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12/05/2021 Envio | Revista dos Tribunais

Uma perspectiva ocidental da democracia e seus reflexos no Oriente Médio

UMA PERSPECTIVA OCIDENTAL DA DEMOCRACIA E SEUS REFLEXOS NO


ORIENTE MÉDIO
An western perspective of democracy and its reflections in the Middle East
Revista de Direito Constitucional e Internacional | vol. 105/2018 | p. 281 - 302 | Jan - Fev / 2018
DTR\2018\8051

Juliana Cardoso Ribeiro Bastos


Professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e das Faculdades Metropolitanas Unidas.
Coordenadora da Coordenadoria de Direito Constitucional pertencente à Comissão do Acadêmico da
Ordem dos Advogados de São Paulo. Advogada. - ju_crbastos@yahoo.com.br

Área do Direito: Constitucional; Internacional


Resumo: Chama a atenção o pôster divulgado pela cidade de Cardiff, capital do país de Gales, Reino
Unido, em abril de 2015, no qual se reproduz um aviso, no sentido de alerta aos muçulmanos, para
eles não votarem nas eleições gerais porque violariam as leis de Allah. Assim, este artigo propõe a
análise dos reflexos da Democracia, na perspectiva da globalização, como um valor ocidental, no
Oriente Médio.

Palavras-chave: Ocidentalismo – Democracia – Islamismo – Oriente Médio – Globalização


Abstract: Attention is drawn to the poster issued by the city of Cardiff, the capital of Wales, United
Kingdom, in April 2015, in which a warning is issued to alert Muslims not to vote in the general
elections because they would violate the laws Of Allah. Thus, this article proposes the analysis of the
reflexes of Democracy, in the perspective of globalization, as a Western value, in the Middle East.

Keywords: Western – Democracy – – Islam – Middle East – Globalization


Sumário:

1 Introdução - 2 Considerações sobre a democracia - 3 O ocidentalismo da democracia e a globalização


- 4 A possibilidade democrática no Oriente Médio - 5 Conclusões - 6 Referências bibliográficas

1 Introdução
O método marxista de intepretação é aquele em que os textos só podem ser lidos a partir de seus
próprios contextos. Considera a realidade contraditória, assim como ressalta que dependendo dos
óculos que se esteja usando, a visão da realidade poderá mudar. Nesse sentido, democracia é um
termo que desafia o intérprete. Sua atual dimensão ultrapassa o significado de forma de governo
adquirida com os gregos para indicar um modo de ser e de pensar.
Alguns acontecimentos internacionais têm chamado a atenção sobre a forma democrática de governo,
como um valor ocidental. Primeiramente, o pôster divulgado pela cidade de Cardiff, capital do país de
Gales, Reino Unido, em abril de 2015, no qual se reproduz um aviso, no sentido de alerta aos
muçulmanos, para eles não votarem nas eleições gerais porque violariam as leis de Allah.
Em segundo lugar, as palavras da Primeira-Ministra britânica, Theresa May, ao se pronunciar sobre o
ataque terrorista que ocorreu em Londres, em março de 2017, segundo a qual os valores da
democracia e da liberdade não serão derrotados e, ainda, que a escolha do local do ataque não teria
sido acidental, já que o terrorista escolheu o parlamento britânico, que é a casa da democracia, da
liberdade e da lei.
Com base nisso, este estudo se preocupa com o sentido da palavra democracia e, também, nela como
um valor pertencente à cultura ocidental. Decorrente de uma realidade onde as barreiras entre países
foram derrubadas pela facilidade de acesso às informações e, também, pelo desejo de preservar os
direitos humanos dentro de um contexto mundial, olha-se para o modelo democrático como uma das
formas de solução dos conflitos no Oriente Médio.
A possibilidade democrática no Oriente Médio será abordada a partir do movimento da Primavera
Árabe, destinado a derrubada de governos ditatoriais naquela região, bem como tratará da invasão
norte-americana no Iraque e na Síria. O Oriente Médio é um território conhecido por ser o berço das
religiões cristã, judaica e muçulmana. E, em razão da forte influência do islã nessa região, pretende-se
compreender em que medida é possível ela se relacionar com a democracia.
2 Considerações sobre a democracia

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Na Teoria do Estado, a democracia é um regime de governo caracterizado pela participação do povo na


tomada de decisões políticas. Nas palavras de Abraham Lincoln, a democracia “é o governo do povo,
pelo povo, para o povo”. Contudo, não é tão simples conceituar democracia.
De fato, “os defensores da D. têm em comum a sua concepção como política caracterizada por ‘regras’
(sufrágio universal, governo da maioria sobre a minoria, possibilidade de alternância etc.)”.1
Entretanto, aponta Nicola Abbagnano, distinguem-se no que diz respeito aos “valores”. Nesse sentido:
Segundo alguns (p. ex., Kelsen), a D. tem caráter meramente procedimental; segundo outros (p. ex.,
Maritain), a D. não pode deixar de alimentar-se de ideias; considera-se intermediária a posição aquela
de quem (p. ex., Bobbio) vê o “futuro da democracia” no respeito às “regras do jogo”, evidenciando
que, vistas de perto, tais regras são expressões e condições de valores.2
Sua origem remonta aos gregos, conhecidos pela prática da democracia direta, já que se reuniam em
praça pública para resolver as questões políticas relativas às cidades-estados. Sobre o tema, Tercio
Sampaio Ferraz Junior explica que a
Democracia direta é aquela em que os participantes do grupo social votam diretamente nas leis que o
governam. Em tese, pelo menos em comunidades pequenas, pode-se, eventualmente, suprimir a
mediação, não se precisa de representante. Diz-se que Rousseau, como bom suíço, quando pensava na
chamada democracia direta, pensava na sua Genebra, em um núcleo comunitário pequeno, onde os
cidadãos iam à praça e votavam diretamente conforme os seus interesses. É evidente que a própria
experiência do século XIX mostrou a inviabilidade da democracia direta. Os Estados Modernos entraram
pelo caminho da representação, com todos os problemas que isso gerou.3
Esta última, hoje denominada como democracia indireta, é realizada por meio de representantes eleitos
pelo povo.
Apesar da origem antiga do regime democrático de governo, seu destaque ocorre com a Revolução
Francesa que impulsionou a ideia de representação. Também, a Inglaterra trouxe contribuição nesse
sentido. A Magna Carta (LGL\1988\3) de 1215 dispunha que nenhum subsídio ou auxílio seria imposto
no reino, a não ser com a aprovação do Magnum Concilium. Esse Conselho mais tarde se transformou
na Câmara dos Lordes, um dos ramos do sistema representativo da Inglaterra ao lado da Câmara dos
Comuns responsável pela representação popular.4
Ensina Celso Ribeiro Bastos que
A ideia de representar está etimologicamente ligada à de tornar presente algo que, na verdade, não
está. Nesse sentido o ator representa o personagem, sem se confundir com este. Portanto, a ideia de
representação implica uma duplicidade de sujeitos: o que representa e o representado. A dificuldade,
no fundo, consiste em precisar com rigor quais as relações que existam entre um e outro. Será que o
representante reflete ou espelha necessariamente a vontade do representado? Ou será que o
representante, livremente, toma as decisões segundo os seus próprios critérios, as quais, por um
fenômeno de imputação, acabaram atribuídas ao representado?5
Aponta Norberto Bobbio que “o problema da Democracia, das suas características, de sua importância
ou desimportância é (...) antigo”.6 Inclusive, é possível verificar ao longo do tempo diferentes
fundamentações para a democracia.
A primeira justificação deu-se em presença do absolutismo: inicialmente com a reivindicação da
liberdade (é a linha liberal que passa por Locke, Espinosa, Kant, Tocqueville e J. Stuart Mill) e depois
com a reivindicação da igualdade (é a linha social de Rousseau e Marx). A segunda justificação da D.
ocorreu em presença do totalitarismo (ideológico e tecnológico) do século XXI.7
Sobre a democracia, Alexis de Tocqueville, em sua obra Democracia na América, escrita a partir de
uma viagem sua aos Estados Unidos para escrever um estudo sobre o sistema prisional “esclarecido”
dos americanos e, admirado pela liberdade civil que encontrou, manifesta sérias reservas. Acreditava
ele que a democracia não poderia ser a tirania da maioria. “Ele estava convencido de que todo exercício
ilimitado do poder, fosse por um déspota individual, fosse por uma maioria política, estaria fadado a
terminar em desastre.”8
Explica Bobbio que
Na linguagem de Tocqueville, “democracia” significa, por um lado, como forme de governo em que
todos participam da coisa pública, o contrário da aristocracia; por outro lado, significa a sociedade que
se inspira no ideal da igualdade e que, ao se estender, acabará por submergir as sociedades
tradicionais fundadas em uma ordem hierárquica imutável. A ameaça que deriva da democracia como
forma de governo é para ele, como para o amigo John Stuart Mill, a tirania da maioria: perigo que a
democracia corre como progressiva realização do ideal igualitário é o nivelamento, cujo resultado final

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é o despotismo. São duas formas diversas de tirania, e ambas, portanto, ainda que de maneira diversa,
são a negação da liberdade.9
Assim, Tocqueville indica a necessidade de limites à política liberal e, considera Ian Buruma, que talvez
o problema hoje da democracia seja lembrar que
Os limites ao regime da maioria são necessários para proteger os direitos das minorias, sejam elas
étnicas, religiosas ou intelectuais. Quando essa proteção desaparece, terminamos todos perdendo as
liberdades que a democracia supostamente deveria defender.10
Interessante notar que
Tocqueville identificou outra fonte de contenção do sistema americano: o poder da religião. A cobiça
humana, bem como a tentação de chegar a extremos, era temperada pela influência moderadora de
uma fé cristã compartilhada. Nos Estados Unidos, a liberdade estava inextricavelmente entrelaçada
com a crença religiosa.11
Não obstante, Ian Buruma diz que
O espetáculo de políticos americanos de hoje pode lançar dúvidas sobre a observação de Tocqueville.
Ou melhor, a retórica de muitos aspirantes republicanos à Presidência soa como um desvio do que ele
viu em 1831. Religião e liberdade ainda são mencionados num mesmo sopro, mas com frequência para
promover visões extremas. Criticam-se minorias religiosas. Instigam-se medos apocalípticos. Promove-
se a intolerância. Tudo em nome de Deus.12
No sentido mais básico de democracia, Larry Diamond diz que
É uma forma de governo na qual o povo pode escolher seus líderes e substituí-los em eleições justas e
livres. É a soberania popular. No entanto, acredito que o objetivo seja sempre buscar um segundo
patamar, uma democracia de maior qualidade, com mecanismos que permitam ir além das eleições e
incluam uma legislação forte, a proteção das liberdades civis e a prestação de contas do governo.13
Já para Winston Churchill, “a democracia é a pior forma de governo possível, tirando todas as demais”.
Por fim, de acordo com Nicola Abbagnano:
Seja qual for a definição dada pelos diversos pensadores, a D. apresenta-se hoje como sociedade
aberta (Popper) ou fraterna (Bergson), caracterizada por três peculiaridades: respeito à pessoa,
aceitação do pluralismo e busca da paz, que constituem, respectivamente, o fundamento, o método e o
objetivo da D.14
2.1 A recessão democrática
A Freedom House, agência americana que monitora o grau de democracia no mundo, a partir de dados
coletados entre 2006 a 2015, divulgou informações preocupantes em seus relatórios. Ano a ano, houve
uma queda significativa nos índices de direitos políticos e liberdades civis medidos pela instituição. Na
mais recente avaliação, o número de países que pioraram seu status democrático era quase o dobro
dos que melhoraram sua situação.15
Para Larry Diamond, “vivemos uma recessão da democracia”. Explica que a democracia sofreu um
retrocesso no mundo na última década decorrente de
Uma combinação de fatores, como a invasão americana ao Iraque – que aumentou a descrença na
democracia – e o crescimento da China – que difundiu a percepção de que é possível avançar na
economia mesmo com um regime autoritário.16
O Professor da Universidade de Stanford vai além, pois, ainda considera como causas de uma recessão
democrática o aumento da desigualdade no mundo e o baixo crescimento, assim como desafios de
ordem política como os movimentos contra o assentamento de imigrantes e o crescimento de partidos
de extrema direita.17
Já Simone Goyard-Fabre não fala em uma recessão democrática, mas acredita em uma “crise” sobre a
democracia nos dias atuais. Para ela,
No pluralismo do mundo democrático, governar os indivíduos que reivindicam o tempo todo, com
direitos cada vez mais numerosos, sua igualdade com qualquer outra e sua liberdade sem limites é
uma tarefa das mais delicadas.18
Não obstante, reconhece que não há e jamais haverá democracia perfeita. Ela mostra que, “justamente
pelo pluralismo que é a sua alma, a democracia é particularmente vulnerável”.19
Para ela, a filosofia política tentou explicar o mal-estar da democracia de diferentes maneiras.

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Os marxistas enfatizaram a diferença entre a “democracia formal” e a “democracia real”; Tocqueville


deplorou a onda tumultuosa do individualismo e o peso esmagador da opinião pública; Nietzsche
procurou no embrutecimento do homem democrático as razões da insatisfação que o mata; Heidegger
incriminou a técnica; Hannah Arendt procurou a fonte do mal democrático no divórcio entre a palavra e
a ação; J. Habermas deplora a inadequação dos paradigmas do direito político às aspirações dos povos
de hoje; Paul Ricoeur fala da diluição dos valores; outros invocam a corrupção dos costumes, o perigo
das ideologias, a miragem das fantasmagorias e das utopias, a indiferença generalizada em relação à
ordem pública, o apagamento da memória histórica, a penumbra do labirinto existencial (...)20
A importância da democracia para a autora reside nela ser fonte de aspiração à liberdade, sendo que as
“virtudes da democracia são também suas fraquezas, sua força é também o que produz sua
impotência”.21 No mesmo sentido que Alexis de Tocqueville, ela também indica a necessidade de limites
em uma democracia. Em suas palavras, “é preciso saber compreender que a liberdade só ganha
sentido numa democracia dentro dos limites da natureza humana e que, como tal, ela se situa sob o
signo do realismo e da finitude”.22
Na Europa, Stéphanie Hennette, Thomas Piketty, Guillaume Sacriste e Antoine Vauchez, por uma
Europa Democrática, defendem um Tratado de Democratização da Zona do Euro (T-Dem), sob o
fundamento de que é preciso reinvestir no controle democrático e reinserir a democracia representativa
no cerne das políticas europeias. Interessante notar que o caminho se encontra no fortalecimento dos
parlamentos nacionais. No caso em específico da União Europeia, defende a inserção da Assembleia em
todos os núcleos de decisão do governo da zona do euro.23
A recessão democrática parece ser um problema mundial e, sendo assim, é preciso pensar sobre o
porquê de ela não vir dando certo. Enquanto pilar da garantia da liberdade, o ideal democrático
enfrenta desafios no ocidente e oposição no Oriente Médio.
3 O ocidentalismo da democracia e a globalização
Sobre a evolução da democracia, Larry Diamond lembra que
Tivemos ondas de democratização – como definiu Samuel Huntington, cientista político da Universidade
de Harvard. A primeira começou talvez no século 19 e se encerrou no século 20, com a ascensão do
fascismo. O fim da Segunda Guerra Mundial deu início à descolonização de muitos países,
especialmente no continente asiático, levando à segunda onda da democracia. Esse período terminou
com a militarização da América Latina, da África e da Ásia na década de 60. Já a terceira onda começou
em 1974 com a revolução em Portugal que forçou a saída do governo autoritário. A partir daí, tivemos
uma transição democrática em países como Espanha, Grécia, Filipinas e Coreia do Sul e na América
Latina, além do fim da União Soviética. O pico da terceira onda se seu no final da década de 90.24
Nicola Abbagnano, quando trata do desenvolvimento da Democracia e, no seu dignificado propriamente
político, distingue uma acepção tradicional de uma moderna. O que distingue as acepções é que, na
acepção moderna, a universalidade do conceito de homem e da sua participação política decorrente de
uma crescente consciência antropológica até o século XXI.25
Verifica-se que a evolução da democracia acompanha acontecimentos históricos importantes. Apesar de
o pós-Primeira Guerra Mundial ter tido um papel importante no redesenho mundial da política, devido à
criação da Liga das Nações, com forte influência kantiana na defesa de uma abertura do homem para a
formação de um governo mundial sem fronteiras como o caminho para a harmonia e a paz entre os
povos e, depois, no mesmo sentido, com a criação da Organização das Nações Unidas ao término da
Segunda Grande Guerra, verifica-se que até o final da Guerra Fria, os Estados assumiram uma posição
isolacionista.
Foi apenas com a queda do Muro de Berlim e com a materialização do Tratado de Maastricht que foi
possível a mudança do paradigma isolacionista que se tinha até então. Segundo Boaventura Sousa
Santos, isso se deve à globalização ou às globalizações, como ele quer. Para ele, “a globalização é um
fenômeno multifacetado com dimensões econômicas, sociais, políticas, culturais, religiosas e jurídicas
interligadas de modo complexo. Por esta razão, as explicações mono causais e as interpretações
monolíticas deste fenômeno parecem pouco adequadas”.26
O termo “globalização” indica-se o seu surgimento
Na década de 1980, nas escolas de administração dos EUA, para designar a expansão transnacional de
diversas empresas. O conceito logo de ampliou para definir o que para Manuel Castells é um momento
histórico do porte da Revolução Industrial.27
Assim, a globalização é um fenômeno de difícil delimitação. Contudo, não obstante a diversidade de
explicações a seu respeito, ela representa uma maior interação entre os povos, não apenas em relação

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às questões econômicas, mas também culturais, entre outros aspectos.28 As exceções foram os Estados
Teocráticos Fundamentalistas do Islã do pós-pan-arabismo.29
Os blocos que se formavam, a partir do interesse de um alinhamento político-econômico-jurídico entre
os Estados, enfrentou problemas relacionados às diferentes culturas. Observa Isaac Guimarães que “as
decisões tomadas em bloco para os Estados comunitários passaram a implicar déficit democrático e
uma mitigação da própria ideia acerca da soberania”.30
Ele defende a ideia de uma “democracia substantiva transnacional” e, para alcançar esse seu objetivo,
verifica uma mudança do papel do Estado na sociedade ao longo da história, inclusive, a partir do
fenômeno globalização e, também, com a consequente relativização da soberania dos Estados. Dentro
desse contexto, acredita ser possível, em um espaço transnacional, uma concepção pós-moderna de
democracia, como instrumento para enfrentar problemas que hoje são tidos como universais, como a
erradicação da pobreza, a sustentabilidade ambiental e a garantia de educação para todos.31
Isaac Guimarães justifica sua proposta
Em primeiro lugar, porque a transformação das sociedades globalizadas, representadas por uma
pluralidade de Estados, numa sociedade mundial sem Estados enfrentaria, no atual estágio
civilizacional, a oposição da diversidade. As sociedades, especialmente ocidentais, são plurais,
estruturadas em localismos culturais, cada qual exigindo reconhecimento de sua condição individual, já
para não se falar das diferenças no eixo leste-oeste, que chegam a posições extremadas de
ocidentalismo e orientalismo. Em segundo lugar, porque parece não existirem na estrutura social
condições para a autoconformação e auto-organização, de forma que a estrutura e as instituições
políticas são consideradas indispensáveis.32
Segundo ele, verifica-se uma inefetividade dos modelos supranacionais para solução de conflitos, como
é o caso da Organização das Nações Unidas. Ademais, essa inefetividade coloca em causa a validade
desses organismos internacionais. Isso porque desconsideram as possibilidades multilaterais que estão
em jogo nesse cenário conflituoso e, ainda, não possuem meios de dissolver conflagrações no mundo
árabe.
Samuel P. Huntington, em seu livro O choque de civilizações, apresenta sua visão, segundo a qual “as
fontes fundamentais de conflitos neste mundo novo não se darão entre classes sociais, ricos e pobres,
ou entre outros grupos definidos em termos econômicos, mas sim entre povos pertencentes a
diferentes entidades culturais”.33 “Jacques Delors concordou que ‘os futuros conflitos serão deflagrados
mais por fatores culturais do que pela economia ou pela ideologia”.34 Sua teoria é bastante criticada
por ser considerada preconceituosa em relação ao islã e, também, por afastar qualquer possibilidade de
convivência entre o islã e o Ocidente. Contudo, serve para demonstrar a problemática enfrentada por
essa divisão no mundo.
Além disso, Huntington, entre as nove civilizações que aponta existirem, explica que a civilização
islâmica, muçulmana ou árabe seria aquela formada pelos países que possuem o islã como religião
predominante, e que, por vezes, falam língua árabe. Enquanto que a civilização ocidental, seria,
provavelmente a maior, e aquela formada pelos países da América e da Europa Ocidental, entre outros
países que adotariam o cristianismo como religião predominante.35
Segundo ele,
O colapso do comunismo exacerbou essa disparidade ao reforçar no Ocidente a noção de que sai
ideologia de liberalismo democrático tinha triunfado em escala global e que, portanto, tinha validade
universal. O Ocidente – e em especial os Estados Unidos, que sempre foram uma nação missionária –
está convencido de que os povos não-ocidentais deviam se dedicar aos valores ocidentais de
democracia, mercados livres, governos limitados, direitos humanos, individualismo e império da lei, e
de que deviam incorporar esses valores às suas instituições. Nas outras civilizações, há minorias que
abraçam e promovem esses valores, porém as atitudes predominantes em relação a eles nas culturas
não-ocidentais variam de um ceticismo generalizado a uma intensa oposição. O que é universalismo
para o Ocidente é imperialismo para o resto.36
O ocidentalismo se contrapõe ao orientalismo. Enquanto o primeiro implica uma visão oriental sobre a
influência do ocidente no oriente, o segundo aponta a perspectiva contrária, a visão ocidental sobre a
influência do oriente no ocidente. Dessa forma, o ocidentalismo indica a imposição expansionista da sua
cultura no oriente. A propósito, observa Edward Said que essa invenção do termo orientalismo,
cunhada pelas grandes nações imperialistas, promove a segregação, dividindo o mapa em “dois
mundos”, os ocidentais e os orientais.37
O Ocidente e o Oriente são tratados, por Nicola Abbagnano, como sendo uma “dicotomia geográfica
que remete a uma contraposição de civilizações e de visões do mundo”. Explica que na literatura
filosófica é usado de duas maneiras antitéticas. De acordo com a primeira maneira, o Oriente aparece
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como valor negativo, e o Ocidente com valor positivo. Para essa acepção (pensemos em autores como
Hegel e Marx), “o Oriente se configura como o ‘ainda-não’ do Ocidente e está para ele como o atrasado
para o desenvolvido, o despótico para o livre, o comunitário para o societário, o religioso para o
secularizado, o contemplativo para o ativo etc. Por outro lado, de acordo com a segunda maneira, o
Oriente aparece com valor positivo, e o Ocidente com valor negativo. Para essa acepção (pensemos na
corrente de pensamento que vai de Schopenhauer a Hesse), o Oriente se configura como o lugar da
espiritualidade, da sabedoria originária, da tradição etc., e o Ocidente como a terra do materialismo, do
cientificismo, do pragmatismo tecnológico etc.”38
André Bueno, valendo-se das lições de Said, expõe que:
Em seu livro Orientalismo – A invenção do Oriente pelo Ocidente (1978), o Oriente que hoje
conhecemos – com todas as suas indistinções e análises problemáticas – é fruto de uma construção
acadêmica ocidental (se é que tal existe, talvez sendo melhor classificá-la como europeia) que buscou
subjugar tudo aquilo que estava fora de sua tradição histórica a um critério pseudocientífico, no qual os
outros (os asiáticos, no caso) foram classificados em degraus de uma hierarquia de saber que buscava
provar, a todo o tempo, sua inferioridade cultural, intelectual e racial.39
Ian Buruma e Avishai Margalit, em obra intitulada Ocidentalismo: o ocidente aos olhos de seus
inimigos, estabelecem um diálogo com a obra clássica de Edward Said sobre o “Orientalismo”. Para os
autores, o ocidentalismo é o retrato desumano do Ocidente pintado por seus inimigos.40
Os autores acima ainda esclarecem sua pretensão ao considerarem que
O que move o ocidentalismo é demonstrar que os homens-bomba suicidas e os guerreiros santos de
hoje não sofrem de alguma curiosa patologia, mas são arrebatados por ideias que têm uma história.
Essa história não tem fronteiras geográficas claramente definidas. O ocidentalismo pode irromper em
qualquer parte. Entender não é desculpar, da mesma forma que perdoar não é esquecer, mas sem
compreender aqueles que odeiam o Ocidente, não podemos impedi-los de destruir a humanidade.41
A democracia é vista como pertencente à cultura ocidental. Para os islâmicos, “a democracia é uma
ideologia, um modo de vida a seguir e há dalil no Qur’na e na Sunnah que dizem claramente que o
único din a seguir é o islam!”42. Nesse caso, o ocidentalismo da democracia, valendo-se da
globalização, é a expansão desse valor aos países orientais como forma de solução dos conflitos
naquela região. Contudo, na visão dos orientais, a instituição da democracia em seus territórios
resultaria em uma mudança no seu modelo de Estado Teocrático para um modelo de Estado laico.43
4 A possibilidade democrática no Oriente Médio
O Oriente Médio é uma região que corresponde à área geográfica à volta das partes leste e sul do mar
mediterrâneo. Ele fica na junção da Eurásia, da África, do mar Mediterrâneo e do Oceano Índico. Como
já foi apontado, é o local de nascimento do cristianismo, do judaísmo, do islamismo, entre outras
religiões. Contudo, há um predomínio do islamismo como religião.
Samuel Huntington explica que “durante as décadas de 70 e 80, mais de 30 países passaram de
sistemas políticos autoritários para democráticos. (...) A democratização foi mais bem-sucedida em
países conde as influências cristãs e ocidentais eram fortes”.44
4.1 O islamismo: uma religião ou uma ideologia?
Religião não se confunde com ideologia. A religião é a
Crença na garantia sobrenatural da salvação, e técnicas destinadas a obter e conservar essa garantia.
A garantia religiosa é sobrenatural, no sentido de situar-se além dos limites abarcados pelos poderes
do homem, de agir ou poder agir onde tais poderes são impotentes e de ter um modo de ação
misterioso e imperscrutável.45
Já a ideologia, segundo Norberto Bobbio, possui um significado forte e um significado fraco.
No seu significado fraco, ideologia designa o genus, ou a species diversamente definida, dos sistemas
de crenças políticas: um conjunto de ideias e de valores respeitantes à ordem pública e tendo como
função orientar os comportamentos políticos coletivos. O significado forte tem origem no conceito de
Ideologia de Marx, entendido como falsa consciência das relações de domínio entre as classes, e se
diferencia claramente do primeiro porque mantém, no próprio centro, diversamente modificada,
corrigida ou alterada pelos vários autores, a noção da falsidade: a Ideologia é uma crença falsa. No
significado fraco, Ideologia é um conceito neutro, que prescinde do caráter eventual e mistificante das
crenças políticas. No significado forte, Ideologia é um conceito negativo que denota precisamente o
caráter mistificante de falsa consciência de uma crença política.46
Diz Abdelwahab Meddeh que “o Islã constitui, a um só tempo, uma civilização, uma religião e um
objetivo político”.47
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Como religião, o islã foi fundado por Maomé e os seus principais dogmas são a unicidade de Deus, a
autoridade dos Profetas, a existência de anjos, a espera do Juízo Final e a predestinação.48 No livro, As
grandes religiões do mundo, considera-se que o que particulariza o islã é a confirmação de que Deus é
Único. Para os muçulmanos, “o Alcorão vem recordar e recapitular todas as mensagens precedentes,
particularmente as da Tora e dos Evangelhos”.49
Contudo, com a morte de Maomé, o mundo islâmico se dividiu. As interpretações dos textos sagrados
variam e é possível encontrar com os sunitas uma leitura mais tradicional do ponto de vista religioso e,
com os xiitas, uma interpretação mais flexível.
Versões mais radicais sobre a leitura dos textos sagrados deram origem a grupos que passaram a
defender o islamismo como uma ideologia e a praticar o terrorismo. O grupo do Estado islâmico, por
exemplo, tem sua origem na Al-Qaeda. Sua separação em grupos distintos ocorreu em 2013. Para o
grupo do Estado islâmico, a interpretação violenta do islã é a única possível. Inclusive, são chamados
de fundamentalistas porque buscam voltar ao que seriam os fundamentos do islã ao longo do século
VII.
Para Amós Oz, em palestra proferida para o Fronteiras do Pensamento, considera que
Quanto mais complexos os problemas vão se tornando, mais as pessoas esperam respostas simples. E
os fanáticos, os dogmáticos, sempre têm uma resposta simples para tudo. “Ah, vamos culpar a
globalização. A culpa é do Oeste, do ocidente, dos muçulmanos, do colonialismo. A culpa é do
capitalismo, do sionismo, as religiões são culpadas por seu polarismo, permissivismo. Escolha quem é o
vilão. Mate o vilão e o reino dos ceús vai começar imediatamente”. Esta é a resposta dos fanáticos.
Simples, com uma frase atraente, eficaz e fácil de você memorizar e usar. Duas ou três gerações após
o mundo assistir às atrocidades do racismo nazista e do radicalismo soviético, as pessoas estão
procurando por respostas simplistas. E este é o grande perigo para Oz.50
Como já se observou, “Tocqueville foi antes liberal que democrata. Estava firmemente convencido de
que a liberdade, principalmente a liberdade religiosa e moral (mais que a econômica), era o
fundamento e o fermento de todo poder civil”.51 Por sua vez, na visão de Ian Buruma,
Os Estados Unidos não são o único país onde uma minoria de demagogos está envenenando a política
dominante. Ouve-se a linguagem religiosa com frequência cada vez menor na Europa Ocidental, mas
cada vez maior em partes da Europa Oriental, na Turquia e em Israel. E a mensagem do populismo é
semelhante em todo o mundo democrático: as elites liberais são culpadas de todos os nossos males e
ansiedades, da crise de refugiados na Europa às injustiças da economia global, do ‘multiculturalismo’ à
escalada do islamismo radical.52
Ensina Alexandre Guerreiro que, para compreender a evolução da realidade muçulmana, deve-se
conhecer o impacto da morte do Profeta Maomé, no ano 632 d.C. Isso porque até hoje não há um
consenso sobre quem teria assumido o seu lugar. “Não pode ser ignorado o facto de Maomé estar para
o Islão como Jesus Cristo está, até certa medida, para o Cristianismo. Todo o Islão centra-se na
revelação que Deus fez ao Profeta e no seu modo de vida.”53
A luta pela sucessão foi travada em razão da ausência de uma revelação divina em torno da futura
liderança, situação agravada pelo fato de nenhum dos filhos de Maomé ter atingido a idade adulta.
Explica Alexandre Guerreiro que
Fruto da indecisão, emergiram dois pólos distintos. No primeiro, Umar ibn Al-Khattab, muito próximo
de Maomé, nomeou Abu Bakr como sucessor do Profeta e conseguiu apoios suficientes para que este
fosse o primeiro califa. Porém, um segundo grupo surgiria em contestação desta decisão defendendo
que Ali ibn Abi Talib, primo e genro de Maomé, havia sido indicado como seu sucessor. A falta de
entendimento a este respeito acentuou-se sendo determinante para a divisão, até hoje, dos
muçulmanos em dois grupos: os sunitas, que sustentam que, ainda que Maomé não tenha designado
sucessor, a comunidade elegeu Abu Bakr como primeiro califa; e os xiitas, que defendem que a escolha
de Ali aconteceu com Ghadir Khum e teve inspiração divina, sendo, por isso irrefutável.54
No livro As grandes religiões do mundo, como um desafio atual do mundo muçulmano, verifica-se que
Estes últimos anos foram marcados pelo surgimento de um islão radical com expressões por vezes
violentas, que aceita a aplicação da Xariá (para organização social) e o modelo do “Estado islâmico
ideal” de Medina no tempo do Profeta (para a organização política).55
Entretanto,
Essas posições centradas no modelo religioso (um modelo que, na realidade, está separado da teologia
clássica ou das investigações intelectuais sobre as relações entre autoridade e poder) manifestam-se
em ruptura com a experiência da modernidade ocidental em matéria de democracia ou laicidade.56

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4.2 A Primavera Árabe


A Primavera Árabe, com início no fim de 2010, no Magreb (Marrocos, Argélia e Tunísia), teve como
marco inicial a queda da ditadura tunisiana, a qual abriu um ciclo de revoltas populares voltadas para
derrubar os regimes ditatoriais. Entre os motivos motores desse movimento, encontram-se as questões
ético-religiosas e a democracia. O que se nota é que ela teria trazido a esperança de uma confluência
entre os países islâmicos e alguns paradigmas, tidos como ocidentais, como o Estado de Direito, a
democracia e a proteção aos direitos humanos.
Os protestos civis iniciaram-se na Tunísia e, posteriormente, alcançaram os demais países árabes como
Egito, Líbia, Iêmen, Argélia, Síria, Marrocos, Omã, Bahrein, Jordânia, Sudão, Iraque. A propósito, para
Paulo Ferreira da Cunha “a Primavera árabe foi um tempo de muitas esperanças”.57
Em 2011, o fato irrompe o conflito na Síria, em especial a batalha de Aleppo (Halab, em árabe), com
movimentos civis contra a ditadura dos Assad que começou com uma rebelião pacífica de opositores do
regime ditatorial do partido Baath e se transformou em uma revolta armada e sangrenta. Os anseios do
povo Sírio são outros daqueles que motivaram a Primavera Árabe.
O governo de Bashar al-Assad, diferentemente de seus vizinhos, não se aliou às principais potências
ocidentais. Os radicais acreditam que o atual regime não defende as tendências islâmicas de seu
interesse.58
No Egito, a Primavera Árabe ensejou a derrubada do Presidente Hosni Mubarak e permitiu a realização
de eleições que levou, em junho de 2012, Mohamed Mursi a se tornar o primeiro Presidente eleito
democraticamente no Egito. Contou com o apoio da Irmandade Muçulmana (1928 – que é, inclusive, a
mãe de quase todos os atuais fundamentalistas muçulmanos) que se colocou em defesa da democracia,
pregando a liberdade religiosa e a igualdade de direitos entre homens e mulheres, o respeito às
minorias e ao pluralismo político. Mesmo assim, na prática, Mursi acabou por se tornar um governante
autoritário e buscou implantar um Estado islâmico até que foi deposto pelas Forças Armadas.
4.3 A invasão dos Estados Unidos no Iraque e na Síria
Larry Diamond coloca que os EUA deveriam ter apoiado a oposição na Síria quando o presidente Bashar
al-Assad começou a usar a violência. Segundo ele,
a melhor abordagem seria apoiar as organizações das próprias sociedades civis árabes e tentar
envolver os regimes autoritários em um diálogo. O que não pode acontecer é a imposição americana,
seja militar, seja na forma de pressão política.59
Ele lembra que isso claramente não funciona a exemplo do episódio de ocupação do Iraque, sendo
inclusive, como já se apontou, um dos motivos que contribuem para a recessão democrática.60 Para
ele,
depois de muitos anos de regime autoritário, é preciso preparar o terreno e educar os cidadãos para a
democracia. (...) No mundo árabe, onde há pouca ou nenhuma experiência com eleições, é ainda mais
desejável que essa transição seja realizada com calma.61
A invasão norte-americana no Iraque iniciou-se em 20 de março de 2003, com o apoio do Reino Unido,
da Austrália, da Polônia, além do Kuwait e da Arábia Saudita, que oferecem seus territórios de apoio.
Não obstante os motivos controversos da invasão, pode-se afirmar que objetivo era derrubar o regime
baathista e Saddam Hussein e, assim, libertar o povo iraquiano.
A intervenção norte-americana intensificou as forças do Estado islâmico já que depois do vácuo de
poder deixado pelo fim da invasão, fez com que surgissem movimentos autoritários. O Estado islâmico
viu a intervenção norte-americana como uma ameaça à cultura daquela região e, também, como uma
forma de impor os valores ocidentais.
Habermas questiona a intervenção como uma forma de impor valores a uma cultura que não se
aproxima daquela praticada no ocidente. Segundo ele,
foi justamente o pragmatismo norte-americano que estabeleceu a ideia de que o que é ou não justo
para todas as partes na mesma medida é dependente da tomada recíproca de perspectivas. A razão do
direito racional moderno não se torna válida em ‘valores’ universais dos quais, como se fossem bens,
podemos tomar posse, distribuir globalmente e exportar por todo o mundo. Os “valores” – mesmo
aqueles que devem contar com reconhecimento global – não pairam no ar, mas obtêm caráter
vinculante apenas nas ordens e práticas normativas de formas culturais de vida determinadas. Quando
milhares de xiitas protestam contra o Saddam e contra a ocupação americana na Síria, eles também
expressam a ideia de que as culturas não ocidentais precisam se apropriar do conteúdo universal dos
direitos humanos de acordo com seus próprios recursos e em uma forma de leitura que estabeleça um
vínculo convincente com as experiências e os interesses locais.62

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Por fim, Maria Garcia, valendo-se de Frank Attar quando trata do “dever de ingerência” para analisar a
intervenção internacional, ensina que:
a) a intervenção limita-se aos casos de urgência; b) à exceção de casos excepcionais (país vencido
militarmente como o Iraque, Estados em decomposição como a ex-Iugoslavía ou a Somália), o acordo
do Estado territorial é preliminar a toda intervenção; c) a intervenção deverá dar-se por associações
(OIG/ANG) no sentido puramente humanitário e não, como lembrou a CIJ em 1986, por motivos
políticos semelhantes a restabelecer, por exemplo, o que (um Estado) entenderia ser o respeito efetivo
da democracia.63
4.4 Democracia, Oriente Médio e islamismo
Larry Diamond, quando trata da recessão democrática, explica que:
Se classificarmos as regiões do mundo por seu grau de democracia, tirando os Estados Unidos, a
Europa aparece em primeiro lugar, seguida da América latina, da Ásia e da África. O Oriente Médio,
sem dúvida, fica em último lugar.64
Para ele,
o motivo da ausência de democracia nos países do mundo árabe não está ligado à religião ou à cultura,
mas ao fato de as economias basearem-se no petróleo. O petróleo é desfavorável para a democracia,
pois corre diretamente nas veias do Estado. Ele tende a derrubar outras indústrias e a aumentar o
poder centralizador do governo. O resultado, muitas vezes, é corrupção, alienação dos cidadãos e
desigualdade. A centralização do poder explica por que vivemos uma crise de autoritarismo na região.
Dos 19 Estados do Oriente Médio e do norte da África, 16 são autoritários.65
De outra forma, para o islamismo, não há distinção entre a lei de Alá e a lei do Estado. “O mesmo Alá
que criou o Corão criou as leis políticas que governam as sociedades islâmicas”66. Ainda, segundo eles,
o direito de legislar é exclusivo de Allah. Dar ao homem o poder de decidir politicamente colocaria o
homem ao lado de Allah e isso seria taghut (aquilo que é seguido fora daquilo que foi revelado por
Allah).67
Em artigo intitulado Democracia é um modo de vida estrangeiro, explica que:
Para compreender a incompatibilidade entre a democracia e o islam, devemos voltar para o tema
fundamental do islam: o iman (fé). Iman é um testemunho dado, depois do qual, uma pessoa pode ser
chamada de muçulmana e que a torna diferente das pessoas que descrêem (kafir). (...) E a base da fé
(iman) é a adoração e obediência exclusiva à Allah.68
David Brooks, em artigo sobre a obra O choque de civilizações de Huntington, lembra que, segundo
este,
os habitantes do mundo árabe não partilham dos mesmos pressupostos do mundo ocidental. Sua
relação primária se dá com a religião e não com o Estado-nação. Sua cultura não se mostra receptiva a
certas ideias liberais, como o pluralismo, o individualismo e a democracia.69
Ensina Paulo Ferreira da Cunha que
alguns conceitos ocidentais que se crêem universalizados (e em grande medida o estão, mas não
completamente) encontram por vezes em ambiente islâmico novas interpretações). Quando trata do
Estado de Direito e o Islã, esclarece que “Gutmann e Vogt, assim como já N. J. Brow, em Islamic
Constitutionalism in Theory and Practice, chamam a atenção para que, segundo alguns, o Corão seria a
Constituição comum a todos os muçulmanos. Tal, aliás, seria uma das razões para a tardia elaboração
de constituições em países muçulmanos. (...) Evidentemente, uma tal perspectiva sobre a Constituição,
a menos que tomada em sentido meramente literário ou metafórico, não se enquadra no Conceito
Ocidental de Constituição, oportunamente desenvolvido, em conferência no Brasil pelo saudoso mestre
Rogério Ehrhardt Soares, quando estava em perspectiva essa “carta magna” que viria a chamar-se
“Constituição cidadã”.70
Interessante que em 1977 foi apresentado um projeto de Constituição Islâmica pela Academia Al-Azhar
para a pesquisa islâmica, no Cairo. Nesse projeto, o seu art. 1º dispunha que: “os muçulmanos são
uma nação” e, no art. 2º, que a Sharia Islâmica “é a fonte de toda legislação”.
O islã oferece um tipo de governo identificado pelo objetivo de implementar a Sharia (lei islâmica).
Nesse sentido, a Democracia passa a ser anti-islâmica, sob a justificativa de que as leis foram dadas
por Alá e, por isso, não podem ser alteradas pelo ser humano. Com isso, não se quer dizer que não
existe a possibilidade democrática no Oriente Médio, mas que naqueles países onde há a predominância
do islamismo e ainda é forte o modelo Teocrático de Estado, torna-se um desafio a sua implementação.
5 Conclusões

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Concorda-se com Amós Oz, segundo o qual respostas simplistas para o contexto do Oriente Médio é
uma forma perigosa de querer solucionar o problema. O que se verifica é que, quando se trata de
assuntos mundiais, nenhum caminho a ser tomado é fácil.
A realidade se apresenta por meio de diferenças culturais, políticas, geográficas e valores, entre outros
aspectos. Considerar que a democracia solucionará os problemas de autoritarismo e de violação aos
direitos humanos das regiões pertencentes ao Oriente Médio pode ser um equívoco. Isso porque a
imposição de um modelo que é bom para uns, pode não ser para outros.
O Ocidente e o Oriente assumiram, ao longo da história, caminhos diferentes. A grande predominância
do islamismo em países do Oriente Médio faz com que seu papel vá além de ser a religião adotada,
para influenciar a forma de organização dessas sociedades.
A intervenção dos Estados Unidos e dos países que os apoiam não pode se dar de forma unilateral.
Para países que já adotam a democracia, sabe-se que ela não pode representar a tirania da maioria.
Ela deve ser um veículo para buscar a paz, o respeito às pessoas e o pluralismo, como bem apontou
Nicola Abbagnano.
O Ocidente tentar impor a democracia como um valor global. Relacionado à proteção da igualdade e da
liberdade, o ocidentalismo da democracia se apresenta como uma tentativa de instalar um Estado laico
e, por isso, viola os princípios do islamismo.
Por fim, a democracia garante valores imprescindíveis para o ser humano como a liberdade e a
igualdade. Não obstante, acredita-se que o meio de defendê-la seja por meio da educação, e não por
meio de uma imposição. Além disso, é necessário que exista um projeto contínuo, e não de uma hora
para outra para garantir a liberdade e os direitos humanos a esses povos.
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Contexto.

1 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. 6. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012. p. 278.

2 Ibidem, p. 278.

3 FERRAZ JR., Tercio Sampaio. Constituinte, assembleia, processo, poder. São Paulo: Ed. RT, 1985. p.
21.

4 BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de teoria do estado e ciência política. São Paulo: Celso BastosEditor,
2002. p. 132-133.

5 Ibidem, p. 133.

6 BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de política. 13. ed.
Brasília: UnB, 2010. v. 1. p. 320.

7 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. 6. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012. p. 277.

8 BURUMA, Ian. Não à tirania da maioria. Revista EXAME CEO. maio 2016, p. 58.

9 BOBBIO, Norberto. Liberalismo e democracia. São Paulo: Edipro, 2017. p. 75.

10 BURUMA, Ian. Não à tirania da maioria. Revista EXAME CEO. maio 2016, p. 60.

11 Ibidem, p. 59.

12 Idem.

13 Idem.

14 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. 6. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012. p. 278.

15 ROTHMAN, Paula. A recessão democrática: o americano Larry Diamond, professor na Universidade


Stanford e conselheiro das Nações Unidas, explica por que a democracia sofreu um retrocesso no
mundo na última década. Revista EXAME CEO, 2016, p. 22.

16 Idem.

17 Ibidem, p. 24.

18 FABRE-GOYARD, Simone. O que é democracia? São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 344.

19 Ibidem, p. 342.

20 Ibidem, p. 345.

21 Ibidem, p. 342.

22 Ibidem, p. 348.

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23 HENNETTE, Stéphanie; PIKETTY, Thomas; SACRISTE, Guillaume; VOUCHEZ, Antoine. Por uma
Europa democrática. Trad. André Telles. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2017. p. 9-14.

24 ROTHMAN, Paula. A recessão democrática: o americano Larry Diamond, professor na Universidade


Stanford e conselheiro das Nações Unidas, explica por que a democracia sofreu um retrocesso no
mundo na última década. Revista EXAME CEO, 2016, p. 23-24.

25 Idem.

26 SANTOS, Boaventura de Sousa. Linha de horizonte. In: SANTOS, Boaventura Sousa (Org.). A
globalização e as ciências sociais. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2005. p. 86.

27 SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo:
Contexto, 2010. p. 169.

28 Nesse mesmo sentido: “A globalização é principalmente um processo de integração global,


definindo-se como a expansão, em escala internacional, da informação, das transações econômicas e
de determinados valores políticos e morais. Em geral, valores do Ocidente” (SILVA, Kalina Vanderlei;
SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2010. p. 169).

29 GUIMARÃES, Isaac Sabbá. Globalização, transnacionalidade e os contornos de uma democracia da


pós-modernidade. Revista Jurídica De Jure do Ministério Público do Estado de Minas Gerais. Belo
Horizonte: Ministério Público do Estado de Minas Gerais, v. 12, n. 21. jul.-dez. 2013. p. 80.

30 Ibidem, p. 81.

31 Ibidem, p. 89-93.

32 Ibidem, p. 90.

33 HUNTINGTON, Samuel P. O choque de civilizações e a recomposição da ordem mundial. Trad. M. H.


C. Cortez. 2. ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997. p. 21.

34 Ibidem, p. 21.

35 Ibidem, p. 346-370.

36 Ibidem, p. 228.

37 Edward Said foi um pensador palestino que viveu entre 1935 e 2003 e um dos fundadores das
teorias pós-colonialistas, que defendem a revisão da literatura por meio de uma desconstrução das
visões europeizadas. Foi defensor ativo da autonomia da Palestina e um dos teóricos do termo
orientalismo, cuja explicação serve de referência para todos que estudam este processo.

38 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. 6. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012. p. 847.

39 BUENO, André da Silva. O extremo oriente na antiguidade. Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2012.
p. 40.

40 BURUMA, Ian; MARGALIT, Avichai. Ocidentalismo. O Ocidente aos olhos de seus inimigos. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006. Social Science.

41 Ibidem, p. 17.

42 Disponível em: [http://islamismo.org/democracia_modo.htm].

43 FURTADO, Gabriela; AGUILAR, Sergio L. C. Oriente Médio: islamismo e democracia. Série Conflitos
Internacionais, v. 1, n. 3. jun. 2014.

44 HUNTINGTON, Samuel P. O choque de civilizações e a recomposição da ordem mundial. Trad. M. H.


C. Cortez. 2. ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997. p. 240.

45 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. 6. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012. p. 997.

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46 BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de política. 13. ed.
Brasília: UnB, 2010. v.1. p. 585.

47 MEDDEH, Abdelwahab. O Islã entre civilização e barbárie. In: NOVAES, Adauto (Org.). Civilização e
barbárie. São Paulo: Companha das Letras, 2004. p. 171.

48 BENZINE, Rachid. As grandes religiões do mundo. Judaísmo, Cristianismo e Islão. Lisboa: Edições
Texto & Grafia. v. 1. p. 328.

49 Ibidem, p. 331.

50 Disponível em: [http://www.fronteiras .com/resumos], p. 2. Material obtido em decorrência de sua


palestra no Brasil, em junho de 2017.

51 BOBBIO, Norberto. Liberalismo e democracia. São Paulo: Edipro, 2017. p. 75.

52 BURUMA, Ian. Não à tirania da maioria. Revista EXAME CEO. maio 2016, p. 59.

53 GUERREIRO, Alexandre. O Chefe de Estado no Islão: dois exemplos no sunismo e no xiismo. Revista
de Direito Constitucional e Internacional, v. 99, jan.-fev. 2017. p. 365.

54 Ibidem, p. 365.

55 BENZINE, Rachid. As grandes religiões do mundo. Judaísmo, Cristianismo e Islão. Lisboa: Edições
Texto & Grafia. v. 1. p. 370.

56 Ibidem, p. 370.

57 CUNHA, Paulo Ferreira da. Estado de Direito e Islã: diálogos para uma primavera. Revista de Direito
Constitucional e Internacional, v. 99, jan.-fev. 2017, p. 273.

58 Disponível em: [http://istoe.com.br/entenda-as-causas-do-conflito-na-siria/].

59 Idem.

60 Idem.

61 Idem.

62 HABERMAS, Jürgen. O Ocidente dividido. Pequenos escritos políticos X. São Paulo: Unesp, 2016, p.
64.

63 GARCIA, Maria. O menino morto, cidadão do mundo. Os princípios da não intervenção e da


prevalência dos direitos humanos. Revista de Direito Constitucional e Internacional, v. 93, out.-dez.
2015, p. 265.

64 ROTHMAN, Paula. A recessão democrática: o americano Larry Diamond, professor na Universidade


Stanford e conselheiro das Nações Unidas, explica por que a democracia sofreu um retrocesso no
mundo na última década. Revista EXAME CEO, 2016, p. 26.

65 Idem.

66 FURTADO, Gabriela; AGUILAR, Sergio L. C. Oriente Médio: islamismo e democracia. Série Conflitos
Internacionais, v. 1, n. 3. jun. 2014. p. 3.

67 Disponível em: [http://islamismo.org/democracia_modo.htm], p. 3.

68 Ibidem, p. 1.

69 BROOKS, David. Uma releitura do choque de civilizações. Revista The New York Times, 06.03.2011.

70 CUNHA, Paulo Ferreira da. Estado de direito e islã: diálogos para uma primavera. Revista de Direito
Constitucional e Internacional, v. 99, jan.-fev. 2017, p. 272.

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