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Índice

Introdução ..................................................................................................................................................... 1
As Origens Da Democracia Africana............................................................................................................ 2
As Resistências À Democracia, No Período Pós-Colonial ........................................................................... 3
O Regime Do Aphartheid E O Legado De Nelson Mandela ........................................................................ 5
Democracia Africana Sobre Ponto De Vista Da União Africana ................................................................. 6
Conclusão...................................................................................................................................................... 8
Referencias bibliográficas ............................................................................................................................. 9
Introdução

África, com a conquista da independência política, em relação ao domínio europeu, as ex-colônias


passam a experimentar uma forte disputa interna que visava ocupar os espaços de poder criados
com a saída do colonizador. É nesse cenário que o problema da implantação de regimes
democráticos, em terras africanas, se impõe. A democracia é realmente o melhor caminho a ser
seguido por aqueles povos? Em caso afirmativo, qual seria o modelo mais propício a ser
implementado ali? Por que a democracia parece encontrar tanta resistência, no continente? De
acordo com a perspectiva do filósofo ganense Kwasi Wiredu, por exemplo, a respeito da
instauração de regimes democráticos em seu continente, certamente a democracia é a via que a
África deve trilhar. Assim, levanta-se uma questão fundamental, ou seja, é preciso, então, definir
qual modelo de democracia seria o mais adequado. Para o pensador, os dois sistemas de
democracia propostos pelo Ocidente, isto é, tanto aquele de um único partido (inspirado na antiga
União Soviética) como o de tipo multipartidário (com origem na Europa ocidental), não são
aconselhados. Segundo a sua percepção da situação, "um sistema não partidário baseado no
consenso como um princípio central de política de tomada de decisão, em África, poderia evitar
os problemas de ambos os sistemas" (VASCONCELOS, 2018, p. 575).

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As Origens Da Democracia Africana

De fato, os debates entorno da implantação de regimes democráticos na africa, considerando seus


diferentes países, se por um lado, não é algo que possa ser caracterizado como simples, por outro,
certamente, trata-se de uma discussão extremamente empolgante e necessária, especialmente, para
países como o Moçambique que, tendo já feito a opção pela democracia, sabe o quanto ela é valiosa
e frágil, exigindo, portanto, um cuidado perene para protegê-la e aperfeiçoá-la. Um dos aspetos
desta temática que, muito frequentemente, é posto sobre a mesa de discussão é a origem africana
da democracia. Isto costuma ser apresentado como uma característica negativa, uma vez que esta
maneira de organizar a vida coletiva seria algo imposto ao continente africano pelo colonizador.
O texto Democracia e liberdade, em África (1995), do filósofo moçambicano Lourenço do
Rosário, alerta:

O conceito de democracia, tal como o concebemos e o entendemos, decorre de um processo de


sedimentação cultural e socioeconômico que séculos de história assim no-lo demonstra. Os valores
subjacentes a esse conceito, nomeadamente, a escolha livre e universal dos dirigentes, o direito à
justiça, à liberdade de expressão e de opinião, em suma, tudo quanto tem sido considerado como
sendo o espaço do respeito dos "Direitos Humanos" emergem de uma conjuntura social econômica
e cultural muito ligada a um percurso histórico da civilização ocidental, com as contradições
havidas nesse mesmo percurso, relativas à base fundamental do seu substrato cultural, o
cristianismo, bem como a sedimentação dos saberes acumulados a partir de outras contradições de
natureza político-ideológica, de que as ideias liberais e o consequente individualismo assim o
testemunham. (ROSÁRIO, 1995, p. 261-262).

A democracia em África: a ascendência platônica (2022), Pierre Nzinzi chama a nossa atenção
para o perigo da instrumentalização da democracia pelas potências africanas. Quando isso
acontece, ela é reduzida a uma mera ideologia. Na visão desse teórico, uma democracia universal
seria útil para a África. Ele defende: “teremos sucesso em estabelecer uma verdadeira democracia
na África simplesmente fazendo uma boa democracia universal. [...] ela seria também lógica,

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vitória da substância sobre o predicado, do conteúdo sobre a forma.” (NZINZI, 2022, p. 220-221).
O artigo intitulado Pensar a política na África (2015), do filósofo da República CentroAfricana
Abel Kouvouama, contribui para nos posicionarmos melhor dentro do campo da filosofia política,
no referido continente. O autor orienta: “[...] a filosofia política contemporânea na África deve
igualmente levar em conta as visões práticas do político, compreendendo-o de uma só vez como
espaço de possibilidades e como espaço de experimentação de condutas humanas individuais e
coletivo” (KOUVOUAMA, 2015, p. 105). Além disso, esse texto procura lançar luz para
evitarmos as pedras de tropeço postas pelo neoplatonismo político em nossa caminhada
investigativa aqui proposta.

As Resistências À Democracia, No Período Pós-Colonial

Nos países sob o governo de um partido único, a organização da sociedade civil torna-se algo
extremamente difícil graças às dificuldades de toda monta criadas pelo Estado repressor. Portanto,
aqui, a grande questão que se apresenta é descobrir como ela pode enfrentar e superar essa força
negativa de um Estado pervertido pelo governo de um partido único.

O texto dos autores Marc-Éric Gruenais e Jean Schmitz, L’Afrique des pouvoirs et la démocratie
(1995) [África das potências e a democracia], contribui para montarmos o quadro geral do pós-
guerra, no que se refere a investigação aqui proposta.

Se após a Segunda Guerra Mundial, com as eleições de 1946-1947, a África conhece a "política"
que sucede ao despotismo colonial de período anterior, em particular no campo francófono, a
queda do Muro de Berlim e o fim da Guerra Fria abriram, no início do 1990, um novo período em
que os empréstimos do Banco Mundial, frequentemente, têm como “condicionalidade” a “virada
democrática'' que deve efetuar os regimes autoritários, presentes no continente: partido único,
ditadura militar... Floresceram as conferências nacionais, rituais eleitorais, partidos – às vezes,
com a aprovação moderada de Chefes de Estado ansiosos para mudar as coisas, criando os próprios
partidos – e os jornais, as folhas e outros semanários que testemunham o surgimento do quarto
poder, aquele da imprensa. (GRUENAIS; SCHMITZ, 1995, p. 7)

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Seguindo essa linha, aprofundando a discussão, o escrito La démocratie en Afrique: succès et
résistances (2009) [A democracia na África: sucesso e resistência], de Babacar Guèye, fornece
informações preciosas que nos situam historicamente dentro do cenário africano relativo à
problemática pertinente à democracia na África pós-colonial, a partir da nova configuração
advinda com a queda do muro de Berlim, em 1989. Um dos elementos importantes para a
implantação e o fortalecimento da democracia no continente africano, surgido nesse período e que
merece ser destacado, são as “Conferências nacionais”. Elas “são uma invenção, uma contribuição
africana para a teoria da democratização” (GUÈYE, 2009, p. 5). De fato, embora alguns países
africanos já tivessem iniciado o seu processo de democratização, será a partir de 1990 que a opção
pela democracia irá ganhar capilaridade no continente, levando muitos de seus países a empregar
esforços com o objetivo de implementá-la em seu território.

Neste sentido, não é exagerado apresentar como resultado positivo de tais esforços as seguintes
tendências: “a consagração de uma democracia constitucional, a construção progressiva do Estado
de direito e a organização de eleições disputadas e transparentes” (GUÈYE, 2009, p. 7) A respeito
da primeira delas, considere-se que a adesão africana ao constitucionalismo vincula o continente
à democracia liberal forjada no Ocidente. Assim, temos: “Entre os traços característicos da
democracia liberal, estão incluídos notadamente o pluralismo, a proclamação de direitos e
liberdades e, posteriormente, o reconhecimento e o respeito à oposição” (GUÈYE, 2009, p. 7).

No tocante à segunda inclinação, é salutar ter presente que, desde os anos 1980, a África
experimenta o retorno fortalecido do discurso relativo ao Estado de Direito. Este passou a ser uma
das principais bases sobre as quais a democracia constitucional, em território africano, vem
buscando se apoiar. Em relação à última, merece ser destacado que “A democracia, baseada na
vontade do maior número, implica, portanto, o sufrágio universal. A eleição é a base da democracia
representativa e por si só legitima o poder” (GUÈYE, 2009, p. 13). Tendo chamado a atenção para
os avanços que o texto menciona, nessa luta pela implantação de regimes democráticos em África,
agora, consideremos o que o autor diz sobre as dificuldades enfrentadas para democratizar o
continente.

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O Regime Do Aphartheid E O Legado De Nelson Mandela

Falar da democracia africana, remete-nos (em cronologia) para os principais influentes de sua
construção desde logo, NELSON MANDELA (1918-2013) 1216, Nos anos 60 e durante muito
tempo ou mesmo depois de ter sido elevado ao estatuto de herói de homem de paz, MANDELA
era visto por algumas pessoas como terrorista, o mesmo que tempo depois, consegui mudar a face
e o destino da ÁFRICA DO SUL. Ora bem, este estatuto foi-lhe dado por gente muito importante
v.g., MARGARET THATCHER (1925-2013) ¹217 e RONALD REAGAN (1911-2004)¹218
chamavam-lhe de terrorista, mas ele era considerado terrorista porque pertencia ao clã marxista-
leninista e se opunha ao cla anglo-saxónico de direita. Três anos antes da libertação, quando os
Sul-africanos começaram a negociar com ele anunciaram a MANDELA que estavam dispostos a
libertá-lo com a condição de renunciar a violência. Mas MANDELA recusa porque para ele a
perceção da violência era uma arma de negociação. Ou seja, ele sabia que se renunciasse a
violência no início não poderia agitar a ameaça do uso da violência durante o processo que iria
começar. Portanto, a sua posição relativamente à violência era desconhecida até ao momento em
que no estádio do SOWETO ele anuncia a sua visão sobre uma nova ÁFRICA DO SUL sem
violência. Nestes termos, MANDELA ou MADIBA como popularmente era chamado, este.
dirigente político africano, deixou um legado importante: particularmente para a democracia sul-
africana e para a democracia do continente africano no geral. Ora bem, porque temos um bocado
a tendência a limitar a ação de MANDELA, sua voz, sua missão, a projeção de MANDELA
unicamente a ÁFRICA DE SUL.

No entanto, MANDELA comprometeu-se com a conquista ideológica dos Governos e a


Governança em ÁFRICA em geral. Ele tenta impor a democracia aos países africanos e empenha-
se pessoalmente. Por exemplo: ele serve de mediador entre o presidente MOBUTU SESE SEKO
(1930- 1216 NELSON ROLIHLAHLA MANDELA foi jurista, advogado, lider rebelde e
Presidente da República da ÁFRICA DO SUL (1994-1999), foi o mais importante lider da
ÁFRICA NEGRA. Vencedor do Prêmio Nobel da Paz (1993) e pai da moderna Nação Sul-
Africana, onde é normalmente referido como MADIBA - nome do seu clã ou ainda, por TATA
que significa, Pai. 1217 Politica britânica, Primeira-Ministra do REINO UNIDO (1979-1990) e
membro do Partido Conservador. 1218 Ator e político norte-americano, o 40." presidente dos
Estados Unidos e o 33." governador da Califórnia. 282 1997)1219 do ZAIRE e o seu sucessor

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LAURENT KABILA (1939-2001)1220; (ii) ele intervém no BURUNDI. Ele escreve ao presidente
PASCAL LISSOUBA 1221 que recuse eleições no CONGO BRAZZAVILLE pedindo-lhe para
organizar um sufrágio. A perceção de que a Democracia também é necessária nos outros países
africanos vai acabar por confortar a sua posição interior.

Democracia Africana Sobre Ponto De Vista Da União Africana

A criação da UNIÃO AFRICANA no lugar da Organização da Unidade Africana tem vindo a ser
considerada como uma rutura importante nas relações externas dos países. do continente africano,
na medida em que a instituição da nova organização se traduz na esperança das elites locais de
modificar as estruturas existentes. Portanto, deve ficar claro que ideia de criação da UNIÃO
AFRICANA adiante designada (UA) inspira-se na ideologia do movimento PAN-
AFRICANISMO cuja fundação se insere num contexto da necessidade de uma organização capaz
de fazer frente aos desafios potencializados pela situação gerada pelo encerramento do conflito
bipolar numa entrada dum novo milénio profundamente marcado pela evolução acentuada do
processo de globalização (...) havia. uma toda necessidade de aperfeiçoar a OUA em todas as
dimensões quer seja nominal quer seja substancial para responder bem os novos desafios do
milénio e realinhar a sua posição quanto ao comercio internacional rumo ao desenvolvimento do
milénio e consequentemente do continente.

Em matéria de substância, estaria na origem da formação da OUA e da subsequente UA dois


aspetos essencialmente fundamentais e que determinam a sua importância, designadamente:

(i) A criação da UA é importante pois, pela primeira vez, uma organização africana inspira
confiança e gera grandes. expectativas e esperança no sentido de dar uma maior
visibilidade no cenário social, político e económico mundial propriamente como um
bloco;
(ii) (ii) A criação da UA surge num contexto diferente, diria, de seguimento, das ideologias
democráticas dos líderes que influenciaram o processo democrático em ÁFRICA v.g.,
NELSON MANDELA, claro que, inaugurando assim, uma nova fase, caraterizada pela

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eliminação dos últimos resquícios da colonização no continente, do regime racista na
ÁFRICA DO SUL (em 1994), da pacificação de sociedades politicamente dilaceradas
por guerras civis v.g.. MOÇAMBIQUE e ANGOLA, dos avanços da democracia-
constitucional popular (num primeiro momento) e da democracia-constitucional
pluripartidário (à posterior) não só como também os avanços de novas lideranças
regionais (...). Neste sentido, vários objetivos foram traçados desde logo:

(i) como fiz menção ao de cima, cabe à UA desempenhar um papel de liderança no continente no
que diz respeito, sobretudo à harmonização e racionalização de políticas e programas de
intercâmbio de experiências, de fortalecimento e capacidades institucionais;

(ii) neste sentido, a Comissão da UA está focada essencialmente, na paz e segurança,


desenvolvimento social, no aprimoramento da igualdade do género e saneamento.

No que diz respeito a atuação da UA, é vista como uma organização com desafios próprios desde:

(i) o seu real significado, o que recoloca em questão a viabilidade da instituição em torno
da transição OUA para UA no que diz respeito as diferenças e objetivos;
(ii) a questão relacionada com a Comissão, o Parlamento PAN-AFRICANO, o Conselho
Económico, Social e Cultural, do Tribunal de Justiça tanto como das instituições
financeiras considerados instrumentos que representam o cerne institucional da União,
permanecerem ainda com funções e poderes não claramente definidos;
(iii) a falta de pagamento por parte dos Estados-membros, o que afeta sobremaneira o
correto funcionamento da organização¹225

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Conclusão

Em jeito de conclusão desta parte introdutória inerente ao capítulo da democracia-africana em


geral, alguns pontos são mesmo de ressalvar, nomeadamente:

I. A democracia africana em conceito, não é algo que se afigure perfeito, estático, ao


contrário, está em constante devir, isto traduz-se em algo de natureza dinâmica, em
constante aperfeiçoamento, podendo mesmo arriscar-me ou atrever-me a dizer que nunca
foi plenamente alcançado, uma vez que sua construção e seu quadro de aprimoramento
derivam dos fatos históricos, reconhecendo expressão em Gomes Canotilho "como um
claro processo de continuidade transpessoal, irredutível a qualquer vinculação do processo
político a determinadas pessoas "1285. É, nos dizeres de PAULO BONAVIDES que dou
"tom" conclusivo a problemática do conceito de democracia ao afirmar que: "variam, pois,
de maneira considerável as posições doutrinárias acerca do que legitimamente se há-de
entender por democracia. Afigura-se-nos, porém, que substancial parte dessas dúvidas se
dissipariam, se atentássemos na profunda e genial definição lincolniana de democracia:
governo do povo, para o povo, pelo povo"¹286,
II. A democracia africana, por considerar-se, não ser um valor-fim em si mesma, mas
meioinstrumento de realização de valores indispensáveis de convivência social, se
enriqueceu com o passar do tempo e das lutas sociais, sempre impulsionada pela aspiração
do homem na progressão para a liberdade;
III. Notou-se, que o princípio democrático (nos dizeres de Gomes Canotilho) "não elimina a
existência das estruturas de domínio, mas implica uma forma de organização desse
domínio. Dai o caraterizar-se o princípio democrático como princípio da organização da
titularidade e exercício do poder"1287;
IV. O reconhecimento universal da importância política da democracia-africana conforme
vimos é notável e inegável. Basta reparar no sentido histórico e jurídico que a mesma
ganhou na Europa, na Ásia, na América (...) e em África. A democracia foi proclamada
como um dos direitos universais e fundamentais do homem, como um regime político em
que o poder repousa na vontade do povo, sendo reconhecida a sua importância no artigo
6, da Declaração de Direitos de Virgínia (1776).

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Referencias bibliográficas

ROSÁRIO, Lourenço Joaquim da Costa. Democracia e liberdade, em África.


Revista da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, v. 2, n. 8, p259-267,1995.
SYLLA, Ndongo Samba. La democratize est-elle portuense de develepment.
VASCONCELOS, Francisco Antonio de. Filosofia africana e a descolonização do pensar.
VASCONCELOS, Francisco Antonio de. A racionalidade que alimenta a ética de Kwasi Wiredu
Ferreira de História e cultura afrodescendente.
VISENTINI, Paulo Gilberto Fagundes. Regimes militares marxistas africanos, ascensão e
queda: condicionantes internos e dimensões internacionais. Revista Brasileira de Estudos
Africanos.

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