Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Abstract: This research discusses the issue of applying the rhetorical theory formulated
by the jurists of the Mainz School to examine the democratic regime and its
characteristics. It adopts the rhetorical perspective developed from the theoretical
framework of Theodor Viehweg, Ottmar Ballweg, and Katharina von Schlieffen, in
order to establish three levels of understanding democracy: material rhetoric, strategic
rhetoric, and analytical rhetoric. These levels respectively analyze the historical-
discursive formation, prescriptive strategies for modifying the goals of democracy, and
the potentialities of a descriptive analysis. In conclusion, contributions are presented
for the study of the relationship between democracy and fundamental rights.
INTRODUÇÃO
1
O presente trabalho foi realizado com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito
Santo (Fapes) em nível de Pós-doutorado.
discursos sobre democracia são acordos e narrativas linguísticas constituídas pela
própria sociedade. Sendo assim, nenhum regime político escapa da linguagem, uma
vez que a experiência política somente é compreendida a partir da comunicação da
sociedade. A partir da filosofia de Aristóteles e Nietzsche e das provocações de
Theodor Viehweg sobre o raciocínio tópico-retórico dos juristas, a chamada “Escola de
Mainz” se propõe a descortinar as estratégias retóricas que formam o sentido
dominante no ambiente político e jurídico.
Seguindo essa proposta tópico-retórica, o artigo desenvolve uma observação
sobre os principais elementos que formam a retórica material da democracia: em
outras palavras, inicia o primeiro tópico com uma análise sobre os discursos que
tentam caracterizar, definir ou compreender a existência de um regime político
considerado democrático: o que tem sido compreendido como democracia? O
primeiro problema, porém, é que a própria palavra pode trazer confusões, gerar
leituras anacrônicas, na medida em que seu sentido atual é diferente daquilo que se
discutia na Antiguidade. De todo modo, essa observação também permite
compreender a linguagem jurídico-política enquanto dinâmica social – constituindo,
portanto, uma etapa significativa para a análise retórica dos discursos sobre as
instituições democráticas.
Em um segundo momento, a pesquisa discute a presença de retóricas
estratégicas que, para além da retórica material, pretendem moldar a orientação
normativa do regime democrático – oferecendo ferramentas interpretativas e práticas
para construir o futuro dos regimes democráticos e transformar a estratégia sugerida
em narrativa dominante, retórica material. Assim, o teor desses discursos examinados
é eminentemente prescritivo e relacionado com questões éticas.
Por fim, são examinadas as potencialidades em torno de uma retórica analítica
compreensiva do regime democrático. A partir dos pressupostos da Escola de Mainz,
são refletidas possíveis vantagens e limitações desse tipo de análise para avaliar as
peculiaridades da realidade política brasileira. De modo mais específico, a pesquisa
aponta para a possibilidade de aplicação retórica na análise do julgamento, realizado
em junho de 2023, que tornou inelegível Jair Bolsonaro, ex-Presidente da República.
Dentre os resultados discutidos, o artigo destaca as características de uma teoria
retórica da política e das instituições sociais enquanto campo de pesquisa com
potenciais contribuições para a compreensão da realidade brasileira. A partir de um
olhar empírico, situacional e aberto às contingências futuras, a teoria retórica é
apresentada a partir de três níveis (material, estratégico e analítico) que estruturam
possibilidades de pesquisa sobre a relação entre direito e democracia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ARENDT, Hannah. O que é política? Trad. Reinaldo Guarany. 5. ed. Rio de Janeiro:
Betrand Brasil, 2004.
ARISTÓTELES. Política. Trad. Torrieri Guimarães. São Paulo: Martin Claret, 2002.
BALLWEG, Ottmar. Retórica analítica e direito. Trad. João Maurício Adeodato. Revista
Brasileira de Filosofia, v. 39, n. 163, p. 175-184, 1991.
BAUMAN, Zygmunt. Em busca da política. Trad. Marcus Penchel. Rio de Janeiro: Zahar
Editora, 2000.
BOBBIO, Norberto. Qual democracia? Trad. Marcelo Perine. São Paulo: Edições Loyola,
2010.
BODIN, Jean. Los seis libros de la Republica. Trad. Gaspar de Añastro Ysunza. Turim:
Herdeiros de Bevilaqua, 1590. Disponível em:
<https://archive.org/details/AFD0732/page/n3/mode/2up>.
BONAVIDES, Paulo. Do Estado liberal ao Estado Social. 6. ed. São Paulo: Malheiros,
1996.
COLE, Thomas. Who was Corax? Illinois Classical Studies, University of Illinois Press, v.
16, n. 1, p. 65-84, 1991.
DAHL, Robert A. Sobre a democracia. Trad. Beatriz Sidou. Brasília: Editora da UnB,
2009.
HELD, David. Modelos de democracia. Madrid: Alianza Editorial, 1991.
HERÓDOTO. Historia. Livro III, tópicos 80-82. Trad. Carlos Schrader. Madrid: Editorial
Gredos, 1979.
LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo civil e outros escritos. Trad. Magda
Lopes e Marisa Lobo da Costa. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2001.
MEDEIROS, Bruno Franco Candido. O que os juízes acham persuasivo? Uma análise
empírico-retórica de decisões proferidas no âmbito do Tribunal Superior do Trabalho
em matéria de dano moral. 2018. Brasília: Dissertação de Mestrado em Direito pela
UnB, 2018.
MOSCA, Gaetano. História das doutrinas políticas desde a antiguidade. 5. ed. Trad. M.
A. de Moura Matos. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1980.
SCHLIEFFEN, Katharina Gräffin von. Iluminismo retórico: contribuições para uma teoria
retórica do direito. Trad. João Maurício Adeodato. Curitiba: Alteridade, 2022.
SEAWARD, Paul; IHALAINEN, Pasi. Key Concepts for Parliament in Britain (1640–1800).
In: IHALAINEN, Pasi; ILIE, Cornelia; PALONEN, Kari. Parliament and Parliamentarism: a
comparative history of a European concept. New York: Berghahn Books, 2016, p. 32-
48.
SIEYÈS, Emmanuel Joseph. A constituinte burguesa: qu’est-ce que le tiers État? Trad.
Norma Azevedo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001.
SMITH, Stanley Alexander de. Constitutional and Administrative Law. 3. ed. Londres:
Peguin Books, 1977.
SOBOTA, Katharina. Don’t mention the norm. International Journal for the Semiotics
of Law, n. 4, v. 10, p. 45-60, 1991.