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Ruitemberg Pereira (2005):

 William Stubbs. Germany in the early middle ages, 476-1250. NY: AMS Press, 1908, p.
134-136: aponta para semelhanças históricas e jurídicas entre Inglaterra e Alemanha.
Eram ambos reinados compostos por estados menores, submetidos a um Governo
Central, enfrentando invasões bárbaras (dinamarqueses na Inglaterra e húngaros na
Alemanha). A vida tribunal era regulada por normas diversas: a) na Inglaterra, leis
dinamarquesas, da Mércia e da Saxônia Ocidental; b) na Alemanha, leis bávaras,
alemãs e saxônicas. Dinastias rivais remanescentes relutaram por muito tempo. Mas
havia também diferenças: as diversas nações germânicas tinham experimentado
ampla autonomia antes de formar um único Império. Os ducados da Suábia, Baviera,
Francônia, Saxônia e posteriormente a anexação da Frísia e Lotaríngia. A Alemanha foi
conquistada antes de ser cristianizada pelos francos. A Inglaterra foi cristianizada antes
de sua consolidação (fator de unidade e não consequência). Na Alemanha, maior
influência romana (especialmente a Lotaríngia). Após a conquista da Borgonha e das
regiões acima do Rio Elba, a população romana aumentou ainda mais nos séculos X a
XII. Havia o grande sonho dos monarcas germanos de serem também reis da Itália,
assim “imperadores de Roma”. No século XII, com as universidades e os glosadores, a
prevalência do direito romano vive um apogeu. (2005, p. 5-7).
 O rei Conrad II impulsionou o aperfeiçoamento do sistema feudal a partir da influência
do sistema romanístico, revivendo a ligação imaginária entre governar Roma e
governar o mundo. Na Alemanha, diferente da Inglaterra, os filhos sucediam aos pais
no exercício do governo imperial por presunção de direito. A Alemanha conviva com
constante risco de fragmentar-se em estados menores por causa de sua diversidade e
dos conflitos internos. Mas a sucessão não-hereditária do poder inglês implicava
instabilidade (p. 8).
 Em 1024, Conrad II foi eleito rei do Sacro Império Romano-Germânico. Uma das
marcas de seu governo foi o apoio a pequenos proprietários de feudos, modificando o
direito feudal costumeiro sobre aquisição e manutenção de propriedades, em prejuízo
a nobres e grandes senhores feudais. Na época (séculos X e XI), o costume era
praticamente a fonte exclusiva do direito. Em um famoso edito ou decreto de 28 de
maio de 1037, o rei Conrad II determinou que “nenhum homem seria privado de um
feudo sob o domínio do Imperador ou de um senhor feudal (mesne lord), senão pelas
leis do Império (laws of empire) e pelo julgamento de seus pares (judgment of his
peers)”. Tais expressões aparecem de forma semelhante na Inglaterra, na Carta Magna
de 1215. (p. 12-21).
 Assim, desde suas remotas origens medievais germânicas, o devido processo legal
possuía uma dimensão substantitva de proteção de direitos. Não havia apenas um
caráter procedimental. Dedicava-se, pois, a proteger direitos possessórios dos vassalos
diante da atuação arbitrária de senhores feudais (direito de propriedade) (p. 25).
 Anacronismo de Ruitemberg: confunde a ideia de “Law of the Empire” com princípio
da legalidade, sendo que não havia leis aprovadas pelo Parlamento ainda (5-26).
 Inglaterra tinha forte ligação com os povos germânicos. O rei inglês Canute foi um dos
poucos a comparecer à coroação de Conrado II em Roma (1027), além das conexões
entre famílias nobres das duas regiões. Após a conquista do território britânico pelos
normandos no ano 1066, muitas práticas da Europa continental foram levadas à
Inglaterra e depois à Escócia (p. 27-28).
 Após ser eleito rei da Inglaterra, Henrique I edita uma famosa carta (Charter of Henry
I), especificando abusos do reinado anterior e proibindo-os. Além de reconciliar-se
com a Igreja, são afastados os maus costumes (dos normandos) e são restauradas as
leis do rei Edward. Além disso, há a previsão de que as causas serão julgadas pelos
compatriotas ingleses (2005, p. 37-38).
 A Magna Carta de 1215 representa um significativo precedente de controle ao poder
do monarca, mas era um pacto entre o rei e um grupo de aristocratas. Não trazia
direitos aos servos, mas sim aos “homens livres” (freemen) que efetivamente
controlavam o Parlamento. A aplicação dessa Carta foi encarregada a um comitê
composto por vinte e cinco barões, escolhidos entre os nobres. Esse comitê poderia
até mesmo declarar guerra contra o monarca, penhorar bens reais e retirar a
imunidade de algum integrante da família real em determinadas situações. Toda e
qualquer reclamação contra o rei ou seus servos deveria ser encaminhada a quatro
dos membros dessa comissão. Porém, quando se tentou formar a primeira comissão
dos vinte e cinco, nem todas as regiões inglesas haviam concordado com a Carta. Esta
também previa a restauração de Londres, que continuou nas mãos dos barões. Diante
da instabilidade, o Papa anula a Magna Carta em 24 de agosto de 1215 por entender
que ela prejudicava os direitos do rei e excomungou todos que elaboraram o texto. O
rei John Lackland (traduzido como João Sem-Terra) morreu pouco tempo depois (p.
50-53).
 Em uma das várias reedições da Magna Carta inglesa, surge a expressão “due process
of law” (devido processo jurídico) no juramento de Edward III em 1354. Substituía-se,
assim, a expressão latina legale judicium parium suorum. (p. 56).
 Da discussão na Inglaterra às cartas coloniais da América do Norte. Depois, o termo
aparece com as 5ª (1791) e 14ª (1868) emendas à constituição federal. Os primeiros
julgados enfatizaram o caráter estritamente processual (procedural due process):
direito a um processo regular e justo.
 No final do século XVIII, houve o julgamento do caso Calder v. Bull, de 1798, no qual a
Suprema Corte examina limites materiais do poder governamental a partir da ideia de
devido processo legal substancial: atos normativos, legislativos ou administrativos,
ofendem o devido processo legal e estarão sujeitos à declaração judicial de nulidade
quando violam direitos fundamentais.
 No caso americano Anti-facist Committee v. Mc Grath, 341 US 123, 95 L. Ed. 817
(1951), o juiz Felix Frankfurter afirma: devido processo não pode ser aprisionado
dentro dos traiçoeiros limites de uma fórmula... devido processo é produto da história,
da razão, do fluxo das decisões passadas e da inabalável confiança na força da fé
democrático que professamos. Devido processo não é um instrumento mecânico. Não
é um padrão. É um processo. É um delicado processo de adaptação que
inevitavelmente envolve o exercício de julgamento por aqueles a quem a Constituição
confiou o desdobramento do processo.
 Dentre os primeiros conteúdos visualizados na jurisprudência norte-americana, a ideia
de igualdade de tratamento pelas autoridades e, com isso, a exigência de paridade de
armas como corolário da igualdade substancial.
 LÚCIA VALLE FIGUEIREDO: “o princípio da legalidadeestá, pois, atrelado ao devido
processo legal, em sua faceta substancial e nãoapenas formal. Em sua faceta
substancial – igualdade substancial – não basta que todos os administrados sejam
tratados da mesma forma. Na verdade, deve-se buscar a meta da igualdade na própria
lei, no ordenamento jurídico e em seus princípios” (“O devido processo legal e a
responsabilidade do Estado por dano decorrente do planejamento”, n. 2.1, p. 93)

 JohnAdams: trata-se de reconhecer a existência de um “governo de leis, e não de


homens”
 Trechos da Carta Magna: Dispõe o Capítulo 39:“Nenhum homem livre será detido ou
sujeito à prisão, ou privado dos seus bens, ou colocado fora da lei, ou exilado, ou de
qualquer modo molestado, e nós não procederemos nem mandaremos proceder
contra ele senão mediante um julgamento regular pelos seus pares ou de harmonia
com alei do país.” Por sua vez, o Capítulo 40 estabeleceu que “Não venderemos, nem
recusaremos, nem protelaremos o direito de qualquer pessoa a obter justiça”.
Posteriormente, em 1354, uma reedição da Carta introduziu, pela primeira vez, a
expressão “devido processo legal” (due process of law), ao dispor: “Que nenhum
Homem, de qualquer Estado ou Estado que seja, seja expulso de Terras ou
Arrendamentos, nem levado, nem preso, nem deserdado, nem condenado à morte,
sem ser trazido em resposta pelo devido processo da lei.

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