh. Introdução histórica ao direito. 7. ed. Lisboa: Caloustre Gulbenkian,
2013.
WOLKMER, Antônio Carlos. Fundamentos da história do direito. 8. ed. Belo Horizonte:
Del Rey, 2014.

Referências (literatura complementar):


ALTAVILA, Jayme de. Origem dos direitos dos povos. 11. ed. São Paulo: ICONE, 2006.
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. 16 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014.
BOBBIO, Noberto. A Era dos Direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho.
Apresentação de Celso Laffer. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. 6ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2008.

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COULANGES, Fustel. A cidade antiga. 2. ed. São Paulo: Hemus, 2003.
LOPES, José Reinaldo de Lima. O Direito na História: Lições Introdutórias. Max
Limonad, 2002.
MARCOS, Rui de Figueiredo, MATHIAS, Carlos Fernando e NORONHA, Ibsen.
História do Direito Brasileiro. 1 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014.
MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais: Teoria Geral. 10 ed. São
Paulo: Atas, 2013.
NASCIMENTO, Walter Vieira do. Lições de história do direito. 15. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2011.
PALMA, Rodrigo Freitas. História do Direito. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
PIOVESAN, Flávia; SOARES, Inês Virgínia Prado. Direitos Humanos atual. São Paulo:
Elsevier, 2014.
REALE, Miguel. Horizontes do Direito e da História. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 1999.

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