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A PERMANENTE RECONSTRUÇÃO RETÓRICA DA DEMOCRACIA: REFLEXÕES SOBRE OS

REGIMES POLÍTICOS A PARTIR DA ESCOLA DE MAINZ1

The Permanent Rhetorical Reconstruction of Democracy: Reflections on Political


Regimes from the Mainz School

Resumo: Esta pesquisa discute o problema da aplicação da teoria retórica formulada


pelos juristas da Escola de Mainz para examinar o regime democrático e suas
características. Adota-se a perspectiva retórica, desenvolvida a partir do referencial
teórico de Theodor Viehweg, Ottmar Ballweg e Katharina von Schlieffen, para
estabelecer três níveis de compreensão da democracia: a retórica material, a retórica
estratégica e a retórica analítica. Respectivamente, são analisadas a formação
histórico-discursiva, as estratégias prescritivas para a modificação dos objetivos da
democracia e as potencialidades de uma análise descritiva. Ao final, são apresentadas
contribuições para o estudo da relação entre democracia e direitos fundamentais.

Palavras-chave: Democracia; Retórica jurídica; Escola de Mainz.

Abstract: This research discusses the issue of applying the rhetorical theory formulated
by the jurists of the Mainz School to examine the democratic regime and its
characteristics. It adopts the rhetorical perspective developed from the theoretical
framework of Theodor Viehweg, Ottmar Ballweg, and Katharina von Schlieffen, in
order to establish three levels of understanding democracy: material rhetoric, strategic
rhetoric, and analytical rhetoric. These levels respectively analyze the historical-
discursive formation, prescriptive strategies for modifying the goals of democracy, and
the potentialities of a descriptive analysis. In conclusion, contributions are presented
for the study of the relationship between democracy and fundamental rights.

Keywords: Democracy; Legal rhetoric; Mainz School.

INTRODUÇÃO

O presente texto é uma proposta de reflexão sobre a democracia enquanto


regime político, considerando o contexto de suas crises na realidade brasileira. Para
uma contribuição no contexto da filosofia da linguagem jurídica, a pesquisa se debruça
sobre a aplicação da teoria retórica formulada a partir da Escola de Mainz como
referencial de análise sobre os discursos materiais e estratégicos em torno do tema.
Em oposição às posturas idealistas normativas ou com alguma ontologia material
essencialista, a teoria retórica da Escola de Mainz parte do pressuposto de que os

1
O presente trabalho foi realizado com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito
Santo (Fapes) em nível de Pós-doutorado.
discursos sobre democracia são acordos e narrativas linguísticas constituídas pela
própria sociedade. Sendo assim, nenhum regime político escapa da linguagem, uma
vez que a experiência política somente é compreendida a partir da comunicação da
sociedade. A partir da filosofia de Aristóteles e Nietzsche e das provocações de
Theodor Viehweg sobre o raciocínio tópico-retórico dos juristas, a chamada “Escola de
Mainz” se propõe a descortinar as estratégias retóricas que formam o sentido
dominante no ambiente político e jurídico.
Seguindo essa proposta tópico-retórica, o artigo desenvolve uma observação
sobre os principais elementos que formam a retórica material da democracia: em
outras palavras, inicia o primeiro tópico com uma análise sobre os discursos que
tentam caracterizar, definir ou compreender a existência de um regime político
considerado democrático: o que tem sido compreendido como democracia? O
primeiro problema, porém, é que a própria palavra pode trazer confusões, gerar
leituras anacrônicas, na medida em que seu sentido atual é diferente daquilo que se
discutia na Antiguidade. De todo modo, essa observação também permite
compreender a linguagem jurídico-política enquanto dinâmica social – constituindo,
portanto, uma etapa significativa para a análise retórica dos discursos sobre as
instituições democráticas.
Em um segundo momento, a pesquisa discute a presença de retóricas
estratégicas que, para além da retórica material, pretendem moldar a orientação
normativa do regime democrático – oferecendo ferramentas interpretativas e práticas
para construir o futuro dos regimes democráticos e transformar a estratégia sugerida
em narrativa dominante, retórica material. Assim, o teor desses discursos examinados
é eminentemente prescritivo e relacionado com questões éticas.
Por fim, são examinadas as potencialidades em torno de uma retórica analítica
compreensiva do regime democrático. A partir dos pressupostos da Escola de Mainz,
são refletidas possíveis vantagens e limitações desse tipo de análise para avaliar as
peculiaridades da realidade política brasileira. De modo mais específico, a pesquisa
aponta para a possibilidade de aplicação retórica na análise do julgamento, realizado
em junho de 2023, que tornou inelegível Jair Bolsonaro, ex-Presidente da República.
Dentre os resultados discutidos, o artigo destaca as características de uma teoria
retórica da política e das instituições sociais enquanto campo de pesquisa com
potenciais contribuições para a compreensão da realidade brasileira. A partir de um
olhar empírico, situacional e aberto às contingências futuras, a teoria retórica é
apresentada a partir de três níveis (material, estratégico e analítico) que estruturam
possibilidades de pesquisa sobre a relação entre direito e democracia.

1. CONCEPÇÃO DA DEMOCRACIA A PARTIR DE UMA PERSPECTIVA DA RETÓRICA


MATERIAL

1.1. A democracia dos antigos: fragmentos retóricos


Neste primeiro momento da pesquisa, o regime político da democracia é
examinado a partir de um olhar da “retórica material” (BALLWEG, 1991, p. 175-180).
Isso significa que não se pretende partir de um conteúdo essencial ou fixo que
necessariamente marcaria a democracia. Para isso, breves considerações históricas e
etimológicas podem auxiliar a compreensão da palavra, na medida em que percebe o
caráter dinâmico de seu conteúdo.
Muito de nosso conhecimento sobre retórica vem da cultura bizantina. Um de
seus expoentes, Diodoro Sículo, dentre outros, demonstra que o nascimento da
democracia grega está fortemente atrelado à difusão e ao cultivo da retórica. A
retórica grega nasceu na Sicília, que viveu décadas sob as tiranias sucessivas de Gelão,
Hierão e Trasíbulo, o qual foi apeado do trono por uma revolução que instaurou uma
sólida democracia por 60 anos. Essa democracia em Siracusa irradiou seu exemplo por
todo o mundo grego antigo (ADEODATO, 2022, p. 43; COLE, 1991, p. 65-84).
O fim das tiranias de Siracusa trouxe dúvidas jurídicas, principalmente quanto ao
direito de propriedade. No ambiente democrático vai se estabelecendo então a
isegoria, ou seja, a condição de todos poderem manifestar sua opinião na esfera
pública. Ocorre que algumas pessoas tinham mais talentos na oratória e, para
compensar essa desigualdade e viabilizar a isegoria, surgem os oradores que falam em
nome de outros mediante pagamento pelo seu trabalho. Foram os primeiros
advogados.
A palavra democracia traz a raiz que se refere a todos os cidadãos, demos, mais a
partícula kratos, que significa poder. Nesse sentido, democracia não significa apenas
todos poderem falar, mas também agir. Hans Kelsen (1993, p. 248) esclarece que a
palavra tem origem no grego (demos = cidadãos considerados “povo livre”; kratein =
governo). Acrescenta ainda que, desde seu sentido primitivo, o termo remetia a um
postulado geral de “consentimento dos governados por um representante ou
delegado” (ADEODATO, 2022, p. 43).
É difícil estabelecer o surgimento das primeiras experiências democráticas.
Segundo Robert Dahl (2009, p. 20-32), motivados por uma “lógica da igualdade”, a
democracia primitiva foi praticada por diferentes povos em locais muito distintos. Com
o estabelecimento de assembleias que reuniam os homens livres, surgia uma ideia
geral de “consenso dos governados”. Mas, na medida em que as áreas e a população
aumentavam, se justificou a escolha de representantes, por necessidades pragmáticas.
Assim, a discussão sobre o método democrático teria surgido como uma discussão
sobre a forma de escolha dos representantes – ou sobre quem governa a comunidade.
Um dos registros mais antigos de análise sobre as desvantagens do regime
democrático pode ser encontrado na obra de Heródoto, o historiador grego. Antes da
coroação de Dario I, no século VI a.C., teria ocorrido um debate de cinco dias entre
nobres persas sobre qual seria o melhor regime político: monarquia, oligarquia ou
democracia. Ao final do debate, teria prevalecido a tese monarquista (HERÓDOTO,
1979, p. 157-166).
Platão também desenvolveu uma análise valorativa sobre as formas de governo,
opinando sobre quais seriam menos imperfeitas. Dentre os diversos regimes políticos,
compreendia que a democracia seria uma das piores formas de governo, porém,
menos prejudicial do que a tirania. Entendia que o governo das multidões se
degeneraria fatalmente em uma desordem social que produziria novas tiranias
(MOSCA, 1980, p. 47-49).
Posteriormente, Aristóteles (2002, p. 90-91) sustentou dois critérios para
categorizar as formas de governo. Pelo primeiro critério, examinou quantos eram os
titulares do governo; pelo segundo critério, examinou se os governos estavam em
conformidade com a busca do bem comum ou se foram corrompidos por interesses
particulares. Assim, registrou como formas puras que buscam o bem comum: a)
monarquias (governo de um só); b) aristocracia (governo de alguns); c) politeia
(república, governo acessível a todos os considerados cidadãos). E cada uma delas
correspondia a uma forma corrompida: a monarquia poderia se converter em
“tirania”, a aristocracia em “oligarquia” e a politeia em “democracia”. A porosidade de
uma palavra tão antiga provocou uma variação importante em sua tradução: com a
carga positiva que os tempos posteriores foram emprestando à palavra democracia,
politeia passou a ser traduzida por democracia e a forma deturpada por demagogia.
Como muitos de sua época, Aristóteles enxergava a democracia em um sentido
pejorativo. Governo das multidões, governo dos pobres. Governos que ignorariam o
“bem comum” para atender interesses das massas. Diferente de Platão, porém,
entendeu que a melhor constituição política resultaria da combinação dos três regimes
puros: o regime misto (ARISTÓTELES, 2002, p. 51).
Nascido nos últimos anos da antiga Grécia e aprisionado pelos romanos, o
historiador Políbio defendeu que os regimes políticos viviam um ciclo natural: surgiram
monarquias patriarcais que se transformaram em tiranias, daí em oligarquias e
culminaram em democracias. Porém, as convulsões internas do regime democrático
sempre causariam o retorno das tiranias, reiniciando o ciclo. Por isso, analisando o
sucesso do mundo romano, acreditou que o ideal seria a constituição política mista,
com a presença de elementos monarquistas, aristocráticos e democráticos. Aqui,
diferente de Aristóteles, o termo democracia aparece com sentido positivo de governo
popular em contraponto às “olocracias” que seriam indesejáveis governos das
multidões (POLÍBIO, 1923, p. 274-275). A diferença entre um e outro, porém, não seria
a busca do bem comum, mas se o governo seria consentido (característica dos bons
regimes políticos) ou imposto pela força (MOSCA, 1980, p. 58).
Na olocracia ou “governo da turba” (em inglês: mob rule; em grego:
Οχλοκρατία), a vontade efêmera das multidões seria tão brutal que ignoraria as
instituições, as leis positivas e também qualquer outra baliza. Políbio (1923, p. 274-
275) escreve que as democracias nascem como reação popular raivosa contra as
injustiças da oligarquia, forma pervertida da aristocracia justa, porém acabam
morrendo ao ignorar suas instituições e suas regras jurídicas. Portanto, o termo
designaria a versão patológica dos governos populares que agem sem consentimento
das instituições e dos demais grupos sociais.
Portanto, ainda na Antiguidade, o termo democracia já transforma seu sentido,
podendo designar um bom ou mau regime a depender do autor e do contexto da
comunicação.
Observando a discussão grega, Hannah Arendt (2004, p. 21-23) entende que a
política encontra-se baseada na pluralidade humana, na convivência entre os
diferentes. Por isso, ressalta que o “animal político” (zoon politikon) abordado por
Aristóteles não deve ser confundido com a mera capacidade humana de ter relações
sociais, mas sim como uma vocação específica para integrar-se na polis grega. Assim,
enfatiza que o caráter político não deve ser entendido como algo contido no humano,
mas sim nos processos intersubjetivos ou “entre-humanos”.
O sentido fixado por Políbio permaneceu influenciando o debate, mas não
significa que tenha se tornado unânime. Por exemplo, na Idade Média, Marsílio de
Pádua (1997, p. 104-105) entendeu haver dois tipos de governo – expressamente
inspirado em Aristóteles: temperado (monarquia real, aristocracia, república) ou
corrompido (monarquia tirânica, oligarquia e democracia). Assim, a República em
sentido específico buscaria o bem comum, de modo que todo cidadão poderia
participar do governo; porém, a democracia apareceria novamente em sentido
pejorativo como a multidão de pobres, sem consenso e sem busca do bem comum.
Conhecido por suas críticas à Revolução Francesa, Edmund Burke (1756, p. 65-
66) teceu significativa crítica às democracias primitivas: “os homens livres nos
primeiros Estados nunca foram nem mesmo a vigésima parte da população”, de modo
que as primeiras “democracias” eram, na verdade, “lamentáveis e opressivas
oligarquias”. Sempre teriam sido sistemas de domínios das minorias sobre maiorias.

1.2 A democracia dos modernos


Após a queda do sistema feudal e com o advento do Estado moderno, a
caracterização do que seria o regime democrático e seus valores continuaram em
construção. E, em certa medida, confunde-se com a evolução histórica dos
parlamentos modernos e a ascensão da democracia liberal representativa. E, desde os
primeiros parlamentos modernos, a eloquência dos discursos e as estratégias retóricas
desempenharam um papel crucial (PELTONEN, 2016, p. 146).
Em razão de peculiaridades históricas, muitos monarcas medievais passaram a
conviver com órgãos consultivos como o “Conselho do Rei” (King’s Council) ou o
“Grande Conselho” (Great Council) na Inglaterra. Eram órgãos que reuniam
importantes nobres, estrategistas militares e membros do clero – de modo esporádico,
para deliberar questões sensíveis de segurança e finanças. Os Parlamentos, enquanto
locais para a deliberação pública, teriam surgido na Europa como órgãos de apoio aos
reis. Quando se falava em leis do governo, ainda se pensava em ordens “em nome do
rei e do direito comum” – que seriam declaradas, mas jamais criadas pelos conselhos
reais. A lei inglesa era, então, a representação da supremacia do common law, algo
que somente mudaria a partir do século XVII (PIÇARRA, 1989, p. 45-47).
A história dos parlamentos europeus, porém, é também um conjunto de
narrativas sobre pactos, disputas e alianças envolvendo o monarca e as classes
representadas no Parlamento. Com base em uma análise linguística da evolução
parlamentar inglesa, Paul Seaward e Pasi Ihalainen (2016, p. 32-34) argumentam que
conceitos políticos centrais foram marcados por uma “natureza mutável e
frequentemente ambígua” nos discursos políticos. O antigo modelo de soberania dos
reis, derivado principalmente de explicações religiosas, cedia espaço para um modelo
de soberania parlamentar fundado no princípio da representação da sociedade civil.
A experiência inglesa ofereceu narrativas ao mundo moderno, especialmente no
sentido de que uma “assembleia onipotente” causaria “abuso de poder”. No século
XVII, a ocorrência do “Longo Parlamento” demonstraria que os parlamentares podem
ser capazes de usar sistematicamente instrumentos como o impeachment
(considerada ação de natureza penal no âmbito parlamentar) contra ministros do
Governo (PIÇARRA, 1989, p. 48).
Segundo Gaetano Mosca (1980, p. 160-185), o processo legislativo moderno
surge quando os ingleses desenvolvem o costume de elaborar petições nas Câmaras.
Ao final de cada sessão, o Rei as acatava ou não. Portanto, os representantes
parlamentares deliberavam e requeriam a autorização real. No entanto, a democracia
parlamentar ainda continuou restrita a um grupo social seleto, uma vez que os
católicos só conseguiram emancipação política para ocupar cargos públicos e
parlamentares a partir de 1829; os burgueses industriais somente conseguiram o
mesmo a partir de 1832. Até então, era basicamente um sistema oligárquico de antigas
famílias proprietárias de terras.
O desenvolvimento do Parlamento, porém, não foi algo linear e constante. Aliás,
uma visão escatológica progressista da história não encontra qualquer fundamento.
No caso do Parlamento inglês, é possível lembrar sua dissolução e suspensão no
período da Tirania dos onze anos no século XVII (SEAWORD; IHALAINEN, 2016, p. 33).
Edmund Burke (1982, p. 65) ressalta que as práticas parlamentares foram
solidificadas gradualmente. Para que todo governo “fosse submetido à inspeção
constante” pelos “representantes da nação”, o Bill of Rights de 1689 consolidou regras
para o funcionamento dos ministérios do Executivo com reuniões frequentes do
Parlamento. Aos representantes parlamentares, portanto, não caberia apenas legislar,
mas acompanhar efetivamente os rumos dos governos.
É possível notar, então, que a ideia de democracia parlamentar moderna
pressupõe, pelo menos, três conceitos centrais: a) representação da sociedade civil
(dos governados); b) sistema de responsabilidade e fiscalização dos governos perante
o parlamento; c) procedimento de deliberação pública sobre os rumos da sociedade.
As crises políticas francesas também forneceram importantes contextos para a
discussão das ideias políticas e três pensadores foram fundamentais na construção de
sentido do regime popular democrático na modernidade: a) a premissa de um regime
que beneficie todos (pobres e ricos) na obra de Jean Bodin; b) a premissa de que a
sociedade civil deve governar segundo uma “vontade geral”, nos termos de Jean-
Jacques Rousseau; e c) a premissa de que uma vontade nacional representada por
parlamentares deveria ser a única fonte para reconstruir as instituições e as leis
humanas (Emmanuel Sieyès).
Jean Bodin, no século XVI, explicava que a democracia, ou “estado popular”, era
o regime político em que todo o povo ou a maioria deste possui o poder soberano;
mas advertia que nem toda democracia era necessariamente democrática. Dizia que
um governo somente seria democrático/popular se tivesse o condão de beneficiar
coletivamente todos os cidadãos. Por isso, defendeu que os sistemas podem ser
“monarquias”, “aristocracias” ou “democracias” em relação ao número de pessoas que
governam; mas haveria de se pensar um segundo critério: quem são os beneficiados
pelo regime político. Se apenas uma pessoa é beneficiada, se apenas algumas ou se
todos os cidadãos. Nesse sentido, escreveu que todos os três regimes políticos podem
desenvolver governos “democráticos” se beneficiam a todos, ricos e pobres; ou podem
desenvolver governos aristocráticos que beneficiam apenas uma classe ou
monárquicos quando beneficiam apenas um agente. Portanto, não basta analisar
quem é a autoridade soberana, mas também quem está sendo beneficiado (BODIN,
1590, p. 195-199).
Interessante notar que, nesse ponto, a filosofia política de Jean Bodin opta por
uma avaliação dos resultados produzidos no regime político. Além de revelar um
caráter dinâmico, pois o regime que hoje é considerado democrático pode tornar-se
aristocrático quando deixa de beneficiar os cidadãos em detrimento de uma camada
social específica. Logo, não basta olhar o desenho institucional das formas em
abstrato.
Também na França, tornou-se célebre a tese de Jean-Jacques Rousseau (1996, p.
43-55): no legítimo governo republicano, a legislação é quem fornece movimento e
vontade ao corpo político, devendo considerar todo corpo social para atender a
“vontade geral” – que não é o mero somatório das vontades dos indivíduos, mas sim a
vontade de promover o interesse comum do coletivo. Rousseau entendia que as
desigualdades sociais eram artificiais, construídas pela própria sociedade, e que os
Estados possuíam uma tendência de degeneração da vontade geral.
Inspirado no raciocínio de Rousseau, às vésperas da revolução de 1789,
Emmanuel Sieyès argumentava que as leis humanas e as instituições sociais não
poderiam limitar a vontade nacional, pois esta sempre poderá reconstruir aquelas por
meio de seus representantes. A criadora de sua própria constituição deveria ser
promovida pelos representantes da população geral (o Terceiro Estado francês), não
por notáveis e camadas privilegiadas (SIEYÈS, 2001, p. 62-63).
Esses novos elementos, atrelados às ideias de soberania popular ou vontade
nacional, inspiraram revoluções e mobilizações que influenciaram a reconfiguração
política – não apenas dos governos, mas do funcionamento de todas as instituições
sociais.
Considerando essas novas tentativas de reflexão do sentido democrático, é
possível perceber que os juristas, cientistas políticos, historiadores e outros
observadores passam a ser uma espécie de “peritos da argumentação”. Portanto,
deve-se romper, para uma compreensão histórica da “realidade material”, com
supostas ideias cartesianas de busca por um conhecimento indubitável, claro e
reconhecível por qualquer sujeito dotado de razão. Para a compreensão de regimes
como a democracia, não há espaço para formalização dedutiva em moldes quase
matemáticos. É preciso reabilitar um conhecimento prático a partir daquilo que
costuma ser construído na comunicação em seu contexto (ROESLER, 2004, p. 109-117).
Uma postura essencialista da democracia ensejaria na busca por conteúdos
éticos necessários (como o “bem comum” ou a “justiça social”). Por outro lado, a
postura retórica pregaria uma “vinculação milenar” entre retórica e democracia, pois
desejaria maior participação comunicativa dos indivíduos para tornar mais sólidos os
relatos. Essa seria uma visão procedimental da democracia, marcada por uma
aparente neutralidade valorativa – o que não significa que seja necessariamente
tolerante e plural (ADEODATO, 2023, p. 294).
Interessante notar que, apesar das divergências sobre em que consiste o regime
democrático, muitos foram os argumentos modernos contrários a esse tipo de
governo. Também no século XVI, o italiano Francesco Giucciardini afirmou que o povo
era “um animal demente”. A democracia seria um sistema muito vulnerável aos
populistas e demagogos. Além disso, criticou a hipocrisia daqueles que diziam amar a
liberdade, mas que adorariam receber convites para comandar cidades importantes e
governar seu próximo. Por fim, criticou a ingenuidade de autores como Maquiavel que
enalteciam os romanos, mas ignoravam que o contexto político e econômico já não era
o mesmo. (MOSCA, 1980, p. 126).
Observando os exemplos da Antiguidade e de sua época, Edmund Burke
concordou que a principal desvantagem do sistema democrático seria sua própria
“contradição interna”. Os regimes democráticos chegavam ao fim por suas próprias
características, não por fatores externos. Nos tempos de Sólon, por exemplo, cita que
foram os gregos que escolheram revitalizar a tirania: “um homem habilidoso tornou-se
popular”, então o povo transferiu “uma parcela confiável de seu poder para seu
favorito”; porém, o que o tirano teria feito desse poder? “Mergulhar na escravidão
aquele que o deu”. (BURKE, 1756, p. 53-56).
Assim, um regime puramente democrático é visto com desconfiança porque
considerado o mais vulnerável às seduções demagógicas de líderes populares.
Estratégias de diferenciações conceituais também são artimanhas retóricas que
podem servir para a persuasão no mundo político. Exemplo interessante é a estratégia
retórica de uma suposta distinção entre “república” e “democracia” – formulada por
James Madison, e sem “nenhuma base histórica” de acordo com Robert Dahl (2009, p.
26-27). Segundo essa argumentação, a república constitucional consistiria no governo
representativo, enquanto que a democracia seria um “governo pessoal direto dos
cidadãos”. Embora a distinção permaneça influente nos Estados Unidos, ela teria
funcionado para imunizar a constituição norte-americana contra críticas sobre seu
sistema eleitoral indireto, baseado em delegados.
Observando a experiência norte-americana, marcada pelo fortalecimento da
sociedade civil, Alexis de Tocqueville (2001, p. 269-270) pontuou que as leis produzidas
no regime democrático são “quase sempre defeituosas ou imperfeitas, sujeitas a
impulsos passageiros”. Porém, suas vantagens e qualidades seriam percebidas ao
longo do tempo.
Nesse sentido, a democracia passa a ser discutida não apenas como uma forma
de escolha dos representantes, mas também como um modo de governar marcado
por uma sociedade civil forte e organizada, uma “democracia governante”.
De certa forma, a narrativa de “sucesso” do modelo democrático ganhou força, a
ponto de a “democracia” passar a ser, gradativamente, uma das palavras que
costumam atrair simpatia dos auditórios – mesmo que seu sentido não esteja claro.
São estratégias erísticas, que usam termos como “popular”, “democrático”,
“libertador”, “sem preconceito”, “em favor dos direitos humanos” para atrair uma
carga ideológica positiva. Mesmo regimes autocráticos costumam se apresentar como
uma renovação da “verdadeira democracia”. Portanto, enxergar-se como projeto
democrático é algo comum tanto em setores da esquerda como da direita ideológica
(ADEODATO, 2022, p. 46). E, muitas vezes, costumam alegar que o antidemocrático é
aquilo que eles rejeitam.
A disputa retórica sobre o que é a democracia, ou qual versão da democracia
deve prevalecer, foi tematizada também por Hans Kelsen. No século XX, observando as
tentativas soviéticas de redefinir a “verdadeira democracia”, argumenta que “a melhor
forma de combater a democracia” é convencer o povo que é muito mais importante
um “governo para o povo”, fundado no interesse das massas, do que a questão da sua
efetiva participação. Afirma, portanto, que a manipulação terminológica da
democracia geraria sistemas antidemocráticos, autocratas (KELSEN, 1993, p. 100; 145).
Segundo a dicotomia kelseniana, os regimes políticos podem ser democracias ou
autocracias. Porém, chama atenção para o fato de que “vontade do povo é uma figura
retórica e não uma realidade”, como se fosse possível tal separação. Portanto, a antiga
ideia de consentimento dos governados deve ser entendida como a participação no
governo. Esta seria a “característica essencial”: participar das decisões governamentais
significa participar da “criação e aplicação das normas gerais e individuais” do
ordenamento jurídico, que é a ordem social constituinte da comunidade (KELSEN,
1993, p. 140-142).
Hans Kelsen (1993, p. 263-264) até chega a afirmar que a democracia seria
compatível com sistemas socialistas, mas que seria imprudente manipular o conceito
de democracia para legitimar governos autocratas. Em seu entender, a crença de que
necessariamente o poderio econômico se sobrepõe ao poder político da democracia
também não encontraria nenhum fundamento.
Por fim, a tese kelseniana também parte do pressuposto de uma democracia
representativa, com partidos políticos fortes e desenvolvidos. Afirmar que o povo
participa do governo e, portanto, da criação e aplicação da ordem jurídica não significa
necessariamente um envolvimento direto. O “povo” (demos) não seria um mero
conglomerado de indivíduos, mas as forças sociais organizadas em partidos para
efetivação da liberdade política (KELSEN, 1993, p. 36-42). E que “a única maneira de se
apurar a vontade do povo é o processo democrático, isto é, eleições com base no
sufrágio universal, igualitário, livre e secreto” (KELSEN, 1993, p. 261-262).
Caso sejam enfatizados os procedimentos eleitorais e partidários, o respeito aos
resultados eleitorais e o funcionamento das instituições previstas pelo ordenamento
jurídico, que foi produzido democraticamente pelos representantes das forças sociais,
então há uma democracia no sentido kelseniano. E, assim, países como o Brasil podem
ser enquadrados como democráticos – ainda que surjam grupos minoritários
defendendo a descrença ou ilegitimidade do sistema.
Por outro lado, caso se afirme que somente há democracia “plena” quando
inexistem famintos (não pela sua eliminação violenta, mas por justiça social), sendo
esta uma exigência material, então se chegaria à conclusão de que “o Brasil nunca foi
uma democracia e está longe de sê-lo” (ADEODATO, 2022, p. 47).
Ainda permanece, porém, a antiga crítica de Edmund Burke, no sentido de que
os sistemas democráticos podem ser uma oligarquia especial. Na Itália
contemporânea, Vilfredo Pareto argumenta que todos os regimes possuem tendência
oligárquica, correspondendo sempre ao governo de uma elite; e a alternância de poder
seria, na verdade, uma “circulação de elites”. Também Gaetano Mosca assevera que a
“classe política dirigente” sustenta o funcionamento das instituições políticas e é ela
quem dá o tom ideológico por fórmulas políticas institucionalizadas (MOSCA, 1980, p.
306-307).
De forma mais pessimista, Hans-Hermann Hoppe tem combatido o regime
democrático, enxergando-o como um sistema dominado por burocratas que não
representam a vontade do povo e não agem em benefício de todos. Para agradar
eleitores e conquistar as próximas eleições, a classe política apenas pensaria em
estratégias de curto prazo e pouco sustentáveis. Além disso, o sistema ainda geraria
políticas corporativas e corrupção, na medida em que cada grupo tenta obter
melhores vantagens para si. O autor até conclui que a transição para a democracia
“representa, na verdade, um declínio civilizatório” (HOPPE, 2014, p. 101).
Crítica semelhante à democracia representativa já havia sido produzida por
pensadores ligados ao nazismo, ao fascismo e até ao integralismo brasileiro.
A democracia, tanto na versão dos antigos como na dos modernos, não possuía
uma essência atemporal, unânime e externa à linguagem social. Assim, por meio da
retórica material, adota-se aqui uma concepção filosófica que evita a tentativa ingênua
de fixar conteúdos, permitindo uma compreensão mais ampla das diferentes posições
e narrativas ao longo da história. “O que é a democracia” poderia ser substituída pela
questão de “como a democracia tem sido entendida”, de modo que é possível
considerar a abertura de sentido às incertezas do futuro e que essas realidades
materiais estão em constante adaptação social. Mas como mudam e por qual razão
estão mudando? Por comportamentos estratégicos dos atores sociais – que é o tema
do próximo tópico.
Ao final deste primeiro tópico, é possível obter como conclusão preliminar que a
“existência material” do regime democrático é uma construção retórica social que não
pode ser considerada como algo estanque. Se fosse possível “fotografar” as
instituições democráticas, apenas seriam registrados eventos ou cenas episódicas;
perdendo a compreensão do movimento como um todo. Disso não se conclui que os
regimes políticos sejam construções arbitrárias, pois conectados com problemas
sociais e contextos históricos específicos – que são comunicados intersubjetivamente,
de modo que a própria linguagem se encarrega de fornecer um controle contingente.
Resta analisar como as retóricas estratégicas tentam moldar essa atribuição de
sentido sobre as características do regime democrático, especialmente em face de
problemas locais contemporâneos.

2. RETÓRICAS ESTRATÉGICAS PARA A ORIENTAÇÃO NORMATIVA DO REGIME


DEMOCRÁTICO

Refletida a democracia em uma perspectiva de retórica material, foi possível


compreender seu “ser” como uma dinâmica social constante, sempre em construção e
aberta aos elementos históricos de cada contexto. A palavra foi mantida e passou a ser
amplamente utilizada pelas mais diversas ideologias. No entanto, a compreensão
retórica da Escola de Mainz também enfatiza a existência de um segundo nível
retórico: a “retórica estratégica”. Esta pretende abranger as observações que tentam
prescrever e modificar a atuação das instituições e dos diferentes sujeitos para a
manutenção ou construção do regime democrático. Trata-se, portanto, de
estratagemas que pretendem controlar a prática jurídica e política para influenciar a
ação real dos sujeitos (REIS, 2014, p. 30).
Ao observar a democracia enquanto retórica material no tópico anterior, já é
possível identificar algumas estratégias nas tentativas de definição. Isso porque a
distinção dos três níveis retóricos (material, estratégico e analítico) é uma construção
didática, uma vez que todos eles se encontram imbrincados na vida real. No entanto,
neste tópico, será possível enfatizar a atuação de discursos que tentam operacionalizar
o funcionamento dos regimes políticos para que eles sejam “democráticos” – ou até
“mais democráticos” do que na atualidade.
Uma das tentativas mais antigas de normatizar a democratização dos regimes
políticos consiste na ideia de que os regimes políticos, dentre eles a democracia,
precisam constantemente formar um governo estável, distante das injustiças e das
paixões passageiras. Por não conseguir alcançar esse estado de coisas, a antiga
democracia grega fracassou (CÍCERO, 2019, p. 35-37). Nesse sentido, os regimes
poderiam construir instituições mais estáveis mediante a adoção de fórmulas e
mecanismos que consigam controlar as paixões.
Ao longo da história, portanto, a pretensão de indicar postulados para aprimorar
as instituições e orientar seu funcionamento aparece de modos variados. São
alegações sobre finalidades a serem alcançadas e sobre os métodos que permitiriam
sua concretização.
Como visto no tópico anterior, uma definição contemporânea do regime
democrático pode envolver diferentes fatores. Dentre os mais citados, aparecem: a
igualdade de voto, a igual oportunidade de informação e a participação efetiva da
sociedade. Tudo isso se justificaria, na teoria, para evitar a tirania e para proteger
direitos e liberdades básicas. Porém, mesmo seus defensores entendem que esse é um
julgamento idealista sobre o que é o regime democrático e sua justificativa para
adoção presente e futura – que não necessariamente se reflete na prática política dos
governos (DAHL, 2009, 40-58).
Robert Dahl (2009, p. 99) propõe critérios de conteúdo para consolidar
instituições específicas em prol do regime democrático moderno: a) eleição de
funcionários públicos; b) eleições livres, justas e frequentes; c) liberdade de expressão
e de associação; d) fontes diversificadas de informação; e) cidadania inclusiva. No
entanto, e essa é uma das questões principais, o modo de realização concreta dessas
instituições não pressupõe um único caminho; inexiste uma receita universal sobre
como essas questões serão tratadas. Por isso, o segundo nível de compreensão da
retórica aponta para a necessidade de verificar esses discursos estratégicos
prescritivos.
Na defesa de um modelo normativo liberal, autores como John Locke (2001, p.
162-169) defendem que os governos sejam limitados e supervisionados pelo
Parlamento, podendo este depor os governantes incapazes de proteger direitos
subjetivos básicos. A estratégia, nesse sentido, consiste em produzir discursos que
atrelem a qualificação de democracia ao efetivo respeito às liberdades fundamentais,
com consentimento dos governados por meio de seus representantes no Parlamento.
Ressalte-se que todos os pensadores, da tradição liberal ou não, estão imersos
em características e condições específicas de seu contexto. Locke, por exemplo, havia
participado do contexto do Bill of Rights e da vitória da supremacia parlamentar no
final do século XVII (CHEVALIER, 1999, p. 110-115).
Dentre os liberais do início do século XIX, Benjamin Constant (1989, p. 118-119)
propõe o curioso argumento de que a democracia constitucional seja limitada a
pessoas que possuem propriedade porque esta garantiria “o ócio necessário à
capacitação do homem para o exercício dos direitos políticos”, de modo que os
cidadãos precisariam ter “tempo livre indispensável” para avaliar as questões públicas.
E acrescenta: as multidões tentarão “distribuir a propriedade em mãos de maior
número”, de modo que os pobres preferirão a política profissional ao invés de
trabalhar – o que causaria desordem e corrupção.
Propostas distintas nas décadas seguintes podem exemplificar outros rumos e
objetivos. Caso interessante é o debate sobre mecanismos de inclusão das minorias na
estrutura parlamentar e nas instituições formais. Anne Phillips (2011, p. 341-348), por
exemplo, argumenta que apenas a representação adequada dos grupos minoritários
pode garantir a legitimidade de uma genuína democracia. São propostas que também
podem ser pensadas a partir de um procedimentalismo sensível às diferenças.
Segundo a autora, questões como a desigualdade de gênero são ignoradas pela
democracia liberal. A democracia precisa reconhecer não apenas o indivíduo, mas
também os grupos sociais e sua condição de vulnerabilidade e discriminação no
ambiente social. Defende, portanto, que os procedimentos eleitorais “devem espelhar
a composição sexual, racial e, onde for relevante, nacional [étnica]”. No entanto, não
basta focar um único critério como o sexo, pois a definição de identidade social
também leva em consideração outros fatores e características. Se algum grupo
encontra-se “sub-representado”, é porque alguém está obtendo vantagem.
Ao lado deste debate, também tem ganhado força a ênfase de que existem
decisões políticas que adquirem escala global, ultrapassando as fronteiras nacionais.
Diante disso, o debate sobre uma “democracia global” para enfrentar os desafios da
comunidade política mundial tem sido enfatizado por diferentes teóricos recentes.
Dentre as principais proposições, David Held (p. 369-399) esclarece que não se
deve generalizar a realidade política de todos os lugares do globo, uma vez que as
políticas nacionais de alguns países se encontram mais integradas em sistemas
econômicos e processos mundiais do que outras experiências locais. Além dos avanços
tecnológicos na comunicação e transporte das últimas décadas, novas práticas de
transações financeiras e internacionalização da produção de bens e serviços catalisam
transformações e desafios para o regime democrático. Logo, o papel do Estado-nação
e da ordem internacional está mudando. Ao final, opina que os agentes devem
construir um “modelo federal de autonomia democrática” – marcado pelo
consentimento dos governados e pela igualdade política.
Além de tudo isso, o positivismo jurídico, por meio de seu relativismo axiológico,
teria permitido constituir uma “teoria jurídica da democracia”. Afinal, ao descartar
conteúdos éticos necessários, o direito seria constituído segundo suas próprias regras
em seu procedimento decisório. Logo, seu conteúdo varia de acordo com as escolhas
da sociedade em procedimentos institucionalizados (ADEODATO, 2023, p. 124).
Por outro lado, Alain Touraine (1996, p. 21-35) critica a visão procedimental que
estabelece a democracia como método de participação ou deliberação. Sua estratégia
é propor um conceito de “democracia da libertação” para que as instituições e os
atores sociais busquem afirmar uma “liberdade pessoal com o direito de identificação
com uma coletividade social”. Dito de outro modo, os regimes democráticos devem
atuar para a emancipação comunitária com a preservação da autonomia e do livre
desenvolvimento dos indivíduos, promovendo sua igualdade. Como fazer isso é uma
questão complexa, que abre espaço para muitas divergências. Touraine ainda chama
atenção para o fato de que os regimes democráticos podem ser destruídos tanto “por
cima” (governos e poderes autoritários) como também por sua base social (violência,
caos, indiferença). Por isso, há de se preservar a qualidade da informação, a
participação política e também uma cultura democrática para busca de igualdade.
Em uma conferência ministrada em 1959, Norberto Bobbio (2010, p. 23)
assinalou que a ideia de democracia “como autogoverno do povo” é um mito que a
história desmente todos os dias. Inspirado em italianos como Vilfredo Pareto e
Gaetano Mosca, também acredita que quem “governa” é sempre uma minoria, um
pequeno grupo ou alguns grupos que disputam entre si. Para tornar um sistema
político realmente democrático, deve haver três fatores: a) a “formação da minoria
dirigente” por meio de eleição popular; b) a “verificação periódica de consensos” com
limitação de mandatos e realização de eleições periódicas; c) a “mobilidade dos grupos
políticos”, ou como dizia Vilfredo Pareto, a “circulação das elites políticas”, isto é,
possibilidade de alternância do poder e dinâmica sobre quem é governo e oposição.
Bobbio também não se contenta em observar a democracia apenas com base
nos seus meios (sufrágio universal, prática parlamentar, proteção de direitos), pois tal
regime político se justificaria pela finalidade: o ideal de buscar realizar a justiça e a
“igualdade entre os homens”. Logo, uma retórica normativa e estratégica é necessária,
pois o desenvolvimento democrático seria uma construção cotidiana. Se o regime não
servir para melhorar a condição humana, “seria pura expressão de poder”. E, ainda
que surjam desilusões e amarguras no processo, a política não poderia ser restringida
às intrigas e disputas de domínio – por isso, a sociedade continua se movendo e a
democracia é conquistada diariamente (BOBBIO, 2010, p. 38-41).
Também preocupado com a questão da justiça social e a igualdade material,
Paulo Bonavides (1996, p. 49-55) adota um tom normativo sobre o regime
democrático, ao afirmar que somente haverá regime democrático com a existência de
um Estado Social; e, sem a democracia, não poderia haver legitimidade do Estado
Social. Entende, portanto, que a filosofia política moderna, gerada com contradições,
estabeleceu uma forma estatal que, ao longo da história, reprimiu uma “democracia
das massas”, uma “democracia governante”. Portanto, a afirmação de direitos sociais,
de igualdade e de justiça social estaria entrelaçada com a defesa do regime
democrático em uma relação simbiótica.
Com base nesses argumentos são construídas narrativas prescritivas que indicam
que as autoridades políticas e jurídicas, bem como os atores sociais em geral, devem
atuar para reduzir as desigualdades sociais segundo as regras estabelecidas pelo
método eleitoral representativo.
Em crítica à democracia real, porém, Zygmunt Bauman (2000, p. 157-159) afirma
que “uma das mais poderosas utopias modernas” é a democracia liberal. Por isso, o
autor distingue as “formas utópicas” das “formas reais” de democracia, concluindo
que o mito da democracia liberal tem o aspecto funcional de “manter a eficiência
política do Estado no seu papel de guardião da paz e de mediador entre os interesses
do grupo e dos indivíduos”. Em sua visão, a lógica do mercado teria desvirtuado os
princípios democráticos, de modo que a primazia das “leis do mercado sobre as leis da
pólis” transforma o cidadão em mero consumidor (ou produto). Isso repercute para
um maior distanciamento entre “democracia ideal” e sua versão real.
De fato, nem toda democracia é liberal e nem todo liberalismo é democrático
(ADEODATO, 2022). A ênfase na autonomia dos indivíduos ou nos aspectos
comunitários de solidariedade social varia entre os autores, mas não constitui uma
dicotomia obrigatória.
Não apenas as estratégias sobre como tornar os regimes mais democráticos
podem ser enfatizadas. Também as retóricas sobre as crises do regime democrático e
como podem ser evitadas ganham força como um programa de pesquisa. Diversos
elementos podem contribuir para a formação dessas narrativas: manifestações sociais
que pregam o fim da democracia, partidos políticos não democráticos, alto índice de
abstinência eleitoral, crise de reputação social, descrença. Além disso, a influência de
algoritmos e de meios da cultura de massas também ameaça a tradicional noção de
autonomia individual e exercício da soberania popular.
Por tudo isso, identifica-se uma arena de debates entre as diferentes estratégias
normativas sobre como os regimes políticos devem ser democratizados. Esse conjunto
de debates merece maior atenção de todos os interessados na dinâmica da
organização política da sociedade.
Consideradas todas essas perspectivas, o artigo passa a enfrentar o último nível
retórico da reflexão: a proposta de uma retórica analítica como campo para a
produção de conhecimento sobre o regime democrático brasileiro.

3. EXPECTATIVAS EM TORNO DE UMA RETÓRICA ANALÍTICA DA DEMOCRACIA E SEUS


DESDOBRAMENTOS NA REALIDADE POLÍTICA BRASILEIRA

Compreendendo a análise da democracia a partir da retórica material (tópico 1)


e da retórica estratégica (tópico 2), é enfrentado, a partir de agora, o último nível da
proposta retórica de Mainz: a retórica analítica enquanto metódica da ciência política
para compreensão dos regimes democráticos.
Isaac Reis (2020, p. 145-147) argumenta que a análise retórica pode contribuir
para a compreensão da defesa da democracia e das instituições políticas, na medida
em que o contexto político brasileiro é formado por processos discursivos. Como já foi
dito nos tópicos anteriores, a retórica pressupõe um caráter precário, provisório e
conflituoso dos discursos: disputas de narrativas que constituem aquilo que se
considera “realidade social”. Assim, uma retórica da crise da democracia é produzida
pelas comunicações na mídia, autoridades públicas, mobilizações sociais. Ao analisar
esses discursos em seu devido contexto, é possível construir pesquisas empíricas com
potencial de contribuição e impacto social.
Um caso ilustrativo pode auxiliar a visualização de um programa de pesquisa à
luz da retórica analítica. Em junho de 2023, foi proferida decisão do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) que declarou a inelegibilidade por oito anos de Jair M. Bolsonaro, ex-
Presidente do Brasil. Trata-se da Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) nº
0600814-85.2022.6.00.0000, que discutia o enquadramento das condutas do referido
político como abuso de poder na época em que exerceu a Presidência da República.
Tal decisão, com forte impacto no mundo político, é construída justamente a partir de
uma argumentação sobre defesa das instituições democráticas. E mais: verifica a
ocorrência, até então inédita, de uma decisão judicial eleitoral que reconhece a
conduta presidencial como abuso de poder político contra o regime democrático e
suas instituições.
Nesse caso específico, é possível aplicar a retórica analítica para o exame da
argumentação fornecida pelo propositor da Ação (o Partido Democrático Trabalhista),
pelos investigados, pelo Ministério Público e pelos demais sujeitos. Mas torna-se ainda
mais pertinente a análise da fundamentação dos votos proferidos pelos sete membros
julgadores daquele tribunal. Por exemplo, no caso do voto oral do Relator, o Min.
Benedito Gonçalves, é possível perceber que suas primeiras frases fornecem uma
espécie de satisfação à sociedade sobre a extensão do voto: “quero ressaltar para o
público que nos acompanha, que a minuta do voto, com 382 páginas, foi distribuída
antecipadamente aos membros do colegiado”. E justifica a quantidade de páginas com
base em três pontos: o caráter paradigmático do caso, a “magnitude” da discussão das
provas e a organização cronológica detalhada de todos os eventos fáticos.
Também no voto do ministro relator, são encontrados trechos explícitos que
alegam uma descrição objetiva dos fatos e, posteriormente, a “subsunção dos fatos às
premissas de julgamento” (BRASIL, 2023, p. 9 do voto). No entanto, na parte final de
seu voto, também são apresentadas considerações críticas que possuem conexão
emocional com o público que o escuta: destaca a “virulência” contra a “trajetória de
três Ministros Presidentes do TSE” e ataca a “covardia” de “acusações forjadas contra
servidores da Justiça Eleitoral” (BRASIL, 2023, p. 195).
Somente esses aspectos destacados acima já permitem reflexões importantes
sobre a interação discursiva entre juízes e sujeitos extraprocessuais (sociedade civil,
representantes da mídia, servidores do TSE), sobre o raciocínio jurídico (se seria
mesmo uma aplicação silogística) e ainda os elementos emotivos que não se encaixam
em categorias típicas da lógica formal. Katharina von Schlieffen (2022, p. 11), por
exemplo, ressalta a prática jurídica enquanto atuação teatral direcionada para uma
plateia, que não funciona com deduções e raciocínios silogísticos como geralmente se
costuma afirmar.
A retórica analítica, na condição de esforço de compreensão do fenômeno
jurídico-político, não pretende apontar qual deve ser a melhor narrativa nem mesmo
adivinhar o que será considerado plausível e aceito na sociedade. O futuro está em
aberto. Discursos que prevalecem sobre a democracia atual podem ser desafiados a
qualquer momento; a sociedade está sempre redefinindo seus critérios e conceitos.
Desse modo, a pesquisa retórica é, por excelência, a investigação da prática
jurídica com seus elementos contextuais de cada discurso produzido (SCHLIEFFEN,
2022, p. 31-32). E, sendo assim, a pesquisa jurídica sobre a defesa da democracia
exige, cada vez mais, efetivo monitoramento das práticas argumentativas – tanto em
espaços institucionais formais como em outros espaços de mobilização retórica.
Diante da impossibilidade de os eventos e as linguagens serem portadores de um
significado “correto em si mesmo” (ADEODATO, 2023, p. 373), é também necessária a
institucionalização de significados, a fim de controlar o caráter errante dos arbítrios do
momento.
Em momentos de crise política, retóricas autoritárias podem surgir para desafiar
a credibilidade e o reconhecimento social dos mecanismos democráticos. Podem até
mesmo tentar destruir e suprimir os espaços deliberativos. Por esse motivo, Isaac Reis
(p. 152-153) defende, de modo estratégico, que a perspectiva retórica possui um
compromisso ético com a defesa dos valores democráticos, devendo ser um “poderoso
antídoto contra o fascismo e a intolerância” e promovendo ampla participação social
nas tomadas de decisão.
No entanto, a produção discursiva da retórica analítica não tem essa pretensão
normativa. A existência de retóricas estratégicas e materiais é um pressuposto de
análise, mas o objetivo é uma tentativa de compreensão descritiva dos elementos
presentes nesses discursos. Ao observar tais discursos, pretende desmascarar as
estratégias, falhas e padrões da comunicação social. Funciona, portanto, como uma
espécie de vigilância republicana sobre a atuação do direito.
Nesses termos, defende-se que a retórica analítica não tem pretensões
prescritivas para alterar os rumos dos regimes políticos, mas também não as aniquila,
na medida em que apenas se propõe a conhecer melhor as diferentes estratégias de
persuasão utilizadas na comunicação jurídica e política.
Uma das possibilidades dessa retórica analítica é, portanto, realizar um
mapeamento das estratégias e recursos empregados em cada frase utilizada na
fundamentação dos votos decisórios. Mesmo aqueles trechos que não teriam,
aparentemente, relevância jurídico-formal, mas que podem indicar padrões no estilo
de comportamento decisório. Tais mapeamentos podem ser produzidos de incontáveis
modos: gráficos e porcentagens sobre a frequência de cada estratégia, produção de
tabelas que forneçam uma sistematização ou catálogo dos tipos mais recorrentes de
argumento ou mesmo análises qualitativas que comparem a alegação discursiva
(promessa institucional) e seu efeito real. Estes são alguns exemplos.
E, tal como em decisões do Tribunal Superior Eleitoral sobre inelegibilidades,
também pode ser possível estimular pesquisas retóricas sobre democracia a partir dos
mais diversos tipos de processos judiciais e extrajudiciais que tratem de restrição de
direitos políticos, responsabilidade de sistemas e meios de comunicação, controle da
atuação partidária, fiscalização de procedimentos eleitorais, dentre tantos outros.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao fim, este artigo produziu um conjunto de reflexões sobre a adoção do


referencial teórico da pesquisa retórica às discussões sobre o regime democrático e
sua defesa por meio das ferramentas jurídicas. Discutiu-se, portanto, a democracia
enquanto produto linguístico dinâmico a partir das contribuições teóricas dos juristas
da Escola de Mainz e da retórica jurídica em geral.
Em um primeiro momento, foram refletidos os padrões conceituais no âmbito da
retórica material da democracia. Nesse sentido, foi possível analisar a questão a partir
de um enfoque histórico-discursivo que observasse o caráter provisório e conflituoso
da disputa de visões sobre o que é considerado democrático nos regimes políticos.
Também foi possível refletir sobre as estratégias prescritivas para a modificação
dos objetivos da democracia. Estas retóricas estratégicas influenciam os rumos
políticos das sociedades, mantendo uma abertura ao futuro por serem incapazes de
fixar conteúdos de modo definitivo. Ao analisar seu funcionamento empírico, as
possibilidades de pesquisas retóricas (retórica analítica da democracia) aparecem
como potenciais contribuições para uma melhor compreensão da ciência política
brasileira.
Por meio da reflexão das possibilidades de emprego da retórica analítica à
compreensão sobre o funcionamento dos regimes democráticos, também foi possível
refletir sobre o exemplo dos julgamentos do Tribunal Superior Eleitoral no Brasil como
mobilizações que podem alterar a dinâmica das instituições democráticas. Em especial,
no caso do julgamento da inelegibilidade de ex-Presidente da República, foi possível
verificar que ainda permanecem discursos que envolvem alegações silogísticas,
objetividade de fatos e combinação com elementos emocionais em fundamentação de
votos e decisões judiciais.
Todas as reflexões apresentadas apontam para a necessidade de continuidade e
ampliação da produção de pesquisas empíricas e circunstanciadas sobre a
comunicação jurídica em torno da evolução do regime democrático. O termo
“evolução”, em razão da abertura ao futuro, não significa uma continuidade
progressiva nem um julgamento de bom ou mau funcionamento, pois diz respeito ao
caráter dinâmico das instituições que estão sendo permanentemente construídas.

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