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Constitucionalismo – Parte 01

Prof. Me. Edson Barbosa de Miranda Netto


Constitucionalismo
Conceito de Constitucionalismo:
• Constitucionalismo é o movimento social, político e
jurídico, cujo principal objetivo é limitar o poder do
Estado por meio de uma Constituição (NUNES
JÚNIOR, 2019).

• Ao longo da história, sempre houve movimentos de


enfrentamento ao poder autoritário e concentrado
que possuíam dois objetivos  limitar o poder estatal
e garantir direitos.
Constitucionalismo
Conceito de Constitucionalismo:
• 01) Movimento social  Foi resultado da soma
de uma série de episódios sociais historicamente
relevantes, buscando a limitação do poder do
Estado e o reconhecimento de direitos
fundamentais. Ex: Revolução Francesa,
Revolução Americana, assinatura da Magna
Carta inglesa, Revolução do Porto de 1820 etc.
Constitucionalismo
Conceito de Constitucionalismo:
• 02) Movimento político  Foram necessários
acordos e negociações políticas no intuito de
limitação do poder estatal e organização do Estado
por meio de uma Constituição.

• 03) Movimento jurídico  Corresponde à


construção de teorias, desde a busca inicial pela
força normativa da Constituição, capazes de alterar
a realidade e limitar o poder estatal.
Origem do Constitucionalismo
A depender da visão adotada, pode-se seguir duas
principais correntes acerca das origens do
Constitucionalismo:
• 1) Concepção mais restrita  o Constitucionalismo
surge apenas no séc. XVIII com as Revoluções
Liberais americana e francesa (todos os fatos
anteriores consistem apenas num Pré-
Constitucionalismo). Assim, a ideia de
Constitucionalismo é contemporânea das
Constituições em sentido moderno.
Origem do Constitucionalismo
• 2) Concepção mais ampla  Desde a
Antiguidade Clássica, em povos como hebreus,
gregos e romanos, há elementos embrionários
de um Constitucionalismo Antigo. Assim, haveria
um Pré-Constitucionalismo apenas no período
anterior à invenção da escrita (Pré-história – até
4.000 a.C.). Esta será a visão adotada na
presente aula.
Evolução histórica do Constitucionalismo

O Constitucionalismo pode ser comparado com os


períodos da história da Humanidade.
• Pré-História  Pré-Constitucionalismo.
• Idade Antiga  Constitucionalismo Antigo.
• Idade Média  Constitucionalismo Medieval.
• Idade Moderna  Constitucionalismo Moderno/
Liberal.
• Idade Contemporânea  Constitucionalismo Social e,
posteriormente, Constitucionalismo Contemporâneo/
Neoconstitucionalismo.
Pré-Constitucionalismo
Não há propriamente um Constitucionalismo  período
anterior à invenção da escrita (por volta de 4.000 a.C.).

Sociedades mais rudimentares, com regras sociais


transmitidas oralmente.

As regras não escritas ali existentes podem ser


chamadas de Pré-Constitucionalismo, já que compõem
um sistema rudimentar, com noções mais insipientes
de território e governo.
Constitucionalismo Antigo
Em determinados povos da Antiguidade, podem ser
encontrados fatos e situações que, mesmo de modo
tímido, representam a busca por limitar o poder do
soberano. Podem ser apontados os seguintes
povos:
• Hebreus.
• Gregos.
• Romanos.
Constitucionalismo Hebreu
Karl Loewenstein (filósofo, político e
constitucionalista alemão (1891-1973)  identificou
que as primeiras demonstrações do
Constitucionalismo podem ser encontradas na
Antiguidade Clássica, primeiramente junto ao povo
hebreu, por meio dos profetas, responsáveis por
fiscalizar os atos do poder público e verificar sua
compatibilidade com os textos sagrados dos
hebreus.
Constitucionalismo Hebreu
Na cultura hebraica, os governantes também
estavam subordinados às leis sagradas, cabendo as
profetas apontar quando aqueles estivessem
desrespeitando-as. Exemplos:
• O profeta Natã repreende o rei Davi por este ter
causado a morte de Urias para ficar com sua
esposa, Betsabé.
• O profeta João Batista foi um dos maiores críticos
do rei Herodes Antipas, em razão deste ter
abandonado sua esposa para se casar com
Herodias, esposa do seu irmão.
Constitucionalismo Grego
Berço cultural da cultura ocidental e local de
nascimento e desenvolvimento da democracia,
também podem ser apontados elementos do
Constitucionalismo na Grega Antiga, sobretudo da
Cidade-Estado de Atenas.

Democracia ateniense  abertura do Parlamento


aos cidadãos detentores de direitos políticos
(excluídos mulheres, escravos e estrangeiros).
Constitucionalismo Grego
O direito ateniense previa o uso de ações públicas
(graphé) pelo cidadão que se sentisse prejudicado
pelo Estado.

• 1) Graphé paranomon  Podia ser usada contra o


funcionário que propôs um decreto ilegal,
considerada por muitos como o antecedente mais
remoto do controle de constitucionalidade.
Constitucionalismo Grego

• 2) Graphé alogiou  Havia controle rígido sobre


as contas de cada funcionário responsável pelos
recursos públicos, submetendo-se à fiscalização
ao final de sua gestão. Recusando-se a prestar
contas, essa ação poderia ser manuseada.
Constitucionalismo Grego
Mesmo na Cidade-Estado de Esparta, onde as
instituições sociais eram mais rudimentares que em
Atenas, o poder não era absoluto.

Havia o Eforato, instituição mais poderosa de


Esparta e responsável por reduzir o poder político da
realeza, representando uma espécie de poder
moderador e concedendo ao povo um mínimo de
direitos.
Constitucionalismo Romano
Durante o período da República, apesar da rígida
estrutura social dividida em classes, os plebeus
lograram a criação do tribuno da plebe, com direito
de veto às decisões do Senado (494 a.C.).

Lei das XII Tábuas  importante documento


contendo regras limitadoras do poder soberano em
Roma.
Constitucionalismo Romano
Exemplos de regras das Lei das XII Tábuas
(Tábua Nona  Direito Público):
• “que não se estabeleçam privilégios em lei”.
• “Aqueles que foram presos por dívidas e as
pagarem, gozarão dos mesmos direitos como se
não tivessem sido presos”.
• “Se um juiz ou um árbitro indicado pelo magistrado
receber dinheiro para julgar a favor de uma das
partes em prejuízo de outrem, que seja morto”.
Constitucionalismo na Mesopotâmia
Apesar de não ser o primeiro texto jurídico da região da
Mesopotâmia, o mais conhecido foi o Código de
Hammurabi (por volta de 1792 a 1750 a.C.).

Alexandre de Moraes  “o Código de Hammurabi [...]


talvez seja a primeira codificação a consagrar um rol de
direitos comuns a todos os homens, tais como a vida, a
propriedade, a honra, a dignidade, a família, prevendo
igualmente, a supremacia das leis em relação aos
governantes”
Constitucionalismo na Mesopotâmia
Artigos do Código de Hammurabi contém regras
acerca de uma série de direitos:
• A) Honra  1. Se alguém enganar a outrem,
difamando esta pessoa, e este outrem não puder
provar, então aquele que enganou deve ser
condenado à morte.
• B) Propriedade  22. Se alguém estiver
cometendo um roubo e for pego em flagrante,
então ele deverá ser condenado à morte.
Constitucionalismo na Mesopotâmia
Artigos do Código de Hammurabi contém regras
acerca de uma série de direitos:
• C) Liberdade  14. Se alguém roubar o filho
menor de outrem, este alguém deve ser
condenado à morte.
• D) Inviolabilidade do domicílio  21. Se alguém
arrombar uma casa, ele deverá ser condenado à
morte na frente do local do arrombamento e ser
enterrado.
• E) Incolumidade física  195. Se um filho bater
em seu pai, ele terá suas mãos cortadas.
Constitucionalismo Medieval
Durante a Idade Média, alguns documentos
destacam-se pela sua importância na construção do
Constitucionalismo.

Magna Carta Libertatum (1215):


• Outorgada pelo rei inglês João I (1199-1216),
conhecido como “João Sem Terra”, possui cerca de
60 cláusulas escritas em latim medieval e
estabeleceu uma nova aliança entre o rei e seus
súditos.
Constitucionalismo Medieval
Magna Carta Libertatum (1215):
• O Rei João I imprimia uma política fiscais rigorosa
e um tratamento que desagradou muitos dos
nobres ingleses.
• Estes passaram a exigir sua “liberdades” perante a
Coroa britânica, sendo assinada a Magna Carta
em 15 de junho de 1215.
• Depois de selada pelo Rei, a Magna Carta foi
largamente publicada no verão de 1215.
Constitucionalismo Medieval
Magna Carta Libertatum (1215):
• Destaca-se a cláusula 39 da Magna Carta:
“nenhum homem livre será preso, aprisionado ou
privado de sua propriedade, ou tomado fora da lei,
ou exilado, ou de maneira alguma destruído, nem
agiremos contra ele ou mandaremos alguém
contra ele, a não ser por julgamento legal dos seus
pares, ou pela lei da terra”.
Constitucionalismo Medieval
Magna Carta Libertatum (1215):
• Expressão “lei da terra” (“law of the land”, em
inglês, ou “per legem terrae”, em latim) 
antecedente do princípio do devido processo
legal (“due process of law”).
OBRIGADO!

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