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INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, o termo “sociedade aberta” tem se tornado frequente entre
juristas e críticos da prática constitucional brasileira. Segundo Fernando Leal 1, em texto
publicado em 08 de março de 2018, a “sociedade aberta” é apenas um mito, uma ideia
que não encontra efetividade na prática atual. Isso porque o Supremo Tribunal Federal
(STF) seleciona quem deseja ouvir e o que deseja ouvir, não correspondendo ao sentido
da teoria da abertura dos intérpretes. Um dos argumentos apresentados é a baixa
utilidade prática das audiências públicas no processo decisório do referido tribunal.
Afinal, o direito de falar e apresentar argumentos não garante que será realmente
ouvido.
1
Disponível em: <https://www.jota.info/stf/supra/o-mito-da-sociedade-aberta-de-interpretes-da-
constituicao-08032018>. Acesso em 20 nov. 2019.
Por um lado, o termo sugere uma abertura ou permeabilidade da jurisdição
constitucional, o que pode ser visto como um elemento favorável para lidar com a
questão da legitimidade das decisões judiciais em assuntos complexos. Por outro lado, a
“teoria” em si merece ser avaliada quanto ao seu mérito e, principalmente, desafiada
acerca de sua efetiva concretização pelo órgão jurisdicional. Seria apenas mais uma
estratégia retórica dos discursos e práticas jurídicas?
Diante desse cenário, este artigo pretende examinar diferentes sentidos de uma
sociedade aberta enquanto pressuposto para uma interpretação constitucionalmente
adequada e seus respectivos objetivos e desafios práticos.
ADI 4983 CE (2016) – Voto do Min. Edson Fachin: “sociedade aberta e plural, como a
sociedade brasileira, a noção de cultura é uma noção construída”.
ADI 5468 DF (2016) – Voto do Min. Luiz Fux: construção colaborativa da noção
jurídico-constitucional de “entidade de classe de âmbito nacional” pela sociedade aberta
dos intérpretes.
AP 937 QO RJ (2018) – Voto do Min. Celso de Mello: decisões do STF não são imunes
à crítica e à divergência e ao debate na sociedade civil e nas comunidades jurídica e
acadêmica “sob a égide de uma sociedade aberta dos intérpretes livres da Constituição”
(interpretação do foro por prerrogativa de função).
RE 522897 RN – Voto do Min. Gilmar Mendes: “interpretação constitucional aberta”
ADI 2777 SP – Retificação de voto do Min. Joaquim Barbosa, após os pronunciamentos
dos ministros Celso de Mello, Carlos Ayres de Britto e Marco Aurélio: A intervenção do
amicus curiae é, sim, uma expressão da sociedade aberta dos intérpretes da Constituição,
PETER HÄBERLE
Peter Häberle (1975, p. 297) esclarece que sua principal preocupação teórica é
o aprofundamento sobre os sujeitos envolvidos na interpretação constitucional
(Beteiligten): afinal, quais são os participantes da interpretação constitucional? Quem
são os intérpretes? Isso porque, em sua forma de entender, a teoria da interpretação não
poderia limitar-se a interpretações judiciais e procedimentos formalizados.
E no Brasil?
REFERÊNCIAS
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Peter Haberle. Zeit und Verfassung. Prolegomena zu einem „zeit-gerechten“
Verfassungsverständnis.
1. Bestandsaufnahme. 1. Allgemein. 2. Im Verfassungsrecht. 3. Konkreter
Problemkatalog.
2. Verfassungstheoretischer und –praktischer Ansatz: „zeit-gerechte“ Interpretation
im Horizont von „öffentlichkeit und Wirklichkeit der Verfassung“. 1. Die Zeit
im Verfassungsverständniss. 2. Verfassungsrechtliche Sachaussagen und
zeitgebundene und –bindende Interpretationsmethoden – ihr Wechselverhältniss.
3. Die einzelnen Interpretationsmethoden als unterschiedlich wirkende Vehikel
des Zeitfaktors im – republikanischen – Auslegungsvorgang. 4. Das
Nachverständniss als Vorverständnis der Zukunft. 5. Verabschiedung des
selbständigen Begriffs „Verfassungswandel“. 6. Die Vorwirkung von Gesetzen.
7. Erfahrungs-, Experimentier-, Reformklausen als institutionalisierte Formen. 8.
Verfassungsänderungen als verfassungspolitisches Gebot.
2
Leisner, “Antigeschichtlichkeit des öffentlichen Rechts?“ in: Der Staat 7 (1968), S. 137ff. Bleibt zu
abstrakt; er unterscheidet sich grundlegend von dem hier gewählten Ansatz, z. B. S. 138: Das öffentliche
Recht ist, es wird nicht. Sein Kern, das Staatsrecht, ist der Prototyp einer geschichtslosen, já
entwicklungsfeindlichen, weil im Grunde auch wirklichkeitsfremden Ordnung. S. 140: Die Verfassung
bietet also versteinerte Politik. S. 144: Achronismus des Verfassungsrechts. S. 152: Die Verfassung ist
ihrem Wesen nach unveränderlich.
und damit Zeitabhängigkeit des Rechts zu berüchsichtigen (Zippelius, 1971).
Gleiches gilt für die Forderung nach Praxisbezogenheit der Wissenschaft.
Der Zeitfaktor ist wirksam in der Herausstellung des Prozesshaften, z.B. bei der
Rechtsfindung i. S. der „law in action“ (Esser) oder bei politischen
Planungsprozessen. Demokratie ist besonders zeitoffen als eine „evolutionäre
Methode politischer Sozialgestaltung, die auf soziale Gerechtigkeit und
gesellschaftliche und politische Emanzipation gerichtet ist“ (Badura, 1970).
Selbst das Naturrecht wird zeitlich verstanden: augenfällig in Fechners
„Naturrecht mit werdendem Ihnalt“ (1954), in den Worten vom „Naturrecht mit
wechseIndem Inhalt“, geschichtlichem naturrecht u.ä. Kaufmann spricht vom
Recht als etwas, „was man immerzu machen, gestalten, realisieren, erneuern
muss“.
2. Zum Thema „Zeit und Verfassung“ gibt es mittelbare Aussagen: Das Attribut
„Wandel“ wird nahezu allen verfassungsrechtlichen Begriffen hinzufügt:
Funktions- bzw. Bedeutungswandel des Gesetzes, der Grundrechte, der
Souveränität. Erinnert sei na Habermas „Strukturwandel der Öffentlichkeit“.
Die Verfassungstheorien unterscheiden sich wesentlich dadurch, dass sie der
Zeit, das heisst der Veränderung der gesellschaftlichen Wirklichkeit, einen
unterschiedlichen Stellenwert einräumen. Man denke and die Integrationstheorie
Smends einerseits, na Forsthoffs „Erinnerung an den Staat“ andererseits. Der
Offenheit der Verfassung, ihrem „öffentlichen“ Verständnis, der
grundrechtssichernden Geltungsfortbildung, den Prozessen der Verwirklichung
der Verfassung sowie der Betonung ihres Aufgabenchakters stehen weniger
dynamische Verfassungskonzeptionen gegenüber. Sie äussern sich in der
übernahme von Verfalltheorien. „Bewährung“ der Verfassung wird primär in
ihrer „Bewahrung“ gesehen, der Entwicklungsgedanke wird minimalisiert. Zu
erinnern ist na den Streit um das Verhältnis von Staat und Gesellschaft, um
Sozialstaatsprinzip (Forsthoff) und Grundrechtsverständnis, die
Verfassungsgerichtbarkeit, d.h. insbesondere an die Positionen von Forsthoff.
Durchweg wird die „Zukunft“ – und sie hat in der Gegenwart immer schon
begonnen – als „Eindringling“ und skeptisch nicht als zur „Sache Verfassung
und Verfassungsrecht“ selbst gehörig betrachtet. „25 Jahre Grundgesetz“ lassen
verfassungstheoretiche Überlegungen zur „Zeit“ dringlich erscheinen. Das
Verfassungsrecht lebt schon prima facie in einer spezifischen Zeitproblematik.
Einerseits verleiht ihm die erschwerte Abänderbarkeit Dauer und Kontinuität,
Verlässlichkeit und Sicherheit; andererseits dringt die Zeit eben deshalb
spezifisch in das Verfassungsrecht ein, já sie muss es tun: in Gestalt flexibler,
offener Verfassungsinterpretation, im Verfahren der Verfassungsänderung oder
in der Forderung nach Total- oder Partialrevision. Kontinuität der Verfassung ist
nur möglich, wenn Vergangenheit und Zukunft in ihr verbunden werden. Die
Verfassungsdogmatik hat auch Figuren geschaffen, die der Zeit trotzen sollen: in
Gesalt der Lehre von Instituts- und institutionellen sowie Status-quo-Garantien.
Der Methodenstreit im Verfassungsrecht ist nicht zuletzt ein Streit um die Rolle,
die der Zeit zukommen soll. Wichtig ist Lerches Kritik an
Verändergungsideologien, die durch Kritik an Status-quo-Ideologien zu
ergänzen wäre.
3. Ein konkreter Problemkatalog zeigt, wie unterschiedlich die Bereiche sind, die –
unter dem Aspkt der Zeit – zusammengehören. Die Zeitdimension spielt eine
Rolle im Entstehen von sog. (Verfassungs-)Gewohnheitsrecht (Hans Huber,
1971), im Schutz oder Bruch von „wohlerworbenen Rechten“, beim
Vertrauensschutz, der Verwirkung und Verjährung, bei Rechtskraftproblem, der
„sachlichen Diskontinuität“, bei den lex-posterior- bzw. Prior-tempore-Sätzen,
der clausula rebus sic stantibus, bei den Grenzen der Rückwirdkung und der
Beobachtung einer „vorwirkung“ von Gesetzen (vor allem über die
Konkretisierung von Gemeinwohlaspekten, aber auch im Strafrecht) sowie bei
der Prognosetätigkeit von Gesetzgeber und BverG, dem Problem der obter dicta,
der ständigen und Grundsatz-Rechtsprechung, der Publizität von Sondervoten,
der Betonung der Verfahrensabhängigkeit juristicher Akte und schliesslich bei
der Qualifizierung der „Erfahrung als Rechtsquelle“. Erinnert sei an die
unterschiedliche Zukunftsorientiertheit von Rechtsprazen, an Arbeits- und
Völkerrecht als „werdendes Recht“ (D. Schindler). (p. 111-114)