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Índice
Introdução…………………………………………………………………………………………3
O sistema eleitoral............................................................................................................................4
Campanha eleitoral..........................................................................................................................6
Observação eleitoral.........................................................................................................................7
Partidos políticos..............................................................................................................................8
Considerações finais......................................................................................................................18
Referências bibliográficas..............................................................................................................19
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Introdução
Jamais os partidos políticos foram tão necessários como actualmente. Quem, senão os partidos, seria
capaz de traduzir a formação de vontade (e opinião) social em leis e actuação política? No entanto,
para que as legendas possam fazer jus a esta missão, precisam primeiro reaprender a travar debates
sobre questões fundamentais. O trabalho examina em detalhes a essência e a função dos partidos,
lembrando que o Parlamento constitui o espaço onde ocorre a articulação entre a função de formação
da vontade (e opinião) dos partidos e o processo legislativo. Daí sua importância como espaço
decisivo para a reflexão crítica sobre o estado da representação.
Os sistemas políticos contemporâneos dão-lhe um outro sentido: ela deve facilitar a relação de poder
entre governantes e governados, permitir a comunicação entre os autores da decisão política e os
destinatários dessa decisão, ou seja, esta legitimação num regime democrático não é absoluta,
devendo os dirigentes prestar contas perante o eleitorado sobre o trabalho desenvolvido.
Metodologia
Portanto, a metodologia usada durante a elaboração do trabalho foi pesquisa bibliográfica. Conforme
Gil (2006), a pesquisa bibliográfica toma forma a partir da consulta à materiais já elaborados, sendo
esses, principalmente, artigos científicos e livros. Aponta, também, que quase todos os tipos de
estudos possuem essa natureza, contudo, há pesquisas que se voltam exclusivamente ao
desenvolvimento a partir de fontes bibliográficas.
Introdução
Fundamentação teórica
Conclusão
Referências bibliográficas
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O sistema eleitoral
Para além de alterar a Constituição no que se refere ao sistema eleitoral (a passagem do sistema
maioritário para o sistema proporcional na eleição do parlamento), o Acordo Geral de Paz incluía
ainda uma disposição segundo a qual deveria existir uma barreira entre 5% e 20% dos votos
expressos à escala nacional para que uma força política pudesse obter representação na Assembleia da
República. (AWEPA, 2000)
A cláusula de barreira fora exigência da RENAMO, a qual procurava garantir sua posição como força
política em Moçambique. Ao final, estabeleceu-se a barreira em 5%, situação vigente até as recentes
alterações da legislação eleitoral, que a aboliram completamente.
De acordo com a legislação eleitoral vigente, o Presidente da República é eleito por sufrágio universal
e directo num círculo eleitoral único ao nível nacional, em eleição de cunho maioritário. Aos
candidatos à Presidência da República não é requerida a filiação a partido político (Lei no. 7/2007,
art. 132).
Os deputados da Assembleia da República são eleitos num sistema de representação proporcional
assente em círculos eleitorais correspondentes à actual divisão territorial do país em províncias (aos
10 círculos eleitorais formados pelas províncias se soma a cidade de Maputo, resultando em círculos
eleitorais), sendo a cada círculo eleitoral atribuído um número de assentos parlamentares proporcional
ao número de eleitores recenseados. Os eleitores votam em uma lista fechada proposta e ordenada
pelos partidos políticos. Nas eleições legislativas nacionais, portanto, não são permitidas candidaturas
independentes de filiação partidária. (AWEPA, 2000)
Na relação entre os partidos políticos, sobretudo entre os dois maiores, tem havido situações de
intolerância e, por vezes, de violência no desenvolvimento de actividades políticas, com especial
gravidade em períodos eleitorais. É comum que nestes períodos se verifiquem casos de violência
esporádicos. Dentre os problemas que têm sido verificado, destacam-se a sabotagem dos encontros de
promoção eleitoral do adversário, impedindo-o de fazer campanha em determinados locais, e o
vandalismo com materiais de propaganda. (BRAGANÇA, 1986)
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Embora seja difícil de avaliar suas reais consequências, a intimidação dos adversários políticos pode
ter tido um papel na crescente abstenção que se tem registado. Com efeito, muitos cidadãos apontam
a violência durante a campanha como sendo um dos factores da cada vez maior abstenção que tem
caracterizado os processos eleitorais.
A tensão política característica dos processos eleitorais já deu lugar a dois episódios particularmente
graves de violência política, ambos resultando num grande número de mortes. O primeiro caso
aconteceu em Montepuez, em Outubro de 2000, na sequência de manifestações promovidas por
simpatizantes da oposição que, um ano depois, protestavam contra os resultados eleitorais das
eleições de 1999. (BRAGANÇA, 1986)
Num primeiro momento, as escaramuças entre os manifestantes e a polícia resultaram em sete mortes
no seio das forças policiais. Nos dias seguintes a estes incidentes, a polícia organizou rusgas nas
zonas periféricas da vila, onde viviam comunidades maioritariamente simpatizantes da RENAMO, e
prendeu um grande número de cidadãos, tendo-os encarcerado num local sem as mínimas condições
de arejamento. (BRAGANÇA, 1986)
Contudo, também fora do período eleitoral tem-se verificado certa animosidade e intimidação
política, as quais têm prejudicado o desenvolvimento das actividades dos partidos de oposição. Por
exemplo, em Novembro de 2006, o jornal Zambeze noticiou que membros da RENAMO e de outros
partidos da oposição estariam sendo impedidos pelo administrador distrital de exercer suas
actividades políticas no distrito de Chemba, província de Sofala. Muitos, em face das represálias,
teriam buscado refúgio no Malawi.
Devido ao clima de desconfiança entre os actores políticos que ainda prevalece no contexto da
democracia moçambicana, a legislação eleitoral aprovada em 2007 estabeleceu que o recenseamento
eleitoral será actualizado em todos os anos de realização de eleições. Desde a sua primeira edição, o
recenseamento tem sido sempre um processo polémico, e a actualização tem sido feita apenas nas
vésperas das eleições. (BRAGANÇA, 1986)
Em 1999, teve lugar um recenseamento eleitoral ‘de raiz’, no qual foram inscritos 7.099.105 eleitores.
Em 2003, antes das eleições autárquicas, realizou-se a primeira actualização do recenseamento
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eleitoral, tendo sido registados 1.298.155 novos eleitores. Em 2004, para as eleições gerais, teve lugar
uma segunda operação de actualização, a qual resultou num novo total de 9.095.215 eleitores
registados (descontados os eleitores no estrangeiro).
Para as eleições províncias (antes previstas para 2007, mas adiadas para até 2009), realizou-se um
recenseamento ‘de raiz’ entre Setembro de 2007 e Março de 2008. No processo, foram registados
9.126.725 eleitores (de um total de potenciais eleitores estimado em 10.2 milhões), ou seja, um
acréscimo de 28% em relação aos dados de 1999 (2.027.620 eleitores), e um acréscimo de 0,3% em
relação aos números de 2004
Campanha eleitoral
Segundo Bourdieu (1987), a campanha eleitoral é “toda a actividade que se exerce dentro de
determinado período fixado na Lei e que tem como objectivo a promoção de candidaturas bem como
a divulgação de textos, imagens ou sons que exprimam o conteúdo dessa actividade”.
Para a eleição dos órgãos autárquicos, esse período tem início 15 dias antes da data das eleições e
termina 2 dias antes da votação. Para a eleição das assembleias provinciais e de governadores de
província, do Presidente da República e dos deputados da Assembleia da República, a campanha
eleitoral tem inicio 45 dias antes da data das eleições e termina 48 horas antes do dia da votação.
De acordo Bragança (1986), os candidatos, partidos políticos ou coligações, bem como os eleitores
proponentes, gozam do direito a tratamento igual por parte das entidades públicas e privadas para
realizarem, livremente, a sua campanha eleitoral.
A ideia subjacente é a de que a liberdade política que se exerce habitualmente deve ser
particularmente ampliada nesse período, com o cuidado de, ao mesmo tempo, se estabelecer uma
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plena igualdade de tratamento de oportunidades para diversas candidaturas. As limitações são
reduzidas, sendo facultado às candidaturas o acesso aos meios indispensáveis como salas de aulas, de
espectáculos, instalações públicas, direitos de antena, etc, como se verá mais adiante, para, em
igualdade de circunstâncias, poderem desenvolver as suas actividades de campanha eleitoral.
A lei eleitoral proíbe, expressamente, aos partidos políticos e candidatos, o uso de bens do Estado,
autarquias locais, institutos autónomos, empresas estatais e públicas, e sociedades de capitais
exclusiva ou maioritariamente públicos.
Essa proibição não inclui os lugares e edifícios públicos que estão acessíveis a todos os partidos e
candidaturas, como vimos anteriormente. Mas, por exemplo, as viaturas e equipamentos pertencentes
aos governos central, local e autárquico, não podem, em circunstância alguma, serem usados por
partidos políticos durante a campanha. (BRAGANÇA, 1986)
Observação eleitoral
204 Embora as missões de observação internacionais, com destaque para as da União Europeia (130
observadores), do Carter Centre (60 observadores), da Commonwealth e do EISA (34 observadores),
tivessem maior visibilidade, nomeadamente devido aos meios e recursos mobilizados, mas também
devido ao peso diplomático que representam, nos últimos processos eleitorais (2003 e 2004) assistiu-
se a um grande crescimento da observação nacional.
Dentre os vários grupos de observadores nacionais, assumiu especial relevo o Observatório Eleitoral
(OE), que, para além da tradicional observação concentrada no momento do voto e nas primeiras
contagens feita pela maioria dos grupos de observadores, desenvolveu actividades de monitoria e
mediação de conflitos desde o período pré-eleitoral e de observação do processo de votação e
apuramento. Para obter uma base de avaliação mais fidedigna dos resultados oficiais, o OE realizou
também uma contagem paralela dos resultados eleitorais. (BRAGANÇA, 1986)
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Aceitação dos resultados eleitorais
Quando tal se deu, nas eleições autárquicas de 2003, na qual o partido perdeu o comando de cinco
municípios, e nas recentes eleições autárquicas de 2008, quando novamente perdeu em a liderança de
um município, o partido e seus candidatos souberam respeitar o resultado eleitoral. Na oposição,
alguns dos partidos menores têm também adoptado uma postura de aceitação dos resultados. Outros,
no entanto, têm constantemente contestado o veredicto das urnas, com destaque para a RENAMO.
(BRAGANÇA, 1986)
Nas eleições recentes, a RENAMO submeteu várias reclamações junto à CNE, denunciando diversas
irregularidades, desde actos de intimidação até a prisão arbitrária de delegados de lista, passando pela
substituição de urnas. Algumas destas reclamações foram aceites e resolvidas, mas muitas delas não
foram reconhecidas pela CNE e, posteriormente, muitos dos recursos junto ao Conselho
Constitucional também acabariam por ser rejeitados, em regra por falta de cumprimento dos
procedimentos estabelecidos em lei (intempestividade, falha no atendimento a requisitos
preparatórios). (BRAGANÇA, 1986)
As repetidas recusas ao reconhecimento dos resultados oficiais pela RENAMO já se tornaram praxe.
Em muitos casos, principalmente naqueles relacionados a questões pontuais (prisão ilegal de
delegados e candidatos, por exemplo), mas também em relação a fraudes em maior escala (como no
caso das eleições de 2004), suas reclamações foram ou aceites pelos órgãos competentes ou
comprovadas por estudos posteriores.
Apesar disto, é facto que, em muitos casos, o partido tem adoptado uma postura pouco condigna com
as regras de um regime democrático. Ao final do mais recente processo eleitoral (eleições autárquicas
de 2008), o líder do partido, Afonso Dhlakama, alegando fraude eleitoral, manifestou publicamente
sua vontade de incitar as populações das diversas autarquias do país à desobediência civil. Também,
prometeu a constituição de governos paralelos em vários municípios do país, promessa que, até o
início de 2009, não havia sido implementada. (BRAGANÇA, 1986)
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Partidos políticos
Ao fim de três eleições gerais, está claro que o sistema político moçambicano se caracteriza por uma
bipolarização em torno dos dois ex-beligerantes, apesar de ser cada vez maior o domínio da cena
política por parte da FRELIMO.
Depois de cerca de quinze anos de democracia multipartidária, de três eleições gerais (1994, 1999 e
2004) e três eleições autárquicas (1998, 2003 e 2008), a vida política do país tem sido dominada por
dois partidos, precisamente aqueles que se confrontaram militarmente durante o período de guerra
civil, ou seja, a FRELIMO e a RENAMO. No entanto, a cena política moçambicana é também
povoada por muitos pequenos partidos. (BOURDIEU,1987)
Em 1994, apenas dez partidos estavam oficialmente registados, número que, em Setembro de 1999,
imediatamente antes das eleições, já alcançava 26, sendo actualmente de cerca de 50 partidos. É de
notar, no entanto, que apenas 14 partidos e coligações apresentaram listas de candidatos às eleições
legislativas de 1994, 12 em 1999 e 20 em 2004. Ainda mais, em 2004, excluindo a FRELIMO e a
RENAMO- União Eleitoral, apenas outros oito apresentaram candidaturas na totalidade dos onze
círculos eleitorais do território nacional. (BOURDIEU,1987)
Para além da evidente ausência de base social consistente, é de referir que disposições do sistema
eleitoral, como a barreira de 5% de votos para a obtenção de representação parlamentar (já eliminada)
e o método d’Hondt para o cálculo de atribuição dos mandatos, criaram algumas dificuldades de
acesso dos pequenos partidos à representação na Assembleia da República, acabando por reforçar a
sua fraqueza e reduzir a possibilidade da sua consolidação.
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No actual contexto económico do país, é bastante difícil para os pequenos partidos obterem fundos, e,
não tendo representação parlamentar, eles ficam excluídos do acesso ao financiamento público. Nas
primeiras eleições gerais de 1994, a FRELIMO e a RENAMO arrecadaram, em conjunto, cerca de
82% dos votos válidos, e apenas uma pequena coligação, a União Democrática (UD), conseguiu
ultrapassar a barreira dos 5%, o que se atribui a um provável engano e confusão de parcela do
eleitorado. (BOURDIEU,1987)
A FRELIMO ficou com 129 deputados, a RENAMO com 112 e a UD com 9 deputados. Nas eleições
gerais de 1999, a FRELIMO e a RENAMO-União Eleitoral dividiram entre si a totalidade dos
assentos no parlamento, demonstrando que o sistema político moçambicano era basicamente
bipartidário.
De modo geral, os partidos políticos são associações que representam diferentes convicções políticas
e organizam um plano de governo de acordo com as ideias que defendem. Podemos apontar as
características básicas de acção que definem um partido como:
O carácter de formação de grupo, já que se trata da união de pessoas com ideias em comum
sobre pautas sociais;
A organização dessas ideias em um plano de conquista de cargos governamentais;
A administração de um município, estado ou país baseada nas propostas de campanha aliada
às correntes de pensamento político que atendem às demandas da população.
A função democrática específica dos partidos só pode ser compreendida quando estamos cientes da
sua função legislativa definida pela Constituição. Ser «partido» significa participar do processo de
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formação da vontade (e opinião) na sociedade e reivindicar a possibilidade de exercer influência
directa no resultado do processo legislativo parlamentar por meio dos representantes eleitos.
(AWEPA, 2000)
Essa característica única dos partidos políticos não está em contradição com o livre exercício do
mandato consagrado na Constituição. A boa representação está estreitamente ligada ao controle dos
eleitores, mas, a partir de certo ponto, também tem a ver com a confiança na competência decisória
objectiva dos representantes. (AWEPA, 2000)
É precisamente dessa característica específica da função legislativa geral que resulta a obrigação
especial dos partidos de não se enxergarem apenas como representantes de interesses, mas também
como protagonistas de diferentes concepções do interesse comum ou bem comum. Além de conhecer
os diferentes interesses existentes na sociedade, os partidos têm a tarefa de defender propostas
generalizáveis.
Só se forem permeáveis a interesses distintos, eles serão capazes de desenvolver respostas legislativas
que tentam atender todos os envolvidos. Simultaneamente, os partidos devem sempre dar conta do
dever de verificar e corrigir a sua interpretação de bem comum condicionada pela sua base
socioeconómica. Esse processo de questionamento contínuo poderá ser promovido pela concorrência
com outros partidos, cujas propostas estão mais próximas dos interesses de outros grupos
socioeconómicos. (AWEPA, 2000)
Isso posto, os partidos assumem quatro funções na nossa democracia: primeiro, uma função
norteadora, ao defenderem conceitos específicos do interesse comum descritos em concepções e
propostas de actuação concretas; segundo, uma função discursiva, ao introduzirem essas posições em
discursos sociais e institucionalizados; terceiro, uma função decisória, ao participarem do processo de
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decisão democrático-legislativo. Essas três funções estão estreitamente associadas a uma quarta
função, qual seja, a função representativa. (AWEPA, 2000)
Uma análise do problema das funções ou até da perda de funções dos partidos políticos só será
possível se já tivermos desenvolvido uma posição sobre qual poderia ser a descrição funcional ideal
dos partidos políticos. Muitos artigos científicos são meros exercícios rotineiros que fornecem uma
apresentação descritiva dos problemas sem construir a ponte em direcção aos critérios normativos das
suas análises. (AWEPA, 2000)
É evidente a perda de força de representação dos partidos políticos nos últimos 25 anos. A
composição social dos partidos não reflecte mais a estrutura social da população, dado que
determinadas camadas sociais, categorias salariais e profissionais estão manifestamente sobre
representadas. Sintomas dessa perda são a queda contínua na participação nas eleições, diminuição do
número de filiados, menor participação de alguns grupos nos processos de formação da vontade (e
opinião), além de perda de confiança e reputação de partidos e políticos junto ao público em geral.
Da mesma forma, a ligação ou identificação dos partidos com determinados «meios sociomorais» está
desaparecendo (M. Rainer Lepsius); também está em declínio a importância de sindicatos, igrejas ou
associações, ou seja, as instituições tradicionais que transmitiam normas e davam orientação nas
eleições.
Além disso, vigora uma forte reticência, para não dizer aversão, a controvérsias políticas. Cada vez
menos, a política é percebida como disputa em torno de conceitos diferentes, mas é desde o início
vista como moderação. O «centro» já está sempre formado.
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O compromisso não se dá mais no fim da discussão política, mas marca seu início, por medo de ser
punido pelo partido por defender uma posição minoritária, ou por medo que qualquer forma de
conteúdo anómalo ou mais audacioso possa abrir um flanco ao ataque mediático ou afugentar os
eleitores. Por fim, a fragmentação do espaço da mídia, impulsionada pela digitalização, faz com que
não haja um confronto visível entre as posições que, simplesmente, ficam isoladas em universos
digitais paralelos. (BRAGANÇA, 1986)
Com respeito a sua função decisória, os partidos políticos enfrentam um problema de fundo, pois,
apesar da maior necessidade de controle nas sociedades mais complexas, a capacidade de controle
está diminuindo na esfera nacional. Essa perda de capacidade de controle deve-se à mercantilização
de campos de actuação que anteriormente eram políticos, processo que foi acelerado pela
globalização. Trata-se de uma dinâmica que, supostamente, diminuiu a necessidade de legitimação da
actuação do Estado, mas na realidade foi à custa da capacidade de controle.
Com a criação de comissões e conselhos de especialistas, houve várias tentativas de enfrentar a crise
de controle do Estado no final dos anos 90. Dessa forma, esperava-se conseguir uma solução
«racional» das questões políticas a serem decididas. Esses conselhos não substituíram os parlamentos,
mas, como se atribuía uma maior racionalidade às suas decisões, estas acabaram exercendo uma
influência considerável. (BRAGANÇA, 1986)
A exclusão social desemboca, não raro, na auto-exclusão das pessoas afectadas no processo político.
Até a presente data, os partidos políticos não deram muita atenção a esse déficit democrático. Como
estão concorrendo com outros partidos, consideram o eleitorado activo mais importante. Todavia,
essa atitude está em contradição com a missão dos partidos políticos, de serem, na medida do
possível, órgãos representativos de um processo de formação da vontade (e opinião). Apenas usar um
«discurso» diferente não será suficiente para voltar a fazer jus a essa pretensão. A exclusão social não
está associada a problemas de comunicação. (BRAGANÇA, 1986)
Isto significa que os partidos não levam o seu papel constitucional suficientemente a sério. A
concepção de espaços de discursos sustentáveis é um trabalho político-partidário árduo e exige
consciência e competências fortes. Isto vale para o discurso para dentro do partido, que forma a
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opinião do partido, como também para a intervenção pública, com posições comuns para fora do
partido. (BRAGANÇA, 1986)
Dez pontos são decisivos para a competência discursiva e estratégica dos partidos.
A capacidade de intervenção discursiva dos partidos políticos para fora requer, adicionalmente, uma
atenção «sismográfica» para detectar controvérsias sociais, mediáticas e intelectuais que transcendem
o cenário partidário. Ante os déficits crescentes de representatividade, orientação e discurso dos
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Parlamentos e partidos políticos, a voz forte e alta dos «novos movimentos populares» começou a
marcar presença. (BRAGANÇA, 1986)
Sua meta é a participação directa dos cidadãos e a influência democrática directa. Em alguns casos
houve forte oposição entre participação directa e democracia representativa. Ignorou-se, porém, que o
desejo de participação directa até agrava tendencialmente os déficits de representatividade da
democracia, por seus protagonistas pertencerem a determinados grupos sociais. (BRAGANÇA, 1986)
A legislação eleitoral prevê duas formas de financiamento das campanhas das formações políticas
pelo Estado. A primeira, designada financiamento público directo, implica a transferência de fundos
do Orçamento do Estado para os partidos, coligações ou grupos de cidadãos proponentes e a segunda,
designada financiamento público indirecto, ocorre através do pagamento de “tempos de antena” grátis
para formações políticas nos órgãos públicos de comunicação social para efeitos de propaganda e a
isenção de encargos fiscais na importação de materiais para campanha. (CIP, 2019)
O segundo argumento parece mais consentâneo com o espírito prevalecente na legislação eleitoral
moçambicana que veda, por um lado, a contribuição directa de empresas públicas aos partidos
políticos e, por outro lado, abre espaço para que o valor disponibilizado por estas empresas possa
reforçar o Orçamento do Estado previsto para a campanha e seja, depois, realocado às formações
políticas concorrentes de acordo com critérios definidos pela CNE. (CISTAC et. al., 2012)
A experiência dos processos eleitorais anteriores mostra que o debate sobre alguns problemas
recorrentes no âmbito do financiamento público às campanhas das formações políticas não está
esgotado, com destaque para a alocação pouco equilibrada dos recursos, definição tardia dos critérios
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para a alocação de fundos às formações políticas, atraso no desembolso da verba e uma prestação de
contas lacunosa, tanto pelas formações políticas como pela CNE - órgão responsável pela apreciação
da regularidade das contas. (CISTAC et. al., 2012)
A transferência dos fundos para o financiamento da campanha eleitoral das formações políticas
concorrentes às eleições gerais obedece a critérios legais definidos a cada eleição. De acordo com a
legislação eleitoral cabe à Comissão Nacional de Eleições definir os critérios de alocação dos fundos.
Ao longo das últimas quatro eleições, os critérios de alocação definidos pela CNE basearam-se, regra
geral, na representatividade parlamentar e na proporção das candidaturas apresentadas de acordo com
os lugares a serem preenchidos. (CISTAC et. al., 2012)
A verba destinada ao financiamento da campanha das formações políticas tem evoluído a cada ano
eleitoral. Por exemplo, o valor alocado pelo Estado em 2004 (45 milhões de meticais) representou um
aumento de 650% em relação ao financiamento da campanha de 1999, que foi de 6,23 milhões de
meticais. (CISTAC et. al., 2012)
Nas eleições de 2009, a verba (50 milhões de meticais) teve um aumento de 11% em relação ao
montante alocado pelo Estado em 2004. E, por último, em 2014 a verba (70 milhões de meticais)
aumentou em 28% em relação ao montante desembolsado no processo eleitoral anterior. Com base
nesta tendência, espera-se que o valor para o financiamento das campanhas para as eleições gerais de
2019 beneficie de um aumento. (CISTAC et. al., 2012)
Em termos práticos, a cada ano eleitoral mais impostos dos cidadãos vão sendo canalizados para o
financiamento das campanhas das formações políticas sem que isso seja explicado aos contribuintes.
Por exemplo, em 2004 cada eleitor contribuiu com 4,9 meticais para a campanha das formações
políticas. Em 2009 e 2014 a contribuição foi de 5 e 7 meticais, respectivamente. Entretanto, as
variáveis que justificam este incremento não chegam a ser publicamente conhecidas. (CIP, 2019)
A falta de transparência nesta matéria é recorrente e envolve a omissão de detalhes importantes sobre
o orçamento que tem sido alocado à CNE para as eleições, conforme ilustra uma pesquisa do CIP
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sobre o orçamento para as eleições de 2019. A título de exemplo, aquando das eleições gerais e das
assembleias provinciais de 2014 aquele órgão não justificou cabalmente os gastos efectuados com o
montante de 2,4 mil milhões de meticais alocados pelo Estado para as eleições, no seu todo, dos quais
uma parte irrisória (3%) foi usada para o financiamento das campanhas das formações políticas.
Regra geral, a maioria das formações políticas que concorreram às eleições gerais nos anos em
análise prestaram contas à CNE, conforme a lei. No entanto, a maioria dos relatórios de contas
apresentados por este órgão eleitoral não menciona detalhadamente se os valores alocados aos
partidos foram gastos em despesas consideradas elegíveis pelos critérios deliberados pela CNE ou se
foram gastos com despesas não previstas. Mais ainda, os dados sobre os gastos efectuados pelas
formações políticas com o fundo do Estado não constam dos documentos orçamentais. (CIP, 2019)
A não publicação de informações desta natureza cria um terreno favorável à corrupção, uma vez que
os gastos dos partidos com o dinheiro do Estado não são submetidos ao escrutínio público.
Segundo Muendane as formações políticas menos consolidadas vêem o período de eleições como
uma fonte de enriquecimento. A maioria não dispõe de um eleitorado, escritório, publicações
regulares nem mesmo de um website.
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Considerações finais
Moçambique introduziu o multipartidarismo em 1990 e desde então passou por eleições nacionais a
cada cinco anos, além de eleições municipais desde 1998. Ao lado desse retrato de estabilidade e
institucionalização democrática há inúmeros elementos que afectam a qualidade da democracia e que
levam à permanência e consolidação da Frelimo no poder. Ainda que alguns desses elementos
pareçam meramente ligados ao desenho do Estado a partir da reconstrução pós-1992, é impossível
compreender essas dinâmicas sem considerar o legado histórico que levou à formação da Frelimo, seu
papel na luta de libertação e as próprias dinâmicas da guerra dos 16 anos.
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Referências bibliográficas
BOURDIEU, P. (1987). “Les usages du «peuple»”. P. Bourdieu, Choses Dites. Paris. Les Éditions de
Minuit, pp. 178-184. ‘
BOURDIEU, P. (1987). “La Délégation et le fétichisme politique”. P. Bourdieu, Choses Dites. Paris.
Les Éditions de Minuit, pp. 185-202.
CIP (2019) Um olhar sobre a Despesa Pública: Orçamento para Eleições de 2019 é excessivo.
Disponível em : https://cipmoz.org/2019/03/31/orcamento-para-eleicoes-de-2019-e-excessivo/.
Acedido em: 23 Jul. 2019.
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