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18/07/2018 Seria melhor para o país se PSDB e PT fossem mais fortes, diz cientista político - 18/07/2018 - Poder - Folha

ELEIÇÕES 2018 (HTTPS:/// WWW1.FOLHA.UOL.COM.BR/PODER/ELEICOES-2018)

Seria melhor para o país se PSDB e PT fossem mais


fortes, diz cientista político
Para Bruno P. W. Reis, ter partidos muito fracos é um dos problemas da democracia
brasileira

18.jul.2018 às 2h00

EDIÇÃO IMPRESSA (https:/// www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2018/07/18/)

Marco Rodrigo Almeida

SÃO PAULO Ruim com os partidos, pior sem eles.

Na contramão do amplo sentimento de repúdio à classe política tradicional,


o cientista político Bruno Pinheiro Wanderley Reis
(https:///www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2016/09/1813664-novas-regras-de-financiamento-e-uma-tipologia-de-nossos-

politicos.shtml) defende que partidos fortes são fundamentais para a longevidade


de uma democracia.

Em artigo recente, “Um réquiem para os partidos”, o professor


(https:///www1.folha.uol.com.br/poder/eleicoes-2016/2016/10/1819266-talvez-a-reforma-eleitoral-tenha-exagerado-na-dose-

diz-cientista-politico.shtml)da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) expõe


suas preocupações a respeito do declínio, talvez irreversível, da identificação
do eleitorado com as legendas em todo o mundo.

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O professor de ciência política da UFMG Bruno P. W. Reis em sua casa, em Belo Horizonte
(MG) - Alexandre Rezende/Folhapress

Para ele, um dos problemas da democracia brasileira é termos siglas fracas


demais.

O declínio dos partidos é um caminho sem volta? Eu receio que realmente


estejamos migrando para um quadro tecnológico que torne toda aquela
estrutura meio obsoleta. Toda aquela ideia de militância, diretórios,
reuniões.

A democracia pode se tornar mais efetiva nesse quadro de partidos


enfraquecidos? Creio que não. Espero, na verdade, mais instabilidade
política. Se o quadro partidário é fiuido, e os alinhamentos não são muito
dados, as opções estão todas abertas. Seja ganhar a próxima eleição, seja
tentar derrubar alguém.
Quando há mais estabilidade partidária, você cria identidades e polarizações
mais ou menos estáveis. Há uma elite política comprometida com a

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manutenção do status quo, o que favorece a estabilidade do regime.

A ironia é que, na visão popular, essa elite política tornou-se o grande alvo
a ser abatido, no Brasil e no mundo.
Sim, as pessoas desconfiam dos partidos no mundo inteiro. Essas instâncias
burocráticas ficaram pesadas. E com as redes sociais nos habituamos a um
certo ativismo social meio imediato. Para que vou ficar enfiado anos a fio em
reuniões de diretório e executiva?
Essas manifestações mais fiuidas ocasionalmente alcançam seus objetivos,
jogam 1 milhão de pessoas numa praça para protestar contra os políticos.
Mas assim como se constituem do nada, evaporam também. Um bom
exemplo disso é Junho de 2013 (http:///arte.folha.uol.com.br/tvfolha/2014/05/20/junho/).

Retomando o ditado popular: ruim com os partidos, pior sem eles?


Exatamente. É ruim com eles, é fácil ver como tudo isso está aquém de uma
idealização da política, mas é preciso tomar cuidado com a ideia de que tudo
irá melhorar sem eles. Não, eu acho que ficará pior.
Partidos fortes significam um processo decisório na cúpula fortemente
conectado com a sociedade, com muito mais capilaridades.

Critica-se muito, aqui e lá fora, a hegemonia dos mesmos partidos, mas o


senhor diz que um dos problemas de nossa democracia é ter partidos
fracos. Ao contrário do que dizem, nossos partidos são fracos. Tudo bem
que PT e PSDB são mais fortes do que parecem. Não é trivial essa sequência
de seis eleições seguidas para a Presidência polarizadas por eles.
Mas, nas eleições de 2014, 28 partidos elegeram representantes para a
Câmara. Precisamos de tudo (https:///www1.folha.uol.com.br/poder/2017/10/1927902-nenhuma-reforma-
politica-acabara-com-a-corrupcao-diz-cientista-politico.shtml)isso?

Por que PT e PSDB não têm perto de 50% da Câmara cada um deles, restando
espaço para mais outros cinco ou seis partidos?
Houve relativa decantação nas identidades em torno de PT e PSDB, e o
sintoma é a eleição presidencial, mas o sistema eleitoral joga contra a
produção de bancadas grandes no Congresso.
Precisamos fortalecer nossos partidos. Hoje os maiores têm menos de 15%

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no plenário [PT tem cerca de 12% da Câmara; PSDB e PMDB, quase 10% cada
um].

Seria melhor para o país se PSDB e PT fossem mais fortes no Congresso?


Seria, sem dúvida nenhuma. Isso não ocorre por causa da interação do
sistema proporcional de lista aberta [em que as cadeiras obtidas pelo partido
ou coligação são atribuídas aos candidatos mais votados] com nosso modelo
de financiamento de campanha. Cada estado tem dezenas de cadeiras no
Congresso, então temos milhares de candidatos tentando o voto de milhões
de eleitores
O partido vai em busca de candidatos que puxam votos, e não
necessariamente do candidato em que ele confia. Isso não favorece a
identificação nem do ponto de vista do eleitor nem do ponto de vista do
representante.
Com a lista fechada [modelo no qual os partidos apresentam uma lista de
candidatos previamente ordenada e o eleitor vota apenas no partido, e não
em candidato], o partido sai da convenção com a chapa. Isso tornaria a
campanha ao Congresso mais partidária, pois as legendas terão que articular
alguma plataforma coletiva.

E qual o papel do financiamento nesse cenário? É nosso outro calcanhar


de Aquiles, a regra de financiamento. A oferta de dinheiro é extremamente
concentrada no Brasil, pois o teto que incide sobre o doador é proporcional à
renda.
Isso mata o jogo. Se cada pessoa física só pode dar 10% do que ganha, para
quem o candidato típico vai pedir dinheiro? Para gente rica.
Então temos no Brasil milhares de candidatos disputando meia dúzia de
financiadores. Esses financiadores compram, no atacado, infiuência sobre o
sistema decisório inteiro.
Então você aperta play por 30 anos e temos uma elite política que bajula as
poucas fontes de renda.
O resultado dedutível disso é a Lava Jato. Mas demos um tiro no pé quando
aplicamos um remédio judicial a um problema regulatório.

O combate à corrupção aprofundou nossa crise democrática? Claro que


há corrupção, mas forçamos a mão quando o STF admite no julgamento do

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senador Valdir Raupp (https:///www1.folha.uol.com.br/poder/2017/03/1864479-senador-valdir-raupp-vira-reu-no-


stf.shtml) (MDB-RO) que doação legal de campanha pode ser prova de crime

de corrupção, pode ser propina.

Se você desestabiliza o ambiente político em nome do combate à corrupção,


você deteriora as condições do combate à corrupção.

Publiquei até um artigo chamado “Lava Jato é o Plano Cruzado do combate à


corrupção”. Tem essa coisa, oba oba, euforia, vamos prender gente.
Naquela época, tínhamos um problema regulatório sério, uma dinâmica
econômica ruim, infiacionária. E aí você prende quem está remarcando
preço. É o Plano Cruzado.
Agora é a mesma coisa. Temos um ambiente regulatório ruim para
financiamento das campanhas e prendemos quem está operando conforme a
música. Não é assim.
Se você desestabiliza o ambiente político em nome do combate à corrupção,
você deteriora as condições do combate à corrupção.

Precisamos mudar nossas regras. Não podemos deixar, seja Odebrecht, seja
João Doria, doar (https:///www1.folha.uol.com.br/poder/2018/02/tse-publica-resolucao-que-libera-
autofinanciamento-de-campanhas.shtml) sem limite. Teto para doação deveria ser nominal.

Olhando em retrospeto, muitos dizem que os governos de Fernando


Henrique Cardoso (PSDB) e de Lula (PT) foram a época de ouro da
democracia brasileira. Eu ando brincando que num certo sentido voltamos
ao normal do Brasil, à instabilidade. A cautela que peço às pessoas quando
estão muito irritadas é que a vida, de forma geral, melhorou para os pobres e
até para quem não era tão pobre no período FHC e Lula.

Então por que há hoje essa percepção de que tudo deu errado? Primeiro
porque veio a crise econômica. Eu brinco que partidos de esquerda não
podem se dar ao luxo de ter uma crise econômica. Eles precisam zelar com
muito capricho disso.
Lula fez isso, foi um ótimo presidente, mas Dilma Rousseff foi uma péssima
presidente. A trombada entre o mercado viciado de financiamento de
campanha e os órgãos de controle estava contratada, mas não se sabia

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quando ia ocorrer. Dilma propiciou a ocasião com um governo inepto.


E talvez o lastro político do período FHC e Lula não fosse tão sólido quanto
parecia. Meus colegas falavam que estava tudo ótimo, maravilhoso, que tudo
daria certo. Eu já dizia, temos um problema com financiamento de
campanha, isso em 2006, 2007.

E quais são os caminhos para fortalecer nossos partidos?


Eu apoio neste momento qualquer coisa que reconcentre a demanda,
implantando a lista fechada, e que desconcentre o dinheiro, com um teto de
doação nominal. Ninguém poderia doar, sei lá, mais que R$ 50 mil.
Temos de nos orientar para votar em partidos. Se tivéssemos feito isso nos
últimos 24 anos, teríamos um sistema muito mais forte agora.
Então não se trata de dizer se PT e PSDB são ruins ou são bons em si
mesmos. Eles articulam de fato os polos em que passam os principais
confiitos políticos da sociedade. Então devem ser fortes, pois isso vai facilitar
o processamento desses confiitos no país.

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