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▪ Direito CONSTITUCIONAL ▪ Caderno de Wantuil Luiz Cândido Holz ▪ ▪ Página 4 ▪

CONTEÚDO: Conceito de constitucionalismo. MATERIAL


Sentimento constitucional. Formação histórica do DE APOIO
constitucionalismo. Constitucionalismo inglês,

01
estadunidense, francês, moderno, contemporâneo, do
futuro. Estado constitucional. Procedimentalistas x
substancialistas.

CONSTITUCIONALISMO

▪ CONCEITOS

▪ A constituição é uma invenção humana que aparece num dado momento


da história, sendo uma manifestação cultural.

▪ SENTIMENTO CONSTITUCIONAL:
▪ Significa o resultado do entranhamento da lei maior (Constituição) na
vivência diária dos cidadãos, criando uma consciência comunitária de
respeito e preservação da Constituição como um símbolo superior de
valor afetivo e pragmático (Luis Roberto Barroso).
▪ O sentimento constitucional decorre de uma determinada cultura (varia
de povo para povo).
– EX.: A ideia de que o poder possui limites e os cidadãos possuem
direitos e garantias fundamentais.
▪ O constitucionalismo faz parte da história da cultura ocidental. Nas
culturas orientais existem documentos com características até parecidas,
mas peculiaridades diferentes.

▪ CONCEITO DE CONSTITUCIONALISMO:
▪ A palavra “constitucionalismo” é plurívoca porque admite vários
significados, segundo André Ramos Tavares:
▪ 1º Sentido: Movimento histórico, social e político, remoto, que
objetivava limitar o poder arbitrário do Estado. Nítida vinculação
entre constitucionalismo e direitos fundamentais.
▪ 2º Sentido: Movimento de imposição de constituições escritas. Diz
respeito ao surgimento da constituição formal.
▪ 3º Sentido: Evolução histórico constitucional de um determinado
Estado. Nesse sentido, o constitucionalismo brasileiro já deu ensejo ao
surgimento de oito constituições.
▪ 4º Sentido: Indicação dos propósitos mais latentes e atuais, da
função e da posição das constituições nas diversas sociedades.
Nesse viés, o constitucionalismo brasileiro aponta para o papel
preponderante da Constituição na formação do Estado Democrático
de Direito.
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▪ Há uma conexão íntima entre constitucionalismo, constituição, direitos


fundamentais e a política. Há interseção entre a política e o direito
constitucional.
Política Direito Constitucional

Estuda o Poder. Estuda a Constituição.

▪ Zona de interseção: A atividade constituinte que dá ensejo à


Constituição nada mais é que a transformação da decisão política
em norma jurídica suprema. Canotilho afirma que o
Constitucionalismo é uma teoria normativa da política.

▪ SINTETIZANDO:
▪ Constitucionalismo é o movimento histórico-cultural de natureza jurídica,
política, filosófica e social, com vistas à limitação do poder e à garantia
dos direitos, que levou à adoção de constituições em sentido moderno
pela maioria dos Estados, especialmente no que concerne à constituição
formal (escrita). O constitucionalismo deu origem à constituição como a
conhecemos hoje, que diz respeito ao nosso sentimento constitucional,
escrita e formal (sentido jurídico-normativo).

▪ FORMAÇÃO HISTÓRICA DO CONSTITUCIONALISMO

▪ A constituição histórica, ou constituição em sentido material, como forma de


organização de uma sociedade política (por meio de instituições e regras
escritas e costumeiras, conformadoras de uma ordem política e social de
determinada época), que já existia, foi o ponto de partida a partir do qual o
constitucionalismo moldou a constituição moderna, formal, escrita, jurídico-
normativo, que é a base do sentimento constitucional ocidental atual.
▪ Teoria Normativa da Política: Na formação histórica, primeiro veio a
ideologia de limitação do poder.
▪ Supremacia Constitucional: Num segundo momento, com marco na
Revolução Francesa, veio a necessidade de garantir a limitação do poder
por meio de textos escritos de origem popular.

▪ I- Constitucionalismo na ANTIGUIDADE CLÁSSICA


▪ Havia apenas um conjunto de ideias embrionárias, que séculos depois
influenciaria no movimento constitucionalista. Não havia nada acabado.
▪ Hebreu: O Estado teocrático hebreu criou limites ao poder político
exercido pelos homens, limitado na lei do Senhor. Karl Loewenstei
afirma que o “Torah” (os cinco livros de Moisés: Gênesis, Êxodo,
Levítico, Números e Deuteronômio) foi a primeira “constituição” dos
homens.
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▪ Grego: Encontram-se os exemplos mais densos da prática


democrática direta que promoveu a identidade entre governantes e
governados. Os cidadãos gregos eram entendidos como iguais, de
modo que havia sorteio de funções públicas entre os cidadãos, que
exerciam provisoriamente (Obs.: nem todos eram cidadãos). Há uma
hierarquia entre leis e decretos, como retratado na literatura
“Antígona” (Antígona questiona a Creonte o que deveria respeitar, se
as leis das escrituras que mandam dar sepultura ou ao decreto que
proíbe). Há um precedente do controle de constitucionalidade.
▪ Romano: Fase embrionária da separação de poderes (dois
Cônsules, o Senado e o Povo). É chamada hoje de constituição mista,
por identificar as várias esferas sociais e entre elas distribuir o poder.

▪ II- Constitucionalismo ANTIGO (Século XIII ao final do Século XVIII)


▪ A história possui movimento pendular (há avanços e retrocessos). Assim,
na Idade Média, a sociedade retrocedeu, encontrando o Absolutismo
monárquico e a ausência de elementos participativos (o poder do
Monarca estava acima do Poder dos Reinos). Ainda na Idade Média,
contudo, surge um movimento de limitação ao poder do Monarca, que
teve como marcos:
▪ Marco Inicial (Séc. XIII): Magna Carta (1215).
▪ Marco Final (Século XVIII): As constituições estadunidense (1787) e
francesa (1791) foram os documentos que influenciaram o mundo,
inaugurando o constitucionalismo moderno e o surgimento de
Estados Constitucionais.
▪ São movimentos constitucionais decisivos para formatar a ideia de
constituição em sentido moderno:
(A) Constitucionalismo inglês.
(B) Constitucionalismo norte-americano.
(C) Constitucionalismo francês.

(A) CONSTITUCIONALISMO INGLÊS (“HISTORICISTA”).

▪ Principais documentos:
▪ Magna Charta (1215). Não é uma constituição (embora alguns
manuais a inclua como exemplo de constituição pactuada), e
sim um pacto medieval com natureza de contrato de domínio
(foral) que prometia respeito a interesses dos barões. Foi um
acordo entre o Rei e os barões do Rei, sendo certo que após a
retirada dos barões o documento foi repudiado pelo Rei que
pediu ao Papa a anulação do mesmo por coação.
▪ Foi inspirada num documento de cem anos antes, a
“Carta de Coração” (1100), de Henrique I, que trazia
promessas de alguns direitos. A novidade da Carta Magna,
é que uma de suas disposições (cláusula 61) permitia aos
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barões atacar as propriedades do Rei e o Rei se este


descumprisse as promessas feitas.
▪ A importância da Magna Carta se estende mesmo a partir
do Séc. XVII, por inspirar o surgimento dos documentos
seguintes. Alguns dispositivos da Magna Carta ainda estão
em vigência e são utilizados na Inglaterra em disputas
judiciais: destacam-se a cláusula 39 (“due process of law”) e
cláusula 40 (acesso ao Poder Judiciário e celeridade do
julgamento).
▪ Petition of Rights (1628).
▪ Habeas Corpus Act (1679).
▪ Bill of Rights (1689). Em 1688 a soberania deixou de ser do
Monarca e passou ao parlamento, o que é fundamental para
um Estado de Direito, provocando a constitucionalidade da
monarquia inglesa. Essas mudanças ocorrem no bojo da
“Revolução Gloriosa” (1688), que marca a transição da
soberania do monarca (monarquia absolutista) para o
parlamento (monarquia constitucional); as pessoas deixam de
ser súditos e passam a ser cidadãos. O marco dessa
transformação é o documento do ano seguinte, denominado
“Bill of Rights” (1689), que foi o primeiro documento editado pelo
parlamento a limitar o poder do Rei. A Revolução Gloriosa dá
um impulso à ideia de separação de poder, na medida em que
fraciona o poder entre o parlamento, que é composto pela
Câmara dos Lordes (aristocracia) e a Câmara dos Comuns, e o
monarca.

(B) CONSTITUCIONALISMO NORTE AMERICANO (“ESTADUALISTA”):

▪ Principais documentos:
▪ Pacto do “Mayflower”. Mayflower foi o navio no qual os
primeiros imigrantes ingleses viajaram para colonizar a América,
e ali fizeram um pacto para a colônia.
▪ Declaração da Virgínia (12/06/1776).
▪ Declaração de independência (04/07/1776).
▪ Constituição (1787). É a primeira constituição escrita, em
sentido moderno. Essa constituição é entendida como uma
decisão política do povo.
▪ “Bill of Rights” (10 primeiras emendas, 1791). Não se deve
confundir com o documento homônimo inglês.

▪ Democracia dualista: O constitucionalismo americano é tido como


de democracia dualista. Democracia dualista é aquela que
identifica duas espécies de decisões diferentes: as decisões raras do
povo, adotadas nos momentos mais densos da história (os momentos
constituintes que resultam nas Constituições) e as decisões cotidianas
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dos governantes (nos três poderes).


▪ As decisões raras do povo prevalecem sobre as decisões
cotidianas, dando ensejo à ideia de supremacia da constituição
e do controle de constitucionalidade.
▪ A constituição é uma defesa do cidadão contra os
governantes. Os “pais da constituição americana”
estabeleceram direitos e princípios intocáveis pelos governantes
cotidianos, especialmente contra a tirania da maioria
parlamentar. Eis que os colonos americanos, que eram
submetidos à soberania do parlamento inglês, conviviam com
leis inglesas que consideravam tirânicas, como a excessiva
tributação sobre as colônias americanas. Assim, ao
estabelecerem uma constituição, se preocuparam em limitar o
poder do parlamento por meio de um documento escrito.
▪ Eis que democracia não se confunde com assembleismo. O
fato de uma assembleia tomar uma decisão majoritária, não
necessariamente significa democracia, pois a maioria de uma
assembleia pode tomar decisões tirânicas contra uma minoria.
Democrático é a decisão da maioria limitada pelo respeito aos
direitos da minoria.
▪ O movimento constitucionalista americano construiu a ideia de
controle de constitucionalidade, entregue ao Poder Judiciário. É
o nascimento do “judicial review” (controle difuso de
constitucionalidade).
▪ Criaram ainda o modelo federal de Estado, bem como o
presidencialismo.

(C) CONSTITUCIONALISMO FRANCÊS (“INDIVIDUALISTA”)

▪ Principais documentos:
▪ Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (Assembleia
francesa, 1789). Marco dos direitos fundamentais de primeira
geração (direitos de abstenção do Estado).
▪ Constituição francesa (1791). A primeira constituição francesa,
segunda constituição escrita moderna.
▪ Constituição francesa (1793).
▪ Constituição francesa (1799).

▪ Anotações históricas:
▪ Vigorava na França o sistema medieval no qual se entedia
como natural que algumas pessoas tivessem privilégios legais em
relação às demais pessoas como consequência da posição
estamental à qual aquelas pessoas pertenciam. Naquela época
não havia o conceito de classe social, no medievo o que se
encontravam eram estamentos, especialmente os três
estamentos que marcaram a luta revolucionária francesa: (1) o
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clero; (2) a nobreza; e, (3) a burguesia (pequenos agricultores,


mercadores e os pobres em geral). Portanto, a lei desigualava as
pessoas conferindo privilégios aos integrantes de estamentos
privilegiados. Entre as desigualdades formais estava o
tratamento tributário, pois o clero e a nobreza eram isentos de
tributos.
▪ A Revolução Francesa (1789-1799) acaba com a desigualdade
formal, representando uma luta contra privilégios do antigo
regime estamental, impondo a igualdade perante a lei, inclusive
na tributação. A partir da Revolução Francesa, os homens
passam a ser tratados como iguais e livres perante a lei.
▪ Para alterar o estado de coisas até então existente, o
movimento constitucionalista precisou de trabalhar com a nova
ideia muito importante para o seu novo sentimento
constitucional: a teorização do poder constituinte. A nação
francesa era a titular do poder constituinte, e portanto, ela
poderia alterar a constituição francesa. Para tanto, dever-se-ia
criar uma assembleia constituinte que não pertencesse a
nenhum outro órgão.

▪ Formatação teórica do Poder Constituinte:


▪ Obra “Qu’est-ce que le Tiers État” (“O que é o Terceiro Estado”
ou “A Constituinte Burguesa”), de Emmanuel Joseph Sieyés.
▪ O Poder Constituinte é o poder originário que pertence à
Nação, capaz de criar, de maneira autônoma e independente,
a constituição escrita. Reconhece a distinção entre o Poder
Constituinte e os Poderes Constituídos. Nação, para Sieyés, é
aqui considerado o corpo de indivíduos associados que vivem
sobre uma lei comum, no âmbito de uma vontade comum (a
vontade da nação é inalienável, de modo que apenas ela pode
definir qual é a vontade comum).
▪ A nação deve ter trabalhos particulares (que sustentam a
economia) e funções públicas (que gerem o Estado).
Ocorre que na estrutura francesa pré-Revolução Francesa,
as funções públicas não eram ocupadas por mérito, mas por
uma estrutura de privilégios do clero e da nobreza. O que
Sieyés propõe é que as funções públicas sejam ocupadas
por quem exerce os trabalhos particulares, já que esta é a
parcela que representa o interesse comum (quem sustenta
o Estado, com tributos, é que deve usufruir de seus
benefícios).
▪ Sieyés diverge de Rousseau. Enquanto Rousseau defende
que a função pública seja exercida diretamente pela
população, Sieyés defende que a função pública seja
exercida por meio de representantes escolhidos dentre os
que compõem o terceiro estado, que se revelem mais
capacitados dentre os cidadãos (democracia
representativa). Esses representantes, contudo, exercem as
funções públicas com limites de atuação. Enquanto o poder
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constituinte é palco do querer livre da nação, os poderes


constituídos são limitados aos limites estabelecidos pela
nação, tendo a missão de fazer cumprir a ordem
estabelecida. A nação não tem limites (poder constituinte,
âmbito do estado de natureza), os representantes têm
limites (poderes constituídos, âmbito do governo civil).
▪ O constitucionalismo francês provocou o surgimento de novas
categorias políticas, expressas em “palavras de combate”:
Estado, nação, poder constituinte, soberania etc. (Canotilho)
▪ O que havia antes de Emmanuel Joseph Sieyés era a obra de
Locke “Dois Tratados sobre o Governo de Jonh Locke”, na qual
ele fala sobre o que é o “poder supremo”, que teria dado
inspiração à obra de Sieyés. Sieyés criou a expressão “poder
constituinte”.

▪ Contribuições do constitucionalismo francês:


▪ Os direitos passam a não mais estar vinculados ao estamento, e
sim à condição humana. Os direitos deixam de ser estamentais e
passam a ser universais, naturais de todas as pessoas. Nascem os
direitos civis e políticos expressos na Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão.
▪ Outra contribuição do constitucionalismo francês é a
potencialização da separação de poderes.
▪ Montesquieu, “O Espírito das Leis” (1748), foi um dos
grandes teóricos da revolução francesa. As funções do
Estado já eram conhecidas desde Aristóteles, mas
Montesquieu faz corresponder a cada função um órgão
distinto, ou seja, uma divisão orgânica das funções do
Estado em três. É o marco da separação de poderes.
Montesquieu foi inspirado por Locke, que já havia proposto
uma bipartição de poderes.

▪ III- Constitucionalismo MODERNO (A partir do século XVIII)


(A) Constitucionalismo liberal / clássico.
(B) Constitucionalismo social.

(A) CONSTITUCIONALISMO LIBERAL / CLÁSSICO (Final do Séc. XVIII ao início


do Séc. XX)
▪ O constitucionalismo francês e o americano formataram o modelo
de “Estado Liberal”, que é aquele modelo de Estado no qual as
relações sociais e econômicas são entregues ao que Adam Smith
denomina de “mão invisível do mercado”. O Estado deve se
preocupar com o mínimo: segurança pública, fronteiras, julgamentos
imparciais. É o surgimento do constitucionalismo liberal ou clássico.
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▪ É o constitucionalismo pautado apenas nos direitos de primeira


geração (civis e políticos). Postura negativa de Estado.
▪ É o Constitucionalismo prevalecente no Século XIX.

▪ Exemplos mais citados:


– Constituição de Cádis (Espanha, 1812).
– Constituição de Portugal (1822).
– Constituição brasileira imperial (1824).
– Constituição da Bélgica (1831).

▪ Conceito ideal de constituição: No constitucionalismo liberal foi


possível formatar um “conceito ideal de constituição”, composto de
três conteúdos materiais básicos:
(i) Documento escrito (formal).
(ii) Garantia das liberdades e da participação política do
povo (participação popular no parlamento), com previsão
de direitos civis e políticos da primeira geração de direitos
fundamentais.
(iii) Limitação ao poder (separação de poderes), por meio
de programas constitucionais.
▪ O conceito ideal de constituição, hoje, não é suficiente, pois
hoje se requer outras gerações de direitos.
▪ O conceito ideal de Constituição já estava presente no art. 16
da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão: “Toda
sociedade na qual não está assegurada a garantia dos direitos
nem determinada a separação de poderes, não tem
constituição”.
▪ Colocar por escrito as normas fundamentais que regem a
sociedade traz como pontos positivos:
▪ Publicidade.
▪ Clareza.
▪ Segurança jurídica.

(B) CONSTITUCIONALISMO SOCIAL (A partir do início do Séc. XX)


▪ O Constitucionalismo nasce com o Estado Liberal e depois (por
influência da Declaração de Direitos de 1848, pelo Manifesto
Comunista e pela Constituição de Weimar, 1919) agrega a
concepção social, marcada ela inserção de conteúdos
programáticos sociais e econômicos nos textos constitucionais.
▪ No correr do século XIX, a mão invisível do mercado acaba
estrangulando a garganta do trabalhador, que não detinha
nenhuma proteção estatal. As relações trabalhistas são marcadas
pela exploração extrema do trabalhador após a Revolução Industrial
e o surgimento das fábricas.
▪ Antes havia mil artesãos de sapatos, agora passa a existir uma
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fábrica que produz mais que mil artesãos, mais barato e mais
rápido, e que só tem cem empregos disponíveis, passando a
explorar a mão de obra de seus empregados.
▪ O abuso do poder econômico provoca uma convulsão social,
dando movimento a movimentos comunistas como a Revolução
Russa.
▪ O constitucionalismo precisa de se reinventar, nascendo um novo
modelo e junto com ele um novo modelo de Estado: o “Welfare
State” (Estado providência).
▪ Agora o Estado é de providências, no sentido de que deve prover
algumas necessidades de algumas pessoas.
▪ São os direitos de segunda geração.

▪ Documentos inaugurativos do novo modelo de Estado:


– Constituição do México (1917).
– Constituição da Alemanha, de Weimar (1919).

▪ IV- Constitucionalismo CONTEMPORÂNEO (Pós II Guerra)


(A) Constitucionalismo contemporâneo / neconstitucionalismo.
(B) Constitucionalismo do futuro.
(C) Constitucionalismo globalizado.
(D) Constitucionalismo e internacionalização.
(E) Transconstitucionalismo.
(F) Novo constitucionalismo latino americano.

(A) CONSTITUCIONALISMO CONTEMPORÂNEO /


NECOCONSTITUCIONALISMO (Após meados do Séc. XX, no pós II Guerra).
▪ Na primeira metade do século XX predominava o positivismo
jurídico, caracterizado pelo formalismo e a separação entre Direito e
moral.
▪ O Nazismo colocou em xeque a ideia de “Direito formal e neutro”,
pois fora usado pelo nazismo como um dos instrumentos de
dominação. Foram inclusive realizados plebiscitos populares
aprovando normas jurídicas nazistas.
▪ Na busca de outras concepções jurídicas para substituir o
formalismo e a separação entre Direito e moral, chegaram o estágio
atual do constitucionalismo, que passou a ser denominado de
Neoconstitucionalismo.
▪ O Neoconstitucionalismo é dirigido unicamente às constituições
democráticas, tendo como características:
(i) A dignidade humana passa a ser o fundamento do Direito.
(ii) Crítica à legalidade estrita, ao positivismo puro.
(iii) É adotada uma leitura moral do Direito e da Constituição.
Passa a haver forte carga axiológica, de modo que a
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interpretação da constituição passa sofrer influência decisiva da


moralidade crítica. Os métodos de interpretação passam a ser
mais abertos.
(iv) A Constituição passa a ter valor jurídico. Antes era
considerada mero documento político. O reconhecimento do
integral valor jurídico desencadeia a força normativa das normas
constitucionais.
(v) Alargamento das matérias constitucionais. As constituições
passam a dirigir toda a vida política do Estado. “Constituição
total” (muito amplas, prolixas). São tantos valores que passam a
existir técnicas de ponderação.
(vi) Jurisdicionalização da política. O caráter normativo da
Constituição transforma toda a política em objeto de jurisdição
constitucional.
(vii) Constitucionalização do Direito. Todo o Direito passa a ter
tratamento constitucional: o civil, o penal, o tributário etc. Tudo
passa a ser filtrado pela Constituição Federal.
(viii) Onipresença da Constituição. A constituição passa a reger
todas as relações sociais.
(ix) Papel de destaque da jurisdição. O papel do Poder
Judiciário se alarga, passando a analisar o mérito administrativo
e o mérito legislativo à luz da constituição. Há mudança de
paradigma, pois antes o Estado era legiscêntrico (decisão
política legislativa no centro) e agora o Estado passa a ser
juriscêntrico. Exercício de poder contramajoritário, na medida
em que o Judiciário (não eleito) pode derrubar as decisões do
Legislativo e Executivo (eleitos majoritariamente). As principais
críticas são o excesso de ativismo judicial e a desvalorização da
política.

(B) CONSTITUCIONALISMO DO FUTURO (DO PORVIR / VINDOURO):


▪ É algo imaginado pelo argentino José Roberto Dromi e que busca o
equilíbrio entre as características do constitucionalismo moderno e os
exageros do neoconstitucionalismo. A ideia é que as constituições do
futuro sejam criadas sobre determinados valores fundamentais,
destacando-se:
(i) Verdade. Não deve trazer promessas não factíveis. As normas
programáticas utópicas devem ser eliminadas.
(ii) Solidariedade. Compromisso com a igualdade material,
tolerância e solidariedade entre as pessoas.
▪ “9. A DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS COMO
CAPÍTULO AVANÇADO DO CONSTITUCIONALISMO
FRATERNAL. Os arts. 231 e 232 da Constituição Federal são
de finalidade nitidamente fraternal ou solidária, própria de
uma quadra constitucional que se volta para a efetivação
de um novo tipo de igualdade: a igualdade civil-moral de
minorias, tendo em vista o proto-valor da integração
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comunitária.” (STF, PET 3388, J. em 2009).


(iii) Consenso. As decisões políticas deverão buscar o consenso.
(iv) Continuidade. As decisões futuras deverão buscar a
continuidade das decisões antecedentes, inclusive quanto aos
direitos fundamentais já implementados. A ideia de
continuidade se alinha a ideia de vedação ao retrocesso.
(v) Participação. A constituição de futuro deverá dar espaço a
participação cada vez mais ativa, integral e equilibrada do
povo, promovendo a participação no mais elevado grau.
(vi) Integração. Deverá buscar a integração dos povos, por meio
de órgãos transnacionais, a exemplo do que ocorre no
MERCOSUL.
(vii) Universalização. A constituição do futuro positivará os
direitos fundamentais universais, com destaque para a
dignidade da pessoa humana. Se relaciona com a ideia de
constitucionalização globalizada.

(C) CONSTITUCIONALISMO GLOBALIZADO:


▪ É a ideia de globalização dos valores constitucionais ocidentais
(democracia, direitos humanos etc.) a todos os povos,
transformando-os em valores universais.

(D) CONSTITUCIONALISMO E INTERNACIONALIZAÇÃO:


▪ A fase atual do constitucionalismo convive com a
internacionalização das relações humanas, políticas, sociais e
jurídicas. A ideia tradicional de Estado nacional soberano sofre um
abalo intenso em tempos globalizados. O Estado soberano decide
sobre seus interesses, cada vez mais considerando os compromissos
internacionais assumidos.
▪ Aqui destacam-se dois processos:
(i) Internacionalização da constituição. Atualmente, em razão
da internacionalização das relações, há um fenômeno de levar
a ideia de constituição para além das fronteiras,
internacionalizando a constituição. Nesse contexto, se
enquadram temas como o direito comunitário (EX.: União
Europeia), os direitos humanos no âmbito da ONU e a “Lex
mercatória”. Traz a ideia de um documento maior que as
fronteiras. Ideia de constituição saindo do Estado para o âmbito
internacional.
(ii) Constitucionalização do direito internacional. Provoca um
movimento inverso, ou seja, de acoplagem de regras
internacionais nas ordens nacionais. Ideia de regras do âmbito
internacional passando a integrar o âmbito interno, com posição
hierárquico normativa constitucional (art. 5º, §3º, CF), supralegal
(art. 5º, §2º, CF) ou legal, instituindo-se, pois, um controle de
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convencionalidade.
▪ A doutrina identifica ainda o surgimento de constituições privadas,
que são desvinculadas das constituições estatais e documentos
internacionais, embora guardem algumas características comuns.
Daniel Sarmento cita como exemplo de constituição privada a
internet, onde teriam sido criados arranjos dentro dos quais haveriam
normas privadas que não tem origem nem no Estado e nem em
organismos internacionais.

(E) TRANSCONSTITUCIONALISMO (“Constitucionalismo cruzado” /


“Constitucionalismo Transversal” / “Fecundação Cruzada”):
▪ Tema muito estudado por Marcelo Neves. É um movimento previsto
para o futuro que combina estudos da jurisdição nacional com a
jurisdição transnacional, ou seja, a relação entre os tribunais de um
país e os tribunais internacionais para maior proteção dos direitos
fundamentais. É o entrelaçamento de ordens jurídicas constitucionais
diversas, no bojo de decisões judiciais nacionais, de outros Estados,
transnacionais e supranacionais.
▪ Na prática, uma faceta do transconstitucionalismo se observa em
situações como nos casos em que o STF, em seus julgamentos, invoca
a jurisprudência alemã ou estadunidense em julgamento de
situações análogas.

(F) NOVO CONSTITUCIONALISMO LATINO AMERICANO:


▪ Diz respeito a um modelo próprio de constitucionalismo. típico da
América Latina. Daria ensejo à fundação de um Estado plurinacional
e multiétnico com base na valorização da cultura dos povos
originários pré-colombianos (índios). É um contraste com o modelo
atualmente adotado, de matriz essencialmente europeia
pertencente à cultura dos povos colonizadores. Seria um diálogo
intercultural entre as culturas indígenas e a europeia sem a
hegemonia de um sobre o outro.
– EX.: Constituição da Bolívia (2009).
– EX.: Constituição do Equador (2008).

▪ ESTADO CONSTITUCIONAL

▪ O produto legislativo mais importante do Direito Constitucional é a


Constituição, cuja principal função é a de organizar o Estado e limitar seu
poder por meio de direitos e garantias fundamentais.
▪ O Constitucionalismo provoca o surgimento do “ESTADO CONSTITUCIONAL”,
que em nada se assemelha aos antigos agrupamentos sociais (egípcio,
medieval etc.). O Estado contemporâneo caracteriza-se pela humanização e
▪ Direito CONSTITUCIONAL ▪ Caderno de Wantuil Luiz Cândido Holz ▪ ▪ Página 16 ▪

pela racionalização. O Estado Constitucional diferencia-se dos antigos


agrupamentos sociais por possuir duas qualidades: Ser de Direito e ser
Democrático.

ESTADO CONSTITUCIONAL

ESTADO DE DIREITO ESTADO DEMOCRÁTICO

▪ Primazia da lei. ▪ Governantes escolhidos por


▪ Hierarquia das normas. governados.
▪ Necessária legalidade na ▪ Eleições populares, livres, honestas
Administração Pública. e periódicas.
▪ Separação dos poderes.
▪ Personalidade jurídica do Estado,
que mantém relações jurídicas com
os cidadãos.
▪ Direitos e garantias fundamentais.
▪ Controle de constitucionalidade.

▪ A proteção dos direitos fundamentais requer a soma dos seguintes requisitos:


a) Estado Social Democrático de Direito.
b) Rigidez Constitucional.
c) Controle de Constitucionalidade.

▪ PROCEDIMENTALISTAS X SUBSTANCIALISTAS

(A) PROCEDIMENTALISTAS:
▪ A Constituição apenas estabelece as regras do jogo político, deixando a
cargo do poder legislativo deliberar sobre decisões de cunho moral,
econômico, político ou social, primando pelo princípio democrático.

(B) SUBSTANCIALISTAS:
▪ Sustenta a legitimidade de adoção do ativismo judicial, interpretando a
Constituição de forma mais abrangente e enquadrando diversos
problemas sociais em seu texto.

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