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Universidade Eduardo Mondlane

TDD

Questões

1. Discuta as continuidades e descontinuidades das ideias e visões da democracia e da teoria democrática


entre os antigos e os modernos e contemporâneos, no que concerne à sua etimologia e essência, tendo
em conta questões como povo, liberdade, igualdade, escala do corpo político, representação e seu valor
político.

2. Segundo Huntington, um dos critérios de uma democratização bem-sucedida é a alternância política.


Apresente os principais pontos deste debate contemporâneo, se alicerçando em exemplos empíricos.

3.Com base nas discussões teóricas feitas ao longo do semestre, como avaliaria o estágio da
democratização em Moçambique? Fundamente as suas posições com elementos teóricos.

4. Com base em Lipset, Huntgton e Dahl diga quais são requisitos sociais para democratização. Discuta
sobre as probabilidades de democratização dos países em desenvolvimento e reflicta sobre os factores
que contribuíram para a queda do monopartidarismo e estabelecimentos de instituições democráticas em
Moçambique.

5. Discuta o impacto do sistema eleitoral sobre o sistema partidário, especificando em que condições a
representação proporcional e o sistema maioritário podem conduzir a um formato bipartidário incluindo
as implicações que isso tem sobre a representação. Finalmente, mencione as características do sistema
eleitoral Moçambicano que constituem impedimento para a entrada de mais partidos na Assembleia da
República.

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6. No mundo tem crescido o descontentamento relativamente à democracia representativa e daí,
decorrente, emerge uma onda de regimes autoritários que operam sobre regras democráticas. Reflicta
sobre as causas que estão por detrás da crise da democracia liberal no mundo é a forma particular que
ela tem afectado os países da “terceira onda” de democratização.

7. Reflicta sobre os desafios que se colocam à democracia liberal representativa no contexto da


Sociedade de informação com a facilidade de partilha e circulação de informação, seus espaços como as
redes sociais e outras formas de manifestação e participação política. Nesse exercício, aborde aspecto
como a eficácia da representação e ação política, as oportunidades de participação na política que se
abrem para actores políticos de vários tipos e orientações, o papel e influência dos recursos existentes
na sociedade de informação para democracia e democratização.

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Resolução

1. Discuta as continuidades e descontinuidades das ideias e visões da democracia e da teoria


democrática entre os antigos e os modernos e contemporâneos, no que concerne à sua
etimologia e essência, tendo em conta questões como povo, liberdade, igualdade, escala do
corpo político, representação e seu valor político.

Para responder à questão colocada, remete-me a sustentar o meu argumento com base na
literatura vista ao longo do semestre, discutida por autores como Lessa, Sartori, Schumpeter, Bobbio,
Lipset e Dahl, quando falam sobre teoria de democracia, sua definição, a democracia dos antigos,
modernos, e contemporâneos bem como o surgimento da democracia. Portanto, com base nesses autores,
a primeira coisa que eu vou dizer é que a democracia é um debate fenomenológico inacabado e em
construção, fruto de contribuições ideiais de que seria uma forma de governo perfeito bem como de que
seria na prática esse todo conjunto de ideiais desde o seu surgimento até os dias actuais. No entanto, esta
democracia na sua operacionalização tende a mostrar desigualdades embora todos são livres e iguais, na
medida em que implica a ter mais para um determinado grupo de actores políticos em detrimento dos
outros. Por outro lado, esta democracia de uma certa forma exclui a sociedade, pois limita esta sociedade
a intervir em certos assuntos.

A outra questão esta ligada a etimologia dessa democracia, desde os antigos até os contemporâneos
olhando para todas variáveis ou elementos democráticos. Em primeiro lugar, a ideia de configuração
histórica da democracia tal como a conhecemos hoje, é um evento recente que encerra a decantação de
três paradigmas (clássico, liberal e socialista) do ponto de vista da sua etimologia e circunstâncias.
Portanto, o primeiro deles é o velho paradigma da democracia clássica, este, traz a ideia de que o governo
é o demos, de povo e para o povo sem qualquer intermediação, em que os cidadãos abdicavam-se das
suas vidas privadas e actvidades económicas pela colectividade, em uma participação directa na esfera
pública, opiniões sem censura ou filtro. Porém, essa referência foi interpelada em uma das vertentes
utópicas que configuram a democracia moderna. Uma forma ideal, e desde a sua etimologia é
problemática ao encontrar dificuldades ou desafios na sua aplicação e que não pode ser desassociada de
valores de actores políticos que definem e moldam os fenômenos democrático. De tal forma que, na
teoria política moderna, a democracia foi definida como aquele arranjo institucional para chegar a
decisões políticas em que os indivíduos adquirem o poder de decidir por meio de uma luta competitiva
pelo voto. Ou seja, um regime político responsivo a todos os cidadãos. Nesta democracia moderna e
contemporânea, os cidadãos conciliam o capitalismo e a colectividade; esta democracia é feita por uma
representação, um elemento que traz consigo instituições que vão ditar as regras do jogo desde a filtração
das opiniões ditas. Portanto, há questionamento de que não se abre o espaço para comparação na medida
em que tanto a democracia directa assim como indirecta cada uma tem suas virtudes. Ao certo é que a
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democracia moderna, surge no contexto de lutas, transformações sociais, conjunto de ideias, em um
processo histórico continuo até a noção da democracia contemporânea.

Para terminar, um dos elementos que emerge na democracia moderna é a questão da representação que
inevitavelmente envolve o mandato e seu valor político, que surge para resolver problemas da
democracia. Porém, esta representação não fugiu da regra, a semelhança da democracia, é um debate
histórico ideal e inacabado, rotulada de problemas e questionamentos no concerne as matrizes
normativas e empíricas no intuito de aproximar esses dois polos. Não obstante, um dos problemas
efectivamente é como defender os interesses dos representados (a maioria); o segundo problema, é como
evitar que o principio da maioria, que caracteriza o regime democrático leva a exclusão dos interesses
das minorias; e por outro lado, como evitar que este pequeno grupo que vai representar a maioria não
leva a um regime não democrático.

Em suma, a teoria da democracia leva consigo questões normativas e empíricas, embora esta relação não
é simples de configurar visto que o ideal é construído socialmente e não é consensual, ademais, quando
é colocado na prática pode enfrentar algumas dificuldades. Todavia, é um estudo inacabado e deve ser
visto de ponto de vista histórico-ideológico na sua construção ao contar com vários contributos.
Também, devemos assegurar efectivamente que a democracia não é um sistema perfeito na medida em
que não consegue preservar todos os seus interesses e é um sistema em constante construção.

2. Segundo Huntington, um dos critérios de uma democratização bem-sucedida é a alternância


política. Apresente os principais pontos deste debate contemporâneo, se alicerçando em
exemplos empíricos.

3. Democratização na África e em Moçambique: “Com base nas discussões teóricas feitas ao longo
do semestre, como avaliaria o estágio da democratização em Moçambique? Fundamente as suas
posições com elementos teóricos”
Bom, vou avaliar o estágio da democratização em Moçambique (África) e fundamentar as minhas
posições com base na literatura vista ao longo do semestre trazida aqui por autores nacionais e
internacionais. Ao falar da democratização em Moçambique (África), recorremos inevitavelmente
autores como Macuane nas obras 2000 e 2009, Rosário, Guambe, Salema 2020, Lynch, Crawford
2011, e Huntington 1994, entre outros, autores que de forma exaustiva teceram vários cometários a
cerca da democratização em Moçambique, África e no Mundo. Portanto, a minha avaliação abrange
dentre outros elementos: o sistema político, sistema eleitoral, cultura política, instituições, actores

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políticos relevantes, a sociedade civil e a própria democracia. Dai que a primeira coisa que eu vou
dizer, é que os mecanismos que permitem o estabelecimento e funcionamento eficiente de todas
instituições e sistemas políticos democráticos têm sido uma das maiores preocupações da ciência
política. Nesse âmbito, o primeiro elemento a ser avaliado é o sistema de governo, muitos chamam
de presidencialismo, mas prefiro chamar de semipresidencialismo - a existência de um presidente
eleito por voto directo e um primeiro-ministro, por este nomeado, que exerce as funções de
coordenação do governo, mas não é explicitamente o chefe do mesmo, aos dizer de autor Macuane
(2009), na medida em que é nocivo para a estabilidade política por causa do seu caráter de soma zero
(quem ganha leva tudo) o que tem se verificado desde as primeiras eleições multipartidárias de 1994
em Moçambique; da possibilidade de o presidente governar sem o apoio da sua coalizão, chegando
a exercer um poder que não condiz com a limitada pluralidade que o elegeu. O segundo elemento é
o de que o sistema eleitoral maioritário tem de facto a punir e fragilizar pequenos partidos e a
favorecer o grande, restringindo o acesso de pequenos partidos ao Legislativo o que acaba por
provocar uma grande desproporcionalidade na relação entre votos obtidos e assentos parlamentares
alocados sendo o último e o actual mandato cada vez mais pior, o que de uma certa forma e repentina
permite a sustentabilidade das decisões do governo (apoio total e falta de check and balance).
A outra questão que apresento no processo de avaliação do estágio de democratização no meu pais
é o comprometimento de actores políticos relevantes os “BIG MEN” e o seu partido dominante, de
tal forma que a democracia Moçambicana tem e terá poucas chances de sucesso caso os
representantes do regime autoritário continuem no poder. Pois, como temos assistido há grandes
chances de o processo da democratização ser apenas uma forma de manutenção dos representantes
do regime autoritário no poder (o partido actual no poder desde a independência). Este problema é
acompanhado de autoritarismo eleitoral que elimina de forma intensa a alternância política.
Paralelamente as minhas posições, a escolha das variáveis institucionais, a reflexão sobre que
condições determinam o sucesso do processo de democratização e a consolidação da democracia é
uma outra vertente importante dentro da avaliação dos processos de democratização moçambicana.
Huntington (1994), na sua obra enumera alguns aspectos que podem influir na consolidação das
democracias da terceira onda, como experiências longas e recentes com a democracia, um certo grau
de desenvolvimento econômico, o domínio da influência de causas internas, como os elementos
históricos, socioeconômicos, políticos e institucionais existentes em Moçambique em comparação
às externas como a pressão das agendas internacionais no processo de democratização. De tal modo
que as perspectivas de sucesso da democracia são exíguas em Moçambique devido o fraco
desenvolvimento económico.
Para terminar a minha avaliação, diria também que em Moçambique predomina a herança
institucional que influencia a transição para a democracia, visto que a semelhança dos outros países
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africanos, em Moçambique vive-se até hoje o neopatrimonialismo e suas instituições, com o
clientelismo, uso de recursos políticos para legitimação política. Assim como várias teorias indicam
que os legados histórico e institucional da África não são propícios à democracia. Ainda na mesma
linha, a existência de partidos políticos fracos; a existência de um campo político restrito
principalmente questões inerentes a liberdade de imprensa, opinião pública, perseguições aos
membros das organizações da sociedade civil, cuja dominação expressa mais o uso directo da
violência do que a sua liderança moral, intelectual e material. Portanto devo dizer e concordar com
autores acima citados, que é todo um conjunto de condições apontadas que fragilizam o sucesso da
democratização em Moçambique, o que nos leva à uma zona de penumbra, longe de Moçambique
ser um regime democrático mas sim qualquer coisa por inventar a nomenclatura, sem querer dizer
que estamos em um regime híbrido e na zona muitíssima cinzenta.

4. Com base em Lipset, Huntgton e Dahl diga quais são requisitos sociais para democratização.
Discuta sobre as probabilidades de democratização dos países em desenvolvimento e reflicta
sobre os factores que contribuíram para a queda do monopartidarismo e estabelecimentos de
instituições democráticas em Moçambique.

Bom obviamente, para se discutir o problema da democratização ou qualquer outro fenômeno é


necessário primeiramente defini-lo. Para atender aos objectivos desta questão, de forma concisa Dahl,
vai dizer que o problema da democratização é definido como um processo de progressiva ampliação e
de participação política. Portanto, diante de um pais qualquer, em um determinado ponto no tempo, é
possível avaliá-lo de acordo com os dois eixos analíticos propostos e, com base nessa avaliação,
classificá-lo como democrático ou não. Lipset, não fugiu da regra, porém este autor associa o processo
de democratização com a modernização para explicar a variação do sucesso da democracia. Sendo a
modernização – o processo de transformações sociais pelo qual as sociedades passam ao transitar do
tradicional ao moderno, em meio ao qual ocorre a diferenciação e a autonomização das diferentes esferas
da vida social. Então para este autor, existe de facto uma relação directa entre o grau de modernização
da sociedade e a democracia. E para encerrar a contextualização, Huntgton, ao falar da democratização
no final do século XX, primeiro veio afirmar que definir a democracia em termos de eleições é uma
concepção minimalista. De tal modo que debruçou em torno das ondas de democratização, sendo um
grupo de transições de regimes não democráticos para democráticos em período de tempo específico.

Todavia, o processo de modernização não é a única condição para democratização, há efectivamente


levantar outros requisitos sociais a democratização como abertura sob ponto de vista de distribuição de
poder para competição e grau de participação na esfera pública e no processo de tomada de decisão bem
como o direito de eleger e ser eleito (eleições livres); o outro requisito é o pluralismo societal que vai
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fazer a dispersão de poder em diferentes actores políticos relevantes; aceitação da oposição que
potencialmente pode substituir o grupo dominante; legitimidade política; o desenvolvimento econômico,
entre outros requisitos.

O outro elemento é inerente as probabilidades de democratização dos países em desenvolvimento, o que


devo assegurar numa primeira fase é que estes países têm uma maior e menor probabilidade ou chances
de democratizarem, porque por um lado, devem garantir um processo de liberalização – um processo
de abertura que vai desde um conjunto de normas constitucionais que devem ser respeitadas no
relacionamento entre actores na sociedade, bem como a combinação de todos requisitos acima
apresentados. Porém, pode haver um começo de liberalização e não se chegar a democratização, assim
como é primordial referir que nem todos os países em desenvolvimento vão seguir todos os passos rumo
a democratização. E o que na maioria das hipóteses vai acontecer é que estes países vão conciliar
elementos de regimes democráticos e autoritários o que vai nos levar a regimes híbridos, que apenas
serão caracterizados por pluralismo nominal ou incipiente. Portanto, a democratização envolve todo um
conjunto de factores condicionantes e incentivos que não acontecem de forma linear.

O último elemento, é no que tange a reflexão sobre os factores que contribuíram para a queda do
monopartidarismo e estabelecimentos de instituições democráticas em Moçambique.

Para começar, importa deixar aqui a ideia trazida pelo autor de apoio, a de que a Constituição de 1975,
posteriormente ajustada em 1978, instituiu um sistema de governo com um presidente forte, cujos
poderes, favorecidos por um contexto de monopartidarismo, incluíam, entre muitos, a presidência do
legislativo, a nomeação dos ministros, a chefia do governo e do Estado. Como podemos ver, era um
sistema com um presidente que detinha superpoderes e também corporificava toda a linha centralizadora
do sistema político, no qual as fronteiras entre o governo, o Estado e o partido no poder eram ténues,
embora ainda são. Portanto, este sistema teve pernas curtas, com a dinâmica política dos anos 80, com
enfoque na eclosão da guerra civil, sendo um dos primeiros factores, a crise económica devido à guerra
e os choques externos, que levou a um repensar radical do sistema político e económico até aí adoptado
o que, entre outras coisas, implicou uma mudança substancial na organização do poder executivo, nas
formas do seu exercício e nas relações deste com o legislativo. Assim, na segunda metade dos anos 80
iniciou-se um processo de reformas políticas e económicas, tendo as últimas levado à economia de
mercado, sendo este o outro factor. Assim sendo, a situação política, militar, socioeconômica, as
alterações constitucionais de 1986 e a pressão externa para adopção de políticas de ajuda ao
desenvolvimento, foram alguns factores que levaram Moçambique a adoptar a Constituição
multipartidária em 1990 e consequentemente o estabelecimento de instituições democráticas em
Moçambique. Desde a dispersão vertical de poder para competição política de todos actores relevantes

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no país, o estabelecimento de estado de direito, direito a associação, a liberdade de imprensa e todas
outras instituições democráticas.

5. Discuta o impacto do sistema eleitoral sobre o sistema partidário, especificando em que


condições a representação proporcional e o sistema maioritário podem conduzir a um formato
bipartidário incluindo as implicações que isso tem sobre a representação. Finalmente,
mencione as características do sistema eleitoral Moçambicano que constituem impedimento
para a entrada de mais partidos na Assembleia da República.

Ora, as ferramentas que permitem a implementação e funcionamento eficiente de regimes


democráticos têm sido uma das maiores preocupações da ciência política. Assim, a escolha das
instituições que permitem alcançar resultados óptimos, bem como a tentativa de identificar as condições
que favorecem o bom funcionamento desses regimes, impulsionaram estudos de várias perspectivas
teóricas. Portanto no estabelecimento dessas instituições da democracia, está o debate que ocorre sobre
a escolha de sistemas eleitorais. A principal indagação é que tipo de fórmula eleitoral, maioritária ou
proporcional promove uma melhor representação das diversas tendências existentes na sociedade e
permite a formação de governos estáveis. Dai que, se levanta a questão sobre implicações que isso tem
na representação.

Na obra sobre a Liberalização Política e Democratização na África, de José Jaime Macuane (2000),
trouxe em linhas gerais e de forma pertinente, uma das principais constatações da literatura, embora não
livre de controvérsias, a ideia de que os sistemas eleitorais maioritários tendem a punir pequenos partidos
e a favorecer os grandes, restringindo o acesso de pequenos partidos ao Legislativo e acabando por
provocar uma grande desproporcionalidade na relação entre votos obtidos e assentos parlamentares
alocados. Por sua vez, os sistemas eleitorais proporcionais tendem a se aproximar mais da
proporcionalidade entre votos e assentos parlamentares, e permitem a representação de vários partidos
no Legislativo. Ademais, em termos de estabilidade governamental, as fórmulas maioritárias são
apontadas como produtoras de maiorias legislativas que permitem a sustentabilidade das decisões do
governo. Inversamente, as fórmulas proporcionais, por contribuírem significativamente para a
representação de muitos partidos, tornam eventualmente mais difícil a consecução de maiorias
legislativas que possam sustentar o governo. Porém, as fórmulas eleitorais maioritárias, dado o seu
caráter de soma zero, são vistas como inadequadas para as sociedades pluralistas, com fortes clivagens
étnicas, religiosas, raciais, ideológicas e regionais, uma vez que restringem o acesso ao sistema político
de certos grupos sociais, o que pode levar a tensões no sistema político.

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Ainda no âmbito da combinação entre o sistema eleitoral e partidário, chega à conclusão de que o sistema
de partidário multipartidário apresenta uma pluralidade de partidos, onde encontramos o
multipartidarismo integral nas sociedades atomizadas e o multipartidarismo do partido dominante. Mas
o que vai ocorrer efectivamente é que vai-se abrir um espaço para o bipartidarismo imperfeito, onde
além de termos dois partidos dominantes na arena política, teremos um terceiro a usufruir da
representatividade suficiente para perturbar o jogo dos dois grandes partidos, o que implica a maior
inclusão possível dos representantes desses grupos no processo decisório, pese embora os dois partidos
menos dominante terão uma desproporcionalidade na representatividade.

O último elemento, é inerente a menção das características do sistema eleitoral Moçambicano que
constituem impedimento para a entrada de mais partidos na Assembleia da República. Bom, o sistema
eleitoral Moçambicano é maioritário, e proporcional para a representatividade no parlamento, ou seja,
as eleições presidenciais são por voto directo e o candidato que reunir mais de 50% dos votos válidos é eleito.
Caso isso não ocorra na primeira volta, é realizada uma segunda volta entre os dois candidatos mais votados e
ganha quem reunir os requisitos acima indicados, (maioritário). As eleições legislativas são feitas em 11 círculos
eleitorais, com base num sistema de representação proporcional de listas fechadas, e a conversão dos votos em
assentos parlamentares é feita através da fórmula de Hondt de maiores médias. Porém, a literatura indica que até
2006 apenas os partidos com 5% dos votos tinham direito a representação parlamentar. Portanto, a primeira
característica já fiz alusão aquando das implicações na representatividade, a ideia de que o sistema eleitora
maioritário em Moçambique, tende a punir pequenos partidos e a favorecer os três grandes (FRELIMO
e RENAMO e MDM), embora os dois últimos tendem a demostrar grande fraqueza política, restringindo
o acesso de pequenos partidos ao Legislativo e acabando por provocar uma grande desproporcionalidade
na relação entre votos obtidos e assentos parlamentares alocados; a outra característica é de que apesar
da regularidade na realização das eleições, o regime inaugurado com as eleições de 1994, mostra um viés de
democracia eleitoral mas com um alto nível de contestação devido a existência de instituições políticas típicas de
um regime democrático mas cujo funcionamento está atrelado e manipulado a poderes dominantes e
consequentemente não há alternância política muito menos a entrada e equilibro na Assembleia da República;

Como não haver impedimento para a entrada de mais partidos na Assembleia da República, se o sistema
eleitoral moçambicano é caracterizado por autoritarismo eleitoral, em que as eleições multipartidárias são
realizadas, mas essas eleições são sistematicamente tendenciosas a favor do partido no poder, e o seu propósito
subjacente das eleições não é selecionar qual conjunto de atores tem controle sobre o Estado mas para ajudar os
governantes autocráticos em exercício assim posso assumir, a administrar a gama de pressões intra-elite e sociais
que ameaçam sua sobrevivência desde a independência. Ou seja, eleições são apenas uma fachada.

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6. No mundo tem crescido o descontentamento relativamente à democracia representativa e daí,
decorrente, emerge uma onda de regimes autoritários que operam sobre regras democráticas.
Reflicta sobre as causas que estão por detrás da crise da democracia liberal no mundo é a forma
particular que ela tem afectado os países da “terceira onda” de democratização.

Fim!

(FranCo Mula, UEM, 2021)

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