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TOMO 12
DIREITOS HUMANOS
COORDENAÇÃO DO TOMO 12
Wagner Balera
Carolina Alves de Souza Lima
Editora PUCSP
São Paulo
2022
ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP
DIREITOS HUMANOS
DIRETOR
Vidal Serrano Nunes Júnior
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
DIRETORA ADJUNTA
FACULDADE DE DIREITO
Julcira Maria de Mello Vianna
Lisboa
CONSELHO EDITORIAL
1.Direito - Enciclopédia. I. Campilongo, Celso Fernandes. II. Gonzaga, Alvaro. III. Freire,
André Luiz. IV. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
1
ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP
DIREITOS HUMANOS
INTRODUÇÃO
SUMÁRIO
Introdução ......................................................................................................................... 2
Referências ..................................................................................................................... 18
1
Não é proposta deste artigo delinear larga reflexão acerca da pessoa humana, mas apresentar o pressuposto
filosófico do reconhecimento deste novo direito. Para um estudo mais aprofundado sobre a temática,
recomenda-se: GUARDIA, Andrés F. T. S. Dignidade humana: prospecção axiológica.
2
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DIREITOS HUMANOS
adverte Arthur Kaufmann,2 o direito é produto da própria ideia do homem. Sendo assim,
caso o homem use mal sua humanidade, a sociedade, seu corpo normativo, não
funcionará.
Em linhas gerais, na Filosofia o termo pessoa aponta para a essência do ser
humano, que não se apreende pela reflexão sobre o ser, mas apenas e tão somente,
mediante um estudo dialético entre ontologia e moral, já que trata de ser sobre o qual se
impõe um dever ser,3 “uma missão moral de auto realizar-se, por sua conta e
responsabilidade”;4 é pelo prisma da ética que a pessoa é definida como ser com fins
próprios, que se realiza por si, ou seja, ser com dignidade.5
A partir da visão racionalista e idealista de Kant, outras correntes filosóficas6
contribuíram para a compreensão da pessoa humana desde seus aspectos existenciais
(consciência, liberdade, espiritualidade), possibilitando reconhecer valores que aportam
características singulares e distintivas de qualquer outro ser existente – e a este conjunto
de valores que todos os homens possuem denomina-se dignidade.
Erigir a pessoa humana em fundamento dos direitos humanos, como centro de
convergência de valores sociais – sujeito de direitos7 –, denota o reconhecimento do
processo progressivo de integração do homem em sociedade, que perpassa pela atribuição
2
Vid. KAUFMANN, Arthur. Filosofia do direito, pp. 290-329.
3
Foi Immanuel Kant o responsável por trazer para o espectro da moral, as discussões sobre o homem,
considerando a ideia ética algo inerente ao homem. KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos
costumes e outros escritos. p. 58. Como ensinou Valle Labrada Rubio, “Kant define a pessoa humana como
liberdade contra mecanicismo. Por esta razão, tem sido afirmado que descoisifica o conceito de pessoa,
porque a define no plano da ética, isto é, não a examina em seu ser, como fizeram os autores anteriores,
destacando de uma ou outra forma sua racionalidade, mas Kant afronta a acepção de pessoa humana no
âmbito de sua capacidade de agir. Kant, portanto, ressalta a liberdade como faculdade específica do homem,
porque o distingue dos demais seres que atuam mecanicamente, guiados por leis necessárias e de
cumprimento forçado, enquanto o homem se caracteriza por estar capacitado para eleger a regra de suas
ações”. RUBIO, Valle Labrada. Introducción a la teoria de los derechos humanos: fundamento, historia,
declaración univesal de 10.XII.1949, p. 35. no mesmo sentido BACCIOTTI. Karina J. Direitos humanos e
novas tecnologias da informação e comunicação: o acesso à internet como direito humano, p. 25.
4
BACCIOTTI. Karina J. Direitos humanos e novas tecnologias da informação e comunicação: o acesso à
internet como direito humano, p. 16.
5
SICHES, Luis Recaséns. Tratado general de filosofia del derecho. pp. 244-245.
6
Dentre os filósofos deste período, destacam-se: SARTRE, Jean Paul. O existencialismo é um humanismo;
SCHELER, Max. A posição do homem no cosmos; HARTMANN, Nicolai. Introduccíon a la filosofia;
MOUNIER, Emmanuel. O personalismo.
7
“[...] o Direito é uma ordenação bilateral atributiva das relações sociais, na medida do bem comum. Isto
quer dizer que, em toda relação jurídica, duas ou mais pessoas ficam ligadas entre si por um laço que lhes
atribui, de maneira proporcional ou objetiva, poderes para agir e deveres a cumprir. O titular, ou seja, aquele
a quem cabe o dever a cumprir ou o poder de exigir, ou ambos é que se denomina sujeito de direito”
(REALE, Miguel. Lições preliminares de direito, p. 212).
3
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De acordo com Emmanuel Mounier, o individualismo é “[...] um sistema de costumes, de sentimentos, e
de instituições que organiza o individuo partindo de atitudes de isolamento e de defesa”. MOUNIER.
Emmanuel. O personalismo, p. 44.
9
“Direitos que possuem em sua essência as características do personalismo, ao professarem a proteção do
gênero humano, a unidade da humanidade, a possibilidade de que o homem, enquanto pessoa, tenha a
liberdade de desenvolver-se e de existir no mundo. Esta concepção da época atual transcende o âmbito
individual e aloca-se no plano da fraternidade, melhor dizendo, no reconhecimento de que todos os homens
são partes essenciais da humanidade e merecem ter reconhecidos e resguardados seus direitos essenciais,
independentemente dos limites geopolíticos”. BACCIOTTI. Karina J. Direitos humanos e novas
tecnologias da informação e comunicação: o acesso à internet como direito humano, pp. 40-41.
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Dentre as tecnologias desenvolvidas a partir da segunda metade do século XX, destacam-se a energia
nuclear, o surgimento dos computadores, o aprimoramento das telecomunicações, a criação da Internet.
11
PÉREZ LUÑO, Antonio Enrique. La tercera geración de derechos humanos, p. 28.
12
PÉREZ-LUÑO, Antonio Enrique. Derechos humanos, estado de derecho y constituición, p. 27.
5
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A história da Internet é marcada pelo ideal de propiciar meio mais fácil e efetivo
de comunicação e troca de informações (que a principio, atendiam fins militares e
acadêmico-científicos). O ideal tecnológico acabou por confluir com os anseios da pessoa
humana do final do século XX: maior liberdade de expressão, de difusão de opiniões e
pensamentos, de compartilhamento de investigações científicas, e principalmente, de
contatar o outro de modo quase instantâneo, de construir uma sociedade inclusiva, que
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BACCIOTTI. Karina J. Direitos humanos e novas tecnologias da informação e comunicação: o acesso
à internet como direito humano, p. 74 e ss, Para melhor compreensão do processo estruturação da Internet
vide: BERNERS-LEE, Tim. Tejiendo la red: o inventor del word wide web nos descubre su origen;
CARDON, Dominique. A democracia internet: promessas e limites; CASTELLS, Manuel. A galáxia
internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade; ERCÍLIA, Maria; GRAEFF, Antonio. A
internet; LEVY, Pierre. Cibercultura.
14
BACCIOTTI. Karina J. Direitos humanos e novas tecnologias da informação e comunicação: o acesso
à internet como direito humano, p. 79.
15
MOUNIER. Emmanuel. O personalismo, pp.44 e ss.
16
DIMANTAS, Hernani. Linkania: uma teoria de redes, p. 20.
17
CASTELLS, Manuel. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade, pp. 7-
8.
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mais de conectar máquinas, mas de conectar pessoas no entorno digital”18 (há que
lembrar, as informações/dados que transitam na Internet são em grande parte, porções da
essência da própria pessoa humana).
A relevância da Internet e das novas tecnologias da informação e comunicação
na sociedade atual é inconteste e foi reconhecida pelo Programa das Nações Unidas para
o Desenvolvimento (PNUD), pela União Internacional de Telecomunicações (ITU) e pelo
Conselho da Europa, como reais ferramentas habilitadoras do desenvolvimento humano,
franqueando uma nova via para a participação econômica (teletrabalho e comércio
digital), como para obter acesso a informações que resultem na melhora da qualidade de
vida (relacionada a nutrição, saúde, saneamento) e até do exercício da cidadania,
ampliando a participação na vida comunitária.19
A conexão entre democracia e Internet é indiscutível. Ao oferecer um ambiente
que ultrapassa barreiras nacionais e culturais - facilitando a difusão de ideias e ideais pelo
mundo -, possibilita a toda e qualquer pessoa, compartilhar opiniões, crenças, ideologias,
sem as ingerências dos tradicionais meios de comunicação massivos. A Rede trouxe um
canal privilegiado para o exercício da democracia (entendida não apenas como sistema
de governo, mas antes, como um valor com ínsitas noções de pluralismo e participação);
novo espaço que contribui para aproximar cidadão e governo, inclusive nos processos de
tomada de decisões (e-democracia20).
Sem dúvida, a Internet tornou-se um veículo para o exercício da liberdade, valor
fundamental para a afirmação dos direitos humanos e sua consubstanciação nos
ordenamentos jurídicos. Com fundamento na dignidade inerente a toda pessoa humana, a
liberdade consiste em processo de perene superação de obstáculos (advindos da estrutura
18
BACCIOTTI. Karina J. Direitos humanos e novas tecnologias da informação e comunicação: o acesso
à internet como direito humano, p. 81 Neste sentido é a posição de Antonio Enrique Pérez-Luño, ao
identificar a Internet como a rede das redes que conecta milhares de computadores vinculados a instituições
acadêmicas, entes públicos, empresas privadas e um crescente número de usuários particulares, permitindo
que cada pessoa conectada possa ter acesso aos mais importantes centros de documentação, realizar
diversas operações financeiras e comerciais, bem como usufruir da vasta oferta de variados tipos de
entretenimento; possível a comunicação com outros usuários da rede sem limites numéricos e espacial.
PÉREZ-LUÑO, Antonio Enrique. La tercera geración de derechos humanos, p. 91.
19
Vid. PNUD. Informe 2013 – Objetivo de Desarrollo del Milênio. Disponível em
<http://www.undp.org/content/dam/undp/library/MDG/spanish/mdg-report-2>. Acesso em: 08.02.2021;
ITU. <http://www.itu.int/es/about/Pages/default.aspx>. Acesso em 08.02.2021. CONSELHO DA
EUROPA. Declaration of the committee of ministers on human rights and the rule of law in the information
society CM (2005).
20
ÁLVAREZ, Clara Luz. Internet y derechos fundamentales, p. 80 e ss.
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A liberdade ou direito de comunicação, em sua essência alude a um “conjunto de direitos, formas e
veículos, que possibilitam a coordenação desembaraçada da criação, expressão e difusão do pensamento e
da informação”, que em nossa Constituição Federal de 1988 encontra amparo no art. 5º, incisos IV
(liberdade de manifestação do pensamento), V (direito de resposta), IX (livre expressão da atividade
intelectual, artística, científica e de comunicação), XII (inviolabilidade do sigilo de correspondência e
comunicações telegráficas e telefônicas), e XIV (direito de acesso à informação), combinados com os arts.
220 a 224, que disciplinam a comunicação social. Neste sentido, vide: SILVA, José Afonso. Curso de
direito constitucional positivo, p. 243.
22
O direito à informação possui duas dimensões fundamentais: a liberdade de informar (configurada no
direito de manifestar seu pensamento e de fornecer dados sobre si ou sobre algo) e de ser informado
(refletindo um interesse tanto de ordem individual, como coletiva, de ter acesso a informações necessárias
ao exercício consciente das liberdades públicas). Neste sentido, vide: Idem, p. 245.
23
Como ensina Jorge Miranda, a liberdade de expressão é forma de exteriorização da vida humana (exercida
pela via escrita, oral, imagens, gestual e até pelo silêncio) e abrange questões atinentes a crenças,
convicções, ideais, ideologias, opiniões, sentimentos, emoções, atos de vontade. MIRANDA, Jorge. Curso
de direito constitucional, p. 453.
24
FURTADO, Celso. Introdução ao desenvolvimento: enfoque histórico estrutural, p. 21 e ss.
25
BALERA, Wagner. Direito ao desenvolvimento.
26
RISTER, Carla A. Direito ao desenvolvimento: interesses, significados e consequências, p. 8.
9
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27
SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade, pp 8-10. Para Amartya Sen, a liberdade é o fim último
e principal meio para lograr o desenvolvimento e desempenha um papel substantivo ao relacionar-se ao
enriquecimento do homem pessoa, como a liberdade associada ao saber ler, a elaboração de cálculos
aritméticos, ao exercício da participação política e à liberdade de expressão, mas também desempenha um
papel instrumental para o desenvolvimento integral. (Idem, pp. 55- 57).
28
ARENDT, Hannah. A condição humana, p. 15.
29
BACCIOTTI. Karina J. Direitos humanos e novas tecnologias da informação e comunicação: o acesso
à internet como direito humano, p. 106. No mesmo sentido: ALVAREZ, Clara Luz. Internet y derechos
humanos, pp. 88-89.
30
A importância da educação, enquanto fator de inclusão social, é inquestionável, e quiçá o fator
preponderante, já que impacta decisivamente em questões atinentes ao desenvolvimento econômico e
politico de um Estado. O Relatório do Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF) e do Programa
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das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), referente ao ano de 2020, intitulado COVID-19 e
educação primária e secundária: repercussões da crise e implicações das politicas públicas para América
Latina e Caribe, aponta que com o fechamento das escolas foram implementadas às pressas, estratégias de
educação a distância, porém, para o êxito do estudo doméstico, crianças e adolescentes precisam ter à
disposição, recursos de aprendizagem como livros; materiais educativos; local de estudo; acesso a algum
tipo de dispositivo eletrônico, e conectividade à Internet, além do envolvimento dos pais. No tocante ao
acesso a dispositivos eletrônicos e especial acesso a computadores, entendido como o mais adequado
dispositivo para a utilização de recursos educativos e Internet, verifica-se que é extremamente baixo, em
média 39%, sendo que nenhum país da região supera a marca de 55%. A falta de condição para o estudo,
em especial para os mais vulneráveis economicamente, pode resultar em déficit de aprendizagem de longo
prazo, que comprometerá toda uma geração. PNUD. COVID-19 y educación primaria y secundaria:
repercusiones de la crisis e implicaciones de política pública para América Latina y el Caribe. Disponivel
em:<https://www.latinamerica.undp.org/content/rblac/es/home/library/crisis_prevention_and_recovery/co
vid-19-y-educacion-primaria-y-secundaria--repercusiones-de-la-.html.> Acesso em: 20.20.2021.
31
Para Caio M. Silva Pereira Neto, o acesso à Internet impacta positivamente a economia em três aspectos:
i) aumenta a complementaridade com as inversões em outros setores; ii) reduz custos de transações
econômicas; iii) indiretamente melhora o capital humano e a produtividade. PEREIRA NETO, Caio M.
Silva. Development theory and foundations of universal, pp. 369-373.
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Times, em 12 de abril de 200932 – seria mais adequado tratar o acesso como um direito
humano ou como uma oportunidade que traz consigo o dever de uso responsável?
E como observa Roberta Piza, o poder público ao difundir o acesso à Internet,
preocupa-se com duas classes de problemas: o fornecimento de infraestrutura técnica e
econômica para obter acesso à Rede e também a necessidade de se formular mecanismos
para coibir ilícitos, a exemplo do tratamento não consentido de dados pessoais. E a
preocupação com a normatização do uso da Internet acaba por ofuscar a tese que
reconhece o acesso à Internet como direito.33
Reforçando o dissenso, Vinton Cerf (co-criador do protocolo TCP/IP e um dos
pais da Internet moderna), em artigo publicado no The New York Times, em 04 de janeiro
de 2012, declarou que a Internet não é um direito em si mesmo, não está entre as coisas
que o homem necessita para ter uma vida plena e saudável (a exemplo da vedação da
tortura, da liberdade de expressão e consciência). Para Cerf, a Internet é uma tecnologia,
uma ferramenta facilitadora de direitos; incluí-la no rol dos direitos humanos seria um
erro, sob pena de que, com o passar do tempo, os bens jurídicos tutelados pelos direitos
humanos fossem valorados de modo equivocado.34
Com efeito, haveria enorme equívoco em se considerar a Internet como o mais
alto valor jurídico. Alerta Eduardo Garcia Maynez que os valores mais caros – aqueles
que são propriamente éticos – não estão nas coisas, mas sim nas pessoas e em suas
ações.35 Este é o ponto de partida para a compreensão do direito humano de acesso à
Internet, já que inquestionável a sua contribuição para a sociedade atual.
A primeira menção ao direito de acesso à Internet como direito humano no
cenário jurídico-politico internacional, ocorre em 1º de julho de 2011, com a Declaração
Conjunta sobre Liberdade de Expressão e Internet, firmada pelos representantes das
Nações Unidas para a Liberdade de Expressão e Opinião, da Organização para a
Segurança e Cooperação na Europa para a Liberdade dos Meios de Comunicação, da
Organização dos Estados Americanos para a Liberdade de Expressão, da Comissão
Africana de Direitos Humanos e dos Povos para a Liberdade de Expressão e Acesso à
32
PFANNER. Eric. Should online scofflaws be denied web access? The New York Times.
33
PISA Roberta. L’accesso ad Internet: un nuovo diritto fondamentale?
34
CERF,Vinton G. Internet Access is not a human right. The New York Times.
35
MAYNEZ, Eduardo Garcia. Ética: ética empírica, ética de bienes, ética formal, ética valorativa, p. 225.
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ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Declaración Conjunta sobre libertad de Expresión
e Internet. Disponível em: <http://www.oas.org/es/cidh/expresion/showarticle.asp?artID=849&lID=2>.
Acesso em: 01.03.2021.
37
FROSINI, Tommaso Edoardo. Il dirito costituzionale di acesso ad Internet, pp. 23-43
38
Neste sentido: BONILLA, Haideer Miranda. El acceso a internet como derecho fundamental. Revista
Juridica IUS, n. 15. FROSINI, Tommaso Edoardo. Il dirito costituzionale di acesso ad Internet. Il “diritto
di accesso ad Internet” Collana ITTIG-CNR, Serie “Studi e documenti”, n. 9, pp. 23-43.
39
PISA, Roberta. L’accesso ad Internet: un nuovo diritto fondamentale?.
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ratio decidendi que pela primeira vez reconheceu o acesso à Internet como direito
fundamental.
Nada obstante tratar-se de um direito social, o acesso à Internet vai além dos
lindes aplicados aos direitos prestacionais. Configura-se como um direito humano
completo, já que contém um feixe de posições de distintas espécies – ora exprime ao
Estado um dever de abstenção de não intervenção; ora se põe como um dever do Estado
de proteger seu titular contra intervenções de outrem que sejam lesivas ao acesso, ora
como um dever para o Estado adotar medidas fáticas em prol da facilitação e difusão do
acesso a todos.40
Como posturas negativas, ou de abstenção, destaca-se a vedação à censura, que
pode ser aplicada pela imposição de filtros sem o consentimento do usuário, impedindo
que tenha acesso a conteúdos ou exerça o direito à liberdade de publicação de suas
opiniões, de expressar-se. Já o rol das posturas positivas é mais amplo e inclui deveres
distribuídos em três classes:
“i) quanto ao acesso à infraestrutura, por tornar-se um fator de
infraestrutura pública geral, requer-se a adoção de políticas que tenham por
fim possibilitar a conectividade, seja pelo fornecimento de energia elétrica,
cabeamento telefônico, preços acessíveis dos equipamentos (v.g.,
computadores, softwares, modens) e dos serviços de conexão, considerada
a conjuntura econômica do país, ou ainda, que disponibilizem centros onde
os cidadãos possam usar da infraestrutura para entrar na sociedade
informacional; ii) quanto ao acesso ao conteúdo, nota-se a necessidade de
desenvolver políticas que tenham por escopo a produção de conteúdo
informativo de interesse local; iii) quanto à capacitação para o acesso, há,
também, que desenvolver políticas, tendo em vista amplo e complexo
processo educacional que possibilite a toda pessoa humana adquirir as
competências e conhecimentos necessários à compreensão do
funcionamento deste espaço virtual chamado Internet, à economia do
conhecimento, para uma participação ativa, com pleno aproveitamento dos
benefícios, incluída sensibilização para os princípios e valores éticos”.41
40
Partiu-se do conceito de direito fundamental completo proposto por Robert Alexy, que toma por exemplo
o direito fundamental ao meio ambiente. ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais, pp. 442-443.
41
BACCIOTTI. Karina J. Direitos humanos e novas tecnologias da informação e comunicação: o acesso
à internet como direito humano, pp. 167-168.
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42
Esta é a posição defendida por Celso Antonio Pacheco Fiorillo (Fundamentos constitucionais do meio
@mbiente digit@l na sociedade da informação).
43
ONU. Asamblea General. Consejo de Derechos Humanos. 17º período de sesiones. Informe del Relator
Especial sobre la promoción y protección del derecho a la libertad de opinión y de expresión, Frank La
Rue. Doc. A/HRC/17/27 (16/05/2011), p. 4. No mesmo sentido: CIDH. Relatoria Especial para la libertad
de expression. Libertad de expressión e internet CIDH/RELE/INF.11/13 (31/12/2013), pp. 7- 8; 16 – 25.
44
BACCIOTTI. Karina J. Direitos humanos e novas tecnologias da informação e comunicação: o acesso
à internet como direito humano, pp. 124-128.
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da informação.
A preocupação, como das Nações Unidas, com a garantia da Internet, de fazer
parte desta nova sociedade, de participar de suas benesses e de ter direitos garantidos
neste ambiente, ganhou destaque desde a criação do Painel de Alto Nível sobre a
Cooperação Digital, pelo Secretário Geral das Nações Unidas, António Guterres, em 12
de julho de 2018, com o propósito de criar uma cooperação entre distintos atores (setor
privado, sociedade civil, comunidade técnica e acadêmica, organizações internacionais)
e Estados, para alcançar o pleno potencial social e econômico das tecnologias digitais
(inclusive, debatendo formas de mitigar os riscos inerentes), que contribuem
consideravelmente para tornar real e efetiva a Agenda 2030 para o desenvolvimento
sustentável.
No informe apresentado em 10 de junho de 2019, foi dedicado um capítulo ao
acesso, denominado “Que nadie se quede atrás”, destacando que:
“[...] las tecnologías digitales solo ayudarán a impulsar el conjunto
íntegro de los Objetivos de Desarrollo Sostenible si nos planteamos de
manera más amplia la importante cuestión del acceso a Internet y las
tecnologías digitales. El acceso es un paso adelante necesario, pero
insuficiente. Para aprovechar el potencial de las tecnologías digitales
debemos cooperar en relación con los ecosistemas más amplios que
hacen posible que las tecnologías digitales se utilicen de manera
inclusiva. Para ello harán falta marcos de políticas que apoyen
directamente la inclusión económica y social, iniciativas específicas
para poner en primer plano a los grupos tradicionalmente marginados,
inversiones de peso en capital humanoe infraestructura, entornos
regulatorios inteligentes y esfuerzos significativos para ayudar a los
trabajadores cuyos medios de vida se ven alterados a causa de la
tecnologia”.45
No Brasil, embora não haja a precisão do acesso à Internet como direito
fundamental, a Lei 12.965/2014 – Marco Civil da Internet –, ao dispor sobre os princípios,
garantias, direitos e deveres para o uso da Internet, reconhece a importância do acesso
45
NAÇÕES UNIDAS. La era de la interdependencia digital. Informe del Panel de Alto Nivel del Secretario
General sobre la Cooperación Digital. Junio de 2019. Disponível em:
<https://www.un.org/sites/www.un.org/files/uploads/files/es/HLP%20on%20Digital%20Cooperation%20
Report%20Executive%20Summary%20-%20ES%20.pdf>. Acesso em: 21.02.2020.
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DIREITOS HUMANOS
para todos, como pressuposto lógico, essencial ao exercício da cidadania (arts. 4º, e 7º),
tendo como princípios disciplinadores, a garantia da liberdade de expressão, comunicação
e manifestação de pensamento; a proteção da privacidade; a proteção dos dados pessoais;
a neutralidade de rede, preservação da estabilidade, segurança e funcionalidade, por meio
de medidas técnicas compatíveis com os padrões internacionais; responsabilização dos
agentes, de acordo com suas atividades; preservação da natureza participativa da rede;
liberdade dos modelos de negócios promovidos na internet, desde que não conflitem com
as leis.
Ainda que se trate de um direito não autônomo - e de natureza mista, vez que
seu conteúdo desborda dos limites da liberdade de expressão, informação e comunicação
(associada a condutas negativas, de abstenção, de não interferência), e cobra do Estado
políticas inclusivas para que todos participem deste novo ambiente e possam através dele
assimilar pela cultura do compartilhamento, uma nova dimensão ética da solidariedade –
há que concluir, os pilares que embasam sua existência estão nos principais documentos
internacionais de proteção aos direitos humanos. A começar pelo art. 19, da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, reconhecendo que todo homem “tem direito à liberdade
de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões
e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios,
independentemente de fronteiras”; bem como o parágrafo 2º do art. 19 do Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos, garantindo que “toda pessoa terá direito à
liberdade de expressão; esse direito incluirá a liberdade de procurar, receber e difundir
informações e idéias de qualquer natureza, independentemente de considerações de
fronteiras, verbalmente ou por escrito, em forma impressa ou artística, ou qualquer outro
meio de sua escolha”. Sem olvidar que tais disposições estão integradas ao teor dos
parágrafos 1 e 2 do art. 15 do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais, que ao mesmo tempo reconhece o direito de todos à participação na vida
cultural, e impulsiona os Estados Partes à adoção das medidas necessárias para garantir o
pleno exercício deste direito, despendendo particular esforço àquelas voltadas à
conservação, desenvolvimento e difusão da ciência e da cultura.
Conclusivamente, estamos diante de um direito humano, fruto dos avanços da
tecnologia da informação e comunicação, cujo bem jurídico tutelado não reside na
tecnologia (coisa), mas na relevância social que adquiriu para o homem, enquanto meio
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eficaz para exercer suas liberdades, para colher informações que impactam em uma
melhor qualidade de vida, que influenciam diretamente no desenvolvimento da economia,
repercutindo em um incremento de produtividade. Simultaneamente, conformando um
novo locus, que deve estar disponível para ser utilizado por todos, a fim de que o homem
possa ali desenvolver suas potencialidades, exercer de modo responsável seus direitos e
liberdades fundamentais, ter acesso a bens e serviços e participar da vida pública.
Trata-se de direito direcionado ao homem e a todos os homens sem qualquer
distinção – direito universal quanto à sua titularidade –, que não pode ser renunciado, pois
o homem não pode dispor da sua condição de ser social, nem tampouco pode ser privado
da faculdade de participar da nova realidade social.
REFERÊNCIAS
ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Trad. por Virgilio Afonso
da Silva. 2. ed. 2. tir. São Paulo: Malheiros, 2012.
ÁLVAREZ, Clara Luz. Internet y derechos fundamentales. México: Editorial
Porrúa, 2011.
ARENDT, Hannah. A condição humana. Trad. por Roberto Raposo. 10. ed. 5.
reimp. Rio de Janeiro, 2005.
BACCIOTTI. Karina J. Direitos humanos e novas tecnologias da informação e
comunicação: o acesso à internet como direito humano. Dissertação (mestrado em
direito). São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2014.
BALERA, Wagner (coord.) Comentários á Declaração Universal dos Direitos
Humanos. 2. ed. rev. ampl. São Paulo: Conceito, 2011.
__________________. Direito ao desenvolvimento. Disponível em:
<http://cjlp.org/direito_ao_desenvolvimento.html>. Acesso em: 19.02.2021.
BERNERS-LEE, Tim. Tejiendo la red, el iventor del word wide web nos
descubre su origen. Trad. por Mónica Rubio Fernández. Madrid: Siglo Veinteuno de
España Editores, 2000.
BONILLA, Haideer Miranda. El acceso a internet como derecho fundamental.
Revista juridica IUS, n. 15, 2016. Disponível em:
<https://www.corteidh.or.cr/tablas/r38098.pdf>. Acesso em: 03.02.2021.
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MIRANDA, Jorge. Curso de direito constitucional. Cimbra: Coimbra editora.
2000. Tomo IV: direitos fundamentais.
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