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Participação política no contexto moçambicano

O objectivo da pesquisa sobre este tema é analisar o processo político e compreender o papel e as
limitações das eleições no processo de construção da representação política dos cidadãos em
Moçambique.

Depois de uma década de entusiasmo com as perspectivas criadas pela “transição democrática” dos
anos 1990, existe hoje um debate sobre os desafios da “consolidação democrática”. A representação e a
participação política estão entre as áreas mais problemáticas e a questão do papel das eleições é
central. Não obstante o interesse e a literatura crescentes sobre os novos espaços e formas de
participação cívica e política para além do campo político tradicional (nomeadamente no contexto e
funcionamento de alguns movimentos e organizações cívicas, associações e outras ONGs), as eleições
continuam a ser uma das instituições-chave da democracia representativa e continuam a ser o mais
importante instrumento de legitimação do poder político e do governo. O problema, como salientou
Said Adejumobi há alguns anos é que as eleições na sua actual forma aparecem, em muitos países
africanos, como uma “sombra desvanescente de democracia”, pondo em causa o frágil projecto
democrático.

A investigação sobre eleições e governação nas democracias africanas emergentes é ainda embrionária.
Depois de vários processos eleitorais existe agora material empírico suficiente para justificar um esforço
de pesquisa mais sistemático sobre a organização, natureza e efeitos dessas eleições. A questão
fundamental é: estarão as eleições a desempenhar realmente o seu papel suposto de instrumentos
capazes de garantir a participação efectiva dos cidadãos na formação de governos legítimos?

A pesquisa nesta temática estende-se à análise do discurso político e inclui um projecto específico sobre
o fenómeno da abstenção que tem afectado os processos eleitorais moçambicanos, especialmente
depois de 1999.

No sentido de facilitar e promover a pesquisa sobre esta temática, uma parte dos materiais e fontes
primarias são colocados à disposição dos interessados.

Participação política, os meios de comunicação social e a sociedade civil


A participação dos cidadãos no processo político, a sua capacidade de influenciar a formulação das
políticas públicas, a abertura do governo às demandas da população e a transparência com que o
governo trata dos assuntos públicos são indicadores da qualidade da democracia. Para além da forma
mais elementar de participação política que é o voto livre e periódico para a escolha dos representantes,
um regime democrático deve oferecer aos cidadãos outras formas de participação e envolvimento no
processo político. Tal participação depende das liberdades e direitos formalmente estabelecidas por
uma Constituição, mas, também, da capacidade real de organização, mobilização e advocacia das
sociedade civil e política. Ao nível regional, a Carta Africana dos Direitos dos Homens e dos Povos, a
recém-aprovada Carta sobre Democracia, Eleições e Governação e outros padrões endossados pelo
Mecanismo Africano de Revisão de Pares (a cuja revisão Moçambique foi recentemente submetido)
avançam princípios e padrões que devem ser seguidos pelos estados africanos no tocante à participação
política.
A protecção e promoção da liberdade de expressão e de imprensa é importante elemento nos processos
de participação política. Em Moçambique, foi a Constituição de 1990 que estabeleceu, de maneira
inédita no país, a liberdade de expressão e de imprensa como integrantes do rol de direitos
fundamentais dos moçambicanos, situação que foi confirmada e ampliada na Constituição de 2004, uma
vez que nesta foi incluído também o direito à informação no rol de direitos fundamentais.

Existem alguns problemas, contudo. A entidade de disciplina da actividade dos meios de comunicação,
constitucionalmente estabelecida e regulada pela Lei de Imprensa, o Conselho Superior da Comunicação
Social (CSCS), ao qual compete decidir acerca de limites ao exerício da liberdade de expressão e de
imprensa pelos meios de comunicacção social, tem sido bastante criticado no exercício de suas funções,
uma vez que, na prática, ele tem actuado quase que unicamente como uma instituição responsável por
garantir o direito de resposta a algumas personalidades eminentes no país, as quais se dirigem à
instituição para protestar contra reportagens a ela relacionadas, não exercendo, entretanto, uma
fiscalização constante da actuação dos meios de comunicação social.

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