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APLICADO I
autora
MARIANA DE FREITAS RASGA
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2019
Conselho editorial roberto paes e gisele lima
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2019.
O constitucionalismo 10
Constituição 15
Sentido sociológico 16
Sentido político 17
Sentido jurídico 18
Sentido culturalista 19
Classificação de Constituição 20
Quanto à forma 20
Quanto ao conteúdo 21
Quanto à origem 21
Quanto à estabilidade, alterabilidade ou mutabilidade 22
Quanto à extensão 23
Quanto à finalidade 23
Quanto ao modo de elaboração 24
Quanto à ideologia 24
Quanto ao modo de ser ou à correspondência com
a realidade (ontológica) 25
Poder constituinte 25
Titularidade 27
Natureza jurídica do poder constituinte 28
Espécies de poder constituinte 28
3. Direitos fundamentais 75
Introdução 76
Direitos Sociais 94
Direitos sociais individuais do trabalhador 95
Direitos sociais coletivos do trabalhador 99
A questão da reserva do possível e do mínimo existencial 99
Nacionalidade 101
Prezados(as) alunos(as),
Bons estudos!
7
1
Teoria Geral
do Direito
Constitucional
Teoria Geral do Direito Constitucional
Introdução
OBJETIVOS
• Compreender a evolução histórica do constitucionalismo, da antiguidade até as concep-
ções atuais desse fenômeno;
• Analisar as diferentes acepções do termo “constituição”;
• Examinar a classificação da constituição de maneira geral e a classificação da Constituição
de 1988;
• Identificar o conceito de poder constituinte, suas características e espécies.
O constitucionalismo
capítulo 1 • 10
vários significados, mas que na perspectiva jurídica denota o sistema normativo
reunido em uma constituição. Assim, em verdade, não existe uma única espécie de
constitucionalismo, mas várias formas de expressão ao longo do tempo, contem-
pladas nos diversos modelos de regimes políticos.
A doutrina costuma falar em vários movimentos constitucionais ao longo da
história, não sendo pacífica em determinar uma nomenclatura específica, pois o
constitucionalismo ocorre de modo particular e em período de tempo nos diversos
Estados. É por isso que numa primeira compreensão, o termo constitucionalismo
apresenta-se como um movimento político-social, com origens históricas remo-
tas, cuja finalidade era limitar o poder arbitrário do governante. Posteriormente,
o fenômeno passa a ser identificado como o dever de o Estado possuir um
documento escrito.
Então, é possível reconhecer uma atividade constitucional desde a Antiguidade
clássica. Os hebreus, por exemplo, estabeleceram um Estado teocrático de limi-
tação do poder através da denominada “Lei do Senhor”. Da mesma maneira, na
Grécia antiga, a partir do século V a.C., destacaram-se as Cidades-Estados, forma
de organização que possibilitou a participação democrática dos cidadãos ativos e a
distribuição de funções estatais.
Na Idade Média você pode encontrar referências de uma ordem constitucio-
nal contida no Foral de Leão, isto é, um pacto político civil entre os nobres e o
monarca, aceito desde 1128. Esse documento reconhecia diversos direitos, como
a inviolabilidade do domicílio e o direito de propriedade.
É também na Idade Média que o constitucionalismo inglês avançou para ou-
torgar, em 1215, a Magna Carta do Rei João sem Terra. O contexto que culminou
com a elaboração da Magna Carta, considerada um dos documentos jurídicos
mais importantes da história, foi o aumento de tributos pelo Rei João sem Terra
com o propósito de financiar as guerras contra a França.
O autoritarismo e a arbitrariedade do Monarca levaram os barões ingleses a
não concordar com os gastos e pressionar o rei a aceitar um acordo conhecido pelo
nome em latim: Magna Charta Libertatum, seu Concordiam inter regem Johannen
at barones pro concessione libertatum ecclesiae et regni angliae (Grande Carta das
liberdades ou concórdia entre o rei João e os barões para a outorga das liberdades
da Igreja e do rei Inglês). Esse documento importantíssimo do século XIII limitou
o poder do monarca e estabeleceu uma série de direitos individuais. Esta fase pode
ser caracterizada de pré-constitucionalismo.
capítulo 1 • 11
Figura 1.1 – João Sem Terra assina a Magna Charta. Fonte: Cassell's
History of England - Century Edition - published 1902.
É na baixa Idade Média que surge também a obra Defensor Pacis, de Marsílio
de Pádua, de 1324, na qual se extrai que o poder legislativo pertencia ao povo. Por
outro lado, a função executiva deveria ser exercida pelo príncipe.
No século XVII, já na Idade Moderna, surgem vários documentos voltados
para a restrição do poder estatal e, consequentemente, para a proteção do indi-
víduo, sobretudo a partir da luta entre o monarca e o Parlamento. Assim, nessa
época sobressaíram o Petition of Rights, de 1628, no qual parlamentares ingleses
impuseram ao rei Carlos I, o respeito a diversos direitos, especialmente a consa-
gração das liberdades públicas; o Habeas Corpus Act, de 1679 bem como o Bill of
Rights, de 1689.
Por mais que todos esses movimentos tenham marcado profundamente a teoria evo-
lutiva do constitucionalismo, foi apenas a partir do século XVIII, através das revoluções
americana e francesa, que deram origem respectivamente à Constituição americana de
1787 e a Constituição francesa de 1791, que nos aproximamos do significado atual do
termo. Ou seja, a partir da consolidação desse constitucionalismo moderno, a constitui-
ção do estado passa a ser o documento escrito e formal de suplantação do absolutismo
e, nesse sentido, instrumento jurídico limitador da atuação do governante, que a essa
altura deve ser submetido ao império da lei.
capítulo 1 • 12
Assim, esse constitucionalismo moderno apoia-se em um documento escrito,
consubstanciado através de normas constitucionais, que possibilitaram o conhe-
cimento de todos e a consagração, por isso mesmo, dos direitos individuais. Mas
perceba com atenção que o seu desencadeamento se deu através de movimentos
revolucionários ocorridos nos Estados Unidos e, posteriormente, na França.
De qualquer maneira você já pode perceber que o constitucionalismo liberal
se destacou como um movimento jusfilosófico que teve como finalidade limitar o
poder do Estado, adotando a separação de poderes e o estabelecimento de um rol de
direitos do homem através de um documento denominado Constituição. Não foi
à toa que o conceito de Constituição foi firmado pelo artigo 16, Declaração fran-
cesa de 1789, ao dispor que: “Toda sociedade na qual não está assegurada a garan-
tia dos direitos nem determinada a separação dos poderes, não tem constituição”.
Segundo Canotilho, o constitucionalismo pode ser definido como a "teoria
que ergue o princípio do governo limitado indispensável à garantia dos direitos
em dimensão estruturante da organização político-social de uma comunidade.
Nesse sentido, o constitucionalismo moderno representará uma técnica especí-
fica de limitação do poder com fins garantísticos. O conceito de constituciona-
lismo transporta, assim, um claro juízo de valor. É, no fundo, uma teoria nor-
mativa da política, tal como a teoria da democracia ou a teoria do liberalismo".
(CANOTILHO, 1993, p. 51 e 218)
No primeiro momento a concepção moderna do constitucionalismo preco-
nizou o liberalismo, gerador do individualismo e do absenteísmo estatal, que por
isso mesmo, promoveu desigualdades sociais que exigiram mais tarde do Estado
um atuar limitador do abuso econômico.
Num grande salto para o final do século XX e início do século XXI, alguns ju-
ristas começaram a desenvolver uma nova concepção de constitucionalismo. Isso
ocorreu devido aos horrores vivenciados pela Segunda Guerra Mundial e a busca
da centralidade da Constituição no ordenamento jurídico do Estado. Daí despon-
ta o denominado neoconstitucionalismo, sustentado cientificamente, na opinião
de Luís Roberto Barroso, por três marcos: o histórico, o filosófico e o teórico.
(BARROSO, 2005, p. 3)
No esforço de reconstruir a trajetória do constitucionalismo europeu e brasi-
leiro, o mesmo autor sustenta que o marco histórico do neoconstitucionalismo,
“na Europa continental, foi o constitucionalismo do pós-guerra, especialmen-
te na Alemanha e na Itália. No Brasil, foi a Constituição de 1988 e o processo
de redemocratização que ela ajudou a protagonizar” (BARROSO, 2005, p. 3).
capítulo 1 • 13
Dessa maneira os principais documentos de referência na Europa foram a Lei
Fundamental de Bonn, de 1949, e a Constituição da Itália, de 1947.
Em relação ao marco filosófico, o novo direito constitucional se apoia no pós-
-positivismo jurídico, como terceira via superadora do embate entre jusnaturalis-
mo e positivismo jurídico e é, nesse sentido, que no dizer de Luís Roberto Barroso:
PERÍODO CARACTERÍSTICAS
Hebreus e Cidades-Estados gregas; Cons-
ANTIGUIDADE CLÁSSICA tituições não escritas.
Foral de Leão; Magna Carta, de
IDADE MÉDIA 1215; Pré-constitucionalismo.
Constituições escritas; Revoluções liberais;
IDADE MODERNA Constituição dos Estados Unidos, de 1787;
Constituição francesa, de 1791.
capítulo 1 • 14
PERÍODO CARACTERÍSTICAS
Origem histórica: Constituições do México,
de 1917 e Constituição da República de
IDADE CONTEMPORÂNEA Weimar, de 1919; Valorização dos direi-
tos fundamentais; Constituições escritas e
rígidas; Neoconstitucionalismo.
CONEXÃO
• Para melhor compreensão da Revolução Francesa, como marco importante do constitu-
cionalismo moderno, sugerimos assistir ao documentário produzido pelo History Channel,
denominado “Revolução Francesa”.
• Para a percepção do constitucionalismo contemporâneo e seus novos desafios, sugerimos
a leitura da obra de LEVITSKY, Steven; ZIBLATT, Daniel. Como as democracias morrem. How
democracies dies. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.
Constituição
Definir a palavra “constituição” é tarefa das mais árduas. Você pode perceber
que há inúmeros significados para o termo. A constituição pode referir-se tanto
ao ato de estabelecer, ordenar ou dispor, como o de regulamentação estabelecida.
Pode também exprimir a composição ou a forma de algo.
Para o autor português, José Joaquim Gomes Canotilho, Constituição "é
uma ordenação sistemática e racional da comunidade política, plasmada num
documento escrito, mediante o qual se garantem os direitos fundamentais e se
organiza, de acordo com o princípio da divisão de poderes, o poder político".
(CANOTILHO, 1993, p. 12)
De qualquer maneira, há várias acepções para o termo “constituição”. É im-
portante ressaltar que os autores cuidam do tema como “sentidos” de Constituição,
palavra que pode também ser sinônima de “concepções” de Constituição. Por isso
é comum se falar em sentido sociológico, sentido político, sentido jurídico e sen-
tido culturalista. Para você entender melhor essas acepções, vamos analisar cada
uma delas em separado, inclusive destacando o autor de sua formulação.
capítulo 1 • 15
Sentido sociológico
Inicio, pois, minha palestra com esta pergunta: que é uma Constituição? Qual é a ver-
dadeira essência de uma Constituição? Em todos os lugares e a todas horas, à tarde,
pela manhã e à noite, estamos ouvindo falar da Constituição e de seus problemas cons-
titucionais. Na imprensa, nos clubes, nos cafés e nos restaurantes, é este o assunto
obrigatório de todas as conversas. (LASSALE, 1933, p.7)
Para Lassalle a Constituição de um Estado não seria uma norma jurídica, mas
sim o somatório dos fatores reais de poder, sem os quais ela não passaria de uma
mera folha de papel. Interessante notar o exemplo dado pelo teórico para com-
preender os fatores reais de poder.
Para o autor dessa concepção existiriam duas espécies de constituição, a escri-
ta, que não possui força jurígena, não sendo mais do que mera folha de papel e,
a real, que resultaria do somatório dos fatores reais de poder. Assim, Lassalle nos
mostra com agudeza a sua reflexão:
Podem meus ouvintes plantar no seu quintal uma macieira e segurar no seu tronco um
papel que diga: “Esta árvore é uma figueira”. Bastará esse papel para transformar em
figueira o que é macieira? Não, naturalmente. E embora conseguissem que seus cria-
dos, vizinhos e conhecidos, por uma razão de solidariedade, confirmassem a inscrição
existente na árvore, a planta continuaria sendo o que realmente era e, quando desse
frutos, estes destruiriam a fábula, produzindo maçãs, e não figos. O mesmo ocorre com
as Constituições. De nada servirá o que se escrever numa folha de papel, se não se jus-
tificar pelos fatores reais e efetivos do poder. (LASSALLE, 1933, p. 38-39)
capítulo 1 • 16
À época, na Prússia de Ferdinand Lassalle, os fatores reais de poder eram a
Monarquia, a grande burguesia, a aristocracia, os banqueiros, o Exército, a peque-
na burguesia e a classe operária. Assim, a constituição escrita que não representasse
esses fatores seria considerada uma mera folha de papel, sem qualquer relevância.
Podemos explicar melhor o pensamento de Lassalle ao adotarmos o seguinte
exemplo: a nossa Constituição de 1988 dispõe que é direito dos trabalhadores ur-
banos e rurais o salário-mínimo capaz de atender suas necessidades vitais básicas e
às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, hi-
giene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem
o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim (artigo 7º, IV).
Entretanto, sabemos que é impossível o trabalhador conseguir manter o padrão
imaginado pelo constituinte. Em consequência, para Lassalle essa regra não seria
mais do que uma mera folha de papel.
A teoria de Lasssalle não é imune às críticas, já que a Constituição somente
seria relevante quando refletisse as relações de força ou relações de poder. Do con-
trário, inexistiria Constituição.
Sentido político
capítulo 1 • 17
Toda normatividade reside numa decisão política do titular do poder constituinte, ou seja,
do Povo na Democracia e do Monarca na Monarquia autêntica. Assim, a Constituição
Francesa de 1791 envolve a decisão política do povo francês a favor da Monarquia com
dois “representantes da Nação”, o Rei e o Legislativo. A Constituição belga de 1831
contém a decisão do povo belga a favor de um Governo monárquico (parlamentar) de
base democrática (Poder constituinte do povo), ao modo do Estado burguês de Direito.
A Constituição prussiana de 1850 contém uma decisão do Rei (como sujeito do Poder
constituinte) a favor de uma Monarquia constitucional ao modo do Estado burguês de
Direito, com o que resta conservada a Monarquia como forma de Estado (e não apenas
como forma do Poder Executivo). A Constituição francesa de 1852 contém a decisão do
povo francês a favor do Império hereditário de Napoleão III, etc. (SCHMITT, 2008, p. 47)1.
Sentido jurídico
capítulo 1 • 18
Além disso, se propõe a separação completa entre a norma ao mundo dos
valores e da ética e ao mundo dos fatos. Assim, para ele as outras áreas do conhe-
cimento como a psicologia, a sociologia, a filosofia, a economia e a política, por
exemplo, não poderiam influenciar o direito. Assim, Kelsen limitou o campo do
direito ao estudo da norma, do puro dever ser.
O ordenamento jurídico, segundo essa visão, deveria ser estruturado através
de normas que buscariam validade em outra norma hierarquicamente superior, re-
velando, por isso, um escalonamento hierárquico entre elas. A Constituição daria
suporte de validade a todas as demais normas do sistema jurídico.
Se perguntássemos a Kelsen “o que é a Constituição?”, certamente obteríamos
a seguinte resposta: constituição é o fundamento de validade das demais normas
que integram o ordenamento jurídico.
Mas qual é, afinal, a norma que dá fundamento de validade à própria
Constituição? Nesse aspecto, Kelsen responde que a justificativa é encontrada a
partir da norma hipotética fundamental ou Grund Norm, como algo pressuposto,
segundo o qual as normas constitucionais devem ser obedecidas.
A norma hipotética fundamental era desprovida de conteúdo, traduzindo-se
apenas na seguinte frase: “cumpra-se a Constituição”.
Sem dúvida, ao dizer que a Constituição busca fundamento de validade numa
norma hipotética, Kelsen abre espaço para inúmeras críticas. Mas, de qualquer
forma, a teoria kelseniana amparou a ideia de supremacia da Constituição e até
hoje encontra respaldo nos vários tribunais, sobretudo em razão da existência do
controle de constitucionalidade das normas.
Sentido culturalista
capítulo 1 • 19
A partir disso você pode comparar na tabela abaixo todas os sentidos de cons-
tituição e seus autores estudados até agora:
SENTIDO SOCIOLÓGICO SENTIDO POLÍTICO SENTIDO JURÍDICO SENTIDO CULTURALISTA
(FERDINAND LASSALLE) (CARL SCHMITT) (HANS KELSEN) (MEIRELLES TEIXEIRA)
A constituição real A Constituição é A Constituição A Constituição é
resulta do somatório uma decisão política é o fundamento produto de um fato
dos fatores reais fundamental do de validade das cultural, que leva
de poder. Poder Constituinte. demais normas do ao conceito de
ordenamento jurídico. Constituição Total.
Classificação de Constituição
Quanto à forma
capítulo 1 • 20
Constituição escrita, mas é produto dos usos, costumes, tradições, jurisprudência
e diversos textos (escritos).
Você deve perceber que a Constituição não escrita, a exemplo, da Constituição
Inglesa, é formada a partir de diversos textos escritos, bem como pelos usos, cos-
tumes e precedentes, mas que não se encontram sistematizados ou reunidos em
um único documento. Daí, a rigor, inexiste Constituição inteiramente não escrita.
Assim, a Constituição Inglesa, mais uma vez, é formada por uma parte escri-
ta, através das leis elaboradas pelo Parlamento e, uma parte não escrita, formada
pela jurisprudência.
Quanto ao conteúdo
Quanto à origem
capítulo 1 • 21
Por outro lado, a Constituição outorgada ou também chamada de imposta
é aquela decorrente de uma decisão autoritária do governante, sem que haja a
participação popular na sua origem. São exemplos de constituições outorgadas
no Brasil as elaboradas em 1924, 1937, 1967 e 1969 (Emenda Constitucional
nº 1/69).
A Constituição cesarista ou plebiscitária é aquela que advém da vontade do
governante, mas se submete a um referendo popular como forma de escamotear
o interesse do governante. Há autores que afirmam se tratar de uma subespé-
cie de Constituição outorgada, já que o que importa é o desejo do detentor do
poder político.
Por sua vez, a Constituição pactuada é aquela resultante de um acordo de
vontade entre dois ou mais agentes, podendo o poder constituinte se estabelecer
nas mãos de mais de um titular. É nesse sentido que se trata de um modelo anacrô-
nico, utilizado no seio da monarquia medieval entre o rei e as ordens privilegiadas.
A Magna Carta, de 1215, celebrada entre o Rei João Sem Terra e os barões ingleses
ilustra essa espécie de Constituição (BULOS, 2015, p. 114).
capítulo 1 • 22
Constituição rígida é mais oneroso quando confrontado com o processo para al-
terar a legislação infraconstitucional.
Já a Constituição flexível é aquela que também pode ser alterada, mas o pro-
cedimento para a sua modificação é simplificado, tal como o procedimento para
alteração de toda e qualquer lei. Então, nessa espécie de Constituição qualquer lei
posterior que com ela conflite, revoga seus termos. Por isso, tal Constituição não
possui estabilidade, pois sujeita a processo constante de mudança.
Por fim, a Constituição semiflexível, também denominada semirrígida, é
aquela que congrega os conceitos das Constituições rígidas e flexíveis. Como as-
sim? Você deve perceber que a Constituição semiflexível possui uma parte que
pode ser alterada por um processo mais dificultoso e outra parte por um processo
mais simplificado de mudança.
Quanto à extensão
Essa classificação leva em conta a dimensão da Constituição. Por isso, ela po-
derá ser sintética ou analítica.
A Constituição sintética, também denominada concisa, breve, sumária, su-
cinta ou básica, é aquela que cuida dos assuntos substancialmente constitucio-
nais, vale dizer, da organização do Estado, da divisão dos poderes e dos direitos
fundamentais. Os temas paralelos são deixados para a complementação pela le-
gislação infraconstitucional. A Constituição dos Estados Unidos é um exemplo
clássico de Constituição sintética. Ela possui sete artigos originários e vinte e sete
emendas constitucionais.
Já a Constituição analítica, também chamada de longa, larga, extensa,
prolixa, desenvolvida ou ampla, é aquela que esmiúça os temas, detalhando
e especificando os assuntos, sem a preocupação de tratar apenas de matérias
estritamente constitucionais.
A Constituição de 1988 é um exemplo de Constituição analítica, já que pos-
sui mais de trezentos e sessenta artigos, entre as disposições permanentes e as
transitórias e quase uma centena de emendas constitucionais.
Quanto à finalidade
capítulo 1 • 23
A Constituição-garantia tem por finalidade limitar o poder estatal e, por isso,
tem caráter negativo, na medida que impõe barreira para atuação do Estado. Nessa
medida, ela garante a liberdade individual, daí a origem do termo “garantia”. Essa
espécie de Constituição é típica dos Estados liberais, porque estabelece limitações
à atuação estatal, sendo geralmente de natureza sintética.
Finalmente, a Constituição dirigente estabelece metas e programas que devem
ser alcançados futuramente pelos governos. Assim, o Estado se dirigirá para aten-
der e concretizar as demandas estipuladas pelo Poder Constituinte.
Como você estudará mais a frente, a Constituição dirigente possui inúmeras
normas programáticas, sobretudo de caráter social. Por isso, tal Constituição é
típica do Estado do bem-estar social ou Welfare State.
Quanto à ideologia
capítulo 1 • 24
Quanto ao modo de ser ou à correspondência com a realidade (ontológica)
Poder constituinte
capítulo 1 • 25
ter uma ideia, veja a figura abaixo que retrata bem a pressão sofrida pelo Terceiro
Estado na França do século XVIII.
Por isso, logo no início da obra, o abade afirma que o plano de trabalho era
bem simples e consistia em responder a três indagações: o que é o Terceiro Estado?
Tudo. O que é que tem sido até agora na ordem política? Nada. O que é que pede?
Tornar-se alguma coisa. (SIEYÈS, 2001, p. 1)
Sieyès criou a distinção entre poder constituinte e poder constituído. O pri-
meiro está acima do segundo, com a capacidade de fundar a base do direito. Além
disso, possui apenas limite no direito natural, sem limitações impostas pelo direito
positivo. A partir do poder constituinte surge o poder constituído, capaz de alterar
o direito nos limites determinados por seu criador. Para ele a diferença pode ser
explicada da seguinte maneira:
capítulo 1 • 26
Nesse momento você já é capaz de compreender a diferença entre poder cons-
tituinte e poder constituído. Ou seja, o poder constituinte é a manifestação so-
berana da vontade política de um povo cuja tarefa é elaborar a Constituição do
Estado, enquanto o poder constituído se revela como resultado dessa construção.
Titularidade
capítulo 1 • 27
Natureza jurídica do poder constituinte
JUSPOSITIVISTAS JUSNATURALISTAS
Fundamento do direito pressupõe a exis- Fundamento do direito é idealizado através
tência do Estado. do direito natural e da razão.
Por isso, o poder constituinte seria um Dessa forma, o poder constituinte deriva do
poder de fato e não de direito, afinal não direito natural e inerente do povo criar um
existe direito antes do Estado. Estado, ou seja, um poder de direito.
ORIGINÁRIO
PODER CONSTITUINTE
REFORMADOR
DERIVADO
DECORRENTE
capítulo 1 • 28
Poder constituinte originário
capítulo 1 • 29
Poder constituinte derivado
capítulo 1 • 30
É importante destacar que o poder constituinte derivado se subdivide em
poder constituinte reformador e poder constituinte decorrente, conforme você já
percebeu quando analisou a figura 3.
capítulo 1 • 31
Na elaboração das emendas constitucionais de revisão foram observadas as
limitações impostas no artigo 60, § 1º e § 4º, da Constituição Federal:
Art. 60 (...)
§ 1º A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de
estado de defesa ou de estado de sítio.
(...)
§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.
capítulo 1 • 32
Figura 1.4 – Capa do Jornal “O Globo” de 17 de fevereiro
de 2018. Fonte: Acervo do Jornal “O Globo”
Cumpre observar que mesmo não sendo possível aprovar nenhuma emenda
constitucional, diante da regra expressa de vedação prevista no artigo 60, § 1º,
da Constituição Federal, nada impediria sua tramitação, conforme entendimento
do Ministro Dias Toffolli. Veja abaixo a notícia publicada na página do Supremo
Tribunal Federal do dia 5 de julho de 2018 sobre esse assunto:
Ministro nega MS que pretendia proibir tramitação de PEC durante intervenção federal
O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, negou pedido de parlamentares
que buscavam proibir a tramitação da reforma da Previdência em razão da intervenção
federal decretada no Rio de Janeiro. Na decisão tomada no Mandado de Segurança
(MS) 35535, o ministro explicou que a Constituição veda a aprovação de emenda cons-
titucional na vigência de intervenção, mas não proíbe expressamente a tramitação de
propostas de emenda constitucional no mesmo período.
No MS 35535, o deputado federal Arnaldo Faria de Sá (PT/SP) e o senador Paulo
Paim (PT/RS) sustentavam que, após a intervenção, representantes do Executivo e do
Legislativo anunciaram a intenção de revogação proposital do Decreto Presidencial
9.288/2018, que estabeleceu a intervenção. O objetivo seria propiciar a aprovação da
Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287, relativa à reforma da Previdência.
capítulo 1 • 33
Para os parlamentares, essas manifestações representariam burla à proibição de emen-
dar a Constituição na vigência de intervenção federal (artigo 60, parágrafo1º) e de colo-
car termo à intervenção federal antes dos motivos que a originaram (artigo 36, parágrafo
4º). No seu entendimento, não apenas a aprovação da emenda, mas qualquer tramitação
(“discussões, deliberações, votações e promulgações”) relacionada a projetos de emen-
das à Constituição estaria impedida enquanto não cessados os motivos que ensejaram
a intervenção federal.
Com esses fundamentos, o deputado e o senador pediam que o STF proibisse toda e
qualquer tramitação e realização de sessões destinadas à análise da Proposta de Emen-
da à Constituição (PEC) 287 e de qualquer outra proposta de emenda durante a inter-
venção. Pediam ainda que a decisão impedisse o Executivo e o Legislativo de revogar
ou suspender o decreto de intervenção enquanto perdurarem os motivos que levaram à
sua edição e de reeditá-lo após a tramitação de PECs.
capítulo 1 • 34
De tudo o que se viu, a figura a seguir esquematiza e sintetiza tais ideias:
IMPOSSIBILIDADE DE ALTERAÇÃO DO
IMPLÍCITAS
ARTIGO 60 DA CONSTITUIÇÃO
capítulo 1 • 35
Assim sendo, os Estados-membros possuem capacidade conferida pelo po-
der constituinte originário para criar suas próprias constituições. Nesse sentido,
o artigo 11 do ADCT, dispõe que “Cada Assembleia Legislativa, com poderes
constituintes, elaborará a Constituição do Estado, no prazo de um ano, contado
da promulgação da Constituição Federal, obedecidos os princípios desta”.
Essa tarefa de elaborar a constituição estadual, decorre da autonomia do
Estado-membro para se auto organizar. Nada obstante, o poder constituinte de-
rivado decorrente também sofre limitações impostas pela Constituição Federal.
Essa limitação tem a ver com respeito ao princípio da simetria, ou seja, em-
bora a Constituição Estadual não seja mera cópia da Constituição Federal, deve
reproduzir normas obrigatórias, como os princípios constitucionais sensíveis (arti-
go 34, VII, da CF/88); os princípios constitucionais extensíveis, ou seja, que inte-
gram a estrutura da federação brasileira, como por exemplo, as regras relativas ao
sistema eleitoral, imunidades e processo legislativo; e os princípios constitucionais
estabelecidos, que limitam a autonomia do Estado-membro, como por exemplo,
as regras constitucionais sobre a repartição de competência, regras atinentes ao
sistema tributário, os direitos fundamentais etc.
CONEXÃO
A sugestão feita anteriormente para melhor compreensão da Revolução Francesa, como
marco importante do constitucionalismo moderno, também se aplica para a compreensão
da origem do poder constituinte originário. Por isso, novamente indicamos o documentário
produzido pelo History Channel denominado “Revolução Francesa”.
REFLEXÃO
Neste capítulo, você estudou as bases teóricas que informaram a evolução do constitu-
cionalismo. Além disso, analisou os sentidos de Constituição, como o sociológico, atribuído
à Ferdinand Lassalle; o político, formulado por Carl Schmitt; o jurídico, idealizado por Hans
Kelsen e, finalmente, o culturalista desenvolvido por Meirelles Teixeira. Posteriormente, você
estudou as principais classificações das Constituições. Da mesma forma foi possível com-
preender e estudar a teoria clássica de formação do Poder Constituinte, sua natureza jurídica,
sua titularidade, suas espécies e características.
capítulo 1 • 36
ATIVIDADES
01. Leia o texto abaixo para posteriormente responder à questão:
“Em seu ‘Quest-ce que Le tiers état?’, um dos célebres manifestos deflagradores da Re-
volução Francesa, publicado em 1788, o abade Emmanuel-Joseph Sieyès trouxe à baila as
reivindicações da burguesia contra os privilégios da nobreza e do Absolutismo Monárquico,
sistema de governo despótico e centralizador que imperava no Velho Continente há mais de
um milênio. De acordo com a formulação de Sieyès, o Terceiro Estado era representado pela
nação ou pelo povo, incumbido de suportar todos os ônus do processo de produção, exercen-
do, ainda, os cargos subalternos na Administração Pública, eis que os cargos honoríficos e
lucrativos eram exercidos pela nobreza e pelo clero, privilegiados sem mérito, segundo o seu
entender.” (SILVA E NETO, Manoel Jorge. Curso de Direito Constitucional. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2008)
Assim, escrevia o abade: o que é o terceiro estado? Tudo. O que é que tem sido até agora
na ordem política? Nada. O que é que pede? Tornar-se alguma coisa.
Considerando as reflexões contidas no texto acima, é correto afirmar sobre o
Poder Constituinte:
a) deve-se distinguir a titularidade, isto é, aquela conferida aos representantes do povo; e o
seu exercício, outorgado ao povo para elaboração do texto constitucional;
b) divergem os autores sobre a sua natureza jurídica. Para os positivistas trata-se de um
fato, pois não se reconhece qualquer direito antes e fora do Estado sendo, portanto,
metajurídico; já para os jusnaturalistas, o poder constituinte é um direito, pois emana da
própria natureza;
c) segundo Sieyès, os poderes constituídos são ilimitados e incondicionados sendo, no
entanto, subordinados ao poder constituinte;
d) inexiste distinção entre poder constituinte derivado e poder constituinte originário.
capítulo 1 • 37
d) Constitui uma hipótese de limitação circunstancial ao poder de reforma constitucional.
e) Sentido de constituição atribuída a Ferdinand Lassalle.
f) Sentido de constituição como produto de um fato cultural, que leva ao conceito de Cons-
tituição Total.
I E L C U L T U R A L I S T A O F T
T A W V O N T A D E P O L I T I C A
I N T E R V E N Ç Ã O F E D E R A L
S N O O I E W E L F A R E S T A T E
S E N T G P D S O C I O L Ó G I C A
H I Y H I E B U R G U E S I A D M F
W C P E N L E G I S L A Ç Ã O U A S
P I G A Á T H D S C D O G M A S B T
O U T O R G A D A H T O H K F E R U
E G A T I H A N S K E L S E N A B P
H T T A O O C I S H F R A N Ç A S C
T R C A R L S C H M I T T F L H O C
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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SIEYÈS, Emmanuel Joseph. A Constituinte Burguesa. Qu’est-ce que le Tiers État? Tradução Norma
Azevedo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001.
SILVA E NETO, Manoel Jorge. Curso de Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.
capítulo 1 • 39
capítulo 1 • 40
2
Teorias das normas
constitucionais
e dos direitos
fundamentais
Teorias das normas constitucionais e dos
direitos fundamentais
Introdução
OBJETIVOS
• Identificar as espécies de normas constitucionais, em razão de sua aplicabilidade e eficácia;
• Examinar a evolução histórica da teoria da aplicabilidade e eficácia das normas constitucionais;
• Compreender a teoria geral dos direitos fundamentais, sobretudo no que diz respeito às
suas características e dimensões.
capítulo 2 • 42
Aplicabilidade e eficácia das normas constitucionais
ESTUDO DE CASO
Caso 1
João das Neves, após ter sido aprovado em todas as disciplinas da faculdade de Direito,
concluiu o curso. No entanto, para exercer a profissão esbarrou no Exame da Ordem dos
Advogados. Entendeu que encontra-se em “sério prejuízo moral, econômico e social: a) mo-
ral, dada a frustração de realizar todos atos necessários para conseguir o Bacharelado em
Direito e, ao final, não poder exercer a advocacia; b) econômico, pois a Carteira Profissional
abre portas do caminho profissional; c) social, pois a participação efetiva na sociedade, como
conhecedor e aplicador do Direito, resta obstaculizada em razão da omissão da Ordem dos
Advogados do Brasil - OAB que se nega a conceder a Carteira Profissional ao Bacharel em
Direito antes de prévia aprovação no Exame de Ordem.”
O Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil - Lei nº 8.906/94, dispõe em seu artigo
8º, IV, que para a inscrição como advogado, entre outros requisitos, é necessário a aprovação
em Exame de Ordem.
Por outro lado, a Constituição Federal de 1988 dispõe em seu artigo 5º, XIII que: “é livre
o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais
que a lei estabelecer”.
Ao interpretar esses dois dispositivos, João entende que “as qualificações profissionais
seriam aquelas obtidas na Universidade, que qualifica para o trabalho. A lei não poderia,
segundo sua visão, estabelecer um Exame de Ordem para verificação dessas qualificações
profissionais, porque estaria invadindo a competência da Universidade (para qualificar) e a do
capítulo 2 • 43
Estado, do poder público, do MEC (para avaliar)”. Portanto, João compreende que o artigo 8º,
IV, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil - Lei nº 8.906/94 seria inconstitucional.
Diante disso, sob a ótica da teoria da eficácia e da aplicabilidade das normas constitu-
cionais, no que diz respeito precisamente ao artigo 5º, XIII, da Constituição (“é livre o exer-
cício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que
a lei estabelecer”), poderia a Lei nº 8.906/94, em seu artigo 8º, IV, restringir o alcance da
norma constitucional?
ESTUDO DE CASO
Caso 2
Maria das Neves foi admitida na Empresa Ziblatt de cosméticos em 12/08/2008. Em
06/08/2014 foi dispensada e, no dia seguinte à dispensa, propôs ação trabalhista em face
da Empresa cobrando tudo o que era devido desde 12/08/2008.
Pugnou a Empresa pela declaração da prescrição quinquenal, nos termos do artigo 7º,
XXIX, da Constituição Federal que dispõe: “Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e
rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: XXIX - ação, quanto aos
créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para
os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de
trabalho”, referentes aos créditos anteriores a 07/08/2009.
No entanto, o juiz considerou que o inciso XXIX, referente ao direito de ação, “quando
limita seu alcance ao período de cinco anos, foi idealizado em um sistema de estabilidade de
emprego, em que vedava a despedida arbitrária, segundo o inciso I, do artigo 7º, o qual perdu-
ra desde 1988 sem a regulamentação devida (Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos
e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: I - relação de emprego
protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar,
que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos). Reconheceu, portanto, o di-
reito de Maria cobrar todos os créditos trabalhistas anteriores aos cinco anos.
Inconformada a Empresa de cosméticos, insurge-se contra sentença que acolheu a pre-
tensão da trabalhadora.
Diante do caso apresentado, o Tribunal, sob a ótica da teoria da eficácia e da aplicabilida-
de das normas constitucionais, deve dar provimento ao recurso da empresa? Ou seja, o inciso
XXIX, destacado acima, está condicionado a elaboração de uma “lei complementar” prevista
no inciso I, do artigo 7º, da Constituição Federal?
capítulo 2 • 44
ESTUDO DE CASO
Caso 3
José das Neves, servidor público civil federal que desempenha suas atividades profis-
sionais em órgão vinculado ao Ministério da Defesa (Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro),
sempre esteve submetido a condições insalubres.
Com efeito, a Constituição Federal de 1988 prevê a aposentadoria especial, mas nos
termos definidos em leis complementares, da seguinte maneira: “Artigo 40 (...) § 4º É vedada
a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria aos
abrangidos pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, nos termos definidos em leis
complementares, os casos de servidores: I. portadores de deficiência; II. que exerçam ativida-
des de risco; III. cujas atividades sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem
a saúde ou a integridade física.”
Ressalta-se que até hoje, apesar da previsão desse direito, o artigo 40, § 4º, da Consti-
tuição Federal, não foi regulamentado para a efetivação da aposentadoria especial dos servi-
dores públicos que exercem atividade de risco ou sob condições especiais que prejudiquem
a saúde ou a integridade física, o que evidencia a mora legislativa.
Paradoxalmente, para os trabalhadores celetistas, ou seja, para aqueles que não são
servidores públicos, a Lei 8.212/91, prevê a aposentadoria especial, nos seguintes termos:
“Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta Lei,
ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a
integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme dispuser
a lei. § 1º A aposentadoria especial, observado o disposto no art. 33 desta Lei, consistirá numa
renda mensal equivalente a 100% (cem por cento) do salário-de-benefício. (...) § 5º O tempo
de trabalho exercido sob condições especiais que sejam ou venham a ser consideradas pre-
judiciais à saúde ou à integridade física será somado, após a respectiva conversão ao tempo
de trabalho exercido em atividade comum, segundo critérios estabelecidos pelo Ministério da
Previdência e Assistência Social, para efeito de concessão de qualquer benefício.”
Assim sendo, diante da regra do artigo 40, § 4º, incisos I, II e III, da Constituição Federal,
sob à luz da teoria da aplicabilidade e eficácia das normas constitucionais, José das Neves
pode concretizar o seu direito à aposentadoria especial prevista no dispositivo constitucional?
Como você percebeu, pela leitura acima desses episódios, esses casos represen-
tam situações corriqueiras, que podem afetar a vida de qualquer cidadão comum.
Com isso mostramos a importância deste estudo.
capítulo 2 • 45
Entretanto, antes de conhecer a evolução e as classificações das normas cons-
titucionais, é preciso se atentar para a presença de termos como “eficácia”, “efeti-
vidade”, “aplicabilidade”, “validade”, “vigência”, “vigor” e “existência” da norma.
Tais expressões podem parecer sinônimas, mas como veremos a seguir, merecem
distinções técnico-jurídicas.
Como se sabe, nem todos os fatos da vida são relevantes para o Direito. A
existência de um ato jurídico verifica-se quando nele estão presentes os elementos
de sua constituição previstos na lei (BARROSO, 2009, p. 79).
Verificada a existência do ato, passa-se para o próximo plano de verificação,
qual seja, o da sua validade. Nesse instante, busca-se verificar se os elementos que
preenchem os requisitos exigidos pela lei. A ausência desses elementos leva à inva-
lidade do ato, que deverá sofrer sanção de nulidade ou anulabilidade, de acordo
com a gravidade da violação. Nesse aspecto, a validade não deve ser confundida
com a vigência da lei, que é a validade técnico-formal, que atesta a existência jurí-
dica e aplicabilidade de uma lei.
Por outro lado, a eficácia consiste na aptidão da norma produzir seus efeitos.
Assim, eficaz é o ato capaz de alcançar a finalidade para a qual foi criado.
Desta forma, uma norma pode ser perfeita, porque existe, válida, preenche
os requisitos determinados na lei e eficaz, além de produzir seus efeitos regulares.
Mas pode acontecer de uma norma ser perfeita, inválida e eficaz, como por exem-
plo no caso de uma lei declarada inconstitucional. Perceba que ela existe, porque
entrou no ordenamento jurídico, pode produzir efeitos, mas não atentou para as
regras estabelecidas na constituição. Nesse caso seria nula.
Da mesma maneira, a norma pode existir, ser válida, porém, ineficaz, como
por exemplo na hipótese de vigência diferida ou vacatio legis. Isso tudo demonstra
que existem os planos da existência, da validade e da eficácia da norma.
Observe, com atenção, que neste capítulo vamos dar ênfase ao plano da efi-
cácia e, como tal, perceberemos que nesse aspecto, a norma constitucional possui
gradações distintas.
Hans Kelsen contribuiu para a distinção dos termos, da seguinte forma:
Como a vigência da norma pertence à ordem do dever ser, e não à ordem do ser, deve
também distinguir-se a vigência da norma da sua eficácia, isto é, do fato real de ela ser
efetivamente aplicada e observada, da circunstância de uma conduta humana conforme
à norma se verificar na ordem dos fatos. Dizer que uma norma vale (é vigente) traduz
algo diferente do que se diz quando se afirma que ela é efetivamente aplicada e respei-
tada, se bem que entre vigência e eficácia possa existir uma certa conexão. Uma norma
jurídica é considerada como objetivamente válida apenas quando a conduta humana que
capítulo 2 • 46
ela regula lhe corresponde efetivamente, pelo menos numa certa medida. Uma norma
que nunca e em parte alguma é aplicada e respeitada, isto é, uma norma que - como
costuma dizer-se - não é eficaz em uma certa medida, não será considerada como norma
válida (vigente). Um mínimo de eficácia (como sói dizer-se) é a condição da sua vigência.
(...) Porém, uma norma jurídica deixará de ser considerada válida quando permanece
duradouramente ineficaz. A eficácia é, nesta medida, condição da vigência, visto ao esta-
belecimento de uma norma se ter de seguir a sua eficácia para que ela não perca a sua
vigência. (KELSEN, 1998, p. 8)
capítulo 2 • 47
extensão (BULOS, 2015, p. 478). Dessa maneira, umas terão maior eficácia que
outras e, é por isso mesmo que surgiram inúmeras classificações doutrinárias a
respeito das normas constitucionais.
Para facilitar o seu estudo, vamos dividir essa seção em três partes distintas,
segundo as visões dos teóricos referentes à evolução da teoria da aplicabilidade e
eficácia das normas. Essa fragmentação busca agrupar tais classificações de acordo
com a similitude do pensamento doutrinário.
CURIOSIDADE
A Constituição dos Estados Unidos, composta por sete artigos, foi aprovada pela Con-
venção da Filadélfia em 17 de setembro de 1787. Apesar de mais de duzentos anos de
existência, essa Constituição, até hoje, sofreu apenas vinte e sete emendas. É considerada a
mais curta constituição escrita em vigor.
Por outro lado, a atual Constituição do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988,
possui 250 artigos em seu corpo acrescidos de 114 artigos do Ato das Disposições Consti-
tucionais Transitórias, totalizando 364 artigos. Além disso, como você estudou no capítulo 1,
possui 6 emendas constitucionais de revisão e 99 emendas constitucionais.
capítulo 2 • 48
Dessa simples observação, Cooley começou a classificar as normas constitu-
cionais em self-executing provisions e not self-executing provisions.
SELF–EXECUTING PROVISIONS
NORMAS
CONSTITUCIONAIS
AUTOEXECUTÁVEIS
NORMAS
CONSTITUCIONAIS
NÃO AUTOEXECUTÁVEIS
capítulo 2 • 49
pode ser aplicada, não se basta em si mesma. Daí a denominação normas consti-
tucionais não-bastantes em si.
Finalmente, para Pontes de Miranda, tanto as regras bastantes em si como as
não-bastantes em si poderiam ser reveladas como regras programáticas, ou seja,
aquelas que traçam linhas diretoras, metas ou programas que orientarão a atuação
do Estado.
Como você deve ter percebido, a partir da evolução teórica quanto à existência
de normas programáticas, típicas do constitucionalismo do século XX, a dicoto-
mia proposta por Cooley, em self-executing provisions e not self-executing provisions,
não mais respondia aos anseios da nova realidade constitucional.
Assim, nos idos da década de 40, do século XX, o italiano Gaetano Azzaritti
propôs a divisão das normas constitucionais em preceptivas e diretivas. As pri-
meiras se subdividiriam em a) de aplicação direta e imediata, sem a necessidade
de atuação posterior do legislador ordinário e b) de aplicação direta, mas não
imediata (ou mediata), como aquelas dependentes de integração posterior pela
legislação. Já as normas diretivas imporiam um atuar futuro do legislador. Mais
tarde, Azzaritti as denominou de normas programáticas.
DE APLICAÇÃO DIRETA
E IMEDIATA
PRECEPTIVAS
DE APLICAÇÃO DIRETA,
NORMAS MAS NÃO IMEDIATA
CONSTITUCIONAIS
DIRETIVAS
capítulo 2 • 50
espécies de normas constitucionais distintas: normas de eficácia plena, normas
de eficácia limitada de legislação e normas de eficácia limitada programáticas.
DE EFICÁCIA PLENA
DE EFICÁCIA LIMITADA
PROGRAMÁTICAS
DE EFICÁCIA PLENA
NORMAS
CONSTITUCIONAIS
DE EFICÁCIA LIMITADA
OU REDUZIDA
capítulo 2 • 51
Na mesma linha de Crisafulli, para Meirelles Teixeira, a norma de eficácia ple-
na, desde sua criação já ostenta normatividade bastante à sua incidência, produ-
zindo aplicabilidade direta e imediata. Ao contrário, a norma de eficácia limitada
não produz todos os seus efeitos, porque depende da tarefa positiva e futura do
legislador ordinário que terá o encargo de torná-la integral.
Com base também em Crisafulli, José Afonso da Silva, em monografia escrita
no ano de 1968, intitulada de Aplicabilidade das Normas Constitucionais dissemi-
na no Brasil a existência da seguinte classificação: a) normas constitucionais de
eficácia plena; b) as normas constitucionais de eficácia contida; e c) normas
constitucionais de eficácia limitada, essas subdivididas em normas constitu-
cionais de eficácia limitada de princípio institutivo e de princípio programático.
(SILVA, 2003)
DE EFICÁCIA PLENA
NORMAS DE PRINCÍPIO
DE EFICÁCIA CONTIDA
CONSTITUCIONAIS INSTITUTIVO
DE EFICÁCIA LIMITADA
DE PRINCÍPIO
PROGRAMÁTICO
capítulo 2 • 52
Podemos citar outros exemplos dessa tipologia, como os artigos: 2º; 14, §
2º; 16; 17, § 4º; 28, caput; 30; 37, III; 46, § 1º; 226, §1º, todos da Constituição
Federal de 1988.
É nesse momento que você deve retomar o estudo de caso 2 e aplicar a teoria
da eficácia e aplicabilidade, segundo a visão de José Afonso da Silva. Vamos lá!
ESTUDO DE CASO
Caso 2
Maria das Neves foi admitida na Empresa Ziblatt de cosméticos em 12/08/2008. Em
06/08/2014 foi dispensada e no dia seguinte propôs ação trabalhista em face da Empresa.
Pugnou a Empresa pela declaração da prescrição quinquenal, nos termos do artigo 7º,
XXIX, da Constituição Federal que dispõe: “Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e
rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: XXIX - ação, quanto aos
créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para
os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de
trabalho”, referentes aos créditos anteriores a 07/08/2009.
No entanto, o juiz considerou que o inciso XXIX, referente ao direito de ação, “quando
limita seu alcance ao período de cinco anos, foi idealizado em um sistema de estabilidade de
emprego, em que vedava a despedida arbitrária, segundo o inciso I, do artigo 7º, o qual perdu-
ra desde 1988 sem a regulamentação devida (Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos
e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: I - relação de emprego
protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar,
que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos). Reconheceu, portanto, os
créditos anteriores aos cinco anos.
Inconformada a Empresa de cosméticos, insurge-se contra sentença que acolheu pre-
tensão da trabalhadora.
Diante do caso apresentado, o Tribunal sob a ótica da teoria da eficácia e da aplicabili-
dade das normas constitucionais, deve dar provimento ao recurso? Ou seja, o inciso XXIX,
destacado acima, está condicionado a elaboração de uma “lei complementar” prevista no
inciso I, do artigo 7º, da Constituição Federal?
Resolução do caso 2:
A resposta nesse caso é muito simples. A empresa tem razão, pois o juiz deveria ter
considerado o inciso XXIX, do artigo 7º, da Constituição Federal como norma constitucional
de eficácia plena, ou seja, autoaplicável. Assim, deveria ter aplicado diretamente a regra do
capítulo 2 • 53
inciso XXIX, do artigo 7º, que dispõe sobre a prescrição quinquenal, deixando de reconhecer
os créditos cobrados por Maria antes de 07/08/2009.
Com efeito, o Tribunal Regional do Trabalho, da 12ª Região, no Recurso Ordinário Traba-
lhista, nº 0004265-93.2014.5.12.0002 SC, 3ª Turma, Acórdão publicado em 06/05/2016,
Relatora: Ligia Maria Teixeira Gouveia, assim se manifestou:
PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. ART. 7º, XXIX, DA CF/88. NORMA DE EFICÁCIA PLE-
NA. O inciso XXIX, do art. 7º, da CF/88 é autoaplicável, dotado de eficácia plena por conter
todos os elementos necessários à sua incidência, sem estipular qualquer regulamentação
infraconstitucional. Logo, não há falar na normatização do inciso I do mesmo artigo como
fator condicionante da possibilidade de pronúncia da prescrição quinquenal.
Perceba que o marco prescricional está situado em 07/08/2009, porque proposta a
ação por Maria em 07/09/2014.
Em maio de 2018, no mesmo sentido, o Tribunal Regional do Trabalho, da 4ª Região,
no Recurso Ordinário 0020426-04-2017.5.04.0292 RO, 1ª Turma, Acórdão publicado em
16/05/2018, Relator: Manuel Cid Jardon, assim se pronunciou:
PRESCRIÇÃO. ART. 7º, XXIX, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. NORMA DE EFI-
CÁCIA PLENA. A prescrição quinquenal dos créditos resultantes da relação de trabalho,
prevista no art. 7º, XXIX, da Constituição da República, é norma constitucional de eficácia
plena, que não está subordinada à regulamentação da proteção prevista no inciso I de tal
dispositivo contra a despedida arbitrária ou sem justa causa.
capítulo 2 • 54
trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei es-
tabelecer”. Repare bem que o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão é
livre até que o legislador (no futuro) restrinja essa liberdade. Dessa forma, você
pode desempenhar qualquer profissão, desde que lícita, até que o legislador impo-
nha restrições a esse exercício.
São também exemplos de normas dessa natureza os seguintes dispositivos
constitucionais: artigo 5º, VII, VIII, XII, XV, XXV, XXVII, XXIX; artigo 15, IV,
artigo 84, XXVI, artigo 170, parágrafo único.
Observe com atenção que as normas de eficácia contida muito se parecem
também com as normas constitucionais limitadas, pois ambas permitem regula-
mentação legislativa ordinária. Entretanto, são inconfundíveis, já que as normas
de eficácia contida podem ser restringidas por lei, enquanto as normas de eficácia
limitada podem ser ampliadas por lei posterior.
Chegou a hora de testar nosso conhecimento. Você lembra do estudo de caso
1? Vamos finalmente resolvê-lo?
ESTUDO DE CASO
Caso 1
João das Neves, após ter sido aprovado em todas as disciplinas da faculdade de Direito,
concluiu o curso. No entanto, para exercer a profissão esbarrou no Exame da Ordem dos
Advogados. Entendeu que encontra-se em “sério prejuízo moral, econômico e social: a) mo-
ral, dada a frustração de realizar todos atos necessários para conseguir o Bacharelado em
Direito e, ao final, não poder exercer a advocacia; b) econômico, pois a Carteira Profissional
abre portas do caminho profissional; c) social, pois a participação efetiva na sociedade, como
conhecedor e aplicador do Direito, resta obstaculizada em razão da omissão da Ordem dos
Advogados do Brasil - OAB que se nega a conceder a Carteira Profissional ao Bacharel em
Direito antes de prévia aprovação no Exame de Ordem.”
O Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil - Lei nº 8.906/94, dispõe em seu artigo
8º, IV, que para a inscrição como advogado, entre outros requisitos, é necessário a aprovação
em Exame de Ordem.
Por outro lado, a Constituição Federal de 1988 dispõe em seu artigo 5º, XIII que: “é livre
o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais
que a lei estabelecer”.
Ao interpretar esses dois dispositivos, João entende que “as qualificações profissionais
seriam aquelas obtidas na Universidade, que qualifica para o trabalho. A lei não poderia,
capítulo 2 • 55
segundo sua visão, estabelecer um Exame de Ordem para verificação dessas qualificações
profissionais, porque estaria invadindo a competência da Universidade (para qualificar) e a do
Estado, do poder público, do MEC (para avaliar)”. Portanto, João compreende que o artigo 8º,
IV, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil - Lei nº 8.906/94 seria inconstitucional.
Diante disso, sob a ótica da teoria da eficácia e da aplicabilidade das normas constitu-
cionais, no que diz respeito precisamente ao artigo 5º, XIII, da Constituição (“é livre o exer-
cício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que
a lei estabelecer”), poderia a Lei nº 8.906/94, em seu artigo 8º, IV, restringir o alcance da
norma constitucional?
Resolução do caso 1:
O raciocínio utilizado para resolver esse caso é o seguinte: O artigo 5º, XIII, da Constitui-
ção Federal de 88 é classificado, segundo José Afonso da Silva, como norma constitucional
de eficácia contida. Assim sendo, a lei ordinária pode restringir o alcance e o conteúdo da
liberdade do exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão. Foi o que aconteceu a partir
da edição da Lei nº 8.906/94, que em seu artigo 8º, IV, prevê como requisito para inscrição
como advogado, a aprovação no Exame de Ordem.
Com efeito, o Recurso Extraordinário 603.583 questionou a obrigatoriedade do Exa-
me da OAB para que bacharéis em Direito pudessem exercer a advocacia. Nesse sentido,
assim se manifestou o Supremo Tribunal Federal: “TRABALHO - OFÍCIO OU PROFISSÃO
- EXERCÍCIO. Consoante disposto no inciso XIII do artigo 5º da Constituição Federal, “é livre
o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais
que a lei estabelecer”. BACHARÉIS EM DIREITO - QUALIFICAÇÃO. Alcança-se a qualifi-
cação de bacharel em Direito mediante conclusão do curso respectivo e colação de grau.
ADVOGADO - EXERCÍCIO PROFISSIONAL - EXAME DE ORDEM. O Exame de Ordem,
inicialmente previsto no artigo 48, inciso III, da Lei nº 4.215/63 e hoje no artigo 84 da Lei
nº 8.906/94, no que a atuação profissional repercute no campo de interesse de terceiros,
mostra-se consentâneo com a Constituição Federal, que remete às qualificações previstas
em lei. Considerações.”
Para finalizar, José Afonso da Silva ainda menciona uma terceira categoria de
norma constitucional: a de eficácia limitada. Embora apresente eficácia jurídica
desde sua criação, essa norma não produz todos seus efeitos, por falta de efetivida-
de, pois depende de lei para regulamentá-la. Daí possuir aplicabilidade indireta,
mediata e reduzida, ou para alguns autores, aplicabilidade diferida.
capítulo 2 • 56
ATENÇÃO
É comum a Constituição utilizar termos como “na forma da lei”, “nos termos da lei”, “de
acordo com a lei”, “disporá em lei”, “fixada em lei”, “lei regulará” etc. Isso não identifica uma
norma constitucional de eficácia limitada, pois o constituinte utilizou tais expressões para
designar também as normas de eficácia contida, como por exemplo nos artigos 5º, XXVIII,
(nos termos da lei) e 37, I (estabelecidos em lei).
capítulo 2 • 57
Que tal retomarmos agora o estudo de caso 3? Nesse momento, você será
capaz de resolver e verificar o aprendizado em relação a essa espécie de norma
constitucional, segundo a visão de José Afonso da Silva. Mãos à obra!
ESTUDO DE CASO
Caso 3:
José das Neves, servidor público civil federal que desempenha suas atividades profis-
sionais em órgão vinculado ao Ministério da Defesa (Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro),
sempre esteve submetido a condições insalubres.
Com efeito, a Constituição Federal de 1988 prevê a aposentadoria especial, mas nos
termos definidos em leis complementares, da seguinte maneira: “Artigo 40 (...) § 4º É vedada
a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria aos
abrangidos pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, nos termos definidos em leis
complementares, os casos de servidores: I. portadores de deficiência; II. que exerçam ativida-
des de risco; III. cujas atividades sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem
a saúde ou a integridade física.”
Ressalta-se que até hoje, apesar da previsão desse direito, o artigo 40, § 4º, da Consti-
tuição Federal, não foi regulamentado para a efetivação da aposentadoria especial dos servi-
dores públicos que exercem atividade de risco ou sob condições especiais que prejudiquem
a saúde ou a integridade física, o que evidencia a mora legislativa.
Paradoxalmente, para os trabalhadores celetistas, ou seja, para aqueles que não são
servidores públicos, a Lei 8.212/91, prevê a aposentadoria especial, nos seguintes termos:
“Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta
Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a
saúde ou a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos,
conforme dispuser a lei. § 1º A aposentadoria especial, observado o disposto no art. 33
desta Lei, consistirá numa renda mensal equivalente a 100% (cem por cento) do salário-
-de-benefício. (...) § 5º O tempo de trabalho exercido sob condições especiais que sejam
ou venham a ser consideradas prejudiciais à saúde ou à integridade física será somado,
após a respectiva conversão ao tempo de trabalho exercido em atividade comum, segundo
critérios estabelecidos pelo Ministério da Previdência e Assistência Social, para efeito de
concessão de qualquer benefício.”
Assim sendo, diante da regra do artigo 40, § 4º, incisos I, II e III, da Constituição Federal,
sob à luz da teoria da aplicabilidade e eficácia das normas constitucionais, José das Neves
pode concretizar o seu direito à aposentadoria especial prevista no dispositivo constitucional?
capítulo 2 • 58
Resolução do caso 3:
Não há dúvidas de que o artigo 40, § 4º, incisos I, II e III, da Constituição Federal é
classificado pela doutrina e pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal como norma
constitucional de eficácia limitada, ou seja, depende de regulamentação para alcançar todos
os efeitos esperados.
Por ser norma constitucional de eficácia limitada, como você já estudou, possui aplicabili-
dade mediata, indireta e reduzida ou, segundo alguns autores, aplicabilidade diferida.
A princípio a resposta à pergunta formulada seria no sentido negativo, ou seja, que José
não teria direito à aposentadoria especial, afinal, o dispositivo constitucional até o momento
não foi regulamentado pelas “leis complementares”.
Nesse ponto a questão se torna complexa, pois desde a previsão da aposentadoria es-
pecial na Constituição Federal não houve a edição das leis complementares sobre o assunto,
capazes de regulamentar esse direito básico do servidor público.
Devido essa mora legislativa, muitos servidores públicos questionaram no Judiciário a
falta de legislação específica e pediram que fosse aplicada, por analogia, a legislação exis-
tente para os celetistas.
No Mandado de Injunção nº 5469 DF, Ministra relatora Cármen Lúcia, o Supremo Tri-
bunal Federal entendeu que deveria ser aplicado o artigo 57, da Lei 8.212/91, dirigida aos
celetistas, no que couber.
Assim, em 2014, o Supremo Tribunal Federal editou a súmula vinculante nº 33, que
possui o seguinte enunciado: “Aplicam-se ao servidor público, no que couber, as regras do
regime geral da previdência social sobre aposentadoria especial de que trata o artigo 40, §
4º, inciso III da Constituição Federal, até a edição de lei complementar específica.”
capítulo 2 • 59
Começaremos pela proposta apresentada por Maria Helena Diniz, que divide as
normas constitucionais em: a) normas com eficácia absoluta ou supereficazes;
b) normas com eficácia plena; c) normas com eficácia relativa restringível; e
d) normas com eficácia relativa complementável ou dependentes de comple-
mentação (DINIZ, 2001, p. 98).
Para a autora, as normas com eficácia absoluta ou supereficazes equivalem às
cláusulas pétreas, previstas no artigo 60, § 4º, da Constituição Federal, ou seja, as
cláusulas de intocabilidade, que não podem ser suprimidas pelo poder constituin-
te derivado. Como você estudou no capítulo anterior, trata-se de uma limitação
ao poder de reforma.
Importa destacar que, como vimos anteriormente, as normas constitucionais
possuem gradações distintas. Nesse sentido, vale a pena destacar as observações de
Uadi Lammêgo Bulos, para quem:
Seria ingênuo admitir normas constitucionais de idêntica eficácia, sempre prontas para
serem aplicadas, porque as constituições são diplomas incompletos. Albergam múltiplos
interesses, que derivam de forças antagônicas. Elaboradas em ambientes conturbados,
a realização de suas promessas e de seus compromissos fica sob os cuidados do legis-
lador ordinário, que, numa etapa futura da vida constitucional do Estado, irá implementar
as aspirações cristalizadas no texto supremo. (BULOS, 2015, p. 478)
capítulo 2 • 60
À vista do que foi revelado, você deve ter compreendido que Maria Helena
Diniz apresentou algumas mudanças em relação à classificação desenvolvida por
José Afonso da Silva, ou seja: a) a existência de normas supereficazes ou abso-
lutas; b) alteração de nomenclatura das normas constitucionais de eficácia con-
tida para “norma com eficácia relativa restringível”; c) alteração de nomencla-
tura das normas constitucionais de eficácia limitada para normas com eficácia
relativa complementável.
capítulo 2 • 61
precisavam ser equacionadas.” Dessa maneira, é plenamente possível que uma nor-
ma esvaída possa permanecer efetiva, isto é, produzindo efeitos sociais (efetividade).
É importante salientar que a norma de eficácia esvaída corresponde a um está-
gio anterior da norma constitucional de eficácia exaurida. A partir do momento em
que uma norma constitucional de eficácia esvaída se esgota tanto jurídica, como
socialmente, se transforma em uma norma constitucional de eficácia exaurida.
A norma de eficácia esvaída e uma norma no caminho do seu exaurimento.
Veja por exemplo o que aconteceu com o artigo 26 do ADCT, que dispõe que “No
prazo de um ano a contar da promulgação da Constituição, o Congresso Nacional
promoverá, através de Comissão mista, exame analítico e pericial dos atos e fatos
geradores do endividamento externo brasileiro”.
Assim, um ano após a promulgação da Constituição o artigo 26, do ADCT, se
esvaiu. Porém, apenas no início da década de 1990 passou a ser de eficácia exaurida.
As normas constitucionais de eficácia exaurida e aplicabilidade esgotada são
aquelas em que todos os seus efeitos foram produzidos e extintos. Como exemplo
dessa espécie podem ser mencionados os seguintes artigos do ADCT: arts. 1º, 2º,
14, 20, 25 etc.
CURIOSIDADE
O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias - ADCT, que faz parte do texto cons-
titucional, situado ao final da sua composição principal, até o fechamento dessa edição conta
com 114 artigos. Somente ele é quase do tamanho de toda a Constituição da China, de
1982, que rege o Estado mais populoso do mundo, contendo 138 artigos.
capítulo 2 • 62
COM EFICÁCIA ABSOLUTA
OU SUPEREFICAZES
Celso Ribeiro Bastos e Carlos Ayres Britto apresentam uma classificação dis-
tinta das demais. Para os referidos autores, existem normas de mera aplicação,
que desde o seu nascimento estão aptas a produzir seus efeitos, sem a necessida-
de de lei ordinária para sua complementação. Essas normas são bipartidas em:
a) irregulamentáveis, ou seja, incidem diretamente sobre os fatos regulados, não
havendo necessidade de regulamentação por parte do legislador; b) regulamen-
táveis, isto é, as normas que permitem o seu desdobramento através de outras
normas regulamentadoras.
Por outro lado, tais autores vislumbram ainda a existência das normas de
mera integração, que são aquelas que não possuem auto-operatividade e, por
isso, necessitam de integração por outra norma. Essa espécie subdivide-se em:
a) normas complementáveis, ou seja, quando a própria constituição exige re-
gulamentação legislativa posteriormente; e b) normas infringíveis, quando a
constituição permite que o legislador infraconstitucional diminua a sua ampli-
tude e conteúdo, como por exemplo a norma já estudada do artigo 5º, XIII, da
Constituição Federal.
capítulo 2 • 63
IRREGULAMENTÁVEIS
DE MERA APLICAÇÃO
NORMAS REGULAMENTÁVEIS
CONSTITUCIONAIS
COMPLEMENTÁVEIS
DE MERA INTEGRAÇÃO
INFRINGÍVEIS
DE ORGANIZAÇÃO
NORMAS
DEFINIDORAS DE DIREITO
CONSTITUCIONAIS
PROGRAMÁTICAS
capítulo 2 • 64
Antes de tudo, porém, é preciso estabelecer a diferença entre direitos e
garantias fundamentais. Com efeito, os direitos são vantagens prescritas na
Constituição, ao passo que as garantias são instrumentos que visam possibilitar o
exercício do direito.
Da mesma maneira, o termo garantias constitucionais não se confunde com
a expressão remédios constitucionais.
Os remédios constitucionais são espécies do gênero garantias. São eles: o ha-
beas corpus, o habeas data, o mandado de injunção, o mandado de segurança e a
ação popular.
capítulo 2 • 65
toda humanidade, por se referir àquelas posições jurídicas que se reconhecem ao
ser humano como tal, independentemente de sua vinculação com determinada or-
dem constitucional. Por conseguinte, há uma conexão entre os direitos humanos
e os documentos positivados pelo direito internacional, por aspirarem à validade
universal para todos os povos e tempos.
Por sua vez, o conceito de direitos naturais do homem tem significação atrela-
da ao jusnaturalismo e não a uma concepção positivista. Seriam, pois, direitos não
positivados e que antecedem ao reconhecimento pelo direito positivo, assumindo
um caráter pré-estatal.
Com efeito, as diferenças terminológicas entre direitos do homem e direitos
humanos pode ser até despicienda, pois ambos são sempre direitos inerentes à
condição humana, sejam positivados ou não.
De toda sorte, sem embargo da divergência doutrinária, é preciso entender
que tanto a expressão direitos do homem quanto a direitos humanos sempre esta-
rão fundidas às ideias de universalidade e atemporalidade.
Tais particularidades trazem, em si, a distinção da noção de direitos funda-
mentais. Esses possuem um conceito mais restrito e específico de cada realidade
constitucional. Em razão disso, cabe ao Estado escolher, dada a sua realidade cul-
tural, regional, econômica, quais seriam os direitos a serem alçados à proteção
máxima. Os direitos fundamentais se atrelam a um catálogo eleito como impor-
tante e reconhecido pelo governo local. São aqueles positivados na Constituição
do Estado.
Para simplificar, os direitos fundamentais seriam os direitos humanos consti-
tucionalizados, ou seja, positivados em dada constituição nacional.
O avanço dos direitos fundamentais não se deu de uma hora para outra. Ao
contrário, foi fruto de conquistas alcançadas gradativamente ao longo da história.
É nesse sentido que a doutrina costuma classificar os direitos fundamentais em
gerações ou dimensões.
Tradicionalmente os direitos fundamentais são classificados em três gera-
ções, representado cada uma delas o clássico ideário da Revolução Francesa, ou
seja, Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Mas alguns autores se referem tam-
bém à quarta e quinta gerações dos direitos fundamentais. Vamos examinar cada
uma delas.
capítulo 2 • 66
ESTUDO DE CASO
A Bandeira Nacional da França possui três faixas verticais cujas cores simbolizam os três
ideários da Revolução Francesa de 1789, Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
O quadro denominado “A Liberdade Guiando o Povo”, do pintor Eugène Delacroix, exi-
bido em 1833, impressionou o mundo inteiro ao refletir a bandeira francesa tremulando nas
mãos de uma liberdade resoluta e destemida.
Por fim, cabe ressaltar que, o termo “geração” de direito não significa supera-
ção de uma geração anterior, mas tão-somente está ligado à cronologia do surgi-
mento do direito na esfera jurídica. Aliás, a doutrina moderna rejeita a terminolo-
gia “gerações”, preferindo o emprego da palavra “dimensão”.
capítulo 2 • 67
Os direitos sociais, culturais e econômicos são categorizados como direitos de
segunda dimensão.
capítulo 2 • 68
política e, por isso, sofrem variações de alcance, conteúdo e extensão ao longo
do tempo.
A característica da universalidade determina que os direitos fundamentais se
destinam a todo e qualquer ser humano.
Por limitabilidade dos direitos fundamentais entende-se que não há direitos
fundamentais absolutos, ou seja, no confronto entre dois direitos fundamentais,
como por exemplo, o direito à informação e o direito à privacidade, o juiz deverá
analisar as circunstâncias específicas do caso concreto, sem dizer de antemão qual
direito deve prevalecer.
Os direitos fundamentais podem ser exercidos cumulativamente, isto é, uma
pessoa pode ser proprietária de um imóvel (direito de propriedade) e ao mesmo
tempo possuir direito de intimidade e direito à privacidade no interior de sua
propriedade. Essa possibilidade evidencia a característica da concorrência dos
direitos fundamentais.
Nenhuma pessoa pode renunciar à titularidade de um direito fundamental.
Daí decorre a irrenunciabilidade dos direitos fundamentais. Você deve ter em
mente que a pessoa pode deixar de exercer o direito fundamental, mas jamais
renunciar à sua titularidade.
A inalienabilidade dos direitos fundamentais decorre de sua irrenunciabi-
lidade, ou seja, a titularidade de um direito fundamental não pode ser alienada,
pois é indisponível.
Para finalizar, os direitos fundamentais são imprescritíveis, na medida em que
não sofrem a ação do tempo.
capítulo 2 • 69
Eficácia horizontal dos direitos fundamentais
capítulo 2 • 70
constrangimento ilegal em decorrência de revista íntima em mulheres em fábrica
de lingerie, embora o recurso tenha sido julgado prejudicado.
O Supremo Tribunal Federal através do Recurso Extraordinário 201.819 tam-
bém teve a oportunidade de fazer incidir a teoria da eficácia direta. Na hipótese, a
União Brasileira de Compositores (UBC) interpôs recurso extraordinário visando
à reforma do acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro que
invalidou seu ato de exclusão de associado, ao argumento de que a recorrente não
teria respeitado o princípio constitucional da ampla defesa. Vejamos a ementa do
acórdão do Recurso Extraordinário (RE) 201.819-8 RJ:
capítulo 2 • 71
ATIVIDADES
01. Preencha as palavras-cruzadas abaixo, de acordo com o enunciado sobre a teoria da
eficácia e aplicabilidade das normas constitucionais.
Horizontais: 2.
1. Pontes de Miranda 1.
entendia que essa es- 3.
pécie de norma não 5.
necessita de regula- 4.
mentação posterior.
6.
4. Norma constitu-
cional limitada que
7.
visa instituir órgão ou
8.
pessoa.
9. 10.
6. Nome do autor ita-
liano que aperfeiçoou 11.
as ideias do jurista 12.
Gaetano Azzaritti.
7. Toda norma
constitucional possui. 13.
8. Norma constitucio-
nal limitada que visa
implementar metas ou
programas do Estado.
12. Rui Barbosa di-
zia que tal espécie de
norma equivaleria a sel-
f-executing provisions, de Thomas Cooley.
13. Norma que necessita de complementação pelo legislador ordinário.
Verticais:
2. Norma constitucional que já extinguiu a produção de seus efeitos.
3. Norma apta a produzir todos os seus efeitos, segundo a classificação de Celso Ribeiro Bastos e
Ayres Britto.
5. Autor da classificação da norma constitucional em self-executing provisions e not self-executing provisions.
8. Possui aplicabilidade direta, imediata e integral: Norma constitucional de eficácia "...".
9. Denominação de norma constitucional de eficácia contida dada por Maria Helena Diniz.
10. Número de dispositivos constitucionais da Constituição dos Estados Unidos.
11. Diz-se da norma constitucional que pode ter seus efeitos restringidos pelo legislador ordinário.
12. Sinônimo de norma constitucional supereficaz.
capítulo 2 • 72
02. Leia o trecho da ementa do seguinte acórdão, para posteriormente responder o que
se segue:
“SOCIEDADE CIVIL SEM FINS LUCRATIVOS. UNIÃO BRASILEIRA DE COMPOSITORES.
EXCLUSÃO DE SÓCIO SEM GARANTIA DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO. EFICÁ-
CIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS RELAÇÕES PRIVADAS. RECURSO DESPROVIDO.
I. EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS RELAÇÕES PRIVADAS. As viola-
ções a direitos fundamentais não ocorrem somente no âmbito das relações entre o cidadão
e o Estado, mas igualmente nas relações travadas entre pessoas físicas e jurídicas de direito
privado. Assim, os direitos fundamentais assegurados pela Constituição vinculam diretamen-
te não apenas os poderes públicos, estando direcionados também à proteção dos particula-
res em face dos poderes privados. (...)” Recurso Extraordinário (RE) 201.819-8 RJ. Supremo
Tribunal Federal. Relatora originária Ministra Ellen Gracie. Relator par o Acórdão Ministro
Gilmar Mendes. Julgamento em 11 de outubro de 2005.
Em relação à teoria da eficácia dos direitos fundamentais, cite outros exemplos de ca-
sos semelhantes julgados no Brasil e estabeleça a diferença entre direitos fundamentais e
direitos humanos.
CONEXÃO
Para demonstrar a conquista dos direitos fundamentais, indicamos o mesmo documentá-
rio produzido pelo History Channel denominado “Revolução Francesa”, feito para compreen-
der também o constitucionalismo moderno.
REFLEXÃO
Neste capítulo, você estudou o perfil de evolução da teoria das normas constitucionais,
e percebeu que cada uma delas possui gradação distinta, cujos efeitos podem variar em
profundidade e extensão. Em decorrência dessa gradação, surgiram inúmeras classificações
doutrinárias a respeito das normas constitucionais.
Num primeiro momento, foi examinado o pensamento de Thomas Mclntyre Cooley, através
de sua obra publicada em 1868, que inaugurou o estudo sobre a teoria da eficácia da norma
constitucional, dividindo as normas self-executing provisions e not self-executing provisions.
Em seguida você percebeu que a doutrina brasileira, à sua maneira, sobretudo
a partir de Rui Barbosa, desenvolveu a teoria a respeito da aplicabilidade e eficácia das
normas constitucionais.
capítulo 2 • 73
Além disso, você constatou que a teoria de José Afonso da Silva é a mais adotada atual-
mente no Brasil, e é aquela que classifica as normas constitucionais em: a) de eficácia plena;
b) de eficácia contida; e c) de eficácia limitada, essas subdivididas em normas constitucionais
de eficácia limitada de princípio institutivo e de princípio programático
Na sequência, vimos a relevância do estudo da teoria dos direitos fundamentais e perce-
beu que direitos fundamentais são, em verdade, os direitos humanos constitucionalizados, ou
seja, positivados na constituição do Estado.
Finalmente, você analisou as dimensões e algumas características dos direitos funda-
mentais, como a historicidade, a universalidade, a limitabilidade, a concorrência, a irrenuncia-
bilidade, inalienabilidade e imprescritibilidade. Concluímos o capítulo através do estudo da
relevante teoria da eficácia horizontal dos direitos fundamentais, que permite o estabeleci-
mento dos direitos fundamentais nas relações entre os particulares.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARROSO, Luís Roberto. O Direito Constitucional e a efetividade de suas normas. Rio de
Janeiro: Renovar, 2009.
BASTOS, Celso Ribeiro; BRITTO, Carlos Aires. Interpretação e Aplicabilidade das Normas
Constitucionais. São Paulo: Saraiva, 1982.
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. São Paulo. Ed. Malheiros, 1999.
BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2015.
COOLEY, Thomas Mclntyre. A treatise on the constitutional limitations which rest upon the
Legislative Power of the States of the American Union. New York: Library of Congress, 1972.
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Coimbra:
Livraria Almedina, 1993.
DINIZ, Maria Helena. Norma Constitucional e seus Efeitos. São Paulo: Saraiva, 2001.
DORNELLES, João Ricardo W. O que são direitos humanos? São Paulo: Brasiliense, 1993.
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
MASSON, Nathalia. Manual de Direito Constitucional. Bahia: JusPODIVM, 2016.
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. São
Paulo: Saraiva, 2017.
SILVA E NETO, Manoel Jorge. Curso de Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006.
SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das Normas Constitucionais. São Paulo: Malheiros, 2003.
ZIMMERMANN, Augusto. Curso de Direito Constitucional. Rio de Janeiro. Lumen Juris, 2002.
capítulo 2 • 74
3
Direitos
fundamentais
Direitos fundamentais
Introdução
OBJETIVOS
• Analisar as espécies de direitos fundamentais previstas no ordenamento jurídico brasileiro;
• Examinar os direitos individuais, os direitos sociais e o direito à nacionalidade;
• Identificar os direitos políticos e os partidos políticos como fundamentais para o exercício
da cidadania.
capítulo 3 • 76
Direitos e garantias individuais
Antes de iniciarmos esse tópico de estudo, você precisa saber que os direitos
individuais, os direitos sociais, o direito à nacionalidade, os direitos políticos e os
partidos políticos são espécies de direitos fundamentais.
É por isso que a Constituição Federal de 1988 em seu Título II, denominado
“Dos Direitos e Garantias Fundamentais”, prevê em seus cinco capítulos esses
direitos do artigo 5º ao artigo 17. A figura abaixo sintetiza essa tipologia dos
direitos fundamentais:
DIREITOS INDIVIDUAIS
DIREITOS SOCIAIS
DIREITOS
FUNDAMENTAIS DIREITO Á NACIONALIDADE
DIREITOS POLÍTICOS
PARTIDOS POLÍTICOS
capítulo 3 • 77
a) Direito à vida (artigo 5º, caput)
O Supremo Tribunal Federal já discutiu sobre o direito à vida em alguns pre-
cedentes, como por exemplo, em relação às pesquisas com células-tronco embrio-
nárias, disciplinadas pela Lei de Biossegurança - Lei nº 11.105/2005.
No julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade - ADI 3510, o STF
reconheceu a constitucionalidade do artigo 5º da Lei de Biossegurança e, por isso,
entendeu que as pesquisas com células-tronco embrionárias não violam o direito
à vida.
Em outra ocasião o STF examinou a antecipação do parto do feto anencefá-
lico (aborto do feto anencefálico). Na Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental - ADPF 54, ajuizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores
na Saúde, foram questionados dispositivos do Código Penal brasileiro que não
preveem a possibilidade do aborto de feto anencefálico.
Como você sabe, a anencefalia é a falta total ou parcial do cérebro, que con-
siste em uma malformação do tubo neural, que exclui toda potencialidade de
vida. Em consequência desse fenômeno, um feto anencefálico resiste pouquíssimo
tempo fora do útero.
A ADPF 54, por maioria de votos, foi julgada procedente pelo Supremo
Tribunal Federal e, nessa perspectiva, foi declarada a inconstitucionalidade da in-
terpretação na qual se considere crime o aborto praticado de feto anencefálico.
Nos dois exemplos citados acima, ou seja, das pesquisas com células-tronco e
do aborto do feto anencefálico, percebemos com clareza que até mesmo o direito
à vida pode ser relativizado.
Conforme estudamos no capítulo 2, inexiste hierarquia entre os direitos fun-
damentais. Nenhum direito fundamental é absoluto. Perceba que em relação a esse
mesmo direito (direito à vida), a própria Constituição Federal de 1988, possibilitou
a pena de morte em decorrência de guerra declarada, na forma do artigo 84, XIX.
ATENÇÃO
É importante destacar que a 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal, em 17 de março
de 2017, no julgamento do Habeas Corpus - HC 124.306, considerou que a criminalização
do aborto no primeiro trimestre de gravidez, naquele caso concreto, viola diversos direitos
fundamentais da mulher, tais como sua autonomia, seu direito de reproduzir e sua integridade
física e psíquica. Perceba com atenção que esse julgamento de Habeas Corpus não deixou
de considerar o aborto um crime. É que esse julgamento não teve caráter vinculativo.
capítulo 3 • 78
Para finalizar, é importante ter em mente que nada impede a análise poste-
riormente pelo Poder Judiciário brasileiro de outras questões relativas ao direito à
vida, como por exemplo, a eutanásia e o aborto.
EXEMPLO
1. Política de cotas para a seleção para o ingresso em Universidade Pública - ADPF 186
2. Reserva de vagas para negros em concursos públicos - ADC 41
3. Inserção social promovida pelo PROUNI - ADIs 3.314, 3.379, e 3.330.
4. Proteção da mulher e violência doméstica - ADC 19
Vamos conhecer um pouco mais sobre esses casos que foram analisados pelo
Supremo Tribunal Federal.
O primeiro deles diz respeito ao julgamento da ADFP 186, na qual o STF
considerou constitucional a política de cotas raciais, pelo prazo de 10 anos, para a
seleção dos candidatos às vagas na Universidade de Brasília.
capítulo 3 • 79
Em 2014 foi editada a Lei nº 12.990, que prevê a reserva 20% das vagas para
negros nos concursos públicos, no prazo de 10 anos, para provimento de cargos
efetivos e empregos públicos no âmbito da Administração Pública Federal, das
autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de eco-
nomia mista controladas pela União.
A Ação Declaratória de Constitucionalidade - ADC 41, julgada pelo STF
em 8 de junho de 2017, por unanimidade, reconheceu a constitucionalidade
da Lei nº 12.990/14, considerando válida a reserva de 20% para os negros em
concurso público.
No âmbito do Poder Judiciário, vigora a Resolução nº 203/2015, do Conselho
Nacional de Justiça - CNJ, dispondo que 20% das vagas oferecidas em concurso
público para cargos efetivos e para ingresso na magistratura são reservadas aos
negros. No mesmo sentido foi editada a Resolução nº 170/2017, pelo Conselho
Nacional do Ministério Público.
Outra questão enfrentada pelo STF disse respeito ao Programa Universidade
para todos - PROUNI, instituído pela Medida Provisória nº 213, de 10 de setem-
bro de 2004, e posteriormente convertida na Lei nº 11.096/2005. O primeiro
instrumento legal foi objeto de questionamentos no STF através das ADIs 3.314
e 3.379, apensadas posteriormente à ADI 3.330.
Por maioria, o STF julgou constitucional a Lei que instituiu o PROUNI e
promoveu a igualdade material, por ser a Lei uma medida de inserção social e
cumprimento do artigo 205 da Constituição Federal.
Em outro caso, relacionado à proteção às mulheres, o STF entendeu no julga-
mento da ADC 19, que a Lei 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha,
tem caráter de política de Ação Afirmativa, pois desestimula à prática de violência
doméstica, promovendo a igualdade.
É importante salientar ainda que no julgamento da ADI 4.424, o Supremo
Tribunal Federal deu interpretação conforme alguns dispositivos da Lei Maria da
Penha, para declarar a natureza de ação penal incondicionada em caso de crime de
lesão corporal praticado contra a mulher no ambiente doméstico.
Mas é importante salientar que alguns dos mais flagrantes afastamentos da
“cegueira às diferenças” são medidas de discriminação reversa, que oferecem às
pessoas, de grupos antes desfavorecidos, uma vantagem competitiva. Essa práti-
ca tem sido justificada a partir do fundamento de que a discriminação histórica
cria um padrão no âmbito do qual os desfavorecidos lutam com desvantagem.
(TAYLOR, 2000, p. 252)
capítulo 3 • 80
CURIOSIDADE
A Índia é o berço originário das Ações Afirmativas, sendo o seu patrono idealizador Mah-
atma Gandhi. De fato, diante das graves desigualdades sociais, era preciso atenuar o rigo-
roso sistema de castas, o que foi feito através das ações afirmativas. Assim, certos grupos
puderam ser admitidos no Parlamento, nas instituições de ensino e no serviço público. (BU-
LOS, 2015, p. 557)
De qualquer sorte, é preciso esclarecer que qualquer política pública que vise
promover a igualdade ou a discriminação reversa deve ser absolutamente tempo-
rária e não uma meta para o cultivo eterno do distintivo.
capítulo 3 • 81
Mas a previsão constitucional que reprova o recurso à tortura também respon-
de a clamor mundial para incorporação da repulsa aos sistemas internos de cada
país. (SILVA E NETO, 2006, p. 535)
É importante ressaltar que a Corte Interamericana de Direitos Humanos,
órgão independente que compõe o sistema americano de proteção dos direitos
humanos, ao fazer uso do controle de convencionalidade, condenou o Estado
brasileiro no caso Gomes Lund (Guerrilha do Araguaia) e no caso Vladimir
Herzog. A Corte entendeu que em ambos o Brasil deve ser responsável pela falta
de investigação, de julgamento e de punição dos agentes pela tortura, além de
outras práticas.
LEITURA
Para uma ideia geral sobre memória, esquecimento e controle de convencionalidade leia
os seguintes artigos científicos:
RASGA, Mariana de Freitas; VALIM, Morgana Paiva. O Caso Gomes Lund: um debate
sobre direito e memória histórica no Tribunal Brasileiro e na Corte Interamericana de Direitos
Humanos. In Estudios Sociales.Memoria del 56º Congreso Internacional de Americanistas.
Salamanca: Ediciones Universidad de Salamanca, 2018, p. 1907-1916.
RASGA, Mariana de Freitas; VALIM, Morgana Paiva. Desafios e alcances do Controle de
Convencionaliadade: Herzog vs. Brasil. XXVII Encontro Nacional do CONPEDI Salvador - Di-
reito Internacional II, 2018, p. 233-248.
e) Liberdade de expressão
A Constituição Federal de 1988 assegura a liberdade de manifestação de pen-
samento, mas veda o anonimato (artigo 5º, IV e V). A liberdade de expressão
engloba diversas espécies de manifestações, como a liberdade de pensamento (ar-
tigo 5º, IV e V e artigo 220), de expressão artística (artigo 5º, IX e artigo 215),
de ensino e pesquisa (artigo 206, II), de comunicação e de informação (artigo 5º,
XIV) e liberdade religiosa (artigo 5º, VI).
É importante conhecer, nesse ponto, o caso Ellwanger que foi debatido pelo
STF no julgamento do HC 82.424-2.
capítulo 3 • 82
LEITURA
Através da leitura do parecer técnico do jurista Celso Lafer, incluído no Habeas Corpus
82.424-2, como Amicus Curiae, você perceberá a tensão entre os direitos fundamentais
expostos no caso Siegfried Ellwanger Castan e o direcionamento do parecer no sentido da
prática de racismo.
Assim, indicamos a leitura do capítulo 3 da obra: LAFER, Celso. A Internacionalização dos
Direitos Humanos. Constituição, Racismo e Relações Internacionais. Baueri: Manole, 2005.
Com efeito, Siegfried Ellwanger Castan publicou várias obras com conteúdo
antissemita. Diante disso, em 1996, Ellwanger foi condenado por unanimidade
pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Contudo, Ellwanger
recorreu da decisão alegando que os judeus não constituem uma raça, mas sim um
povo e, por isso, não poderia ser condenado pela prática de racismo.
Finalmente, o Supremo Tribunal Federal, em 2003, enfrentou a questão di-
zendo que apesar de não constituir crime contra a raça, no caso de publicação de
ideias discriminatórias contra judeus, a prática configura crime de racismo e o
condenou de forma definitiva.
Observe, com atenção, que o preâmbulo da Constituição sustenta os valores de
uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos e contempla, entre os objeti-
vos da República, a promoção e o bem de todos sem preconceitos de origem, raça,
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Da mesma maneira, a
Constituição consagra os princípios da igualdade e o da não-discriminação.
Perceba que o evento debatido no Habeas Corpus 82.424-2 ainda é polêmico
porque cuida de dois direitos fundamentais, a liberdade de expressão e a proi-
bição do racismo. A questão é muito complexa e não possui uma resposta sim-
ples. Por isso o caso Ellwanger é considerado um marco na jurisprudência dos
direitos fundamentais.
MULTIMÍDIA
Assista ao programa “Grandes Julgamentos do STF: “Racismo contra judeus”, exibido
pela TV Justiça e disponibilizado no YouTube em 4 partes:
https://www.youtube.com/watch?v=h8oS6Llj_T4 Parte 1
https://www.youtube.com/watch?v=gohsSv4TPA8 Parte 2
capítulo 3 • 83
https://www.youtube.com/watch?v=MJ-SgHwBsdU Parte 3
https://www.youtube.com/watch?v=JtOzvBybNvU Parte 4
EXEMPLO
Um bom exemplo de proteção ao direito à intimidade pode ser encontrado na Lei nº
13.271 editada em 2016, que dispõe sobre a proibição de revista íntima de funcionárias nos
locais de trabalho, asseverando que as empresas privadas, os órgãos e entidades da adminis-
tração pública, direta e indireta, ficam proibidos de adotar qualquer prática de revista íntima
de suas funcionárias e de clientes do sexo feminino, sob pena de multa.
capítulo 3 • 84
CONCEITO
A interceptação telefônica é a captação da conversa feita por um terceiro, sem que os
interlocutores saibam dessa prática. A Constituição exige que a prova obtida por esse meio
seja colhida por intermédio de ordem judicial.
Já na gravação clandestina a captação da conversa é realizada por um dos interlocu-
tores, sem que o outro saiba dessa prática.
capítulo 3 • 85
O dispositivo constitucional possibilita a quebra da comunicação telefônica,
desde que seja determinada por ordem judicial e para fins de investigação criminal
ou instrução processual penal.
Nesse passo, veja o que já foi estudado no item sobre o direito à intimidade, à
privacidade, à honra e ao direito à imagem.
capítulo 3 • 86
É importante não perder de vista que o direito de petição não se confunde
com o direito ao acesso ao Poder Judiciário. Nesse, a parte deve demonstrar lesão
ou ameaça ao direito e, em raras exceções, deve postular em juízo através de um
advogado.
Já a obtenção de certidões é dirigida também ao Estado, mas para a defesa e
esclarecimento de situações de interesse pessoal.
Com efeito, a Lei nº 9.051/95, dispõe sobre a expedição de certidões para
a defesa de direitos e esclarecimentos de situações e prevê nos artigos 1º e 2º,
o seguinte:
capítulo 3 • 87
n) Princípio do juiz natural (art. 5.º, XXXVII e LIII) e Princípio do pro-
motor natural (art. 5.º, LIII)
De acordo com a Constituição Federal, não haverá juízo ou tribunal de exce-
ção, não podendo ninguém ser processado ou sentenciado senão pela autoridade
competente.
O princípio do juiz natural abarca a ideia de que o juízo deve ser estabelecido
e formado previamente aos acontecimentos. Isso resguardará a imparcialidade ne-
cessária para a formação da convicção do juiz.
Desse princípio, nasce o princípio do promotor natural que, da mesma forma,
garante ao indivíduo um acusador independente e preestabelecido. Veja para isso
trecho da ementa do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal do HC 67.759:
capítulo 3 • 88
ATENÇÃO
Nada impede que o Estado brasileiro solicite ao país estrangeiro a extradição de bra-
sileiro nato. Perceba, com atenção, que nessa hipótese estaremos diante da denominada
extradição ativa, ou seja, aquela que ocorre quando um Estado solicitar a outro Estado a
medida de cooperação jurídica internacional. Em conclusão, o artigo 5, LI, da Constituição
Federal não trata dessa espécie de extradição. Como exemplo desse tipo podemos citar os
casos de Salvatore Alberto Cacciola e Henrique Pizzolato, dois brasileiros natos que foram
extraditados por Estados estrangeiros a pedido do Brasil.
capítulo 3 • 89
havia sido incorporada implicitamente na primeira constituição republicana, em
1891, por forte influência da IX Emenda da Constituição estadunidense.
O artigo 5º, § 2º, consagra uma concepção material de direitos fundamentais e, nesse
aspecto, existe dificuldade de determinar quais direitos, consagrados ou não no texto
constitucional, podem ser considerados fundamentais, já que esse sistema possibilita
uma permanente aquisição de novos direitos.
capítulo 3 • 90
Os tratados internacionais de direitos humanos
Extrai-se o conceito de tratado genérico por exclusão, isto é, todo acordo internacional
que não cuidar da proteção do ser humano. Ao contrário, se o tratado tiver como eixo
a proteção do homem, será considerado um tratado internacional de direitos humanos.
capítulo 3 • 91
TIDH
Incorporado depois de 2004, com
a formalidade do art. 5°, §3°, CF
TIDH
SUPRALEGALIDADE Incorporado antes de 2004, ou
incorporado depois de 2004, sem
a formalidade do art. 5°, §3°, CF
TRATADO GENÉRICO
=
LEI ORDINÁRIA
capítulo 3 • 92
fim de julgar crimes de alta gravidade praticados na antiga Iugoslávia, no período
da Guerra dos Balcãs, e em Ruanda, em decorrência do genocídio perpetrado no
ano de 1994.
Diante das fortes críticas a esses tribunais especiais e do alcance da Carta da
Nações Unidas em relação à legitimidade do Conselho de Segurança para criar
tribunais internacionais, a sociedade internacional convencionou a elaboração
do Estatuto de Roma, em 1998, instrumento que criou formalmente o Tribunal
Penal Internacional - TPI.
No ano 2000 o Brasil aderiu ao Estatuto de Roma e com o advento da
Emenda Constitucional nº 45, acrescentou o § 4º ao art. 5º da Constituição
da República e confirmou definitivamente sua sujeição à jurisdição do Tribunal
Penal Internacional.
Em síntese, o Tribunal Penal Internacional constitui uma corte criminal per-
manente, com personalidade jurídica internacional própria, de jurisdição global,
com competência para julgar indivíduos acusados de terem cometido crimes tipi-
ficados em seu Estatuto.
Com efeito, os crimes sujeitos a julgamento pelo do Tribunal Penal
Internacional são os: a) de genocídio; b) de ameaça; c) de guerra e, d) chamados
crimes contra a humanidade.
Existem várias penas que podem ser aplicadas pela prática dos crimes, são elas:
a) a pena de prisão, até o limite máximo de 30 anos; b) a pena de prisão perpé-
tua, se o elevado grau de ilicitude do fato e as condições pessoais do condenado o
justificarem.
REFLEXÃO
Existem vários questionamentos a respeito da constitucionalidade do Estatuto de Roma,
como i) às exceções ao princípio da coisa julgada; ii) à desconsideração das imunidades e
prerrogativas previstas pelo direito interno; iii) à imprescritibilidade dos crimes internacionais;
iv) à possibilidade de entrega de nacionais para julgamento perante o Tribunal Penal Interna-
cional; v) à previsão de prisão perpétua. Esse é um assunto que deve ser refletido academi-
camente e que os juristas têm buscado uma resposta.
capítulo 3 • 93
de produtos, bens e haveres provenientes, direta ou indiretamente, do crime, sem
prejuízo dos direitos de terceiros que tenham agido de boa-fé.
Por fim, em relação à estrutura, o Tribunal Penal Internacional possui quatro
diferentes órgãos: a Presidência, as Seções, o Gabinete do Promotor e a Secretaria.
Sua sede é em Haia, nos Países Baixos. Possui dezoito juízes, que serão escolhidos
dentre as pessoas de alto caráter moral, integridade e de reconhecida competência
nas áreas de direito processual, direito internacional, direito penal e direitos hu-
manos. O mandato de cada juiz será de nove anos, não sendo possível a reeleição.
MULTIMÍDIA
Para saber mais sobre os tribunais internacionais aqui mencionados, assista aos
filmes indicados:
PROSECUTOR. Direção: Barry Stevens. Produção: White Pine Picture. Canadá, 2010.
94 min., son., col., 35mm.
JULGAMENTOS DE GUERRA. Direção: Charles Binamé. Produção: Imagem Filmes. Es-
tados Unidos. 2005, 92 min., son., col., 35mm.
O COMBATE DOS JUÍZES. Direção: Yves Billy. Produção: Zaradoc Films. França. 2000.
55 min., son., col., 35mm.
JULGAMENTO EM NUREMBERG. Direção: Stanley Kramer. Produção: Stanley Kramer.
Estados Unidos. 1961. 186 min., son. S/I.
A LISTA DE CARLA. Direção: Marcel Schupbach. Produção: CAB Productions. França,
Suiça. 2006. 100 min., son., col., S/I.
Direitos Sociais
capítulo 3 • 94
alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdên-
cia social, a proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados.
A figura a seguir retrata as espécies de direitos sociais:
Educação
Assistência aos
Saúde
desamparados
Proteção á
maternidade e Alimentação
á infância
DIREITOS
SOCIAIS
Previdência
Trabalho
social
Segurança Moradia
Transporte
A Constituição Federal de 1988 foi bastante generosa no trato dos direitos so-
ciais individuais do trabalhador. Nesse sentido, o artigo 7º, da Carta da República,
prevê direitos relacionados: a) ao contrato de trabalho; b) ao salário; c) à duração do
trabalho; d) à discriminação no trabalho e; e) à segurança e medicina do trabalho.
capítulo 3 • 95
Direitos alusivos ao contrato de trabalho
ATENÇÃO
É importante destacar a existência de várias súmulas vinculantes editadas pelo Supremo
Tribunal Federal relacionadas ao salário mínimo, tais como:
Súmula vinculante 4 - Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo não
pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de
empregado, nem ser substituído por decisão judicial.
Súmula vinculante 6 - Não viola a Constituição o estabelecimento de remuneração
inferior ao salário mínimo para as praças prestadoras de serviço militar inicial.
Súmula vinculante 15 - O cálculo de gratificações e outras vantagens do servidor pú-
blico não incide sobre o abono utilizado para se atingir o salário mínimo.
Súmula vinculante 16 - Os arts. 7º, IV, e 39, § 3º (redação da EC 19/1998), da Cons-
tituição referem-se ao total da remuneração percebida pelo servidor público.
capítulo 3 • 96
Observe, com muita atenção, que o salário mínimo não se confunde com o
piso salarial, também direito do trabalhador. Com efeito, o artigo 7º, estabelece
que o piso salarial será proporcional à extensão e à complexidade do trabalho.
O piso salarial se distingue do salário mínimo porque é destinado a certas
categorias profissionais, ao passo que, o salário mínimo é definido por lei e unifi-
cado para todos os trabalhadores. Por fim, você pode concluir que nenhum piso
salarial fixado no Brasil pode ser inferior ao salário mínimo (SILVA NETO, 2006,
p. 616).
Ainda cabe assinalar que a Lei Complementar nº 103/2000 autoriza, por
aplicação do disposto no parágrafo único do artigo 22 da Constituição Federal,
os Estados e o Distrito Federal a instituir o piso salarial para o trabalhador que
não tenha piso salarial definido em lei federal, convenção ou acordo coletivo
de trabalho.
Além da previsão do salário mínimo e do piso salarial, o artigo 7º, da
Constituição Federal prevê: a) o direito à irredutibilidade do salário; b) o direito
a um salário nunca inferior ao mínimo para os que percebem remuneração variá-
vel; c) direito ao décimo terceiro salário; d) direito à remuneração pelo trabalho
noturno em valor superior ao do diurno; e) proteção do salário na forma da lei,
constituindo crime sua retenção dolosa; f ) direito de participação nos lucros da
empresa e, excepcionalmente, em sua gestão; g) direito ao salário-família, pago em
razão do dependente do trabalhador de baixa renda, nos termos da lei; h) direito
a uma remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em 50% da
normal; i) direito de adicional de remuneração nos casos de atividades penosas,
insalubres ou perigosas.
capítulo 3 • 97
É importante observar que o Supremo Tribunal Federal decidiu em 2016 que: “É consti-
tucional o art. 5º da Lei 11.901/2009 [A jornada do Bombeiro Civil é de 12 (doze) horas
de trabalho por 36 (trinta e seis) horas de descanso, num total de 36 (trinta e seis) horas
semanais]. Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou improcedente
o pedido formulado em ação direta que questionava o referido dispositivo. Segundo o
Tribunal, a norma impugnada não viola o art. 7º, XIII, da CF/1988 (...). A jornada de 12
horas de trabalho por 36 horas de descanso encontra respaldo na faculdade conferida
pelo legislador constituinte para as hipóteses de compensação de horário. Embora não
exista previsão de reserva legal expressa no referido preceito, há a possibilidade de
negociação coletiva. Isso permite inferir que a exceção estabelecida na legislação ques-
tionada garante aos bombeiros civis, em proporção razoável, descanso de 36 horas para
cada 12 horas trabalhadas, bem como jornada semanal de trabalho não superior a 36
horas. Da mesma forma, não haveria ofensa ao art. 196 da CF/1988. A jornada de tra-
balho que ultrapassa a 8ª hora diária pode ser compensada com 36 horas de descanso
e o limite de 36 horas semanais. Ademais, não houve comprovação, com dados técnicos
e periciais consistentes, de que essa jornada causasse danos à saúde do trabalhador, o
que afasta a suposta afronta ao art. 7º, XXII, da CF/1988.” (ADI 4.842, Ministro Relator
Edson Fachin, julgamento em 14-9-2016)
MULTIMÍDIA
A Coordenadoria de Rádio e TV do Tribunal Superior do Trabalho disponibiliza em seu
site oficial (http://www.tst.jus.br) a Rádio Justiça - Brasília - 104,7 FM, com diversas repor-
tagens, informações, programas especiais e spots de rádios sobre o direito do trabalhador.
capítulo 3 • 98
licença-paternidade; b) o direito de proteção do mercado de trabalho da mulher,
mediante incentivos específicos.
Além disso, a Carta da República veda o trabalho noturno, perigoso ou insalu-
bre aos menores de dezoito anos, e de qualquer trabalho aos menores de dezesseis
anos, salvo, neste caso, na condição de aprendiz, a partir dos quatorze anos.
capítulo 3 • 99
A origem da reserva do possível repousa numa decisão proferida pelo Tribunal Constitu-
cional Federal alemão em 1972, quando se discutia a quantidade de vagas para alunos
da faculdade de medicina. Trata-se do caso conhecido como Numerus Clausus (Bverf-
GE n.º 33, S. 333). Naquela ocasião o direito alemão assegurava o acesso universal ao
ensino superior.
No entanto, algumas faculdades de medicina estabeleceram um número limitados de
vagas para o seu ingresso, contrariando a regra do acesso universal. O Tribunal germâ-
nico entendeu que deveria ser mantido o sistema de numerus clausus, já que não havia
estrutura suficiente para atender toda aquela demanda de alunos, caracterizando uma
limitação fática. Mas, o judiciário alemão determinou que essas faculdades, na medida
do possível, aumentassem o número de vagas.
capítulo 3 • 100
Nacionalidade
CONCEITO
Compreende-se por Nacionalidade o vínculo jurídico-político que se estabelece entre o
indivíduo e o Estado e que permite fazer a distinção entre o nacional e o estrangeiro para
determinados fins.
Segundo Pontes de Miranda a "nacionalidade é o vínculo jurídico-político de Direito Pú-
blico interno, que faz da pessoa um dos elementos componentes da dimensão pessoal do
Estado". (MIRANDA, 1935, p. 16)
capítulo 3 • 101
demográfico, ou seja, o número de residentes no território, sejam nacionais
ou estrangeiros.
Por outro lado, a nação é o agrupamento de pessoas nascidas em um território,
ligadas por traços em comum, como o idioma, a cultura, as tradições e os costu-
mes, providas da comunhão de ideias coletivas e aspirações de futuro (MORAES,
2000, p. 3).
A cidadania, por fim, vincula-se ao gozo dos direitos políticos em um Estado.
Assim, cidadão, para efeitos constitucionais, é aquele detentor de direito político.
CURIOSIDADE
Existe uma certa confusão a respeito dos termos “nacionalidade” e “cidadania”. Essa
imprecisão que parece advir do direito norte-americano, uma vez que a Emenda XIV da Cons-
tituição dos Estados Unidos confere “cidadania” aos nascidos ou naturalizados nos Estados
Unidos. Não é à-toa que juristas, como Hans Kelsen, confundiam os dois termos, isto é,
citizenship e nationality, entendendo que se tratam do mesmo instituto. No Brasil, de maneira
geral, é comum referir-se ao termo “dupla cidadania” na hipótese de a pessoa cumular duas
nacionalidades. O termo técnico correto para essa possibilidade seria “dupla nacionalidade”.
capítulo 3 • 102
A dimensão horizontal compreende à relação de coordenação entre pessoas do
mesmo grupo. Esse aspecto é aferido em seu sentido sociológico, o que significa a
presença de identidade de vários fatores, como por exemplo, o idioma comum, o
assento cultural e os costumes.
Nacionalidade Originária
PERGUNTA
Se uma pessoa nascer em um Estado que adote o critério do ius soli (critério territorial)
e seus pais pertencerem a um Estado que acolhe o critério do ius sanguinis (critério sanguí-
neo), qual será sua nacionalidade?
capítulo 3 • 103
Neste caso, haverá um conflito positivo de nacionalidade, diante do que
se convencionou denominar polipatrídia. Isso significa que mais de um Estado
atribui ao indivíduo seu critério de nacionalidade.
Em resposta à questão formulada, essa pessoa possuirá duas nacionalidades:
a) uma atribuída pelo Estado em que nasceu, decorrente do critério do ius soli,
por ele adotado; b) e outra em decorrência da sua filiação, ou seja, possuirá a
nacionalidade de seus pais, em virtude da adoção do critério do ius sanguinis por
outro Estado.
PERGUNTA
Imaginemos a seguinte situação: uma pessoa nasce em um Estado que adota o critério
do ius sanguinis (critério sanguíneo) e seus pais pertencerem a um Estado que acolhe o cri-
tério do ius soli (critério territorial). Haveria atribuição da nacionalidade originária?
MULTIMÍDIA
Para estabelecer uma conexão sobre a apatridia e suas consequências, assista aos fil-
mes indicados abaixo:
O TERMINAL. Direção: Steven Spielberg. Produção: Amblin Entertainment. Estados Uni-
dos, 2004. 128 min., son., col., 35mm.
capítulo 3 • 104
APATRIDE (Stateless). Direção: Narjiss Nejjar. Produção: La Prod. (Maroc), Moon & Deal
Films (France). Marrocos, França, Qatar. 2018. 94 min., son., col. e p/b, 35mm.
IVÁN. Direção: Guto Pasko. Produção: Petrobras. Brasil. 2015. 109 min., son., col.
Você deve observar que o Estado escolherá um desses dois critérios ou ambos,
de acordo com a estratégia constitucional adotada. No Brasil, por exemplo, ado-
tamos os dois critérios de nacionalidade originária, ou seja, o ius sanguinis e o ius
soli, de acordo com o disposto no artigo 12, I, da Constituição Federal.
O artigo 12, I, “a”, da Constituição Federal, adota o critério do ius soli para a
atribuição da nacionalidade originária. O brasileiro nato, em regra geral, é aquele
que nasce no território brasileiro, mesmo de pais estrangeiros, desde que estes não
estejam a serviço de seu País.
O art. 12, I, ‘b’, da Constituição Federal, em total sintonia a alínea anterior,
dispõe que também será brasileiro nato o nascido no estrangeiro, de pai brasileiro
ou de mãe brasileira, desde que qualquer um deles esteja a serviço da República
Federativa do Brasil.
A terceira hipótese de aquisição da nacionalidade originária está disciplinada
no art. 12, I, ‘c’, da CRFB, que sofreu várias modificações ao longo do processo
constitucional brasileiro e atualmente possui a seguinte redação: (são brasileiros
natos) “os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde
que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na
República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a
maioridade, pela nacionalidade brasileira.”
Nacionalidade Derivada
capítulo 3 • 105
O artigo 12, II, da Constituição prevê duas hipóteses de naturalização. A
primeira, contida na alínea “a”, que a doutrina convencionou chamar de natura-
lização ordinária, remete à lei infraconstitucional a previsão de requisitos para a
sua aquisição sendo, portanto, ato discricionário do governo brasileiro conferi-la.
A segunda espécie é denominada de naturalização extraordinária e encontra
respaldo na alínea “b” do dispositivo constitucional. Em relação a essa última, bas-
ta o preenchimento dos requisitos constitucionais para a aquisição da nacionalida-
de brasileira, a saber, a residência no Brasil por mais de quinze anos ininterruptos,
ausência de condenação penal e requerimento da nacionalidade brasileira. Por
isso, o ato do governo brasileiro é considerado vinculado.
A quase nacionalidade
“A norma inscrita no art. 12, § 1°, da Constituição da República - que contempla, em seu
texto, hipótese excepcional de quase-nacionalidade - não opera de modo imediato, seja
quanto ao seu conteúdo eficacial, seja no que se refere a todas as consequências jurídi-
cas que dela derivam, pois, para incidir, além de supor o pronunciamento aquiescente do
Estado brasileiro, fundado em sua própria soberania, depende, ainda, de requerimento
do súdito português interessado, a quem se impõe, para tal efeito, a obrigação de preen-
cher os requisitos estipulados pela Convenção sobre Igualdade de Direitos e Deveres
entre brasileiros e portugueses.” (STF, Extradição 890, Min. Rel. Celso de Mello, DJ de
28/10/2004)
capítulo 3 • 106
As hipóteses de perda da nacionalidade brasileira
capítulo 3 • 107
De qualquer maneira, a própria Constituição Federal prevê duas hipóteses de
exceção à regra de perda da nacionalidade: 1) quando a lei estrangeira reconhecer a
nacionalidade originária. Neste caso ocorrerá a chamada “dupla nacionalidade” e 2)
quando a norma estrangeira impuser ao brasileiro residente no exterior a naturalização
como condição de permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis.
Direitos Políticos
DIREITOS
POLÍTICOS
Direito de Regulamentação
participar das Direito Eleitoral dos Partidos
atividades políticas Políticos
ATENÇÃO
As expressões sufrágio, voto e escrutínio não se confundem. É importante perceber que
o sufrágio é um direito público subjetivo de participar da vida política. Enquanto o voto é o
exercício de escolha. Por fim, o escrutínio e o modo de exercício do direito político.
capítulo 3 • 108
O alistamento eleitoral é condição para o exercício do direito político. Segundo
a Constituição Federal, o alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios para os
maiores de 18 anos e facultativos para os analfabetos, os maiores de 70 anos e os
maiores de 16 e menores de 18 anos. Por outro lado, a Constituição Federal veda o
alistamento os estrangeiros e os conscritos, estes últimos apenas durante o serviço
militar obrigatório.
Plebiscito e referendo
capítulo 3 • 109
O referendo foi realizado em 23 de outubro de 2005 e o seu resultado foi no
sentido de rejeitar a proibição proposta pelo artigo 35 da Lei nº 10.826/03.
É importante ressaltar que a Constituição Federal exige a realização de plebis-
cito para algumas matérias, como por exemplo, a escolha da forma de governo e
sistema de governo, prevista no artigo 2º, do ADCT. Da mesma forma, no artigo
18, § 4º, há exigência da consulta plebiscitária para criação, incorporação, fusão e
desmembramento de Municípios.
Elegibilidade
capítulo 3 • 110
Inelegibilidades
COMENTÁRIO
É importante que você saiba que a inelegibilidade pode ser absoluta, hipótese taxativa-
mente prevista na Constituição, e ocorrerá quando a pessoa é impedida de concorrer para
qualquer cargo eletivo em razão de determinada característica pessoal.
capítulo 3 • 111
O quadro a seguir sintetiza as espécies de inelegibilidades, que serão abordadas
a seguir:
ANALFABETOS
ABSOLUTA
INALISTÁVEIS
INELEGIBILIDADE
POR MOTIVOS
FUNCIONAIS
EM VIRTUDE DE
CASAMENTO,
RELATIVA
PARENTESCO OU
AFINIDADE
MILITARES
POR MOTIVOS
LEGAIS
(...) não se proíbe constitucionalmente que uma mesma pessoa possa exercer três ou
mais mandatos presidenciais, mas se proíbe a sucessividade indeterminada de manda-
tos. Assim, após o exercício de dois mandatos sucessivos, o Chefe do Poder Executivo
não poderá ser candidato ao mesmo cargo, na eleição imediatamente posterior, inci-
dindo sobre ele a inelegibilidade relativa por motivos funcionais para o mesmo cargo.
(MORAES, 2017, p. 196)
capítulo 3 • 112
No entanto, observe com atenção que, quando a intenção do chefe do execu-
tivo for ocupar outro caso, diversa será a solução.
Assim, o artigo 14, § 6º, da Constituição assevera que “para concorrerem a
outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito
Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses
antes do pleito”.
Nesse caso, o chefe do executivo deve renunciar ao mandato, pelo menos seis me-
ses antes da eleição. A denominação dada a essa hipótese é desincompatibilização.
Em relação à inelegibilidade relativa por motivos de casamento, parentes-
co ou afinidade, podemos afirmar que atinge apenas o cônjuge, parente ou afim
do chefe do executivo.
Assim, de acordo com o que dispõe o artigo 14, § 7º, da Constituição Federal:
“São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes
consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da
República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito
ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se
já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição”.
COMENTÁRIO
É importante conhecer o teor da súmula vinculante 18, segundo a qual “A dissolução
da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não afasta a inelegibilidade pre-
vista no § 7º do art. 14 da CF.”
capítulo 3 • 113
Perda e suspensão dos direitos políticos
Partidos Políticos
capítulo 3 • 114
ao possibilitar a expressão de seus membros, a representação política e o exercício
da cidadania.
Para Uadi Lammêgo Bulos (2015, p. 912) “os partidos políticos são associa-
ções de pessoas, unidas por uma ideologia ou interesses comuns, que, organizadas
estavelmente, influenciam a opinião popular e a orientação política do país”.
CURIOSIDADE
O cientista político e sociólogo francês Maurice Duverger asseverava que os verdadeiros
partidos políticos datam de 1850. É que não se pode confundir o sentido que atualmente
possuem com os igualmente denominados “partidos” que tiveram início a partir de qualquer
agrupamento humano, como as facções que dividiam as Repúblicas antigas, os clãs que se
juntavam em torno de um condottiere na Itália renascentista, ou os clubes de deputados das
assembleias revolucionárias (DUVERGER, 1951, p. 19). A existência de partidos políticos
no Brasil ao longo da história é acidentada e marcada por rupturas em certos momentos de
instabilidade política.
CONEXÃO
Para se ter uma ideia do surgimento dos partidos políticos no Brasil, da instituição das pri-
meiras legendas à criação das novas siglas, assista ao Programa Brasil Eleitor do Tribunal
Superior Eleitoral que pode acessado a partir do seguinte link: <http://www.tre-df.jus.br/
videos/brasil-eleitor-estreia-serie-sobre-a-historia-dos-partidos-politicos>.
Tenha atenção apenas com as modificações estabelecidas pela legislação brasileira, es-
pecialmente a Emenda Constitucional 97 de 2017, que alterou a Constituição Federal para
vedar as coligações partidárias nas eleições proporcionais, estabelecer normas sobre acesso
capítulo 3 • 115
dos partidos políticos aos recursos do fundo partidário e ao tempo de propaganda gratuito
no rádio e na televisão.
capítulo 3 • 116
Os partidos políticos possuem direito ao recurso do fundo partidário, bem
como acesso gratuito ao rádio e à televisão, conhecido como “direito de antena”,
na forma da Lei. Essa matéria está disciplina na Lei nº 9.096/95, que sofreu alte-
rações pela Lei 13.165/2015.
Por fim, é importante ressaltar que no Brasil não se admite a candidatura avul-
sa ou autônoma, pois como você já estudou, exige-se a filiação partidária como
condição de elegibilidade.
ATIVIDADES
01. Exercício 1. Preencha as palavras-cruzadas abaixo de acordo com o enunciado:
Horizontais:
1. Espécie de perda da na-
cionalidade de brasileiro 1.
naturalizado que tiver can-
celada a sua naturalização, 2.
por sentença judicial, em vir-
tude de atividade nociva ao 3. 4. 5.
interesse nacional.
2. Espécie de nacionalidade
adquirida após o nascimento
6.
via processo de naturalização.
6. A proibição de extradição
7.
passiva de brasileiro nato,
consiste em qual espécie de 8.
direito fundamental?
7. Situação na qual a pessoa
não possui qualquer nacio-
nalidade. É o caso de conflito 9.
negativo de nacionalidade.
8. O direito ao salário mínimo 10.
é considerado que espécie de
direito fundamental?
9. Quando o STF decidiu a respeito do Programa Universidade para todos - PROUNI, instituído pela Me-
dida Provisória nº 213 de 10 de setembro de 2004 e posteriormente convertida na Lei nº 11.096/2005,
procurou assegurar que tipo de direito?
10. A Constituição veda essa prática e diz que a lei considerará a sua prática crime inafiançável e insus-
cetível de graça ou anistia.
capítulo 3 • 117
Verticais:
1. Direito individual que tem a ver com a relação da pessoa como o meio social, sem haver interesse
público na sua divulgação.
3. Direito social individual pertinente à duração do trabalho.
4. Essa espécie de extradição não está garantida pelo artigo 5º, da Constituição em relação aos brasilei-
ros natos e aos brasileiros naturalizados.
5. Hipótese em que uma pessoa possui mais de uma nacionalidade.
02. Nos termos da Constituição da República Federativa do Brasil são brasileiros naturalizados:
a) a) os que, na forma de lei complementar, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos
originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto.
b) b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade residentes na República Federativa do
Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requei-
ram a nacionalidade brasileira.
c) c) os que, na forma de lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários
de países de língua portuguesa comprovação de idoneidade moral e de inexistência de
condenação penal com trânsito em julgado.
d) d) os portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor
de brasileiros, a quem são atribuídos todos os direitos inerentes a brasileiros, sem limita-
ções, exceto o exercício de cargos de chefia no executivo, no legislativo e no judiciário.
REFLEXÃO
Neste capítulo, você estudou os direitos fundamentais em espécie, consagrados essen-
cialmente no Título II, da Constituição Federal.
Num primeiro momento, foram examinados direitos individuais, previstos no artigo 5º, da
Carta da República. Naquela oportunidade, você examinou a hierarquia dos tratados interna-
cionais de direitos humanos e a submissão do Brasil ao Tribunal Penal Internacional, criado
pelo Estatuto de Roma.
Em seguida você percebeu que além dos direitos individuais, a Constituição de 1988
também se dedica um capítulo aos direitos sociais, que são considerados direitos de segun-
da dimensão e, por isso, demandam prestações positivas do Estado. Assim, se destacam os
direitos à saúde, à educação, à segurança, à moradia, ao transporte e outros. Diante dos pro-
pósitos acadêmicos dessa obra, optou-se por estudar os direitos sociais dos trabalhadores.
Na sequência, você constatou a dificuldade para a efetivação dos direitos sociais, so-
bretudo em virtude da utilização da reserva do possível. Foram ainda examinados o mínimo
existencial e o ativismo judicial.
capítulo 3 • 118
Em relação à nacionalidade você estudou suas espécies, os critérios de atribuição, os
aspectos constitucionais da nacionalidade originária e da nacionalidade derivada, além de
verificar quais são as hipóteses de perda da nacionalidade.
Finalmente, nesse capítulo, você analisou os direitos políticos e os partidos políticos,
ambos instrumentos à serviço da democracia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CALABRESI, Guido; BOBBITT, Philip. Tragic Choice. New York: WW Norton & Company, 1978.
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Livraria Almedina, 1993.
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DUVERGER, Maurice. Os partidos políticos. Rio de Janeiro: Zahar, 1970 [1951].
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por uma estratégia hermenêutica de preservação do Estado Democrático de Direito. In.
CONPEDI (Org). Hermenêutica: XXIII Encontro Nacional do CONPEDI/UFSC (23: 2014:
Florianópolis, SC), p. 416-440.
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internacionais. Baueri: Manole, 2005.
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capítulo 3 • 119
______. Desafios e alcances do Controle de Convencionaliadade: Herzog vs. Brasil. XXVII
Encontro Nacional do CONPEDI Salvador – Direito Internacional II, 2018, p. 233-248.
SILVA E NETO, Manoel Jorge. Curso de Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006.
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TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2017.
TAYLOR, Charles. Argumentos Filosóficos. A política do reconhecimento. São Paulo: Edições
Loyola, 2000.
capítulo 3 • 120
4
Organização do
Estado e Poder
Legislativo
Organização do Estado e Poder Legislativo
Introdução
OBJETIVOS
• Compreender a organização político-administrativa do Estado brasileiro;
• Analisar a estrutura e competência do Poder Legislativo federal brasileiro;
• Identificar os processos legislativos e espécies normativas existentes no ordenamento
jurídico brasileiro.
capítulo 4 • 122
A capacidade política que confere a autonomia aos entes federados deve ser
outorgada pela Constituição através de uma cláusula de intocabilidade. É exata-
mente isso que ocorre com o Estado brasileiro, ou seja, a Constituição Federal
prevê como cláusula pétrea, em seu artigo 60, § 4º, I, a forma federativa de Estado.
O artigo 1º da Constituição brasileira dispõe que “A República Federativa do
Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito (...).”
O artigo 18 da Carta política estabelece que “a organização político-administra-
tiva da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição.”
ATENÇÃO
Você deve ter atenção ao analisar as redações dos artigos 1º e 18 da Constituição Fe-
deral. Perceba que o artigo 1º anuncia que a República Federativa do Brasil é formada pela
união (com inicial minúscula) indissolúvel dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal.
Já o artigo 18, dispõe que a República Federativa do Brasil compreende a União (com inicial
maiúscula), os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.
Note que a República Federativa do Brasil, nome oficial do nosso Estado e pessoa ju-
rídica de direito público internacional, não se confunde com a União, pessoa jurídica que
compõe o estado brasileiro, ao lado dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal.
DISTRITO
UNIÃO ESTADOS MUNICÍPIOS
FEDERAL
capítulo 4 • 123
Por fim, é importante salientar que, segundo Alexandre de Moraes (2017,
p. 220), para ser determinada a forma federativa de Estado, a Constituição deve
possuir regras que estabeleçam:
a) que os cidadãos dos Estados-membros devam possuir a mesma nacionalidade;
b) a existência de um sistema de repartição de competências entre a União, os Esta-
dos-membros, o Distrito Federal e os Municípios;
c) a necessidade de que cada ente possua poder para arrecadar e repartir tributos, a
fim de garantir renda própria;
d) a existência de autonomia a cada ente federativo, que comporte o poder de auto-or-
ganização, autogoverno e autoadministração;
e) a possibilidade de decretação de intervenção federal, como medida excepcional e
taxativamente prevista, a fim de garantir o equilíbrio federativo;
f) a representação dos Estados-membros no Poder Legislativo federal, de forma a
permitir sua ingerência na vontade emanada pelo poder central;
g) a possibilidade de criação de novos Estados-membros ou modificação territorial, a
depender da vontade da população local e;
h) a existência de um órgão de cúpula do Poder Judiciário capaz de interpretar e titu-
larizar a guarda da Constituição.
União Federal
capítulo 4 • 124
República Federativa do Brasil em suas relações internacionais. Note assim que,
o Presidente da República, ora atua como chefe de governo, representando a
União, ora atua como chefe de Estado, agindo em nome da República Federativa
do Brasil.
COMENTÁRIO
Como ente da federação a União é detentora da autonomia. Enquanto a República Fe-
derativa do Brasil, como pessoa jurídica de direito público internacional, possui o atributo da
soberania, elemento essencial à existência de um Estado.
Bens da União
Os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que ba-
nhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a territó-
rio estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais,
também são bens da União.
capítulo 4 • 125
ATENÇÃO
Observe, com muita atenção, que a Constituição Federal dispôs que o mar territorial é
bem da União. Esse compreende uma faixa de 12 milhas marítimas de largura, contadas a
partir da linha de baixa-mar do litoral continental e insular brasileiro.
Repare que no inciso seguinte a Constituição menciona dois outros domínios marítimos,
a plataforma continental e a zona econômica exclusiva. Entretanto, não os inclui como bens
da União, mas sim os recursos naturais que provêm dessas áreas.
EXEMPLO
Como exemplos dessas ações podemos citar a criação da Superintendência do De-
senvolvimento da Amazônia - SUDAM, da Superintendência da Zona Franca de Manaus -
SUFRAMA, e da Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste - SUDECO.
Competência da União
capítulo 4 • 126
A competência exclusiva da União, prevista no artigo 21, da Constituição
Federal, resulta em atividades administrativas, sendo indelegáveis.
Dentro da competência privativa, disciplinada no artigo 22, da Carta, po-
demos perceber que a tarefa a ser desempenhada pela União será a de elaborar
leis, como por exemplo, legislar sobre direito civil, comercial, penal, processual,
eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho.
No entanto, observe, com muita atenção que, a competência prevista no arti-
go 22 pode ser delegada pela União através de Lei complementar aos Estados e ao
Distrito Federal, mas não aos Municípios.
A competência comum está prevista no artigo 23 da Constituição Federal e
possibilita a atuação de mais um ente na realização de uma tarefa administrativa.
Assim, a competência é cumulativa, na medida em que a atuação de um ente não
exclui a atuação de outro.
Por fim, a competência concorrente, própria para a elaboração de leis, é não
cumulativa, uma vez que a atuação de um ente excluirá a do outro. Nessa tarefa a
União estabelecerá normas gerais sobre as matérias relacionadas no artigo 24, da
Constituição Federal.
Estados-membros
De acordo com o que dispõe o artigo 18, § 3º, da Constituição Federal há três
maneiras de formação dos Estados, a incorporação (fusão), a subdivisão (cisão)
e o desmembramento:
capítulo 4 • 127
Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para
se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante
aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso
Nacional, por lei complementar.
FUSÃO
ESTADO OU
ESTADO ESTADO
TERRITÓRIO
“A” “B”
“C”
Já a cisão será utilizada com o propósito de dividir o Estado para formar dois
ou mais Estados ou Territórios Federais. O Estado primitivo que sofre a cisão dei-
xa de existir. A figura abaixo sintetiza essa ideia:
CISÃO
ESTADO ESTADO
ESTADO “B” “C”
PRIMITIVO
“A” ESTADO ESTADO
“D” “E”
capítulo 4 • 128
No desmembramento há a possibilidade de duas ocorrências: a) desmem-
bramento anexação - quando um ou mais Estados cedem parte de seu território
geográfico para formar um novo Estado ou Território, que antes não existia ou
b) desmembramento formação - quando um ou mais Estados cedem parte de
seu território geográfico para um Estado que já existia.
Em linhas gerais, as figuras a seguir mostram as duas hipóteses de desmem-
bramento de Estados:
ESTADO
“B”
ESTADO ESTADO
“A” “A”
capítulo 4 • 129
No desmembramento formação, o Estado originário também não deixa de
existir, mas da mesma maneira que a hipótese anterior, perde parte do seu territó-
rio e população. No entanto, a parte desmembrada passa a formar novo Estado.
Portanto, há formação de um Estado a partir do desmembramento de outro.
Municípios
capítulo 4 • 130
A autonomia dos Municípios no Brasil demonstra uma peculiaridade em relação
as demais federações existentes.
José Afonso da Silva chega a colocar em dúvida a inserção dos Municípios
como entes da Federação brasileira, da seguinte forma:
capítulo 4 • 131
De toda a sorte, a Carta de 1988 considera os Municípios partes integrantes
da federação brasileira e eleva a autonomia municipal à categoria de princípio
constitucional sensível, conforme dispõe o artigo 34, VII, “c”.
capítulo 4 • 132
Distrito Federal
COMENTÁRIO
O artigo 18, §1º, da Constituição Federal dispõe que a Capital Federal é Brasília, situada
no Planalto Central do Brasil. De acordo com o disposto no artigo 6º, da Lei Orgânica do Dis-
trito Federal, além de Brasília ser Capital da República Federativa do Brasil, também é sede
do governo do Distrito Federal.
(...) Lei Orgânica do Distrito Federal. (...) A Lei Orgânica tem força e autoridade equivalen-
tes a um verdadeiro estatuto constitucional, podendo ser equiparada às Constituições
promulgadas pelos Estados-Membros, como assentado no julgamento que deferiu a
medida cautelar nesta ação direta. [ADI 980, rel. min. Menezes Direito, j. 6-3-2008, P,
DJE de 1-8-2008.]
capítulo 4 • 133
Estados e aos Municípios, conforme dispõem os artigos 32, §1º, 147 e 155, da
Constituição Federal.
Observe, com atenção, que a Constituição Federal, no caput do artigo 32,
veda expressamente a divisão do Distrito Federal em Municípios.
Perceba também que, a Casa legislativa do Distrito Federal é denominada
Câmara Legislativa, composta por Deputados Distritais, eleitos em número que
corresponda ao triplo de sua representação na Câmara dos Deputados.
Como o Distrito Federal é um ente híbrido o nome da Casa do legislativo é
Câmara Legislativa, ou seja, a junção de partes das denominações das Casas legis-
lativas dos Estados e dos Municípios. Veja a figura abaixo que sintetiza essa ideia:
Territórios
O artigo 12, do ADCT, dispôs que no prazo de noventa dias da promulgação da Consti-
tuição, deveria ter sido criada uma Comissão de Estudos Territoriais, com a finalidade de
apresentar estudos sobre o território nacional e anteprojetos relativos a novas unidades
territoriais, notadamente na Amazônia Legal e em áreas pendentes de solução. Entre-
tanto, jamais foi empregada essa tarefa, o que tornou esse dispositivo prejudicado.
capítulo 4 • 134
Embora inexistam Territórios Federais nos dias de hoje, a União pode, se
entender necessário, criar por lei novos Territórios. De qualquer maneira, se for
criado um novo Território, será possível sua divisão em Municípios, aos quais se
aplicarão as regras relativas a esses entes, conforme dispõe o artigo 33, § 1º, da
Constituição Federal.
Se forem concebidos, terão natureza de pessoas jurídicas de direito público
interno, mas não possuirão autonomia, atributo exclusivo de um ente federado.
Em síntese, o Território não pode ser considerado ente da federação, por não
possuir autonomia, tal como ocorre com a União, os Estados-membros, o Distrito
Federal e os Municípios. Por ser desprovido de qualquer autonomia, suas contas
devem ser submetidas à fiscalização do Congresso Nacional, com parecer prévio
do Tribunal de Contas da União.
Além disso, a Constituição Federal prevê que lei específica disporá sobre as
eleições para a Câmara Territorial e sua competência deliberativa.
Você deve perceber, por tudo isso, que o Território não possui autonomia
política, sendo apenas uma descentralização administrativo-territorial da União,
que terá natureza de uma verdadeira autarquia integrante da União. É por isso
que o artigo 18, § 2º, da Constituição dispõe que os Territórios Federais integram
a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de
origem serão reguladas em lei complementar.
capítulo 4 • 135
processo legislativo para a elaboração das espécies normativas existentes no orde-
namento jurídico brasileiro, essencialmente realizadas pelo Poder Legislativo.
Se o Poder Legislativo tem como função precípua a tarefa de legislar, mostra-se
coerente conhecer e estudar logo em seguida como se dá o processo para a elabora-
ção das leis. Por isso, em virtude de uma preferência didática, deixaremos o estudo
relativo ao Poder Judiciário e ao Poder Executivo, para ser realizado no capítulo 5.
capítulo 4 • 136
Poder Legislativo
Como vimos acima, o Poder Legislativo tem função típica de elaborar leis
e fiscalizar os demais poderes. Entretanto, como papel atípico, também julga e
administra.
Administrará, por exemplo, quando der provimento a cargos, elaborar con-
cursos públicos, organizar a estrutura interna de seus órgãos. Julgará, por sua vez,
atos de improbidade que configuram crimes de responsabilidade do Presidente da
República, no processo de impedimento, como nos casos de impeachment dos Ex-
presidentes Fernando Collor de Mello e Dilma Rousseff.
Ao adotar o bicameralismo, temos a certeza de que uma lei para ser aprovada deve pas-
sar pelas duas Casas legislativas. É importante ressaltar que, nesse ponto, inexiste hie-
rarquia entre a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, sendo certo que, por outro
lado, a Constituição atribuiu certa primazia à Câmara dos Deputados, no que diz respeito
à iniciação do processo legislativo, conforme prescrevem os artigos 61, § 2º, e 64, caput.
capítulo 4 • 137
A figura abaixo demonstra a atual representatividade por Deputados Federais
de cada Estado e do Distrito Federal na Câmara dos Deputados:
O Senado Federal, por sua vez, é composto por 81 Senadores, eleitos através
do sistema majoritário. Ao contrário do que ocorre na Câmara dos Deputados,
no Senado Federal cada Estado e o Distrito Federal são representados por
três Senadores.
Cada Senador é eleito com dois suplentes, para o mandato de 8 anos.
Entretanto, haverá renovação no Senado a cada 4 anos, na proporção alternada
de 1/3 e 2/3. Assim sendo, numa eleição o povo de um Estado elegerá 1 senador
e na eleição seguinte 2 senadores, alternando assim na proporção de 1/3 e 2/3, de
quatro em quatro anos.
capítulo 4 • 138
Além disso, cabe ao Congresso Nacional dispor sobre: VIII - concessão de anistia; IX
- organização administrativa, judiciária, do Ministério Público e da Defensoria Pública
da União e dos Territórios e organização judiciária e do Ministério Público do Distrito
Federal; X - criação, transformação e extinção de cargos, empregos e funções públicas,
observado o que estabelece o art. 84, VI, b; XI - criação e extinção de Ministérios e
órgãos da administração pública; XII - telecomunicações e radiodifusão; XIII - matéria
financeira, cambial e monetária, instituições financeiras e suas operações; XIV - moeda,
seus limites de emissão, e montante da dívida mobiliária federal; XV - fixação do subsídio
dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, observado o que dispõem os arts. 39, § 4º;
150, II; 153, III; e 153, § 2º, I.
capítulo 4 • 139
Por fim, as matérias de competência privativa do Senado Federal estão pre-
vistas no artigo 52, da Constituição: I - processar e julgar o Presidente e o Vice-
Presidente da República nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros
de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes
da mesma natureza conexos com aqueles; II - processar e julgar os Ministros do
Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça e do
Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador-Geral da República e
o Advogado-Geral da União nos crimes de responsabilidade; III - aprovar pre-
viamente, por voto secreto, após arguição pública, a escolha de: a) Magistrados,
nos casos estabelecidos na Constituição; b) Ministros do Tribunal de Contas da
União indicados pelo Presidente da República; c) Governador de Território; d)
Presidente e diretores do banco central; e) Procurador-Geral da República; f ) titu-
lares de outros cargos que a lei determinar.
capítulo 4 • 140
Comissão Parlamentar de Inquérito
CURIOSIDADE
A Comissão Parlamentar de Inquérito não é novidade trazida pela Constituição de 1988.
A primeira Constituição brasileira que tratou do tema foi a de 1934 que em seu artigo 36
dispunha que: “A Câmara dos Deputados criará comissões de inquérito sobre fatos determi-
nados, sempre que o requerer a terça parte, pelo menos, dos seus membros".
Existem três requisitos para a criação de uma CPI, todos previstos no artigo
58, § 3º, da Constituição Federal, sendo eles: a) a subscrição por requerimento
de, no mínimo, 1/3 dos Deputados Federais ou dos Senadores, se separados ou,
1/3 dos membros do Congresso Nacional, se atuarem conjuntamente. Nessa úl-
tima hipótese, estamos diante de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito
- CPMI; b) a existência de um fato determinado e c) o prazo certo para a apuração
do fato determinado.
Em relação ao requisito do “fato determinado”, o regimento Interno da
Câmara dos Deputados considera que está presente esse requisito quando se tratar
de acontecimento de relevante interesse para a vida pública e a ordem constitu-
cional, legal, econômica e social do Brasil. Não se considera fato determinado
questões de natureza privada, sem relevância pública.
Portanto, a CPI somente pode ser instaurada para apurar fato preciso, o que
não significa dizer que não possa, no decorrer da investigação, averiguar fatos não
previstos no requerimento inicial.
capítulo 4 • 141
Quanto ao “prazo certo”, o Supremo Tribunal Federal definiu que o período
de funcionamento de uma CPI deve ser aquele estipulado no requerimento de
sua abertura, podendo ser prorrogado até o limite máximo do final da legislatura.
Uma das questões interessantes sobre a CPI é o estabelecimento dos poderes
e limites dos seus membros.
Em primeiro lugar, a Constituição estabelece que as Comissões Parlamentares
de Inquérito terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais.
Entretanto, a expressão é bastante criticada, pois a função do juiz não é investigar,
tarefa essa atribuída a outros órgãos. Dessa maneira, não cabe a interpretação lite-
ral do artigo 58, § 3º, da Constituição Federal.
O fato é que, a Comissão Parlamentar de Inquérito possuirá poderes instru-
tórios cotidianos dos juízes que não estejam incluídos na chamada reserva de
jurisdição, ou seja, atos que somente podem ser tomados por magistrados.
capítulo 4 • 142
Por outro lado, a Comissão Parlamentar de Inquérito pode determinar, desde que fun-
damentada a decisão:
a) a quebra de sigilo bancário, fiscal e de dados telefônicos. A quebra de dados tele-
fônicos importa exigir das companhias telefônicas que revelem a origem e o destino da
chamada, a duração, a hora e a data da ligação telefônica;
b) a determinação de certas diligências, como análises contábeis, auditorias, exames
grafotécnicos e busca e apreensões que não sejam domiciliares;
c) oitivas de testemunhas e indiciados, bem como realizar acareações, se necessário
para desvendar contradições.
Imunidades parlamentares
capítulo 4 • 143
As imunidades são divididas em dois grupos, a saber: a) imunidade material
ou real ou substantiva, ou freedom of speech (liberdade de palavra), também co-
nhecida como inviolabilidade e b) imunidade formal ou processual ou adjetiva. O
quadro abaixo sintetiza a existência das duas espécies de imunidades que, a partir
desse momento, serão estudadas:
MATERIAL OU
SUBSTANTIVA OU
INVIOLABILIDADE
IMUNIDADE
PARLAMENTAR PROCESSO
FORMAL OU
PROCESSUAL OU
ADJETIVA
PRISÃO
Imunidade material
ATENÇÃO
Você deve ter percebido que a proteção através da inviolabilidade se dá em razão do
exercício do mandato legislativo. Por isso, fique atento para notar que, não importa o local em
que é proferida a manifestação do congressista. O que interessa é saber se seu pronuncia-
mento guarda conexão com o ofício parlamentar.
capítulo 4 • 144
A prerrogativa constitucional da inviolabilidade defende o Deputado ou
Senador em suas manifestações, em razão do cargo que exerce, ainda que fora do
recinto parlamentar. Caso contrário, não estará protegido pela imunidade real.
EXEMPLO
Todos nós lembramos que em 2014, o então Deputado Federal Jair Bolsonaro, manifes-
tou no Congresso Nacional e, posteriormente, em entrevista concedida ao jornal Zero Hora,
que “não estupraria a Deputada Federal Maria do Rosário porque ela não merece”. Em 2016,
por maioria de votos, no Inquérito nº 3.932 DF, o STF recebeu a denúncia contra o então
parlamentar, pois entendeu a ausente conexão entre o desempenho da função legislativa e
as palavras ofensivas.
Observe também com atenção que, a imunidade material não protege o par-
lamentar enquanto ostentar a condição de candidato. Assim sendo, a inviolabili-
dade não pode servir como uma vantagem do congressista candidato sobre seus
concorrentes políticos a mandatos eletivos.
Para finalizar, embora o artigo 53, caput, da Constituição Federal, relacione
apenas à inviolabilidade civil e criminal, a doutrina diverge sobre o âmbito po-
lítico-administrativo, ou seja, a impossibilidade ou não de o congressista sofrer
sanções disciplinares ou destituição do mandato.
Imunidade formal
capítulo 4 • 145
Imunidade formal relativa ao processo criminal contra o Parlamentar
capítulo 4 • 146
Foro por prerrogativa de função
COMENTÁRIO
Desde 2012, por ocasião do julgamento da Ação Penal 470, conhecida como “Mensalão”, o
Supremo tornou-se o grande protagonista na busca pela resposta penal mais ajustada ao com-
bate à corrupção. Sua atuação chama a atenção da imprensa e é acompanhada com interesse
por toda a população brasileira. Ganha também destaque o fato de que o televisionamento das
sessões de julgamento ao vivo facilita e proporciona um clima de tensão peculiar no cenário polí-
tico brasileiro, tornando os Ministros da Corte verdadeiros heróis nacionais ou popstars judiciais.
A partir da diplomação, o STF passa a ser o juiz natural, ainda que provi-
soriamente, enquanto durar o mandato, dos parlamentares envolvidos em co-
metimento de crimes, não importando se o crime foi praticado antes ou depois
da diplomação.
PERGUNTA
Mas o que acontecem com o inquérito e a ação penal em trâmite no Supremo se o
parlamentar perder o cargo ou cessar o seu mandato? E quanto à renúncia, impactará no
andamento do processo?
Até agosto de 1999, a súmula 394 do STF advertia que a ação penal deve-
ria permanecer no próprio tribunal, ainda que cessado o exercício parlamentar.
Todavia, na questão de ordem levantada no Inquérito 687-SP, a referida súmula
capítulo 4 • 147
foi cancelada e, por consequência, os processos em andamento no Supremo deve-
riam ser baixados à instância ordinária, órgão que, a partir daí, deveria ser consi-
derado o juiz natural para a causa.
Não é novidade que em 2002 foi editada a Lei 10.628, que restaurou o teor da sú-
mula 394 do STF. Mas o Supremo, chamado a se manifestar nas Ações Diretas de
Inconstitucionalidade 2.797 e 2.897, que questionavam a malfadada lei ao reintroduzir
a perpetuatio jurisdictionis, declarou a sua inconstitucionalidade e manteve a coerência
dos seus julgados.
Ocorre que essa regra simples sofreu inúmeras variações, principalmente quan-
do se trata de formalização de renúncia pelo parlamentar antes do julgamento da
ação penal em curso. Por ocasião do julgamento da Ação Penal 333, firmou-se o
entendimento de que a renúncia do réu ao mandato produz efeitos no plano pro-
cessual, o que implica a declinação da competência do Supremo Tribunal Federal
para o juízo criminal de primeiro grau.
capítulo 4 • 148
As circunstâncias muito peculiares do caso, no qual o processo se arrastava por
longos catorze anos e a renúncia se formalizou menos de 24 horas do julgamento,
levou o Supremo a reconhecer a tentativa do réu de manipular as instâncias em seu
próprio benefício, já que a prescrição do crime mais grave se daria em poucos meses.
A renúncia, nesse caso, mostrou-se como instrumento destinado a obter fim
pouco ético e lícito, um estratagema inteligente, mas ineficaz, uma vez que escan-
carou verdadeira fraude processual e abuso de direito. Por isso, o Tribunal, por
maioria, resolveu a questão de ordem no sentido de reconhecer a subsistência da
competência do Supremo Tribunal para o deslinde da causa.
Entretanto, não se delineou a adoção de qualquer critério como marco para a
renúncia surtir efeitos no plano processual, apesar de aventadas duas soluções, o
do fim da instrução criminal ou da colocação em pauta do processo de julgamen-
to. Nesse momento, o Supremo marcou encontro com essa questão.
capítulo 4 • 149
das sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta
autorizada; IV - que perder ou tiver suspensos os direitos políticos; V - quando o
decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos nesta Constituição; VI - que sofrer
condenação criminal em sentença transitada em julgado.
Processo Legislativo
Existem três tipos de processos legislativos que devem ser seguidos para a ela-
boração das espécies normativas previstas no artigo 59, da Constituição Federal,
os processos legislativos ordinário, sumário e especial.
O processo legislativo ordinário é aquele destinado à criação das leis ordiná-
rias, e é caracterizado por sua maior duração.
Por sua vez, o processo legislativo sumário é aquele utilizado pelo Presidente da
República naqueles assuntos que exigem menor duração de tramitação legislativa.
Finalmente, o processo legislativo especial é o fixado para a elaboração de
emendas constitucionais, leis complementares, leis delegadas, medidas provisó-
rias, decretos legislativos, resoluções e leis financeiras.
O quadro abaixo sintetiza a existência dos três processos legislativos e as espé-
cies normativas que são elaboradas a partir de sua observância:
capítulo 4 • 150
Destinado á elaboração
ORDINÁRIO das Leis Ordinárias
Destinado ás Emendas
ESPECIAL
Constitucionais, leis
complementares, leis
delegadas, medidas
provisórias, decretos
legislativos, resoluções
e leis financeiras
capítulo 4 • 151
INTRODUTÓRIA INICIATIVA
DISCUSSÃO
DELIBERAÇÃO
PARLAMENTAR VOTAÇÃO
FASES DO
PROCESSO CONSTITUITIVA
ORDINÁRIO DELIBERAÇÃO SANÇÃO
EXECUTIVA
VETO
PROMULGAÇÃO
COMPLEMENTAR
PUBLICAÇÃO
EXEMPLO
Como exemplo, a Constituição Federal dispõe que compete privativamente ao Presiden-
te da República, de acordo com o artigo 61, §1º, as leis que: I - fixem ou modifiquem os efe-
tivos das Forças Armadas; II - disponham sobre: a) criação de cargos, funções ou empregos
públicos na administração direta e autárquica ou aumento de sua remuneração; b) organiza-
ção administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária, serviços públicos e pessoal
da administração dos Territórios; c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime
jurídico, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria; d) organização do Ministério
capítulo 4 • 152
Público e da Defensoria Pública da União, bem como normas gerais para a organização do
Ministério Público e da Defensoria Pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios;
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública, observado o disposto
no art. 84, VI; f) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, provimento de cargos,
promoções, estabilidade, remuneração, reforma e transferência para a reserva.
CURIOSIDADE
Diante dos rigorosos requisitos para a deflagração de projeto de lei por iniciativa popular,
previstos no artigo 61, § 2º, da Constituição Federal, existem poucas leis que resultaram des-
se processo. A Lei nº 11.124/2005, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Habitação de
Interesse Social e cria o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social, conhecida como
“fundo nacional para a moradia popular” e a Lei Complementar nº 135/2010, conhecida
como "Lei da Ficha Limpa", são fruto de iniciativa popular.
capítulo 4 • 153
deve ser apreciado por ambas e uma funcionará como Casa iniciadora e a outra
como Casa revisora.
Convém assinalar que, como regra geral, a Câmara dos Deputados será a Casa
iniciadora do processo legislativo, conforme se depreende da leitura do artigo 64,
da Constituição Federal. O Senado, por sua vez, como regra, será a Casa revisora.
Observe, com atenção que, o Senado será a Casa iniciadora tão somente quan-
do o projeto de lei for apresentado por Senador ou quaisquer de suas comissões.
Nesse caso, a Câmara dos Deputados fará o papel de Casa revisora.
Após a deflagração do processo legislativo, o projeto de lei será submetido à
deliberação, que nada mais significa do que a discussão do projeto de lei.
Devemos lembrar que, em razão do disposto no artigo 58, § 2º, I, da
Constituição Federal, o projeto de lei, dependendo do assunto versado, poderá ser
discutido e votado pela comissão temática.
Se não for o caso de deliberação pela comissão temática, o projeto será votado
pelo Plenário da Casa legislativa, devendo ser observado o quórum de maioria
absoluta para a instalação da sessão.
Em se tratando do Senado, o quórum para instalação deverá alcançar o nú-
mero mínimo de 41 Senadores. Se tratar da Câmara, o quórum para instalação da
sessão será de 257 Deputados Federais.
Uma vez alcançado o quórum para instalação da sessão, exige-se para a apro-
vação de uma lei ordinária a maioria simples, conforme dispõe o artigo 47, da
Constituição Federal.
O projeto de lei poderá ser rejeitado ou aprovado, como ou sem emenda. Sendo apro-
vado, o projeto será encaminhado à casa revisora para a deliberação e votação. Por
outro lado, sendo rejeitado, o projeto será encaminhado ao arquivo e não poderá ser
apresentado na mesma sessão legislativa, salvo mediante proposta da maioria absoluta
dos membros de qualquer das Casas do Congresso Nacional (artigo 67, da Constituição
Federal).
Se o projeto de lei for aprovado sem emendas, será encaminhado para a deli-
beração executiva para sanção ou veto do Presidente da República.
Se o projeto for aprovado como alterações, devido às emendas formuladas
pela Casa revisora, deverá retornar à Casa iniciadora para a deliberação exclusiva
das emendas. A figura abaixo procura sintetizar e esquematizar as possibilidades
procedimentais do projeto de lei:
capítulo 4 • 154
APROVAÇÃO Se não houver emendas, o projeto será
DO PROJETO encaminhado ao Presidente da República
DE LEI para a sanção ou veto.
Como você já sabe, se o projeto for aprovado nas duas Casas do Congresso
Nacional, será encaminhado para a deliberação executiva, ou seja, para a aprecia-
ção do Presidente da República.
O prazo máximo para a análise do projeto de lei pelo chefe do Executivo, atra-
vés da sanção ou do veto, será de 15 dias úteis, contados da data do recebimento
da proposição legislativa.
A sanção corresponde à aquiescência ou concordância do Presidente da
República com o texto do projeto de lei e poderá ser de dois tipos: a) sanção ex-
pressa, quando o Presidente da República, durante o prazo dos quinze dias úteis,
concordar deliberadamente com o projeto de lei; e de acordo com o artigo 66, §
3º, da Constituição, b) sanção tácita, quando o Presidente da República deixar de
se manifestar favoravelmente ou contra o projeto de lei, no prazo de 15 dias úteis.
Assim, o silêncio do Presidente da República importará sanção tácita.
A sanção ainda poderá ser total, quando o chefe do Executivo concordar com
a totalidade do projeto de lei ou parcial, no caso da aquiescência de parte do pro-
jeto e veto a outro segmento do projeto de lei.
Por outro lado, se o Presidente da República discordar do projeto de lei, pode-
rá vetá-lo total ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis.
capítulo 4 • 155
Da mesma forma que na sanção, o veto poderá ser total ou parcial. O veto
total abrangerá a totalidade do projeto. Enquanto o veto parcial, demonstrará
a discordância presidencial sobre parte do projeto de lei. De qualquer maneira,
conforme o disposto no artigo 66, § 2º, da Constituição Federal, o veto parcial
somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea.
O veto do Presidente da República não importa em arquivamento do pro-
jeto de lei, pois o Congresso Nacional o apreciará em sessão conjunta, dentro
de 30 dias a contar do seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da
maioria absoluta dos Deputados e Senadores em sessão aberta (artigo 66, § 4º, da
Constituição Federal).
Se o veto não for apreciado no prazo de 30 dias, a pauta da sessão conjunta
ficará trancada, até sua análise definitiva.
Há dois caminhos possíveis na sessão conjunta: a) se o veto for rejeitado, ou seja, derru-
bado, o projeto seguirá para a promulgação; b) se não for alcançada a maioria absoluta,
o projeto será encaminhado ao arquivo.
capítulo 4 • 156
Processo legislativo sumário
O Presidente da
Projeto de Lei de República solicita
iniciativa do urgência
Presidente
da República
PRAZO DE 45 DIAS
Casa iniciadora PARA DELIBERAR
CÂMARA DOS E VOTAR O PROJETO
DEPUTADOS DE LEI
PRAZO DE 45 DIAS
Casa revisora PARA DELIBERAR
SENADO E VOTAR O PROJETO
FEDERAL DE LEI
Observe com atenção que, a Casa revisora, ou seja, forçosamente o Senado Federal,
poderá apresentar emendas, que nesse caso, serão apreciadas pela Câmara dos Depu-
tados no prazo máximo de dez dias (artigo 64, § 3º, da Constituição Federal).
Dessa maneira, o prazo máximo para ultimar o processo sumário é de 100 dias,
ou seja, 45 dias em cada casa para fins de deliberação e votação, mais 10 dias, para
a apreciação da Câmara dos Deputados de emendas propostas pelo Senado Federal.
Com isso, o processo legislativo sumário difere sensivelmente do processo ordinário.
capítulo 4 • 157
Finalmente, durante o recesso parlamentar, os prazos previstos para o processo
sumário não correm (artigo 64, § 4º, da Constituição Federal).
Emenda à Constituição
ATENÇÃO
Observe com muita atenção que, no processo especial de elaboração da Emenda Consti-
tucional, não há deliberação executiva. Ou seja, o Presidente da República não sanciona nem
tampouco veta a Proposta de Emenda Constitucional. Dessa maneira, uma vez aprovada nas
capítulo 4 • 158
duas Casas do Congresso Nacional, a Proposta de Emenda à Constituição segue para fase
de promulgação e publicação.
Como você já sabe e já foi estudado no capítulo 1, não será objeto de deliberação a
proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto,
secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias
individuais. São as denominadas cláusulas pétreas.
Lei Complementar
capítulo 4 • 159
Entretanto, se uma Lei Ordinária dispuser de assunto reservado à Lei
Complementar, será inconstitucional, por vulneração à Constituição Federal. No
entanto, se uma Lei Complementar disciplinar questão relativa à Lei Ordinária,
não haverá inconstitucionalidade.
Lei Delegada
ATENÇÃO
Observe com atenção que, em primeiro lugar, o Presidente da República deve solicitar
a delegação e, posteriormente, se o Congresso discricionariamente decidir, expedirá uma
resolução para especificar a matéria e os termos da Lei Delegada.
capítulo 4 • 160
b) a delegação atípica, está prevista no artigo 68, §3º, da Constituição
Federal. Nessa modalidade há inversão do processo legislativo, na medi-
da em que o Congresso Nacional autoriza, por resolução, o Presidente da
República a elaborar a lei, mas impõe que o Presidente elabore um projeto
que será analisado em votação única pelo Congresso Nacional.
Medida Provisória
o Supremo Tribunal Federal tem variado seu posicionamento acerca do controle de mé-
rito desses requisitos, tendo já declarado que “os conceitos de relevância e urgência a
que se refere o artigo 62 da Constituição, como pressupostos para a edição de Medidas
Provisórias, decorrem, em princípio, do juízo discricionário de oportunidade e de valor do
Presidente da República, mas admitem o controle judiciário quanto ao excesso de poder
de legislar”. (TAVARES, 2017, p. 1080)
capítulo 4 • 161
Conforme entendimento consolidado da Corte, os requisitos constitucionais legitimado-
res da edição de medidas provisórias, vertidos nos conceitos jurídicos indeterminados de
"relevância" e "urgência" (art. 62 da CF), apenas em caráter excepcional se submetem
ao crivo do Poder Judiciário, por força da regra da separação de poderes (art. 2º da CF)
(ADI 2.213, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 23-4-2004; ADI 1.647, Rel. Min. Carlos
Velloso, DJ de 26-3-1999; ADI 1.753-MC, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 12-6-
1998; ADI 162-MC, Rel. Min. Moreira Alves, DJ de 19-9-1997).[ADC 11 MC, voto do
rel. min. Cezar Peluso, j. 28-3-2007, P, DJ de 29-6-2007.] ADI 4.029, rel. min. Luiz Fux,
j. 8-3-2012, P, DJE de 27-6-2012.
ATENÇÃO
Perceba, com muita atenção que, o prazo máximo de uma medida provisória é de 120
dias. Se nesse prazo, a medida provisória não for convertida em lei, perderá sua eficácia des-
de sua edição, devendo o Congresso Nacional disciplinar, por decreto legislativo, as relações
jurídicas delas decorrentes, de acordo com o artigo 62, § 3º, da Constituição Federal.
capítulo 4 • 162
I - relativa a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos polí-
ticos e direito eleitoral; b) direito penal, processual penal e processual civil;
c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a
garantia de seus membros; d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias,
orçamento e créditos adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no
art. 167, § 3º;
II - que vise a detenção ou sequestro de bens, de poupança popular ou
qualquer outro ativo financeiro;
III - reservada a lei complementar; e
IV - já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e
pendente de sanção ou veto do Presidente da República.
Em relação à matéria tributária, não há óbice para ser disciplinada por medida
provisória, desde que não seja hipótese em que a própria Constituição exige Lei
Complementar e não afete à anterioridade tributária. Esse inclusive é o entendi-
mento do Supremo Tribunal Federal.
Decreto Legislativo
Art. 223. Compete ao Poder Executivo outorgar e renovar concessão, permissão e auto-
rização para o serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens, observado o princípio
da complementaridade dos sistemas privado, público e estatal.
(...)
§ 2º A não-renovação da concessão ou permissão dependerá de aprovação de, no míni-
mo, dois quintos do Congresso Nacional, em votação nominal.
capítulo 4 • 163
Como você deve ter percebido até aqui, o Presidente da República não par-
ticipa do processo de elaboração do Decreto Legislativo. Por isso inexiste sanção
ou veto presidencial no processo de formação dessa espécie normativa primária.
Resoluções
EXEMPLO
É exigido o quórum de 2/3, por exemplo, nos seguintes dispositivos constitucionais:
a) artigo 53, § 7°, que trata da suspensão das imunidades parlamentares durante o
estado de sítio;
b) artigo 51, I, que trata da autorização de instauração de processo contra o Presiden-
te e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado;
c) artigo 155, § 2°, V, "b", que cuida da fixação de alíquotas máximas nas opera-
ções internas com a finalidade de resolver o conflito específico que envolva interesse
dos Estados.
capítulo 4 • 164
ATIVIDADES
01. O Presidente da República, amparado pelo artigo 68 da Constituição da República, soli-
cita delegação ao Congresso Nacional para legislar sobre direito civil, matéria não vedada a
tal espécie normativa. Após apreciação da solicitação feita pelo Presidente da República, o
Congresso Nacional editou a Resolução competente (delegação externa corporis), na forma
do art. 68, § 2.º, da Constituição da República, autorizando que o Presidente da República
disciplinasse a matéria, sem, contudo, tratar de questões relativas a relações contratuais
entre particulares.
A despeito da reserva feita pela Resolução do Congresso Nacional, o Presidente da
República disciplinou mediante lei delegada questões relativas a relações contratuais entre
particulares, extrapolando, pois, os limites da delegação legislativa recebida.
A partir da situação descrita, responda justificadamente às perguntas adaptadas da
obra de GÓES, Guilherme Sandoval. Direito constitucional avançado. Rio de Janeiro: SESES,
2018. p. 40-41.
a) Poderia o próprio Congresso Nacional tomar alguma providência contra o ato
do Presidente da República (providência motu proprio) ou deveria o Congres-
so Nacional recorrer ao Poder Judiciário para que este tome as providências que
forem necessárias?
b) A delegação legislativa feita mediante Resolução do Congresso Nacional, está de
c) acordo com a Constituição de 1988?
d) O ato que susta a lei delegada também seria uma Resolução do Congresso Nacional?
capítulo 4 • 165
REFLEXÃO
Neste capítulo, você estudou a organização político-administrativa do Estado brasileiro.
Percebeu que nosso país adota a forma federativa de Estado e, por isso, possui entes autô-
nomos para o desempenho de suas funções.
Assim sendo, você observou a existência da União, dos Estados-membros, do Distrito
Federal e dos Municípios. Estudou também a formação dos Estados e dos Municípios através
dos institutos da incorporação (fusão), da subdivisão (cisão) e do desmembramento. Além
disso, percebeu que os Territórios não podem ser considerados entes da federação, por não
possuírem autonomia, que é característica das pessoas jurídicas que compõem a federação.
Posteriormente, você se dedicou ao estudo das funções ou separação dos poderes do
Estado, e percebeu que existem funções típicas, caracterizadas como cotidianas, predomi-
nantes e tradicionais; e funções atípicas, do Legislativo, do Executivo e do Judiciário.
Neste capítulo demos ênfase também ao estudo do Poder Legislativo federal e sua es-
trutura constitucional. Para manter a coerência didática, foram examinados os processos
legislativos consagrados pelo direito pátrio: o ordinário, o sumário e o especial.
Na sequência dos seus estudos e por fim, você constatou a dinâmica de formação das espé-
cies normativas existentes no ordenamento jurídico brasileiro. Assim sendo, verificou como se ela-
boram a Lei Ordinária, a Lei Complementar, a Emenda Constitucional, a Lei Delegada, a Medida
Provisória, o Decreto Legislativo e as Resoluções expedidas pelas Casas do Congresso Nacional.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2015.
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Coimbra:
Livraria Almedina, 1993.
GÓES, Guilherme Sandoval. Direito constitucional avançado. Rio de Janeiro: SESES, 2018.
MASSON, Nathalia. Manual de Direito Constitucional. Bahia: JusPODIVM, 2016.
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. São
Paulo: Saraiva, 2017.
MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. São Paulo: Atlas, 2017.
SILVA E NETO, Manoel Jorge. Curso de Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006.
SILVA, José Afonso da. Comentário Contextual à Constituição. São Paulo: Malheiros, 2009.
______. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 2014.
TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2017.
capítulo 4 • 166
5
Poder Judiciário e
Poder Executivo
Poder Judiciário e Poder Executivo
Introdução
capítulo 5 • 168
OBJETIVOS
• Identificar as regras relativas ao Poder Judiciário brasileiro e compreender a sua
estrutura organizacional;
• Examinar as funções exercidas pelo Poder Judiciário e seus principais órgãos;
• Conhecer as regras sobre o Poder Executivo Federal e as atribuições do Presidente
da República.
Poder Judiciário
capítulo 5 • 169
Como funções atípicas o Poder Judiciário possui atribuições administrativa
e legislativa. Dessa maneira, ao conceder férias aos serventuários e aos magistra-
dos, o Poder Judiciário exerce função administrativa. Por outro lado, a edição
de normas regimentais é um exemplo de função legislativa desempenhada pelo
Poder Judiciário.
Estatuto da Magistratura
capítulo 5 • 170
Entretanto, o artigo 100, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
- ADCT, dispõe que até que entre em vigor a lei complementar de que trata o
inciso II do § 1º do art. 40 da Constituição Federal, os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores e do Tribunal de Contas da União
aposentar-se-ão, compulsoriamente, aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, nas
condições do art. 52 da Constituição Federal.
ATENÇÃO
A ADI 5.316 posposta pela Associação dos Magistrados Brasileiros - AMB, pela Asso-
ciação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho - ANAMATRA e a Associação dos
Juízes Federais do Brasil - AJUFE, ataca a Emenda Constitucional nº 88/2015 em vários
pontos. O plenário do Supremo Tribunal Federal, em maio de 2015, julgou medida cautelar e
consubstanciou o entendimento que:
1. O princípio constitucional da separação dos Poderes (CRFB, art. 2º), cláusula pétrea
inscrita no art. 60, § 4º, III, da Constituição República, revela-se incompatível com arranjos
institucionais que comprometam a independência e a imparcialidade do Poder Judiciário,
predicados necessários à garantia da justiça e do Estado de Democrático de Direito.
2. A expressão “nas condições do art. 52 da Constituição Federal” contida no art. 100 do
ADCT, introduzido pela EC nº 88/2015, ao sujeitar à confiança política do Poder Legislativo
a permanência no cargo de magistrados do Supremo Tribunal Federal, dos Tribunais Supe-
riores e de membros do Tribunal de Contas da União, vulnera as condições materiais neces-
sárias ao exercício imparcial e independente da função jurisdicional.
3. A aposentadoria compulsória de magistrados é tema reservado à lei complementar nacional,
de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, nos termos da regra expressa contida no artigo 93, VI,
da Constituição da República, não havendo que se falar em interesse local, ou mesmo qualquer
singularidade que justifique a atuação legiferante estadual em detrimento da uniformização.
4. A unidade do Poder Judiciário nacional e o princípio da isonomia são compatíveis com
a existência de regra de aposentadoria específica para integrantes do Supremo Tribunal
Federal e dos Tribunais Superiores, cujos cargos também apresentam peculiaridades para o
seu provimento.
5. É inconstitucional todo pronunciamento judicial ou administrativo que afaste, amplie ou
reduza a literalidade do comando previsto no art. 100 do ADCT e, com base em neste funda-
mento, assegure a qualquer agente público o exercício das funções relativas a cargo efetivo
ou vitalício após ter completado setenta anos de idade.
capítulo 5 • 171
Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fun-
damentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a pre-
sença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente
a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado
no sigilo não prejudique o interesse público à informação. Já as decisões adminis-
trativas dos tribunais serão motivadas e em sessão pública, sendo as disciplinares
tomadas pelo voto da maioria absoluta de seus membros.
A Constituição Federal também prevê que nos tribunais com número superior
a vinte e cinco julgadores, poderá ser constituído órgão especial, com o mínimo
de onze e o máximo de vinte e cinco membros, para o exercício das atribuições
administrativas e jurisdicionais delegadas da competência do tribunal pleno, pro-
vendo-se metade das vagas por antiguidade e a outra metade por eleição pelo
tribunal pleno.
A Reforma do Judiciário feita pela Emenda Constitucional nº 45/2004 esta-
beleceu que a atividade jurisdicional deve ser ininterrupta, sendo vedadas as férias
coletivas nos juízos ou tribunais de segundo grau, funcionando juízes em plantão,
nos dias em que não houver expediente forense.
É importante que você saiba que para garantir a imparcialidade dos mem-
bros da magistratura, são estabelecidas, no artigo 95, parágrafo único, IV e V, da
Constituição Federal, as seguintes proibições: a) vedação aos juízes de receber, a
qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades
públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei; b) instituição da
denominada quarentena de saída, proibindo membros da magistratura de exercer
a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastaram por aposentadoria ou exo-
neração pelo prazo de 3 anos. Essas vedações também são dirigidas aos membros
do Ministério Público.
capítulo 5 • 172
Autonomia orgânico-administrativa – art. 96
INSTITUCIONAIS
Autonomia financeira – art. 99
ATENÇÃO
Como abrandamento dessa regra, a Constituição Federal permite que os Ministros do
Supremo Tribunal Federal e os membros do Conselho Nacional de Justiça (artigo 52, II)
possam ser processados e julgados pelo Senado Federal nos crimes de responsabilidade.
Portanto, através de decisão do legislativo, tais magistrados podem sofrer impeachment pela
prática de infrações político-administrativas contrárias à Constituição Federal.
capítulo 5 • 173
Segundo o artigo 95, I, da Constituição a vitaliciedade, no primeiro grau, só será
adquirida após dois anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de
deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença
judicial transitada em julgado. Perceba que durante os dois anos de estágio probatório,
o juiz poderá ser demitido por deliberação do tribunal ao qual está vinculado.
Os magistrados nomeados para compor os tribunais superiores ou que ingres-
sam pelo quinto constitucional, adquirem a vitaliciedade no momento da posse.
A garantia da inamovibilidade, prevista no artigo 95, II, da Constituição
Federal significa que o magistrado não pode ser promovido ou removido, sem a
sua anuência. Essa regra possui uma exceção que permitirá a mobilidade por mo-
tivo de interesse público e pelo voto da maioria absoluta do respectivo Tribunal
ou do Conselho Nacional de Justiça, sendo assegurada a ampla defesa, conforme
dispõe o artigo 93, VIII, da Constituição.
A irredutibilidade de subsídios também é uma garantia funcional do ma-
gistrado consistente na vedação de estabelecer redução de sua remuneração. Para
Alexandre de Moraes, “o salário, vencimentos, ou como denominado na Emenda
Constitucional nº 19/98, o subsídio do magistrado não pode ser reduzido como
forma de pressão, garantindo-lhe assim o livre exercício de suas atribuições”
(MORAES, 2017, p. 369).
capítulo 5 • 174
Convém ressaltar que o artigo 98, II, da Constituição Federal, estabelece que
a União, no Distrito Federal e nos territórios, e os Estados criarão a Justiça de Paz
com competência para, na forma da lei, celebrar casamentos, verificar, de ofício ou
em face de impugnação apresentada, o processo de habilitação e exercer atribui-
ções conciliatórias, sem caráter jurisdicional, além de outras previstas na legislação.
No quadro abaixo você pode observar a estrutura organizacional do Poder
Judiciário nacional:
capítulo 5 • 175
sobrepõem as decisões tomadas por todas as Justiças e Tribunais, enquanto as de-
cisões do Superior Tribunal de Justiça se sobrepõem às decisões da Justiça Federal
comum, das Justiças dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
O artigo 94, da Constituição Federal prevê o denominado quinto consti-
tucional, segundo o qual 1/5 dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos
Tribunais dos Estados, e do Distrito Federal e Territórios será composto de mem-
bros do Ministério Público, com mais de dez anos de carreira, e de advogados de
notório saber jurídico e de reputação ilibada, com mais de dez anos de efetiva
atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação
das respectivas classes.
Recebidas as indicações, o tribunal formará lista tríplice, enviando-a ao Poder
Executivo, que, nos vinte dias subsequentes, escolherá um de seus integrantes
para nomeação.
A regra do quinto constitucional também se aplica aos tribunais do trabalho,
conforme dispõem os artigos 111-A, I, e 115, I, da Constituição Federal.
ATENÇÃO
É importante ressaltar que, nem todos os tribunais obedecem à regra do quinto constitu-
cional. Um terço e não um quinto dos membros do STJ, por exemplo, serão escolhidos dentre
advogados e membros do Ministério Público Federal, Estadual, do Distrito Federal e Territó-
rios, alternadamente. Trata-se, portanto, da regra do “terço” e não do quinto constitucional. Da
mesma forma, os membros do Supremo Tribunal Federal são nomeados pelo Presidente da
República. O Tribunal Superior Eleitoral e os Tribunais Regionais Eleitorais contam com 2/7
dos membros advindos da advocacia e nenhum representante do Ministério Público (artigos
119, II e 120, III, da Constituição Federal). Em relação ao Superior Tribunal Militar, um quinze
avos dos membros da carreira do Ministério Público da Justiça Militar e três quinze avos pro-
venientes da advocacia (artigo 123, parágrafo único, I e II, da Constituição Federal).
capítulo 5 • 176
Supremo Tribunal Federal
CURIOSIDADE
Gilmar Ferreira Mendes nos informa que durante o Governo de Floriano Peixoto (1891 a
1894), portanto durante a República, o Senado Federal rejeitou cinco escolhas para Ministro
do Supremo Tribunal Federal: de Barata Ribeiro, de Innocencio Galvão de Queiroz, Ewerton
Quadros, Antonio Sève Navarro e Demosthenes da Silveira Lobo. (MENDES & BRANCO,
2017, p. 867)
MULTIMÍDIA
Assista parte da sabatina realizada pelo Senado Federal, em 2013, que aprovou a esco-
lha do Ministro Luís Roberto Barroso para o Supremo Tribunal Federal:
capítulo 5 • 177
• https://www.youtube.com/watch?v=jeQQRm2lC4w
• https://www.youtube.com/watch?v=tEoQg7pqiHo
capítulo 5 • 178
de que processos relacionados à prática de Caixa dois devem ser enviados à Justiça
Eleitoral. Dessa maneira, segundo o entendimento do STF, a competência não
seria da Justiça Federal quando o processo envolver crimes comuns e Caixa 2 de
campanha eleitoral.
Em relação à competência recursal extraordinária é importante que você tenha
em mente que a Emenda Constitucional nº 45 de 2004 acrescentou o § 3º, ao artigo
102, da Constituição Federal, segundo o qual: “No recurso extraordinário o recor-
rente deverá demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais discutidas
no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso,
somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus membros”.
A demonstração da repercussão geral foi regulamentada pela Lei nº
11.418/2006. Trata-se de verdadeiro limitador ao acesso à Corte, a fim de evitar
que esse órgão julgue questões menos importantes do ponto de vista sociológico.
A lei estabeleceu como critério objetivo para a demonstração da repercussão
geral a existência de decisão contrária à súmula ou à jurisprudência dominante do
Tribunal. Já o Código de Processo Civil determina que:
Artigo 1.035. O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não conhecerá do re-
curso extraordinário quando a questão constitucional nele versada não tiver repercussão
geral, nos termos deste artigo.
§ 1º Para efeito de repercussão geral, será considerada a existência ou não de questões
relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico que ultrapassem os
interesses subjetivos do processo.
§ 2º O recorrente deverá demonstrar a existência de repercussão geral para apreciação
exclusiva pelo Supremo Tribunal Federal.
§ 3º Haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar acórdão que:
I - contrarie súmula ou jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal;
II - Revogado (Redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016);
III - tenha reconhecido a inconstitucionalidade de tratado ou de lei federal, nos termos
do art. 97 da Constituição Federal.
capítulo 5 • 179
controle de constitucionalidade (MENDES & BRANCO, 2017, p. 875). Nesse
aspecto, ao aumentar as atribuições do Supremo Tribunal acerca do controle de
constitucionalidade, o sistema constitucional permitiu o ativismo judicial.
Segundo Oscar Vilhena Vieira, o STF está no centro do nosso sistema político,
fato que demonstra a fragilidade e sensibilidade do nosso sistema representativo
(VIEIRA, 2008, p. 441). O mesmo autor alerta que a hiper-constitucionalização
da vida contemporânea, no entanto, é consequência da desconfiança na democra-
cia e não a sua causa (VIEIRA, 2008, p. 443).
A resolução dos problemas constitucionais do tempo presente deman-
da - sem nenhuma dúvida - o ativismo judicial proporcional, que, no entanto,
não pode extrapolar os limites dos limites impostos pelo núcleo intangível dos
direitos fundamentais.
A garantia desse núcleo mínimo de direitos, bem como o controle intersub-
jetivo da sociedade aberta de intérpretes da Constituição, deve ser pautado por
um ativismo judicial proporcional desempenhado, sobretudo, pelo Supremo
Tribunal Federal.
É nesse sentido que surge a necessidade de uma nova teoria da eficácia consti-
tucional, mais consentânea com a leitura moral do direito e dentro de um quadro
dogmático complexo que envolve temas sensíveis da interpretação constitucional
contemporâneo, tais como: (i) dimensão retórica das decisões judiciais e a segu-
rança jurídica, (ii) limites hermenêuticos do ativismo judicial, (iii) jusfundamen-
talidade material dos direitos sociais submetidos à reserva do possível, (iv) existên-
cia de um núcleo essencial intangível dos direitos constitucionais, e (v) colisão de
normas constitucionais de mesma hierarquia (GÓES & RASGA, 2014, p. 418).
Entretanto, é importante ressaltar que, esta nova visão da hermenêutica cons-
titucional não se confunde com o mero decisionismo judicial, desprovido de
qualquer controle científico-metodológico. Muito pelo contrário, sob a égide da
dogmática pós-positivista, o ativismo judicial é submetido à rigorosa fiscalização
por parte da sociedade aberta de intérpretes da Constituição (GÓES & RASGA,
2014, p. 420).
A escolha final da norma-decisão ou norma-resultado do Supremo Tribunal
Federal depende, sob os influxos do neoconstitucionalismo pós-positivista, de
uma estratégia de interpretação constitucional que leve em consideração os ele-
mentos fáticos do caso concreto (fatos portadores de juridicidade). Em sentido
metafórico, a letra da Constituição é a trilha, mas, nunca o trilho do processo de
tomada de decisões do magistrado ou exegeta constitucional.
capítulo 5 • 180
LEITURA
Sugere-se a leitura do artigo: GÓES, Guilherme Sandoval; RASGA, Mariana de Freitas.
Limites exegéticos do ativismo judicial: por uma estratégia hermenêutica de preservação do
Estado Democrático de Direito. In. CONPEDI (Org). Hermenêutica: XXIII Encontro Nacional
do CONPEDI/UFSC (23: 2014: Florianópolis, SC), p. 416-440. O artigo pode ser lido a partir
de: <http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=e7803c8c6041d459>;
República dentre os nomes indicados pelo órgão competente de cada instituição esta-
dual; XII - dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados
do Brasil; XIII - dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados um
pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal.
capítulo 5 • 181
De acordo com a mudança feita pela Emenda Constitucional nº 61, de 2009,
nas ausências e impedimentos do Presidente do Conselho Nacional de Justiça pre-
sidirá o órgão o Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal (artigo 103-B, § 1º).
O Ministro do Superior Tribunal de Justiça exercerá a função de Ministro-
Corregedor e ficará excluído da distribuição de processos no Tribunal, com-
petindo-lhe, além das atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da
Magistratura, as seguintes: I - receber as reclamações e denúncias, de qualquer
interessado, relativas aos magistrados e aos serviços judiciários; II - exercer funções
executivas do Conselho, de inspeção e de correição geral; e III - requisitar e desig-
nar magistrados, delegando-lhes atribuições, e requisitar servidores de juízos ou
tribunais, inclusive nos Estados, Distrito Federal e Territórios.
O Procurador-Geral da República e o Presidente do Conselho Federal da
Ordem dos Advogados do Brasil devem oficiar perante o Conselho Nacional de
Justiça (artigo 103-B, § 6º, da Constituição Federal). Entretanto, no julgamento
do Agravo Regimental em Mandado de Segurança nº 25.879, o Supremo Tribunal
Federal entendeu que a ausência destes às sessões do Conselho não importa em
nulidade das mesmas.
Possui atribuição de controle da atuação administrativa e financeira do Poder
Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes. De acordo com o
artigo 103-B, § 4º, a competência do Conselho Nacional de Justiça não é exaus-
tiva, pois outras atribuições podem ser conferidas pelo Estatuto da Magistratura.
capítulo 5 • 182
oficializados, sem prejuízo da competência disciplinar e correcional dos tribunais,
podendo avocar processos disciplinares em curso e determinar a remoção, a dis-
ponibilidade ou a aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao
tempo de serviço e aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa
(artigo 103-B, § 4º, III, da Constituição Federal).
PERGUNTA
Assim, havia uma discussão em torno da incidência do Princípio da Subsidiariedade
como requisito de atribuição do Conselho Nacional de Justiça em matéria disciplinar, ou seja,
se o órgão atuava complementarmente ao exercício correcional da justiça local.
Enfim, o Conselho Nacional de Justiça atua.
capítulo 5 • 183
O STF deixou consignado que a EC nº 45/2004, ao constituir o CNJ, não se limitou a
criar mais um órgão para exercer, concomitantemente, atribuições que estavam sendo
exercidas com deficiência por outros órgãos. A emenda constitucional requalificou, de
maneira substantivam uma dada função, ao atribuir ao novo órgão (o CNJ) posição de
proeminência em relação aos demais.
Essa primazia seria decorrência da circunstância de a própria Constituição ter concedido
ao CNJ extraordinário poder de avocar processos disciplinares em curso nas corregedo-
rias dos Tribunais. (MASSON, 2016, p. 903)
capítulo 5 • 184
O Superior Tribunal de Justiça foi criado pela Constituição de 1988. Trata-se,
como você já estudou, de órgão jurisdicional de convergência e superposição, com
sede na Capital Federal.
É composto, de no mínimo, trinta e três Ministros, que serão nomeados pelo
Presidente da República, dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de
sessenta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, depois de apro-
vada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, sendo: I - um terço dentre
juízes dos Tribunais Regionais Federais; II - um terço dentre desembargadores dos
Tribunais de Justiça, indicados em lista tríplice elaborada pelo próprio Tribunal;
e III - um terço, em partes iguais, dentre advogados e membros do Ministério
Público Federal, Estadual, do Distrito Federal e Territórios, alternadamente, indi-
cados na forma do art. 94.
Como podemos perceber, ao contrário do que ocorre com os membros do
Supremo Tribunal Federal, a Constituição exige que os Ministros do Superior Tribunal
de Justiça possuam graduação em Direito, uma vez que todos serão, obrigatoriamente,
magistrados, membros do Ministério Público ou advogados.
O artigo 105, da Constituição Federal enumera a competência do Superior
Tribunal de Justiça. A competência do tribunal pode ser dividida em a) originária,
quando o STJ é acionado diretamente, sendo o primeiro órgão a examinar a matéria e
b) recursal, quando o STJ aprecia o caso em grau de recurso, seja ordinário ou especial.
No âmbito da competência originária, compete ao STJ processar e julgar:
capítulo 5 • 185
e) as revisões criminais e as ações rescisórias de seus julgados;
f) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de
suas decisões;
g) os conflitos de atribuições entre autoridades administrativas e judiciárias da União,
ou entre autoridades judiciárias de um Estado e administrativas de outro ou do Distrito
Federal, ou entre as deste e da União;
h) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atri-
buição de órgão, entidade ou autoridade federal, da administração direta ou indireta,
excetuados os casos de competência do Supremo Tribunal Federal e dos órgãos da
Justiça Militar, da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal;
i) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às
cartas rogatórias.
capítulo 5 • 186
Justiça Federal de primeiro e segundo graus, como órgão central do sistema e com
poderes correcionais, cujas decisões terão caráter vinculante.
É interessante observar também que, a Emenda Constitucional nº 45/2004
introduziu no ordenamento brasileiro o Incidente de Deslocamento de
Competência. Através desse instituto o Superior Tribunal de Justiça poderá trans-
ferir investigações ou processos da Justiça Estadual para a Justiça Federal, nos casos
de graves violações aos direitos humanos. O artigo 109, § 5º, da Constituição
prevê que:
Tal regra tem sido denominada de “federalização” dos crimes contra direi-
tos humanos, já que a competência para o processo e julgamento passa a ser da
Justiça Federal. O primeiro pedido de deslocamento de competência suscitado
pelo Procurador-Geral da República foi o caso da missionária norte-americana
Dorothy Stang, morta em razão de sua atuação contra grileiros de terras no Pará.
Entretanto, o pedido de Incidente de Deslocamento de Competência foi indefe-
rido pelo Superior Tribunal de Justiça, sob o fundamento de que as autoridades
locais, segundo o tribunal, estavam empenhadas na resolução do crime.
EXEMPLO
Outro exemplo de Incidente de Deslocamento de Competência foi o caso de Manoel
Mattos, advogado e Vereador, morto em 2009, após várias ameaças e atentados. Manoel
era conhecido como defensor de direitos humanos e atuava contra grupos de extermínio na
divisa dos Estados da Paraíba e Pernambuco. Esse foi o primeiro Incidente de Deslocamento
de Competência deferido pelo Superior Tribunal de Justiça, sendo a competência deslo-
cada para a Justiça Federal da Paraíba. Em 2015 dois réus foram condenados pela morte
do advogado.
capítulo 5 • 187
brasileiro, o Incidente de Deslocamento de Competência carece de regulamenta-
ção legal ou regimental que disponha sobre o seu trâmite e processamento. Além
disso, o Superior Tribunal de Justiça, na maioria dos casos, tem indeferido pedidos
de deslocamentos para a Justiça Federal, como por exemplo, no IDC 14, julgado
no final de 2018 pelo STJ, que envolveu a greve de policiais militares do Estado
do Espírito Santo, em 2017, deixando a sociedade capixaba exposta à criminali-
dade causando “insegurança, pânico, intensa violência e caos urbano”. Além da
ocorrência de saques e arrombamentos de estabelecimentos comerciais, atos de
vandalismo e depredação do patrimônio, roubos, queimas de ônibus, tiroteios,
homicídios e conflitos sociais.
Até o presente momento, a jurisprudência do STJ tem construído seus ele-
mentos principais. Nesse sentido, conforme entendimento do próprio tribunal,
o Incidente de Deslocamento de Competência possui natureza processual, com
características de excepcionalidade e de caráter subsidiário.
Conforme você já estudou, o Brasil adota a forma federativa de Estado e, por
isso, é constituído pela união de diversos entes. Em decorrência da denominada
cláusula federal, prevista no artigo 28 da Convenção Americana sobre Direitos
Humanos (Pacto de San José da Costa Rica), o Estado brasileiro não pode alegar a
autonomia desses entes federados para se imiscuir de responsabilidade internacio-
nal assumida através de tratado.
capítulo 5 • 188
de responsabilidade internacional do Brasil, em virtude do descumprimento de
obrigações assumidas em tratados internacionais; e c) a evidencia da incapacidade
dos órgãos estaduais para realizar a investigação ou julgamento das graves viola-
ções de direitos humanos.
Poder Executivo
Dessa forma, para fins didáticos também daremos ênfase à função exercida
pelo Presidente da República, pois sendo o chefe do Poder Executivo realiza di-
versas atividades, que englobam desde os atos típicos de chefia de Estado até atos
relativos à chefia de governo.
capítulo 5 • 189
O exercício do Poder Executivo no Brasil, consagrado pela Constituição de
1988, é partilhado entre todos os entes da federação. É por isso que você estudará
a partir do próximo tópico como isso funciona em nosso Estado.
Não há dúvidas que o Presidente da República cumpre uma gama de atividades, que
envolvem atos de chefia do Estado, como por exemplo, a personificação da República
Federativa do Brasil em suas relações internacionais e a celebração de tratados interna-
cionais; bem como atos relativos à chefia de governo e da administração em geral, como
o estabelecimento de diretrizes políticas, a participação no processo legislativo através
da iniciativa de projetos de leis e edições de medidas provisórias, a sanção e o veto
aos projetos de leis, a direção das Forças Armadas e o controle das despesas públicas
(MENDES & BRANCO, 2017, p. 826).
capítulo 5 • 190
A eleição para do Governador de Estado e seu Vice, será realizada no primeiro domingo
de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se
houver, do ano anterior ao término do mandato. A posse ocorrerá no dia 1º de janeiro,
sendo observado o disposto no artigo 77, da Constituição Federal. O mandato do Gover-
nador é de quatro anos, sendo permitida a reeleição para um único período subsequente.
Da mesma maneira que o ocorre com os Estados, o Distrito Federal terá como
chefe do executivo, um Governador e um Vice-Governador, que serão eleitos, ob-
servadas as regras estabelecidas no artigo 77, da Constituição Federal.
Caso ocorra o impedimento simultâneo do Governador do Distrito Federal
e do seu Vice-Governador, ou até mesmo no caso de vacância desses cargos po-
líticos, da mesma forma que ocorre no âmbito estadual, seguindo o princípio da
simetria, seriam chamados a ocupara o cargo de chefia do executivo, sucessiva-
mente, o Presidente da Câmara Legislativa e o Presidente do Tribunal de Justiça
do Distrito Federal.
A Constituição Federal prevê expressamente, após a Emenda Constitucional nº
45 de 2004, que o Governador do Distrito Federal pode propor perante o Supremo
Tribunal Federal a Ação Direta de Inconstitucionalidade, a Ação Declaratória de
Constitucionalidade, além da legitimidade para propor outras ações de controle
de constitucionalidade, previstas na legislação infraconstitucional. De qualquer
maneira, segundo o entendimento do Supremo Tribunal Federal, apesar de pos-
suir capacidade postulatória para tanto, ou seja, de não necessitar de um advogado
capítulo 5 • 191
para deflagrar as ações de controle de constitucionalidade, o Governador deve
provar a pertinência temática.
O mandato do Governador distrital e seu Vice será de quatro anos, também
sendo permitida a reeleição para um único período subsequente.
Como você já estudou anteriormente, o Território Federal não pode ser con-
siderado ente da federação, pois falta a ele o autogoverno, atributo da autonomia
do ente federado. Sendo assim, o chefe do Território Federal será um Governador
nomeado pelo Presidente da República, após a aprovação pelo Senado Federal.
Observe com atenção que o Governador do Território Federal será nomeado e não elei-
to, diferentemente do que ocorre nos Estados, no Distrito Federal e nos Municípios, nos
quais são eleitos através de eleições majoritárias.
Perceba também que sob a égide da Constituição de 1988, até o presente mo-
mento, a União não viu a necessidade de criar Territórios Federais que existiam, no
instante da promulgação da Carta da República, isto é, Roraima e Amapá, foram
transformados em Estados Federados, mantidos seus limites geográficos (artigo
14, do ADCT) ou extinto, como o Território Federal de Fernando de Noronha,
sendo sua área reincorporada ao Estado de Pernambuco (artigo 15, do ADCT).
capítulo 5 • 192
Atribuições do Presidente da República
Assim, como chefe de Estado, o presidente representa, pois, nas suas relações interna-
cionais (art. 84, VII e VIII, XIX), bem como corporifica, a unidade interna do Estado.
Como chefe de Governo, a função presidencial corresponde à representação interna, na
gerência dos negócios internos, tanto os de natureza política (participação no processo
legislativo), como nos de natureza eminentemente administrativa (art. 84, I, II, III, IV, V, VI,
IX a XXVII). Assim, o Chefe de Governo exercerá a liderança da política nacional, pela
orientação das decisões gerais e pela direção da máquina administrativa. (MORAES,
2017, p. 347)
capítulo 5 • 193
Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promover seus oficiais-generais e nomeá-los
para os cargos que lhes são privativos.
Vice-Presidente da República
capítulo 5 • 194
Na visão de Alexandre de Moraes, tanto nos Estados Unidos como no Brasil,
o cargo de Vice-Presidente da República sempre fomentou críticas, pois segundo
o autor, a função não apresentaria grande importância política momentânea e a
sua escolha não despertaria interesse do eleitorado, servindo apenas como um
personagem para conciliação de interesses partidários ou de acerto de coligações
políticas (MORAES, 2017, p. 351).
CURIOSIDADE
Na prática recente do constitucionalismo brasileiro, vimos o Vice-Presidente João Gou-
lart assumindo o cargo de Presidente diante da renúncia de Jânio Quadros, em 1961. Em
virtude da morte do Presidente Tancredo Neves, em 1985, assumiu o Vice-Presidente, José
Sarney. Em 1992, em decorrência do impeachment sofrido por Fernando Collor, o Vice-Pre-
sidente Itamar Franco assumiu o cargo. Da mesma maneira, em 2016, em razão do impeach-
ment de Dilma Rousseff, assumiu a Presidência o seu Vice, Michel Temer.
capítulo 5 • 195
A eleição do Presidente da República importará a do Vice-Presidente com ele
registrado (artigo 77, §1º, da Constituição). Isso significa que o Vice-Presidente
deve ser registrado com o Presidente para ser eleito. O Vice-Presidente ainda par-
ticipará dos Conselhos da República e da Defesa Nacional, como membro nato.
CURIOSIDADE
Na história recente do constitucionalismo brasileiro, a vacância se deu por morte dos
Presidentes Getúlio Vargas e Tancredo Neves. Por renúncia, podemos lembrar de Jânio Qua-
dros e Fernando Collor de Mello, que renunciou no momento que se submetia ao primeiro
processo de impeachment no país. Em 2016, Dilma Rousseff tornou-se a segunda pessoa a
sofrer impeachment no Brasil enquanto exercia o cargo de Presidente da República.
capítulo 5 • 196
durar o afastamento do Vice. Do mesmo modo, se o Vice deixa o cargo vago, o Presi-
dente seguirá governando, sozinho, até o encerramento do mandato, sem que novas
eleições sejam feiras para preencher o cargo de Vice. (MASSON, 2016, p. 832)
É importante asseverar que o artigo 83, da Constituição Federal, dispõe que o Presiden-
te e o Vice-Presidente da República não poderão, sem licença do Congresso Nacional,
ausentar-se do País por período superior a quinze dias, sob pena de perda do cargo.
capítulo 5 • 197
Ministros de Estado
capítulo 5 • 198
em relação às palavras e opiniões. Contudo, estipula uma série de prerrogativas
relacionadas à prisão, ao processo e à imunidade temporária de responsabili-
dade penal, em virtude de atos estranhos à função presidencial, durante a vigência
do mandato.
Em relação à prisão, a Constituição dispõe que enquanto não sobrevier sen-
tença condenatória, nas infrações comuns, o Presidente da República não estará
sujeito a ela, qualquer que seja a modalidade processual existente, como a prisão
em flagrante, provisória ou temporária.
No que diz respeito ao processo, para que seja admitida a acusação contra o
Presidente da República, seja pela prática de crime comum como pela prática de
crime de responsabilidade, há necessidade da autorização, por 2/3 dos membros
da Câmara dos Deputados.
Quanto à imunidade temporária de responsabilidade penal, a Constituição
prevê que o Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser
responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções (artigo 86, § 4º).
Dessa maneira, não pode o Presidente da República ser responsabilizado pela prá-
tica e crimes que nada tem a ver com o exercício de suas funções. Por isso, não
havendo conexão entre o crime e a função desempenhada pelo Presidente, a res-
ponsabilidade somente pode ser apurada após o término do mandato.
Observe com a devida atenção que, a regra sobre a imunidade temporária de
responsabilidade penal não significa ausência de responsabilidade do Presidente
da República, pois ao final do mandato responderá pelos crimes praticados.
É importante destacar que, segundo entendimento do Supremo Tribunal
Federal, não se aplicam aos Governadores dos Estados as prerrogativas da imunida-
de temporária de responsabilidade penal previstas para o Presidente da República,
pois tais prerrogativas decorrem da função de Chefe de Estado desempenhada
pelo Presidente.
capítulo 5 • 199
da República, enquanto Chefe de Governo e não Chefe de Estado. Por isso, nada
impede que tal imunidade seja extensível aos Governadores dos Estados e do
Distrito Federal.
CONCEITO
Entende-se por crime comum qualquer infração penal, desde a contravenção penal ao
crime doloso contra a vida, inclusive os crimes eleitorais. Por crime de responsabilidade, com-
preende-se a infração político-administrativa que acarreta o impeachment do Presidente da
República, como por exemplo, previstos no artigo 85, da Constituição Federal. De fato, tal
dispositivo constitucional prevê que são crimes de responsabilidade os atos do Presiden-
te da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra: I - a
existência da União; II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Minis-
tério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação; III - o exercício dos
direitos políticos, individuais e sociais; IV - a segurança interna do País; V - a probidade na
administração; VI - a lei orçamentária; e VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.
capítulo 5 • 200
sentença condenatória, nas infrações comuns, o Presidente da República não es-
tará sujeito à prisão.
No que concerne ao crime de responsabilidade, de acordo com o que dis-
põe os artigos 86, caput combinado com o artigo 52, I, da Constituição Federal,
compete ao Senado Federal, no exercício de função atípica, processar e julgar o
Presidente da República.
Iniciado o processo no Senado Federal, após a denúncia ter sido admitida em
juízo político por 2/3 da Câmara dos Deputados, o Presidente da República ficará
suspenso de suas funções pelo prazo de até cento e oitenta dias. Se, decorrido esse
prazo, o julgamento não estiver concluído no Senado Federal, cessará o afastamen-
to do Presidente, sem prejuízo do regular prosseguimento do processo.
O Senado Federal atuará como um órgão julgador híbrido, pois conforme
preceitua o parágrafo único do artigo 52, da Constituição Federal, no processo e
julgamento do Presidente da República pelo Senado Federal, nos crimes de res-
ponsabilidade, funcionará como Presidente o do Supremo Tribunal Federal, limi-
tando-se à condenação, que somente será proferida por dois terços dos votos do
Senado Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício
de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis.
ATIVIDADES
01. É possível que Lei Estadual obrigue o Presidente do Tribunal de Contas do Estado e
do Município, assim como o Presidente do Tribunal de Justiça, a prestar esclarecimentos ao
Poder Legislativo local sobre fatos ocorridos, importando a recusa em crime de responsabili-
dade? Fundamente integralmente sua resposta.
02. Sobre os temas Poder Executivo e Poder Judiciário, assinale a alternativa que contém
os itens corretos:
I. Compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar, originariamente a extradição
solicitada por Estado estrangeiro;
II. O Supremo Tribunal Federal é composto por 15 Ministros, escolhidos dentre cidadãos
brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos e menos sessenta e cinco anos de idade,
de notável saber jurídico e de reputação ilibada;
III. O quinto constitucional, significa que 1/5 dos lugares dos Tribunais Regionais Federais,
dos Tribunais dos Estados, e do Distrito Federal e Territórios será composto de membros, do
Ministério Público, com mais de dez anos de carreira, e de advogados de notório saber jurídi-
capítulo 5 • 201
co e de reputação ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional, indicados
em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes;
IV. Compete privativamente ao Presidente da República nomear, após aprovação pelo Se-
nado Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os Go-
vernadores de Territórios, o Procurador-Geral da República e o Procurador-Geral do Ministé-
rio Público estadual.
a) Apenas os itens I e II estão corretos. d) Apenas os itens II, III e IV estão corretos.
b) Apenas os itens I e III estão corretos. e) Apenas o item IV está correto.
c) Apenas os itens I, II e IV estão corretos.
03. Peruíbe foi eleito deputado federal em 2018 pelo Estado de Mato Grosso. Entretanto,
logo após o início da atual legislatura, foi nomeado Ministro de Estado pelo Presidente da Re-
pública. Ocorre que, através de interceptações telefônicas autorizadas pelo Poder Judiciário,
para investigar a suposta prática de tráfico de influência em licitações federais e a realiza-
ção de “Caixa 2”, pelo então candidato, nas campanhas eleitorais. Surgiram também indícios
de que sua campanha foi parcialmente financiada com dinheiro ilícito, caracterizando crime
eleitoral. Diante da situação hipoteticamente descrita, deverá o Ministério Publico oferecer
denúncia à justiça eleitoral?
REFLEXÃO
Neste capítulo, você estudou o perfil do Poder Judiciário nacional, composto por vários
órgãos, dentro de uma vasta estrutura organizacional. Na sequência verificamos as regras
estabelecidas pelo estatuto da magistratura e as garantias constitucionais conferidas aos
membros do Poder Judiciário brasileiro, divididas em garantias institucionais e garantias fun-
cionais. Em decorrência dessa disposição do sistema constitucional brasileiro, percebemos
que ao Supremo Tribunal Federal é conferida à guarda da Constituição Federal. Portanto, há
inúmeras atribuições a esse órgão de cúpula do Poder Judiciário.
Percebemos ainda que dentro dessa vasta estrutura, existe o Conselho Nacional de Justi-
ça, órgão criado pela Emenda Constitucional nº 45/2004, que apesar de integrante do Poder
Judiciário, não possui função jurisdicional. Foi examinado na sequência o funcionamento do
Superior Tribunal de Justiça, órgão resultante da criação trazida pela Constituição de 1988.
Na segunda parte do capítulo, estudamos o Poder Executivo na Constituição de 1988.
Vimos o desempenho das funções típicas e atípicas desse poder. Percebemos claramente
que o Poder Executivo Federal, além de desempenhar a chefia de governo, realiza também
a chefia de Estado.
capítulo 5 • 202
Demos ênfase ao estudo do Poder Executivo federal, sem negligenciar à menção aos
poderes executivo distrital, estadual, municipal, bem como o territorial. Vimos que o Poder
Executivo federal é chefiado pelo Presidente da República e que a Constituição Federal,
prevê as suas atribuições do Presidente da República.
Observamos também a atuação do Vice-presidência da República, que é peça fundamental
e que favorece composições políticas, fornecendo maiores condições de governabilidade.
Estudamos os afastamentos temporários do Presidente da República que são deno-
minados “impedimentos” do Chefe do Poder Executivo. Tratamos também dos Ministros de
Estado, como auxiliares do Presidente da República, de sua livre nomeação e exoneração. Na
sequência enumeramos suas atribuições constitucionais.
As imunidades do Presidente da República também foram objeto de nosso estudo nes-
se último capítulo. Por isso, vimos as prerrogativas relacionadas à prisão, ao processo e à
imunidade temporária de responsabilidade penal, em virtude de atos estranhos à função
presidencial, durante a vigência do mandato. Finalmente, estudamos a responsabilidade do
Presidente da República na estrutura imposta pelo regime constitucional vigente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARCELLOS, Ana Paula de. Curso de Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2018.
BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2015.
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Coimbra:
Livraria Almedina, 1993.
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.
MASSON, Nathalia. Manual de Direito Constitucional. Bahia: JusPODIVM, 2016.
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. São
Paulo: Saraiva, 2017.
MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. São Paulo: Atlas, 2017.
PIRES, Antonio Fernando. Manual de Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
Método, 2016.
SILVA E NETO, Manoel Jorge. Curso de Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2006.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 2014.
TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2017.
VIEIRA, Oscar Vilhena. Supremocracia. Revista GV, São Paulo, v. 8, n. 4. p. 441-464, jul./dez. 2008.
capítulo 5 • 203
GABARITO
Capítulo 1
01. Letra b. Para os jusnaturalistas o poder constituinte seria fundado no direito natural e,
portanto, considerado um direito de criação do Estado. Nessa perspectiva o poder constituin-
te caracteriza-se como permanente, inalienável e incondicionado, sendo algo que existe an-
tes mesmo da Nação. Por outro lado, em contraposição a esse pensamento, para os jusposi-
tivistas, seria inconcebível a existência do direito antes do Estado. Assim, o poder constituinte
seria um poder de fato, uma vez que antes do Estado nada existiria juridicamente, somente
fatos decorrentes do fenômeno social.
capítulo 5 • 204
Capítulo 2
2.
1. B A S T A N T E E M S I
X 3.
5. A A
4. I N S T I T U T I V A P
H R L
6. V E Z I O C R I S A F U L L I
M D C
7. E F I C Á C I A A A
8. S Ç
P R O G R A M A T I C A 9. 10. Ã
L O R S O
E 11. O E E
N 12. C L S T
A A U T O E X E C U T Á V E L
B N Y R
S T 13. L I M I T A D A
O I N
L D G
U A I
T V
A E
L
Respostas comentadas
Horizontais:
1. Pontes de Miranda entendia que essa espécie de norma não necessita de regulamentação posterior.
Resposta: Seguindo os passos de Thomas Cooley, Pontes de Miranda dizia que a norma bastante
em si não necessitava de lei posterior.
4. Norma constitucional limitada que visa instituir órgão ou pessoa.
Resposta: Essa é uma espécie de norma constitucional de norma constitucional de eficácia limi-
tada. Portanto, a resposta é: institutiva. Nesse caso, a norma constitucional visa dar corpo a órgão ou
pessoa, como por exemplo, a regra do artigo 18, §4º, da Constituição Federal de 1988, que tem por
propósito instituir os municípios. Perceba que essa regra depende de complementação, como qualquer
norma que se caracterize como norma constitucional de eficácia limitada.
capítulo 5 • 205
6. Nome do autor italiano que aperfeiçoou as ideias do jurista Gaetano Azzaritti.
Resposta: Vezio Crisafulli. Esse jurista constitucionalista italiano nasceu em Gênova, em 1910. Foi
professor de direito público, direito constitucional e justiça constitucional nas Universidades de Urbino,
Trieste, Pádua e Roma. Em 1968 foi nomeado membro do Tribunal Constitucional. Morreu aos 75 anos
em Roma.
7. Toda norma constitucional possui.
Resposta: Como estudado, toda e qualquer norma constitucional possui eficácia, ou seja, capacida-
de para operar todos os seus efeitos no mundo.
8. Norma constitucional limitada que visa implementar metas ou programas do Estado. Resposta:
Essa é uma espécie de norma constitucional de norma constitucional de eficácia limitada. Portanto a
resposta é: programática. Nesse caso, a norma constitucional visa alcançar no futuro um programa ou
meta do Estado.
12. Rui Barbosa dizia que tal espécie de norma equivaleria a self-executing provisions, de
Thomas Cooley.
Resposta: Rui Barbosa, estudioso do direito norte-americano, foi o responsável por trazer para o
Brasil a teoria de Thomas Cooley. Assim, ele afirmava que a norma auto executável equivaleria à self-
-executing provisions, do americano Thomas Cooley.
13. Norma que necessita de complementação pelo legislador ordinário.
Resposta: Seguindo a teoria de José Afonso da Silva, a norma que necessita de complementação
é a de eficácia limitada, ou seja, o legislador ordinário (infraconstitucional) tem a tarefa de complementar
o seu conteúdo.
Verticais:
2. Norma constitucional que já extinguiu a produção de seus efeitos.
Resposta: Segundo Uadi Lammêgo Bulos, existem normas esvaídas e normas de eficácia exaurida,
que é aplicabilidade esgotada, ou seja, aquelas que já produziram completamente todos os seus efeitos.
3. Norma apta a produzir todos os seus efeitos, segundo a classificação de Celso Ribeiro Bastos e
Ayres Britto.
Resposta: Segundo esses autores, a norma de aplicação, desde o seu nascimento estaria apta
a produzir seus efeitos, sem a necessidade de lei ordinária para sua complementação. Essa norma é
bipartida em: a) irregulamentável, ou seja, incide diretamente sobre os fatos regulados, não havendo
necessidade de regulamentação por parte do legislador; b) regulamentável, isto é, a norma que permite
o seu desdobramento através de outras normas regulamentadoras.
5. Autor da classificação da norma constitucional em self-executing provisions e not
self-executing provisions.
Resposta: É o norte americano Thomas Cooley, nascido em Nova York, em 1824. Thomas Mclntyre
Cooley, publicou em 1868 a obra referencial intitulada de “A treatise on the constitutional limitations whi-
ch rest upon the Legislative Power of the States of the American Union”, na qual classificou as normas
constitucionais em self-executing provisions e not self-executing provisions, influenciando a doutrina nos
países de tradição constitucionalista.
capítulo 5 • 206
8. Possui aplicabilidade direta, imediata e integral: Norma constitucional de eficácia “...”
Resposta: Plena. Tal denominação foi o resultado da teoria de José Afonso da Silva, para quem
essa norma não necessita de complementação posterior.
9. Denominação de norma constitucional de eficácia contida dada por Maria Helena Diniz.
Resposta: Maria Helena Diniz foi responsável aperfeiçoar a teoria de José Afonso da Silva. Além
de perceber a existência de normas absolutas, ou seja, as denominadas cláusulas pétreas, alterou a
nomenclatura “eficácia contida” para “eficácia restringível”.
10. Número de dispositivos constitucionais da Constituição dos Estados Unidos.
Resposta: Como estudado, a Constituição dos Estados Unidos é composta por sete artigos e foi
aprovada pela Convenção da Filadélfia em 17 de setembro de 1787. Por isso, é considerada a mais curta
constituição escrita em vigor.
11. Diz-se da norma constitucional que pode ter seus efeitos restringidos pelo legislador ordinário.
Resposta: Essa espécie de norma, segundo a classificação de José Afonso da Silva, é a contida, ou
seja, a própria Constituição autoriza o legislador infraconstitucional restringir o alcance e o conteúdo da
norma constitucional, sem que com isso haja qualquer espécie de inconstitucionalidade. Como exemplo
podemos citar o artigo 5º, XIII, da Constituição.
12. Sinônimo de norma constitucional supereficaz.
Resposta: Segundo a classificação de Maria Helena Diniz, a norma absoluta é sinônimo de
norma supereficaz, ou seja, é aquela norma que não pode ser suprimida pelo poder constituinte
derivado reformador.
capítulo 5 • 207
Capítulo 3
01.
1. P U N I Ç Ã O
R
2. D E R I V A D A
V
3. 4. A 5.
F A C P
É T I O
R I 6. I N D I V I D U A L
I V A I
7. A P A T R I D I A P
S E 8. S O C I A L
T
R
I
9. I G U A L D A D E
I
10. T O R T U R A
Respostas comentadas
Horizontais:
1. Espécie de perda da nacionalidade de brasileiro naturalizado que tiver cancelada a sua naturaliza-
ção, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional.
Resposta: PUNIÇÃO. Quanto à perda da nacionalidade brasileira, o artigo 12, § 4°, da Constituição
Federal, prevê duas hipóteses. O artigo 12, § 4°, I, da Constituição destina-se ao brasileiro naturali-
zado que tiver cancelada a sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao
interesse nacional.
2. Espécie de nacionalidade adquirida após o nascimento via processo de naturalização.
Resposta: DERIVADA. Essa nacionalidade é adquirida após o nascimento e está prevista no art. 12,
II, da Constituição casos de aquisição da nacionalidade via processo de naturalização. A nacionalidade
derivada se perfaz mediante à vontade do indivíduo e à aquiescência do Estado.
6. A proibição de extradição passiva de brasileiro nato, consiste em qual espécie de
direito fundamental?
Resposta: INDIVIDUAL. Trata-se de direito individual previsto no artigo 5, LI, da Constituição Fede-
ral. Essa espécie de cooperação jurídica internacional denomina-se extradição passiva.
capítulo 5 • 208
7. Situação na qual a pessoa não possui qualquer nacionalidade. É o caso de conflito negativo
de nacionalidade.
Resposta: APATRIDIA. Diante da existência e da dessemelhança dos critérios ius soli e do ius san-
guinis, adotados livremente pelos Estados, em decorrência do seu poder soberano, uma pessoa pode ser
considerada apátrida se não concorrer para qualquer nacionalidade.
8. O direito ao salário mínimo é considerado que espécie de direito fundamental?
Resposta: SOCIAL. O salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, e capaz de atender
as suas necessidades básicas e às de sua família, com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer,
vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder
aquisitivo é considerado um direito social individual do trabalhador.
9. Quando o STF decidiu a respeito do Programa Universidade para todos - PROUNI, instituído
pela Medida Provisória nº 213 de 10 de setembro de 2004 e posteriormente convertida na Lei nº
11.096/2005, procurou assegurar que tipo de direito?
Resposta: IGUALDADE. Quando o STF julgou, constitucional a Lei que instituiu o PROUNI, promo-
veu a igualdade material, por ser a Lei uma medida de inserção social e cumprimento do artigo 205 da
Constituição Federal.
10. A Constituição veda essa prática e diz que a lei considerará a sua prática crime inafiançável e
insuscetível de graça ou anistia.
Resposta: TORTURA. Textualmente o artigo 5º, III, da Constituição Federal dispõe que: “ninguém
será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante” e no artigo 5º, XLIII “a lei con-
siderará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo
os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.”
Verticais:
1. Direito individual que tem a ver com a relação da pessoa como o meio social, sem haver interesse
público na sua divulgação.
Resposta: PRIVACIDADE
A privacidade é gênero que abrange a vida privada, a intimidade, a honra e a imagem. A intimida-
de tem a ver com as informações pessoais, que só digam respeito a ela própria, como por exemplo, a
sua sexualidade.
3. Direito social individual pertinente à duração do trabalho.
Resposta: FÉRIAS. As férias serão anuais e remuneradas com pelo menos um terço a mais do
salário. Podemos incluir essa espécie na categoria de direito social individual pertinente à duração
do trabalho.
4. Essa espécie de extradição não está garantida pelo artigo 5º, da Constituição em relação aos
brasileiros natos e aos brasileiros naturalizados.
Resposta: ATIVA. Ocorre a extradição ativa quando um Estado solicitar a outro Estado a medida de
cooperação jurídica internacional de entrega da pessoa para fins de aplicação da lei penal.
5. Hipótese em que uma pessoa possui mais de uma nacionalidade.
Resposta: POLIPATRÍDIA. A polipatrídia ocorre quando mais de um Estado atribui ao indivíduo seu
critério de nacionalidade. Trata-se de conflito positivo de nacionalidade.
capítulo 5 • 209
02.
Respostas comentadas:
a) A Constituição Federal não exige Lei Complementar para estabelecer os requisitos de
obtenção da nacionalidade derivada.
b) Essa é a opção correta. Trata-se da hipótese de naturalização extraordinária, prevista no
artigo 12, II, “b”, da Constituição Federal. Nesse caso, o ato do governo brasileiro será
vinculado, ou seja, preenchidos os requisitos constitucionais, o estrangeiro fará jus a
nacionalidade brasileira.
c) A Constituição estabelece para a aquisição da naturalização ordinária a idoneidade mo-
ral, a fixação de residência por um ano ininterrupto, ser o requerente originário de país
que adote a língua portuguesa. Não há o requisito, portanto, da inexistência de condena-
ção penal com trânsito em julgado.
d) Os portugueses, na hipótese da quase nacionalidade, se equiparam aos brasileiros natu-
ralizados. Portanto há limitação no exercício de certos direitos.
Capítulo 4
01.
Respostas comentadas:
a) A resposta deve ser no sentido de que o Congresso Nacional pode tomar medida
motu próprio, ou seja, sustar o ato do Presidente da República sem recorrer ao
Poder Judiciário, nos termos do art. 49, V, da Constituição. Isso porque, naquele
particular, o Chefe do Executivo Federal extrapolou os limites fixados pela delega-
ção concedida pelo Congresso Nacional. Trata-se de hipótese de controle político
repressivo feito pelo Poder Legislativo. Não há, portanto, necessidade de recorrer
ao STF mediante uma ação direta de inconstitucionalidade (ADIN). Com efeito, o
artigo 49, inciso V, da Constituição de 1988, estabelece que é da competência
exclusiva do Congresso Nacional sustar os atos normativos do Poder Executivo
que exorbitem do poder regulamentar (decreto regulamentador de lei) ou dos li-
mites de delegação legislativa (lei delegada). De fato, o artigo 49, inciso V, é um
dispositivo que compõe o sistema de freios e contrapesos no Brasil. Foi adotado
pelo poder constituinte originário, como forma de equilibrar o exercício dos pode-
res, transformando-se, pois, numa das modalidades de controle político repressivo
de constitucionalidade.
Tal controle é denominado pela doutrina de “veto parlamentar” ou “veto legislativo”, na
medida em que simboliza o controle político de constitucionalidade feito pelo poder legislati-
vo contra atos normativos do poder executivo.
capítulo 5 • 210
b) Sim. Está correta a delegação legislativa feita mediante uma Resolução. É o que
preconiza o art. 68, § 2.º, da Constituição da República que estabelece que a delega-
ção ao Presidente da República terá a forma de Resolução do Congresso Nacional.
c) Não. O instituto jurídico adequado para sustar a lei delegada do Presidente da Re-
pública não seria uma Resolução, mas, sim, um Decreto Legislativo. Como visto an-
tes, é o próprio Congresso Nacional que deve editar o Decreto Legislativo sustando
o ato normativo presidencial que extrapolou os limites da delegação concedida.
Portanto, não confundir a Resolução da delegação legislativa feita ao Presidente
com o Decreto Legislativo que susta a lei delegada.
02.
Respostas comentadas:
a) A alternativa está errada, pois o Território não pode ser considerado ente da federa-
ção, por não possuir autonomia, que é típica de entes que compõem essa espécie
de unidade política. Assim sendo, por ser desprovido de qualquer autonomia, suas
contas devem ser submetidas à fiscalização do Congresso Nacional, com parecer
prévio do Tribunal de Contas da União.
b) A alternativa está correta, pois o artigo 18, § 3º, da Constituição Federal dispõe que
“Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se
anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante
aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Con-
gresso Nacional, por lei complementar”.
c) A alternativa está errada, pois de acordo com o que dispõe o artigo 25, da Cons-
tituição Federal, os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis
que adotarem, observados os princípios da Constituição Federal. Assim sendo, os
Estados não elaboram leis orgânicas.
d) A alternativa está errada, pois o artigo 22, I da Constituição Federal dispõe que
compete privativamente à União legislar sobre direito civil, comercial, penal, pro-
cessual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial, mas não sobre direito tri-
butário. Perceba que, o artigo 24, I, da Constituição Federal, dispõe que compete
à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre essa
matéria e não apenas privativamente a União.
e) A alternativa está errada, pois o artigo 20, III, não inclui entre os bens da União os
lagos e os rios que banhem mais de um Município, mas sim mais de um Estado e
sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele
provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais.
capítulo 5 • 211
Capítulo 5
01. A norma estadual fere o princípio da separação de poderes previsto no artigo 2º, da
Constituição Federal de 1988: “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre
si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.” Ocorreu, na hipótese, a interferência indevida
notadamente na autonomia do Poder Judiciário. Neste sentido, ver decisão da ADI 2911/
ES, cuja ementa segue abaixo:
EMENTA: CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. IMPUG-
NAÇÃO DA EXPRESSÃO “PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA”, CONTIDA NOS §§
1º E 2º DO ART. 57 DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. Os dispositivos
impugnados contemplam a possibilidade de a Assembleia Legislativa capixaba convocar o
Presidente do Tribunal de Justiça para prestar, pessoalmente, informações sobre assunto
previamente determinado, importando crime de responsabilidade a ausência injustificada
desse Chefe de Poder. Ao fazê-lo, porém, o art. 57 da Constituição capixaba não seguiu o
paradigma da Constituição Federal, extrapolando as fronteiras do esquema de freios e con-
trapesos - cuja aplicabilidade é sempre estrita ou materialmente inelástica - e maculando o
Princípio da Separação de Poderes. Ação julgada parcialmente procedente para declarar a
inconstitucionalidade da expressão “Presidente do Tribunal de Justiça”, inserta no § 2º e no
caput do art. 57 da Constituição do Estado do Espírito Santo.
Além disso: As restrições impostas ao exercício das competências constitucionais con-
feridas ao Poder Executivo, incluída a definição de políticas públicas, importam em contrarie-
dade ao princípio da independência e harmonia entre os Poderes.
[ADI 4.102, rel. min. Cármen Lúcia, j. 30-10-2014, P, DJE de 10-2-2015.]
capítulo 5 • 212
de dez anos de efetiva atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de
representação das respectivas classes.”
O item IV está errado, pois conforme previsão constitucional compete privativamente
ao Presidente da República nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros
do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios,
o Procurador-Geral da República, mas não a nomeação do Procurador-Geral do Ministério
Público estadual.
capítulo 5 • 213
Como percebemos, favoráveis à manutenção das investigações na Justiça Federal: mi-
nistros Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, Rosa Weber, Luiz Fux e Cármen Lúcia. Por
outro lado, reafirmam entendimento que prevalece há décadas na jurisprudência da Corte:
ministros Marco Aurélio Mello, Alexandre de Moraes, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes,
Celso de Mello e Antonio Dias Toffoli.
capítulo 5 • 214
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 215
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 216