Você está na página 1de 138

Estudo

Partidos políticos
brasileiros
RAPS Edição e Coordenação
Diretor Executivo de Produção de
Marcos Vinícius de Conteúdo
Campos Renato Nunes Dias
Diretor Adjunto
Alexandre Schneider Colaboração na
produção do conteúdo
Conselho Diretor deste volume
Presidente Humberto Dantas
Guilherme Leal Mônica Sodré
Vice-presidente
Maria Alice Setúbal Projeto gráfico
Conselho e diagramação
Álvaro de Souza 2+2 design
Claudio Gastal Clara Laurentiis
Gilberto Mifano Valéria Marchesoni
Fernando Rei
José Eduardo Martins
Julio Moura
Leandro Machado
Oded Grajew
Estudo

Partidos políticos
brasileiros


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Partidos políticos brasileiros / RAPS;


organização Renato Nunes Dias;
coordenação editorial Renato Nunes Dias;
organização e redação Humberto Dantas, Mônica Sodré. --
São Paulo: RAPS, 2017. -- (Coleção estudo)

Bibliografia
ISBN 978-85-68974-02-5

1. Democracia
2. Partidos políticos
3. Partidos políticos - Brasil
4. Sistemas partidários - Brasil
I. Dias, Renato Nunes. II. Dantas, Humberto.
III. Sodré, Mônica. IV. Série.

17-10460 CDD-324.281

Índices para catálogo sistemático:


1. Brasil : Partidos políticos : Ciências políticas
324.281
Índice

7 Introdução

9 1 O sistema partidário brasileiro


9 1.1 Introdução
10 1.2 O sistema partidário brasileiro
11 1.3 História recente dos partidos políticos no Brasil
17 1.4 Legislação partidária no Brasil

25 2 Partidos e sua organização


27 2.1 O perfil das organizações: órgãos internos e distribuição de poder
41 2.2 Inclusividade e representatividade das estruturas decisórias

49 3 Financiamento partidário

61 4 Recrutramento político e seleção de candidatos

75 5 Organismos de formação

79 6 Partidos nas arenas eleitorais e governamentais


80 6.1 Eleições federais e estaduais
92 6.2 Coligações eleitorais no nível estadual
97 6.3 Presença local dos partidos

107 7 Coalizões

113 8 Ideologia

123 9 Conclusão - é possível classificar os partidos?

127 Anexos

136 Estatutos e referências


Licença Creative Commons
Este material, que integra a série “Documentos para Debate”
possui uma licença Creative Commons de Atribuição Não
Comercial e Sem Derivações (CC BY-NC-ND 4.0), com efeitos
internacionais. Assim, você pode compartilhar e redistribuir este
material, garantindo o crédito apropriado à RAPS.

Não é permitido o uso comercial desse material, no todo ou


em parte. Não são permitidas distribuições deste material com
transformações ou mudanças.

6
Introdução

Há anos o quadro partidário brasileiro vive um dilema dos mais


preocupantes de nossa história republicana. Ao mesmo tempo
em que detêm o monopólio das candidaturas eleitorais no país,
as legendas gozam de baixíssima credibilidade junto à opinião
pública.

Dados do Índice de Confiança Social mostram que os partidos


políticos contavam com 17% de confiança em 2015, o mais baixo
resultado desde o início da série histórica em 2009. Destaca-se
que em todos os anos analisados as legendas nunca passaram
dos 33% de aprovação e tampouco deixaram de estar em último
lugar em relação a um conjunto de 18 instituições testadas.

O Datafolha, por sua vez, chegou a índices mais preocupantes:


apenas 7% dos brasileiros confiariam nos partidos. Entre
14 instituições avaliadas, as legendas ocupavam o último lugar.
Para além do distanciamento entre os partidos e a sociedade, o
fenômeno da não identificação partidária atinge até mesmo os
filiados. Segundo dados oficiais do Tribunal Superior Eleitoral
o Brasil tinha quase 11% de seu eleitorado de 145 milhões de
pessoas formalmente inscrito em um partido político em fevereiro
de 2016. Isso representa um contingente de 15,8 milhões de
indivíduos. As pesquisas de opinião pública, no entanto, quando
perguntam às pessoas se estas são filiadas a partidos políticos
raramente obtêm resultados que ultrapassam 5% de respostas
positivas.

Nesse cenário negativo, não faltam propostas que buscam o


fortalecimento dos partidos. Especialistas apontam, por exemplo,
o fim das coligações em eleições proporcionais, a criação de
cláusula de desempenho em eleições proporcionais, sobretudo
no plano federal, e a limitação ao acesso a recursos públicos do
fundo partidário como formas de reduzir o total de partidos – em
2016, o número chega a 35 – e fortalecer a identificação entre
legendas e população.

 7
Apesar das boas intenções, os fatos têm caminhado na
contramão do fortalecimento dos partidos. Alguns exemplos
são: a flexibilização das regras de fidelidade partidária; a criação
de janela constitucional de troca de legenda em 2016 e o prazo
de filiação para a disputa de eleições – que caiu de um ano para
seis meses.

Apesar do desgaste das organizações partidárias no Brasil, a


RAPS não pode deixar de reconhecer a importância dos partidos.
Primeiro, porque até que surja qualquer alternativa às agremia-
ções, é por meio delas que as candidaturas se realizam e é por
meio dos candidatos eleitos vinculados a partidos que se realiza a
política institucional, no Brasil e no resto do mundo democrático.

Em segundo lugar, a RAPS acredita no valor dos partidos


enquanto organizações que dão forma à disputa eleitoral, aos
interesses e posicionamentos e contribuem para a democrati-
zação do processo político-eleitoral. Por mais que novas reali-
dades possam surgir a RAPS ainda crê nos partidos políticos
como instrumentos essenciais ao debate político e à construção
de alternativas, dado seu potencial de agregar pessoas e ideias,
produzir conhecimento, fomentar debates e oferecer propostas
efetivas para a garantia de direitos e para a boa prática de
políticas públicas.

Justamente porque acreditamos no potencial mal aproveitado


dos partidos, lançamos este Estudo, com o intuito de mapear
o cenário atual, identificar possibilidades de mudança e indicar
caminhos de futuro para os partidos no País.

Boa leitura!

8
1 O sistema partidário brasileiro
1.1 Introdução

Em linhas gerais, sistemas partidários são os conjuntos de


regras, limites e condições para o funcionamento, existência e
sobrevivência dos partidos políticos. Esse tipo de organização
é considerado central para o funcionamento de democracias
representativas, nas quais os sistemas são comumente classifi-
cados em bipartidários e multipartidários. Embora existam países
em que os agentes podem se candidatar de forma independente,
prescindindo dos partidos (como nos EUA), as legendas são
marcas da democracia ao redor do globo.

A compreensão sobre o fenômeno partidário não se resume


apenas ao universo eleitoral, mas relaciona-se à formação de
governos, que depende de aspectos estruturais, culturais e
contextuais que devem ser considerados em toda análise sobre
atuação de legendas. Nesse sentido, ganha especial relevância a
legislação partidária, que estabelece os limites para a formação de
partidos, a forma como eles são financiados, os espaços de publi-
cidade, comunicação e as fronteiras da ação de cada agremiação
na política institucional de cada país.

No Brasil, a organização política institucional é essencialmente


multipartidária desde o final dos anos 70 século XX. Desde então,
uma série de modificações foram implantadas para que chegás-
semos ao modelo atual – que não pode ser considerado como
ofertante de liberdade absoluta para a criação de partidos polí-
ticos, uma vez que a legislação estabelece uma série de requisitos
necessários à consolidação partidária. Nesse sentido, é impor-
tante salientar que além dos 35 partidos existentes em 2016,
mais de 100 organizações possuíam processos em andamento
no Tribunal Superior Eleitoral para se consolidarem.

 9
1.2 O sistema partidário brasileiro

Em um clássico trabalho sobre o período de 1946 a 1964 no


Brasil, Maria do Carmo Campello de Souza (1990) identificou a
presença de um forte sentimento anti-partidário, historicamente
difundido na sociedade brasileira – sobretudo na elite –, que
lega aos partidos a responsabilidade pela descrença nas institui-
ções democráticas. Sob o aspecto do ethos da cultura política
nacional, haveria uma inviabilidade inata da sociedade brasileira
para o desenvolvimento pleno da democracia, o que sugere que a
ameaça à estabilidade deve sempre pairar sobre a ordem política.

Argumentos dessa natureza sobrepunham, em um primeiro


momento, questões históricas, estruturais e culturais, justificando
a fragilidade da qual sofreriam os partidos com a carência de
enraizamento na sociedade civil e com as próprias condições de
sua origem, no contexto de uma democracia sem longa experi-
ência competitiva. Hoje, as críticas às instituições políticas do País
dão fôlego à perene discussão em torno da reforma, avultada a
cada sinalização de crise aguda no sistema político.

Por pior que pareça o cenário partidário atual, definitivamente


marcado por uma crise sem precedentes, a despeito de mais de
meio século entre o presente e a realidade destacada acima, as
legendas têm buscado desempenhar com relativa estabilidade
as funcionalidades mínimas esperadas – disputa de eleições
competitivas e produção de governo. Ainda que as arenas em
que os partidos atuam possam ser compartilhadas com outras
organizações (movimentos sociais, grupos de pressão e demais
associações da sociedade civil), segue sendo das agremiações
reconhecidas pela legislação político-eleitoral a prerrogativa sobre
a representação política. Na verdade, segue sendo dos partidos
políticos o monopólio das candidaturas em eleições.

10
1.3 História recente dos partidos políticos
no Brasil

O multipartidarismo foi restabelecido no Brasil em 1979,


após mais de uma década do bipartidarismo imposto pelo
regime militar. De um lado estava a Arena (Aliança Renovadora
Nacional), fundada em 1965 para dar sustentação política – ou
um semblante “pseudodemocrático”- ao governo militar. O MDB
(Movimento Democrático Brasileiro), de outro lado, representava
a oposição consentida ao regime, abrigando os políticos que
sobreviveram a sua arbitrariedade. Aqui já é possível verificar a
dificuldade de “impor” aos partidos nacionais a pluralidade de
realidades locais. Se pensarmos em tudo o que MDB e Arena
representavam na cena política brasileira, devemos questionar:
como fazer, por exemplo, com que numa pequena cidade, onde
historicamente duas famílias afeitas à lógica coronelista brigavam
pelo poder local, essas duas legendas representassem a realidade
local, ao mesmo tempo em que protagonizavam o que existia de
contrário ou favorável ao regime autoritário nacional?

Ambas as siglas foram extintas com a abertura democrática e


com a restauração do pluripartidarismo, levada a cabo principal-
mente na década de 80, sendo que a maior parte dos políticos
da Arena fundou o PDS (Partido Democrático Social), enquanto
o PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) passou
a reunir a maior parte dos políticos do MDB, além de alguns dissi-
dentes do próprio PDS.

Essas duas siglas herdaram a estrutura organizativa já existente


e a ampla maioria dos parlamentares no Congresso à época. Foi,
portanto, a partir delas que se organizaram as demais legendas,
inclusive a partir da articulação de figuras que voltaram à cena
política com a redemocratização e a anistia – lembremos que
quase cinco mil direitos políticos foram cassados ou suspensos
durante a ditadura. O antigo PTB, por exemplo, que fora criado
sob a chancela do governo no Estado Novo para organizar o
operariado urbano, reestruturou-se com a redemocratização, sob
disputa entre Ivete Vargas (sobrinha do ex-presidente Getúlio
Vargas) e Leonel Brizola, ex-líder populista que retornou do exílio
no final da década de 1970. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
concedeu o registro ao grupo de Ivete e o trabalhismo ganhou
outra sigla com a fundação do PDT (Partido Democrático Traba-
lhista) de Brizola. Esse caso demonstra que, apesar da renovação

 11
contextual com o fim do regime militar, estruturas e indivíduos
continuaram presentes e atuantes na política partidária nacional.

Nessa linha, fruto de uma cisão no interior do PDS, surge o PFL


(Partido da Frente Liberal), em meio às articulações para a eleição
indireta para o primeiro presidente civil desde 1966. O partido
surgiu da dissidência organizada, notadamente, por políticos
nordestinos que se opuseram à candidatura à presidência de
Paulo Maluf (paulista identificado com a ala direita do PDS).
Em 15 de janeiro de 1985, o PFL apoiou o PMDB na eleição de
Tancredo Neves, e permaneceu na sustentação do governo de
José Sarney (ex-Arena e ex-PDS).

Surgiu também nesse período o PT (Partido dos Trabalhadores),


que aproximou em sua fundação setores dos movimentos
urbanos envolvidos na militância na década de 70, organizações
clandestinas de esquerda, católicos progressistas e o “novo
sindicalismo”, que teve como principal liderança Luiz Inácio Lula
da Silva. Diferentemente do PTB e do PDT, o PT iniciou sua cons-
trução a partir de bases muito precárias, com recursos oriundos
dos poucos parlamentares arregimentados em São Paulo, o
que significava organizar o partido nacionalmente por meio de
trabalho de base.

Por fim, uma sexta legenda não conseguiu firmar-se em virtude


de uma lógica de voto vinculado criada pelos militares para o
pleito de 1982. Era o PP, Partido Popular, que tinha em Tancredo
Neves um de seus principais expoentes. Nascido em 1980 o
partido se fundiu ao PMDB em 1981 sem disputar uma eleição
sequer.

Eram cinco as legendas que disputaram


em 1982 a primeira eleição direta para
governador desde a década de 1960, e
são elas que ainda hoje permanecem
entre os maiores partidos no Brasil

12
Assim, eram cinco as legendas que disputaram em 1982 a
primeira eleição direta para governador desde a década de
1960, e são elas que ainda hoje permanecem entre os maiores
partidos no Brasil. Em 1985, com uma emenda constitucional
que ampliou ainda mais a liberdade de organização dos partidos,
outras legendas surgiram. O PSB (Partido Socialista Brasileiro),
por exemplo, que tinha origem na Esquerda Democrática do
Estado Novo e havia sido dispersado durante o regime militar,
reestabeleceu-se com a adesão de Miguel Arraes, governador
de Pernambuco que se desligaria do PMDB. O político, assim,
assumia a liderança nacional junto a Brizola e Lula, enquanto
seu partido fincava raízes no Nordeste com a adesão de políticos
fortes na região.

À época da redemocratização, a inflação se apresentava como


principal problema do País. Um plano econômico bem-sucedido
ajudou o PMDB de Sarney a eleger 22 dos 23 governadores esta-
duais e 53% dos deputados do Congresso Nacional, que em 1987
se transformaria em Assembleia Nacional Constituinte. O partido
elegeu 260 deputados federais e 44 senadores.

Apesar de o PMDB controlar mais de metade da Assembleia,


seus membros discordavam em muitos assuntos, refletindo a
própria heterogeneidade ideológica original do partido – verificada
até hoje, diga-se. Essas divergências passavam por questões
essenciais como do tipo de regime político a ser adotado – presi-
dencialismo ou parlamentarismo – e da duração do mandato de
José Sarney – quatro ou cinco anos. Esses desentendimentos e
a proximidade da primeira eleição direta presidencial levaram ao
nascimento do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira),
que contou com a adesão de Fernando Henrique Cardoso, Mario
Covas e André Franco Montoro, lideranças relevantes do PMDB
paulista à época.

A essa altura, estavam fundados os partidos que até hoje perma-


necem entre as principais legendas do país. Novas siglas surgiram
e, em 1989, data da primeira eleição presidencial direta, foram
22 chapas de candidatos à presidência. Com a progressiva aber-

 13
tura do sistema e, entre extinções, fusões e criações, contamos
em 2016 com 35 partidos registrados no Tribunal Superior Elei-
toral (TSE), dos quais metade tem, no mínimo, vinte anos de
existência desde o deferimento de seu registro na corte eleitoral.
Entre as demais, oito siglas foram criadas desde 2010.

Contamos em 2016 com 35 partidos


registrados no Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), dos quais metade tem,
no mínimo, vinte anos de existência
desde o deferimento de seu registro
na corte eleitoral

Tabela 1 - Partidos Políticos registrados atualmente no TSE

Sigla Nome Deferimento No

PMDB Partido do Movimento Democrático 30.06.1981 15


Brasileiro

PTB Partido Trabalhista Brasileiro 03.11.1981 14

PDT Partido Democrático Trabalhista 10.11.1981 12

PT Partido dos Trabalhadores 11.02.1982 13

DEM Democratas 11.09.1986 25

PC do B Partido Comunista do Brasil 23.06.1988 65

PSB Partido Socialista Brasileiro 1°.07.1988 40

PSDB Partido da Social Democracia 24.08.1989 45


Brasileira

PTC Partido Trabalhista Cristão 22.02.1990 36

PSC Partido Social Cristão 29.03.1990 20

PMN Partido da Mobilização Nacional 25.10.1990 33

PRP Partido Republicano Progressista 29.10.1991 44

PPS Partido Popular Socialista 19.03.1992 23

14
PV Partido Verde 30.09.1993 43

PT do B Partido Trabalhista do Brasil 11.10.1994 70

PP Partido Progressista 16.11.1995 11

PSTU Partido Socialista dos 19.12.1995 16


Trabalhadores Unificado

PCB Partido Comunista Brasileiro 09.05.1996 21

PRTB Partido Renovador Trabalhista 18.02.1997 28


Brasileiro

PHS Partido Humanista da Solidariedade 20.03.1997 31

PSDC Partido Social Democrata Cristão 05.08.1997 27

PCO Partido da Causa Operária 30.09.1997 29

PTN Partido Trabalhista Nacional 02.10.1997 19

PSL Partido Social Liberal 02.06.1998 17

PRB Partido Republicano Brasileiro 25.08.2005 10

PSOL Partido Socialismo e Liberdade 15.09.2005 50

PR Partido da República 19.12.2006 22

PSD Partido Social Democrático 27.09.2011 55

PPL Partido Pátria Livre 04.10.2011 54

PEN Partido Ecológico Nacional 19.06.2012 51

PROS Partido Republicano da Ordem Social 24.09.2013 90

SD Solidariedade 24.09.2013 77

NOVO Partido Novo 15.09.2015 30

REDE Rede Sustentabilidade 22.09.2015 18

PMB Partido da Mulher Brasileira 29.09.2015 35

Dados do Tribunal Superior


Eleitoral

 15
No entanto, o número de 35 legendas, registrado no início de
2016, não está próximo de ser definitivo. Inúmeras foram as
transformações (fusões, extinções, incorporações, mudanças
de nome etc.) entre as legendas que disputaram eleições, de
1982 até o período atual, além de existirem mais de 100 grupos
buscado viabilizar seu registro no Tribunal Superior Eleitoral até
2016. Assim, ainda que seja possível reconhecer a existência
de um núcleo partidário perene no Brasil, é interessante notar
as tentativas de realinhamento dos partidos e a tendência à
formação de novos grupos.

16
1.4 Legislação partidária no Brasil

1 Lei nº 6.767, de 20 de O desmantelamento do bipartidarismo que marcou a ditadura


dezembro de 1979
<http://www.planalto.gov.
militar foi estabelecido pela Lei da Reforma Partidária de 19791,
br/ccivil_03/leis/1970-1979/ que modificou a Lei Orgânica dos Partidos Políticos (LOPP)2
L6767.htm>. vigente até então. A reforma promoveu importantes mudanças,
2 Lei nº 5.682, de 21 de
como a dissolução da Arena e do MDB, a revogação de restrições
julho de 1971 <http://www. organizativas e eleitorais que até então haviam fechado o sistema
planalto.gov.br/ccivil_03/ partidário. Em 1985, promulgou-se uma Emenda Constitucional3
leis/1970-1979/L5682.
htm>.
que estabelece efetivamente a livre criação de partidos políticos,
assim como permite que se reorganizem os partidos cujos regis-
3 Emenda Constitucional tros haviam sido indeferidos, cancelados ou cassados. Todavia,
nº 25, de 15 de maio de
1985 <http://www.planalto.
ainda que a vida partidária tenha sido consideravelmente flexibi-
gov.br/ccivil_03/constitui- lizada, as regras de organização e funcionamento dos partidos
cao/Emendas/Emc_ante- permanece sendo regulada pela lei, de modo que o formato geral
rior1988/emc25-85.htm>.
das agremiações se mantivesse semelhante àquele estabelecido
4 Além destes dois desde o período autoritário.
principais tipos de órgãos
(deliberativos e executi-
vos), destacam-se ainda
A LOPP determinou, em 1971, que a estrutura dos partidos,
os conselhos de ética e além do caráter nacional, deveria acompanhar o arranjo fede-
fiscal, responsáveis pela rativo, organizando-se nos três níveis (municipal, estadual e
fiscalização das finanças e
dos deveres dos filiados;
nacional) por meio de órgãos deliberativos (convenções) e órgãos
os órgãos de pesquisa e de direção (diretórios)4. Além desses órgãos, a LOPP previa
formação política, na forma também a existência de órgãos de cooperação, como os conse-
de fundações e institutos;
e os órgãos de cooperação,
lhos de ética, os conselhos fiscais e os departamentos setoriais,
como núcleos e secre- tratando de pautas ligadas a segmentos sociais específicos
tariados representando (jovens, mulheres, negros etc.).
segmentos sociais e pautas
setoriais (jovens, mulheres,
sindicatos, negros, LGBT, É nas convenções, instâncias máximas de deliberação em cada
etc.), cuja atividade pode esfera federativa, que são aprovadas as diretrizes do partido,
variar de partido a partido.
eleitos os delegados à convenção da esfera imediatamente supe-
rior, assim como definidos os membros do diretório que, por sua
vez, irão escolher os membros da comissão executiva naquele
nível. Também nas convenções são tomadas as decisões sobre
as candidaturas e as coligações, em geral com a participação
dos membros do diretório, delegados eleitos e membros do
partido em exercício de algum cargo eletivo. Nota-se nesse caso
o duplo desafio de uma liderança política: além da necessidade de
conquistar votos, é importante para um político que ele seja capaz
de compreender o funcionamento interno da legenda a que está
filiado. A política intrapartidária é significativamente relevante em
qualquer estratégia política.

 17
Além da necessidade de conquistar
votos, é importante para um político
que ele seja capaz de compreender
o funcionamento interno da legenda
a que está filiado. A política
intrapartidária é significativamente
relevante em qualquer estratégia
política
Um simples exemplo ilustra tal argumento: em geral os cidadãos
que pretendem se candidatar devem ter seis meses de filiação
partidária à mesma legenda – seguindo a regra que passa a
vigorar a partir de 2016, pois até as eleições de 2014 o prazo era
de um ano. As convenções que definem as candidaturas, por
sua vez, ocorrem entre junho e agosto do ano eleitoral, portanto
faltando menos de trêsmeses para o pleito. Se o filiado que
pretende ser candidato não tem boa articulação partidária a ponto
de não obter legenda para a disputa da eleição, ele terá que se
reposicionar no partido ou em outra agremiação para disputas
futuras. Em resumo: em semestre eleitoral, o político é “refém”
das decisões de seu partido até, pelo menos, as convenções.

Ao diretório cabem as funções diretivas e deliberativas no período


entre as convenções, de modo que a vida partidária se resume, de
certo modo, à disputa pelo controle destas instâncias (Guarnieri,
2011). Cabem também aos diretórios as competências adminis-
trativas e executivas cotidianas do partido, que ficariam a cargo
das comissões executivas escolhidas e compostas, em geral,
pelo presidente, vice-presidente, secretário, tesoureiro e líder da
bancada do partido na casa legislativa correspondente.

Essa organização é replicada nos outros níveis, em processos que


se dão da base para o topo, do nível municipal para o federal, de
modo que, segundo o estabelecido pela LOPP, o Tribunal Superior
Eleitoral somente autorizaria o registro de partidos cujo estatuto

18
e programa tivessem sido aprovados nas convenções munici-
pais, regionais e nacional. Sendo assim, a convenção nacional
aparece como órgão máximo de decisão, onde são definidas
as estratégias do partido, as políticas de aliança eleitoral e os
candidatos à Presidência da República, por exemplo. Além disso,
na Convenção Nacional são escolhidos os membros a compor
a Comissão Executiva Nacional, que tem o poder de convocar
as convenções, estipulando os prazos, as formas de votação e
definindo quem poderá participar do processo. Essa estruturação
é visualizada abaixo, onde as linhas pontilhadas indicam a possibi-
lidade de intervenção nos níveis inferiores.

Convenção nacional escolhe Diretório nacional escolhe Comissão executiva


nacional

elege delegados

Convenção regional escolhe Diretório regional escolhe Comissão executiva


regional

elege delegados

Convenção municipal escolhe Diretório municipal escolhe Comissão executiva


municipal

Fonte: GUARNIERI (2011)

 19
Se, de um lado, a organização formal prevista pela LOPP esta-
belecia um sistema representativo ascendente, outros aspectos
merecem atenção no que diz respeito à distribuição de poder no
interior da estrutura decisória dos partidos. Um deles diz respeito
aos critérios de composição dos órgãos executivos. Definia-se em
lei que os líderes dos partidos políticos nas Câmaras Municipais,
nas Assembleias Legislativas, na Câmara dos Deputados e no
Senado Federal integrariam, como membros natos, os diretó-
rios. Definia-se também que o número de delegados que cada
diretório municipal teria direito de enviar à convenção regional
seria proporcional aos votos de legenda obtidos no município, na
última eleição para a Câmara dos Deputados. Por ser tradicional-
mente baixo o total de votos na legenda, garantia-se assim que
a convenção fosse controlada pelos membros natos do diretório
estadual que, por sua vez, acabavam predominando também
na convenção nacional. Ademais, além dos mandatários terem
presença garantida nos diretórios e executivas, eles poderiam
acumular cargos entre as esferas do partido, podendo inclusive
integrar mais de um diretório partidário, desde que um deles
fosse o nacional.

Outro aspecto diz respeito ao poder de intervenção e veto das


lideranças nas instâncias inferiores na hierarquia partidária,
prevista pela LOPP sob as seguintes circunstâncias: manter a
integridade e assegurar a disciplina do partido; impedir alianças
ou acordos com outros partidos; preservar as normas estatutá-
rias, a ética ou a linha político-partidária fixada pelas convenções
ou diretórios e, normalizar as finanças do partido. Nestes casos,
poderiam ser dissolvidos os diretórios e instituídas comissões
provisórias em seu lugar, nomeadas pelos níveis mais altos do
partido. Inicialmente criadas com o objetivo de que os partidos
pudessem oferecer candidatos nas localidades onde ainda não
contavam com diretórios, as comissões provisórias acabaram
funcionando como um instrumento das lideranças para controlar
os processos internos e as decisões do partido no nível local.
Ou seja, se de um lado o modelo formal definido pela LOPP é
federativamente descentralizado, com a escolha dos dirigentes
se iniciando no nível local pelas bases do partido, de outro traz
mecanismos que garantem considerável centralização por parte
das lideranças mais altas do partido. A associação dessas duas

20
5 Lei nº 9.096, de 19 de lógicas oferta a cada partido um funcionamento particular, que
setembro de 1995 <http://
www.planalto.gov.br/
eleva o grau de complexidade organizacional e exige alta capaci-
ccivil_03/leis/l9096.htm>. dade de percepção política por parte de filiados que buscam se
firmar como lideranças intrapartidárias.

Entretanto, é com a nova Lei dos Partidos Políticos5, que passa


a vigorar a partir de 1995, que a natureza jurídica das legendas
passa a ser privada – conservada a exigência de que sua ação
tenha caráter nacional – e que as agremiações passam a ter
garantida a autonomia para definir em estatuto sua estrutura
interna, organização e funcionamento. Isso deu a cada partido a
possibilidade de chegar a desenhos singulares de organização,
apesar de semelhanças entre várias agremiações. Essa autonomia
reforça a ideia da complexidade do quadro partidário, quando o
objetivo é compreender como essas organizações funcionam.

A questão das comissões provisórias, por exemplo, continua viva:


elas são muitas vezes utilizadas como instrumento de controle
por lideranças estaduais e federais. Pesquisas recentes mostram
que há anos alguns partidos têm mais de 90% de seus orga-
nismos municipais formados sob esse modelo provisório. São os
casos, de acordo com Braga et al. (2012) de: PTB, PR, PSD, PSC,
PV, PRB, PSL, PRP, PT do B, PMN, PTN, PRTB, PTC, PSDC e PCB.
Nesse caso em especial, a justiça eleitoral, em dezembro de
2015, editou resolução em que estabelece que a lei era bastante
clara em relação à impossibilidade desses organismos provisórios
disputarem eleições. Assim, a partir de 2016, nos pleitos muni-
cipais, só poderiam lançar candidatos os partidos com diretório
municipal instituído formalmente em cada cidade.. Em pesquisa
feita pelo cientista político Humberto Dantas e divulgada pela
Agência Estado, a partir de dados do Tribunal Superior Eleitoral,
foi possível notar que pouco menos de um quarto das cidades
brasileira não possuía, em fevereiro de 2016, sequer dois partidos
com diretórios municipais. Ou seja, em ao menos 25% dos muni-
cípios não haveria disputa entre dois candidatos a prefeito, sem
contar a composição da Câmara de Vereadores, se as eleições
ocorressem naquele instante e sob os parâmetros do TSE.

 21
A medida foi revista e a institucionalização com maior grau de
formalização será cobrada a partir de 2018 dos órgãos estaduais
e de 2020 nas cidades. Na Tabela 2 é possível verificar o total de
cidades por estado com um ou nenhum diretório municipal, ates-
tando a heterogeneidade regional e o desafio de se organizarem
partidos com a formalidade exigida pela recente visão prolatada
pela corte eleitoral.

A medida da justiça, a despeito do tempo, foi comemorada por


alguns analistas que afirmam que o caráter menos formalizado
desses organismos municipais oferta aos dirigentes partidá-
rios em seus âmbitos superiores a possibilidade de venderem
ou negociarem a legenda nas cidades. Há alguns anos, uma
acusação dessa natureza foi lançada pelo Ministério Público
contra uma agremiação no Rio Grande do Sul, e mais recente-
mente, no interior de São Paulo, o jornal Diário da Região mostrou
imagem de um contrato de posse de um partido entregue a um
deputado federal. Tais aspectos reforçam a necessidade de uma
compreensão ampla sobre a realidade partidária e de uma leitura
acurada, por parte dos filiados ou interessados, dos documentos
das legendas. E eis aqui um problema adicional: por mais que
possa existir distância expressiva entre práticas cotidianas e
os registros documentais dos partidos, sobretudo no que diz
respeito à alocação municipal de debates nacionalizados, algumas
legendas sequer têm seus programas disponíveis nos portais que
mantêm na internet.

Por mais que possa existir distância


expressiva entre práticas cotidianas e
os registros documentais dos partidos,
algumas legendas sequer têm seus
programas disponíveis nos portais
que mantêm na internet

22
Tabela 2 – Total de cidades com um ou nenhum diretório municipal por Estado

Cidades com total de % de didades com total de

Estado Cidades 0 diretório 1 diretório 0 diretório 1 diretório Entre 0 e 1

Roraima 15 2 7 13,33 46,67 60,00

Pernambuco 185 29 53 15,68 28,65 44,32

Alagoas 102 11 34 10,78 33,33 44,12

Goiás 246 34 68 13,82 27,64 41,46

Bahia 417 35 131 8,39 31,41 39,81

Paraíba 223 25 57 11,21 25,56 36,77

Pará 144 5 44 3,47 30,56 34,03

Paraná 399 14 107 3,51 26,82 30,33

Tocantins 140 6 36 4,29 25,71 30,00

Rio Grande do Norte 167 16 31 9,58 18,56 28,14

Ceará 184 9 41 4,89 22,28 27,17

Mato Grosso 142 7 30 4,93 21,13 26,06

Minas Gerais 853 57 158 6,68 18,52 25,21

Piauí 224 10 43 4,46 19,20 23,66

Rondônia 52 4 7 7,69 13,46 21,15

Rio de Janeiro 92 5 13 5,43 14,13 19,57

São Paulo 645 17 99 2,64 15,35 17,98

Maranhão 217 4 29 1,84 13,36 15,21

Santa Catarina 295 7 35 2,37 11,86 14,24

 23
Espírito Santo 78 1 4 1,28 5,13 6,41

Mato Grosso do Sul 79 0 3 0,00 3,80 3,80

Rio Grande do Sul 497 1 11 0,20 2,21 2,41

Acre 22 0 0 0,00 0,00 0,00

Amapá 16 0 0 0,00 0,00 0,00

Amazonas 62 0 0 0,00 0,00 0,00

Sergipe 75 0 0 0,00 0,00 0,00

Brasil 5571 299 1041 5,57 18,69 24,05

Fonte: Dados oficiais do


Tribunal Superior Eleitoral,
tabulados em fevereiro de
2016

24
2 Partidos e sua organização

Diante de um cenário amplo, parece relevante trazer alguns pres-


supostos da literatura clássica que tratam dos partidos e auxiliam
em uma compreensão qualificada deste objeto. Em primeiro
lugar, os partidos são organizações complexas e isso significa
que eles não se resumem a um produto de demandas sociais
pré-existentes, tampouco são expressão das divisões sociais no
âmbito da política. Os próprios partidos são responsáveis por
criar clivagens políticas na sociedade, que vão se formando como
consequência cumulativa de sua atividade. As legendas são
responsáveis também por desempenhar papel ativo na formação
de identidades coletivas e na mobilização do eleitorado.

Ademais, partidos não devem ser definidos em termos de obje-


tivos estabelecidos a priori, sejam eles de natureza ideológica ou
restrita à vitória eleitoral. De um lado, a representação ideológica,
a denominação e a sigla utilizada pelas instituições parecem insu-
ficientes para descrevê-las. Nesse sentido, é relevante destacar
que interior é impossível que haja uniformidade entre partidos, de
onde resultam conflitos que são próprios da dinâmica de qualquer
organização.

De outro lado, a definição de que partidos têm como objetivo


único a conquista de cargos é insuficiente, pela simples exis-
tência de organizações que assumem estratégias previsivelmente
destinadas à penalização do seu resultado eleitoral. Ou seja, na
maior parte dos casos, é impreciso descrever os partidos apenas
pela sua orientação ideológica, e demasiado simplista resumi-los
a meras máquinas eleitorais. Há de se descrever os partidos sob
uma multiplicidade de aspectos.

Sob essa perspectiva, partidos existem, antes de mais nada,


para coordenar a ação coletiva, agregando indivíduos que se
organizam para dar diferentes respostas aos dilemas de escolha
social e fazer frente tanto à sociedade como ao Estado. Assim,
os partidos serão tratados aqui, incialmente, do ponto de vista de
sua organização interna, e logo depois do ponto de vista de sua
atuação no ambiente exterior (arenas eleitoral e de governo), na
intenção de construirmos um perfil destas organizações que seja
o mais abrangente possível.

 25
Partidos existem para coordenar a ação
coletiva, agregando indivíduos que se
organizam para dar diferentes respostas
aos dilemas de escolha social e fazer
frente tanto à sociedade como ao
Estado
Conforme será demonstrado ao longo das próximas seções, ainda
que as siglas totalizem mais de 30, não é igual o espaço que elas
ocupam, sob uma série de critérios que se possa ter em conside-
ração – sejam aqueles relativos à densidade organizativa, sejam
os relativos ao desempenho eleitoral e à consequente ocupação
de cargos. Assim, para efeitos de análise, serão consideradas,
em geral, as maiores siglas brasileiras, tendo em vista os últimos
20 anos, que são aquelas que se faziam presentes já no início
da consolidação do período democrático atual: PMDB, PDS/
PPR/PPB/PP, PFL/DEM, PT, PSDB, PDT, PTB e PSB. Este recorte
não tem como objetivo ignorar a relevância de outras legendas,
mas tende a coincidir com o o que é feito pela maior parte dos
trabalhos acadêmicos, sobre os quais nos apoiaremos aqui para
construir uma biografia do quadro partidário brasileiro. Isso não
impedirá que outras siglas recebam atenção, eventualmente,
sobretudo as que são posteriores e já contam com considerável
espaço no ambiente partidário recente, como é o caso do atual
PSD (Partido Social Democrático). Todavia, tendo em conside-
ração os traços de maior continuidade ao longo da série histórica,
são os partidos que marcaram presença em todo o período que
terão maior destaque aqui.

26
2.1 O perfil das organizações: órgãos
internos e distribuição de poder

Desde 1995, como vimos, as agremiações brasileiras ganharam


autonomia para definir suas estruturas e seu funcionamento
interno. Naturalmente, quanto a alguns aspectos mais gerais,
as características organizativas dos partidos se mantêm. Por
exemplo, a organização dos partidos permanece acompanhando
o arranjo federativo e, com relação à estrutura e aos principais
órgãos internos, mantiveram-se as disposições da LOPP, mesmo
nos partidos de criação mais recente. Abaixo são elencados quais
são estes órgãos, acompanhando a descrição de Guarnieri (2009)
e a despeito da existência de algumas diferenças na realidade de
legendas específicas:

I. Órgãos de deliberação: são as Convenções, os Encontros


e os Congressos do partido, instâncias responsáveis por
definir as linhas de atuação política e eleitoral do partido,
decidir sobre o estatuto e o programa do partido, eleger
dirigentes, escolher os candidatos a concorrer nas eleições,
definir as alianças eleitorais, entre outras funções (conven-
ções/encontros/congressos);

II. Órgãos de direção e ação partidária: são os Diretórios e


as Comissões Provisórias, instâncias responsáveis pelo
dia-a-dia do partido nos interregnos entre as Convenções,
encarregadas da regulamentação do estatuto, das interven-
ções partidárias, do julgamento de recursos, da aplicação
de penalidades, entre outras funções. São responsáveis
também por convocar as instâncias de deliberação, além
de eleger as Comissões Executivas;

III. Órgãos de ação parlamentar: são as bancadas do partido


no Congresso Nacional (Senado Federal e Câmara dos
Deputados), nas Assembleias Legislativas e nas Câmaras
Municipais, responsáveis por uma tentativa de manter a
disciplina partidária, orientando o voto dos parlamentares
e decidindo sobre a participação no governo;

IV. Órgãos auxiliares: São os Conselhos Fiscais, as Comissões


de Ética e de Disciplina, as Ouvidorias, as Procuradorias
Jurídicas, entre outros;

 27
V. Órgãos de pesquisa, de formação política e de doutrinação:
são as fundações ou os institutos dos partidos;

VI. Órgãos de cooperação: são os núcleos e secretariados


representando segmentos sociais e pautas setoriais (jovens,
mulheres, sindicatos, negros, LGBT etc.).

É nas convenções que se elege o diretório municipal, quando


em parte das vezes são lançadas as chapas que apresentam
uma lista de delegados. Em geral, se houver apenas uma chapa,
esta é eleita se obtiver 20% dos votos. Se houver mais de uma
chapa, vence aquela que obtiver mais de 80% dos votos ou,
então, os cargos do diretório são distribuídos proporcionalmente
entre as chapas. Estas chapas devem conter os membros do
diretório e também os delegados à convenção superior. Este
formato, previsto já pela LOPP, é mantido, de maneira geral,
até os dias de hoje, mas os partidos têm certa autonomia para
definições dessa natureza, de modo que é comum perceber
que em algumas legendas as disputas internas são substituídas
por acordos encabeçados por lideranças que, por vezes, são
chamadas de caciques.

Assim, a despeito de uma possível semelhança com uma orga-


nização formal geral, as agremiações vão assumido contornos
próprios em suas estruturas decisórias e seu perfil quanto ao
grau de concentração de poder em seu interior. Por um lado,
isso resulta da adaptação gradual à liberdade concedida pelo
marco legal de 1995. Por outro, as transformações nas regras
internas aparecem como resposta das organizações às pres-
sões do ambiente externo, sobretudo da arena eleitoral, além de
revelar elementos da própria disputa intrapartidária, conforme
será demonstrado adiante. Nesse caso, importante notar que
não é incomum que disputas partidárias internas sejam levadas
à justiça. Em muitos casos a lei de 1995 é utilizada como argu-
mentação do Judiciário para ofertar a compreensão de que existe
autonomia interna para organização. Apesar disso, processos
correm afirmando desrespeito às regras internas.

28
Outro ponto bastante comum está associado à ideia de que o
estatuto dos partidos, em geral, permite, de diferentes formas, a
realização de apelações aos organismos superiores das legendas.
Assim, em alguns casos, uma vez contrariado e compreendendo
haver afastamento em relação a regras internas, um grupo filiado
num dado município encontra espaço para apelações na Execu-
tiva Estadual ou até mesmo Nacional. Reforça-se nesse caso
que os caminhos dependem de cada legenda: algumas teme
processos verticais, enquanto outras, mais horizontais, permitem
apelações por parte dos filiados nas bases locais.

Um aspecto correntemente observado nas análises sobre a orga-


nização dos partidos diz respeito aos tipos de órgãos sobre os
quais eles se estabelecem no nível local. Guarnieri (2009) explica
que, quando um partido surge, a legislação prevê que no prazo
de um ano se consiga o número mínimo de filiados que permita a
realização de convenções, e para que através delas sejam cons-
tituídos os diretórios municipais, de caráter permanente. Neste
período, é permitida a nomeação de comissões provisórias para
que o partido possa, por exemplo, disputar eleições no nível
local. Estes órgãos são nomeados pelos níveis altos da direção
partidária, diferentemente dos diretórios (que são órgãos mais
complexos, conformam-se com um número mais elevado de
membros e pressupõem espaços de deliberação mais amplos
para composição). Espera-se, assim, que este tipo de instância
seja mais recorrente no momento de formação, enquanto os
partidos não estejam ainda suficientemente organizados.

De outro lado, conforme já mencionado, as comissões provisórias


podem também ser utilizadas como recurso estratégico dos diri-
gentes para controlar as decisões nos níveis inferiores da hierar-
quia partidária, pois lhes é atribuída a prerrogativa de dissolver um
diretório e em seu lugar nomear uma comissão, sob o argumento
de imposição da disciplina partidária – o que nem sempre é o
real fato que levou à tal intervenção. Considerando que a maioria
dos partidos brasileiros conta já com tempo considerável de
existência, a incidência de comissões seria antes um importante
indicador do quão sistemática é a prática da cúpula partidária de
intervir nas seções regionais ou locais para controlar as decisões
do partido desde a cúpula. A Tabela 3, com base em dados de

 29
2011, ilustra como a imensa maioria dos partidos se apresenta
precariamente em organismos provisórios nas cidades e, comple-
mentarmente à Tabela 2, atesta os desafios para uma instituciona-
lização mais formal das legendas, como prega a lei e como deseja
a Justiça Eleitoral a partir de 2018 no caso da disputa de eleições.

Interessante notar que exemplos não faltam de dissoluções de


comissões provisórias nas cidades. Algumas delas fazem parte
de estratégias infinitamente mais complexas do que a solução
de conflitos locais ou mesmo a ilícita negociação dos partidos
com grupos interessados na legenda. A despeito de Dantas e
Praça (2012) terem registrado em um artigo científico, em revista
acadêmica da Fundação Liberdade e Cidadania, pertencente ao
Democratas (DEM), a existência de agentes que se apresentam
como “corretores de partidos”, por vezes os acordos para
dissolver uma formação local passa por interesses nacionais. Em
2015, o desgaste de um determinado partido resultou na utili-
zação da legenda presidida por um ministro para receber caciques
e grupos vinculados à agremiação desgastada visando à disputa
das eleições de 2016 em diversas cidades. São movimentos
delicados e difíceis de serem compreendidos de maneira formal,
mas que merecem atenção e atestam a complexidade do universo
partidário.

Tabela 3 - Organização geral dos partidos políticos no Brasil (2011)

Partido Filiados Órgãos Diretórios Comissões % diretórios % municí-


locais Provisórias pios

PT 1.549.180 5.325 4221 1.104 79,3 95,7

PMDB 2.355.472 5.262 3454 1.808 65,6 94,5

PSDB 1.354.479 4.930 2395 2.535 48,6 88,6

PP 1.416.116 4.791 1015 3.776 21,2 86,1

PTB 1.180.954 4.561 27 4.534 0,6 81,9

DEM 1.095.099 4.479 1081 3.398 24,1 80,5

PDT 1.208.095 4.447 890 3.557 20,0 80,0

30
PR 763.919 4.395 38 4.357 0,9 79,0

PSB 577.036 4.160 473 3.687 11,4 74,7

PSC 3.646 3.563 65 3.498 1,8 64,0

PPS 46.723 3.420 496 2.924 14,5 61,4

PV 335.836 3.376 48 3.328 1,4 60,7

PRB 287.179 2.975 6 2.969 0,2 53,4

PSL 198.838 2.449 234 2.215 9,6 44,0

PCdoB 337.185 2.415 802 1.613 33,2 43,4

PHS 141.467 2.055 350 1.705 17,0 36,9

PRP 214.354 2.047 73 1.974 3,6 36,8

PTdoB 159.303 1.982 197 1.785 9,9 35,6

PMN 21.619 1.930 49 1.881 2,5 34,7

PTN 125.945 1.876 21 1.855 1,1 33,7

PRTB 113.662 1.836 11 1.825 0,6 33,0

PTC 172.841 1.761 35 1.726 2,0 31,6

PSDC 16.559 1.535 92 1.443 6,0 27,6

PSOL 66.059 491 109 382 22,2 8,8

PCB 15.945 177 9 168 5,1 3,2

PSTU 13.295 63 21 42 33,3 1,1

PCO 2.749 46 16 30 34,8 0,8

Fonte: Braga et al
(2012) e dados do TSE.

 31
Reforça-se a análise apontando que os dados acima mostram
tanto a abrangência dos partidos no território, a densidade da
base de filiados, assim como a qualidade das estruturas locais
sobre as quais se estabelecem. Braga et al (2012) observam os
dados de filiação da perspectiva da difusão territorial dos partidos.
No início do período democrático atual, naturalmente, apenas
os herdeiros mais diretos do regime precedente – PMDB e PDS
(hoje PP), no caso – apresentavam graus mais consideráveis de
cobertura territorial (relação entre os municípios com algum orga-
nismo partidário vigente – o que pressupõe um número mínimo
de filiados – e o total de municípios). O marco de expansão dos
primeiros partidos teria sido ao longo da década de 1990, quando
é levada a cabo a tendência de se difundirem pelo país e também
de aumentarem progressivamente a densidade de sua filiação.

Buscando atualizar os dados, o PMDB é o partido com o maior


número de filiados, totalizando em fevereiro de 2016 cerca de
2,37 milhões de membros, o que corresponde a 15% do total
de filiados no Brasil. Na sequência vêm o PT (1,59 milhão), o
PP (1,42), o PSDB (1,41), o PDT (1,22), o PTB (1,18) e o DEM
(1,08). Juntos, estes partidos se aproximam de dois terços do
total de filiados a partidos políticos no Brasil. O tamanho da base
do PMDB se deve, em grande medida, ao capital herdado dos
tempos do MDB e ao sucesso dos anos 80. O mesmo argumento
de tradição se pode atribuir ao PP, remetendo à sua trajetória de
Arena, PDS, PPR e PPB. PT e PSDB governaram ou governam
o Brasil, o que faz com que nos municípios o total de diretórios
aumente significativamente no período de chegada ao poder –
Dantas (2012). Para o autor:

“Esse movimento de aumentar prefeituras por parte da legenda


que comanda o país já havia sido verificado no caso do PSDB.
Em 1992, os tucanos fizeram menos de 300 prefeitos pelo Brasil.
Em 1996, sob a Presidência com FHC, saltaram para mais de 900
cidades, superando mil no pleito de 2000. O PT partiu de menos
de 200 prefeitos em 2000 para mais de 400 em 2004 sob Lula,
mais de 500 em 2008 e agora (2012) mais de 600” (Dantas, 2012)

32
Por fim, a longevidade explica as marcas de PDT, PTB e DEM
(antigo PFL), presentes na arena eleitoral desde a década 80.

No que diz respeito ao aumento de filiados nos últimos anos,


entre 1994 a 2010, a densidade de filiação do PMDB varia de
13 a 19 filiados para cada mil eleitores, ou seja, a razão de cres-
cimento no período é de apenas 1,4. Considerado os partidos
cuja base supera 1 milhão de eleitores, esta é a menor razão
de crescimento. Em contraste, o PT triplicou sua densidade de
filiação, posto que esta variou de 4 para 12 filiados neste mesmo
período. Na sequência vem o PSDB, que variou de 3 para 11,
tendo crescido em razão semelhante ao PT. Os demais partidos
(PDT, PP, DEM e PTB), em média, tendem a dobrar a densidade
de sua filiação. Mais recentemente, destaca-se o fato de o PT ter
mantido, entre dezembro de 2011 e dezembro de 2015, a marca
pouco superior a 1,5 milhão de filiados. Nesse intervalo, o PSDB
se estabilizou em torno de 1,4 milhão e o PMDB em 2,3 milhões.

A partir dos dados de Braga et al (2012), os autores visualizam


padrões distintos de consolidação nacional entre os partidos.
Os maiores tendem a consolidar sua base territorial logo nos
primeiros anos, e a partir daí ampliar seu volume de filiados, em
uma trajetória que eles chamam de exponencial. Seria este o
caso dos partidos que herdam capital do regime precedente, ou
mesmo que se expandem rapidamente já no início da redemo-
cratização, como o PT e o PSDB, partidos impulsionados pela
presença nas disputas presidenciais e no Palácio do Planalto.
Os partidos menores, de outro lado, apresentam um comporta-
mento mais linear em sua evolução, pois expandem sua cobertura
territorial com um pouco mais de dificuldade, e em relação mais
direta com a expansão do número de filiados.

Esta dificuldade fica patente pelo fato de, no conjunto dos 28


partidos registrados em 2011, metade das siglas não chega a
cobrir 50% dos municípios brasileiros. Apenas PMDB e PT se
fazem presentes em mais de 90% dos municípios brasileiros,
estabelecidos no nível local, predominantemente, a partir de dire-
tórios – cabe destacar que a presença do PT ganha corpo a partir

 33
6 As tendências se defi- da chegada de Lula à Presidência da República (Dantas, 2013).
nem, segundo resolução
de 1987, como grupos de
O PSDB, que se aproxima deste patamar quanto à presença local,
petistas que se organizam apresenta uma relação equilibrada entre diretórios e comissões
para defender posições provisórias, enquanto os demais partidos contam com uma quan-
no interior do partido, a
partir de uma base política,
tidade baixa, quando não quase inexistente (como é o caso do
mas que são totalmente PTB e do PR), de órgãos mais institucionalizados.
submetidas à disciplina
militante, reconhecendo
expressamente o PT como
Guarnieri (2009) analisa estas configurações como consequ-
partido estratégico. ência direta do processo de desenvolvimento organizacional
dos partidos. No entanto, o autor procede a uma análise biblio-
gráfica, para explicar como estes perfis são determinados pela
história organizacional dos partidos, e a maneira que se constitui
equilíbrio interno de poder na organização. Partidos de maior
densidade organizativa seriam marcados por um grau maior de
divisões internas, posto que os dirigentes locais, eleitos pela
base, detêm mais força nas disputas partidárias. Seriam estes os
partidos poliárquicos, segundo a classificação do autor, como é o
caso do PT, PMDB e PSDB. Partidos como PDT, PP e DEM, seriam
considerados partidos oligárquicos, ou de organização mista,
pela prevalência de comissões provisórias, indicando o quanto
são menos organizados e mais sujeitos aos mandos das grandes
lideranças partidárias. O PTB, no outro extremo, é considerado
um partido não organizado, ou monocrático, constituindo-se,
basicamente, de comissões provisórias. O autor então se apoia
na descrição histórica de como cada organização lidou com
as disputas e acomodou as divisões internas ao longo de sua
formação, e como se constitui a coalizão dominante, moldando-
-se assim a fisionomia da organização.

O PT, por exemplo, se forma pela união de diversos segmentos,


e desde o início compõe-se de tendências, em torno das quais
se organizam os militantes6. Na primeira década de existência,
o partido se dividia entre uma série de tendências minoritárias e
uma tendência majoritária, representada pela Articulação, cujo
predomínio se explicaria, segundo Guarnieri, pela estratégia bem-
-sucedida de difundir o partido rapidamente a partir da rede de
sindicatos e das comunidades eclesiais de base. À medida que
o partido se expande e conquista poder nas grandes cidades,

34
buscando lançar cada vez mais candidatos, o PT torna-se ainda
mais fragmentado internamente, pois mais espaço é aberto à
participação de novas lideranças. Se de um lado o PT aparece
como um partido mais permeável à participação da base, de
outro, a intervenção dos órgãos superiores nos inferiores sempre
teria sido parte da prática petista – numa lógica verticalizada.
Nesse sentido, o PT é descrito como um modelo onde imperaria,
ao menos no princípio, o centralismo democrático, onde o debate
é estimulado e aceito, e as disputas entre grupos internos pelo
controle partidário são acirradas, porém as decisões são tomadas
pelas instâncias superiores, em caráter definitivo e aceitas por
todos, uma vez que legitimadas em espaços permeáveis às pres-
sões da base.

A tática eleitoral, segundo Guarnieri, é tema central em torno do


qual se dão as disputas partidárias. Embora as seções estaduais
e municipais tenham autonomia para decidir sobre as coliga-
ções, as cúpulas podem intervir de cima para baixo e, em grande
medida, o fazem, no caso dos partidos com alta proporção de
comissões provisórias. Quanto ao PT, notadamente, a galga para
vencer as eleições atravessou muitas divergências sobre o partido
dever ou não moderar o discurso ideológico e ampliar o leque
de alianças. Vence, quanto a essa questão, a tendência à maior
descentralização, e a maior autonomia decisória é concedida aos
municípios visando a maximização da competitividade eleitoral
do partido em todas as esferas – sob impulso, sobretudo, da
vitória de Lula em 2002. Ribeiro (2013) mostra evidências de que
a quantidade de vetos de coligação pela executiva nacional tem
diminuído progressivamente – salvo pelas cidades mais estraté-
gicas (as capitais, principalmente), que a cúpula do partido tende
a monitorar com mais cuidado – o que se reflete na razão mais
baixa entre o número de comissões provisórias e de diretórios.

Já no PMDB, o equilíbrio interno dependeria da acomodação da


disputa entre as elites regionais que dominam o partido, numa
lógica mais horizontal. Conforme foi introduzido, o PMDB nasce
em 1979, herdando a heterogeneidade do bloco que aglutinava
desde a ala de esquerda até as elites mais conservadoras da

 35
antiga oposição ao regime militar. Se o PT marcou sua história
pela existência de um líder central, de grande prestígio, no PMDB
haveria uma multiplicidade de líderes regionais, sempre em
primeiro plano - José Sarney, Orestes Quércia, Jarbas Vascon-
celos, Pedro Simon, Roberto Requião, para citar alguns ao longo
da história. Guarnieri reporta uma série de episódios importantes
que exemplificam tal caracterização, como a divisão do partido
em torno da candidatura de Ulysses Guimarães para a sucessão
de Tancredo Neves, em 1989; a divisão em 1998 sobre o lança-
mento ou não de uma candidatura à presidência (decisão que, por
falta de quórum da convenção extraordinária, acabou não sendo
tomada, e o partido não só deixou de lançar candidato como
não participou de nenhuma coligação presidencial); e a divisão
em 2002, novamente, sobre o partido lançar ou não candidatura
própria, que ao final resulta no apoio ao PSDB sob a figura de
José Serra com a vice Rita Camata. Nesse sentido, a constituição
de um órgão como o Conselho Nacional busca contornar estes
problemas de paralisia do partido, embora a descentralização de
cunho regional permaneça sendo marca da legenda. No PMDB,
como a decisão de intervir nos níveis inferiores da hierarquia não
cabe às executivas, mas sim aos diretórios, o processo seria mais
lento e difícil.

Já o PSDB sinalizaria processos no sentido inverso, com a cúpula


mais disposta a intervir no partido nos níveis abaixo. Ribeiro
aponta que o partido incorpora em seu regimento a possibilidade
de intervenção em casos de desempenho político-eleitoral inade-
quado, além da possibilidade de que a executiva nacional inter-
venha sumariamente nas instâncias partidárias em qualquer outro
nível. Em 2008, por exemplo, a executiva nacional confisca das
seções estaduais a prerrogativa de decidir sobre o lançamento
de candidaturas, apoios e coligações nos municípios com mais
de 50 mil eleitores. Em 2015, por decisão da executiva nacional
do partido, deixam de estar autorizados a realizar convenções em
nível municipal os órgãos que nas eleições parlamentares imedia-
tamente anteriores não obtiveram a marca de 6% dos votos
(metade da média do desempenho do partido em todo o Brasil),
ficando sujeitos a indicação de novas comissões provisórias na

36
cidade. Adicionalmente, definiu-se que nos estados em que não
se alcançou o número mínimo de municípios com diretórios
eleitos, definido em estatuto, também não ocorreriam as conven-
ções estaduais.

O PSDB, embora tenha guardado uma série de semelhanças


organizativas com seu partido de origem, o PMDB, se caracteriza
por um processo de concentração decisória mais acentuado.
Guarnieri observa que, diferentemente do PMDB, o PSDB sempre
tomou com mais facilidade suas decisões de cúpula, inclusive por
contar com menos estados disputando a coalizão dirigente - São
Paulo e Minas Gerais tendem a deter, em média, 30% do total
de delegados nas convenções nacionais do partido, enquanto o
PMDB precisaria de, no mínimo, quatro estados para chegar a
essa quantia. Como no momento de origem o partido contava
com poucas figuras de projeção nacional, a formação de uma
coalizão dominante não foi problemática para o partido. Natural-
mente, este cenário se altera após a passagem da legenda pela
presidência, e após outros nomes ganharem força internamente.
Guarnieri aponta como culminação das novas divisões as eleições
de 2006, quando Geraldo Alckmin ensaia lançar seu nome às
prévias do partido, à revelia do acordo que já se estabelecia em
torno da candidatura de José Serra, resultando que este último
acaba abrindo mão da disputa e se lançando candidato
ao governo paulista. Ou seja, ainda que carregue divisões, a
cúpula do partido tenderia a tomar as decisões por meio de
acordos, evitando que as divisões internas se transformem em
disputas institucionais. Em 2016 novas críticas a esse modelo
vieram de dentro da legenda, quando Alckmin disse defender
prévias ou primárias para evitar que os candidatos à presidência
pelo PSDB sejam decididos “em mesa de restaurante, com vinho
importado”.

No PDT, partido construído por um líder carismático (Leonel


Brizola), outorga-se um grande poder à executiva nacional – fica
a critério dela, por exemplo, a definição do número de delegados
à convenção nacional, de acordo com o número de filiados e o
desempenho eleitoral do partido - art. 20 do Estatuto do PDT de


1999. Guarnieri menciona ainda o ocorrido em 2002, quando uma
Comissão Eleitoral Nacional é criada com poderes de revogar
qualquer decisão regional que se avaliasse contrária às diretrizes
eleitorais daquele ano, dissolvendo-se comissões executivas
regionais para instalar comissões provisórias em seu lugar. Outro
episódio que demonstraria o peso da liderança de Brizola teria
sido a querela com o então governador do Rio de Janeiro Anthony
Garotinho, que culmina na saída deste último da legenda7.
Guarnieri analisa que a rigidez com a qual Brizola teria sempre
controlado o PDT e os desmandos da cúpula partidária explica-
riam a precariedade da organização, baseada, desde sua origem,
em comissões provisórias mais do que em diretórios.

Diferentemente do PDT, o PFL/DEM é um partido de origem


parlamentar, nascido de uma cisão do PDS em torno da candida-
tura à presidência em 1989. Assim como o PMDB e o PSDB,
o partido tende a dar mais peso à representação dos estados
onde é mais forte eleitoralmente (o número de delegados
enviados à convecção é o dobro da bancada do estado no
Congresso), garantindo a força de algumas unidades federativas.
Guarnieri argumenta que o partido apresentou sempre alta
coesão interna, o que se garantiria pela prática comum de se
dissolver diretórios, preponderando assim o número de comis-
sões provisórias. O ápice disso seria na refundação do partido,
quando, além do poder ofertado ao Conselho Político Nacional
descrito acima, o partido dissolveu todos os seus diretórios,
estabelecendo comissões provisórias no lugar. A dissolução de
seções locais é fácil, cabe à executiva deliberar a respeito das
intervenções e aplicá-las sumariamente, sem necessidade de
processo prévio que justifique.

A sigla “herdeira” da Arena, por sua vez, passou por uma série
de mudanças em seu nome. De PDS (Partido Democrático Social)
se transforma em PPR (Partido Progressista Reformador), pela
fusão com o PDC (Partido Democrata Cristão), em 1993. Em 1995
o partido passa por outra fusão, dessa vez com o PP (Partido
Progressista, por sua vez fruto da fusão de outros dois partidos,

38
7 Guarnieri narra que PST e PTR), transformando-se em PPB (Partido Progressista
a contenda teria se dado
em torno da candidatura
Brasileiro), que em 2003 altera sua denominação para PP
de Garotinho à prefeitura (Partido Progressista). A despeito do peso da figura de Paulo
carioca. Resulta que Brizola Maluf, Guarnieri avalia que o partido sempre foi pulverizado,
sai como candidato e não
chega a 10% dos votos.
em virtude destes processos de fusão que deram origem a uma
cúpula partidária mais heterogênea e, consequentemente, cheia
8 Guarnieri apresenta de concorrências – a adesão ao governo Lula em 2003, por
algumas resoluções do
partido que evidenciam a
exemplo, teria sido pivô de uma das disputas. Guarnieri descreve
prática de se dissolverem como as sucessivas alternâncias de domínio no interior do
os diretórios, argumentan- partido, assim como as fusões da sigla, conferem esse caráter
do-se a necessidade de
reestruturação em virtude
“provisório” ao partido, pois a cada mudança são produzidas alte-
da incorporação de outros rações no estatuto, e abertas janelas para que a organização se
partidos (o PAN e o PSD reestruture, destituam-se diretórios e nomeiem-se novas comis-
dos anos 90, no caso).
sões provisórias.

O PTB retoma o legado do trabalhismo varguista – resultando na


fundação do PDT de Brizola –, e com isso inicia sua história com
mais representação no Congresso do que lastro de organização.
Guarnieri descreve que a atuação do partido sempre foi pautada
pela barganha no Congresso, mantendo-se assim sempre na
base do governo, da direita à esquerda, sem enfrentar grandes
entraves internos, dada a forte verticalização e o controle estrito
exercido pelas lideranças através das comissões provisórias que
constituem o partido8. Interessante notar, nesse caso, que mesmo
tendo seu presidente nacional protagonizando as acusações
contra o governo Lula no escândalo batizado de Mensalão, o PTB
se manteve próximo do governo do PT com adesão superior ou
próxima aos 80 pontos percentuais de apoio às posições gover-
namentais em votações nominais na Câmara dos Deputados
entre o primeiro governo de Lula e o mandato inicial de Dilma
Rousseff. Ademais, mesmo tendo se coligado formalmente ao
PSDB nas eleições nacionais de 2014, contrariando posição inicial
de participar da disputa com o PT, o partido teve confirmado um
ministério no quarto governo petista.

 39
Quanto ao PR, seguindo o mensurador de Guarnieri, a dinâmica
seria análoga. Fruto da fusão do Partido Liberal (PL) e do Partido
de Reedificação da Ordem Nacional (Prona), que se unem para,
numa arriscada manobra jurídica, atingir a abandonada cláusula
de barreira adotada em 2006, o partido praticamente não conta
com diretórios nos municípios.

Importante notar em todos esses exemplos a existência de uma


possibilidade minimamente razoável de, a partir dos estatutos,
perceber a forma como os partidos são mais ou menos descen-
tralizados em torno de pessoas e organismos, ou ainda, em torno
das regras internas. Tal método empregado na Ciência Política,
seguido de análises de casos específicos, pode ser empregado
por interessados em compreender o funcionamento de uma
legenda para estuda-la ou aderir a ela.

40
2.2 Inclusividade e representatividade
das estruturas decisórias

9 Art. 55. e Art 111. Conforme discutido anteriormente, a legislação vai concedendo
(Estatuto do PT, 2013)
Ver anexos, p. 129
cada vez mais liberdade para os partidos se organizarem. Se em
um primeiro momento as legendas guardam mais semelhanças
do que diferenças em sua estruturação interna, logo os traços
da origem da organização vão se manifestando e fisionomias
distintas entre si vão se conformando. Ribeiro (2013) descreve
como os estatutos e as normas internas se transformam, e como
as reformas vão sendo promovidas pelas lideranças partidárias no
sentido de produzir mais ou menos centralização, inclusividade e
representatividade.

Um indicador utilizado por Ribeiro para analisar os partidos, do


ponto de vista da inclusividade, diz respeito ao predomínio dos
mandatários e demais figuras políticas proeminentes em relação
aos quadros eleitos pela base nos espaços decisórios do partido.
Pelo legado da LOPP, os detentores de mandato seriam membros
das convenções e diretórios, podendo inclusive acumular cargos
entre as esferas.

Neste ponto o PT, desde o início, se diferenciava por conta do


arcabouço extraoficial que regia seus encontros, que restringiam
o peso dos parlamentares e da direção partidária, em prol de
mais espaço para os delegados eleitos pela base. Com a imple-
mentação do Processo de Eleições Diretas (PED), pelo estatuto
aprovado em 2001, fica determinado que os membros dos dire-
tórios do partido em todos os níveis, assim como os delegados
eleitos nos encontros, passam a ser escolhidos por voto direto
dos filiados, e que serão estes os delegados a participarem dos
encontros, inexistindo membros natos9.

À exceção do PT, cujos encontros são antecedidos pelo PED, o


direito à participação é estendido a toda a base de filiados apenas
nas convenções municipais, para eleição dos membros dos
diretórios e dos delegados a participar das convenções estaduais
– feita ainda a ressalva de casos como o PMDB e o PSDB, por
exemplo, em que as comissões dos grandes municípios, onde se
obriga a formação de diretórios zonais, são mais restritivas. No
tocante à indicação de cargos eletivos, decisão sobre coligações

 41
10 Art. 11. e demais matérias relativas ao processo eleitoral a convenção
(Estatuto do PR, 2012).
Ver anexos, p. 129
municipal é constituída pelos membros do diretório da circuns-
crição, delegados eleitos para as convenções superiores,
membros do diretório estadual e parlamentares (de todos os
níveis) com inscrição eleitoral nos municípios.

Ribeiro classifica como baixa a inclusividade das convenções


nacionais dos partidos, exceto pelo PT, posto que os membros
natos tendem a dominar a composição da instância. Em geral,
os demais sistemas políticos intrapartidários favorecem parla-
mentares e dirigentes. Nos casos do PMDB, PSDB, DEM e PDT,
além dos delegados eleitos nos estados, têm participação garan-
tida na Convenção Nacional os membros do Diretório Nacional
e os representantes do partido no Congresso Nacional. O PP
inclui ainda os presidentes dos diretórios estaduais e das comis-
sões provisórias estaduais, bem como os presidentes nacionais
dos órgãos de apoio do partido. O PR, por sua vez, apresenta
a convenção mais restritiva, comparativamente aos demais
partidos, quando se trata de deliberações relativas ao processo
eleitoral10.

O número de delegados a serem enviados às convenções nacio-


nais pelos estados, em geral, está atrelado ao desempenho do
partido no estado (número de representantes eleitos para o
Congresso Nacional). Ribeiro chama ainda a atenção para casos
onde os regimentos foram alterados no sentido de “gratificar”
ainda mais os estados onde o partido elege parlamentares, como
é o caso do PMDB11 e do PSDB12, que enviam uma quantidade de
delegados equivalente ao dobro de suas bancadas – sendo que
o PMDB considera ainda os votos de legenda no estado. Apenas
o PT tem utilizado critério diferente para o cálculo de delegados,
com base na participação dos filiados no PED.

42
11 Art. 65. (Estatuto do Na composição dos diretórios nacionais, o mesmo vale quanto à
PMDB, 2013).
Ver anexos, p.130
lógica das figuras de maior proeminência no partido terem garan-
tido seus espaços, denotando a baixa representatividade destes
12 Art. 59. (Estatuto do órgãos, de maneira geral, de acordo com Ribeiro. Comumente,
PSDB, 2013).
Ver anexos, p.130
além dos dirigentes eleitos proporcionalmente pela Convenção
Nacional, compõem os Diretórios Nacionais, enquanto membros
natos, os presidentes dos diretórios estaduais, os líderes da
bancada do partido no Congresso e os ex-presidentes da Execu-
tiva Nacional. Algumas agremiações incluem ainda outras figuras
relevantes do partido, como ex-presidentes dos órgãos de apoio
e das fundações, por exemplo, como nos casos do DEM e do
PSDB, ou mesmo os dirigentes de órgãos de cooperação, como
é o caso do PTB. O PT, por sua vez, além dos membros eleitos no
encontro do partido, inclui no Diretório Nacional apenas os líderes
de bancada, além de contar com outra peculiaridade, que é o fato
de o presidente ser eleito separadamente, por voto direto no PED.

Alguns partidos, de outro lado, sequer definem em estatuto a


composição do Diretório Nacional, como nos casos do PDT e do
PP, prevendo apenas a composição das Comissões Executivas
correspondentes. Isso se relaciona a outro aspecto que Ribeiro
observa, associado à proeminência assumida pelos órgãos execu-
tivos (comissões executivas) em relação aos órgãos deliberativos
mais amplos (diretórios). Segundo o autor, essa tendência de
“empoderamento” das executivas não é exclusiva dos partidos
brasileiros, e se explica pela maior facilidade de os dirigentes
manterem contato entre si em instâncias menores e mais coesas,
e assim negociarem e produzirem acordos ou consensos, de
modo que as executivas assumam vantagem em relação aos
diretórios na tomada de decisões. Ademais, estes órgãos seriam
ainda menos representativos, porquanto eleitos majoritariamente,
além de menos inclusivos, por terem parte considerável de seus
assentos garantidos aos membros natos.

 43
13 Art. 76. (Estatuto do
PMDB, 2013). Tabela 4 - Tamanho dos órgãos executivos nacionais
Ver anexos, p.130
Partido Membros no diretório Membros na comissão
14 Art. 59. (Estatuto do nacional executiva nacional
DEM, 2007).
Ver anexos, p.131 PT 97 24

PMDB 159 35

PSDB 270 40

PSD 200 39

PP 817 189

PR 138 45

PSB 147 38

PTB - 149

DEM 91 51

PDT 394 26

Fonte: Elaboração a partir Dos partidos que analisa, Ribeiro aponta que o PMDB13 é o único
dos dados do TSE 2015
em que as executivas se mantêm responsáveis apenas pelas
funções administrativas, definidas em estatuto, reservando-se aos
diretórios as demais atribuições deliberativas.

No PT, segundo o autor, as executivas teriam passado a acumular


atribuições políticas e diretivas importantes, de modo que a
Comissão Executiva Nacional do partido tenha se convertido no
órgão decisório supremo no ínterim dos encontros, reduzindo o
Diretório Nacional à condição de instância ratificadora (Ribeiro,
2010). No estatuto do partido está previsto que cabe à Execu-
tiva Nacional executar as deliberações do Diretório Nacional;
convocar reuniões do Diretório Nacional; convocar o Encontro
ou o Congresso Nacional; e solicitar perante à Justiça Eleitoral
a anotação de seus membros e do Diretório Nacional. Todavia,
Ribeiro argumenta que, na prática a importância dessas instâncias
é ainda mais acentuada.

44
15 Art. 65. Entre os demais partidos, o autor aponta ter havido progressiva
(Estatuto do PSDB, 2013).
Ver anexos, p.131
concentração de atribuições em prol das comissões executivas,
fixada em estatuto. Notadamente no DEM14, estas instâncias
16 Art. 68. (Estatuto do passaram a absorver todas as prerrogativas que não fossem
DEM, 2007).
Ver anexos, p.131
explicitamente reservadas aos diretórios, possuindo assim dele-
gação permanente para decidir. A aprovação de diretrizes a serem
seguidas obrigatoriamente pelos demais órgãos partidários, inclu-
sive pelas bancadas, passou a ser atribuição exclusiva das execu-
tivas, sendo reservada à Executiva Nacional a tarefa de traçar a
linha político-partidária a ser seguida, destinar recursos do fundo
partidário, e normatizar as coligações nacionais, estaduais e
locais. Os presidentes das executivas, por sua vez, ganham poder
de decretar resoluções, diretrizes e outros atos normativos para
sua jurisdição, sem necessidade de aprovação colegiada, guar-
dando assim uma autonomia inexistente nos demais partidos.
Também no PSDB15 as executivas teriam ganhado poder cres-
cente, em todos os níveis, legislando, por exemplo, sobre as
coligações estaduais, ditando normas sobre o lançamento de
candidaturas nos municípios e decidindo sobre a prorrogação dos
mandatos dos dirigentes partidários.

Os estatutos do PP e do PTB dispõem que competirá à Comissão


Executiva Nacional exercer todas as atividades do Diretório
Nacional ad referendum deste, além de outras que lhe forem
por ele deferidas (art. 38 do Estatuto do PP de 2013 e art. 55 do
PTB de 2012). No PDT e o PSDB, que arrolam a ela uma série de
atribuições, não é muito diferente. Igualmente relevante a reali-
dade desses órgãos no PR, que prevê a qualquer tempo a possibi-
lidade de intervir e promover a dissolução das demais instâncias,
cancelar candidaturas e anular convenções (art. 27 do Estatuto do
PR de 2012). O PSB também autoriza as executivas a resolverem
questões políticas, administrativas e de organização, a serem rati-
ficadas pelo diretório (art. 27 do Estatuto do PSB de 2011).

No mesmo sentido da maior concentração de poder, Ribeiro


analisa ainda um último aspecto da estrutura decisória dos
partidos, do ponto de vista da inclusividade, que diz respeito à
criação dos órgãos de cúpula. Um dos exemplos mais emblemá-
ticos é o do DEM16 que, quando da sua refundação - e do aban-
dono do seu primeiro nome, PFL, em 2007 - transforma o antigo

 45
17 Art. 72. (Estatuto do Conselho Consultivo do partido no Conselho Político Nacional, um
PSDB, 2013)
Ver anexos, p.132
órgão de direção que conta com metade dos membros da Execu-
tiva Nacional, cuja composição privilegia critérios de senioridade
18 Art. 73. (Estatuto do e proeminência política (presidente, ex-presidentes nacionais do
PMDB, 2013).
Ver anexos, p.133
partido, ex-ministros, os dois líderes no Congresso, os governa-
dores e prefeitos de capitais de maneira geral). Responsável por
emitir pareceres para orientar decisões importantes da Convenção
Nacional, como a escolha de candidatos à Presidência, a apro-
vação de planos de governo e a reforma do estatuto ou do
programa partidários, o Conselho acaba tendo suas atribuições
sobrepostas às da Executiva Nacional.

O PSDB17, por sua vez, também criou um órgão de cúpula, ao


qual compete atuar conjuntamente com o Diretório Nacional
no exame de questões políticas relevantes de âmbito nacional,
decidir sobre o modelo de escolha de candidatos e acerca da
formação de coligação no âmbito da eleição majoritária nacional,
assim como decidir sobre fusões ou incorporações partidárias. O
Conselho Político Nacional, criado em 1999, era antes constituído
pelos ex-presidentes nacionais do partido, os governadores e os
ex-ocupantes desses cargos, além dos ministros, dos líderes das
bancadas no Congresso, e até cinco membros escolhidos pelo
diretório nacional dentre filiados “proeminentes” da legenda.
Segundo Ribeiro, em 2011 o órgão se transforma em um petit
comité que restringe as decisões importantes aos maiores caci-
ques da sigla. Segundo o estatuto atual, o Conselho Político
Nacional é composto pelos ex-Presidentes da República, por
aqueles que tenham concorrido ao cargo, por um representante
dos governadores estaduais, um representante das bancadas
do Congresso Nacional e o presidente da Comissão Executiva
Nacional.

Com o objetivo de tornar mais ágeis as deliberações do dia a dia


partidário, o PMDB18 buscou contornar os impasses decisórios,
frutos das múltiplas lideranças competindo no interior da sigla,
com a criação do Conselho Nacional, órgão intermediário entre a
Comissão Executiva e o Diretório Nacional que acabaria concen-
trando funções centrais do partido.

46
Dos partidos que Ribeiro analisa, o PT é o único a não apresentar
órgãos semelhantes. Dos demais, que foram incluídos nessa
nossa análise, o PP conta com conselhos de apoio denominado
Conselho Consultivo Nacional, ao qual compete colaborar
com o Diretório Nacional, opinar sobre matéria de relevante
interesse nacional e participar das reuniões do Diretório ou da
Comissão Executiva, sempre que convidado, mas sem direito
a voto. No PDT está prevista a existência de um Conselho Polí-
tico, que se constitui como órgão de alto assessoramento da
Direção Nacional, no entanto, segundo o estatuto, suas funções
têm caráter mais opinativo, de fazer recomendações à Executiva
Nacional, em questões consideradas oportunas. Nos demais
partidos (PTB, PSD, PR e PSB) não existem órgãos com esse
caráter.

Importante notar aqui, mais uma vez e de forma enfática, os


desenhos institucionais apontados pelos estatutos. O agente
interessado nos partidos políticos como objeto de estudo ou
como organização à qual se filiará e pela qual disputará eleição,
mais uma vez deve estar atento ao funcionamento institucionali-
zado, bem como à real forma de as legendas levarem adiante seu
cotidiano organizacional. Ascender nessas estruturas e conhecer
bem a lógica de seus respectivos funcionamentos é tarefa que
contribui muito para a vida no interior da legenda.

 47
48
3 Financiamento partidário

19 Lei nº 9.096, de 19 de O financiamento partidário é vital para o funcionamento dos


setembro de 1995 <http://
www.planalto.gov.br/
partidos, pela manutenção de sua estrutura organizacional e de
ccivil_03/leis/l9096.htm>. suas atividades, mas, principalmente, pelo custeio das campa-
nhas eleitorais, que são caríssimas no Brasil. No que diz respeito
às fontes de financiamento, a divisão básica se dá entre recursos
públicos e recursos privados. Quanto ao primeiro tipo, o debate
internacional tem como contexto a tendência geral de diminuição
da base de filiados e o enfraquecimento da militância partidária.
Cada vez mais profissionalizados, os partidos dependeriam então
de fontes externas de financiamento, sendo o próprio Estado um
de seus principais provedores. Assim, o financiamento público
dos partidos se expandiria na segunda metade do século XX
(Braga e Bourdoukan, 2009).

No Brasil, o financiamento público consiste, principalmente, no


repasse direto via Fundo Especial de Assistência Financeira aos
Partidos Políticos (Fundo Partidário), que existe desde 1965, e
atualmente é regulado pela Lei dos Partidos Políticos de 1995.
Este último marco acrescenta as dotações orçamentárias da
União, responsáveis pela maior parte do fundo, às demais fontes
de recursos (multas e penalidades aplicadas nos termos do
Código Eleitoral; recursos destinados por lei, em caráter perma-
nente ou eventual; e doações de pessoa física ou jurídica, efetu-
adas por intermédio de depósitos bancários diretamente na conta
do Fundo Partidário).

Do total do Fundo Partidário, 5% são divididos em partes iguais


entre todos os partidos que tenham seus estatutos registrados
no TSE e 95% distribuídos aos partidos na proporção dos votos
obtidos na última eleição geral para a Câmara dos Deputados19
– antes, 1% do montante era dividido igualmente, e os 99% de
acordo com alguns pontos associados à representatividade dos
partidos na Câmara dos Deputados. Ou seja, a legislação atual
adota critérios no sentido de concentrar os recursos em número
pequeno de partidos, agindo no sentido de manter o status quo,
já que partidos novos ou oriundos de cisões têm acesso bastante
reduzido aos recursos públicos (Speck, 2014).

 49
Tabela 5 - Distribuição do Fundo Partidário

Partido 1994 1998 2002 2006 2010 2014

PT 7,02% 12,97% 14,86% 20,46% 14,54% 16,33%

PMDB 17,70% 22,18% 17,19% 14,88% 14,13% 11,66%

PSDB 9,18% 14,65% 19,87% 15,95% 13,41% 11,03%

PFL/DEM 16,54% 15,19% 19,60% 14,75% 10,64% 4,83%

PPR/PPB/PP 12,50% 17,90% 12,86% 8,72% 7,03% 6,59%

PSB 2,35% 0,82% 1,09% 5,89% 6,16% 6,07%

PL/PR 3,43% 0,87% 0,80% 5,72% 4,93% 6,64%

PDT 6,84% 7,62% 6,44% 5,72% 5,27% 3,97%

PTB 5,77% 5,91% 6,43% 5,75% 5,04% 3,88%

PV 0,74% 0,08% 0,03% 0,04% 3,71% 3,16%

PPS 1,09% 0,14% 0,03% 0,98% 4,03% 2,23%

PCdoB 1,63% 0,59% 0,44% 0,73% 2,23% 2,80%

PRB - - - 0,03% 0,38% 1,84%

PSC 1,09% 0,19% 0,00% 0,03% 1,99% 2,75%

PSOL - - - 0,03% 1,02% 1,29%

PSN/PHS - 0,04% 0,03% 0,03% 0,65% 0,85%

PMN 1,01% 0,25% 0,03% 0,03% 0,81% 0,82%

PRN/PTC 1,26% 0,02% 0,02% 0,03% 1,03% 0,73%

PTdoB - 0,01% 0,02% 0,03% 0,49% 0,78%

PSL - 0,01% 0,01% 0,02% 0,40% 0,61%

PRP - 0,08% 0,03% 0,03% 0,44% 0,45%

PRTB - 0,02% 0,02% 0,02% 0,38% 0,43%

PSDC - 0,02% 0,03% 0,02% 0,38% 0,34%

PTN - 0,02% 0,01% 0,00% 0,36% 0,34%

50
PSTU - 0,01% 0,03% 0,03% 0,30% 0,26%

PCB - 0,02% 0,01% 0,02% 0,27% 0,18%

PCO - 0,03% 0,01% 0,01% 0,00% 0,17%

PP 8,74% - - - - -

PSD 2,36% 0,25% 0,01% - - -

PRONA 0,74% 0,02% 0,03% 0,03% - -

PGT - 0,02% 0,03% - - -

PST - 0,02% 0,03% - - -

PAN - 0,02% 0,00% - - -

PSD - - - - - 6,03%

SDD - - - - - 2,30%

PEN - - - - - 0,29%

PPL - - - - - 0,18%

PROS - - - - - 0,16%

Total 729 mil 46,5 88,6 142,8 196,8 365,7


milhões milhões milhões milhões milhões

Fonte: Elaboração
própria a partir dos
dados do TSE.

 51
20 Speck (2014) faz Os valores anuais do Fundo Partidário cresceram da ordem de
ponderações quando à
comparação dos valores
729 mil a 365,7 milhões20, entre 2002 a 2012, e manteve-se
brutos na série temporal. A abaixo dos R$ 400 milhões até 2014. Na verdade, em 2010 deu
mais elementar diz respeito um salto de aproximadamente 50% com a definição de dotação
ao impacto da desvaloriza-
ção monetária, e a segunda
extraordinária com o claro propósito de pagar as dívidas de
ao número crescente de campanha dos principais partidos que lançaram candidatos à
eleitores, que aumenta Presidência da República naquele ano.
o custo das campanhas.
Todavia, o crescimento não
deixa de ser significativo. A partir de 2015, com a clara possibilidade de proibição da
participação do capital empresarial privado nas campanhas e nos
21 Art. 108. (Estatuto do
DEM, 2007).
partidos houve um salto expressivo para quase R$ 900 milhões no
Ver anexos, p.133 Fundo Partidário, revelando a dificuldade de captação de recursos
em outras fontes. De fato, o Supremo Tribunal Federal proibiu
22 Art. 99. (Estatuto do
DEM, 2007).
a doação de empresas para candidatos e partidos nas eleições
Ver anexos, p.134 e fora delas, e a presidente Dilma Rousseff vetou matéria apro-
vada pelo Congresso Nacional que buscava reverter tal limitação,
23 Art. 43.
(Estatuto do PR, 2012).
permitindo às legendas receberem dinheiro de empresas.
Ver anexos, p.134
Para além da discussão sobre a captação de recursos e suas
24 Art. 202. (Estatuto do
PT, 2013).
limitações no universo dos partidos é importante observar alguns
Ver anexos, p.134 parâmetros para a utilização do Fundo Partidário na realidade
das legendas. Repassado diretamente aos diretórios nacionais,
25 Art. 69. (Estatuto do
PSB, 2012).
e exceção feita ao mínimo de 20% dos recursos dessa fonte
Ver anexos, p.135 oficial que deve ser aplicado obrigatoriamente aos institutos ou
fundações, são os partidos os responsáveis por estabelecerem as
26 Art. 107.
(Estatuto do PMDB, 2013
regras internas de alocação de tais recursos.
do Fundo).
Ver anexos, p.135 Dos partidos analisados, concede-se autonomia às seções esta-
27 Art. 142. (Estatuto do
duais para realizar o repasse às seções locais. Já quanto ao
PSDB, 2013). repasse dos diretórios nacionais, tende-se a definir no estatuto os
Ver anexos, p.136 percentuais da divisão, ou ao menos os critérios a serem levados
em conta (em geral, peso político do estado para a organização).
Apenas o DEM, o PTB e o PR concedem autonomia à executiva
nacional sobre os repasses internos para as seções estaduais.
Este primeiro21 deixa a cargo da executiva elaborar um plano
de aplicação onde ficarão estabelecidas as regras do repasse;
enquanto o PTB22 e o PR23 acrescentam que as regras adotadas
para o repasse deverão ter em conta a representação do partido
no Congresso, ou seja, fazem a divisão segundo critérios de
desempenho eleitoral.

52
Já os demais partidos especificam no estatuto como se dará a
distribuição do fundo. O PT24, assim como o PSB25, destina a
maior parte do fundo partidário (60%) à direção nacional, eviden-
ciando o alto grau de centralização dessas organizações no que
diz respeito à política financeira. E, do montante reservado aos
estados, o PT define que 20% deverá ser dividido em partes iguais
para todos os Estados e o Distrito Federal, enquanto 80% será
distribuído proporcionalmente ao número de delegados estaduais
eleitos no último encontro nacional, seguindo o critério organi-
zativo de distribuição. Também o PSB prioriza a retenção dos
recursos do Fundo Partidário pela direção nacional. O estatuto do
partido aponta que descontado o que é destinado à fundação e à
manutenção da legenda, os 80% restantes deverão se destinar à
direção nacional, enquanto o restante será reservado às direções
estaduais, sem critério de divisão previamente estabelecido.

PMDB e PSDB, por outro lado, tendem a seguir princípios mais


descentralizadores no que diz respeito ao repasse de recursos. O
PMDB26, sobretudo, e inversamente ao PT, fixa que 60% do fundo
seja repassado aos diretórios estaduais, sendo que, na divisão
entre eles, pesa o tamanho de seu eleitorado e da bancada do
partido. Novamente, os dados do PMDB vêm reforçar a impor-
tância da dinâmica estadual e o peso que as lideranças regio-
nais têm no equilíbrio interno das forças do partido. Quanto ao
PSDB27, embora a executiva nacional tenha a prerrogativa de
modificar a divisão do repasse, a princípio, o diretório nacional
não pode destinar menos do que 50% aos órgãos estaduais.

Entre os demais, o PP equilibra igualmente o que fica com a


direção e o que é repassado às seções estaduais, enquanto o
PDT não faz menção à divisão do Fundo Partidário em seu esta-
tuto. Nesses casos é importante destacar que a imensa maioria
dos políticos filiados aos mais diferentes partidos reclama da
não chegada de dinheiro da legenda às suas respectivas reali-
dades, sobretudo no plano municipal. Tais distribuições, por mais
que carreguem aspectos formais apontados nos estatutos, são
normalmente vistas como gestos políticos. Isso porque, para
além da chegada do recurso em diferentes organismos existem

 53
conflitos internos nas legendas a respeito do uso efetivo dos
montantes. Não são incomuns os mais diferentes desentendi-
mentos e acusações nesse universo. Um caso que ganhou grande
repercussão em 2010 esteve associado a uma divisão interna no
PSDB. José Serra, derrotado na corrida presidencial, foi cotado
para presidir o Instituto Teotônio Vilela, a fundação tucana. Como
legalmente 20% do montante do Fundo Partidário devem ser utili-
zados por este tipo de organização, a ala do partido mais próxima
a Aécio Neves reclamou que o ex-governador de São Paulo teria
acesso a um recurso que lhe permitiria visitar o país e, quem
sabe, reforçar internamente uma nova candidatura à Presidência
em 2014.

Se o debate sobre o financiamento público interessa à medida


que revela muito sobre a dinâmica interna das organizações,
conforme será demonstrado adiante, o financiamento privado
suscita problemas relevantes, tais como a troca de favores ilícitos
entre financiadores e financiados, a extorsão de financiadores
por políticos, o desestímulo ao envolvimento político dos mais
pobres e a perda de legitimidade dos representantes (Wagner,
2012). Para além das questões de ordem normativa, sobre a
influência do capital econômico e dos interesses privados na
política, o financiamento privado empresarial chama a atenção
ainda por corresponder à maior fatia dos recursos de campanha
dos partidos. Apesar das críticas, há quem defenda a presença
desse capital, dado o preço exorbitante das campanhas no Brasil,
e da legitimidade do apoio de agentes da sociedade a partidos e
candidatos. As ilicitudes ficariam, nesses casos, sob responsabili-
dade de uma demanda por justiça.

54
7 0,82 1,40 1,88 2,81 4,73 5,90

2002 2004 2006 2008 2010 2012

Fonte: Speck (2014), a


partir dos dados do TSE.

A despeito de tal debate, como observado anteriormente, o STF


acatou em 2015 uma Ação Direta de Inconstitucionalidade enca-
beçada pela Ordem dos Advogados do Brasil e proibiu a presença
de capital empresarial nas campanhas e nos partidos, mesmo
fora do ano eleitoral. Assim, o financiamento privado admitido
pela legislação partidária eleitoral atual tem origem nas doações
de pessoas físicas, limitadas a 10% dos rendimentos brutos do
ano anterior à eleição (art. 23 da Lei 9504/97, parágrafo 1º, inciso
I); na doação, a valores de 2016, de até R$ 80.000,00 em bens e
ações estimáveis, ou seja, que não tenham sido convertidas em
montante efetivo passado por meio de movimentações bancárias
em que fique clara a origem da doação e; nos recursos próprios
do candidato, com doações limitadas ao valor máximo de gastos
estabelecido por seu partido e em tetos estabelecidos legalmente.
Assim, as doações de pessoas jurídicas, limitadas a 2% do fatura-
mento bruto do ano anterior à eleição foram proibidas.

 55
A despeito das fontes citadas acima, ao mesmo tempo em que
o Brasil é um ótimo caso a ser estudado pela disponibilidade de
informações do financiamento de campanhas, postas as exigên-
cias da justiça eleitoral quanto à prestação de contas transpa-
rentes, muito se problematiza a respeito da validade dos dados
pela prática ampla do caixa dois (contribuições não registradas de
campanha). Importante salientar que partidos têm utilizado como
tese de defesa em ações penais o uso desse tipo de expediente, e
que condenados recentes assumiram destinar recursos privados
de forma não contabilizada a diferentes políticos, de distintas
legendas. A despeito de tal aspectos, Samuels (2006) argumenta
que os dados do TSE revelam padrões bastante intuitivos, que se
mantêm ao logo do tempo entre os partidos, sugerindo que, ainda
que as cifras não correspondam ao que é recebido, tampouco a
prestação de contas é totalmente inventada. Assim, a análise dos
dados permite que se identifiquem o padrão geral e as tendências
do que diz respeito ao financiamento político.

O primeiro dos padrões é que as empresas contribuíam muito


mais do que os indivíduos, e que a maior parte das contribui-
ções empresariais vem de setores grandemente influenciados
por regulamentação pública: setor financeiro, indústria pesada e
construção civil (Samuels, 2006). Ademais, há grande variação de
acordo com o tipo de disputa e o cargo. Naturalmente, os candi-
datos à presidência são os que recebem os volumes mais altos de
doações e cujas campanhas mais dependem dos recursos empre-
sariais – na eleição de 2010, por exemplo, 91% dos recursos
privados recebidos pelos presidenciáveis eram oriundos de
pessoas jurídicas, mostra Speck (2014). Depois dos presidentes
eram os governadores os mais dependentes do financiamento
das empresas, seguidos dos senadores, deputados federais e
deputados estaduais – em 2010, 45% dos recursos privados
recebidos pelos candidatos às Assembleias Legislativas eram de
empresas, segundo o autor. Speck constatou ainda que eram
poucas as empresas dentro do universo total do setor privado
(assim como são poucos os cidadãos entre todos os eleitores)
que se engajam financeiramente nas campanhas eleitorais, e que,
entre as que se engajavam, apenas vinte foram responsáveis por
30% do total do volume de financiamento das campanhas eleito-
rais no ano de 2010.

56
As empresas contribuíam muito mais
do que os indivíduos, e que a maior
parte das contribuições empresariais
vem de setores grandemente
influenciados por regulamentação
pública: setor financeiro, indústria
pesada e construção civil

Sobre as determinantes do financiamento eleitoral, aponta-se


como o viés ideológico conta no potencial do partido captar
recursos. Legendas tradicionais, por exemplo, lideravam na
arrecadação empresarial. Analisando as doações de 1994 a 2002
para a Câmara dos Deputados, Samuels apontou ainda que os
candidatos de esquerda levantavam menos da metade do que os
candidatos dos demais partidos de centro e de direita. Mancuso
(2012)29, por sua vez, a partir da análise das eleições de 2002
para a Câmara dos Deputados, observa que a receita eleitoral
dos candidatos dos partidos de direita tendia a ser superior a dos
candidatos dos partidos de esquerda, e que a contribuição média
de pessoas jurídicas para candidatos de direita tendia a ser supe-
rior à dos candidatos de esquerda, enquanto para candidaturas
de esquerda tendia a ser bem inferior a 50% , de modo que a
principal fonte de receita para essas candidaturas são as pessoas
físicas (terceiros ou os próprios candidatos). Já nas eleições de
2006, o autor nota que aumentou a importância das contribui-
ções de pessoa jurídica para as candidaturas de esquerda, e que
a receita média destas candidaturas de esquerda começou a
superar a das candidaturas de direita - o que deve ser lido à luz do
fato do PT ter passado da oposição ao governo. Ou seja: efeti-
vamente o dinheiro não parecia ter caráter ideológico, mas sim
respeitar outras estratégias mais associadas à ascensão ao poder.

 57
Assim, se há concentração de quem doava, por um lado, havia
também concentração de quem recebia, pois a arrecadação
passa a ser proporcional ao peso das siglas no cenário político,
a despeito de questões ideológicas. Speck mostra que PSDB,
PT e PMDB, que arrecadaram em 2010, cada um, acima de
R$ 500 milhões no total, receberam, juntos, mais de 60% do
volume total dos recursos doados pelas empresas. Natural-
mente, apenas entre os menores partidos as doações de pessoa
jurídica assumem menor relevo – PSOL, PSTU, PCB e PCO,
pequenas legendas de esquerda, que receberam de R$ 5 milhões
para baixo, têm como maior fonte de financiamento privado as
doações de pessoa física.

Tabela 6 - Arrecadação externa dos partidos em 2010

Partido % recursos % doações de % doações de % arrecadado Total arrecada-


próprios sobre pessoa física pessoa jurídica sobre o total ção externa
o total arreca- sobre o total sobre o total geral das doa-
dado arrecadado arrecadado ções de pessoa
jurídica

PSDB 6,0% 11,0% 83,0% 23,7% 657.382.541

PT 4,0% 11,1% 84,8% 22,0% 603.307.534

PMDB 11,9% 10,9% 77,2% 18,2% 536.210.917

PSB 12,1% 12,1% 75,8% 6,4% 197.042.466

DEM 13,0% 13,0% 74,0% 6,2% 192.063.736

PP 14,1% 15,2% 70,7% 3,9% 128.209.470

PR 12,0% 16,0% 72,0% 4,0% 127.933.529

PDT 22,2% 19,2% 58,6% 3,1% 123.099.279

PTB 17,2% 15,2% 67,7% 2,8% 96.727.415

PPS 20,2% 16,2% 63,6% 2,4% 88.582.968

PV 15,2% 35,4% 49,5% 1,8% 85.292.690

PSC 21,2% 21,2% 57,6% 1,2% 48.266.833

PC do B 10,4% 22,9% 66,7% 1,2% 43.826.182

PMN 16,0% 18,0% 66,0% 1,0% 33.509.575

58
PSL 34,3% 25,3% 40,4% 0,3% 18.643.807

PRB 16,2% 23,2% 60,6% 0,4% 17.160.398

PT do B 21,2% 39,4% 39,4% 0,2% 13.522.946

PHS 27,0% 31,0% 42,0% 0,2% 11.193.820

PTC 32,3% 32,3% 35,4% 0,2% 10.995.342

PTN 21,0% 28,0% 51,0% 0,2% 9.544.945

PRP 22,0% 38,0% 40,0% 0,2% 9.163.809

PRTB 23,5% 37,8% 38,8% 0,1% 8.360.207

PSOL 31,3% 56,6% 12,1% 0,0% 5.693.448

PSDC 23,2% 32,3% 44,4% 0,1% 5.204.712

PSTU 8,1% 90,9% 1,0% 0,0% 946.693

PCB 21,0% 73,0% 6,0% 0,0% 377.443

PCO 31,0% 69,0% 0,0% 0,0% 19.165

Todos 11,0% 14,0% 75,0% 100,0% 3.072.281.872

Fonte: Fonte: SPECK Tomando como unidade de análise os candidatos, Speck


(2014), a partir dos dados
do TSE.
mostra como é ainda maior a concentração. Poucos candidatos
são responsáveis por captar a maior parte do dinheiro, de modo
que a maioria dos candidatos disputava eleições com recursos
ínfimos - 65% dos candidatos a deputado federal, por exemplo,
declaravam 0,01% do total de recursos. Sobre o autofinancia-
mento eleitoral, este acabava sendo significativo apenas para
uma pequena elite de candidatos - somente 23% dos candi-
datos conseguem investir mais de 10 mil reais em sua própria
campanha. Em resumo, a concentração é a marca da distri-
buição dos recursos eleitorais privados, seja do ponto de vista
de quem doa como de quem recebe.

Outro aspecto central no debate sobre o financiamento diz


respeito à influência dos recursos no sucesso eleitoral. Autores
apontam hipóteses diferentes, dentre elas: se uma campanha
mais cara alavanca mais votos, ou se os doadores tendem a
apostar mais nos candidatos com mais chances, ou mesmo

 59
se são os políticos com maior experiência eleitoral que são mais
eficientes em atrair investimentos. De todo modo, essas preci-
sões importam mais na teoria do que na prática, que mostra a
relação positiva entre a quantidade de dinheiro que um candi-
dato dispõe em sua campanha e o seu desempenho nas urnas.
Essa relação seria, sobretudo, mais forte para os novos candi-
datos, naturalmente posto que estes necessitam empregar mais
esforços para se fazerem conhecidos do que um candidato que
já dispõe da máquina (Speck, 2014). Nesse sentido, e diante da
nova realidade, é fato que a distribuição de recursos financeiros,
suas respectivas utilizações e fontes se configuram preocupa-
ções elementares daqueles que buscam partidos políticos para
a consolidação de objetivos eleitorais. Para além da discussão
posta aqui outro ponto merece destaque: a verificação da pres-
tação de contas das campanhas municipais que reúnem cerca
de meio milhão de candidatos indica que a imensa maioria dos
políticos que buscam votos não conta com quantia alguma vinda
dos partidos. O desafio do levantamento dos recursos é algo
absolutamente central em qualquer estratégia partidária e elei-
toral. Destaque, nesse caso, para o fato de que com o acentuado
distanciamento dos cidadãos em relação aos partidos, o cenário
se torna ainda mais complexo.

60
4 Recrutamento político e seleção
de candidatos

Um dos aspectos do recrutamento político – processo de sociali-


zação mais amplo através do qual os indivíduos abandonam a sua
vida comum e ingressam na vida política – é a seleção de candi-
datos. Esta atividade é reconhecida como uma das mais vitais
das desempenhadas pelas organizações, pois serão os candidatos
os intérpretes da mensagem do partido, responsáveis por sua
face pública durante as eleições e naturalmente pelo espaço que
ocuparão no poder – em diferentes graus de relevância, eviden-
temente, a depender da visibilidade do cargo. E, uma vez eleitos,
serão eles os responsáveis pela atuação do partido no governo,
e também por representar o seu eleitorado. Segue nessa linha o
argumento de Braga e Praça (2007), de que os nomes escolhidos
representarão a sigla não só na disputa eleitoral, mas também no
exercício do mandato, o que terá efeitos para a coesão política da
organização. Portanto, além de definir as alternativas disponíveis
que irão vincular os eleitores ao processo político, a seleção de
candidatos tem consequências sistêmicas, afetando o desem-
penho institucional do regime democrático como um todo.

A primeira linha de trabalhos que se voltou ao tema se debruçou


sobre a composição sócio-ocupacional das cúpulas partidárias.
Os estudos se mostraram preocupados em analisar os partidos do
ponto de vista de suas relações com os grupos sociais, da repre-
sentação de interesses e suas respectivas ideologias. O trabalho
de Rodrigues (2002), em particular, observou a composição da
bancada parlamentar dos maiores partidos em 1998, e observou
diferenças significativas entre eles, que corresponderiam a posi-
ções programáticas distintas. Isso não equivaleria dizer que os
partidos não recrutem quadros em meios variados, mas sim que
tendem a representar com maior ênfase determinados grupos
em suas bancadas. Em relação ao patrimônio dos parlamentares,
Rodrigues nota padrões claros: PPB e PFL, hoje PP e DEM, eram
os partidos com maior número de parlamentares na faixa mais
alta de patrimônio; PMDB e PSDB encontravam-se nas faixas
intermediárias, junto ao PDT; enquanto o PT concentrava seus
parlamentares na faixa de patrimônio mais baixo.

 61
PP e DEM, eram os partidos com
maior número de parlamentares na
faixa mais alta de patrimônio; PMDB
e PSDB encontravam-se nas faixas
intermediárias, junto ao PDT; enquanto
o PT concentrava seus parlamentares
na faixa de patrimônio mais baixo

Em relação à ocupação, o autor observava que nos partidos à


direita28 (PPB e PFL) predominavam ocupações de tipo empre-
sarial (urbana ou rural), enquanto nos partidos à esquerda (PDT
e PT) os empresários correspondiam a uma reduzida parcela
de seus parlamentares. Nos partidos de centro, a presença de
empresários era contrabalanceada pela dos profissionais libe-
rais, que tendia a crescer conforme se caminhava à esquerda no
espectro ideológico, assim como a presença de profissionais de
carreira intelectual – sobretudo professores. Rodrigues analisa
também a presença de funcionários públicos nos partidos, e
constatou que o antigo PFL, seguido do PSDB, eram os partidos
mais familiarizado com a alta administração pública, enquanto
PMDB, PPB e PDT apresentavam parcelas significativas de
funcionários da administração pública estadual. O PT, por sua
vez, contava com quase nenhuma inserção na burocracia de
governo29. Neste último partido, predominavam os profissionais
liberais, professores e os trabalhadores de diversos segmentos (da
área de serviços, industriais qualificados e rurais), praticamente
ausentes nas demais agremiações. Outro dado interessante que
apresenta o autor é a ausência quase absoluta de políticos profis-
sionais, que ele considera aqueles que, por terem ingressado
cedo na política, nunca chegaram a exercer alguma profissão.

O conjunto destes dados permitiu que Rodrigues traçasse um


perfil dos seis maiores partidos analisados. O PPB (hoje PP), de
perfil homogêneo, aparecia constituído amplamente pelo empre-
sariado, cujos membros possuíam patrimônio mais elevado. O
PDT apresentava uma categoria única predominante, os profis-
sionais liberais. O PFL contava com o empresariado, mas se

62
28 Rodrigues (2002) se destacava também pelas fortes raízes no aparelho estatal. Mais
utiliza da classificação que
predominava na literatura
heterogêneo, o PMDB contava com empresários, mas também
e meios de comunicação, com profissionais liberais e funcionários da burocracia estadual,
não interessado propria- ocupando assim uma posição intermediária. O PSDB, ao seu
mente em discutir os
significados intrínsecos das
turno, reunia quadros do empresariado urbano, caracterizados
categorias. pela formação mais alta, demonstrando a face intelectual de
classe média alta do partido. Segundo o autor, o perfil dos cons-
29 Estes dados, obvia-
mente, devem ser lidos no
tituintes que irão depois fundar o partido já revelava isso pela
contexto da posição dos presença de advogados, juízes e economistas, além de profis-
partidos no governo àquele sionais da saúde, da educação e do jornalismo. O PT, por fim,
tempo.
contava também com um setor amplo de intelectuais, mas que
dividiam fileiras com membros egressos da classe trabalhadora
e empregados do setor de serviços, à diferença do PSDB.

Marenco e Serna (2007) seguem nessa tradição analisando a


biografia dos deputados eleitos em três países latino americanos,
sendo que, entre os partidos brasileiros, analisam as carreiras no
interior do PT, PSDB, PMDB, PFL e PPB. Do ponto de vista da
posição social dos quadros partidários, os autores corroboram
os achados de Rodrigues, de maneira geral, ao constatarem
que os partidos mais conservadores tendem a destacar seus
quadros nos setores de propriedade e controle de empresas, de
produção agroindustrial e de comércio, e também das profissões
universitárias liberais. Nesse sentido, o PSDB era visto como um
partido relativamente mais pluriclassista, enquanto o PT, no outro
extremo, agrupava profissionais das ciências econômicas e de
formação humanista, oriundos da classe média e também traba-
lhadora.

Os autores observam ainda o que eles chamam de recursos


associativos, que consiste no estabelecimento de redes sociais
e na ligação com organizações coletivas pelos candidatos.
No geral, apontam que metade dos deputados, antes de terem
acesso à cadeira, já registravam participação destacada em
algum tipo de associação. Todavia, a variação entre os partidos
é grande e, novamente, relacionada à natureza ideológica da
legenda. Partidos à esquerda tenderiam a cultivar mais este tipo
de vínculo, dependendo mais de recursos coletivos e da criação
de identidade para construir suas bases; enquanto partidos
conservadores se baseariam, principalmente, no capital individual
dos candidatos.

 63
Tabela 7 - Bancadas partidárias segundo a participação associativa (%)

PFL PPB PMDB PSDB PT

Não têm 51,2 32,6 43,8 54,9 133

Empresários 29,8 43,9 30,1 14,1 6,6

Produtores rurais 10,7 14,3 11 9,9 24,2

Sindicatos de Trabalha 3,6 4,1 11 14,1 19,8


dores

Movimento estudantil 1,2 - 1,4 1,4 14,3

Acadêmicos e profissionais 3,6 6,1 2,7 5,6 2,2


da imprensa

Religião 51,2 32,6 43,8 54,9 33

Esporte 29,8 43,9 30,1 14,1 6,6

ONGs ligadas a novas 10,7 14,3 11 9,9 24,2


questões sociais

Fonte: Adaptado de Marenco e Serna observam também os diferentes padrões de


Marenco e Serna (2007)
carreiras no interior dos partidos, e constatam que, nos partidos
considerados à esquerda (PT, apenas, no caso do Brasil), veri-
ficam-se carreiras mais prolongadas e padrões mais endógenos
de trajetória política, ou seja, os candidatos são recrutados no
interior das respectivas organizações, indicando que o ativismo
partidário constitui um capital político relevante para impulsionar
trajetórias políticas. Esse caso em especial pode ser explicado
pelo próprio desenho organizacional do PT, visto anteriormente.
Nestes partidos, os indivíduos ingressariam na vida partidária nos
níveis mais inferiores da hierarquia antes de alcançar uma cadeira
parlamentar, em um longo percurso que funcionaria como uma
“escola política”, onde ao ser socializado o aspirante se adaptaria
às regras e às diretrizes da organização. Em contraste, em outros
tipos de organização os parlamentares tenderiam a apresentar
trajetórias iniciadas tardiamente e menos contínuas. Padrões de
recrutamento laterais, apoiados em estruturas organizativas mais
flexíveis, tenderiam a valorizar atributos adquiridos fora das fron-
teiras da organização, como prestígio, posses e demais vínculos
potencialmente eficazes para a arregimentação de apoios. Esse
ponto reforça a ideia das estratégias políticas dos cidadãos em

64
30 MARENCO, André. suas respectivas vidas no interior dos partidos que escolhem.
(2001). “Sedimentação
de lealdades partidárias
Aqui estamos falando em tendências, em movimentos que
no Brasil: Tendências e inclusive podem mudar com o tempo, mas é importante um olhar
descompassos”. RBCS Vol. sobre a complexidade partidária o conhecimento dos desafios
16 no 45 fevereiro/2001.
políticos de diferentes naturezas.

O trabalho de Marenco (2001)30 observou que o PSDB, o PTB e


os pequenos partidos conservadores revelam padrões de recru-
tamento parlamentar fora das fronteiras partidárias. Embora se
esperasse que o PSDB, sobretudo, contasse principalmente com
membros egressos do PMDB em sua primeira bancada formada,
metade de seus parlamentares não possuía vínculo partidário
anterior. O PT, por sua vez, apresentava taxas elevadas de recru-
tamento endógeno, isto é, candidatos oriundos das fileiras do
partido, que valorizava as lealdades firmadas como condição para
mobilidade na carreira. Padrão semelhante seria observado no
PMDB, até metade da década de 1990, quando ingressam muitos
“forasteiros” que já mudavam a configuração da bancada eleita
em 1998. O autor observa, todavia, que o sistema partidário pós-
-redemocratização apresentaria uma forte tendência ao trânsito
interpartidário, mesmo passado o período de acomodação do
contexto político, durante o qual seria esperado um fluxo maior
dos políticos entre as siglas, em formação. Atualmente a justiça
tentou barrar a migração, sobretudo em cargos ocupados por
meio de eleições proporcionais (deputados e vereadores), mas
liberou o trânsito para partidos em formação e para políticos
ocupantes de cargos majoritários. Ainda assim, uma emenda
constitucional vista como extremamente casuísta aprovada em
fevereiro de 2016 abriu uma janela de migração com duração
de um mês para deputados e vereadores. O esforço de se alterar
a Constituição Federal foi empreendido para uma exceção de
30 dias.

Esta perspectiva sobre a seleção de candidatos busca relacionar


diferentes padrões de carreira parlamentar a distintos perfis
partidários segundo o grau de centralização da organização.
Nesse sentido, a seleção de candidatos é analisada como reflexo
da estrutura de oportunidades das organizações, que define os
padrões de ingresso na carreira política e as possibilidades de
mobilidade no interior da hierarquia partidária. Das exigências
legais, a legislação eleitoral determinava que os candidatos a

 65
31 A legislação eleitoral cargos eletivos estivessem filiados ao partido31 por, no mínimo,
prescreve as condições
de elegibilidade, e dentre
um ano até 2014. A partir de 2016 esse prazo foi reduzido para
elas está a nacionalidade seis meses. Ademais, o dispositivo da candidatura nata nascido
brasileira, o alistamento em 1974, por meio do qual os parlamentares escolhidos em
eleitoral, o domicílio eleito-
ral na circunscrição em que
pleitos proporcionais garantiam automaticamente uma vaga nas
se dá a disputa, exercício listas partidárias perdurou até o pleito de 2000, deixando de valer
pleno dos direitos políticos, em 2002. Ou seja, fica a cargo dos partidos estabelecerem quais
o que se condicionou
chamar de “ficha limpa”,
os demais mecanismos de seleção dos seus candidatos, sejam
requisitos etários, e filiação eles formais ou informais, sendo o tempo de filiação mínimo
ao respectivo partido de, requerido à legenda de seis meses em relação à eleição.
no mínimo, seis meses. O
monopólio dos partidos so-
bre a representação política Conforme já explorado na seção sobre inclusividade dos espaços
não é a regra. Países como decisórios do partido, segundo os estatutos partidários é nas
Itália e Colômbia permitem
que sejam apresentadas
convenções que são selecionados os candidatos a cargos
listas de candidatos sem eletivos. Todavia, à exceção do PT, que adota as eleições diretas,
vinculação partidária, desde não são todos os filiados que votam nas convenções destinadas a
que respaldada por um
determinado número de
destacar os candidatos. Braga (2006), ao observar as convenções
assinaturas. partidárias dos maiores partidos em 2006, buscou compreender
os procedimentos informais que regulam a seleção de candi-
datos. A autora observa que em partidos como o PP e o PFL (hoje
DEM), a convenção funcionava apenas como ato simbólico em
que a lista partidária indicada é homologada pelos presentes,
não passando por um processo de aprovação efetivo e amplo.
Assim como as lideranças (principalmente os parlamentares
mais orgânicos) detêm controle sobre os espaços decisórios
nestes partidos, elas detêm, consequentemente, controle sobre o
acesso à lista partidária, de modo que estes partidos sejam mais
fechados à participação popular.

No PMDB e no PSDB, o processo seria mais amplo. Ainda que


a lista partidária também chegue já fechada na convenção,
Braga aponta que os delegados participam mais efetivamente do
processo de homologação, aprovando ou não a lista de candi-
datos previamente escolhida pela cúpula partidária. O processo
seria, portanto, um pouco menos exclusivo e, de outro lado, mais
restritivo à manobra dos líderes, o que requer mais esforços para
que eles contem com a adesão da base dos delegados. Ademais,
a autora aponta que a cédula de votação trazia outras questões à
consulta dos delegados – por exemplo, sobre a política de coliga-
ções do partido.

66
Já no PT, pelo fato de haver mais envolvimento de diversos
membros do partido – ainda que com graus variados de influ-
ência – o processo seria um pouco mais permeável à participação,
em comparação aos demais partidos, ainda que centralizado nas
lideranças partidárias. De outro lado, apenas os Trabalhadores
impõem exigências formais para além da lei, exigindo que os
candidatos aderissem ao “Compromisso Partidário do Candi-
dato Petista”, documento criado pelo Diretório Nacional onde
era reforçado o pacto dos candidatos com o partido, tanto em
relação à campanha quanto ao exercício de mandato (art. 140
do Estatuto do PT de 2013). Dentre outras regras, o documento
estabelecia que o candidato ficasse obrigado a contribuir finan-
ceiramente com o partido, a veicular a sigla do partido em seu
material de campanha, e ainda restringia o financiamento de
campanha. Caso eleito, o documento reforçava o caráter parti-
dário do mandato, fosse pelo dever de submeter ao partido os
nomes que iriam compor o primeiro e o segundo escalão do
governo, fosse por meio da formação de uma “bancada coletiva”,
no caso do Legislativo. Ainda que o caráter seja antes simbólico,
Braga argumenta que instrumentos como este podem, de partida,
eliminar aspirantes que não se sintam confortáveis em abrir mão
de suas preferências individuais em nome da organização. Para
além disso, destaca-se o fato de que por mais que documentos
internos e determinações possam existir em volumes expressivos
capazes de criarem restrições, é muito difícil para os partidos,
sobretudo nas eleições municipais, coordenarem e controlarem
aquilo que pregam em suas determinações. Assim, quem opta
por um partido deve ficar atento a toda essa lógica de exigências,
mas é importante considerar que principalmente nas cidades
menores os partidos não conseguem controlar, a partir de seus
organismos e decisões nacionais, a realidade organizacional.
Outra contribuição sobre a escolha de candidatos nos partidos é
a de Bolognesi (2013), que segue tomando a seleção de candi-
datos como indicador da distribuição de poder no interior do
partido, analisando, além das regras formais, requisitos informais
e a percepção dos próprios candidatos acerca do processo de
seleção, acessada com base em entrevistas feitas com 120 candi-
datos à deputado federal nas eleições de 2010.

 67
Tabela 8 - Percepção dos requisitos informais para candidatura em 2010 (%)

DEM PMDB PSDB PT Total

Conhecimento sobre o fun- 12,6 14,9 12,6 8,9 12,3


cionamento da “política”

Recursos financeiros 10,3 6,9 8 5,6 7,7


próprios

Domínio da oratória e 8 6,9 4,6 2,2 5,4


retórica política

Possuir bom trânsito no 6,9 9,2 11,5 11,1 9,7


partido

Possuir boa densidade 14,9 10,3 13,8 8,9 12


eleitoral

Boa reputação pessoal ou 21,8 21,8 21,8 8,9 18,5


prestígio profissional fora
da vida política

Firmeza ideológica 10,3 12,6 9,2 22,2 13,7

Apoio de movimentos 6,9 5,7 11,5 18,9 10,8


sociais e de base

Disponibilidade (tempo) 8 8 6,9 8,9 8

Outras 0 3,4 0 4,4 2

Total 100 100 100 100 100

Fonte: Bolognesi (2013) O autor chama atenção para o fato de que, exceto pelo PT, os
partidos não apresentam diferenças significativas entre os crité-
rios que os candidatos acreditam ser importantes para fazer parte
das listas eleitorais. Firmeza ideológica e apoio de movimentos
sociais e de base são aspectos com destaque acima da média
geral entre os petistas. Em sentido inverso, possuir recursos
financeiros próprios ou boa reputação pessoal não são critérios
percebidos como relevantes por estes candidatos. Perguntando
sobre quem eles acreditavam ser os responsáveis por fazer a

68
seleção dos candidatos – entre filiados, delegados, líderes ou um
líder único – a maioria dos petistas (68%) apontou os delegados,
seguidos dos filiados e dos líderes. Os candidatos do PSDB e do
PMDB, por sua vez, indicaram os líderes do partido (52% e 61%,
respectivamente), seguidos dos filiados e dos delegados. Já os
candidatos do DEM, depois dos líderes (56%) elencaram não os
filiados ou delegados, mas sim o líder único do partido (26%).
Neste mesmo survey, os candidatos são questionados se haviam
sido indicados para a lista ou se passaram por escolhas através
do voto, entendendo que votações supõem a participação de um
número maior de pessoas, ainda que sejam grupos de lideranças.
Entre os petistas, 77% dizem que foram selecionados por meio
de votação. No PSDB, PMDB e DEM, segundo o que apontam os
candidatos, predomina o método de indicação. Nesse sentido, o
PT seria de acordo com o autor o partido mais democrático, entre
os quatro abordados, seguido do PSDB e do PMDB. No outro
oposto estaria o DEM, dado o pouco espaço para a participação
de delegados e filiados no processo de seleção de acordo com
o autor.

Por fim, outro aspecto observado em relação ao recrutamento


partidário diz respeito ao espaço para participação de setores
que se encontram historicamente em situação de desigualdade.
Quanto à questão de gênero, o dado é que a mulher precisou
esperar o século XX para ser inserida de forma marcante nos
sistemas democráticos ao redor do mundo de forma mais ampla
(Dantas, 2007)34. No Brasil, o voto feminino foi assegurado pelo
Código Eleitoral de 1932, que previa o direito de voto apenas às
mulheres casadas, com autorização dos maridos e às mulheres
solteiras ou viúvas, com renda própria. A Constituição Federal
de 1934 elimina essas restrições e determina a obrigatoriedade
do voto apenas para as mulheres com funções remuneradas em
cargos públicos. Apenas a Constituição de 1946 garantiu a obri-
gatoriedade plena do voto para todas as mulheres, nos mesmos
termos exigidos aos homens (Thame, 2015).

 69
32 Lei nº 12.034, de 29 Quanto à representação efetiva desse segmento, apenas em
de setembro de 2009
<http://www.planalto.gov.
1986 as mulheres foram eleitas em um número um pouco mais
br/ccivil_03/_ato2007- expressivo para integrar a Câmara dos Deputados (5,33%, o que
2010/2009/lei/l12034.htm> representava 26 deputadas). E somente nos anos 90 foram eleitas
33 Resolução TSE nº
mulheres como titulares para o Senado Federal, bem como a
23.373 de 2011 <http:// primeira governadora no país (Thame, 2015) . Ademais, além da
www.tre-sc.jus.br/site/ garantia legal de que as mulheres possam votar, ações afirmativas
legislacao/resolucoes/
tse/2011/resolucao-tse-
determinam a política de cotas visando à ampliação da partici-
-n-233732011/> pação feminina e a criação de maior equilíbrio entre gêneros no
plano da representação política.

No Brasil, o sistema de cotas para candidaturas de mulheres foi


instituído pela Lei dos Partidos Políticos de 1995, com validade
para as eleições do ano seguinte, que previa que, no mínimo,
20% das vagas de cada partido ou coligação deveriam ser
preenchidos por candidaturas de mulheres. Thame aponta que
a conquista foi um grande marco na história da participação das
mulheres nas eleições, pois partidos que antes sequer tinham
mulheres em seus quadros de filiados passaram a fazer campa-
nhas de filiação para atrair candidatas. Até 1994, o volume de
mulheres não ultrapassava o total de 200 candidaturas. Ademais,
esse incentivo passou a obrigar os partidos a incorporarem em
seus discursos as preocupações com questões femininas.
Abaixo se observa a proporção de mulheres, tanto em relação
ao total de candidaturas lançadas como em relação ao total de
eleitos. Após a eleição de 1998, primeira eleição para Câmara
a ocorrer sob o sistema de cotas, observa-se um considerável
avanço, principalmente entre o pleito de 2006 e o de 2010, que
se associa ao marco de 200932, quando os partidos passam a ser
obrigados a preencher, e não apenas reservar, o mínimo de 30%
e o máximo de 70% para candidaturas de cada sexo em eleições
proporcionais. Todavia, por não estabelecer nenhuma sanção
efetiva ao partido que não preenchesse a cota, a baixa partici-
pação feminina nas candidaturas partidárias permaneceu até
2012, e a maioria dos partidos não conseguia atender ao percen-
tual mínimo. A partir de então a justiça eleitoral passou a observar
que a proporção mínima de gênero seria estritamente exigida.

70
Tabela 9 - Participação feminina na Câmara dos Deputados

Candidatas Total de % Candidatas Mulheres Total eleitos % mulheres


mulheres candidatos culheres eleitas eleitas

1998 353 3.417 10,3% 29 513 5,7%

2002 490 4.298 11,4% 42 513 8,2%

2006 628 4.956 12,7% 46 513 9,0%

2010 1.335 6.015 22,2% 45 513 8,8%

2014 2.272 7.140 31,8% 51 513 9,9%

Fonte: Elaboração própria a


partir dos dados do TSE.
Em regulamentação posterior33, o TSE reforça que o preenchi-
mento das vagas remanescentes pelos órgãos de direção dos
partidos deverão observar os limites mínimo e máximo para candi-
daturas de cada sexo, o que se coloca como mais um incentivo
ao cumprimento das cotas (2014 é a primeira eleição em que se
alcança o percentual estabelecido). Há de se observar, todavia,
que a evolução de deputadas eleitas não se dá no mesmo ritmo
do lançamento de candidatas.

Quanto aos dados para os pleitos municipais, Thame mostra que


há também crescimento na participação feminina, e que em 2012
o percentual exigido pela lei é atingido quanto ao lançamento
de candidaturas a vereador. No entanto, as mulheres ocuparam
neste ano apenas 12,5% dos cargos nos legislativos municipais.
A autora argumenta que isso decorre da ausência de políticas
internas nos partidos que estimulem e preparem as mulheres a
uma maior atuação política-eleitoral, ou mesmo da falta de acesso
a recursos no interior do partido, o que se revela pela presença
muito pequena de mulheres nos espaços de decisão partidária.

Nesse sentido, o trabalho de Sacchet e Speck (2012) compara a


arrecadação de campanha de mulheres e homens candidatos ao
cargo de deputado federal, tendo como referência a eleição de
2006. Os autores concluem que um dos fatores explicativos para
a sub-representação das mulheres - na América Latina, o Brasil
é o segundo país com mais baixo índice de mulheres em cargos
legislativos federais - é que suas arrecadações de campanha

 71
são significativamente menores. Naturalmente, candidatos com
mais expectativa de sucesso tendem a atrair mais recursos de
campanha. Os autores problematizam, no entanto, se a desvan-
tagem das candidaturas femininas decorre da própria descrimi-
nação de gênero, ou do fato de a experiência e participação das
mulheres na vida pública ser mais recente.

Trabalhos como o de Barreira e Gonçalves (2012) voltam um


passo atrás ao momento eleitoral e exploram como as mulheres
se posicionam dentro de uma estrutura partidária, que meca-
nismos os partidos vêm criando para inibir ou acelerar a parti-
cipação das mulheres e quais outros fatores constrangem a
presença feminina na elite política. Com base em um estudo
de caso feito com dirigentes partidários homens, as autoras
observam o discurso recorrente de que as mulheres não se
interessam em apresentarem-se como postulantes a cargos na
política, ou que obstáculos de ordem privada (como a carga de
trabalho excessiva e a incompatibilidade com os compromissos
familiares) comprometem sua participação. Essas percepções,
mesmo quando identificam a existência de machismo e discrimi-
nação de gênero, tendem a localizar os elementos de constran-
gimento à participação feminina fora dos partidos. Já pela ótica
das mulheres, identifica-se que parte da responsabilidade seria
dos próprios partidos e dirigentes partidários, e que faltam ações
concretas para estimular que as mulheres efetivamente ocupem
espaços. Nesse sentido algumas legendas adotaram discursos e
atitudes que precisam ser verificadas na prática. Primeiramente
quase todas as legendas criaram grupos internos específicos
para mulheres, justamente visando ao recrutamento feminino.
Em segundo lugar, passaram a dar destaque para representantes
femininas, pois a lei exigiu que parte do horário eleitoral no rádio
e na TV zelasse pela distribuição entre gêneros nas eleições
proporcionais. Ademais, partidos passaram a fazer discursos
conclamando as mulheres e seus direitos, bem como reservaram
vagas em seus organismos de direção. Nesse caso, em especial,
o PT é o que avançou de forma mais expressiva, com igualdade
de gênero em seus organismos.

72
Até aqui foi possível notar a preocupação com a compreensão
por meio de exemplo e de uma série de estudos associados à
estruturação e funcionamento dos partidos políticos. O intuito,
como já dito, não é que esse livro se configure numa absoluta
e bem acabada revisão bibliográfica, tampouco num enfadonho
resumo acadêmico, mas sim num documento capaz de provocar
o leitor para a quantidade imensa de aspectos a serem percebidos
na complexa realidade dos partidos políticos. As legendas aqui
pesquisadas e utilizadas como exemplo respondem por parte
expressiva dos filiados e eleitos no país, mas é absolutamente
essencial que os leitores interessados em se filiarem ou conhe-
cerem melhor os partidos, por exemplo, contabilizem sob a luz
das questões tratadas aqui, o cotidiano de outras legendas. Isso é
absolutamente fundamental, no sentido de aprimorar escolhas e
aguçar provocações.

 73
74
5 Organismos de formação

Como dito anteriormente os partidos políticos brasileiros tem


entre suas obrigações legais a constituição de fundações de
direito privado responsáveis pela formação política e doutrinação
sob as bases de crenças e percepções da realidade. Na tabela 10,
é possível notar que, com duas exceções não localizadas, temos
fundações em todos os partidos políticos. Seguindo a lógica legal
associada ao Fundo Partidário são organizações que, somadas,
tinham orçamento em 2015 estimado na casa dos pouco menos
de R$ 180 milhões – considerando a aplicação de 20% do recurso
público recebido em ações dessas organizações.

Tabela 10 – Fundações e institutos partidários

DEM Fundação Liberdade e Cidadania

NOVO Fundação Novo

PCB Fundação Dinarco Reis

PC do B Fundação Maurício Grabóis

PCO Não constava sequer o estatuto no site em fev-16

PDT Fundação Leonel Brizola - Alberto Pasqualini

PEN Fundação Ecológica Nacional

PHS Fundação Solidarista

PMB Não constava sequer o estatuto no site em fev-16

PMDB Fundação Ulysses Guimarães

PMN Fundação Juscelino Kubitschek

PP Fundação Milton Campos

PPL Fundação Claudio Campos

PPS Fundação Astrojildo Pereira

PR Fundação Álvaro Valle

PRB Fundação Republicana Brasileira

PROS Fundação da Ordem Social

 75
PRP Fundação Dirceu Gonçalves Resende

PRTB Instituto Jânio Quadros

PSB Fundação João Mangabeira

PSC Fundação Instituto Pedro Aleixo

PSD Espaço Democrático

PSDB Instituto Teotônio Vilela

PSDC Instituto Democrata Cristão de Formação Política

PSL Instituto Milton de Lyra Bivar

PSOL Fundação Lauro Campos

PSTU Instituto José Luiz e Rosa Sundermman

PT Fundação Perseu Abramo

PT do B Fundação Barão Visconde de Mauá

PTB Fundação Instituto Getúlio Vargas

PTC Instituto de Estudos Políticos São Paulo

PTN Fundação Dorival de Abreu

PV Fundação Verde Herbert Daniel

REDE Instituto Democracia e Sustentabilidade

SD Fundação 1º de Maio

Fonte: Estatutos e sites


dos partidos

76
Estudos nessa área ainda são escassos, mas de acordo com
Fernandes e Dantas (2012) existem diferenças na forma como tais
organizações são percebidas e utilizadas pelos partidos. Assim,
“apresentam convergências e divergências que nos permitem
situá-los em perspectiva de sua capacidade de produzir pesquisa
e de sua capacidade de se apresentar com relativo distancia-
mento das disputas político partidárias do cotidiano”. No primeiro
ponto destaca-se o fato de que há diferenças na forma como se
organizam, ou seja, existe, principalmente, uma lógica mais ou
menos centralizada de atuação e composição dos organismos
dessas fundações, que por vezes se assemelham muito à própria
organização das legendas – aqui o instituto do PT é mais centra-
lizado e o PSDB mais descentralizado, por exemplo. No segundo
ponto é perceptível, em alguns casos, que a fundação tenha
agenda independente do calendário eleitoral. Estudos nessa área
ainda são escassos, mas de acordo com Fernandes e Dantas
(2012) existem diferenças na forma como tais organizações são
percebidas e utilizadas pelos partidos e, ainda, sobre seus graus
de institucionalização e desenvolvimento das atividades para
as quais foram destinadas. Assim, “apresentam convergências
e divergências que nos permitem situá-los em perspectiva de
sua capacidade de produzir pesquisa e de sua capacidade de
se apresentar com relativo distanciamento das disputas político
partidárias do cotidiano. Como conclusão, o estudo mostra que as
legendas de “esquerda parecem mais capazes de gerar conteúdos
em volume mais expressivo, sendo o PT em termos históricos e
o PSB no que diz respeito ao uso de tecnologias modernas de
educação bons exemplos de organizações que dão continuidade
às suas ações e comunicam-se de forma mais eficiente com suas
respectivas redes”.

Aos ingressantes ou interessados em conhecer ou se filiarem a


partidos políticos parece bastante importante considerar alguns
pontos relativos às atividades das fundações. As agendas são
intensas, mas costumam se concentrar em capitais ou em lugares
onde o partido está mais consolidado. No entanto, algumas
legendas têm se concentrado fortemente em oferecer conteúdos
de formação, doutrinação e reflexão por meio de plataformas
digitais por meio de ensino à distância. A aproximação a partir
desses instrumentos pode ser bastante interessante àqueles que
procuram os partidos.

 77
78
6 Partidos nas arenas eleitorais
e governamentais

Tendo discutido os partidos do ponto de vista organizativo,


iremos observar agora como os mesmos se comportam nos dois
ambientes externos onde atuam: eleitoral e governamental. Incial-
mente serão discutidos os pleitos que são regidos pela lógica
nacional, buscando-se demostrar como a coordenação eleitoral
dá a tônica das disputas para os executivos dos planos federal e
estadual. Serão também discutidas as coligações eleitorais que se
formam para estes pleitos.

Na sequência serão tratadas as eleições atreladas à lógica local


(municipal) e, por consequência, à capacidade organizativa dos
partidos, seu adensamento no território e sua expansão nacional.
Será ainda discutido como os partidos que logram obter repre-
sentação se comportam na formação das coalizões, e, por fim, a
organização dos partidos no campo ideológico – discussões estas
que passarão por pontos já discutidos anteriormente.

 79
6.1 Eleições federais e estaduais

34 LIMONGI, Fernando; A coordenação nacional dos partidos sempre foi uma questão
CORTEZ, Rafael. (2010),
“As eleições de 2010 e o
delicada em um sistema partidário propenso à fragmentação,
quadro partidário”. Novos como o brasileiro, por conta da estrutura federativa e do arranjo
Estudos CEBRAP. Ed. 88. eleitoral. O elevado número de partidos políticos viria confirmar
esta dificuldade dos partidos se institucionalizarem nacional-
mente. Alguns aspectos, todavia, são apontados como elementos
de contrapeso a essa tendência à dispersão, a começar pela
exigência legal de que os partidos estejam organizados em, ao
menos, 1/3 dos estados para poderem participar do processo elei-
toral. De outro lado, a simultaneidade das eleições presidenciais
com as legislativas – consequentemente, do processo de defi-
nição dos candidatos, da arrecadação de recursos e das campa-
nhas – contribuiria com que o sistema tendesse a se estruturar
em torno da disputa nacional.

A respeito da centralidade das eleições nacionais como principais


organizadoras da dinâmica de competição no sistema político,
Limongi e Cortez (2010)34 descrevem como as corridas presi-
dências têm se estruturado progressivamente e resumido estas
competições a um formato bipartidário, que decorre da lógica
imposta por eleições majoritárias em um distrito tão grande
quanto o Brasil. Esta tendência se pronunciaria a partir de 1989,
eleição inaugural do período atual democrático, em que 22 siglas
se arriscaram a lançar candidato à presidência num cenário de
acentuada incerteza política marcada por uma distância de quase
30 anos para a até então última eleição presidencial direta ocor-
rida em 1961. Em 1989, algumas legendas surgiram, especial-
mente para lançarem candidatos, e apenas poucas alianças foram
celebradas. Ou seja, todos queriam testar sua força na demo-
cracia que se instaurava. A partir de então, como mostra a tabela
11, a concentração passou a se dar em torno de PSDB e PT, com
duas vitórias em primeiro turno do primeiro e quatro êxitos em
segundo turno do segundo.

80
Tabela 11 - Eleições presidenciais (1989-2014)

PT PSDB PT + PSDB 3o lugar

1989* 17% 12% 29% 16% (PDT – Leonel Brizola)

1994 27% 54% 81% 7% (Prona – Enéas Carneiro)

1998 32% 53% 85% 11% (PPS - Ciro Gomes)

2002 46% 23% 70% 18% (PSB – A. Garotinho)

2006 49% 42% 90% 7% (PSOL - H. Helena)

2010 47% 33% 80% 19% (PV – Marina Silva)

2014 42% 34% 76% 21% (PSB – Marina Silva)

*em 1989 o PSDB foi o Na eleição de 1994 a fragmentação deixa de ser traço predomi-
quarto colocado no primei-
ro turno das eleições com
nante. Ao contrário de 1989, este pleito ocorre em concomitância
Mario Covas às eleições para o Congresso Nacional e os estaduais, onde se
escolhem governadores e deputados estaduais. Nesse caso,
Fonte: Adaptado de
Limongi e Cortez (2010)
sinais de coordenação dos partidos já são esboçados. De um
lado, PSDB, PFL e PTB compõem a aliança de sustentação de
Fernando Henrique Cardoso. De outro, o PT reedita a candida-
tura de Lula (o que irá se repetir pelas próximas três eleições),
assim como a aliança com o PSB e o PC do B firmada em 1989,
somando a ela outras três legendas (PPS, PV e PSTU). O PMDB,
junto ao PSD, lança também uma candidatura – sua última até o
período atual, com Orestes Quércia. Além das três chapas outros
cinco partidos lançam candidatos isolados. Limongi e Guar-
nieri (2014) salientam que a aliança do PSDB com o PFL se deu
em consideração à necessidade de o partido garantir apoio no
Nordeste, e à revelia da ala baiana dos tucanos. Isso já revelaria
a necessidade de que a estratégia nacional de um partido fizesse
concessões no nível local – fenômeno fortemente visto até hoje.

Em 1998 o PSDB ampliou sua coligação, com a incorporação


do PPB e do PSD. O PT, por sua vez, perdeu o apoio das três
legendas que haviam se aproximado em 1994 – o PPS lançaria
a candidatura de Ciro Gomes. Mas o PT incorporou à chapa de
Lula o PDT e o PCB. Os autores notam que, àquela altura, PMDB,

 81
PDT e PPB já estavam revisando suas estratégias e abrindo mão
de lançar candidaturas próprias. Notam ainda que assim como
fizera o PSDB na eleição anterior, abrindo mão de lançar candida-
turas estaduais no Nordeste em troca do apoio nacional do PFL,
o PT abortou sua candidatura no Rio de Janeiro para garantir o
apoio de Leonel Brizola. A candidatura de Ciro Gomes, por sua
vez, concentrou apoio no Ceará e se irradiou dentro da região
Nordeste, evidenciando, segundo os autores, a barreira da disputa
presidencial à entrada de novos competidores, sobretudo se
apoiado em bases estaduais.

Na eleição seguinte, em 2002, o PSDB não resistiu no governo.


Além do desgaste da situação, o partido não conseguiu fechar
o apoio do PFL em 2002 – o afastamento está associado a uma
tentativa frustrada da Frente Liberal lançar a candidatura de
Roseana Sarney, inviabilizada por ação da Polícia Federal no
início do ano que as vítimas creditaram a uma manipulação
institucional do PSDB visando ao apoio à candidatura de José
Serra. O PT, do outro lado, perdeu o apoio do PDT e do PSB, seu
aliado tradicional, que lançou a candidatura de Anthony Garo-
tinho, cujo apoio se concentrou no Sudeste e entre os evangé-
licos. Em contrapartida, Lula incorporou à chapa o PL, de onde
foi destacado o vice, José Alencar – aliança que teria se motivado
não pela incorporação do capital eleitoral do partido, mas pelo
peso simbólico de um vice ligado ao alto empresariado brasileiro,
visando à mitigar a imagem de esquerda mais radical do partido.
No segundo turno o PT angariou o apoio do PSB novamente e
do PPS. O mesmo não ocorreu com o concorrente – e assim o
partido chegou à presidência em 2002, com a incorporação de
novos eleitores. No caso dessa eleição, em especial, destaque
para o fato de a justiça eleitoral ter interferido no formato das
alianças por meio da verticalização, interpretação que proibia
adversários federais de se aliarem nos estados. O mesmo movi-
mento se repetiu em 2006, e deixou de existir graças a uma
emenda constitucional a partir do pleito de 2010.

Em 2006 o PSDB recuperou a parceria com o PFL, enquanto o


PT se lançou coligado apenas ao PC do B e ao PRB – fruto do
afastamento das legendas gerado pela verticalização, sendo que
seis dos dez maiores partidos brasileiros à ocasião não estiveram
formalmente nesse pleito: PMDB, PSB, PTB, PL, PPB e PPS.

82
PSOL e PDT constituem possibilidades de formação de “terceiras
alternativas” que findam tendo peso baixo, capaz apenas de gerar
o segundo turno, algo relevante à ocasião. Cabe aqui destacar um
intenso debate no sentido de uma suposta transformação na base
social do PT após sua primeira experiência como situação, nota-
damente no que diz respeito às políticas assistências de governo
nesse pleito de 2006. Limongi e Guarnieri (2014) mostram em
seus dados que o crescente apoio entre os eleitores menos
educados nada mais seria do que um aprofundamento de uma
tendência iniciada em 2002, de expansão do partido para além de
suas bases tradicionais, quando ainda não dispunha da máquina
do Estado. Em termos regionais os autores mostram como em
1989 a legenda já tinha entrada no Nordeste. Por fim, a fragili-
zação do PFL e do PSDB na região também deixaria espaço para
o avanço petista.

A eleição de 2010, segundo Limongi e Guarnieri, segue os marcos


das anteriores. A terceira força, nesta ocasião, irá se beneficiar
dos votos tomados de ambos os partidos, posto que Marina Silva
(PV) dialogou de maneira mais ampla do que o teria feito Heloísa
Helena (PSOL) e Cristóvam Buarque (PDT). Com relação às coliga-
ções, com o fim da verticalização se revelam as maiores de todo o
período. O PT recupera o apoio do PSB, do PDT e, notadamente,
do PMDB, que faz a primeira adesão formal à chapa do partido
no pleito presidencial em troca da vice-presidência. Novamente
a lógica das negociações estaduais se revela: o PT abre mão de
se lançar ao governo no Ceará e no Pernambuco, em concessão
ao PSB, e em Minas Gerais e no Rio, em benefício do PMDB
(Limongi e Guarnieri, 2014). O ano de 2010 foi aquele em que o
PT lançou o menor número de candidatos a governador em sua
história recente: 10, contra 19 de 1994, 16 de 1998, 24 de 2002,
18 de 2006 e 17 de 2014. O PMDB idem.

Com relação às eleições de 2014, que não haviam ainda se


passado quando da elaboração do trabalho dos autores, os prog-
nósticos foram no mesmo sentido, confirmados após a eleição.
A terceira força, representada por Marina Silva (PSB) após a
morte de Eduardo Campos (PSB), ganhou ainda mais apelo, pois
além de se valer do desgaste da situação e dos limites da candi-
datura da oposição, se beneficiou de todo o contexto mobilizado

 83
com o acidente fatal de seu companheiro de legenda. Entretanto,
a despeito dessas vicissitudes, PT e PSDB disputaram mais um
segundo turno, do qual saiu vitoriosa a situação. Em resumo,
o cenário das eleições nacionais se mostra realmente ocupado
pelas forças do PT e pelo PSDB, seguidas sempre de um terceiro
lugar que, ocupado por diferentes partidos, denota a dificuldade
de se construir uma alternativa consistente para disputar a presi-
dência. Lógicas estaduais e municipais por vezes apontam o
mesmo tipo de comportamento. Por sinal, é muito comum assistir
a disputas renhidas entre dois grupos que concentram maiores
votações nos estados e municípios.

O cenário das eleições nacionais se


mostra realmente ocupado pelas forças
do PT e pelo PSDB, seguidas sempre
de um terceiro lugar que, ocupado por
diferentes partidos, denota a dificuldade
de se construir uma alternativa
consistente para disputar a presidência

Assim, com relação às disputas majoritárias no nível estadual,


apenas este resumo da dinâmica presidencial já fornece alguns
vestígios. Ainda que sejam eleições disputadas em outra circuns-
crição eleitoral, estão bastante relacionas às eleições nacionais,
posto que as alianças celebradas em uma esfera têm impacto nas
disputas para o executivo estadual, notadamente na decisão de
não participar da disputa em troca de apoio político – lembrando
que 2002 e 2006 traziam ainda a lógica da verticalização. A este
fenômeno, próprio das eleições majoritárias, se dá o nome de
coordenação, cuja ideia é que a competição eleitoral se inicia
antes das eleições, propriamente ditas, quando as elites partidá-
rias irão negociar e definir quais opções serão oferecidas ao elei-
torado. A tabela 12 mostra a evolução do número de candidaturas
lançadas nas eleições para os executivos estaduais, do número
de partidos que lançam candidaturas próprias, assim como o
aumento do número de partidos abarcados nas coligações ao
longo do tempo.

84
Tabela 12 - Quadro geral das eleições para governo estadual

1994 1998 2002 2006 2010 2014

No Candidatos 134 151 202 208 164 169

Média de Candidatos por 4,96 5,59 7,48 7,70 6,07 6,26


UF

No Partidos Candidatos 17 24 25 29 24 32
Próprios

Coligações 78 86 108 107 80 95

% Coligações em relação 58% 57% 53% 51% 49% 56%


ao total de Candidatos

Média de Partidos por 4,40 6,49 4,87 4,96 7,00 7,77


Coligação

Fonte: Elaboração própria a Considerando os partidos que mais lançam candidatos, o PT é o


partir dos dados do TSE
primeiro da lista, com 85 candidaturas no período que vai de 1998
a 2014. Em seguida vem o PMDB, com 82 candidaturas próprias
lançadas, e o PSDB com 71. O PSB, por sua vez, lança 59 candi-
datos. Além destes partidos, de maior peso eleitoral nas disputas,
figuram também as pequenas legendas de esquerda (PSOL,
PSTU, PCO e PCB) entre os partidos que mais lançam candida-
turas próprias no período – naturalmente, seguindo a estratégia
de marcar presença nas eleições, a despeito de suas chances
reduzidas de sucesso eleitoral. A presença dos demais partidos
é mais escassa e irregular, incluindo legendas até então consi-
deradas como grandes: PDT e PFL/DEM lançam na ordem de 30
candidatos, enquanto PTB, PP/PPB e PL/PR lançam no máximo 15
candidatos próprios, considerando as cinco eleições
e os 27 estados.

No que diz respeito às alianças estabelecidas a multiplicação


de 27 estados por seis eleições, de 1994 a 2014, nos trará um
total de 162 disputas de governos locais em que PT e PC do B
estiveram unidos em pouco mais de 75% delas. Trata-se da mais
emblemática aliança para a disputa de governos estaduais, sendo
que nenhuma outra ultrapassa 50 pontos e atesta a heterogenei-
dade de acordos se considerarmos 11 partidos: PT, PC do B, PSB,
PDT, PPS, PMDB, PSDB, PTB, PP, DEM e PR. Em contrapartida

 85
a lógica de afastamento, importante para percebermos as asso-
ciações entre os partidos, registra as alianças entre PSDB e PT,
PSDB e PC do B, DEM-PFL e PT, DEM-PFL e PC do B como as
únicas que ocorreram em menos de 10% do total de disputas,
sendo que nenhuma não deixou de ocorrer ao menos uma vez.
Voltaremos aos estados mais adiante.

Em uma análise mais detida destas disputas, estado a estado,


trabalhos mostram ter havido, também para as eleições de 1994
a 2014, um processo de simplificação acentuado das competi-
ções. Limongi e Cortez (2010) observam que apenas outros três
partidos além do PT e do PSDB têm mostrado condições de obter
apoio eleitoral significativo para disputar governos estaduais:
PMDB, PSB e DEM-PFL (este último cada vez menos). Somados,
estes cinco partidos conquistaram 26 dos 27 governos estaduais
em 2010, tendo recebido 82,95% dos votos nacionais válidos
nestas disputas.

Tabela 13 - Governadores Eleitos (1994-2014)

Partido 1994 1998 2002 2006 2010 2014

PMDB 9 6 5 7 5 7

PT 2 3 3 5 5 5

PSDB 6 7 7 6 8 5

PSB 2 2 4 3 6 3

PDT 2 1 1 2 - 2

PP 0 2 - 1 - 1

PTB 0 - - - - -

PR 0 - - - - -

DEM 2 6 4 1 2 -

Outros 4 - 3 2 1 4

Fonte: Elaboração própria a


partir dos dados do TSE

86
Limongi e Cortez argumentam ainda que a dinâmica bipartidária
dos pleitos estaduais tende a acompanhar os blocos formados
nas eleições nacionais, ou que, no mínimo, as parcerias esta-
belecidas no pleito nacional seriam boas preditoras de como
os partidos se comportariam nos estados – a despeito de em
algumas realidades as principais campanhas seguirem um
mesmo candidato presidencial, como no Rio de Janeiro em 2014
em que, oficialmente, os quatro primeiros colocados no primeiro
turno (PMDB, PRB, PR e PT) somaram 90% dos votos válidos e
foram lançados por partidos da coligação de Dilma Rousseff (PT)
à Presidência.

Observando PT e PSB, por exemplo, nos anos que lograram selar


parceria nacionalmente (1994, 1998 e 2010), o caso onde se
enfrentam diretamente (isso é, como cabeça de chapa) é exceção
(em São Paulo na eleição de 2010). A reedição da aliança em
2010, inclusive, se mostrou particularmente frutífera para o PSB,
pois é neste ano que o partido elege o maior número de governa-
dores, comparativamente aos demais e à sua própria trajetória.
Já na eleição de 2002, no entanto, quando o PSB resolveu lançar
candidato próprio à presidência, ambos se enfrentaram direta-
mente na maioria dos estados, e na eleição de 2014, quando a
parceria entre PT e PSB é rompida novamente, apenas em cinco
estados os dois partidos não competem em coligações diferentes.

A parceira de PSDB e PFL, de outro lado, apresenta outras parti-


cularidades. A aliança nacional, mais duradoura - apenas em
2002 não selam a coligação, e o PFL fica de fora do pleito -, não
impede que os partidos componham acordos diferentes nos
estados, muito embora estes casos tenham diminuído progres-
sivamente, sobretudo quanto aos enfrentamentos diretos, como
cabeça de chapa. Este movimento, todavia, relaciona-se mais
ao fato de que o PFL/DEM progressivamente vai deixando de
lançar seus próprios nomes, com ápice em 2014, quando o
partido não elege governador em nenhuma unidade federativa.
Em 2010, venceu em Santa Catarina e no Rio Grande do Norte,
mas a fundação do PSD em 2011 levou o catarinense Raimundo
Colombo do partido, e o governo de Rosalba Ciarlini (DEM) foi o
mais mal avaliado do Brasil naquele quadriênio.

 87
Se PT e PSDB predominam
nacionalmente, no nível estadual o
PMDB tem seu peso relevado. Tendo
deixado de apresentar candidatura
própria à presidência desde 1994, o
partido é expressivo em vários estados,
e capaz tanto de compor como de
rivalizar em votos com ambos os
grandes blocos
Ou seja, ainda que o controle do PT e do PSDB sobre as eleições
presidenciais não se estenda às disputas pelos governos esta-
duais, muito da dinâmica desta competição é compreendida a
partir da coordenação dos partidos entre os níveis. Se PT e PSDB
predominam nacionalmente, no nível estadual o PMDB tem seu
peso relevado. Tendo deixado de apresentar candidatura própria
à presidência desde 1994, o partido é expressivo em vários
estados, e capaz tanto de compor como de rivalizar em votos com
ambos os grandes blocos. Essa oscilação, em termos eleitorais,
parece estratégica para o partido, que estabelecendo estratégias
muitas vezes descentralizadas elege mais governadores do que os
demais, de maneira geral.

A compreensão de todo esse fenômeno de coordenação é funda-


mental na realidade de quem escolhe um partido político. Isso
porque no caso dos pleitos estaduais e federais é muito comum
que as articulações atinjam a foram de se fazer campanha nos
municípios. Não é incomum que prefeitos e vereadores sejam
levados a pedirem votos para candidatos de outros partidos,
ou para legendas que aliadas em outros planos são adversárias
localmente. Esse desarranjo é próprio de certas realidades e

88
35 Embora não se tenha mais acentuado em alguns partidos. EM relação à sobreposição
tratado com mais detalhe
do Senado Federal, eleito
de interesses entre aspectos estaduais e federais, o exemplo do
também pela regra ma- Maranhão é emblemático. Por duas eleições seguidas, e em troca
joritária, cabe destacar de acordos nacionais, o PT apareceu formalmente na chapa do
que são estes também os
partidos que mais elegem
PMDB da família Sarney, disputando contra um aliado tradicional,
Senadores dentro de todo do PC do B, que em 2014 findou sendo eleito.
o período tratado, na se-
guinte ordem: PMDB>PFL/
DEM>PSDB>PT, com mais
Já as eleições para o Legislativo apresentam outra dinâmica.
de 30 senadores eleitos no Se o método majoritário35 tende naturalmente a reduzir o número
período. Na segunda faixa, de competidores efetivos e concentrar a competição em torno
entre 10 e 20 senadores
eleitos: PDT>PSB>PTB>PP.
das principais forças políticas, o método proporcional em distritos
plurinominais possibilita que mais partidos tenham espaço no
Congresso, justamente pelo princípio de ser mais representa-
tivo. De maneira geral, o diagnóstico negativo de que o quadro
partidário brasileiro é excessivamente fragmentado tende a se
fixar neste pleito, por conta da preocupação de que a dispersão
de poder no legislativo coloque obstáculos à governabilidade.
A reforma política, no entanto, não logrou êxito em limitar a
presença de partidos no parlamento, tendo sido a derrubada
da cláusula de barreira em 2006 o maior exemplo da dificuldade
em estabelecer critérios para barrar a entrada de legendas no
Legislativo.

Nesse caso, autores defendem que o quociente eleitoral já é uma


cláusula de desempenho que evita entradas, mas cálculos base-
ados em resultados recentes mostram que poucos são os casos
impedidos de serem representados por meio desse expediente.
A despeito de tal fato, o que se viu em 2015 foi uma nova forma
de tentar reduzir minimamente a entrada políticos, não de
partidos, nos parlamentos por meio da reforma política. O cálculo
proporcional agora exige que candidatos fortemente beneficiados
pela votação expressiva de puxadores de votos – mas também
de voto de legenda – tenham votação nominal equivalente a
pelo menos 10% do quociente eleitoral. Em caso negativo, não
conquistam a vaga, redistribuída pelo sistema de maiores médias.

 89
Tabela 14 - Eleições para a Câmara de Deputados (eleitos e votos%)

Partido 1994 1998 2002 2006 2010 2014

PMDB 107 21% 83 16% 74 14% 89 17% 79 15% 165 13%

PT 49 10% 58 11% 91 18% 83 16% 88 17% 68 13%

PSDB 62 12% 99 19% 71 14% 66 13% 53 10% 54 11%

PFL/DEM 89 17% 105 20% 84 16% 65 13% 43 8% 21 4%

PPB/PP 52 10% 60 12% 49 10% 41 8% 41 8% 38 7%

PSB 15 3% 19 4% 22 4% 27 5% 34 7% 34 7%

PDT 34 7% 25 5% 21 4% 24 5% 28 5% 20 4%

PL/PR 13 3% 12 2% 26 5% 23 4% 41 8% 34 7%

PTB 31 6% 31 6% 26 5% 22 4% 21 4% 25 5%

Subtotal 452 88% 492 96% 464 90% 440 86% 428 83% 359 70%

Outros 61 12% 21 4% 49 10% 73 14% 85 17% 154 30%

Total 513 100% 513 100% 513 100% 513 100% 513 100% 513 100%

Fonte: Elaboração própria a Constam na tabela 14 os partidos que, na média de todo o


partir dos dados do TSE
período, obtiveram mais do que 5% das cadeiras na Câmara dos
Deputados, e aparecem ordenados segundo seu desempenho. PT,
PMDB, PSDB, DEM e PP, juntos, controlaram entre 60% e 70%
das cadeiras do legislativo. O que pesa na redução deste valor
na última eleição (passa a ser 50%) é o enfraquecimento do PFL/
DEM. O PMDB, na média, é o partido que obteve maior represen-
tação na Câmara. PT e PSDB acompanham, em alguma medida, o
desempenho para presidência, enquanto o PFL/DEM, que possui
a segunda maior bancada em 1994 e a maior em 1998 (a última a
eleger mais de 100 deputados), tem sua presença drasticamente
reduzida ao longo da série – o que deve ser compreendido à luz
do surgimento do PSD que, embora não conste na tabela por
ela levar em conta o desempenho ao longo de todo o período, é
formado em 2011 a partir de expressiva dissidência no seio dos
Democratas e conquista a quinta maior bancada em 2014.

90
Há ainda um grupo de partidos intermediários controlando
sempre perto de 20% das cadeiras. É o caso do PL/PR, que
aumenta o patamar de sua representação a partir de 2002,
quando o partido se fortalece com seu candidato a vice-presi-
dente. O PSB experimenta um crescimento considerável, posto
que entre 1994 e 2014 dobra a sua dimensão, enquanto PDT e
PTB se mantêm relativamente estáveis. O restante das cadeiras
é ocupado pelos demais partidos, que ultrapassam 20% da
composição da Câmara apenas na última eleição, por conta do
PSD ter sido incluído neste grupo. No início da série existem nove
diferentes legendas com este percentual menor de cadeiras. Este
número tende a aumentar, e em 2014 são 18 partidos contro-
lando perto de 20% da Câmara.

Portanto, do ponto de vista do número de partidos com alguma


representação na Câmara, a fragmentação é alta. No entanto,
considerando o peso relativo de cada um deles, a fragmentação
deixa de ser tão acentuada. De todo modo, partidos que não têm
espaço nas eleições executivas no plano estadual, sobrevivem
garantindo algum espaço no legislativo, como é o caso dos
grupos aqui considerados como intermediários.

 91
6.2 Coligações eleitorais no nível estadual

A prática das coligações é frequentemente apontada como um


dos elementos “complicadores” do sistema eleitoral brasileiro,
cujo efeito seria de tornar ainda menos inteligível o quadro parti-
dário, composto por uma miríade de partidos cujos padrões de
relacionamento variam em cada esfera. Kinzo (2004) pontua,
nesse sentido, que ao mesmo tempo que as coligações são
uma necessidade em virtude da fragmentação do sistema parti-
dário, são também causadoras da entrada de tantos pequenos
partidos, que saem das eleições demasiadamente beneficiados,
comparando-se a proporção de cadeiras obtidas a de votos
conquistados. Por outro lado, as coligações podem ser também
percebidas com menos pessimismo, por assim dizer, como um
recurso estratégico dos partidos que serviria tanto para ampliar
suas chances eleitorais, como para demarcar suas afinidades
dentro do campo político, sinalizando quais serão as possíveis
alianças estabelecidas no pós-eleitoral ou mesmo no segundo
turno (Machado e Miguel, 2011).

Ao mesmo tempo que as coligações


são uma necessidade em virtude da
fragmentação do sistema partidário,
são também causadoras da entrada
de tantos pequenos partidos, que
saem das eleições demasiadamente
beneficiados, comparando-se a
proporção de cadeiras obtidas a de
votos conquistados
De todo modo, não são únicos os incentivos para formação
de uma coligação, e o pragmatismo das estratégias eleitorais
parece cumprir um papel fundamental. A exigência legal mínima
é a de congruência na formação de coligações dentro de um
mesmo distrito eleitoral – isto é, partidos que apoiam diferentes
candidatos a governador ou prefeito não podem compor listas
comuns para os cargos legislativos – posto que a verticalização
imposta pela Justiça Eleitoral – que exigia congruência entre

92
os níveis federal e estadual – durou apenas duas eleições, a de
2002 e 2006. Mas dentro de uma mesma chapa majoritária local
(prefeito, por exemplo) diferentes chapas podem ser compostas
para a disputa de cadeiras legislativas entre os partidos que
compõem este primeiro grupo. Quanto às restrições por parte dos
próprios partidos, Dantas (2007) mostra que os estatutos tendem
a citar as coligações de forma abrangente, sobretudo no plano
municipal.

Frente a toda essa liberdade da qual dispõem os partidos para


celebrarem suas alianças, a literatura buscar investigar a consis-
tência ideológica das relações estabelecidas entre os partidos
nos diversos níveis. Carreirão e Nascimento (2010) avaliam que
não há consenso exato quanto a isso nos trabalhos que se voltam
à análise dos dados das alianças eleitorais. Enquanto alguns
percebem que a inconsistência das coligações não é tão acen-
tuada quanto se pronuncia, outros indicam que as considerações
ideológicas pouco importariam para os partidos ao firmarem seus
acordos, que são antes determinados pelo pragmatismo dos
cálculos eleitorais. Este dissenso, no entanto, é esperado, posto
que a avaliação sobre a consistência das coligações irá variar de
acordo com os critérios de análise adotados.

Descrevendo as eleições majoritárias para os executivos federal


e estaduais ficou patente como a necessidade da coordenação
eleitoral se impõe aos partidos. A formação de blocos ideoló-
gicos consistentes e estáveis ao longo do tempo é esperada,
dada a visibilidade do pleito e sua relevância para a construção
da imagem do partido. Conforme Carneiro e Almeida (2008), os
incentivos para que um partido busque manter sua reputação
são tão fortes quanto mais nítida for sua imagem percebida pelo
eleitorado. Logo, é de se esperar também que os padrões de
formação de alianças variem entre os cargos e os partidos em
questão.

Quanto às eleições para governador, por vezes diretamente


influenciadas pela dinâmica federal, Mesquita (2010) cria uma
tipologia de análise classificando as coligações de acordo com a
sua coerência em relação às alianças celebradas nacionalmente.

 93
36 A classificação foi A autora identifica que o percentual de coligações harmônicas,
formulada por um conjunto
de autores com o objetivo
ou seja, aquelas das quais fazem parte apenas partidos de uma
de fornecer uma padro- mesma coligação presidencial, tende a ser superior compara-
nização de classificação tivamente aos demais tipos de coligação, mesmo nas eleições
a ser utilizada na análise
das coligações em todos
ocorridas após a queda da regra de verticalização imposta pelo
os níveis de governo, no TSE. A autora identifica ainda que para os maiores partidos que
âmbito de um workshop figuram nas disputas estaduais (PT, PSDB, PMDB, PFL/DEM e
patrocinado pela Fundação
Konrad-Adenauer. Visando
PSB), o percentual de coligações harmônicas situa-se acima da
a ser o mais abrangente média geral – e seria ainda maior, não fosse pelo PMDB, cujo
possível, a classificação comportamento é sempre mais oscilante. As coligações contradi-
inclui todas as pequenas
siglas formadas desde a
tórias, de outro lado, têm ficado por conta dos partidos menores,
redemocratização, mesmo para os quais os custos de coordenação nos dois níveis parecem
aquelas cuja existência foi mais altos. O argumento da autora é que estes partidos cruzam
breve e destinada a lançar
candidatos em uma única
mais estas “linhas”, pois de um lado têm menos a perder por não
eleição – como o caso das contarem com reputação nacional sólida, e, de outro, têm lide-
legendas habilitadas para ranças nacionais mais difusas, enfrentando maior dificuldade de
disputar as eleições munici-
pais de 1985..
impor suas decisões às seções estaduais.

Carreirão e Nascimento optam por analisar as coligações segundo


o eixo ideológico, tomando por base o contínuo36 da tabela 15, e
classificando-as como consistentes (quando se dá apenas entre
partidos que ocupam um mesmo campo no espectro político),
semiconsistentes (quando envolvem o centro e a direito ou o
centro e a esquerda) e inconsistentes (quando a coligação envolve
os dois polos extremos).

Tabela 15 - Classificação dos partidos na escala esquerda-direita

Esquerda Centro Direita

PCdoB PCB PCO PDT PH PMDB PSDB PAN PAP PAS PASART
PHS PMN PPS PS PSB PBM PCN PD PDC PDN
PSOL PSTU PT PV PDS PEB PFL PGT PJ PL
PLH PLP PLT PMB PMC PN
PND PNT PP PPB PPR PRB
PRN PRONA PRP PRS PRT
PSC PSD PSDC PSL PSN
PST PSU PTB PTC PTdoB
PTN PTR PTRB

Fonte: Carreirão e
Nascimento (2010)

94
Os dados dos autores mostram que, em 1990, cerca de 25%
das coligações para governador se firmaram dentro do mesmo
campo, enquanto 53% teriam cruzado o espectro ideológico.
Na eleição de 2006, embora quase 30% das coligações tenham
se firmado no mesmo campo, 63% foram classificadas como
inconsistentes, aumento este que se explica pela diminuição da
proporção de coligações semiconsistentes. Quanto às coligações
para os cargos proporcionais, a tendência foi de crescimento em
detrimento das candidaturas isoladas, com tendência ainda mais
acentuada à inconsistência.

Considerando todos os cargos, Carreirão e Nascimento observam


crescimento das coligações ideologicamente inconsistentes ao
longo do período. Outra percepção dos autores é que, do ponto
de vista ideológico, os percentuais de coligações inconsistentes
são mais altos nas eleições para governador, seguidos das elei-
ções para senador, deputado federal e deputado estadual. O
argumento é que quanto maior a dificuldade para conquistar um
cargo, maior o estímulo aos partidos em realizar alianças, ainda
que isto incorra em estabelecer acordos ideologicamente incon-
sistentes.

Detendo-se aos principais partidos (PFL, PP, PMDB, PSDB, PDT


e PT), os autores verificam padrões um pouco diferentes, posto
que parte considerável das candidaturas isoladas (sem coliga-
ções) lançadas pertence a partidos menores, que na análise geral
têm o mesmo peso dos partidos grandes. Os autores verificam
que o percentual de coligações consistentes é mais alto entre
esses partidos, sobretudo para o PT, embora o partido pareça
ter transitado entre diferentes estratégias. A legenda lança mais
candidaturas próprias no início do período democrático atual, e
logo passa a integrar mais coligações, que passam a ser menos
consistentes ao longo do tempo e parecem, de acordo com
interpretação recente nossa, colocar a manutenção da Presi-
dência da República como ponto central, justificando, inclusive,
as percepções sobre as concessões frente a desafios mais expres-
sivos (maiores). O PFL, também mais consistente no início do
período, passa a cruzar mais o espectro ideológico, assim como
o PP, sendo que para ambos há um leve predomínio das coli-

 95
gações inconsistentes atualmente. O PDT, por sua vez, sempre
teria integrado mais coligações inconsistentes. PSDB e PMDB,
por estarem ao centro, logicamente apresentaram mais coliga-
ções semiconsistentes, e tenderam a preferir se coligar com a
direita (as coligações entre eles próprios representam percentuais
baixos). De todo modo, mesmo entre os maiores a tendência foi
de crescimento das coligações ideologicamente inconsistentes.

Os autores avaliam ainda as coligações do ponto de vista do


sucesso eleitoral, considerando os pleitos majoritários. A taxa de
sucesso das candidaturas isoladas tende a ser muito mais baixa
comparativamente às coligações, seguida das coligações consis-
tentes. Já as coligações que atravessam diferentes campos ideo-
lógicos tendem a ter as taxas mais elevadas de sucesso eleitoral.
O mesmo valeria considerando a dimensão governo/oposição,
posto que as chapas agregando os dois campos são aquelas que
tendem a um bom desempenho eleitoral – o que derivaria, na
verdade, do fato de que as candidaturas que contam com o apoio
de partidos da coalizão de sustentação ao governo federal tendem
a ter melhor desempenho, de maneira geral.

Ou seja, a sugestão é de que os eleitores não têm punido as


coligações envolvendo diferentes campos, seja do ponto de vista
ideológico, ou em relação ao governo, o que deixaria os partidos
mais livres para transitarem em função de cálculos pragmatica-
mente eleitorais. O lançamento de candidaturas próprias parece
então ser uma estratégia importante não exatamente do ponto
de vista eleitoral, mas sim do ponto de vista de constituição da
imagem do partido, como foi o caso do PT e dos demais partidos
em outrora, e das pequenas legendas de esquerda no período
atual. Tal discussão mostra que o interesse pelos partidos, a
despeito de seus documentos programáticos e posições ideoló-
gicas deve considerar acordos que nem sempre respeitam lógicas
que escapem de críticas e apontamentos.

96
6.3 Presença local dos partidos

A história das eleições para os executivos federal e estaduais


devem ser contadas levando em conta a articulação nacional
das elites partidárias, conforme foi demonstrado. A coordenação
partidária é essencial para compreender a configuração que elas
assumem, a regularidade dos resultados e, em alguma medida, o
sucesso eleitoral dos partidos. Nestas eleições pesam os recursos
de campanha, desde o financiamento até a propaganda eleitoral
gratuita, dada a influência que as ferramentas de comunicação
de massa e o marketing político assumem nas eleições – notada-
mente nas presidenciais.

As eleições para Câmara Federal, ainda que este seja um cargo


nacional, já são disputas em caráter mais regional. Ademais, a
este cargo a coordenação não se impõe à maneira das demais,
posto que os distritos são plurinominais e os partidos não são
impelidos a negociar entre si o lançamento de candidaturas.
Contando com menos recursos – financeiros e tempo de TV,
principalmente – estes candidatos são muito mais dependentes
dos recursos organizativos do partido no nível local para atingir
o eleitorado, através de atividades relevantes, como a campanha
eleitoral física – o porta a porta, por exemplo. Nesse sentido,
interessa retomar elementos da organização dos partidos, para
entender o quadro geral tanto deste pleito, como das próprias
eleições municipais.

Uma das maneiras mais tradicionais de tratar da densidade das


organizações e do partidarismo na sociedade é a partir dos dados
de filiados, a exemplo dos trabalhos clássicos que analisam o
contexto europeu. A despeito da progressiva queda dos volumes
de filiação, refletindo a aproximação destas organizações ao
Estado e correspondente distanciamento em relação à sociedade
civil nas democracias modernas, estes dados permanecem sendo
um dos indicadores relevantes para mensurar o alcance dos
partidos na sociedade como um todo.

Pensando no caso brasileiro, Guarnieri (2012) argumenta que


ainda que a filiação possa não significar muito sobre a partici-
pação política efetiva dos membros na vida partidária em termos
de ativismo e militância, este dado fornece alguma dimensão

 97
de quantas pessoas estão ao alcance do partido, indicando o
tamanho de suas redes locais e o poder de mobilização da orga-
nização. O autor mostra que, a despeito dos baixos níveis de
identificação registrados, comparativamente a outros países a
proporção de eleitores filiados é bastante alta. Como já apon-
tamos, o TSE registra mais de 15 milhões de filiados, o que
representa pouco mais de 10% do eleitorado brasileiro, ficando
atrás da Argentina (33%) e da Áustria (17%), mas acima de média
europeia, por exemplo, que é de 4,65%.

O TSE registra mais de 15 milhões de


filiados, o que representa pouco mais
de 10% do eleitorado brasileiro, ficando
atrás da Argentina (33%) e da Áustria
(17%), mas acima de média europeia,
por exemplo, que é de 4,65%
Outros trabalhos vêm buscando compreender melhor as possíveis
funções concretas associadas à expansão da base de filiados,
sistematizando uma série de pontos e contrapontos envolvidos
na adesão de novos membros, mesmo em contextos onde o
ativismo militante deixa de ser predominante. Aponta-se que uma
ampla base de filiados, por exemplo, pode ser um indicador posi-
tivo para a imagem do partido, sinalizando popularidade, confe-
rido credibilidade à organização. Ademais, o volume de membros
representa o capital eleitoral garantido, sendo aqueles que podem
atuar como multiplicadores de votos – seja através das redes
de contato cotidianas, seja pela influência exercida no caso de
membros com algum potencial enquanto formadores de opinião,
em especial lideranças locais.

Os benefícios relacionados aos membros ativos, propriamente


ditos, seriam a disposição de capital humano para executar as
tarefas locais da organização nos ínterins entre as eleições, além
de representarem o canal de comunicação entre o partido e o
restante do eleitorado, e o trabalho voluntário disponível para
as campanhas. Uma base ampla de filiados significaria também
uma maior reserva disponível de candidatos para disputas no

98
nível local. O peso de cada um desses elementos, naturalmente,
variaria muito entre os partidos ao longo do tempo, determinando
o perfil dos membros que se tem interesse em atrair e o modo
como isso será feito através de incentivos específicos. A estrutura
organizativa do partido não deixa de ser relevante eleitoralmente,
sobretudo para as competições cuja dinâmica de disputa é local,
como para os cargos municipais, por exemplo.

Entre os dez partidos com maior número de filiados, conforme


vimos na tabela 3, no início desse estudo, estão aqueles cuja
estrutura nacional é mais sólida, como também aqueles que
não se apresentam de forma protagonista nos pleitos executivos
nacionais, mas que sobrevivem no Congresso (Câmara e Senado),
conforme discutido anteriormente. Essa relação é esperada, dado
que sobrevivem por contarem com uma estrutura considerável de
organização.

Ao todo, de acordo com os dados do TSE para 2015, são 5.571


municípios no Brasil, cuja população varia muito em magnitude
– Araguainha (MT) registrou-se como o menor colégio eleitoral
em 2014, com 898 votantes inscritos, enquanto São Paulo (SP),
a maior circunscrição municipal, registrou 8.782.406 eleitores
naquele ano. Naturalmente, são altos os recursos para que os
partidos se façam presentes em todos os municípios, sobretudo
arcando com o lançamento de candidatos ao governo municipal
em todos eles. Não à toa já dissemos aqui que dificilmente, em
parte expressiva das realidades, sobretudo nos menores municí-
pios, os órgãos locais dos partidos receberão recursos d Fundo
Partidário, ou mesmo dos cofres das legendas, para suas campa-
nhas.

Observando a eleição municipal de 2012 apenas dez partidos


lançaram candidatos a prefeito em mais de 10% dos municípios
brasileiros. Considerando ainda a série temporal, há oscilações
quando se toma como unidade os partidos. Ainda que o PMDB
permaneça sendo a legenda mais forte no nível local, cujas bases
são difusas e se estendem por todo o país, o partido encolheu
sensivelmente, tanto em termos do percentual de municípios
onde lança candidato, como no número bruto de candidaturas,
sendo que o mesmo vale para o PSDB. Já o PT, no movimento
geral, cresceu, com especial destaque para 2012, quando o

 99
partido mais lançou e mais elegeu candidatos a prefeito. O
DEM, que vinha enfraquecendo, experimentou em 2012 seu pior
desempenho, que se refletiu no despontar do PSD como quarto
partido a mais eleger prefeitos na última eleição.

Tabela 16 - Desempenho dos partidos para os executivos municipais

2000 2004 2008 2012

Partido Candidatos/ Eleitos/ Candidatos/ Eleitos/ Candidatos/ Eleitos/ Candidatos/ Eleitos/


Municípios 2º Turno Municípios 2º Turno Municípios 2º Turno Municípios 2º Turno

PMDB 51,1% 1261 44,5% 1064 47,6% 1205 40,6% 1032

PSDB 37,4% 994 34,5% 881 31,9% 797 29,1% 703

PT 23,6% 190 35,1% 423 29,3% 565 32,0% 651

PSD - - - - - - 19,6% 500

PPB/PP 25,3% 621 22,8% 552 21,6% 552 19,3% 477

PSB 8,6% 133 11,1% 177 15,8% 314 18,6% 440

PDT 16,2% 291 15,3% 308 17,6% 353 15,0% 313

PTB 19,4% 400 19,6% 422 18,0% 414 14,7% 300

DEM 41,3% 1030 31,6% 794 22,2% 497 13,1% 278

PL/PR 10,9% 234 18,6% 383 16,4% 386 12,7% 276

PPS 11,4% 169 16,0% 309 9,3% 131 7,7% 125

PV 2,4% 14 5,3% 57 6,8% 76 7,4% 101

PSC 3,1% 33 3,2% 26 4,5% 57 5,6% 83

PRB - - - - 4,7% 54 5,4% 80

PCdoB 0,5% 2 1,9% 10 3,5% 42 4,1% 55

PMN 1,4% 14 2,7% 31 3,0% 42 3,2% 42

PTdoB 0,9% 6 1,7% 23 1,6% 8 1,9% 25

PRP 1,4% 16 2,7% 37 1,6% 17 2,4% 23

PSL 1,8% 26 2,2% 26 1,7% 15 2,0% 23

PRN/PTC 0,6% 3 1,8% 16 1,7% 13 1,6% 20

100
PRTB 1,0% 4 1,6% 12 1,7% 11 1,8% 17

PSN/PHS 1,0% 6 2,5% 26 1,7% 13 2,1% 16

PTN 0,4% 2 1,3% 5 1,7% 16 1,4% 12

PPL - - - - - - 0,9% 11

PSDC 1,2% 8 2,3% 13 1,7% 8 1,6% 10

PSOL - - - 0 5,0% 0 6,3% 4

PSTU 0,9% 0 1,9% 0 0,6% 0 1,1% 0

PCB 0,1% 0 0,2% 0 0,7% 0 0,6% 0

PCO 0,2% 0 0,6% 0 0,2% 0 0,1% 0

Fonte: Elaboração própria Interessante notar ainda que mesmo os partidos mais fortes têm
a partir dos dados do TSE.
presença mais escassa nessas disputas. Nos 5.565 municípios
totalizados em 2012, o PMDB lança candidato próprio em pouco
mais de 40%, enquanto PSDB e PT apresentam candidaturas
a prefeito em cerca de 30%. No patamar abaixo aparecem os
partidos médios - PSD, PP, PSB, PDT, DEM e PR - que se lançam
entre 10% e 20% dos municípios. A distribuição dos candidatos
mais fortes (considerando tanto os eleitos como os que chegaram
ao segundo turno ou amealharam boas quantidades de votos)
mostra que os partidos nacionais não hegemonizam as disputas
nesse nível como o fazem nos demais. Há de se considerar,
todavia, que o não lançamento de candidatura não corresponde
propriamente à ausência eleitoral do partido no município, mas
também ao fato de estar coligado a outro.

Ao contrário do que se passa com os maiores partidos, o restante


das siglas (entre médios e pequenos) tende a lançar candidato
em um número maior de municípios. Ou seja, a dificuldade de
entrada dos partidos menores nas eleições nacionais, ou mesmo
estaduais, não se estende às eleições municipais. No nível local,
os dividendos eleitorais são distribuídos de maneira mais homo-
gênea entre os partidos, e todos aqueles que contam com alguma
estrutura organizativa conseguem garantir alguma sobrevivência
eleitoral, elegendo candidatos e sustentado uma base mínima
para as campanhas a deputado federal e estadual, por exemplo.

 101
Considerando apenas as capitais, verifica-se que a presença dos
maiores já é um pouco mais acentuada. Se PT e PSDB não conse-
guem garantir lançamento de candidatos a prefeito em metade
dos municípios brasileiros, tratando-se das maiores cidades, o
esforço é mais considerável. Ademais, são também os que mais
elegem ou, ao menos, chegam ao segundo turno, passando inclu-
sive o PMDB.

Tabela 17 - Quadro Geral das Eleições Municipais de 2012 (capitais)

Prefeito Vereador

Partido % Votos N o
Candidatos/ Eleitos/ % Votos % Votos % Eleitos
Candidatos Municípios 2º Turno Legenda Nominais

PT 19% 117 65% 7 22% 10% 84

PMDB 16% 12 46% 5 12% 8% 75

PSDB 17% 17 65% 9 17% 8% 66

PSB 10% 11 42% 5 5% 6% 66

PP 2% 4 15% 2 3% 4% 43

PDT 6% 9 35% 4 5% 4% 39

PSD 0% 2 8% 1 1% 5% 37

PTB 1% 3 12% 1 2% 4% 35

PV 1% 5 19% 1 2% 5% 31

DEM 5% 8 31% 2 4% 4% 28

PPS 2% 7 27% 1 2% 4% 28

PSC 2% 3 12% 1 1% 3% 25

PSOL 8% 23 88% 2 8% 3% 22

PC do B 2% 6 23% 1 2% 4% 22

PTC 1% 1 4% 1 1% 2% 18

Outros 9% 64 18% 0 13% 26% 192

22.632.144 192 26 43 2.651.826 19.274.201 811

Fonte: Elaboração própria


a partir dos dados do TSE

102
Na tabela constam apenas os partidos que elegeram algum
prefeito ou que foram ao segundo turno nas 26 capitais na última
eleição. Além do PMDB, do PT e do PSDB, o PSB desponta
como o partido com melhor desempenho para os executivos
municipais, assim como um dos que mais elege vereadores.
Outro destaque a ser feito diz respeito aos pequenos partidos de
esquerda, que se esforçaram para lançar candidato a prefeito no
maior número de capitais, passando à frente dos demais partidos,
o que vai de encontro ao que foi dito anteriormente quanto
à importância de candidaturas próprias para a construção da
imagem do partido ou mesmo, nesses casos, para consolidação
de uma posição ideológica mais clara.

Dantas (2013) se volta à análise das eleições municipais, sob o


aspecto das coligações eleitorais. Diferentemente das eleições
a governador, afirma o autor que o ordenamento estadual seria
mais forte do que a dinâmica federal para as disputas nesse nível,
e mais forte ainda seria a própria dinâmica local para a costura da
relação entre os partidos. O contexto, já destacado anteriormente,
é de aumento progressivo de difusão territorial dos partidos
políticos, que tende a adensar as relações entre os mesmos –
segundo os dados do autor, em 2000 a média era de 2,9 partidos
apoiando um candidato a prefeito, já nas eleições de 2012 esse
indicador passa a 4,9 (uma expansão superior a 70%). A isso
se somaria ainda a mudança na configuração geral do sistema
partidário, com a passagem do principal partido de oposição ao
governo.

Dantas chama atenção para o fato de que, à exceção do DEM,


que sofre de um enfraquecimento pronunciado com o surgi-
mento do PSD, todos os demais partidos crescem quanto às suas
presenças nas eleições municipais, comparando-se 2012 a 2000.
O PSB, notadamente, dobra sua penetração ao longo da série na
disputa pelas prefeituras. PDT e PR também se expandem forte-
mente, sem contar os partidos maiores, que iniciam já antes o
processo de difusão no território. Dantas destaca ainda o movi-
mento específico dos partidos de esquerda (assim considerados
o PDT, PPS, PSB e PT) que teriam avançado de forma ainda mais
expressiva em relação aos demais depois da primeira vitória do
PT para a Presidência.

 103
Passando à análise das coligações, o autor mostra que, basi-
camente, “todos são capazes de jogar com todos”, não predo-
minando alinhamentos governamentais orientados pelo plano
federal, e tampouco comportamentos coerentes do ponto de vista
ideológico, considerados os mais de 5 mil municípios brasileiros e
as 1º legendas observadas no estudo.

Tabela 18 - Avanço percentual das alianças nas eleições para prefeito 2012/2000

2012/ PP DEM PR PTB PMDB PSDB PPS PDT PSB PT


2000

PP

DEM 1,79

PR 104,74 57,22

PTB 45,59 13,44 78,89

PMDB 37,15 14,73 84,35 45,59

PSDB 50,2 24,05 98,61 35,14 23,04

PPS 90,42 76,91 136,16 91,58 45,35 62,1

PDT 94,5 69,52 163,71 108,72 67,07 92,54 93,85

PSB 242,35 168,96 296,41 223,37 175,04 155,92 119,42 173,21

PT 557,08 445,03 520,35 402,69 188,07 144,79 91,44 159,45 186,66

Fonte: Dantas (2013) Os dados mostram que, comparativamente às eleições de 2000,


nenhuma das alianças minguou, ou seja, registrou percentual
negativo. O PT, por exemplo, aumenta sua participação nas
eleições majoritárias municipais em 86,4% mediante um aumento
médio de 299,5% nas coligações celebradas, distribuído entre
os partidos de todo o contínuo ideológico com destaque para
a direita – PP, PTB, PR e DEM. Tal fenômeno, segundo o autor,
é generalizado, e teria como contrapartida a total mistura dos
partidos na composição de coligações no nível local. Algumas
regularidades são observadas, todavia, como a incidência maior
de coligações entre o PT e o PMDB, assim como entre o PSDB
e o DEM, acompanhando a lógica dos alinhamentos nacionais.

104
De todo modo, cresceram também as alianças entre PT e DEM,
por exemplo, além de terem sido progressivamente viabilizados
acordos entre petistas e tucanos, revelando, nas palavras de
Dantas, que os partidos se comportam de formas bastante
heterodoxas no que diz respeito às suas alianças locais. Nesse
sentido, em 2012, é interessante que nenhum dos cruzamentos
apontados na relação de legendas utilizada pelo autor ocorre
em menos de mil cidades e, por outro lado, nenhuma ultrapassa
2.100, ou seja, se faz difícil encontrar efetivamente tendências
claras.

Cabe destacar, no entanto, que, assim como muda o comporta-


mento dos partidos nas capitais em relação ao lançamento de
candidaturas, aponta-se também que as alianças costuradas nos
maiores municípios tendem a estar mais relacionadas às questões
nacionais ou estaduais, que podem envolver contrapartidas nessa
esfera, da mesma maneira que envolvem nos pleitos estaduais
(Ribeiro, 2010).

Diante do que se observa aqui, é essencial que busquemos


compreender o quanto um partido político consegue refletir, tal
qual um espelho, no plano local (municipal) aqui que defende
ou faz no plano federal, por exemplo. Muito difícil esperar isso,
restando saber se as legendas, em parte expressivas das cidades,
não servem apenas de instrumentos para a disputa de eleições.
Tais argumentações se aproximariam muito do senso comum,
mas não é hipótese descartável a ser testada. Nesse sentido,
a escolha de uma legenda

 105
106
7 Coalizões

Quanto à estabilidade do regime democrático brasileiro, sempre


foi objeto de preocupação a combinação do presidencialismo
forte com o Legislativo tendente à alta fragmentação partidária.
Sendo este um sistema que formalmente aponta independência
mútua entre os poderes – diferente do modelo parlamentarista
–, a governabilidade poderia ser um problema, à primeira vista,
analisando-se somente estas macro-instituições.

São altos os índices de disciplina


partidária, e o padrão de organização
dos trabalhos legislativos é altamente
centralizado em torno dos partidos
no plano federal. O poder de agenda
do Executivo, suas prerrogativas em
matéria de orçamento e o controle
sobre a distribuição de cargos seriam
os principais elementos indutores do
comportamento disciplinado
Figueiredo e Limongi (1999), debruçados sobre este debate,
buscam examinar a estrutura do próprio processo decisório para
confrontar as afirmações tradicionais sobre o conflito inerente
entre os poderes e a ausência de partidos como unidades orga-
nizadoras dos trabalhos legislativos. Os autores constatam justa-
mente o contrário: são altos os índices de disciplina partidária, e
o padrão de organização dos trabalhos legislativos é altamente
centralizado em torno dos partidos no plano federal. O poder de
agenda do Executivo, suas prerrogativas em matéria de orça-
mento e o controle sobre a distribuição de cargos seriam os
principais elementos indutores do comportamento disciplinado
por parte dos parlamentares, que acabam obrigados a adotar

 107
estratégias cooperativas para conseguir barganhar com o presi-
dente. Resultado disso é a alta capacidade governativa através da
formação de coalizões (Freitas, Medeiros e Moura, 2008), o que
muitas vezes se vê repetido em cidades e estados nas relações
entre os poderes. Nesse sentido, em parte do tempo e dos locais
existiria uma lógica governista por parte do Legislativo, inclusive
atraindo adversários eleitorais para o campo centrípeto de presi-
dentes, governadores e prefeitos.

O critério corrente adotado pela literatura para definir a coalizão


de governo passa assim pela ocupação de pastas ministeriais,
segundo Freitas (2013). Todavia, é necessário ainda que o partido
endosse que o ministro está no governo como representante do
partido, pois há casos em que isso não ocorre – inclusive casos
em que a decisão sobre a entrada ou não do partido na coalizão
leva a conflitos intrapartidários. De todo modo, segundo a autora,
casos assim constituem exceção, pois na grande maioria das
vezes o apoio do partido é declarado publicamente, ainda que
isso passe por negociações conturbadas – situação da qual o
PMDB seria um exemplo, por conta das divisões internas do
partido e que ilustra não apenas o ambiente federal, mas também
aquele vivido nas cidades e estados.

Outro critério a ser considerado diz respeito ao comportamento


manifesto do partido, mensurado pela disciplina dos parlamen-
tares em relação às indicações do líder do partido no Congresso.
Seria necessário, portanto, que o partido se comportasse, em
alguma medida, como um ator unitário. Os dados de Freitas
mostram como a disciplina dos partidos brasileiros é alta, sempre
superior a 80%.

108
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
PMDB PFL > PSDB PT PTB PDS > PDT PSB PL > Plenário
DEM PP PR

Câmara dos Partindo destes pressupostos, a autora define a coalizão governa-


deputados
mental como fruto de um acordo intrapartidário, onde o Executivo
Senado Federal distribui pastas ministeriais e recebe em troca apoio de todo o
partido, e onde os partidos que aceitam fazer parte da coalizão
compartilham as responsabilidades com o governo. Freitas adota
então os critérios propostos por Figueiredo (2007) para delimitar
as coalizões, entendendo que há mudança sempre que um
partido que não fazia parte do governo ganha um ministério, ou
quando um partido perca os ministérios que ocupava, ou ainda a
cada nova eleição.

Tabela 19 - Coalizões Governamentais 1994 – 2010

Coalizão Início Fim Composição

FHC I 1 Jan 95 Abr 96 PSDB PFL PMDB PTB

FHC I 2 Abr 96 Dez 98 PSDB PFL PMDB PTB PPB

FHC II 1 Jan 99 Mar 02 PSDB PFL PMDB PPB

FHC II 2 Mar 02 Dez 02 PSDB PMDB PPB

Lula I 1 Jan 03 Jan 04 PT PL PCdoB PSB PTB PDT


PPS PV

Lula I 2 Jan 04 Jan 05 PT PL PCdoB PSB PTB PPS


PV PMDB

Lula I 3 Fev 05 Mai 05 PT PL PCdoB PSB PTB PV


PMDB

 109
Lula I 4 Mai 05 Jul 05 PT PL PCdoB PSB PTB
PMDB

Lula I 5 Jul 05 Dez 06 PT PL PCdoB PSB PTB


PMDB PP

Lula II 1 Jan 07 Abr 07 PT PR PCdoB PSB PTB


PMDB PP PRB

Lula II 2 Abr 07 Set 09 PT PR PCdoB PSB PTB


PMDB PP PDT PRB

Lula II 3 Set 09 Dez 10 PT PR PCdoB PSB PMDB


PP PDT PRB

Dilma I 1 Jan 11 Fev 12 PT PCdoB PMDB PSB PR


PP PDT

Dilma I 2 Fev 12 - PT PCdoB PMDB PSB PR


PP PDT PRB

Fonte: Freitas (2013) Em relação às coligações eleitorais, verifica-se que, logo no


primeiro mandato considerado, de acordo com a tabela 19 o
PSDB soma um partido ao que havia sido sua chapa eleitoral com
a incorporação do PMDB, por exemplo. Na tabela 20 ficam claras
as alianças dos partidos para a disputa presidencial, o que não
necessariamente condiz com o quadro de coalizão da tabela 19.

Tabela 20 - Coligações Eleitorais para Presidente

PT PSDB

1994 PCdoB PPS PSB PSTU PT PV PFL PSDB PTB

1998 PCdoB PCB PDT PSB PT PFL PPB PSD PSDB PTB

2002 PCdoB PCB PL PMN PT PMDB PSDB

2006 PCdoB PRB PT PFL PSDB

2010 PCdoB PDT PMDB PR PRB PSB DEM PMN PPS PSDB PT do B PTB
PSC PT PTC PTN

2014 PCdoB PDT PMDB PP PR PRB PROS DEM PEN PMN PSDB PTdoB PTB
PSD PT PTC PTN SD

Fonte: Elaboração própria a


partidos dos dados do TSE

110
As coalizões assim se ampliam consideravelmente a partir da
chegada do PT na presidência em 2002, por exemplo. Assim
como também se divide mais o peso dos partidos no Congresso
Nacional. Lula se elege coligado a outros quatro pequenos
partidos, mas quando chega ao governo incorpora PSB, PTB,
PDT, PPS e PV, o que significa também que a coalizão passa a
incluir siglas de todos os campos ideológicos, conforme destaca
Carreirão (2013). Consequentemente, as variações na coalizão
também são maiores. No período seguinte, a redução da chapa
de reeleição de Lula não implica na redução de sua coalizão.
Novamente, quando chega ao governo o PT incorpora outros
partidos (PR, PSB, PTB, PMDB e PP).

 111
112
8 Ideologia

A pertinência da ideologia enquanto categoria para tratar dos


partidos políticos brasileiros é sempre controversa, porquanto
a crítica corrente que se faz a eles diz respeito justamente à
premissa de que a classificação entre esquerda e direita influencia
pouco os comportamentos das legendas, comparativamente
aos incentivos eleitorais pragmáticos, e também ao fato de que
programas e propostas dos partidos não se diferenciam realmente
entre si, assim como as práticas efetivas de governo. Transcen-
dendo o caso brasileiro, as categorias de esquerda e direita são
problematizadas de maneira geral no contexto pós-guerra fria,
onde algumas economias alcançaram patamares mínimos de
distribuição de renda, e emergem outras grandes questões que
já não correspondem propriamente à dimensão Estado-mercado.
As pautas ambientais são um exemplo.

As diferenças ideológicas entre os


partidos continuam sendo utilizadas
como variáveis relevantes para tratar
de questões sobre como os partidos
se relacionam entre si na composição
de coligações ou coalizões, ou sobre o
tipo de política pública implementada
quando estão no governo
De todo modo, feitas as devidas ponderações, as diferenças ideo-
lógicas entre os partidos continuam sendo utilizadas como vari-
áveis relevantes para tratar de questões sobre como os partidos
se relacionam entre si na composição de coligações ou coali-
zões, ou sobre o tipo de política pública implementada quando
estão no governo. Ainda que a ideologia exclusivamente não dê
conta de explicar o comportamento dos partidos, à medida que
exerçam influência em questões relativas à estratégia eleitoral,
por exemplo, ou às relações entre o governo e os demais partidos
no Legislativo, a categoria é relevante e pode sim contribuir na

 113
compreensão da fisionomia dos partidos. Isso explica o fato de
uma série de analistas tentarem, através de diferentes métodos,
aferir a posição dos partidos em relação uns aos outros, em geral
no eixo direita-esquerda. Notemos que nesses casos se tratam de
estudos que agregam de forma expressiva variáveis que fogem
fortemente de percepções pontuais relacionadas a uma eleição
ou ao caso de um político em especial numa dada localidade.

Figueiredo e Limongi (1999) realizaram um estudo que se cons-


titui como um marco, mostrando como a lógica partidária é
decisiva para o comportamento parlamentar, e como o posicio-
namento dos partidos segue as linhas dos padrões ideológicos
clássicos, havendo uma direita, um centro e uma esquerda.
Os autores não tratam a ideologia como variável independente
propriamente, mas mostram como o contínuo ideológico emerge
dos próprios dados ao se analisar o comportamento dos partidos
no Congresso. Os dados são das votações nominais que ocor-
reram na Câmara dos Deputados entre o período de 1989 e 1994,
observados segundo duas perspectivas, relacionadas entre si: a
configuração ideológica das disputas expressa nos encaminha-
mentos de voto feitos pelos líderes partidários, identificando-se a
partir daí o padrão de coalizões partidárias que vai se configurar
no plenário; e o grau de coesão interna dos partidos, tomados
como unidade de análise. O que os autores observam é que a
unidade dos partidos é fortemente influenciada pelo padrão de
formação da coalizão partidária que, por sua vez, é coerente com
a disposição dos partidos em um contínuo ideológico.

Os autores iniciam pelos sete maiores partidos da Câmara,


analisando a concordância entre os encaminhamentos das vota-
ções feitos pelos líderes de cada partido. Os autores verificam
que a congruência entre o PDS (hoje PP) e o PFL (hoje DEM),
por exemplo, é predominante, assim como entre o PDT e o PT.
De outro lado, a distância entre os dois extremos é patente,
e são poucas as votações em que há concordância entre os
líderes. Dispondo os partidos de acordo com este critério, de
concordância que têm em relação uns aos outros, evidencia-se

114
a existência de três blocos– direita (PDS/PPR, PFL e PTB), centro
(PMDB e PSDB) e esquerda (PDT e PT) – em que os partidos
ocupam posições contíguas no espaço ideológico que são consis-
tentes com a formação das coalizões de governo.

Ademais, os autores verificam que os membros do partido efeti-


vamente votam segundo as indicações dos líderes, conferindo
um grau razoável de coesão ao comportamento das legendas no
Congresso, sobretudo os de esquerda, que têm unidade inde-
pendentemente de como votam os demais partidos, enquanto
a disciplina dos partidos de centro é mais afetada pela estrutura
ideológica do conflito em questão e a natureza da questão em
pauta – ao menos até o governo de FHC. Os membros do PMDB,
por exemplo, tendem a se comportar de maneira mais discipli-
nada quando a configuração aponta a centro-direita enfrentando
a esquerda – ou seja, o partido é mais coeso quando se une à
direita. Já para o PSDB ocorre o contrário, o partido se dividia
mais quando compõe com a direita.

Quanto aos pequenos partidos à época, os autores verificaram


que a divisão se estendia ao PSB, PCB e PC do B, aplicando-se
integralmente os padrões encontrados para o PT e o PDT: são
altamente coesos e suas bancadas votam de maneira similar entre
si, o que leva Limongi e Figueiredo a trata-los de maneira agre-
gada, como pequenos partidos de esquerda. No outro extremo
estrariam os demais partidos, classificados como pequenos
partidos de direita que, segundo eles, embora apresentem um
quadro diverso – é alta a fragmentação (são 17 siglas) e as migra-
ções são constantes – mostram relativa coesão. Em trabalhos
posteriores esta classificação será utilizada, feitas as devidas
atualizações, mostrando-se eficaz para compreender a dinâ-
mica política no legislativo brasileiro e a formação da coalização
de governo segundo uma lógica partidária. Outro trabalho dos
próprios autores analisando o processo orçamentário (Limongi
e Figueiredo, 2006) mostra como os partidos se organizam
seguindo a lógica da tabela 21.

 115
Tabela 21 - Distribuição ideológica dos Partidos

Pequenos partidos Coalizão de Governo Pequenos partidos


de esquerda de direita

PT PCdoB PDT PMN PPS PMDB PSDB PL PSC PSD PSL PRONA
PSB PV PSTU PTB PPB PFL PST PHS PTN

Fonte: Limongi e Em trabalho recente, Tarouco e Madeira (2013) sistematizaram


Figueiredo (2006)
algumas das diversas tentativas de classificação ideológica dos
partidos, distinguindo duas abordagens mais gerais. A primeira
parte da percepção dos próprios partidos, tendo como base
surveys realizados com os membros dos partidos ou os próprios
documentos partidários (programas, manifestos e discursos). A
segunda compreende um grupo de métodos que tenta se apro-
priar dos desdobramentos exteriores, analisando as posturas
assumidas pelos políticos na arena parlamentar (como o trabalho
de Limongi e Figueiredo), além da imagem que a opinião pública
constrói a respeito dos partidos, e a classificação feita pelos
analistas em geral (seja na ciência política, seja na mídia em
geral). A classificação dos autores, de acordo com diferentes
fontes analisadas pode ser observada na tabela 22.

Tabela 22 - Sistematização da Literatura

Autor Fernandes (1995) Mainwraring, Power e Rodrigues (2002) Power (2000)


Meneguello (2000)

Método Análise de outros auto- Votações no Congresso Adoção da classificação Questionários aplicados
res da votação durante e pesquisa de opinião comum à maioria dos com elites partidárias)
a Constituinte com parlamentares analistas

PPS E não consta E não consta

PCdoB E não consta E não consta

PDC/PSDC não consta CD não consta D

PDS/PP D D D D

PDT E não consta E E

PFL D D D D

116
PJ/PRN/ não consta D não consta D
PTC

PL D D D D

PMDB C não consta C C

PMN E CD E não consta

PRONA D D D não consta

PRP D não consta não consta não consta

PSB E não consta E não consta

PSC D CD D não consta

PSD D D D não consta

PSDB C não consta C C

PSL não consta CD não consta não consta

PST não consta CD D não consta

PT E não consta E E

PTB D CD C D

PTdoB não consta não consta não consta não consta

PTR/PP C CD não consta não consta

PV E não consta E não consta

Fonte: Tarouco e Madeira O trabalho de Rodrigues (2002), discutido anteriormente, se utiliza


(2013)
da classificação que predominava na literatura especializada e
nos meios de comunicação, sem discutir seus significados intrín-
secos. O autor, assim como Limongi e Figueiredo, não toma a
ideologia como variável independente propriamente, senão como
categoria para auxiliar a análise dos dados, que por si só relevam
padrões que podem ser compreendidos segundo as diferenças
entre esquerda e direita. Rodrigues retoma algumas contribuições
relevantes, como a do trabalho seminal de Olavo Brasil (1993),
que situa o PMDB já àquele tempo à direita – junto com o PDS,
o PFL e o PTB – e o PSDB à esquerda – junto ao PCB e o PDT
– e pontua, todavia, que com a institucionalização do sistema
partidário mudam as orientações políticas e os programas dos
partidos, especialmente quando estes passam pela experiência

 117
37 Direita: PL, PPR, PRN, de governo ou mesmo lidam com a possibilidade concreta de
PRONA, PRP, PSD; Centro-
-Direita: PDC, PMB, PMN,
alcança-lo. Partindo então da classificação que toma como base
PP, PSC, PSL, PST, PTB e (PPB e PFL na direita, PMDB e PSDB no centro e PT e PDT na
PTR. esquerda), ele descreve as diferentes composições sociais das
38 Exemplo disso, segun-
bancadas dos partidos, e verifica empiricamente o sentido de se
do o autor, seria a mudança identificar o PFL, por exemplo, como um partido representante do
de nome do PFL para empresariado e do alto escalão público, e o PT como um partido
Democratas.
identificado às bases populares, cujos quadros em grande parte
têm origem na classe trabalhadora.

Na linha da auto percepção ideológica, o trabalho de Mainwaring


et al (2000) busca caracterizar o polo conservador (no qual os
autores incluem o PFL, o PDS/PPB/PP e o PTB, além das outras
legendas que foram se criando a partir de 198537) com base
também na opinião de parlamentares, além do comportamento
desses no Congresso. Os autores percebem que, ainda que seus
membros não se aliem de forma vigorosa sob a autoclassifi-
cação de direita, não se apresentem ao público sob uma forma
altamente ideológica e não defendam um conjunto de ideias
coerentes, eles tendem a apresentar posicionamentos claramente
distintos quanto a questões políticas, econômicas e morais, e a
defendê-los individualmente, e não a partir do comprometimento
partidário, como tende a ocorrer na esquerda. Os conservadores
tenderiam assim a prezar mais a própria autonomia e não valorizar
a agregação em organizações fortes.

Em contribuição posterior Zucco (2009) busca examinar o papel


da ideologia no comportamento dos parlamentares, estimando
sua posição relativa a partir dos dados de surveys onde eles
próprios posicionavam os partidos dentro de uma escala contínua
entre esquerda e direita. O autor ressalta a estabilidade nos
padrões de resposta ao longo dos anos, e mostra que a tendência
geral é de os partidos convergirem para o centro, e também de
os parlamentares se posicionarem à esquerda da reputação geral
de seu partido, dada pela posição média atribuída pelos não
membros – o que a literatura identifica como “direita envergo-
nhada” (Pierucci, 1987), fruto da associação desconfortável que
a direita guardaria com a ditadura38.

118
Tabela 23 - Partidos de Esquerda para Direita: 1990-2009

1990 PCdoB PT PCB PSB PDT PSDB PMDB PTB PL PDC PFL PDS
PRN

1993 PCdoB PT PSB PPS PDT PSDB PMDB PP PTB PL PPR PRN
PSTU PFL

1997 PCdoB PT PSB PPS PDT PMDB PSDB PTB PL PFL PPB

2001 PCdoB PT PSB PDT PPS PMDB PL PFL PPB


PSDB PTB

2005 PCdoB PSB PPS PDT PMDB PTB PFL


PT PSDB PL PP

2009 PSOL PCdoB PSB PDT PV PPS PMDB PTB PR PP DEM


PT PSDB

Fonte: Zucco (2009) O autor irá ainda investigar como a autoclassificação se relaciona
ao posicionamento quanto a questões substantivas, notadamente
sobre o sistema econômico, partindo da representação clássica
que se faz de que a direita tenderia a um modelo de predomínio
do mercado, e com a participação mínima do Estado, enquanto
a esquerda seria favorável ao controle estatal, e ao fato de que o
capital privado fosse afastado dos principais setores econômicos.
A constatação é de que esta última posição não predomina em
nenhum dos segmentos do espectro ideológico. No geral, o que
refletiria um realinhamento da esquerda ao longo do tempo, já
que as preferências dos parlamentares da direita tenderam à
estabilidade.

Zucco aponta que, atualmente, somente os parlamentares na


extrema esquerda da escala se dividem entre predomínio do
estado e equilíbrio entre o público e o privado. Entre os demais,
vigoravam as posições favoráveis aos arranjos de mercado em
detrimento de qualquer intervenção estatal. Observando ainda o
comportamento efetivo dos parlamentares, o autor concluiu que,
mais do que a clivagem esquerda x direita, a classificação governo
x oposição seria mais adequada para compreender a localização
dos partidos em uma escala “ideológica”.

 119
39 De todo modo, Também se baseando na auto percepção ideológica, só que
Carreirão salienta também
que os sentimentos em re-
do ponto de vista do eleitorado, Carreirão (2007) posiciona os
lação aos partidos não dei- cinco maiores partidos na escala esquerda-direita segundo os
xam de ter influência sobre dados captados por surveys feitos em 2002 e 2006. Para o PDT, a
a decisão do voto, e que
talvez o fato seria de que
maior porcentagem de eleitores posiciona o partido à esquerda,
os eleitores diferenciem os depois ao centro, e em menor proporção à direita. Já o inverso
partidos mais a partir de ocorre com o PFL e o PSDB, cuja maioria relativa dos eleitores
imagens difusas (o PT sen-
do o “partido dos pobres”,
identificava-os como partidos à direita na escala. Quanto ao PTB,
ou o partido que “defende a maioria o posiciona ao centro, seguida daqueles que o posi-
a justiça social” (Venturi, cionam à esquerda. O PT, por sua vez, apresenta os resultados um
2006), por exemplo, como
era o caso do MDB ao lon-
pouco contraditórios em relação à classificação corrente que é
go da década de 80) do que feita pela literatura, segundo Carreirão, pois embora a maioria de
que a partir de categorias seus eleitores o situe à esquerda, a segunda maior porcentagem o
relacionadas à dimensão
esquerda-direita.
identifica como um partido à direita. O PMDB, por fim, é o único
partido que apresenta variações entre 2002 e 2006: no primeiro
ano a maioria dos eleitores o situa à direita, e depois ao centro, e,
na eleição seguinte, estes posicionamentos se invertem.

Carreirão ainda aponta que entre 2002 e 2006 a tendência


geral foi de perda de nitidez ideológica dos partidos segundo a
percepção dos eleitores e, sobretudo, de aumento acentuado da
proporção de eleitores que não consegue classificar os partidos
no contínuo ideológico, assim como não consegue classificar os
líderes partidários. Em 2006, o percentual daqueles que respon-
deram não conhecer o partido, ou não saber o que é esquerda
e direita, chegou perto de 50%. O autor sugere a hipótese de
que isto estaria associado diretamente ao fato de o PT ter
chegado ao governo, pois para além das alterações no próprio
comportamento dos partidos – semelhanças entre a política dos
governos e a formação de coalizões abrangendo partidos ideologi-
camente distantes, por exemplo – os eleitores tendiam a associar
os partidos de oposição à esquerda e a direita ao governo.
Em poucas palavras, somada à progressiva diluição das dife-
renças ideológicas com a institucionalização dos partidos, a
passagem do partido de oposição para a situação teria contri-
buído para embaralhar o mapeamento do campo político feito
pelos eleitores39.

120
Tarouco e Madeira propõem ainda uma classificação com base
na ênfase programática que os partidos dão a determinados
conteúdos, buscando depurar seu posicionamento ideológico das
influências dos cálculos estratégicos feitos na atuação eleitoral
e governativa. Os autores segmentam os textos programáticos
dos sete maiores partidos, e os analisam com base em algumas
categorias que levam em consideração as especificidades do
caso brasileiro, que são as seguintes: regulação de mercado,
planejamento econômico, economia controlada, análise marxista,
expansão do Welfare State e referências positivas à classe traba-
lhadora (todas essas indicativas de posicionamento à esquerda)
e; menção positiva às forças armadas, livre iniciativa, incentivos,
ortodoxia econômica, limitação do Welfare State e referências
favoráveis à classe média e grupos profissionais (categorias indi-
cativas de posicionamento à direita).

10

-5

-10

-15

-20

-25
PDT PTB PTB PMDB PT PT PDT PDS PP PPB PFL PSDB PMDB PFL PSDB PFL
1979 1979 2001 1981 1980 1990 1994 1979 2003 1995 Fund 1988 1994 2005 2001 1955

Fonte: Tarouco e Madeira


(2013)

 121
Embora difira das classificações usuais, os autores chamam
atenção para a consistência dos resultados sob alguns aspectos.
O PDT e o PTB estarem mais à direita do PT, por exemplo, resulta
de muitos de seus documentos da época (1979) serem fruto de
um encontro internacional de partidos socialistas, por exemplo.
Todavia, o que se observa é que, ao longo do tempo, as novas
versões dos programas dos partidos se deslocam para a direita
– exceto pelo PFL, que se aproxima do centro com a renome-
ação para DEM. A interpretação dos autores é que no momento
seguinte à transição para o novo regime outros temas são
trazidos, junto a novas questões que não dizem respeito propria-
mente ao modelo econômico, por exemplo.

Feitas essas considerações ideológicas salienta-se a efetiva difi-


culdade de uma discussão dessa natureza no Brasil. Para alguns
tais classificações estariam obsoletas e fadadas ao fracasso,
enquanto pesquisadores ainda conseguem tecer boas consi-
derações sobre o assunto. O fato é que escolher uma legenda
exigindo dela a mais absoluta afeição aos aspectos ideológicos
proferidos ou registrados em documentos é tarefa que no campo
da atividade partidária efetiva tem se mostrado improvável e
extremamente capaz de causar decepção.

122
9 Conclusão – é possível classificar os
partidos?

Dividido em duas partes principais, subdivididas de acordo com


temáticas relevantes, o presente estudo chega ao fim tendo como
principal objetivo a provocação ao seu leitor. É possível escolher
um partido político com a mais absoluta certeza dos desafios
a serem encontrados? Provavelmente não. Mas uma pesquisa
recente, realizada por Dantas (2016), mostra que a despeito da
visão pessimista dos brasileiros em relação aos partidos políticos
existem pontos a serem tomados como partida para algo a ser
construído.

Num conjunto de pouco mais de 730 jovens estudantes de ensino


médio de escolas públicas da periferia da Grande São Paulo
ouvidos ao longo de 2015 pouco menos de 90% responderam
que não simpatizam com qualquer legenda existente no Brasil
atualmente. No entanto, depois de passarem por uma atividade
de formação política suprapartidária, foram submetidos a um
questionário que, dentre várias questões, continha um conjunto
de sentenças com as quais os jovens poderiam concordar ou
discordar em diferentes níveis de intensidade. As repostas foram
transformadas em índice que oscila entre 0, para discordância
plena, e 100 para concordância plena. A frase “devemos nos
aproximar dos partidos políticos” contou 68% de concordância,
mesmo resultado registrado pela pesquisa em 2014, e cinco
pontos maior que em 2013. O que seria isso? Sinal da percepção
de que para os jovens, por piores que sejam as legendas, elas
são reconhecidas como instrumentos necessários à democracia?
Aparentemente, de acordo com o autor, sim.

Diante desse fato, a RAPS entende que após a apresentação


desse estudo, que traz um quadro geral sobre os partidos polí-
ticos brasileiros, o próximo desafio que se coloca é a criação de
um indicador minimamente capaz de observar aspectos centrais
dessas organizações e permitir potenciais de comparação entre
elas. Não se trata de uma avaliação, pois isso a Ciência Política
tem refutado, sob a argumentação de que indicadores desse tipo
tendem a confundir os cidadãos em geral. Essa posição defende
que se o objetivo é avaliar, supostamente existe um norte comum
que organiza todos os partidos em uma posição comum. Isso não
necessariamente é verdadeiro, uma vez que legendas diferentes

 123
têm estratégias e objetivos diferentes. Assim, entendemos que
uma possibilidade um pouco diferente disso seria tomar por base
um conjunto de variáveis relacionadas a valores fundamentais
da RAPS e, a partir disso, iniciar uma tentativa de classificação e
pontuação das legendas.

Uma primeira tentativa poderia estar relacionada, por exemplo, à


medição do grau de transparência dos partidos em seus respec-
tivos sites. O quanto ofertam de informações claras? Existem
partidos que sequer têm seus estatutos em seus portais, ou
mesmo não apresentam programas. Ademais, o quanto são
efetivamente democráticos, institucionalizados em níveis subna-
cionais, diversificados em termos de gênero em seus organismos
de comando etc.? Resumindo: é possível, sem o intuito claro e
absoluto de ranquear, partir de valores mais ou menos universais
e extremamente caros à RAPS, observar tais organizações? Como
fazer isso?

Alinhando-se a iniciativas similares - como o Party Democracy


Index, de Israel - a RAPS lança o debate com este Estudo e
propõe a construção de uma reflexão que tenha impactos na
prática e na ação política no País. Mãos à obra.

124
 125
126
Anexos

Nota 09
Art. 55.
São observadores do Encontro Nacional com direito a voz e sem
direito de voto:

a. Os membros do Diretório Nacional;


b. Deputados e deputadas federais, senadores e senadoras,
prefeitos e prefeitas, vice-prefeitos e vice-prefeitas, governa-
dores e governadoras, e vice-governadores e vice-governa-
doras, filiados ao Partido;
c. Um filiado, ou uma filiada, do Partido de cada estado que
não tenha atingido quórum de validade do respectivo En-
contro, escolhido entre seus participantes;
d. Um filiado ou uma filiada, do Partido escolhido em cada
Encontro Setorial Nacional.
...

Art. 111.
Constituem o Encontro Nacional do Partido os delegados e dele-
gadas eleitos no PED ou nos Encontros Estaduais.

(Estatuto do PT, 2013).

Nota 10
Art. 11. As Convenções Nacional, Distrital, Regionais e Municipais
convocadas para indicar os candidatos a cargos eletivos, deliberar
sobre coligações e outras matérias relativas ao processo eleitoral
serão assim compostas:
I. Convenção Nacional:
a. pelo Diretório Nacional;
b. por 1 (um) Delegado indicado pelas Convenções Regionais;
c. na hipótese do § 1º, do artigo 6º, pelos Presidentes das
Comissões Executivas Regionais Provisórias;
d. pelos Deputados Federais e Senadores.

(Estatuto do PR, 2012).

 127
Nota 11
Art. 65. A Convenção Nacional será constituída:
...
§1° O número de Delegados que cada Estado e o Distrito
Federal elegerão será de, no mínimo, 1 (um) por Unidade
Federativa, e mais 1 (um) para cada 40.000 (quarenta mil)
votos de legenda partidária obtidos na última eleição para a
Câmara dos Deputados, desprezando o resto da divisão.
§2° Nas Unidades da Federação onde o Partido eleger represen-
tantes na Câmara Federal, esse número será acrescido do
dobro do número de Deputados eleitos pela legenda.
§3° O somatório dos critérios estabelecidos nos parágrafos ante-
riores não poderá exceder o limite máximo de 60 (sessenta)
Delegados por Unidade Federativa.

(Estatuto do PMDB, 2013).

Nota 12
Art. 59. A Convenção Nacional será constituída:
§1° O número de Delegados de cada Estado e do Distrito
Federal será correspondente até o dobro da respectiva
representação partidária no Congresso Nacional, acrescido
do número de Delegados equivalente a 10% (dez por cento)
do número de Diretórios Municipais organizados em cada
unidade da federação.
(Estatuto do PSDB, 2013).

Nota 13
Art. 76. Compete à Comissão Executiva Nacional:
I. Dirigir, no âmbito nacional, as atividades do Partido;
II. Manter a escrituração de sua receita e despesa em livros
de contabilidade e prestar contas, ao órgão competente de
União, das cotas recebidas do Fundo Partidário, ou equiva-
lente, se for o caso;
III. Administrar o patrimônio social, adquirir, alienar, arrendar ou
hipotecar bens;
IV. Promover o registro do Estatuto, do Programa e do Código
de Ética Partidária junto ao órgão competente.

(Estatuto do PMDB, 2013).

128
Nota 14
Art. 59. As Comissões Executivas exercerão, no âmbito de
competência dos respectivos Diretórios, sem prejuízo de posterior
exame e apreciação destes, quando dor o caso, todas as atribui-
ções que lhes são inerentes.
(Estatuto do DEM, 2007).

Nota 15
Art. 65. A Comissão Executiva Nacional exercerá, no âmbito da
competência do respectivo Diretório, sem prejuízo de posterior
exame e apreciação deste, todas as atribuições legais e estatutá-
rias a ele conferidas, competindo-lhe ainda:

I. Dirigir, no âmbito nacional, as atividades do Partido;


...
IV. Convocar o Congresso Nacional do Partido e decidir sobre o
número de delegados e sua organização;
...
XI. Intervir nos Diretórios Estaduais, decidir sobre sua disso-
lução ou destituição de suas Comissões Executivas, nas
hipóteses previstas neste Estatuto;
XII. Autorizar o adiamento das Convenções e a prorrogação de
mandatos, nos termos das disposições deste Estatuto;
XII. Estabelecer normas e diretrizes complementares para
escolha de candidatos e formação de coligações para as
eleições nacional, estaduais e municipais.

(Estatuto do PSDB, 2013).

Nota 16
Art. 68. O Conselho Político Nacional será composto:
a. Pelo Presidente Nacional dos Democratas;
b. Pelos ex-Presidentes do Partido;
c. Pelos Governadores;
d. Pelos Prefeitos das Capitais;
e. Pelos Líderes na Câmara dos Deputados e no Senado
Federal;
f. Por até seis membros eleitos em Convenção dentre os
ex-Governadores, ex-Ministros de Estado, ex-Líderes no
Congresso Nacional e ex-Prefeitos das Captais.

 129
Art. 69. Compete ao Conselho Político Nacional:
a. Decidir soberanamente sobre a linha partidárias, bem
como sobre a possibilidade de participação do Democratas
na Administração Pública, ouvida a Comissão Executiva
Nacional; e
b. Recomendar sobre coligações para as eleições nacionais
e estaduais, bem como propor, à Convenção Nacional, os
candidatos à Presidente e Vice-Presidente da República.

(Estatuto do DEM, 2007).

Nota 17
Art. 72. Ao Conselho Político Nacional compete:
I. Avaliar periodicamente o desempenho político do Partido;
II. Atuar, conjuntamente com o Diretório Nacional, no exame
e decisão de questões políticas relevantes de âmbito
nacional que lhe forem submetidas pela Comissão Executiva
Nacional;
III. Decidir, no âmbito da eleição majoritária nacional, sobre
o modelo de escolha de candidatos e a formação de coli-
gação, assim como sobre fusões ou incorporações parti-
dárias, que lhe forem submetidos pela Comissão Executiva
Nacional.
§1° Integram o Conselho Político Nacional:
I. Os ex-Presidentes da República e os que tenham concorrido
ao cargo;
II . Um representante dos Governadores de Estado;
III. Um representante das bancadas do Congresso Nacional;
IV. O Presidente da Comissão Executiva Nacional.
§2° O Presidente do Conselho Político será escolhido entre seus
membros.
§3° Os representantes referidos nos itens II e III serão desig-
nados pelo Conselho.

(Estatuto do PSDB, 2013)

130
Nota 18
Art. 73. Compete ao Conselho Nacional:
I. Julgar os recursos que lhe sejam interpostos de atos e
decisões da Comissão Executiva Nacional ou dos Diretórios
Estaduais;
II. Elaborar o seu regimento interno;
III. Promover a responsabilidade dos Diretórios Estaduais, e, na
omissão destes, dos Municipais e Zonais, decidindo sobre
sua dissolução, intervenção e reorganização;
IV. Traçar a linha política e parlamentar de âmbito nacional a ser
seguida pelos representantes do Partido;
V. Definir, extraordinariamente, a posição e linha do Partido em
situações políticas específicas não abrangidas por decisões
anteriores dos órgãos partidários;
VI. Fixar as datas das Convenções Ordinárias dos órgãos parti-
dários, bem como prorrogar por até um ano os mandatos
dos seus membros;
VII. Regulamentar, por Resoluções, disposições deste Estatuto.

(Estatuto do PMDB, 2013).

Nota 21
Art. 108. Os recursos oriundos do Fundo Partidário serão apli-
cados:
...
§1º. A Executiva Nacional, mediante Plano de Aplicação, poderá
repassar às Estaduais e estas às Municipais, parte dos
recursos do Fundo Partidário.
§ 2º. O órgão que receber recursos do Fundo Partidário pres-
tará contas de sua aplicação no prazo e nos termos deste
Estatuto, das normas que forem adotadas pela Executiva
Nacional e de acordo com a legislação pertinente.

(Estatuto do DEM, 2007).

 131
Nota 22
Art. 99. A Comissão Executiva Nacional, anualmente, estabele-
cerá a forma de distribuição, entre as instâncias partidárias, dos
valores arrecadados na forma abaixo, adotando como critério a
organização da legenda nos estados e sua representação junto às
bancadas federais.
(Estatuto do PTB, 2012).

Nota 23
Art. 43. A Comissão Executiva Nacional do Partido da República
em conformidade com o disposto na Lei 9096/95, artigo 38 e
seguintes, estabelece os seguintes critérios para o repasse de
cotas do Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos
Políticos (Fundo Partidário) aos Diretórios Regionais/Distrital do
Partido da República:

§1º 0,25% sobre o valor creditado ao Diretório Nacional a título


de Fundo Partidário por cada Deputado Federal;
§2º 20% do valor creditado ao Diretório Nacional a título de
Fundo Partidário, dividido na proporção dos votos obtidos
na última eleição geral para a Câmara dos Deputados;
§3º Critério político a ser definido pela Comissão Executiva
Nacional diante das peculiaridades e objetivos partidários
em cada Estado da Federação.

(Estatuto do PR, 2012).

Nota 24
Art. 202. Efetuado o desconto de que trata o artigo anterior, os
recursos do Fundo Partidário serão divididos da seguinte forma:

a. 60% serão destinados à instância nacional de direção;


b. 40% serão destinados às instâncias estaduais de direção, na
forma estabelecida no artigo 189 deste Estatuto.

(Estatuto do PT, 2013).

132
Nota 25
Art. 69. Os recursos decorrentes do fundo especial de assistência
financeira aos Partidos Políticos serão distribuídos segundo os
seguintes critérios:

I. 20 % para manutenção da Fundação João Mangabeira;


II. 80 % para manutenção dos diretórios nacional e estaduais,
assim divididos:
a. 60 % ao Diretório Nacional;
b. 40 % por cento aos diretórios estaduais.
...
(Estatuto do PSB, 2012).

Nota 26
Art. 107. Aos recursos do Fundo Especial de Assistência Finan-
ceira aos Partidos Políticos (Fundo Partidário), recebidos pela
Comissão Executiva Nacional, será dada a seguinte destinação:
I. 20% do total a Fundação Ulysses Guimarães Nacional.
a. A Fundação Ulysses Guimarães Nacional estabelecerá os
critérios para a distribuição às representações Estaduais dos
valores recebidos do Fundo Partidário.
II. 15% do total ao Diretório Nacional.
III. 60% do total aos Diretórios Estaduais que mantenham orga-
nizados 1/3 (um terço), no mínimo, de Diretórios Municipais,
que representem 30% (trinta por cento) do eleitorado do
Estado, distribuídos na forma seguinte:
a. 30% igualmente entre todos;
b. 30% proporcional ao número de eleitores inscritos no
Estado em 31 de dezembro do ano anterior ao de compe-
tência orçamentária.
c. 20% proporcional ao número de representantes eleitos para
a Câmara dos Deputados na última eleição realizada anterior
ao ano de competência;
d. 20% proporcional ao número de representantes eleitos para
a Assembleia Legislativa na última eleição realizada anterior
ao ano de competência.
IV. 5% (cinco por cento) na criação e manutenção de
programas de promoção e difusão da participação política
das mulheres.

(Estatuto do PMDB, 2013 do Fundo).

 133
Nota 27
Art. 142. Os recursos Partidário terão destinação conforme as
disposições da lei e das instruções específicas baixadas impor-
tância pelo Tribunal oriundos Superior Eleitoral, podendo ser
aplicados:
...
§2º Para o repasse da a que se refere a alínea “b” do pará-
grafo anterior, a Comissão Executiva Nacional observará os
seguintes critérios:
a. 50% do total será distribuído em partes iguais aos Diretó-
rios Estaduais constituídos e com seus órgãos devidamente
anotados no Tribunal Regional Eleitoral;
b. 50% do total será distribuído aos Diretórios referidos na
alínea anterior, proporcionalmente ao número de repre-
sentantes que tenham no Congresso Nacional, garantido a
qualquer seção estadual, no mínimo, a quota relativa a um
representante.
...
§4º Poderá a Comissão Executiva Nacional rever os percentuais
e critérios de distribuição de cotas, substituir o repasse
de recursos do fundo partidário por recursos próprios aos
Diretórios Estaduais, podendo, ainda, adotar as medidas que
considerar conveniente de acordo com sua situação orça-
mentária e financeira. (Estatuto do PSDB, 2013).

134
 135
Estatutos BRAGA, Maria do Socorro Sousa; BOURDOUKAN, Adla,
Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) - (2009). “Partidos políticos no Brasil: organização
Estatuto do Partido de 2.3.2013 partidária, competição eleitoral e financiamento pú-
blico”. Perspectivas, São Paulo, v. 35, p. 117-148,
Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) - Estatuto do Partido de jan./jun. 2009.
18.7.2012
CARNEIRO, Leandro Piquet.; ALMEIDA, Maria Hermínia
Partido Democrático Trabalhista (PDT) - Estatuto do Partido Tavares de. (2008). “Definindo a arena política local:
de 27.8.1999 sistemas partidários municipais na federação brasi-
leira”. Dados, Rio de Janeiro, v. 51, n. 2.
Partido dos Trabalhadores (PT) - Estatuto do Partido de
12.12.2013 CARREIRÃO, Yan de Souza; NASCIMENTO, Fernanda Paula
do. (2010). “As coligações nas eleições para os
Democratas (DEM) - Estatuto do partido de 12.12.2007 cargos de governador, senador, deputado federal e
Partido Progressista (PP) - Estatuto do Partido de 11.4.2013 deputado estadual no Brasil (1986/2006)”. Revista
Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) - Estatuto Brasileira de Ciência Política, nº 4. Brasília, julho-
do Partido de 18.5.2013 -dezembro de 2010.

Partido da República (PR) - Estatuto do Partido de CARREIRÃO, Yan de Souza. (2007). Identificação ideoló-
21.10.2012 gica, partidos e voto na eleição presidencial de
2006. OPINIÃO PÚBLICA, Campinas, vol. 13, nº 2,
Partido Socialista Brasileiro (PSB) - Estatuto do Partido de Novembro, 2007.
2.12.2011
DANTAS, Humberto. (2013), “Eleições municipais 2012
Referências e o padrão de coligação entre os partidos para a
BARREIRA, Irlys; GONÇALVES, Danyelle. (2012), A partici- disputa de prefeituras”. Rio de Janeiro: Fundação
pação política feminina sob a ótica dos dirigentes Konrad Adenauer, Revista Cadernos Adenauer, ano
partidários. Trabalho apresentado no I Simpósio XIV, volume 2, páginas 127 a 146.
Nacional sobre Democracia e Desigualdades da
Universidade de Brasília, 2012, Brasilia. FIGUEIREDO, Argelina. (2007). “Government Coalitions in
Brazilian Democracy”. Brazilian Political Science
BOLOGNESI, Bruno. (2013). “A seleção de candidaturas no Review, 1(2). 182-206.
DEM, PMDB, PSDB e PT nas eleições legislati-
vas federais brasileiras de 2010: Percepções dos FIGUEIREDO, Argelina e LIMONGI, Fernando. (1999), Exe-
candidatos sobre a formação das listas”. Rev. De cutivo e Legislativo na Nova Ordem Constitucional.
Sociologia e Política. Curitiba, v. 21, n. 46, p. 45-68, Rio de Janeiro: Editora FGV.
jun. 2013.
FREITAS, Andréa Marcondes de. (2013). O presidencialis-
BRAGA, Maria do Socorro; PRAÇA, Sérgio. (2007), “Recru- mo da coalizão [online]. São Paulo : Faculdade de
tamento partidário: Seleção de candidatos à Câma- Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universida-
ra paulistana”. In: KINZO, Maria D´Alva G; BRAGA, de de São Paulo. Tese de Doutorado em Ciência
Maria do Socorro (orgs) Eleitores e Representação Política.
Partidária no Brasil. São Paulo: Humanitas.
FREITAS, Rafael; MEDEIROS, Danilo; MOURA, Santos.
BRAGA, Maria do Socorro; SILVEIRA, Rodrigo R.; BORGES, (2008). “Padrões de atuação das comissões perma-
Tiago. (2012), “Organización, territorio y sistema nentes da Câmara dos Deputados (1988-2006)”,
partidario: Difusión territorial de la organización de in XXXII Encontro Nacional da ANPOCS, 2008,
los partidos y sus potenciales impactos sobre la es- Caxambu
tructura del sistema partidario en Brasil”. América
Latina Hoy, Salamanca, n. 62. GUARNIERI, Fernando. (2009), A força dos “partidos
fracos” - um estudo sobre a organização dos
partidos brasileiros e seu impacto na coordenação
eleitoral. Tese de Doutoramento apresentada ao
Departamento de Ciência Política da Universidade
de São Paulo.

136
GUARNIERI, Fernando. (2011), “A força dos partidos RODRIGUES, Leôncio Martins. (2002). “Partidos, Ideologia
fracos”. Tese de Doutoramento apresentada ao e Composição Social”. RBCS Vol. 17 no 48 feve-
Departamento de Ciência Política da Universidade reiro/2002.
de São Paulo. DADOS – Revista de Ciências Sociais,
Rio de Janeiro, vol. 54, no 1, 2011, pp. 235 a 258. SACCHET, Teresa; SPECK, Bruno. (2012), “Financiamento
eleitoral, representação política e gênero: uma
GUARNIERI, Fernando. (2012), Organização partidária e análise das eleições de 2006”. Opinião Pública,
mobilização eleitoral no Brasil: o elo perdido. Tra- Campinas, volume 18, nº 1.
balho apresentado no VIII Encontro da Associação
Brasileira de Ciência Política. SAMUELS, David. (2006). “Financiamento de campanhas
no Brasil e propostas de reforma” In SOARES,
KINZO, Maria D´Alva G. (2004), “Partidos, eleições e de- Gláucio; RENNÓ, Lucio (orgs) Reforma Política:
mocracia no Brasil pós-1985”. Revista Brasileira de Lições da História Recente. FGV Editora.
Ciências Sociais, vol. 19 nº. 54.
SPECK, Bruno Wilhelm. (2014) “Recursos, partidos e elei-
MACHADO, Carlos Mello; MIGUEL, Luís Felipe. (2011), ções: o papel do financiamento privado, do Fundo
“Padrões de coesão e dispersão: Uma proposta Partidário e do horário gratuito na competição
de tipologia para coligações”. Teoria & Pesquisa: política no Brasil”. (no prelo para a 3ª edição da co-
Revista de Ciência Política da Ufscar. Vol. XX, n. 2 letânea Sistema Político Brasileiro: Uma Introdução,
(jul./dez. 2011), pp. 37-58. ed. Por Lucia Avelar e Antonio Otavio Cintra, 2014)

MAINWARING, S., MENEGUELLO, R. E POWER, T. “Bases SOUZA, M. C. Campello. (1990), Estado e Partidos Políticos
Sociais dos Partidos Conservadores” em Partidos no Brasil (1930 a 1964). São Paulo: Alfa-Ômega.
Conservadores no Brasil Contemporâneo. São
Paulo, Paz e Terra, 2000. TAROUCO, Gabriela da Silva; MADEIRA, Rafael Machado.
(2013). “Partidos, Programas e o Debate sobre
MARENCO, André; SERNA, Miguel. (2007). “Por que Esquerda e Direita no Brasil”. Rev. Sociol. Polít.,
carreiras políticas na esquerda e na direita não são Curitiba, v. 21, n. 45, p. 149-165, mar. 2013.
iguais? Recrutamento legislativo em Brasil, Chile e
Uruguai”. RBCS Vol. 22 nº. 64 junho/2007. ZUCCO, Cesar. (2009). Esquerda, Direita e Governo: A ide-
ologia dos partidos políticos brasileiros. Preparado
MESQUITA, Lara Ramos. (2010). Partidos e coligações: para o Seminário “Legislator Views of Brazilian
Uma análise exploratória da coordenação partidária Governance”, Universidade de Oxford, Setembro
em eleições simultâneas. Trabalho apresentado no de 2009.
37º Encontro Anual da ANPOCS.

PANEBIANCO, Ângelo. (2005), Modelos de Partido - Orga-


nização e Poder nos partidos políticos. São Paulo,
Martins Fontes.

RIBEIRO, Pedro Floriano. (2013), “Organização e poder nos


partidos brasileiros: uma análise dos estatutos”.
Revista Brasileira de Ciência Política, nº10. Brasília,
janeiro - abril de 2013.

 137
138

Você também pode gostar