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Esther Mukambula

TEXTO ARGUMENTATIVO : ELEIÇÕES.

(licenciatura em Ensino de Inglês 4º ano)

Universidade Rovuma

Lichinga

2023
Esther Mukambula

TEXTO ARGUMENTATIVO : ELEIÇÕES.

(licenciatura em Ensino de Inglês 4º ano)

Trabalho Científico, da cadeira de


língua Portuguesa III, a ser
apresentado no Departamento de
Educação para fins avaliativos.
Orientada pela:

drª. Lucinda M. Manhiça

Universidade Rovuma

Lichinga

2023
Eleições
As eleições representam o cerne do processo de participação política democrática.
Embora Moçambique não tenha presenciado os casos de extrema violência e fraude que
têm afectado certos países africanos, seus processos eleitorais têm, contudo, sido
marcados por acusações de fraude, alto nível de desconfiança entre os partidos políticos
e alguns incidentes graves, o que sinaliza para a fragilidade das instituições
democráticas no país. Dentre os incidentes mais sérios, em 2000, dezenas de
simpatizantes da RENAMO morreram asfixiados em uma cela da polícia em
Montepuez, província de Cabo Delgado, na sequência de demonstrações de protesto
contra os resultados das eleições de 1999 e da violência que se seguiu. Em 2005, após
manifestações a alegar a existência de fraude na eleição intercalar para a autarquia de
Mocímboa da Praia, também em Cabo Delgado, o clima político deteriorou-se ao ponto
de provocar violência entre diferentes comunidades, tendo o conflito resultado na morte
de oito pessoas, dezenas de feridos, e a destruição de várias casas. Até à data, nas três
eleições gerais, presidenciais e legislativas (1994, 1999, 2004), organizadas por
Moçambique, em todas elas a RENAMO (1994) ou a RENAMO-UE (1999–2004),
como principal coligação eleitoral de oposição, consideraram ter havido fraude e
recusaram-se a aceitar os resultados.
O primeiro processo de eleições autárquicas (1998) foi boicotado por quase todos os
partidos da oposição (tendo registrado, ainda, uma taxa de abstenção de 85%); os
demais processos eleitorais locais (2003 e 2008) contaram com a participação da
oposição, a qual, contudo, contestou fortemente o processo eleitoral de 2008. De acordo
com a legislação eleitoral vigente, o Presidente da República é eleito por sufrágio
universal e directo num círculo eleitoral único ao nível nacional, em eleição de cunho
maioritário, ao passo que os deputados da Assembleia da República são eleitos num
sistema de representação proporcional assente em círculos eleitorais correspondentes à
atual divisão territorial do país Doc u m ento p a r a d i sc u ss ão 9 em províncias (aos
10 círculos eleitorais formados pelas províncias se soma a cidade de Maputo, resultando
em 11 círculos eleitorais), sendo a cada círculo eleitoral atribuído um número de
assentos parlamentares proporcional ao número de eleitores recenseados. Os eleitores
votam em uma lista fechada proposta e ordenada pelos partidos políticos. Até as
reformas introduzidas em 2006, uma “cláusula de barreira” na legislação eleitoral
proibia a entrada no parlamento de partidos que não tivessem obtido, no mínimo, 5% do
total de votos nacionais. Em termos de interação entre os parlamentares e o eleitorado, o
actual sistema eleitoral parece conduzir a resultados pouco satisfatórios, uma vez que
muitos cidadãos apontam o facto de não haver praticamente contacto algum com os
deputados.
Na actual situação da democracia moçambicana, parece-nos que os legisladores
deveriam considerar seriamente a possibilidade de transição para um sistema
proporcional de lista aberta, na qual os eleitores podem escolher dentre os candidatos
seleccionados pelo partido, ao invés de votar em uma lista completa e fechada
anteriormente definida pelo partido. Tal reforma poderia promover uma nova dinámica
no ambiente político do país e merece ser discutida pelos partidos políticos e cidadãos
moçambicanos. Eventuais reformas deverão ser formuladas com cuidado, e suas
chances de sucesso são maiores se sua formulação for participativa e responder aos
anseios da população. Até sua recente alteração (2006), a composição da Comissão
Nacional de Eleições (CNE) foi amplamente criticada, assim como tem sido a gestão
dos processos eleitorais pelo Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE).
Em particular, a CNE era composta exclusivamente por representantes dos partidos
políticos, sem a presença de representantes das organizações da sociedade civil ou
sequer de especialistas em administração eleitoral. Durante o último processo de revisão
da legislação eleitoral em 2006, a Assembleia da República tomou em consideração
algumas dessas críticas e, entre outras modificações, estabeleceu novos critérios para a
composição da Comissão Nacional de Eleições. Para os próximos processos eleitorais,
portanto, a CNE passará a contar com treze membros, sendo cinco indicados pelos
partidos ou coligações com assento na Assembleia da República de acordo com a sua
representatividade parlamentar, e os oito restantes a serem escolhidos pelos cinco
representantes parlamentares entre os nomes propostos por organizações da sociedade
civil.
O presidente da CNE será, então, eleito pelos integrantes da Comissão dentre as
personalidades propostas pela sociedade civil. A partidarização dos órgãos eleitorais
que existiu por alguns anos correspondia ao clima de desconfiança entre as duas grandes
forças políticas do país, e foi um dos mecanismos utilizados para lidar com o problema:
a ideia era de que, uma vez parte destas instituições, os partidos políticos não mais
teriam razão para desconfiar da lisura de suas actividades.. O novo modelo de
constituição da CNE não elimina por completo a representação partidária no interior da
Comissão, mas pode contribuir para atenuá-la consideravelmente. Ao final, a gestão
eficaz dos processos eleitorais dependerá da capacidade deste método selectivo de
garantir a escolha de cidadãos competentes e comprometidos com a transparência e
independência do processo eleitoral. A Constituição de 2004 remete à lei ordinária a
definição do funcionamento, organização, composição e competências da CNE. Em
vista das dificuldades que se têm verificado no processo de formulação e aprovação da
legislação eleitoral, especificamente nos aspectos referentes à CNE, seria razoável que
as forças políticas e a sociedade civil discutissem a possibilidade de que tais questões
fossem decididas e, então, constitucionalizadas aquando da próxima revisão
constitucional. Ademais, há evidência de que muitas das queixas dos cidadãos em
relação à votação, e também ao processo de recenseamento eleitoral, dizem respeito a
constrangimentos relacionados ao seu dia-a-diaAssim, para além da educação cívica, os
órgãos de gestão eleitoral devem buscar ao máximo adequar o calendário e o processo
eleitoral às vidas e às necessidades dos cidadãos, facilitando o acto do voto.

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