Você está na página 1de 6

FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

LICENCIATURAS EM CIÊNCIA POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Disciplina de Processo Decisório


Docentes: José Jaime Macuane (Regente), Líria Langa, MA (Assistente)
PROVA ESCRITA – LABORAL
Maputo, 09 de dezembro de 2021
Ano Lectivo 2021, 2º Semestre
10,75 valores
1. Em novembro de 2021 a África do Sul anunciou a descoberta de uma variante do COVID-19
que foi posteriormente denominada de Ómicron. Além da África do Sul, a referida estirpe do
vírus foi encontrada em alguns países da região da África Austral, como o Botswana, mas
também de outras regiões do mundo, como Hong Kong. Diante desta nova estirpe, vários
países ocidentais decidiram banir ou impor restrições à entrada de pessoas vindas da África
Austral. Essa decisão foi criticada não só pela África do Sul, mas também por outros países
africanos, personalidades e actores de várias partes do mundo, por ser considerada injusta,
preconceituosa e não baseada num conhecimento científico sólido, considerando que a
estirpe existia em outras partes do mundo e a sua gravidade ainda era desconhecida.
 Usando as teorias de decisão e do processo decisório relevantes (descreva os
elementos teóricos aplicáveis), explique a lógica e essência desta decisão. (12,0
valores)

2. Os partidos moçambicanos no Parlamento têm a reputação de serem historicamente


disciplinados. Tendo como base as teorias de racionalidade e do processo decisório no
contexto democrático, argumente porque os partidos políticos acima mencionados são e
continuam disciplinados. (8,0 valores).

Bom trabalho.
Nome: Gildo Chau-Laboral

1. Relativamente a questão me colocada, a primeira coisa que eu vou dizer é que o processo
decisório é uma área muito vasta em si, nas organizações, grupos, até mesmo nos
sistemas mais amplos como os Estados, e está presente diariamente. Com isto pretendo
levantar alguns pontos básicos e relevantes do processo decisório e da tomada de decisão,
através da reflexão teórica apontando o que autores como Bazerman, (2004); Tsebelis,
(1998); Frederickson, Smith, Larimer e Licari, (2016) Hall e Rosemary (2003);
Procopiuck (2013); Allison, e Zelikow (1999) e outros, têm a dizer sobre o assunto.

Ora, um aspecto fundamental no campo da decisão é o modelo racional de tomada de


decisão, que segundo Bazerman (2004; p. 06), é baseado em um conjunto de premissas que
determinam como uma decisão deve ser tomada e não como a decisão é tomada. Bazerman
(2004), parte do prisma de que os tomadores de decisão deveriam ser capazes de definir com
perfeição o problema em situação de escolha, a fim de chegar ao melhor resultado possível
em um processo decisório. Pois a tomada de decisão é uma acção humana e comportamental.
Esta envolve a selecção, consciente ou inconsciente, de determinadas informações e acções
entre aquelas que são fisicamente possíveis para o decisor e para aquelas pessoas sobre as
quais ele exerce influência e autoridade. Portanto, a racionalidade refere-se ao processo de
tomada de decisão que esperamos que leve ao resultado ideal, dada uma avaliação precisa dos
valores e preferências de risco do tomador de decisões. Esta primeira exposição que trouxe
aqui, diz em primeira instância o comportamento que caracterizou os actores políticos
relevantes que diante de um problema (variante da COVID-19 que foi posteriormente
denominada de Ómicron), alguns países ocidentais decidiram banir ou impor restrições à
entrada de pessoas vindas da África Austral.

Porém, embora tenhamos alguns critérios como a informação, evidências, dados ou


observações empíricas (o rastreio do vírus que foi feito aos passageiros na Itália, Bélgica,
Botsawana e outros países que saíram da vizinha África do Sul, para o processo de tomada
de decisão, o processo decisório não se esgota em apenas nesses critérios e na racionalidade
porque as organizações que vinculam esses Estados e os indivíduos estão inseridos num
contexto em que pode-se desenvolver um sistema de crenças e valores que podem influenciar
para tomada de decisão. Daí que Bazerman (2004, p. 5) coloca que um processo racional de
decisão subentende que o decisor seguiu seis fases de um modo totalmente racional, isto é, os
tomadores de decisão: definem o problema perfeitamente, em segundo lugar identificam
todos os critérios, terceiro ponderam acuradamente todos os critérios segundo suas
preferências, quarto conhecem todas as alternativas relevantes, quinto avaliam acuradamente
cada alternativa com base em cada critério e por fim calculam as alternativas com precisa e
identificam a solução ideal. Portanto, diria eu que embora a decisão de banir ou impor
restrições à entrada de pessoas vindas da África Austral foi considerada injusta,
preconceituosa e não baseada num conhecimento científico sólido, considerando que a estirpe
existia em outras partes do mundo e a sua gravidade ainda era desconhecida. Os actores
estatais e políticos relevantes foram racionais pois o pressuposto básico da racionalidade
enquadra se no realismo desenvolvido nas relações internacionais, ao considerar que um
Estado é um actor que busca maximizar os seus interesses. Portanto, os actores podem se
comportar numa lógica de adequação, maximização ou satisfação. Mas diante desta toda
conjuntura, em algum momento os decisores utilizaram princípios heurísticos para simplificar
a tomada de decisão ao tomar a decisão de restringir e banir a entrada de pessoas no
continente sem antes de se efctuar um estudo científico. E algumas heurísticas podem até
apressar o processo de tomada de decisão, mas são falíveis se os decisores dependerem
demais delas ou se as macularem como ideias preconcebidas o que lhes levará a vieses - que
são erros que advém do uso excessivo das heurísticas de julgamento.

Recorri ao George Tsebelis (1998), na sua obra Jogos Ocultos: escolha racional no campo da
política comparada, para trazer o outro argumento a de que mesmo com a informação
adequada existe efectivamente uma discordância entre actor e observador (países que
consideram a decisão de banir injusta e preconceituosa), essa deriva ou de uma escolha
aparentemente subóptima por parte do actor, ou da perspectiva incompleta do observador.
Isto porque, o observador pode cometer um erro de observação quando não tem informação
adequada pois ele centra a sua observação em apenas um jogo, (COVID-19) mas o actor está
envolvido em toda uma rede de jogos, ou seja, em outras arenas que influenciam essa
decisão. Portanto, há duas razões principais para a discordância entre actor e observador:
Primeiro temos jogos em múltiplas arenas, não é óptima porque o actor está envolvido em
jogos em diversas arenas, mas o observador centra a sua atenção na arena principal. Daí que o
observador desaprova as escolhas do actor porque vê as implicações das escolhas do actor
apenas na arena principal. Contudo, quando são examina-das as implicações em outras
arenas, a escolha do actor é óptima. O que está oculto Gildo?
Também em Sartori (1994), na obra A Teoria da Democracia Revisitada, sob ponto de
instituições e processo decisório, a decisão de banir a entrada de pessoas no nosso continente
pode ser uma decisão colectivizada- pois não se olha para quem toma a decisão, mas também
quem são afectados os demais países vizinhos incluindo o Moçambique. E na política
interessa-nos as decisões colectivizadas, no sentido de serem soberanas, inescapáveis e
sancionáveis.

Para terminar Allison, e Zelikow (1999). na essência do processo decisório. Os autores


explicam a essência da decisão num contexto em que durante 13 dias, em outubro de 1962, o
mundo esteve à beira do colapso nuclear. A crise dos mísseis em Cuba que se tornou um
facto marcante da história beligerante da raça humana e um dos eventos mais estudados da
ciência política. Allison (1999) critica a forma usual de analisar os eventos envolvendo
nações (como é o caso da pandemia de COVID-19 em particular a variante Ómicron), a que
considera os governos nacionais como se fossem um actor único. A ideia de que a essência da
decisão envolve vários elementos não só para quem observa, mas também para o próprio
tomador. Assim sendo, a decisão não deve ser entendida em um quadro analítico, visto que o
governo não é um actor monolítico. Ademais, embora tenhamos que tomar decisões ou
analisar o comportamento usando a escolha racional, podemos afirmar que nem todos os
elementos considerados razoavelmente racionais são suficientes, de tal modo que temos
outras formas.

E no caso empírico da variante Ómicron, enquadro- a no modelo da política organizacional-


pois o resultado da decisão é fruto da barganha interna dos actores que participam dentro do
jogo. Esses actores revestidos de poder distinto em um processo dinâmico. No entanto, a
criação de instituições não elimina a promoção dos interesses dos actores, mas sim para
reduzir o custo da transação e incerteza.

2. Nessa questão vou me socorrer de autores como Limongi (1994), Tsebelis (1998),
Lijphart (2003), Sousa, e (2006) Arnold Douglas (1990) quando falam da organização e
Decisão Legislativa.

O neo-institucionalismo como movimento foi directamente impulsionado e motivado pelos


primeiros ataques desferidos pela teoria da escolha racional aos modelos explicativos até
então dominantes na Ciência Política: o comportamentalismo (behavioralismo) e o
pluralismo. Institucionalismo porque, em contraste com as teorias explicativas anteriores, o
foco da explicação desloca-se das preferências para as instituições. Portanto, Limongi (1994),
busca o congresso norte-americano para explicar a tomada de decisão no legislativo através
do voto distrital ou uninominal, esses congressistas doptados de autonomia. A base é que o
legislador sendo racional age no contexto legislativo para atingir os seus objectivos. Ou seja,
os congressistas são individualistas e se movem de forma a assegurar sua reeleição. Limongi
(1994), destacou três modelos de organização legislativa, que são: distributivista,
informacional e partidário. a) Modelo Distributivista Conforme mostra Limongi, os
parlamentares têm por objectivo principal garantir a sua reeleição, daí que tendem a aprovar
políticas e programas de cunho clientelistas. Esta versão não se enquadra na totalidade no
parlamento moçambicano devido o sistema proporcional de listas fechadas. PoremPorém a
disciplina esta enraizada no partido como um todo para garantir a sua reeleição. Sob o risco
de que se porventura um parlamentar cometer indisciplina dentro do seu partido pode ser
afastado nas próximas eleições. Mas as políticas públicas aprovadas, segundo este modelo,
são aquelas que oferecem benefícios tangíveis, directos e localizados aos seus distritos
eleitorais. Daí a relação entre os legisladores ser basicamente de conflito, cada um querendo
levar a maior quantidade de benefícios possíveis para seu eleitorado, podendo sair a ganhar se
cooperarem. Assim, as políticas são aprovadas mediante troca de votos, que na literatura é
conhecida por logroll. E, é no sistema de Comissões que se encontra o eixo estruturador das
actividades legislativas, e permitindo a ocorrência estável das trocas de apoios necessárias à
aprovação de políticas distributivistas.

b) Versão Informacional - esta perspectiva parte de dois postulados fundamentais de


organização legislativa: o do primado da decisão maioritária e o da incerteza. O postulado da
decisão maioritária estabelece que as escolhas feitas pela legislatura devem, em última
análise, ser escolhas feitas pela maioria dos seus membros, tanto no acto de votar assim como
na escolha das regras. O segundo postulado, o da incerteza quanto aos resultados das
políticas, estabelece que os legisladores decidem a sorte das políticas sem saber ao certo
quais serão os resultados das políticas aprovadas. Daí que se recomenda a especialização dos
legisladores, na sua área de jurisdição, com vista a garantir a redução de incerteza e aprovar
as políticas com maior volume de informação possível. Pois, quanto maior a quantidade de
informação tornada pública, maior é o debate e melhor é a qualidade da decisão e a política
pública a ser adoptada. Neste modelo temos de facto uma disciplina no parlamento
moçambicano devido essas especializações em comissões de trabalho.
c) Versão Partidária - para esta versão, as comissões já não constituem o eixo central da
organização legislativa se não tomar em conta os próprios partidos. Isto porque o processo
legislativo no geral, e o sistema de comissões em particular, regem-se em favor dos interesses
dos partidos maioritários, e os membros destes partidos têm maiores vantagens uma vez que
o seu acordo é facilitado pelas regras existentes. Assim, o comportamento parlamentar está
configurado e centralizado nos partidos, principalmente os que detém a maioria dos assentos,
que tem capacidade de decidir a agenda decisória. E neste ponto, as comissões jogam um
importante papel controlando a agenda, decidindo unilateralmente, se tiver o poder de fechar
as portas, o que será ou não o objecto de decisão, negando ao plenário a possibilidade de
acção. Em função do interesse do partido, uma proposição pode ou não ser aprovada.

E por fim no Processo Decisório em Sistemas Políticos, Tsebelis vai dizer que um veto player
é um actor individual ou colectivo cuja concordância (pela regra da maioria no caso dos
atores colectivos) é requerida para tomar a decisão de mudar uma política. Eis que é
necessária a disciplina partidária pois refere-se à capacidade de um partido para controlar os
votos de seus membros no Parlamento. O nosso parlamento, verifica-se essa disciplina
principalmente no partido com maioria de representatividade (FRELIMO). Mas em uma
única palavra o que está por detrás da disciplina é a lógica da reeleição dos parlamentares,
pior em nosso sistema de representação proporcional de listas fechadas, onde a composição
dos candidatos é feita dentro do próprio partido.

Você também pode gostar