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TOMO 12
DIREITOS HUMANOS
COORDENAÇÃO DO TOMO 12
Wagner Balera
Carolina Alves de Souza Lima
Editora PUCSP
São Paulo
2022
ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP
DIREITOS HUMANOS
DIRETOR
Vidal Serrano Nunes Júnior
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
DIRETORA ADJUNTA
FACULDADE DE DIREITO
Julcira Maria de Mello Vianna
Lisboa
CONSELHO EDITORIAL
1.Direito - Enciclopédia. I. Campilongo, Celso Fernandes. II. Gonzaga, Alvaro. III. Freire,
André Luiz. IV. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
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ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP
DIREITOS HUMANOS
INTRODUÇÃO
SUMÁRIO
Introdução ......................................................................................................................... 2
2. Órgãos ..................................................................................................................... 7
Referências ..................................................................................................................... 14
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Parte dos juristas afirmam que as primeiras tratativas para um futuro sistema
regional de proteção de direitos humanos foi a Conferência de Lagos sobre a Primazia do
Direito, cuja ideia da instituição de uma Corte Africana foi inspirada pelas Convenções
Americana e Europeia de Direitos Humanos.1 Há menções, na doutrina, a outras
conferências e seminários, como os de 1961, sobre Estado de Direito, realizada pela ONU
e a Comissão Internacional de Juristas em Dacar (1976), Dar es Salaam (1976) e Dacar
novamente (1978), essas reuniões teriam levado a sucessivas resoluções instando a OUA
a adotar um instrumento regional de direitos humanos para a África.2
No início do ano de 1981, a antiga OUA, através de um Conselho de Ministros,
adotou um anteprojeto de Carta Africana em Banjul, na Gâmbia, que havia sido preparado
em 1979 pelo senegalês Kéba Mbaye, que liderou um comitê de especialistas para o
trabalho. A maioria das propostas teve por objetivo principal os debates de direitos
humanos, sendo que uma das mais importantes foi apresentada pela República da Guiné,
sugerindo que a futura Corte fosse também dotada de jurisdição para julgar graves
violações dos direitos humanos que constituíssem crimes internacionais, como crimes
contra a humanidade. De início, a proposta parecia ter sido motivada pelo desejo de
condenar as graves violações dos direitos humanos que ocorriam na África do Sul sob o
historicamente famoso regime de apartheid.
Entretanto, a proposta não obteve sucesso – tal assunto será novamente trazido
1
DLAMINI, C.R.M. Towards a regional protection of human rights in Africa: the African charter on
human and peoples’ rights, pp. 189-203.
2
KANNYO, Edward. Human rights in Africa: problems and prospects, pp. 24 e ss.
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3
DHNET. Carte de Banjul. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/africa/banjul.htm>.
Acesso em: 15.03.2021.
4
EVANS, M; MURRAY, R. The African charter on human and people’s rights.
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5
PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e justiça internacional, p. 191.
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6
HEYNS, Christof; KILLANDER, Magnus. The African regional human rights system, p. 515.
7
ACHPR. 155/96 Social and Economic Rights Action Center (SERAC) and Center for Economic and Social
Rights (CESR) v. Nigéria.
8
BALDE, Aua. O sistema africano de direitos humanos e a experiência dos Países Africanos de Língua
Oficial Portuguesa.
9
COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos, p. 391.
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2. ÓRGÃOS
10
GONDINHO, Fabiana de Oliveira. A proteção internacional dos direitos humanos, p.132.
11
FEFERBAUM, Marina. Proteção internacional dos direitos humanos: análise do sistema africano, pp.
114-116.
12
OUGUERGOUZ, F. The African Charter on Human and People’s Rights: A comprehensive agenda for
human rights. Alphen aan den Rijn: Kluwer Law International.
13
MUBIALA, Mutoy. Le système regional africain de protection des droits de l’homme, p. 87.
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14
ACHPR. Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos..
15
Ibidem.
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declaração expressa do Estado é necessária para que a Corte tenha competência para
acolher queixas individuais de direitos humanos contra ele, o que, talvez sem surpresa, só
foi assinado por sete Estados africanos.
O impulso para estabelecer essa Corte Africana é tão antigo quanto a própria
Carta Africana, tendo sido considerado, mas rejeitado por vários motivos pelo Comitê de
Especialistas que redigiu a Carta Africana em 1979, conforme dito no item 1.1. Foi
motivado, em parte, pela necessidade de fortalecer o Sistema Africano e aumentar a sua
capacidade de gerar decisões vinculativas que forçassem os Estados a cumprir, promover
e proteger direitos humanos na região.
16
ACHPR. The matter of Association pour le Progrès et la défense des droits de femmes maliennes (APDF)
and the Institute for Human Rights and Development in Africa (IHRDA) v. Republico f Mali.
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jurídicos ao casamento religioso da mesma forma que o civil, por determinar a idade de
16 anos como idade núbil apenas a mulheres, e, em questões de herança, discriminava
com base no sexo e no fato dos filhos terem nascido ou não no seio familiar do casamento
em questão. Em 2011, esse projeto reformulado, já com bases em preceitos islâmicos
mais tradicionalistas e opostos ao objetivo inicial.
Em 2016, duas ONGs de proteção de direitos humanos levaram à Corte Africana
o pedido de condenação da República do Mali pela adoção desse novo Código menos
protetivo e discriminatório do ponto de vista sexual e de origem filial. O caso foi admitido
pela observância dos requisitos de: 1) expressa aceitação pelo Mali da possibilidade de
ONGs e indivíduos proporem demandas perante à Corte, conforme os arts. 34 (6) (1) e 5
(3) (2) do Protocolo da Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos relativo á
Criação de uma Corte Africana dos Direitos Humanos e dos Povos;17 e 2) as ONGs tinham
status de observadores na Comissão, o que as permitiu postular o caso perante a Corte.
Tendo em vista a abertura do art. 31 do Protocolo Relativo aos Estatutos da Corte
Africana de Justiça e de Direitos Humanos, que diz: “No exercício das suas funções, a
Corte deverá lidar com o seguinte: (...) b) os tratados internacionais, gerais ou especiais,
aos quais os Estados em litígio são Partes”18, as ONGs fundamentaram o caso em
violações ao Protocolo à Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos Sobre os
Direitos das Mulheres na África, conhecido como Protocolo de Maputo;19 na Carta
Africana dos Direitos e Bem-Estar da Criança;20 iii) na Convenção sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher,21 de âmbito internacional.
Após o reconhecimento da jurisdição da Corte e da admissibilidade do pedido,
as questões enfrentadas pela Corte tratavam da idade mínima para casamento, do
consentimento para casamento, do direito à herança para mulheres e crianças, e a
eliminação de tradições e costumes prejudiciais a mulheres e crianças. A Corte não
acolheu os argumentos de força maior, que pretendiam justificar as mudanças legislativas
17
ACHPR. Protocol to the African Charter on Human and Peoples Rights on the establishment of an
African Court on Human and People’s Rights.
18
ACHPR. Protocol on the Statute of the African Court of Justice and Human Rights.
19
ACHPR. Protocol to the African Charter on Human and Peoples’ Rights on the Rights of Women in
Africa.
20
ACHPR. African Charter on the Rights and Welfare of the Child.
21
ONU MULHERES. Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra a
mulher.
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com base nas manifestações sociais e religiosas no país, nem de eventual espelhamento
natural dos aspectos sociais, culturais e religiosos da população do Mali.
Mais do que isso, a Corte decidiu que a República do Mali tinha obrigação de
adotar mecanismos que eliminassem a discriminação contra as mulheres, sobretudo em
decorrência de serem partes da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra a Mulher, no âmbito da ONU. Ao fim, o Estado-parte foi condenado
por ter violado tal Convenção e também o Protocolo de Maputo e a Carta Africana dos
Direitos e Bem-Estar da Criança.
O segundo caso que merece menção envolveu a Comissão Africana dos Direitos
Humanos e dos Povos v. República do Quênia22, julgado em 2017, também conhecido
como caso da Comunidade Indígena Ogiek, que fica na Floresta de Mau, no Quênia. Essa
etnia indígena africana tem aproximadamente 20 mil membros, dentre os quais 15 mil
vivem na área mencionada.
Em outubro de 2009, a Comunidade Indígena Ogiek recebeu uma notificação do
Estado do Quênia, pelo seu Serviço Florestal, informando que a comunidade inteira teria
30 dias para sair de suas casas, pois a área que ocupavam se tornaria uma zona de captação
de água, e, portanto, de propriedade estatal, conforme previa o Código de Administração
de Terras do Quênia.
Tendo em vista a evicção arbitrária, sem possibilidade de defesa por parte da
Comunidade, nem tendo realizado prévia consulta, os Ogiek afirmaram que outra
atrocidade estava sendo cometida contra seu povo, já que, desde o período colonial, a
etnia vinha sofrendo injustiças históricas que jamais foram reparadas. Assim, buscando a
reparação do aviltamento de seus direitos, além do reconhecimento de sua ancestralidade
e seu status indígena, em 2012 eles recorreram à Corte Africana dos Direitos Humanos e
dos Povos.
Para resguardar seus direitos e impedir o procedimento de expulsão de suas
terras, a Comunidade Ogiek pediu em caráter liminar à Corte medidas preventivas para
tanto, o que foi deferido no início de 2013, haja vista a gravidade, a urgência e a iminência
de violações de direitos que poderiam afetar de forma permanente a Comunidade.
Nesse sentido, a Corte sentenciou o Quênia a restabelecer imediatamente as
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ACHPR. African Commission on Human and Peoples’ Rights v. Republic of Kenya..
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3. PERSPECTIVAS FUTURAS
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REFERÊNCIAS
ACHPR. 155/96 Social and Economic Rights Action Center (SERAC) and
Center for Economic and Social Rights (CESR) v. Nigéria. Disponível em:
<https://www.achpr.org/pr_sessions/descions?id=134>. Acesso em: 17.03.2021.
__________________. African Charter on the Rights and Welfare of the Child.
Disponível em: <https://www.african-
court.org/en/images/Basic%20Documents/African%20Charter%20on%20the%20Rights
%20of%20Child.pdf >. Acesso em: 17.03.2021.
__________________. African Commission on Human and Peoples’ Rights v.
Republic of Kenya. Disponível em: <https://www.escr-
net.org/sites/default/files/caselaw/ogiek_case_full_judgment.pdf>. Acesso em:
17.03.2021.
__________________. Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos.
Disponível em: <https://www.achpr.org/pr_home>. Acesso em: 17.03.2021.
__________________. Protocol on the Statute of the African Court of Justice and
Human Rights. Disponível em: <https://www.african-
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CURRIE, Robert. A transnational criminal court for latin america and the Caribbean.
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