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Instituto Superior de Ciências e Educação á

Distância

Curso: Curso de Direito

1º Ano

Cadeira: Ciência Política

Tema:

A historia do pensamento politico universal։ em particular o pensamento politico africano

Tutor/a:

Discente:

 António Dinis Alberto Magaia

Maputo, Agosto

2021
INSTITUTO SUPERIOR DE CIENCIAS DE EDUCAÇÃO Á DISTÂNCIA

CURSO DE DIREITO

1º ANO

NOME DO ACADÊMICO

ANTÓNIO DINIS ALBERTO MAGAIA

TRABALHO DE CAMPO

TITULO DO TRABALHO:

A HISTÓRIA DO PENSAMENTO POLÍTICO UNIVERSAL- EM PARTICULAR O


PENSAMENTO POLÍTICO AFRICANO

MAPUTO, AGOSTO

2021
ÍNDICE

CAPÍTULO-1.
4

1.Introdução.....................................................................................................................................4
1.2.Objectivos..................................................................................................................................4
1.3. Metodologia................................................................................................................................4
CAPÍTULO- 2...................................................................................................................................5
QUADRO TEÓRICO......................................................................................................................5
1.4. OS CLÁSSICOS DA CIÊNCIA POLÍTICA...........................................................................5
1.4.1. Maquiavel: A Política Moderna …………………………………………………………...5

1.4.1.1.Teoria Geral de Maquiavel…………………………………………………………...…...6


1.4.1.2. O Príncipe de Maquiavel no contexto da Renascença ……………………………....…...6
1.4.1.3.Principais Conceitos de Maquiavel. ………………………..……………………………..7
1.4.2. Hobbes: O Leviatã.................................................................................................................8
1.4.2.1. Teoria Geral de Hobbes......................................................................................................9
1.4.2.2. Principal Obra.....................................................................................................................9
1.4.3. Locke: A Propriedade..........................................................................................................10
1.4.3.1. Principal obra....................................................................................................................11
1.4.3.1.1. Importância do “Segundo tratado sobre o governo civil”......................................................11
1.4.3.1.1.2. Conceito de propriedade em locke....................................................................................12
1.4.4. Rousseau: A Igualdade........................................................................................................12
CAPITULO -3...............................................................................................................................14
1.5.O pensamento político de Severino Nguenha .........................................................................14
1.6. O Pan-Africanismo....................................................................................................................15
2. Considerações finais…………………………………………………………………………..
3.Referências Bibliográficas……………………………………………………………………..
CAPÍTULO- 1

1.Introdução
1
A ciência política é o campo das ciências sociais que estuda as estruturas que moldam as regras
de convívio entre as pessoas em agrupamentos. A ciência política dedica-se a entender e moldar
as noções de Estado, governo e organização política, e pode estudar também outras instituições
que interferem directa ou indirectamente na organização política, como ONGs, Igreja, empresas
etc. Alguns teóricos restringem o objecto de estudo da ciência política ao Estado, outros
defendem que o seu objecto é mais amplo, sendo o poder, em geral, aquilo que deve ser estudado
por essa área. 2 A ciência política analisa as relações de poder que envolve o Estado a partir da
estreita relação deste com os homens socializados, ou seja, somente pode entender determinado
Estado se entendermos a sociedade em questão.

1.2.Objectivos

Geral:

 Conhecer a história do pensamento político universal։ em particular o pensamento político


africano

Específicos:

 Analisar as Teorias Clássicas da Ciência Política;


 Conhecer as teorias gerais de Maquiavel, Hobbes, Locke e Rousseau;
 Analisar o pensamento político de Severino Ngoenha e
 E ter noção básica de Pan-Africanismo.

1.3. Metodologia

O presente trabalho é meramente de revisão bibliográfica de informação obtida a partir de fontes


escritas, obtidas de livros físicos e virtuais, seguida de uma minuciosa compilação, usando os
meios informáticos disponíveis.
___________________
1 https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/ciencia-politica.htm
2 https://www.passeidireto.com/arquivo/25612035/os-classicos-da-ciencia-politica

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CAPÍTULO- 2

QUADRO TEÓRICO

1.4. OS CLÁSSICOS DA CIÊNCIA POLÍTICA

1.4.1. Maquiavel: A Política Moderna

Em meados de uma Itália fragmentada por motivos de disputas politicas visando à obtenção de
territórios e poder, surge o historiador e filósofo, Nicolau Maquiavel (1469- 1527), um homem
de vida pública pelo qual trabalhava para o governo de Florença, sua cidade natal, e, por conta
disso, acabou por vivenciar de perto os conflitos que rondavam a Europa da época por meio de
suas missões diplomáticas, acabando por desempenhar seu potencial para as analises das acções
politicas.

Para compreendermos o pensamento político de Maquiavel, é necessário retornarmos ao


contexto social e histórico de sua época, que tem como plano de fundo o Renascimento que,
segundo Guanabara (2011, p. 29): traz em seu bojo a redescoberta dos valores da Antiguidade,
sobretudo os greco-romanos. E traz a valorização da autonomia do homem, responsável
novamente por uma atitude criadora diante do mundo. Com efeito, substituise o teocentrismo
pelo antropocentrismo. Tal fato terá um peso fundamental nos escritos de Maquiavel, uma vez
que o homem político descrito em O Príncipe não teme inovar, agir livremente sem medo de
castigos e punições divinas. [...] O homem renascentista pressupõe uma ruptura com o modelo
medieval, submisso à ordem teológica, para colocar em seu lugar uma atitude auto afirmativa,
com foco no mundo terreno e “nesta vida” .

3
Elaborou uma nova compreensão da questão política, tornando-se um divisor de águas entre o
pensamento medieval e este, inaugurado a partir das suas considerações. Desvincula
completamente as acções políticas das imposições religiosas, reinterpretando o verdadeiro
significado do “bem” e do “mal” em vista da especificidade desta área. Ao despertar esta nova
percepção contribui significativamente para a posteridade, tornando-se marco para a história do
pensamento moderno.

Foi um grande pesquisador do comportamento e das estruturas de poder, possuindo uma


capacidade singular de associar situações da sua época a acontecimentos históricos, prevendo
certas consequências necessárias através da sua vivência nos bastidores das instituições

5
governamentais. O que lhe ofereceu a possibilidade de observar de forma clara e privilegiada as
dicotomias com as quais sua época escolhia algo como elogio, ou ao contrário, desprezava certas
iniciativas.

1.4.1.1.Teoria Geral de Maquiavel

4
Maquiavel inaugura uma espécie de realismo político, pelo qual justiça e moral não constituem
factores de restrição à acção política. Suas teses são acompanhadas de uma compreensão de
verdade efectiva, que se distingue da verdade metafísica. Através da verdade efectiva é que a
busca do pesquisador se orienta pelo que está posto e não pelo que deveria ser. Nela encontra-se
um certo pragmatismo que sempre acompanha as análises do autor.

Há uma percepção muito bem marcada de que a bondade pode levar um governante à ruína, do
mesmo modo que a maldade e a crueldade podem ser factores definitivos para se ascender ao
poder. Deste modo, as conquistas na esfera política devem ser determinadas numa dimensão
muito específica.

1.4.1.2. O Príncipe de Maquiavel no contexto da Renascença

Antes mesmo de observar O Príncipe de Maquiavel no contexto da Renascença, cumpre analisá-


lo internamente. Essa obra foi escrita em 1513, em um momento em que Maquiavel fora
obrigado a afastar-se dos negócios públicos de Florença. Essa obra, que é caracterizada como um
‘manual para governantes’, baseado em análises da história humana, em especial o Império
Romano, teve e tem sua importância incontestável, tanto no período em que foi escrita, no século
XVI - contribuindo para a formação do pensamento político moderno -, como para os períodos
posteriores.

Ao passar a analisar a obra de Maquiavel no contexto do Renascimento, faz-se necessário


considerar alguns pontos essenciais. Primeiramente, O Príncipe é uma obra que retrata um estilo
literário comum no período, qual seja o de um conjunto de regras para a orientação dos novos
príncipes.

__________________
(3,4)
Módulo de Ciência Política da ISCED

6
Dessa forma, tem-se que O Príncipe de Maquiavel, diferentemente do que nos dizem alguns
autores (Berlin, 2000:5), pode ser classificado em uma certa categoria, qual seja a do pensamento
político ainda do final do século XV. No entanto, mesmo sendo possível classificá-lo em
determinada categoria, esta obra inova em alguns aspectos, especialmente por compreender a
política de uma forma diferente de outros autores (Bignotto, 1992:114).

5
Durante o século XVI, começou a predominar a linha de pensamento, amadurecida n’O
Príncipe, que dava preponderância à segurança dos reinos com o estabelecimento de governos
absolutistas, frente à liberdade das repúblicas, pois mesmo que aquela forma de governo
cerceasse com maior vigor a liberdade privada - que dessa forma passava a ter uma distinção
difusa em relação ao público -, representava maior possibilidade de resistência em casos onde
fosse posto à prova. Os conselhos que Maquiavel apresentou n’O Príncipe fizeram com que ele
recebesse muitas críticas, ao ponto de seu nome estar associado à maldade.

6
Principal Obra: O Príncipe, destacado na literatura política porque inova quanto ao olhar
acerca da realidade política. Esboça diversas situações que nos levam a entender como “os fins
justificam os meios”. eu autor apresenta de forma peculiar os conhecimentos que da política,
uma subtil conciliação entre a sabedoria dos antigos e as posturas dos chefes de Estado do seu
tempo. Destaca que o objectivo do governo é perpetuar-se no poder, não restringindo os
meios necessários para tal feito.

Segundo estudiosos do pensamento de Maquiavel, o interesse maior da sua obra é a reunificação


da Itália. Por isso analisa os principados com aprofundamento e tenacidade, identificando suas
características, destacando aqueles que são mais ou menos passíveis de dominação.

1.4.1.3.Principais Conceitos de Maquiavel

▪ O príncipe deve ser o sujeito principal no encaminhamento da acção política, porque é aquele
que possui a virtude. E, por isso, conhece as situações, podendo transferi-las ao seu benefício,
ao favor dos seus interesses. Ele não espera que a sorte, a fortuna, lhe agracie. Não se prende ao
acaso, mas se este ocorre deve saber usar seu intento.

7
▪ Ser virtuoso significa direccionar a vontade para um objectivo definido e não se dispersar em
possibilidades vagas. Todavia a virtude é mais do que simples interesse, é uma espécie de
energia que impulsiona e motiva, o líder e os seus subordinados.

▪ A fortuna, que é sinónimo de sorte e acaso, termina sendo o verdadeiro momento em que a
virtude se revela, pela sua aplicação, a direcção, ou melhor, o andamento para a obtenção dos
objectivos. O governante, ainda que não se confie na sorte, usa-a em favor da sua
causa. Maquiavel afirma que, dentre as qualidades inerentes a um governante, uma delas deve
ser a generosidade. Mas com certa ponderação, porque sempre se calcula o prejuízo ou o
benefício que certa reputação pode causar. 5

1.4.2. Hobbes: O Leviatã


7
Thomas Hobbes (1588-1679) foi um teórico político e filósofo inglês. Sua obra de maior
destaque é "Leviatã", um tratado político cuja ideia central é a defesa do absolutismo e a
elaboração da tese do contrato social.

Thomas Hobbes nasceu em Westport, Inglaterra, no dia 5 de abril de 1588. Filho de um clérigo
anglicano, vigário de Westport, teve uma infância marcada pelo medo da invasão da Inglaterra
pelos espanhóis, na época da rainha Elizabeth I.

Inculto e violento, após uma briga com outro clérigo na frente de sua igreja, seu pai abandonou
sua esposa e os três filhos, deixando-os sob a tutela de seu irmão.

Contexto Histórico

No século XVII consolidam-se algumas percepções e posturas em relação à ciência e sua


permanência na vida das pessoas de um modo geral. Mas ainda repercutem fortes exigências
religiosas, resistindo considerações em torno da submissão do Estado à
autoridade da Igreja.

________________
5
Maringá, v. 24, n. 1, p. 091-102, 2002
6,7
Módulo de Ciência Política da ISCED

8
Hobbes pensa o contrário e não mede esforços para demonstrar a verdade na qual amparava seu
pensamento. Para ele o Estado não é criação da vontade de Deus, é um artifício e deve ser
tratado como tal.

1.4.2.1. Teoria Geral de Hobbes

8
Sua teoria procura centrar-se numa visão realista da vida, insistindo em pensar o ser humano
sem as ilusões habituais que lhe agregam. Buscando compreender a realidade social e política
através da natureza humana e das possibilidades de construção de um direito que possa dar conta
das verdadeiras necessidades sociais. Daí o carácter do seu racionalismo, que pretende
perceber a sociedade através do mecanicismo, ou seja, através das leis mecânicas da natureza,
que também são reveladoras das particularidades da natureza do ser humano. Sendo adepto do
Empirismo, Hobbes elabora uma filosofia materialista e mecanicista. Detém-se por diversas
vezes em considerações acerca da fisiologia e da acção de certos órgãos para explicar a origem
do conhecimento, dos sentimentos. Partindo do pressuposto de que os seres humanos não
possuem um instinto de sociabilidade, de que não somos sociáveis por natureza, senão por
acidente, por artifício, é que se reivindica a necessidade de um contrato entre todos os
indivíduos, em função do surgimento do Estado.

A tese que defende é uma construção hipotética, ou seja, não parte de uma situação real
concreta, mas de uma apurada racionalização acerca da realidade, intuindo metáforas para que a
mesma realidade possa ser compreensível. A ideia principal é de que a humanidade estaria
dividida em dois momentos, um primeiro que seria o estado natural, em que o poder real de
cada indivíduo demarca seu espaço e suas possibilidades. E o segundo momento que se
estabelece com o Estado Político, em que cada qual passa a gozar da mesma medida de poder e
de força, o que garante a todos as mesmas condições de conservação e manutenção dos
interesses pessoais.

1.4.2.2. Principal Obra

Sua obra principal é o Leviatã, na qual lança as bases de compreensão da formação da sociedade
civil, estabelecendo a melhor forma com a qual o Estado pode se manter absoluto e firme diante
das adversidades. Hobbes é o teórico que através de suas considerações engendra a teoria
segundo a qual o Estado originou-se do contrato, influenciando posteriormente diversos autores.

9
9
Ainda em Paris, em 1651, Hobbes publicou “Leviatã”, onde defende a monarquia absolutista. A
razão disto deriva da visão que ele tinha da sociedade, segundo ele sempre ameaçada por uma
guerra civil, onde todos os seus integrantes vivem em uma situação de permanente conflito:
“uma guerra de um contra todos e de todos entre si”.

O estado da natureza, segundo ele, não tinha nada de harmonioso. O mundo antigo dos primeiros
homens era um mundo de feras, onde “o verdadeiro lobo do homem era o próprio homem”.

Para se chegar a uma sociedade civil era necessário que todos, por meio de um “contrato social”,
concordassem em transferir as suas liberdades naturais a um só homem: o rei, somente ele
deveria deter o monopólio da violência. Somente o rei deve ter poderes que lhe permitam impor
sua vontade sobre todos para o bem geral da comunidade. No seu ponto de vista, não existe o
direito à propriedade, nem à vida, nem à liberdade, que não sejam garantidos pela autoridade
real. Rebelar-se contra ela, significa regredir no reino animal, onde impera sempre a violência,
pondo em risco as conquistas da civilização.

A obra desagradou a Igreja Católica e o Governo Francês, por ser muito radicalista e, sob essa
pressão foi obrigado a deixar o país.

Eis o Leviatã, o grande monstro anunciado no livro da bíblia que serve de metáfora para se
entender a sociedade organizada através do contrato social.

1.4.3. Locke: A Propriedade

John Locke (1632-1704) nasceu em Wrington, na Inglaterra, aos 19 de agosto de 1632. Estudou
na Universidade de Oxford. Saturado da filosofia, aplicou-se aos estudos das ciências
experimentais, especialmente a medicina, na qual adquiriu considerável notoriedade.

_________________________
7, 8
Módulo de Ciência Política da ISCED
9
https://www.ebiografia.com/thomas_hobbes/

10
Sabe-se que Locke contribui, em demasia, para a teoria do conhecimento, tema privilegiado do
pensamento moderno a partir de Descartes e Hume. Sua obra sobre o entendimento humano
defende a teoria gnosiológica empirista, isto é, doutrina segundo a qual todo o conhecimento
deriva da experiência. Como filósofo, Locke é conhecido pela teoria da tabula rasa do
conhecimento, desenvolvida no Ensaio sobre o Entendimento Humano (LOCKE, 1999, p. 57),
no qual afirma:
Todas as ideias derivam da sensação ou reflexão. Suponhamos, pois, que a mente é, como
dissemos, um papel em branco, desprovida de todos os caracteres, sem quaisquer ideias; como
ela será suprida? De onde lhe provém este vasto estoque, que a activa e que a ilimitada fantasia
do homem pintou nela com uma variedade quase infinita? De onde apreende todos os materiais
da razão e do conhecimento? A isso respondo, numa palavra, da experiência. Todo nosso
conhecimento está nela fundado, e dela deriva fundamentalmente o próprio conhecimento.
Empregada tanto nos objectos sensíveis externos como nas operações internas de nossas mentes,
que são por nós mesmos percebidas e reflectidas, nossa observação supre nosso entendimento
com todos os materiais do pensamento. Dessas duas fontes de conhecimento jorram todas as
nossas ideias, ou as que possivelmente teremos.

1.4.3.1. Principal obra

Já a obra “Dois tratados sobre o governo civil” é considerada um marco teórico da revolução
liberal inglesa, onde Locke fundamenta a legitimidade da deposição de Jaime II por Guilherme
de Orange e pelo Parlamento com base na doutrina do direito de resistência.

O “Primeiro tratado” é, segundo Leonel Itaussu Almeida Mello, uma refutação do Patriarca, obra
em que Robert Filmer defende o direito divino dos reis com base no princípio da autoridade
paterna que Adão, supostamente o primeiro pai e o primeiro rei, legará à sua descendência. De
acordo com essa doutrina, os monarcas modernos eram descendentes da linhagem de Adão e
herdeiros “legítimos” da autoridade paterna dessa personagem bíblica, a quem Deus outorgara o
poder real.

1.4.3.1.1. Importância do “Segundo tratado sobre o governo civil”

O “Segundo tratado” é, como indica o próprio título, um ensaio sobre a origem, extensão e
objectivo do governo civil. Nele, John Locke sustenta a tese de que nem a tradição nem a força,

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mas apenas o consentimento expresso dos governados é a única fonte do poder político legítimo.
Locke tornou-se célebre principalmente como autor do “Segundo tratado”, que, no plano teórico,
constitui um importante marco da história do pensamento político, e, a nível histórico concreto,
exerceu enorme influência sobre as revoluções liberais da época moderna, ou seja, tornou-se a
primeira e a mais completa formulação do Estado liberal, conclui Mello.

1.4.3.1.1.2. Conceito de propriedade em locke

A tese de Locke consiste, exactamente, num esforço para “mostrar de que maneira os homens
podem vir a ter uma propriedade em diversas partes daquilo que Deus deu em comum à
humanidade, e isto sem nenhum pacto expresso por parte de todos os membros da comunidade”,
destaca Locke (1998, p. 243). Tem-se a impressão, a partir de uma leitura atenta de Locke, que
se trata de uma “teologia” da propriedade (levará a uma espécie contemporânea de “teologia da
prosperidade”, na qual a riqueza é, “natural” e “acriticamente”, uma espécie de bênção divina),
na qual o autor faz uso de inúmeros recursos bíblicos para convencer seus leitores que a
fundamentação da propriedade passa pela aceitação dos fundamentos teológicos da mesma.

Segundo Locke (1998, p. 405-406):

Deus, que deu o mundo aos homens em comum, deu-lhes também a razão, a fim de que dela
fizesses uso para maior benefício e conveniência da vida (...). “Quer consideremos a razão
natural (...) – ou a revelação – que nos relata as concessões que Deus faz do mundo para Adão,
Noé e seus filhos -, é perfeitamente claro que Deus, como diz o rei Davi (Sl 115, 61), deu a terra
aos filhos dos homens, deu-a para a humanidade em comum. Portanto, trata-se, de certa forma,
de um recurso didático para convencer as pessoas de que a propriedade tem um fundamento
inquestionável, por tratar-se de uma doação divina aos homens ou, ao menos, para alguns
indivíduos.

1.4.4. Rousseau: A Igualdade

Jean-Jacques Rousseau nasceu na cidade de Genebra, na Suíça, em 28 de junho de 1712, filho de


Isaac Rousseau e Suzana Bernard. Sua família era da burguesia de relojoeiros, tendo perdido sua
mãe uma semana após seu nascimento, em decorrência de complicações após o parto. Ficou sob

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os cuidados de seu pai, com quem desenvolveu o gosto pela leitura e pela reflexão literária
(LIMA, 2014)

É característico do pensamento político de Rousseau o empenho em conjugar a liberdade do


cidadão com o Estado, de modo que o cidadão só é considerado livre se viver em sociedade civil.
Assim, propôs que o exercício do poder soberano estivesse nas mãos do povo ou da vontade
geral, esta representava a expressão global dos interesses e sentimentos do cidadão e da própria
sociedade em vista do bem comum, pois, para ele, o exercício da soberania pelo povo era a
condição primeira para sua libertação, e mais, a constituição era o instrumento apto à limitação
do poder do Estado nos moldes do absolutismo (QUADROS, 2016).

Rousseau pensou a relação humana ideal como uma relação de igualdade, e não de hierarquia, e
reconheceu na conversação entre pessoas iguais, e não na sabedoria de uma elite, a forma ideal
para a tomada de decisões políticas. A pobreza e a desigualdade, em Rousseau, ganham
relevância na medida em que afectam a política, era seu objectivo criar um ambiente propício ao
bom e regular desenvolvimento desta condição definitiva para um sistema equitativo de justiça,
alicerçado em leis que deveriam reflectir a igualdade de todos os cidadãos (FLEISCHACKER,
2006).

O ideal político de Rousseau, diz Stangue (2017), passa por defender a constituição de um
Estado em que o poder fosse legitimado pela participação popular na tomada de decisões, em vez
da concentração do poder nas mãos de um soberano ou de uma classe política. Em “Do Contrato
social” ele realiza uma apologia explícita à igualdade de direitos e à liberdade civil como ideais
que, efectivamente, legitimariam o poder. Com isso, ele estabelecera os princípios do direito
político.

Para Rousseau (2008), é impossível ser, verdadeiramente, livre aonde impera a desigualdade.
Ocorre que, a desigualdade que se origina da natureza das coisas não é um problema, pois, ela é
inevitável e insuperável, não carreando maiores consequências sociais e morais aos indivíduos A
questão primordial é quanto à desigualdade convencional, que, em seu pensamento, deve ser
afastada, combatida, porque corrompe as pessoas, porque ela nasce da diferença de poder, de
riqueza, de propriedade, e isso é inaceitável.

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CAPÍTULO -3

1.5.O pensamento político de Severino Nguenha

Dentre outros filósofos que dissertam sobre a incessante busca pela liberdade está o filósofo
moçambicano Severino Elias Ngoenha. Considerado um pensador da tradição crítica da filosofia,
Ngoenha é um filósofo preocupado com o seu tempo, com a sua nação e com o seu continente,
como também, e acima de tudo, com o futuro da sociedade. Para ele, a filosofia africana está na
linha da liberdade. Ela é um derivado do pensamento africano. Por isso, considera que։

O substrato filosófico do pensamento africano é, sem dúvida, a busca da liberdade, devido à


situação categorial oprimido/escravo/colonizado/subdesenvolvido na qual os povos africanos se
encontram a seguir ao encontro/choque com o ocidente. (NGOENHA, 2004, p. 74).

Conquanto, a busca pela liberdade, para esse autor, não é de cunho metafísico ou moral.
Ngoenha acredita que a liberdade ambicionada pelos africanos é de natureza política, pois
mesmo após a independência política e económica dos moçambicanos ela não se descolonizou e
é buscada agora no desenvolvimento económico e social.

Referindo-se as teorias democráticas, Severino Ngoenha critica o facto de se analisaremos


conteúdos que visam conquistar o poder e se descorarem as questões das liberdades iniciativas
dos cuidados e dos grupos participarem dos processos de decisão. Vinca que a qualidade da
política depende dos direitos civis, direitos económicos e direitos sociais. Ngoenha refere que a
relação que se estabelece entre liberdades individuais e colectividades políticas conduz o
individuo ao espírito colectivo, fazendo-o abandonar e despir-se do egoísmo e egocentrismo,
entretanto, a justiça como o princípio que regula o colectivo, torna o individuo cada vez distante
do egoísmo.

A visão democrática de Ngoenha é de que o Governo deveria se subordinar ao conjunto de


direitos populares que só periodicamente exercidos por via do sufrágio. Olhando para uma
realidade factual de áfrica e Moçambique em particular, este defende que a democracia deve ir
para além do processo eleitoral. Deve reduzir o fosso entre a realidade social e a realidade
política. Deve-se reconstruir um mecanismo de comunicação sustentável entre a ̏ Base ̏ e ̏ topo ̋.

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Ngoenha nega que o problema das sociedades africanas seja escolha de um partido político em
detrimento do outro; que seja o socialismo ou capitalismo.

1.6. O Pan- Africanismo

Acredita-se que o pan-africanismo, em sua vertente histórica, tenha ganhado contornos mais
claros a partir das manifestações culturais: poesias, ensaios, movimentos artísticos começados no
trânsito entre América do Norte, ilhas do Caribe, e um tímido reflexo no continente europeu.
Nesse sentido, é essencial “iniciar uma obra de interpretação de todas as manifestações artísticas,
espalhadas por ‘todas as Áfricas do Mundo’” (LARANJEIRA, 2000, p. 7).

Outras reflexões buscam compreender a diáspora negra, caracterizando o pan-africanismo como


um processo histórico, às vezes de reparação, ou algumas vezes resgatando as narrativas que
ilustram os processos de libertação dos antigos escravizados (PAIM, 2014, p. 88). Essa temática
se expandiu na medida em que os escritos dos pensadores negros se difundiram e, em paralelo,
uma demanda por representação foi visível, sobretudo nos debates universitários e na luta pela
igualdade de direitos das populações afrodescendentes.

O uso político do pan-africanismo remonta aos debates sobre escravidão, diáspora e


participação dos negros na sociedade contemporânea. Recuperando a análise do sociólogo Alain
Kaly, considera-se que os primeiros pensadores do pan-africanismo estavam realmente
engajados na luta para provarem sua condição de humanidade e de igualdade intelectual,
principalmente, diante de diversas produções do racismo científico a exemplo da obra de Arthur
de Gobineau (KALY, 2007, p. 86).

Pode-se ver que os congressos foram os principais definidores das balizas do conceito de pan-
africanismo e a figura de William Edwards Burghardt DuBois foi essencial para a divulgação da
noção de pan-africanismo. Nos anos de 1900, 1919, 1921, 1923, 1927 e 1945, americanos,
antilhanos e militantes da causa negra de uma maneira geral, se reuniram nesses congressos para
discutir e (re) elaborar os espaços de identidade e pertencimento dos negro-africanos. Considera-
se que as perspectivas iniciais eram debater sobre a estrutura da colonização e da condição da
comunidade negra transnacional, contudo, o último congresso demandava a emancipação dos
países no continente africano (BETI; TOBNER, 2007, p. 188).

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2. Considerações finais

Assim sendo, concluiu-se, que, Maquiavel e os contratualistas a similitude entre autores como
Hobbes, Locke e Rousseau residem na forma particular de explicar a necessidade do Estado.
Segundo estes autores têm origem a partir de um pacto (contrato). Porém, mais do que explicar a
existência do Estado, os autores têm em comum o fato de defenderem um tipo de Estado em
particular, a partir de uma particular concepção de humanidade.

Como nota de conclusão referente ao pensamento político africano, importa referir que,
pretende-se, evidenciar que o filósofo Ngoenha busca pensar, especificamente, o processo
democrático de Moçambique, sem deixar de estar fazendo filosofia. Em suas obras, ele tem o
cuidado de nos mostrar que todo pensamento filosófico que se quer universal parte de uma
particularidade.

E por fim O pan-africanismo foi uma etapa geral da História da África Contemporânea
relacionando-se ao mesmo tempo com o pensamento antirracista e o nacionalismo africano em
suas amplas vertentes. A presença de pensadores como Blyden, Garvey, Senghor, Césaire e
Fanon auxiliam a entender as diversas formas nas quais o pan-africanismo se manifestou e como
por serem, em sua maioria, escritores do “Terceiro Mundo” – tidos à margem da produção de
saber ocidental, hoje são alocados nos estudos pós-coloniais (SANCHES, 2012, p. 36-41).
Assim, o pan-africanismo é esse vasto campo de interpretações transnacionais e anticoloniais,
identitárias e libertárias, experiências talvez idealizadas, mas profundamente relevantes para as
análises históricas de nosso tempo.

E isso é verificável apenas pela leitura atenta aos autores, pela análise de seus temas e conceitos,
cada qual inserido em seu respectivo momento histórico, diante de contextos sociais, políticos e
culturais distintos e peculiares. Basta observar a produção académica e as pesquisas
desenvolvidas na área de Ciência Política e História do Pensamento Político.

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3. Referências Bibliográficas

BIGNOTTO, N. As fronteiras da ética: Maquiavel. In: NOVAES, A. (Org.). Ética. São Paulo:
Cia. das Letras, 1992. p. 113-125

BERLIN, I. A originalidade de Machiavelli. In: MACHIAVELLI, N. O Príncipe. Trad., prefácio


e notas, Lívio Xavier. Rio de Janeiro: Ediouro, 2000. p. 5-82.

FLEISCHACKER, Samuel. Uma breve história da justiça distributiva. São Paulo: Martins
Fontes, 2006.

GUANABARA, Ricardo. “Há vícios que são virtudes”: Maquiavel, teórico do realismo
político”. In: FERREIRA, Lier Pires. Curso de Ciência Política. 2. ed.- Rio de Janeiro: Elsevier,
2011. Capítulo 2, p. 25-47.

HOBBES, Thomas. Leviatã. São Paulo: Abril Cultural, 1978

KALY, Alain Pascal. O inesquecível século XX: as lutas dos negro-africanos pela sua
humanidade. In: DA SILVA, Josué Pereira (Org.). Por uma sociologia do seculo XX. São Paulo:
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