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1⁰ Curso de LPAP

Módulo II: Introdução a Ciência Política

Trabalho do Final do Módulo

Tema:
A Governação Eleitoral em Moçambique: Análise do
Sistema Eleitoral em Moçambique

Formanda:

Serafina Simão Guambe Massango

Formador:

Dr. Erasmo Mabunda

Maputo, Junho de 2021


Índice

1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................................2

1.1 Problema.....................................................................................................................................4

1.2 Pergunta de Partida......................................................................................................................4

1.3 Objectivos....................................................................................................................................5

1.3.1 Gerais.......................................................................................................................................5

1.3.2 Específicos.........................................................................................................................5

1.4 Justificativa..................................................................................................................................5

1.5 Metodologia.................................................................................................................................6

2.2 Enquadramento Teórico...............................................................................................................9

2.2.1 Funções de um sistema eleitoral.............................................................................................10

2.2.2 Classificação de Sistemas eleitorais........................................................................................11

3.1 Análise do Sistema Eleitoral em Moçambique..........................................................................14

Conclusão........................................................................................................................................16

Bibliografia......................................................................................................................................17

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1. INTRODUÇÃO

Este trabalho do final do Módulo 2, Introdução a Ciência Política, versa sobre a


governação eleitoral em Moçambique: análise do sistema eleitoral em Moçambique.
O final dos anos 80 e início da década seguinte foi marcado por uma dinâmica
internacional que teve repercussões imediatas nos processos políticos africanos: a
dissolução do Bloco de Leste, simboliza pela queda do Muro de Berlim, e sua perda de
influência internacional criou as bases para um processo amplo de mudanças políticas em
África. No caso de Moçambique, observa-se que foi em 1989 que a Frelimo decidiu
abandonar o marxismo-leninismo e, na mesma dinâmica, foi iniciado o processo de
revisão constitucional que acabaria por resultar, em 1990, na aprovação de uma
constituição multipartidária.
O acordo de Roma, ao estabelecer a paz e as regras de incorporação da Renamo na
sociedade moçambicana, significou a possibilidade prática de aplicar novos princípios
constitucionais, nomeadamente a realização das eleições multipartidárias e, nesse sentido
foi um avanço sem precedentes para a possibilidade da construção de uma sociedade
democrática pluralista.
Os sistemas eleitorais são o conjunto de regras que disciplinam as eleições,
determinando a organização territorial, o procedimento da votação, os critérios de
apuração, os requisitos para a designação do ou dos candidatos eleitos. Utilizando-se este
ou aquele sistema, uma mesma composição de votos pode produzir resultados muito
diferentes. Os critérios que levam os votos populares a eleger esses ou aqueles
candidatos são o cerne dos sistemas eleitorais.
O sistema eleitoral deve garantir uma justa representação dos diferentes grupos
sociais, incluindo indivíduos de diferentes sexos, classes sociais, religiões e grupos
étnicos, uma representação justa irá evitar sentimentos de derrota e marginalização entre
alguns grupos, principalmente as minorias que poderiam no caso contrário conduzir à
insatisfação social ou mesmo a violência política.

Nesse contexto, o trabalho aqui apresentado está estruturado em quatro capítulos


sendo:
Capitulo I, temos Introdução, onde versam, o problema, pergunta de partida,
objectivos gerais e específicos, a justificativa e metodologia;
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Capítulo II, revisão da literatura e enquadramento teórico;
Capítulo III, faz a descrição do sistema eleitoral em Moçambique;
Capitulo IV, apresenta-se as considerações finais e as referências bibliográficas.

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1.1 Problema

A escolha de um sistema eleitoral é uma das decisões institucionais mais importantes


para qualquer democracia. Na maioria dos casos, a escolha de um sistema eleitoral em
particular tem um profundo efeito na futura vida política do país, e os sistemas eleitorais,
uma vez escolhidos, frequentemente se mantém relativamente constantes enquanto os
interesses políticos se solidificam ao seu redor e respondem aos incentivos apresentados
por eles. As escolhas que são feitas podem ter consequências imprevistas, bem como
efeitos previsíveis.
A escolha de um sistema eleitoral pode ter um impacto significativo no
enquadramento político e institucional mais amplo. A consideração das vantagens
políticas é quase sempre um factor na escolha e os cálculos de interesses políticos a curto
prazo podem frequentemente ocultar as consequências a prazos mais alargados de um
sistema eleitoral em particular.
A concepção bem-sucedida de sistemas eleitorais resulta de encarar o
enquadramento das instituições políticas como um todo: alteração de uma parte deste
enquadramento é susceptível de causar ajustes na maneira como trabalham as instituições
dentro do mesmo.

1.2 Pergunta de Partida

Face aos problemas identificados, a questão que se coloca é: Qual é o impacto do


sistema eleitoral em Moçambique?

1.3 Objectivos

1.3.1 Gerais
Compreender o sistema eleitoral de Moçambique.

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1.3.2 Específicos
 Identificar o sistema eleitoral;
 Descrever o sistema eleitoral;
 Analisar o sistema eleitoral.

1.4 Justificativa

A escolha do tema deveu-se ao facto ser objecto de estudo na perspectiva da ciência


política.
Esta pesquisa ou trabalho pretende ser um instrumento de relevância intelectual, por
buscar contribuir no desenvolvimento, na investigação no domínio da democratização,
ou seja, institucionalização do sistema eleitoral, no geral, e particularmente na
governação eleitoral que tem sido conotado como um dos grandes obstáculos à
consolidação da democracia, devido o seu potencial em criar conflitos, geralmente nas
democracias emergentes.
Em assunção decorre da tentativa de abordar uma variável explicativa importante,
mas negligenciada nos estudos sobre a transição e consolidação democrática em função
do predomínio e enfoque sobre questões normativas, como os sistemas de governos,
sistemas eleitorais e as fórmulas eleitorais adoptadas pelos actores políticos em
detrimento desses arranjos institucionais.

1.5 Metodologia

Segundo Severino (2000), Metodologia é um processo, onde se aplicam os


diferentes métodos, técnicas e materiais, tanto laboratoriais como instrumentos e
equipamentos para a colecta de dados.

Na concepção de Lakatos e Marconi (2003), Metodologia é o conjunto de métodos e


técnicas usadas para a pesquisa e elaboração do trabalho cientifico sendo estes os
caminhos para alcançar a meta desejada, analisar o que pode ser descoberto através dele
e da crítica das suas propriedades.

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Segundo Gil (1999), a investigação científica depende de um conjunto de
procedimentos intelectuais e técnicos para que seus objetivos sejam atingidos.

Para a elaboração desta pesquisa, tendo em conta os objectivos definidos usar-se-á o


método indutivo responsável pelas generalizações, isto é, parte se do particular para uma
questão mais ampla e geral. A indução é um processo mental que consiste na observação
dos factos e sua comparação com o fim de descobrir a relação entre eles, por intermédio
do qual, partindo do particular suficientemente constatados infere-se uma verdade mais
geral ou universal, (Gil, 2008:10).

Quanto a natureza é aplicada, segundo Chiavenato (2010), “consiste em produzir


conhecimentos que a sua aplicação é imediato, desta forma o relacionamento interpessoal
é uma variável do sistema de administração participativo, que representa o
comportamento humano que gera o trabalho em equipe, confiança e participação das
pessoas”.

Quanto ao objectivo é explicativo descritivo que é aquela que busca por meio dos
seus métodos e critérios uma proximidade da realidade ao objecto em estudo.

Quanto a técnica usou-se pesquisa bibliográfica e documental, para Manzo citado


por Gil (2008), “a bibliografia oferece meios para definir, resolver, não somente
problemas conhecidos, como também explorar novas áreas onde os problemas não se
cristalizaram suficientemente e tem por objectivo permitir ao cientista o reforço paralelo,
na análise das suas pesquisas ou manipulação das suas informações”.

Pesquisa documental consiste em consulta de documentos científicos (livros, papeis


oficiais, jornais, registos estatísticos, filmes, fotos e discos), Gil (1998).

Quanto ao método é monográfico, segundo Lakatos e Marconi (2003) este método


“consiste em investigar, examinar o tema escolhido, observando os factores que
influenciaram e analisando-o com todos os seus aspectos e permitem obter, de conjuntos
complexos, representações simples e constatar se essas verificações simplificadas têm
relação entre si.
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Capítulo II

2.1 Revisão da Literatura ou Enquadramento Conceptual

Na literatura política, os estudos da governação política ganham destaques a partir


da preocupação com as credibilidades dos resultados eleitorais, principalmente nas
democracias nascidas da terceira onda democrática onde a credibilidade do processo
eleitoral é frequentemente colocada sob suspeita.

Mozaffar e Schedler (2002) defendem que a governação eleitoral opera em três


diferentes níveis: formulação de regras, aplicação de regras e adjudicação das regras.

A formulação de regras determina as regras básicas do jogo eleitoral, aqui são


definidas a fórmula eleitoral, os círculos eleitorais, a magnitude das eleições, as datas em
que serão realizadas as eleições, a organização dos órgãos responsáveis pela
administração das eleições e outras questões legais que permitem aos concorrentes a
segurança de como o jogo será jogado.

Na aplicação de regras a implementação e o agenciamento do jogo eleitoral; por


exemplo, o registo dos partidos, candidatos e eleitores. A distribuição das urnas, os
procedimentos a serem adoptados no dia das eleições e outras regras, que garantem a
transparência.

Na adjudicação das regras, temos a administração de possíveis litígios entre os


competidores, o contencioso eleitoral, administra-se as controvérsias na disputa eleitoral,
nesse nível se determinam os procedimentos, executa-se a contagem dos votos e
publicam-se os resultados finais.

Pastor (2004) observa que grande parte dos questionamentos sobre o insucesso ou
sucesso da governação eleitoral decorrem dos diversos modelos adoptados pelos países.
Juntamente com Schedler (2002); Hartliyn et al (2009), estabelecem a sua preocupação
central na credibilidade dos resultados eleitorais. Para estes autores em democracias
recentes o desenho e o perfil dos órgãos eleitorais podem garantir menor ou maior

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estabilidade do regime e que uma boa governança eleitoral pode garantir credibilidade
dos resultados eleitorais.

A eleição é “um dispositivo para preencher um cargo ou posto através de escolhas


feitas por um corpo designado de pessoas: o eleitorado” (Heywood, 2002, p.422).

As eleições são o mecanismo através do qual o povo soberano legitima o exercício


do poder legislativo, e – directa – ou indiretamente – do poder executivo para um tempo
determinado (Universidade Católica de Angola, Faculdade de Direito).

As eleições constituem um mecanismos de delegação do poder, delegação essa, que


é acto pelo qual “uma pessoa dá poder, como se diz, a outra pessoa, a transferência do
poder pela qual um mandante autoriza um mandatário a assinar em seu lugar, agir em seu
lugar, a falar em seu lugar, pela qual lhe dá uma procuração […]” (Bourdieu, 1987,
p.185).

Os sistemas eleitorais têm como função a organização das eleições e a conversão de


votos em mandatos políticos, visando proporcionar uma captação eficiente, segura e
imparcial da vontade popular democraticamente manifestada, de forma que os mandatos
eletivos sejam exercidos com legitimidade. Também é função do sistema eleitoral, o
estabelecimento dos meios para que os diversos grupos sociais sejam representados e as
relações entre representantes e representados se fortaleçam. (Gomes, 2011, p.105).

Noberto Bobbio define um sistema eleitoral como os “procedimentos


institucionalizados para atribuição de encargos por parte dos membros de uma
organização ou de alguns deles.” De forma mais simples, um sistema eleitoral é a forma
como são estipuladas as regras que determinam como os votos de uma eleição actuarão
na definição do corpo político que exercerá o poder de um governo legítimo.

Voto é a manifestação oficial que declara a preferência do eleitor em um processo


eleitoral.

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Círculo eleitoral, também referido como distrito eleitoral, circunscrição
eleitoral e zona eleitoral, é uma divisão territorial criada para fins eleitorais, e
cujos eleitores inscritos corresponde um determinado número de mandatos, previamente
definido, no órgão a eleger. Os círculos eleitorais podem corresponder à organização
administrativa, a solução mais comum nos países que não usam círculos uninominais 
(isto é que elegem apenas um representante), ou serem demarcados especificamente para
fins eleitorais.

2.2 Enquadramento Teórico

O sistema eleitoral é entendido em sentido restrito, como o modo de conversão dos


votos em mandatos, é apenas um factor de apreciação do quadro em que a representação
se define não pode ser dissociado de muitos outros, como sejam, a natureza do sufrágio,
a dimensão dos círculos, as capacidade eleitoral, passiva ou activa, as condições de
propositura das candidaturas, o modo como são reguladas as campanhas eleitorais e
assegurada ou não, melhor ou pior, a igualdade entre os candidatos. (Cardoso, 1993).
Os sistemas eleitorais expressam os votos de uma eleição geral em assentos
conquistados pelos partidos e candidatos. As três variáveis chave são a fórmula eleitoral
usada (isto é, se é usado um sistema de pluralidade/maioria, proporcional, misto ou
outro, e qual a fórmula matemática usada para calcular a atribuição de assentos), a
estrutura do boletim de voto (isto é, se o eleitor vota em um candidato ou em um partido,
e se o eleitor faz uma escolha única ou expressa uma série de preferências) e a magnitude
do círculo eleitoral (não quantos eleitores vivem em um círculo eleitoral, mas quantos
representantes da legislatura esse círculo eleitoral elege). Apesar de esta visão geral não
se focar nos aspectos administrativos das eleições (como a distribuição de secções de
voto, a nomeação do candidatos, o recenseamento eleitoral, quem administra as
eleições), estas questões têm também uma importância crítica, e as vantagens possíveis
de qualquer escolha de um sistema eleitoral específico podem ser destruídas se não se
lhes prestar a devida atenção. A concepção de um sistema eleitoral também afecta outras
áreas das leis eleitorais: a escolha de um sistema eleitoral influencia o modo como os
limites dos círculos eleitorais são desenhados, como os eleitores são registrados, a

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concepção dos boletins de voto, como os votos são contados, e outros aspectos do
processo eleitoral.
Mas com cada eleitor a votar exactamente da mesma forma e com exactamente o
mesmo número de votos para cada partido, os resultados das eleições podem ser bastante
diferentes dependendo do sistema escolhido: um sistema pode levar a um governo de
coligação ou de minoria enquanto outro pode permitir que um único partido assuma
controlo maioritário.

2.2.1 Funções de um sistema eleitoral

O sistema eleitoral deve garantir uma justa representação dos diferentes grupos
sociais, incluindo indivíduos dos diferentes sexos, classes sociais, religiões e grupos étnicos.

O sistema eleitoral deve facilitar decisões políticas, por esta razão, deve contribuir
para concentração do sistema partidário.

A participação como função de um sistema eleitoral refere-se à oportunidade dos


eleitores expressarem as suas preferências em relação a determinados candidatos.

O sistema eleitoral deve basear-se na simplicidade e transparência, os eleitores devem


perceber como funciona o sistema e o que acontecerá com o seu voto.

2.2.2 Classificação de Sistemas eleitorais

Geralmente, faz-se uma diferenciação entre sistemas de maioria (Pluralidade/maioria)


e os de representação proporcional. Os sistemas constituídos por elementos de ambos os
sistemas denominam-se mistos ou combinados, mas geralmente eles assimilam um dos dois
tipos básicos.

Sistema de pluralidade/maioria
O princípio dos sistemas de pluralidade/maioria é simples. Depois de a votação ter
sido realizada e os votos contados, os candidatos ou partidos com mais votos são
declarados os vencedores (podem também haver condições adicionais). No entanto, o
modo de como isto é alcançado na prática tem amplas variações.
A maioria simples é a forma mais simples de sistemas eleitorais de
pluralidade/maioria. O candidato vencedor é aquele que obtém mais votos que qualquer
outro candidato, mesmo se não obtiver na maioria absoluta de votos válidos.
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O sistema usa círculos uninominais e os eleitores votam em candidatos em vez de
em partidos políticos.
O sistema de segunda votação é um sistema de pluralidade/maioria no qual ocorre
uma segunda eleição se nenhum candidato alcança um determinado nível de votos, mais
frequentemente uma maioria absoluta (50 porcento mais um), na primeira votação. O
sistema da segunda votação pode tomar um formato de pluralidade/maioria, no qual mais
de dois candidatos disputam a segunda votação e quem obtém o maior número de votos
na segunda votação é eleito, independentemente de obter ou não uma maioria absoluta;
ou um formato de maioria final, no qual apenas os dois candidatos mais votados na
primeira votação disputam a segunda votação.

Sistema de representação proporcional


Estes sistemas são conscientemente concebidos para converter a proporções
correspondentes dos votos do partido em uma proporção correspondente de assentos na
legislatura. A representação proporcional exige o uso de círculos eleitorais com mais de
um membro: não é possível dividir proporcionalmente um único assento eleito aem uma
única ocasião. Os círculos eleitorais são baseados nas províncias, ou é definida uma
amplitude de tamanhos permissíveis para círculos eleitorais e é dada a comissão eleitoral
a tarefa de os definir.
Quanto maior o número de representantes a eleger por círculo eleitoral e quanto
menor for o limiar requerido para representação na legislatura, mais proporcional será o
sistema eleitoral e maiores as probabilidades de pequenos partidos minoritários obterem
representação.
Sob um sistema de lista de representação proporcional, cada partido ou grupo
apresenta uma lista de candidatos para um círculo eleitoral plurinominal, os eleitores
votam em um partido, e os partidos obtém assentos na proporção da sua fração geral da
votação. Em sistema de “lista fechada”, os candidatos vencedores são selecionados na
ordem da sua posição nas listas. Em sistema de lista aberta, os eleitores podem
influenciar a ordem dos candidatos ao marcar as suas preferências individuais.
Enquanto a lista aberta de representação proporcional oferece aos eleitores muita
mais liberdade sobre a escolha do seu candidato, também pode ter efeitos secundários
menos desejáveis. Uma vez que os candidatos de dentro do mesmo partido estão
efectivamente a competir entre si pelos votos, a lista aberta de representação
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proporcional pode levar a conflitos internos no partido e a sua fragmentação. Também
pode significar que os benefícios potenciais de um partido com listas que apresentam
uma diversidade de candidatos podem ser diminuídos pelos efeitos negativos.
A magnitude do círculo eleitoral é, de diversos modos, o factor chave na
determinação de como um sistema de representação proporcional via funcionar na
prática, especialmente na força da ligação entre os eleitores e membros eleitos, e na
proporcionalidade global dos resultados da eleição.
Em muitos países, os círculos eleitorais seguem divisões administrativas pré
existentes, talvez limites estatais ou provinciais, o que significa que podem haver amplas
variações no seu tamanho. No entanto, esta abordagem elimina a necessidade de
desenhar limites adicionais para as eleições e pode tornar possível relacionar círculos
eleitorais com comunidades existentes, identificadas e aceites.
Se apenas um candidato de um partido for eleito em um círculo, esse candidato pode
muito bem ser homem e membro dos grupos étnicos ou sociais maioritários no círculo
eleitoral. Se dois ou mais forem eleitos, listas contrabalançadas emanadas pelos partidos
políticos podem ter mais efeito, tornando mais provável que mais mulheres e mais
candidatos de minorias tenham sucessos. Círculos eleitorais maiores (com tamanho de
sete ou mais assentos) e um número relativamente menor de partidos ajudarão este
processo.
Todos os sistemas eleitorais têm limiares de representação, isto é, o nível mínimo de
apoio de que um partido necessita para obter representação. Os limiares podem ser
legalmente impostos (limiares formais), ou existir como uma propriedade matemática do
sistema eleitoral (limiares efectivos ou naturais). Um limiar efectivo ou natural é criado
como uma subproduto matemático de característica do sistema, das quais a magnitude do
círculo eleitoral é a mais importante. Por exemplo em um círculo eleitoral com quatro
assentos que usa um sistema de representação proporcional, qualquer candidato com
mais de 20 por cento da votação será eleito, e qualquer candidato com menos de cerca de
10 por cento (o número exacto vai variar dependendo da configuração dos partidos,
candidatos e votos) provavelmente não será eleito.

Sistemas mistos
Sistemas eleitorais mistos tentam combinar os atributos positivos de sistemas
eleitorais de pluralidade/maioria e de representação proporcional. Em um sistema misto,
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há dois sistemas eleitorais a usarem fórmulas diferentes e a funcionar paralelamente. Os
votos são expressos pelos mesmos eleitores e contribuírem para a eleição de
representantes sob ambos os sistemas. Um destes sistemas é a pluralidade/maioria,
geralmente da maioria simples, e outro sistema de lista de representação proporcional.
Existem duas formas de sistemas mistos.
Representação proporcional personalizada é um sistema misto no qual as escolhas
expressas pelos eleitores são usadas para eleger representantes através de dois sistemas
diferentes – sistema de lista de representação proporcional e (geralmente) um sistema de
pluralidade/maioria – no qual o sistema de lista de representação proporcional compensa
a desproporcionalidade dos resultados do sistema de pluralidade/maioria.
Um sistema paralelo é um sistema misto no qual as escolhas expressas pelos
eleitores são usadas para eleger representantes através de dois sistemas diferentes – um
sistema de lista de representação proporcional e (geralmente) um sistema de
pluralidade/maioria – mas no qual não se contabilizam os assentos atribuídos pelo
primeiro sistema para calcular os resultados do segundo sistema.
Enquanto um sistema de representação proporcional personalizada geralmente tem
resultados proporcionais, um sistema paralelo provavelmente obtem resultados cuja
proporcionalidade fica algures entre os de uma pluralidade/maioria e de um sistema
representação proporcional.

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Capítulo III

3.1 Análise do Sistema Eleitoral em Moçambique

Dois importantes pontos de partida para avaliar e compreender as escolhas feitas


para o modelo eleitoral em Moçambique, encontram-se na cultura eleitoral prevalecente
em Moçambique pós-independência e na dominância da Frelimo e da Renamo no cenário
político moçambicano. Estes pontos estão institucionalmente relacionados e de facto,
representados formalmente pelas duas fontes principais da legislação eleitoral em
Moçambique, nomeadamente, a Constituição de 1990 e o Acordo Geral de Paz de 1992 –
Lei nº13/92, de 14 de Outubro (Tollenaere, 2000).

Durante o regime do partido único a Frelimo estabeleceu um sistema de governo que


se apoiou num forte sistema presidencialista apoiado por uma dinâmica de facto
Executivo sobre outros ramos do governo. E isto foi assim apesar de a Constituição de
1975 ter definido que a Assembleia Popular constituía o órgão máximo do poder do
Estado. A coesão deste sistema foi assegurada pelo postulado pelo qual o presidente do
partido Frelimo era automaticamente o presidente da República e pela concentração de
poder de decisão na Comissão política do partido. Este sistema significou na prática que
embora eleições tenham sido organizadas entre 1977 e 1986 (Monteiro, 1988) onde os
cidadãos tinham oportunidade de escolher entre delegados para diferentes níveis das
assembleias, na realidade, era a liderança do partido quem era responsável pelas decisões
políticas mais importantes.

Entretanto, o contexto das negociações de paz em Roma entre o governo da Frelimo


e a Renamo e a natureza específica do Acordo Geral de Paz, implicou que as disposições
constitucionais sobre o sistema eleitoral tinham que ser alteradas. O Acordo Geral de Paz
estabelece que “ o governo comprometeu-se a não promulgar qualquer legislação
contrária ao acordo atingido” (Protocolo I – Princípios Básicos). Na realidade esta
situação significou que até às eleições de 1994 o AGP era de facto acima da Constituição
da República, apenas posteriormente de jure e ela submetida (Carrilho, 1996).

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Em termos do contexto das negociações de paz em Roma e a desconfiança entre as
duas forças rivais, levou a Renamo a considerar que a Frelimo terá escolhido o sistema
de pluralidade/maioria a fim de perpetuar a sua dominância no país. Assim para
assegurar uma futura representação relevante no parlamento, a Renamo optou pelo
sistema de representação proporcional, através de listas fechadas e bloqueadas.
Embora o sistema eleitoral de representação proporcional acordado em Roma seja
bem adaptado para garantir uma representação parlamentar dos partidos próxima da
votação obtida e, nesse sentido, proporcione uma representação adequada no parlamento
da relação de forças entre os diferentes partidos na sociedade, ele tem limitações nas
circunstâncias específicas de um país como Moçambique, onde a experiência
democrática é não só historicamente recente como também ainda bastante limitada sob o
ponto de vista do livre exercício da cidadania.
O principal defeito que se pode apontar a este tipo de sistema é o facto de ele
desvalorizar o vínculo dos eleitos em relação aos eleitores e, por isso, ser fraco do ponto
de vista da prestação de contas. Isto deve-se ao facto de a eleição dos deputados não ser
feira nominalmente, mas, no caso de Moçambique, através de listas partidárias fechadas.
Assim, não só os deputados não dependem individualmente da confiança dos eleitores,
mas sobretudo dependem para a sua eventual reeleição da sua boa relação com os
responsáveis, ou com seus colegas, do partido, que no seio do aparelho podem
influenciar a sua inclusão nas listas e em posição elegível.

A Frelimo optou pela governabilidade ao invés da representatividade e que a


Renamo fez o inverso. Na realidade, ambos partidos escolheram os sistemas eleitorais
que pareciam melhor servir os seus interesses. O sistema de representação proporcional
veio a ser adoptado e se mantém. Entretanto, e independentemente das preferências
iniciais dos dois grandes partidos, após a realização das primeiras eleições, e
contrariamente a intencionalidade do sistema escolhido, o sistema de representação
proporcional praticado em Moçambique produziu um sistema partidário comumente
associado ao sistema eleitoral maioritário.

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Capítulo IV

Conclusão

O trabalho intitulado “governação eleitoral em Moçambique: análise do sistema


eleitoral em Moçambique”, procurou responder em que medida a escolha do sistema
eleitoral pode influenciar na eleição, na relação entre os eleitores e os eleitos quanto a
disponibilização da informação e justificação da mesma.

O sistema de representação proporcional aplicado em Moçambique denota um


problema típico: a distância que coloca entre os eleitores e eleitos limita a capacidade de
controlo destes pelos primeiros.

O sistema eleitoral em Moçambique apresenta lacunas no apuramento eleitoral pelo


facto da lei eleitoral não prever a recontagem de votos em caso de perda ou dúvidas
sobre a originalidade dos editais.

De um modo geral, ficou provado durante este trabalho que a escolha do sistema
eleitoral é um factor preponderante para o tipo de processo eleitoral que se pretende e as
probabilidades do mesmo processo puder chegar a um consenso entre os partidos
políticos.

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Bibliografia

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