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FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

CURSO DE LICENCIATURA EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

DISCIPLINA: HISTÓRIA DAS IDEIAS POLÍTICAS

A Participação Política e Engajamento Cívico em Moçambique

Discente: Tonito João Francisco Código: 91230557

Pemba, Novembro de 2023


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FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

CURSO DE LICENCIATURA EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

DISCIPLINA: HISTÓRIA DAS IDEIAS POLÍTICAS

A Participação Política e Engajamento Cívico em Moçambique

Discente: Tonito João Francisco Código: 91230557

Trabalho de Campo a ser submetido na


Coordenação do Curso de Administração
Pública do ISCED, 1º Ano no Módulo de
História das Ideias Políticas sob
orientação do docente da disciplina.

Pemba, Novembro de 2023


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Índice
Introdução..................................................................................................................................3

Objectivos..................................................................................................................................3

Metodologia...............................................................................................................................3

1. A Participação Política e Engajamento Cívico em Moçambique..........................................4

1.2. Estruturas Políticas..............................................................................................................5

1.2.1. Sistema de partidos..........................................................................................................5

1.2.2. O Governo e o Sistema Eleitoral......................................................................................6

1.2.2.1. O Sistema Eleitoral.......................................................................................................7

1.3. Participação Política............................................................................................................8

1.4. Engajamento Cívico............................................................................................................9

Conclusão.................................................................................................................................10

Referencias Bibliográficas.......................................................................................................11
3

Introdução
Provavelmente o maior desafio que Moçambique enfrenta em estabelecer um governo
democrático e estável é o crescente domínio exercido por somente um partido político no seu
sistema político. Portanto, tão importante quanto a garantia de eleições livres e justas, é a luta
pela manutenção e aprofundamento da democracia interna no seio deste partido dominante, a
FRELIMO, a Frente de Libertação de Moçambique, que liderou o país na luta pela
independência de Portugal.

Esta tarefa, ademais, deve ser colocada em contexto, pois Moçambique enfrenta também
altos níveis de pobreza, em circunstâncias nas quais a política nacional corre o risco de
tornar-se em território de elites políticas e económicas, sem maiores relações com o povo
moçambicano.

Objectivos
Geral:
 Analisar os níveis de participação política e engajamento cívico em diferentes regiões
de Moçambique.

Específicos:
 Investigar as motivações e desafios enfrentados pelos cidadãos moçambicanos ao se
envolverem na política e em actividades cívicas;
 Examinar como factores socioeconómicos, como educação e renda, influenciam a
participação política;
 Avaliar o impacto das organizações da sociedade civil em promover a participação
cívica e política;
 Analisar o papel das eleições e do sistema político na formação da participação
política.

Metodologia
A metodologia usada para a elaboração do presente trabalho foi com base na pesquisa
documental e consulta de forma censurada e sucinta de algumas obras que abordam sobre o
assunto. Quanto a estrutura o trabalho é regido de regras da ISCED, medidas vigentes tais
4

como: introdução, desenvolvimento, conclusão e referencias bibliográficas que esta presente


no final do trabalho.
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1. A Participação Política e Engajamento Cívico em Moçambique


1. Contexto Político e Histórico
Os estudos sobre o político em Moçambique são basicamente marcados por três tendências
de análise. Estas estão intimamente relacionadas com a trajectória histórica que o país seguiu.
Referimo-nos aos períodos histórico-político colonial, pós-colonial e do que grande parte da
literatura sobre o político em África denominou de transição para a democracia. No entanto,
nestes períodos podem-se distinguir mais unidades histórico-político de análise. Essa
possibilidade não altera a pertinência operacional da periodização que propusemos (Banock,
M. 1992).

A primeira procura analisar a forma como as relações políticas se estabelecem no período


colonial. Há duas temáticas que marcam os estudos sobre o político neste período histórico. A
problematização da relação das autoridades coloniais com os indígenas. Estes procuram
descrever as relações sociais e políticas entre as autoridades coloniais portuguesas e os
africanos nativos os colonizados. Há uma preocupação em perceber o processo de
estabelecimento de regras que regulam a relação das autoridades coloniais com os indígenas.
Por outro lado, procuram entender as condições da emergência do(s) movimento(s)
nacionalista(s).

No primeiro caso há uma preocupação com o estabelecimento das regras que regulam a
relação das autoridades coloniais com os nativos africanos. No segundo, e resultante do
estabelecimento das regras, há preocupação em compreender a reacção dos africanos à nova
gramática política imposta pelo colonizador.

A literatura que aborda a participação dos moçambicanos na política no período colonial,


destaca que esta era feita por meio de associações. Todavia, diverge na forma como analisa a
acção das associações no jogo político. Nesse debate opõem-se duas concepções. A primeira
postula que as associações e sindicatos que surgiram nesse período em nenhum momento
tiveram como objectivo confrontar o regime colonial (Rocha. A. 2000).

A segunda postula que as organizações sociais e políticas que emergiram no período colonial
tinham como finalidade afrontar o regime. Para os apologistas desta corrente, estas
organizações sociais e políticas foram importantes para a emergência do nacionalismo
moçambicano (Rocha. A. 2000).
6

A segunda abordagem reflecte sobre o período pós-colonial. Duas tendências caracterizam os


estudos que analisam este período histórico-político. Pode-se dizer que “os estudos
moçambicanos problematizam este período histórico tendo como foco o que denomina de
indústria dos erros da FRELIMO” (Macamo, 2002).

Trata-se de estudos que analisam o político em Moçambique a partir da discussão do


desfecho do projecto revolucionário da FRELIMO. Nesse debate contrapõem-se duas formas
de olhar para o projecto revolucionário da FRELIMO. A primeira é pouco simpática ao
projecto revolucionário da Frelimo. Esta centra a sua abordagem na crítica às opções
políticas, económicas e sociais tomadas pela Frelimo no período pós-independência.

1.2. Estruturas Políticas


1.2.1. Sistema de partidos
O multipartidarismo é um fenómeno bastante recente em Moçambique. De 1975 até a
adopção da Constituição de 1990, a FRELIMO, o movimento que liderou a luta pela
independência, dirigiu o país num sistema de partido único. Com a Constituição de 1990,
ficou aberto o espaço político, mas este processo só adquiriu verdadeiro conteúdo após a
celebração do Acordo Geral de Paz em 1992, altura em que a RENAMO foi reconhecida
como movimento legítimo e se iniciaram os preparativos para as primeiras eleições
multipartidárias. Ao fim de três eleições gerais, está claro que o sistema político
moçambicano se caracteriza por uma bipolarização em torno dos dois ex-beligerantes, apesar
de ser cada vez maior o domínio da cena política por parte da FRELIMO.1

Da independência até a aprovação da Constituição de 1990, Estado e partido confundiram-se


na administração do poder político em Moçambique. Nos termos da Constituição de 1975,
‘Na República Popular de Moçambique o poder pertence aos operários e camponeses unidos
e dirigidos pela FRELIMO, e é exercido pelos órgãos de poder popular’ (art. 2 º.), e ‘A
República Popular de Moçambique é orientada pela linha política definida pela FRELIMO,
que é a força dirigente do Estado e da Sociedade. A FRELIMO traça a orientação política do
Estado e dirige e supervisa a acção dos órgãos estatais a fim de assegurar a conformidade da
política do Estado com os interesses do povo’ (art. 3 º.) Foram quinze anos. Com a
Constituição de 1990 (art. 2), o poder passou a residir no povo, o qual o exerceria de acordo
com a Constituição. Era o início do Estado democrático de direito. Passados 19 anos desde a
1
Denis Kadima and Samson Lembani, ‘RENAMO-União Eleitoral: Understanding the Longevity and Challenges
of an Opposition Party Coalition in Mozambique’, p.156, in The Politics of Party Coalitions in Africa, 2006.
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transição à democracia pluripartidária, na qual o Estado e a arena pública não mais se


confundem com o partido no poder, na qual as instituições públicas devem seguir as regras da
isenção política, transparência, imparcialidade e profissionalismo no trato dos bens públicos,
esperar-se-ia que as instituições do Estado e os partidos políticos se tivessem ajustado ao
novo contexto.

Contudo, a transição jamais foi ‘fácil’, incluindo mesmo no plano da legislação: um ano após
a aprovação da Constituição de 1990, a Assembleia da República (ainda monopartidária)
aprovou a Lei da Segurança do Estado (Lei no. 19/91, de 18 de Agosto), em cujo art. 22 (no.
2) protege, igualmente, ‘presidentes e secretários-gerais de partidos políticos’, ao lado de
‘deputados e magistrados’. Para além da legislação, certas atitudes e actividades parecem
difíceis de mudar na prática, principalmente quando as mudanças contextuais foram mais de
forma que de fundo.

De facto, a FRELIMO governa o país desde a independência, e muitos de seus quadros têm
demonstrado certa resistência às práticas democráticas e à noção de separação entre o partido
e o Estado.

Três eventos recentes, ocorridos entre Abril de 2008 e Março de 2009, bem ilustram o
problema. No primeiro, temos a visita do secretário-geral do partido comunista vietnamita,
Nong Duc Manh, a Moçambique. O secretário-geral foi tratado como se chefe de Estado ele
fosse, e a visita, como visita de Estado. Durante sua estadia no país, não só as autoridades
governamentais foram visitados por Nong, mas também os órgãos da FRELIMO. Nong
palestrou para os membros da FRELIMO sobre os desafios enfrentados pelo Vietname e as
virtudes do ‘estado de direito socialista’, tendo ainda doado 50 computadores e impressoras
ao partido.

1.2.2. O Governo e o Sistema Eleitoral


As eleições representam o cerne do processo de participação política democrática, e suas
características ilustram a profundidade e o alcance do processo de consolidação democrática.
Em Moçambique, os processos eleitorais têm sido marcados por conflitos, acusações e alto
nível de desconfiança entre os partidos políticos, o que sinaliza para a fragilidade das
instituições democráticas no país. Com efeito, Moçambique conheceu até à data três eleições
gerais nacionais, presidenciais e legislativas (1994, 1999, 2004), e em todas elas a RENAMO
8

(1994) ou a RENAMO-UE (1999-2004), como principal coligação eleitoral de oposição,


consideraram ter havido fraude e recusaram-se a aceitar os resultados.

O primeiro processo de eleições autárquicas (1998) foi boicotado por quase todos os partidos
da oposição (tendo registado, ainda, uma taxa de abstenção de 85%), e apenas o segundo
processo de eleições municipais (2003) se desenrolou sem terminar em contestação pela
oposição. A composição da Comissão Nacional de Eleições (CNE) foi amplamente criticada
por anos (até sua recente alteração), assim como tem sido a gestão dos processos eleitorais
pelo Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE). Críticas também têm sido
direccionadas ao próprio sistema eleitoral para a escolha dos integrantes da Assembleia da
República (representação proporcional com barreira de 5% – recentemente eliminada – e
método d’Hondt).

1.2.2.1. O Sistema Eleitoral


Para além de alterar a Constituição no que se refere ao sistema eleitoral (a passagem do
sistema maioritário para o sistema proporcional na eleição do parlamento), o Acordo Geral de
Paz incluía ainda uma disposição segundo a qual deveria existir uma barreira entre 5% e 20%
dos votos expressos à escala nacional para que uma força política pudesse obter
representação na Assembleia da República.2

A cláusula de barreira fora exigência da RENAMO, a qual procurava garantir sua posição
como força política em Moçambique. Ao final, estabeleceu-se a barreira em 5%, situação
vigente até as recentes alterações da legislação eleitoral, que a aboliram completamente. De
acordo com a legislação eleitoral vigente, o Presidente da República é eleito por sufrágio
universal e directo num círculo eleitoral único ao nível nacional, em eleição de cunho
maioritário.148 Aos candidatos à Presidência da República não é requerida a filiação a
partido político (Lei no. 7/2007, art. 132).

Os deputados da Assembleia da República são eleitos num sistema de representação


proporcional assente em círculos eleitorais correspondentes à actual divisão territorial do país
em províncias (aos 10 círculos eleitorais formados pelas províncias se soma a cidade de

2
Protocolo III, ponto V, artigo 5, alínea f); Tomas Vieira Mário, Negociações de Paz de Moçambique. Crónica
dos Dias de Roma, 2004, p.129.
9

Maputo, resultando em 11 círculos eleitorais), sendo a cada círculo eleitoral atribuído um


número de assentos parlamentares proporcional ao número de eleitores recenseados.3

Os eleitores votam em uma lista fechada proposta e ordenada pelos partidos políticos. Nas
eleições legislativas nacionais, portanto, não são permitidas candidaturas independentes de
filiação partidária.4

Para a atribuição de mandatos legislativos é usado o método d’Hondt.151 Em termos


legislativos, os mesmos princípios e regras aplicam-se às eleições autárquicas e às
provinciais, com uma significativa diferença em termos de candidaturas. Ao contrário das
eleições nacionais, no caso das eleições autárquicas e provinciais podem apresentar
candidaturas grupos de cidadãos independentes de partidos políticos.152 Para a presidência
da autarquia, da mesma forma que para a Presidência da República, são admitidas
candidaturas independentes de partidos políticos.

Em regra, qualquer cidadão moçambicano maior de 18 anos e devidamente recenseado pode


eleger (capacidade eleitoral activa) e ser eleito (capacidade eleitoral passiva). A lei estabelece
como incapacidade eleitoral activa o facto de um cidadão ter sido interdito por sentença
judicial, ser demente, ou condenado à pena de prisão por crime doloso. 153

1.3. Participação Política


A participação dos cidadãos no processo político, a sua capacidade de influenciar a
formulação das políticas públicas, a abertura do governo às demandas da população e a
transparência com que o governo trata dos assuntos públicos são indicadores da qualidade da
democracia. Para além da forma mais elementar de participação política que é o voto livre e
periódico para a escolha dos representantes, um regime democrático deve oferecer aos
cidadãos outras formas de participação e envolvimento no processo político.

Tal participação depende das liberdades e direitos formalmente estabelecidas por uma
Constituição, mas, também, da capacidade real de organização, mobilização e advocacia da
sociedade civil e política. Ao nível regional, a Carta Africana dos Direitos dos Homens e dos
Povos, a recém-aprovada Carta sobre Democracia, Eleições e Governação e outros padrões

3
Daí a importância dos recenseamentos eleitorais, uma vez que o critério para a distribuição dos assentos
parlamentares não deriva da população total, mas dos cidadãos devidamente recenseados e habilitados para
votar
4
Lei no. 19/2002. Esta situação corresponde, sem dúvida, a uma tendência de monopolização da cena política
nacional pelos grandes partidos que vem desde as negociações de Roma
10

endossados pelo Mecanismo Africano de Revisão de Pares (a cuja revisão Moçambique foi
recentemente submetido) avançam princípios e padrões que devem ser seguidos pelos estados
africanos no tocante à participação política.

1.4. Engajamento Cívico


Moçambique é signatário de diferentes instrumentos internacionais referentes à juventude. A
Constituição da República de Moçambique, no seu artigo 123, reconhece a juventude como
continuadora dos anseios da nação. O engajamento político da juventude é um direito e dever
fundamental. E como que em correspondência a este desígnio, o Estado moçambicano tem,
na sua estrutura organizacional, sempre uma entidade específica em matéria de Juventude.
Por consequência, a atribuição variada de competência às entidades de gestão da matéria de
juventude revela, no âmbito governamental, alguma incerteza quanto ao tratamento político
da juventude.

Por exemplo, actualmente existe um conceito relativamente vago que a associa os problemas
da juventude exclusivamente ao emprego, daí alguma fundamentação para a criação da
Secretaria de Estado para a Juventude e Emprego, que veio substituir o Ministério
da Juventude e Desportos, numa visão de que aquela entidade deve olhar para questões
cruciais que dizem respeito aos jovens, especificamente o emprego.

1.5. Factores Socioeconómicos


Esta variável não é de fácil análise, uma vez que as autoridades públicas de gestão eleitoral
não categorizaram ainda o material eleitoral nem por género nem por faixa etária. A partir
dos dados eleitorais oficiais, não é possível apreender os níveis de participação dos jovens
nos processos eleitorais. Os inquéritos desenvolvidos pelo Afro barometer dão-nos uma ideia
geral da situação da participação da juventude em processos eleitorais.

A participação dos jovens em espaços formais de governação (observatórios de


desenvolvimento, conselhos consultivos e fóruns de desenvolvimento local, comités
comunitários, processos eleitorais, petições, manifestações/petições), do ponto de vista da sua
representação, tem sido vista como razoável e há tendência para ser considerada péssima.
11

Conclusão
No contexto de uma economia bastante dependente da ajuda-externa, o governo
moçambicano e seus parceiros de desenvolvimento deveriam buscar garantir que, para além
de regras claras para eleições e instituições democráticas, conforme os padrões existentes ao
nível da África e da África Austral, também a governação interna do partido no poder seja
democrática e transparente. A FRELIMO tem uma longa história de luta pelo progresso e
libertação de Moçambique, possuindo uma forte cultura organizacional: o partido deve
ancorar-se nesta tradição para garantir que seu próprio predomínio político não prejudique o
desenvolvimento democrático de longo-prazo do país.
12

Referencias Bibliográficas
Macamo, E., Cardoso, C., & Pestana, N. (2002). Da possibilidade do político na África
lusófona. Cadernos de Estudos Africanos, (3),

Rocha, A. (2000). Associativismo e nativismo em Moçambique: Contribuição para o estudo


das origens do nacionalismo moçambicano (1900-1940). Maputo: Promedia.

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