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Monografia
Licenciatura: Direito
Opção: Jurídico-Forense
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Licenciatura: Direito
Opção: Jurídico-Forense
“João, 8-32”
DEDICATÓRIA
Começaria por dedicar esta obra aos meus pais, Pedro Nunes e Nsimba Maria
José, que sempre souberam dignar-se aos seus lugares de educadores e encorajando-me
sempre a trilhar na formação.
Analogamente dedico aos, Dr. Altino Marcelino Kavimbi, PhD. Aníbal Simões,
pelo grau de maior responsabilidade assumida, nas condições difíceis, souberam ajudar-
me a superar todos os obstáculos nesta inacessível caminhada, bem como a todos que
directa ou indirectamente estiveram ao meu lado em todos momentos.
Com eloquente consideração e maior valia, quero antes agradecer a Deus Pai
Todo Poderoso que sempre garantiu segundo a sua graça, a disposição necessária e
suficiente para que hoje, tudo quanto desejei e pedi se tornasse uma realidade.
Como não podia deixar de ser, maior consideração vai para a direcção da
Universidade Jean Piaget, bem como para todos seus dirigentes desde a sua instituição
até ao momento, pelos feitos produzidos nesta parte do território nacional.
ÍNDICE
EPÍGRAFE
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 10
CAPÍTULO I
O PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO E O CONSTITUCIONALISMO
MODERNO
1. A Génese do poder constituinte ........................................................................... 13
2. Noção de Poder Constituinte ............................................................................... 17
3. O Poder constituinte material e formal ................................................................ 21
4. Natureza Jurídica do poder constituinte originário.............................................. 25
5. Características do poder constituinte originário .................................................. 29
6. Titularidade do poder constituinte ....................................................................... 32
7. Formas de manifestação do poder constituinte.................................................... 36
8. A Ciência Jurídica e O poder Constituinte .......................................................... 38
CAPÍTULO II
A PROBLEMÁTICA ACTUAL DO PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO
FRENTE AOS DIREITOS HUMANOS
1. Evolução Histórica dos Direitos Humanos .......................................................... 42
2. A Constitucionalização dos direito humanos ...................................................... 46
3. Conceito de Direitos Humanos ............................................................................ 48
4. Distinção dos Direitos Humanos e Direitos Fundamentais ................................. 50
5. Limitações ao poder constituinte originário ........................................................ 54
6. Os Direitos Humanos como limites ao Poder Constituinte Originário ............... 58
7. Os Tratados de Direitos Humanos Como Limites ao Poder Constituinte
Originário .................................................................................................................... 60
Conclusão ....................................................................................................................... 65
Recomendações .............................................................................................................. 67
Referências Bibliográficas .............................................................................................. 68
SIGLÁRIO
Art – Artigo
Este trabalho vai abordar os aspectos pontuais acerca do poder constituinte originário. O
presente tema é tratado pela doutrina nacional de forma ortodoxa, levando à
caracterização deste poder como inicial, incondicionado e ilimitado. Entretanto, o que
se pretende demonstrar é que o princípio democrático não pode ser absoluto, por mais
nobre que seja sua fonte.
10
1. OBJECTIVOS
1.1 Objectivo Geral
O presente estudo tem como objectivo geral estudar e compreender a questão
ilimitadora do poder constituinte originário, buscar seu enquadramento nos dias de hoje,
apresentar as suas características e, poder restringi-lo com a dignidade da pessoa
humana.
É de ressaltar ainda, que o assunto em análise tem uma grande pertinência, pelo
facto de todos Estados serem regidos por uma constituição criada por si mesmo através
do poder constituinte, pois, é dele que surge a carta magna de um Estado o qual guia e
limita a produção das normas, além do mais o assunto é dos mais estudados nas
disciplinas de teoria da constituição inerente aos estudantes do curso de direito.
3. Metodologia
Quanto a metodologia, o nosso estudo obedeceu a pesquisa exploratória visto
que o objectivo é o de proporcionar maior familiaridade com o problema em análise,
com vista a torná-la mas explícito. O procedimento técnico implementado neste trabalho
foi o método de pesquisa bibliográfica e documental. Quanto ao método de abordagem
utilizado neste trabalho foi o método de abordagem dedutivo. E por último, quanto ao
método de procedimento, usamos o método monográfico e o método comparativo.
11
CAPÍTULO I
12
1. A Génese do poder constituinte
O poder constituinte é uma ideia que emergiu na cultura ocidental no século
XVII e XVIII, associada entre si, na saliência da ideologia revolucionária depois
denominada liberalismo, que insurgiu contra o absolutismo real para defender a
liberdade individual. As teorias antigas já diferenciavam as leis de organização política
das normas comuns, como regista Aristóteles. Na prática dos gregos, havia até uma
acção jurídico-política, a (graphé paranomon) para impugnar a legislação que
afrontasse as normas fundamentais da pólis. Foi com este fundamento que levou a
ideologia medieval à explicar a sociedade política dois pactos tácitos:
A sujeição (pactum subjectionis), pelo qual todos se sujeitavam a um
senhor, depois de terem entrado em sociedade;
Por outro a união (pactum unionis).
A doutrina das leis fundamentais do Reino tem outro aspecto interessante, que já
nos leva relativamente próximos da doutrina do Poder Constituinte. É que, embora os
legisladores franceses, na sua maioria, ensinassem que aquelas leis fundamentais eram
imutáveis, houve entre eles quem ensinasse que tais leis eram mutáveis, mas só
poderiam ser modificadas por um processo especial, isto é, o monarca não poderia
alterar as leis fundamentais do Reino, que seriam sempre superiores a ele, mas a reunião
dos Estados Gerais (os três Estados):
Clero;
Nobreza; e
Povo – poderia, ela sim, modificá-las.
13
Afirma Vanossi (1975. p. 13), que o abade francês adicionou à teoria da
separação de poderes, a peça que lhe faltava, “a concepção de um poder constituinte
como autor e responsável pela formação e distribuição dos poderes constituídos”.
Nestes passos, Touchard (apud Vanossi, op.cit, p. 11), assevera que Sieyés,
não atribuiu nenhuma importância à história.
14
Transmutado em Nação, foi o povo a justificativa da Revolução Francesa. O
Terceiro Estado aclamado por Sieyés, (op. cit. p.120), é absoluto e ilimitado. “Qualquer
que seja a forma que a nação quiser, basta que ela queira; todas as formas são boas, e
sua vontade é sempre a lei suprema”.
Ao definir o Terceiro Estado, Sieyés (op. cit, p.72) garante que “é preciso
entender o Terceiro Estado como o conjunto dos cidadãos que pertencem à ordem
comum”. Tudo o que é privilegiado pela lei, de qualquer forma, sai da ordem comum,
constitui uma excepção à lei comum e, consequentemente, não pertence ao Terceiro
Estado. De acordo com Sampaio (2004, p. 189), “nem só de pobres era composto o
Terceiro Estado, mas também da burguesia e classe média”, concluindo que o terceiro
factor era político.
Mais uma vez, percebe-se que o conceito de nação do abade era reducionista. Ao
considerar a ordem nobre um povo à parte da grande nação, o autor pretendeu ser
revolucionário. A mesma acusação, porém, que fez à nobreza, sobre ser esta realmente
imperium, pode ser feita à sua classificação da elite sobre a cidadania. Evidência do não
enquadramento do povo real no conceito de nação foi à insurgência de vários
constituintes contra a adopção de uma carta de direitos antes que a constituição francesa
15
fosse integralmente escrita. O motivo de tal posicionamento seria o medo de conceder
direitos em excesso, ao invés de conceder poucos.
16
2. Noção de Poder Constituinte
Sendo assim o poder constituinte pode ser definida como, o poder de elaborar as
normas constitucionais, a faculdade de um povo definir as grandes linhas do seu futuro
colectivo através da feitura da constituição. Esta definição abarca dois sentidos no que
toca ao poder constituinte, isto é, no sentido amplo o poder constituinte abrange a
produção de todas as normas constitucionais, incluíndo as de origem consuetudinárias.
Ao passo que, em sentido estrito, traduz-se apenas na elaboração das normas
constitucionais escritas que são a trave mestra do ordenamento jurídico.
17
Como já se vez referência acima sobre o conceito de poder constituinte, que este
parece-nos mais ou menos convergente em termos doutrinários, e é de salientar que,
Pimenta apresenta a sua conceituação com mais ênfase ao poder social. Já para Franco
(2007, p. 78) define “o poder constituinte como o poder de produção das normas
constitucionais por meio do processo de elaboração ou reforma da constituição, com o
fim de atribuir legitimidade ao ordenamento jurídico do Estado”.
Poulson (2009, p.57) realça, “entende-se por poder constituinte a faculdade que
determinada força política (povo ou determinado grupo organizado de pessoas) tem de
aprovar, rever ou alterar a constituição”.
18
fundamental. Nesta mesma esteira para Gomes Canotilho, o titular do
poder constituinte só pode ser o povo, que na actualidade, se entende
como uma grandeza pluralística formada por indivíduos, associações,
grupos, igrejas, comunidades, personalidades, instituições, veiculadores,
ideias, crenças e valores, plurais, convergentes ou conflituantes.
Aprovar, rever ou alterar a constituição – o poder constituinte visa
aprovar uma constituição ex novo rever ou alterar uma constituição já
existente.
19
ordem interna, porquanto soberania significa faculdade originária de livre regência da
comunidade política mediante a instituição de um poder e a definição do seu estatuto
jurídico.
20
3. O Poder constituinte material e formal
De acordo com Miranda, (op. cit, p.528), para que se surja o poder constituinte
material “deve haver, pois, um contexto político de ruptura com a situação política ou o
regime político até então vigente, com a respectiva tradução numa nova ordem
constitucional”. Neste caso, a entidade determinante do conteúdo essencial dessa
Constituição é a entidade (força política ou social, movimento militar ou popular,
monarca, órgão, grupo, etc.) que influencia a mudança política.
21
O poder constituinte material exprime-se, então, nos contextos em que um
Estado surge de novo, ou é restaurado, ou sofre uma transformação radical da sua
estrutura, aparecendo, assim, dotado de uma Constituição material a que se seguirá uma
Constituição formal ou de uma Constituição material já acompanhada da Constituição
formal.
22
A aprovação da Constituição formal culmina, pois, com um processo de
preparação e elaboração, que pode ser mais ou menos longo, envolvendo, por vezes,
negociações políticas e consultas ao povo, nomeadamente sob a forma de referendo. Até
à aprovação da Constituição formal, com a efectivação do poder constituinte derivado
ou formal, existe, pois, um período em que, a par da Constituição em sentido material,
pode haver normas constitucionais provisórias, de valor reforçado em relação às demais
normas do ordenamento jurídico.
23
IV) Aprovação por assembleia representativa ordinária ou comum dotada de
poder para o efeito (URSS, 1977);
25
de facto e não jurídico, este defende o poder constituinte como um poder de facto visto
que surge através de uma imposição político social.
Desta feita a natureza do poder constituinte, continua a ser uma questão que a
doutrina constitucional visa alcançar, para melhor abordagem do assunto, grosso modo
vamos nos apegar a Brito, (2003, p. 29) que faz uma interessante análise partindo do
princípio de que:
26
É bastante controvertida a natureza do poder constituinte. Para alguns, de
formação jus naturalista, é o poder de direito. Para outros, em regra positivistas, trata-se
de um poder de facto. Para Canotilho (2003, p.152), defende uma natureza híbrida ou
mista sobre o poder constituinte originário no qual diz:
Num sentido diverso se orientam autores como Machado (2010 p. 33), que não
aceitam que uma revolução seja, por definição, um simples facto antijurídico. Ao
estabelecerem uma ordem jurídica nova, em que “as revoluções não se propõem
transformar situações de facto em situações de direito; visam, sim, substituir uma ideia
de direito por outra ideia de direito, aquela que informa ou inspira as forças revo-
lucionárias”.
De acordo com estas premissas a revolução não rompe com o direito antes
transforma a substância do direito. Neste sentido se afirma também que o acto
revolucionário é uma fonte de direito na medida em que traz consigo um projecto a que
27
atribui vínculo de actividade na medida em que cria órgãos a quem confere o poder de
criar direito, nesta senda o poder constituinte originário é um poder de direito.
28
humanidade, exclusiva e essencialmente natural, mesmo esse pensador tem de
reconhecer que o poder constituinte originário é uma força histórico-social que se
manifesta condicionada a esse direito natural histórico e que, portanto, constitui um
poder de direito, em última análise, e não apenas um simples poder de facto.
Para o nosso estudo veremos que podem ser apontadas várias características para
identificar o poder constituinte originário. No âmbito da nossa abordagem, entende-se o
poder constituinte como sendo:
Inicial;
Incondicionado; e
Ilimitado.
a) Inicial
Com a obra do poder constituinte, Brito (op. cit, p. 25) diz que algo nasce e
algo morre, visto que, a um só tempo, o poder constituinte cria e mata, parteja e sepulta.
Nesse sentido, ele é a um só tempo, poder constituinte e poder desconstituinte.
E não só, Sob tal perspectiva Canotilho (op. cit, p. 65), reconhece que, no fundo
o poder constituinte:
29
velho morre e, em seu lugar, nasce o novo, representa um
ponto alto do constitucionalismo”.
b) Incondicionado
Isso já foi constatado pelo teórico do poder constituinte Sieyés, (op. cit, p. 96),
“Qualquer que seja a forma que a nação quiser, basta que ela queira; todas as formas são
boas, e sua vontade é sempre a lei suprema”.
c) Ilimitado
O poder constituinte originário não conhece limites para actuar. É livre para
escolher os valores que pretende assegurar na Constituição. Para Sieyés, (ibidem, p.
95), o poder constituinte originário, por ser ilimitado, não fica submetido à Constituição
que edita. Ao contrário, poderá substituí-la, quando entender necessário. “Não só a
nação não está submetida à Constituição, como ela não pode estar e não deve estar o que
equivale a dizer que ela não está”.
30
Compreendendo a radicalidade do poder constituinte, tem-se afirmado que há dois
poderes que tudo podem: o poder de Deus no Céu e o poder constituinte na Terra. O
poder de Deus dá início ao mundo em geral, cuja obra terá sequência com a natureza e
os seres humanos. Mas há outro poder o poder constituinte que dá início à criação do
mundo jurídico em particular, prescrevendo o modo pelo qual esse mundo jurídico irá
receber seus complementos, que são necessários e infinitos.
31
conseguinte em uma vontade de constituição capaz de condicionara vontade do criador.
Matéria que nos levará a uma discussão doutrinária no segundo capítulo.
É de realce que quem faz uma constituição ex-novo está legitimado para uma
constituição real que já existe. Sendo assim a questão da titularidade do poder
constituinte é indissociável da questão do titular da soberania, e, o soberano é o poder
que cria o direito.
32
Em Roma o poder do imperador emanava do povo, porém através do seu mais alto
órgão representativo, o Senado. O Senado formalizava a outorga deste poder através da
lex regia.
Há três teorias que abordam a titularidade do poder constituinte que são:
Esta teoria vigorou numa época dominada por um forte sentimento religioso,
obedecia à ideia de que a fonte do poder reside em Deus. O seu representante na terra
era o papa, que delegava tal poder no rei ou no imperador. Daí a necessidade de o rei ser
sagrado pelo papa. Estas doutrinas justificaram a existência de um vicário de Deus no
plano temporal, porque todo o poder vem de Deus. As teorias subjacentes ao direito
divino são:
De acordo com esta teoria Deus ao criar o mundo teria criado leis que o hão de
governar e só excepcionalmente intervem para modificar essas leis. O poder vem de
Deus para a sociedade depois o conferia para os governantes, Deus previu desde logo a
designação governantes.
33
S. Tomás de Aquino não aceita que todo poder venha de Deus, pois ele não é
uma figura abstrata e sim humana. Deus é a fonte de todo o poder, como acreditavam os
canonistas da época, mas ele é dado ao homem para que possa viver. O homem, para S.
Tomás de Aquino, é o povo.
II – Teoria Contratualísta
Na idade média tornou-se corrente a ideia de que a fonte do direito temporal era
o povo. O fundamento da autoridade política era o contrato de submissão pelo qual o
povo voluntariamente o instituia um poder que o regesse. No direito romano foi
reforçada a ideia de que o povo é que conferia o seu poder e autoridade aos governantes,
mesmo que estas tivessem o obtido mediante a conquista ou acto de violação, só o
consentimento popular expresso ou tácito podia legitimá-lo.
34
O poder político deve ser organizado de modo a não atentar contra a autonomia
individual. O Estado e o poder político devem ver o seu papel e os seus meios e acções
cuidadosamente limitados. Devem ser cuidados como formas de limitar o poder do
Estado e o poder político (separação de poderes, descentralização, controlo da
constituição, etc). A lei deve ser a expressão da razão, deve ser produto da vontade
nacional, a vontade de uma entidade abstrata no seio do qual os interesses individuais se
dissolvam para dar lugar ao interesse nacional.
35
7. Formas de manifestação do poder constituinte
36
Ainda em busca do consensus populi, pratica-se a consulta popular por referendo
ou por plebiscito. A doutrina costuma fazer distinção: o referendo é posterior e o
plebiscito é anterior ao acto que eles têm por objecto. Mas pouco importa o momento. O
facto é que, seja de um, seja do outro, nem sempre resulta democracia, ainda quando
resulte eficácia, no processo constituinte. Por exemplo, o modelo bonapartista, assim
dito por que gerado por Napoleão Bonaparte e por Luís Bonaparte, usa da consulta
popular para obter do titular do poder constituinte a autorização ou a legitimação para o
exercício autoritário desse poder por aquele que, em dado momento histórico, empolga
o povo. É o que fez Augusto Pinochet no Chile.
Segundo Silva, (op. cit, p. 70-72), realçar que a forma democrática de exercício
do poder constituinte pode ser classificada em quatro modos, conforme o lugar e o
momento histórico em que tem sido utilizada para a elaboração da Constituição que são:
37
8. A Ciência Jurídica e O poder Constituinte
38
O grau de imanência abordado acima em relação ao poder constituinte é mas
acentuado, a legitimação da ordem normativa constitucional é dada pela adequação
entre duas realidades, social (material) e jurídica (formal), e foi estabelecida pelo poder
constituinte como poder extraordinário e pré-formador. Sendo assim o poder
constituinte seria intermediário das duas realidades acima referida, em tais condições o
poder constituinte é entendido como, inerente à estrutura do Estado, o que vemos aqui é
a naturalização da força constituinte como criada no cerne do organismo entendido
como Estado.
Como percebemos essas três propostas não são tão diferentes umas das outras e
o poder constituinte se encontra suprimido pelo poder constituído. Para Negri (op. cit,
p. 34) “a falha consiste em justamente reduzir essa força aos limites do campo jurídico,
quando a própria história das revoluções modernas”.
39
Tendo em vista o que foi exposto, mostra-nos que este é uma força que rompe
com a ordem pública instituída pelo próprio direito e lança sobre a necessidade de uma
mudança radical. Esse conceito é convertido de potência constituinte a dinâmica de
poder constitucional dentro dos limites de um Estado soberano. Após uma breve
exposição de análise das três vertentes do pensamento jurídico acerca do poder
constituinte, podemos concluir claramente que, sendo ele transcendente imanente ou
coextensivo-integrado ao sistema jurídico, ele está sempre de início ou fim, sendo
absorvido pela ciência jurídica.
40
CAPÍTULO II
41
1. Evolução Histórica dos Direitos Humanos
De acordo com Taiar, (2009, p. 134), os direitos humanos começam a ter o seu
primeiro impacto na antiguidade, com o Código de Hamurabi na Babilónia, foi a
primeira codificação a relatar os direitos comuns aos homens e a mencionar leis de
protecção aos mais fracos. O rei Hamurabi (1792 a 1750 a.C.), há mais de 3.800 anos,
ao mandar redigir o famoso Código de Hamurabi, já fazia constar alguns Direitos
Humanos, tais como o direito à vida, à família, à honra, à dignidade, protecção especial
aos órfãos e aos mais fracos. O Código de Hamurabi também limitava o poder por um
monarca absoluto. Nas disposições finais do Código, fez constar que aos súbditos era
proporcionada moradia, justiça, habitação adequada, segurança contra os perturbadores,
saúde e paz.
Segundo António, (2004, p. 24), “tanto no Direito Romano, como nas inúmeras
civilizações ancestrais já se concebia a noção de Direitos Humanos”. No pensamento de
Amenófolis (Egipto, século XIV a.C), na República de Platão (Grécia, século IV a.C),
na civilização egípcia (dinastia XVIII). Fazendo uma reflexão a filosofia política,
veremos que os Estóicos defendiam a fraternidade entre todas as pessoas e a existência
de princípios morais, universais, eternos e imutáveis, que resultavam dos direitos
inerentes ao homem e da igualdade de natureza entre os seres humanos. Para essa
filosofia, não importava a classe social, etnia ou estágio cultural.
42
Para Moco, (2010, p. 33), “uma das primeiras manifestações para a evolução
dos direitos humanos nesse sentido foi, sem dúvida, o dinamismo persistente e precoce
movimento reivindicativo de direitos na Inglaterra”. Foi graças esta Magna Carta,
firmada em 15 de Junho de 1215, na localidade de Runnymede. Redigida em latim, a
fim de obstar e dificultar o acesso à mesma por parte dos cidadãos leigos, somente foi
traduzida para o idioma inglês no século XVI. Portanto, com esta pressão observada
aqui vimos que, o crescimento político da burguesia favoreceu o crescimento dos
Direitos Humanos. Assim, em 1215, os bispos e barões impõem ao Rei João-Sem-Terra
a Carta Magna que limita o poder do soberano. Referido documento não tinha natureza
constitucional, foi feita para proteger os privilégios dos barões e os direitos dos homens
livres. Outros institutos inaugurados na Inglaterra e que reflectiam direitos fundamentais
de igual quilate foram o Petition of Rights (1628), o Habeas Corpus (1679) e o Bill of
Rights (1688).
Prosseguindo a mesma linha de pensamento, foi nos Estados Unidos que surge a
primeira declaração de direitos fundamentais modernos. A Declaração de Direitos do
Bom Povo de Virgínia, datada de 1776, foi inspirada nas teorias de Locke, Rousseau e
Montesquieu, e se preocupava, basicamente, com a estrutura do governo democrático e
43
o sistema de limitação de poderes do governante, protegendo os indivíduos contra sua
arbitrariedade.
44
Importa realçar que, com as terríveis experiências e lições advindas das duas
grandes guerras, especialmente as violações, nas mais diversas formas dos Direitos
Humanos, deu-se início à fase da celebração de tratados e outros instrumentos
Internacionais alusivos à protecção Internacional dos Direitos Humanos. Em 1919 entra
em vigor a Constituição de Weimar, Magalhães (2000, p. 31), diz nos que “foi esta
constituição que dedicou uma parte exclusivamente aos Direitos Humanos”. Mas foi a
Constituição do México, de 1917, a primeira Constituição a elevar os direitos sociais a
um nível constitucional. Em seguida é criada a Sociedade Das Nações Unidas e
especificamente no campo dos Direitos Sociais, foi criada pelo Tratado de Paz assinado
em Versalhes em Junho de 1919, a Organização Internacional do Trabalho. Logo após,
vinte e um países da América se reuniram no México no início do ano de 1945,
firmando a Carta das Nações Unidas, imbuída da ideia do respeito aos Direitos
Fundamentais.
45
constitucional. A segunda guerra mundial com a série de atrocidades cometidas veio
demonstrar que os direitos do homem deveriam ser protegidos pelo Direito
Internacional.
No âmbito dos Estados, tal situação teve uma inegável influência na organização
das estruturas política, económica e social, no que se inclui o Direito e, em especial, o
Direito Constitucional. Várias foram às pressões sofridas pelos legisladores no sentido
de adaptarem as regras aos novos tempos e às novas exigências que daí decorreram, o
que muitas vezes, paradoxalmente, resultou em severas críticas e grandes polémicas.
É impossível, entretanto, ignorar o facto de que, hoje, não se admite mais aceitar
passivamente todos os pressupostos construídos no nascedouro da teoria do poder
constituinte, tal como então idealizado pelo abade Sieyés, na França do século XVIII,
sem questionar os seus fundamentos e o real posicionamento nos dias actuais.
46
Por outro lado, ainda que, no um primeiro momento, não se possa vislumbrar
uma relação directa entre os assuntos, ao se discutir a elaboração de um novo
documento constitucional para o Estado, é forçoso admitir que o fim último deste
processo reside, sempre, na necessidade de garantir o bem-estar dos indivíduos que ali
habitam. Por esta razão, o tema dos direitos humanos, objecto de intensos debates e
acordos no plano mundial, adquire um papel de destaque e traz à luz uma nova
perspectiva a ser considerada nesta situação.
47
3. Conceito de Direitos Humanos
48
estabelecimento de condições mínimas de vida e
desenvolvimento da personalidade humana”.
Para Aragão (2000, p.105), os direitos humanos “são os direitos que em função
da natureza humana, são reconhecidos universalmente pelos quais o indivíduo e a
humanidade, em geral, possam sobreviver e alcançar suas próprias realizações”.
É de realçar, que a ideia de direitos humanos, isto é, próprio do homem não pode
na sua origem dissociar-se da lei da natureza que imprime carácter, pelo que se o direito
natural funda-se na natureza, também os direitos humanos fundam-se na natureza
antropológica, sociológica do homem. Portanto, torna-se necessário que ao observar a
capacidade sensitiva do ser humano este deverá a todo custo defender a sua integridade
a todo o momento, de forma a encontrar a sua felicidade.
Para Canotilho (2003, p. 517), define os direitos humanos como sendo “aqueles
direitos válidos para todos os povos e em todos os tempos”. Aqui o autor busca
justificar a posição jusnaturalista dos direitos humanos, pelo facto de, que estes são
anterior a qualquer pensamento positivo, isto é, anterior ao Estado, os direitos humanos
pertencem a uma natureza própria que assenta na ordem moral, visto que, busca em
primeiro lugar a semelhança entre os seres e em consequência traça uma pirâmide de
igualdade, onde cada homem se revê e toma consciência desta realidade.
49
vertente subjectiva, mas o facto de ter direito poderá ser o reconhecimento absoluto a
cada ser humano um tratamento igualitário, isto é, joga papel importante na afirmação
dos direitos humanos a todos seres humanos, simplificando a condição de que não
existe uma vontade absoluta, incondicionada e ilimitada do poder constituinte, mas sim,
somente culturas diferentes.
50
Já os Direitos Fundamentais, são a consagração dos Direitos do Homem,
garantidos pelos Estados aos seus cidadãos através das respectivas Constituições ou
Leis Fundamentais. São os Direitos do Homem em vigor num ordenamento jurídico
concreto num dado momento histórico. Assim, os Direitos Humanos têm maior ou
menor consagração no direito positivo dos Estados. No entanto, o direito positivo só
tem efectividade numa sociedade se, se fundamentar em valores aceites pela
generalidade dos cidadãos e que, decorrendo da própria natureza humana (Direito
Natural), servem de referencial para a conformação do Direito positivo vigente. Como
nos refere Ana Martins (apud Moco, op. cit, p.55), O Direito Positivo “é constituído
pelo conjunto das normas jurídicas efectivamente em vigor, em dado momento e em
dada comunidade”. Ao passo que o Direito Natural “é o direito justo por excelência,
fundado na natureza humana e ou, que tem origem na vontade divina”. Sendo que o
Direito Natural teria assim por função dar legitimidade ao Direito Positivo
(ordenamento jurídico) que, por sua vez, para ser respeitado como válido deve
conformar-se com os princípios do Direito Natural, entendido como:
Aquilo que é devido como justo em virtude da natureza das coisas (Lei
Natural);
As normas emanadas da vontade divina;
Os direitos subjectivos que todos os homens, enquanto pessoas, devem
desfrutar (Direitos Fundamentais, Direitos Humanos).
1ª Geração
51
direito de defesa, direito de contrair matrimónio e de constituir família, direito de voto,
de participação na vida política, de acesso a cargos públicos, de constituir ou participar
em associações e partidos políticos, direito à greve e liberdade sindical, etc.);
2ª Geração
3ª Geração
4ª Geração
52
enquadrar-se nos da 4ª geração, posto que ainda se está na senda da salvaguarda da
qualidade de vida.
53
5. Limitações ao poder constituinte originário
O poder de fundar uma nova ordem jurídica, por meio da criação de uma
Constituição é, na plena acepção do termo, livre e incondicionado e, sob o aspecto
positivo, um poder pré-jurídico, antecedendo o próprio Direito. Mas, por outro lado,
também é um poder que visa um determinado fim, orientado por um objectivo jurídico
e, deste modo, passível de controlo e essencialmente limitado.
Para o efeito, há que se admitir seu carácter inicial, eis que tem o poder
constituinte originário a função de elaborar uma Constituição, documento que é a base
da ordem jurídica do Estado. Tão pouco se questiona o facto de ser considerado como
incondicionado, tendo em vista a não sujeição a qualquer forma prefixada para
manifestar sua vontade, não havendo um procedimento específico para tal. A
caracterização deste poder como ilimitado, porém, não se revela de todo pacífica, sendo
encontrado posicionamentos que se insurgem contra tal opinião.
54
Transcendentes;
Imanentes; e
Heterónimos.
55
Limites heterónomos de direito internacional, com carácter especial, são os que
correspondem à limitações do conteúdo da constituição por virtude de deveres
assumidos por um Estado para com outro Estado ou para com a comunidade
Internacional no seu conjunto.
No mesmo sentido, Bidart Campos (apud Saldanha, op. cit, p. 91-2), realça
que embora admitindo que o poder constituinte, ao fundar um Estado, não se ache
condicionado por instâncias positivas, podendo conferir qualquer conteúdo à
Constituição que venha a elaborar, alerta que isto não significa ser este totalmente
ilimitado.
Isto porque, o autor realça que acima das instâncias positivas, há que se
reconhecer a existência do direito natural ou da justiça, que impõem critérios de valor
que a vontade humana não pode simplesmente ignorar. Assim, é possível enumerar
certas questões a que todos os documentos constitucionais deveriam, necessariamente,
ajustar-se, dentre os quais se incluem a dignidade da pessoa humana, os direitos
individuais, a chamada justiça social e a liberdade.
Além destes, considerados como valores transcendentes, afirma o autor que todo
poder constituinte deveria seguir certas directrizes, as quais, inevitavelmente, também
funcionam como limitações, relacionadas ao próprio ambiente social e histórico daquela
comunidade em particular.
Com efeito, não se pode aceitar que as, Constituições sejam meros esquemas
teóricos, elaborados abstractamente. Tanto o passado, quanto o presente da sociedade
fornecem elementos que não podem ser desconsiderados, sob pena de estabelecer-se
uma estrutura dissociada por completo da realidade e que, por consequência, tenha sua
vigência prejudicada. As tradições, os costumes e as práticas sociais devem orientar os
trabalhos constituintes.
56
Saldanha, (Ibidem, p. 90), após assinalar genericamente, a forma bastante
firme, é ser o poder constituinte limitado, eis que orientado por um objectivo jurídico,
como já apontado, passa a discorrer mais detalhadamente sobre o tema, de modo a
melhor aclarar seu posicionamento.
57
6. Os Direitos Humanos como limites ao Poder Constituinte Originário
Sendo que o autor nos apresenta os Direitos Humanos como, direitos que
ultrapassam as fronteiras territoriais dos Estados, esses Direitos não são inerentes à
entidade estatal, visto que, este tem limite territorial, mas o são ao indivíduo, pois
carrega seus direitos consigo independentemente do lugar. Posicionamento também
corroborado por Bonavides (op. cit, p. 807), quando diz que com a limitação da
soberania absoluta do Estado, o indivíduo deixa de ser apenas objecto e passa a ser
também, sujeito de direito Internacional Público.
59
modificadas por uma norma ulterior de direito
internacional geral que tenha, ademais, o mesmo
carácter”.
Portanto, torna-se difícil o processo de denúncia das normas jus cogens só sendo
revogado por outra norma da mesma espécie. Neste caso, uma nova Constituição
posterior à que aprovou este tratado, até mesmo por sua obrigação como instituidora de
um Estado Democrático, deverá se sujeitar a essa norma visto que no art. 5º da DUDH e
Programa de Acção de Viena, elaborada pela ONU 1993, determina-se que “é dever dos
Estados promover e proteger todos os direitos humanos e liberdades fundamentais,
sejam quais forem seus sistemas políticos, económicos e culturais”.
60
O poder constituinte e a democracia são destacados por Negri (2002, p. 7.)
como conceitos correspondentes e que sempre estiveram inseridos em um processo
histórico que, com o passar dos tempos, fez com que se identificassem cada vez mais:
61
Importa registar, com arrimo em Luzia Cabral Pinto (apud Negri op. cit, p.
11), que, ao se propor o uso dos direitos humanos como limitação ao poder constituinte
e, por consequência, critério legitimador do exercício do poder político.
62
Na perspectiva de Neves, (2006, p. 220), verifica-se existir aí um argumento
adicional para tratar o conteúdo dos Tratados de Direitos Humanos como limite material
ao poder constituinte originário, tendo em vista que estes documentos não poderiam ser
afastados sob a simples afirmação de que pertencem exclusivamente ao direito
internacional, já que é através do direito interno dos Estados que os mesmos irão se
concretizar.
63
Observa-se, assim, a existência de uma relação de verdadeira dependência entre
a democracia e os direitos humanos. A garantia de direitos aos indivíduos exige a
instituição do regime democrático, pois apenas neste os requisitos da dignidade da
pessoa humana podem ser plenamente atendidos, já que afastado o arbítrio do poder
político. E, por outro lado, a democracia só pode ser integralmente realizada, na plena
acepção do termo, por intermédio dos direitos assegurados aos indivíduos.
64
Conclusão
Ao reflectirmos sobre quais limites seriam estes, começa a parte em que este
trabalho pretendeu problematizar a própria fundamentação dos direitos humanos, a
partir de tantas teorias existentes, pedindo a licença para não optar por nenhuma delas
de forma absoluta, ao mesmo tempo em que se opta por todas, na medida em que
defendem o ser humano em seus valores essenciais e reforçando a defesa de limites a
esta vontade humana. Os direitos fundamentais substanciais seriam, para nós, esta ponte
entre o passado e o presente. E, mais que tudo, a base para qualquer futura recriação
constitucional.
65
É com essa ideia que se iniciou este trabalho e não há outra que melhor o
finalize, a dignidade da pessoa humana. É este o limite omnipresente a que o poder
constituinte deve obedecer. Outros tantos podemos ver como: circunstanciais,
temporais, enfim, históricos existem. Mas nenhum outro é eterno, a não ser este, os
direitos fundamentais sempre decorrentes desta dignidade.
66
Recomendações
67
Referências Bibliográficas
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Paulo, Editora Saraiva. 1999.
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FILHO, Manoel Gonçalves Ferreira – O Poder Constituinte, 3ª ed. São Paulo. Saraiva,
1999.
FRANCO, Afonso Arino de Mello – Teoria da Constituição. São Paulo Editora Del
Rey. 2007.
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sua garantia e a questão da indivisibilidade. São Paulo: Ed. Juarez de Oliveira, 2000.
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Atlas S.A 2003
NEVES, Marcelo – Entre Têmis e Leviatã: uma relação difícil: O Estado Democrático
de Direito a Partir e Além de Luhmann e Habermas. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
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Editorial, Luanda 2009.
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2000.
Legislação Complementar
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