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A Institucionalização dos Sistemas Partidários na

América Latina

Scott Mainwaring e Timothy R. Scully*

retomada da competição eleitoral foi um marco dos anos 80 na América


A Latina. As eleições tornaram-se a principal via para o acesso ao poder em
toda a região. Em alguns países, como Costa Rica, '\knezuela e Colômbia, o
processo eleitoral entre os 80 e o início dos 90 deu seqüência a décadas de com-
petição politica ininterrupta. Em outros países, como no Uruguai e no Chile,
a realização de eleições livres significou a restauração de instituições e práticas
democráticas relativamente antigas. Na Argentina, Bolívia, Brasil, Equador, Mé-
xico, Paraguai e Peru (este até abril de 1992), o caráter mais aberto das disputas
eleitorais trouxe novas oportunidades para a construção de instituições demo-
cráticas nesse período. Em todos esses casos, a confirmação da politica eleito-
ral como o único meio legítimo, embora nem sempre exclusivo, de acesso ao
poder enfatiza a relevância da análise dos partidos e dos sistemas partidários
nos diferentes países da região.

* Os autores agradecem a Ronald Archer, Michael Coppedge, Wayne Comelius, Mária


Csanádi, Robert Fishman, Herbert Kitschelt, Fabrice Lehoucq, Juan Linz, Abraham Lo-
wenthal, Cynthia McCiintock, James McGuire, Guillermo O'Donnell, Giovanni Sartori,
Matthew Shugart e Arturo Valenzuela pelos comentários às primeiras versões deste arti-
go. Charles Kenney e Michael Pries deram valiosa contribuição como assistentes de pes-
quisa. (Tradução do original em inglês, "The Institutionalization of Party Systems in La-
tin America", de \\!ra Pereira]

DADOS - Revista de CMndas Sodaís, Rio de Janeiro, \úl. 11, n? 1, 1994, pp. 43 a 79.
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A pesquisa sobre partidos e sistemas partidários na AméricÍI Latina tem pro- a continuidade de seus elementos componentes. Uma grande descontinuida-
gredido bastante desde os anos 70, tendo sido produzidos muitos estudos de de no número dos grandes partidos significa que um sistema diferente está
excelente qualidade. Vale notar, porém, a escassez de análises comparativas substituindo uma estrutura anterior. 2 Segundo essa definição todos os países
sistemáticas a respeito do caráter dos sistemas partidários nos principais paí- analisados aqui contêm sistemas partidários. A questão que se coloca é o grau
ses da região. 1 Este artigo pretende suprir tal lacuna, analisando os sistemas de sua institucionalização e o tipo de sistema constituído.
partidários de 12 dos principais países da América Latina, incluindo os de porte
médio e grande e aqueles que possuem as mais antigas instituições democrá- Alguns analistas poderiam objetar que, se os partidos são~relatiNamente fracos
ticas do Continente. e a volatilidade eleitoral alta, não se poderia falar em sistema, pois não haveria
regularidade nos padrões de competição. Estamos, porém, convencidos de que,
O artigo focaliza a noção de institucionalização do sistema partidário e suas mesmo nesses casos, os partidos determinam a natureza da competição ele~to­
implicações para a análise política na América Latina. Três temas principais ral e proporcionam os símbolos que orientam o eleitorado e as elites políticas.
são discutidos: primeiro, defendemos que as principais diferenças entre os sis- Isso basta para afirmar que existe um padrão, ainda que incipiente, entre os
temas partidários estudados têm a ver com o nível de institucionalização. Um elementos componentes do sistema. Mesmo nos termos da definição relativa-
sistema partidário institucionalizado implica a estabilidade da competição en- mente ampla que adotamos, um partido único jamais constitui um sistema,
tre os partidos, a existência de organizações fortemente enraizadas na socieda- porque essa noção implica mais de um componente. 3 13 preciso haver pelo me-
de, o reconhecimento dessas organizações partidárias e das eleições como ins- nos dois partidos para que se possa falar de um sistema partidário.
tituições legítimas na escolha dos governantes e a vigência de partidos que com-
portam regras e estruturas estáveis. Nosso argumento é que, para realizar com- A noção de sistema institucionalizado é muito importante. 4 De modo geral,
parações na América Latina, esse tema deve preceder a tendência usual de en- institucionalização refere-se ao processo mediante o qual uma prática social
focar a análise do ponto de vista do número de partidos. ou organização se torna reconhecida e estabelecida, quando não universalmente
aceita. Os atores sociais desenvolvem expectativas, orientações e comportamen-
Em segundo lugar, sustentamos que existem diferenças acentuadas no grau de tos baseados na premissa de que essa prática ou organização prevalecerá no
institucionalização dos sistemas partidários latino-americanos. 'Umezuela, Costa futuro. Como disse Samuel Huntington, "o processo de institucionalização é
Rica, Chile, Uruguai, Colômbia e Argentina esta em menor extensão- pos- aquele pelo qual organizações e procedimentos adquirem valor e estabilida-
suem sistemas institucionalizados, enquanto no Peru, Bolívia, Brasil e Equa- de''.s
dor os sistemas partidários são incipientes. México e Paraguai constituem uma
categoria residual: são sistemas hegemónicos em transição. Quatro condições devem prevalecer em um sistema partidário institucionali-
zado. 6 A primeira delas, e a mais importante, é que haja estabilidade nas re-
Em terceiro, afirmamos que a institucionalização de um sistema partidário de- gras e na natureza da concorrência entre os partidos. Os padrões de competi-
sempenha um papel de destaque no processo de consolidação democrática, ção devem revelar certa regularidade, o que não implica que esses padrões fi-
ou seja, sua existência ou não tem um forte impacto sobre o funcionamento quem "congelados"? Em uma situação em que os partidos aparecem e desa-
da política em uma democracia. A natureza dos partidos e os sistemas que os parecem rapidamente não se pode falar em sistema institucionalizado. Quan-
articulam têm implicações relevantes sobre o processo político, uma vez que do não há estabilidade, nesse sentido, a institucionalização é restrita.
são eles que ajudam a configurar as perspectivas de emergência de uma de-
mocracia estável, legítima e eficaz. Em segundo lugar, os grandes partidos devem criar raízes relativamente está-
veis na sociedade, caso contrário eles não estruturam as preferências políticas
A NOÇÃO DE SISI'EMA PAimDÁRIO INSI'ITUOONAUZADO e isso resulta em uma relativa irregularidade na maneira como as pessoas vo-
tam. Mesmo entre os sistemas institucionalizados há uma grande variação na
Definimos um sistema partidário como o conjunto de interações padronizadas profundidade dos vinculas dos cidadãos com os partidos, entretanto, as legen-
na concorrência entre partidos. Isto implica que as regras e regularidades na das partidárias são mais significativas nos sistemas institucionalizados que nas
competição eleitoral são conhecidas, quando não universalmente aceitas, ain- estruturas incipientes. Os laços entre eleitores e partidos ajudam a fixar a re-
da que possam ser contestadas ou modificadas. Um sistema implica também gularidade do voto; nos sistemas incipientes boa parte dos eleitores tem difi-

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culdade~ t;m d~ o que cada um dos grandes partido. I~ até mes-
A INSTITUOONALIZAÇÃO DOS SISI'EMAS PARTIDÁIUOS NA AMÉRICA LATINA
mo em linhas mwto gerais. Do mesmo modo, embora haja muitas diferenças
nas relações que unem os grupos de interesse e os partidos, até mesmo nos Se, como argumentamos a seguir, o grau de institucionalização de um sistema
sistemas institucionalizados, tais ligações são geralmente mais desenvolvidas partidário tem importantes desdobramentos, o primeiro passo para a sua clas-
do que nos sistemas incipientes. sificação é a determinação do nível em que se encontra nesse processo. Por
essa razão, mais do que classificar os sistemas latino-americanos pela sua quan-
tidade de partidos, preferimos uma comparação baseada'rul extensão de sua
Em função desse fato é que, nos sistemas institucionalizados, 08 partidos são
institucionalização. Trata-se de uma nova perspectiva de análise comparativa
c~rentes em suas posições ideológicas relativas. Um partido que se posiciona
entre sistemas partidários.
mtidamente à esquerda de outro não se desloca para a direita deste apenas
para ganhar uma vantagem eleitoral de curto prazo, porque os partidos preci-
Privilegiar a quantidade de partidos poderia fazer sentido se estivéssemos tra-
sam assegurar a fidelidade de seus adeptos (I<itschelt, 1989, pp. 41-74). Quan-
tando de sistemas institucionalizados em toda a América Latina. Mas, na pre-
do os grandes partidos mudam suas posições ideológicas, isso indica que há
sente circunstância, esse enfoque produziria resultados equivocados, pois jun-
uma fragilidade nos vínculos entre os partidos e a sociedade e uma irregulari-
taria sistemas que são de naturezas distintas. 9 O número de grandes partidos
dade na maneira como se realiza a competição entre eles e no modo de se rela-
em competição e a intensidade da polarização ideológica são importantes, mas
cionarem com os atores sociais.
sua validade aumenta se for determinada a extensão da institucionalização do
sistema. Acreditamos não s6 que esse argumento poderia ser aplicável a ou-
Em terceiro lugar, em um sistema partidário democrático e institucionalizado,
tros contextos, além do latino-americano que estudamos neste artigo, mas tam-
os principais atores políticos conf~m legitimidade ao processo eleitoral e aos
bém que essa perspectiva poderia ser útil para orientar as comparações entre
partidos. As elites políticas orientam seu comportamento pela expectativa de sistemas partidários na Europa Oriental e Central, na África e em outras de-
que as eleições serão a via primordial de acesso ao governo. Quando essa ex-
mocracias recém-criadas.
pectativa começa a se desgastar, a institucionalização do sistema também co-
meça a se dissolver. Em um sistema institucionalizado, os partidos são os prin- Nosso primeiro critério de institucionalização - que os padrões de competi-
cipais atores na definição do acesso ao poder. Eleições livres devem, de fatO: ção entre partidos apresentam regularidades - é relativamente fácil de medir
determinar quem vai governar e os principais atores devem considerá-las co- e comparar por intermédio do índice de volatilidade eleitoral de Pedersen. Es-
mo tal. se índice mede a mudança líquida na cota de cadeiras (ou votos) de todos os
partidos de uma eleição para outra. O índice é construído pela adição da mu-
Finalmente, em um sistema institucionalizado as organizações partidárias têm dança líquida na porcentagem de cadeiras (ou votos) obtidas ou perdidas, por
muito peso. Elas não se subordinam aos interesses de líderes ambiciosos; ao partido, de uma eleição para outra, e dividindo-se o resultado por 2. Um índi-
contrário, adquirem independência e importância por conta própria. Os parti- ce de 15, por exemplo, significa que alguns partidos obtiveram um acréscimo
dos tomam-se autônomos em relação aos movimentos ou organizações que de 15% no número de cadeiras parlamentares de uma eleição para a seguinte,
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originalmente os criaram com objetivos instrumentais. Estruturas partidárias enquanto outros perderam um total de 15% (Pedersen, 1983).
consistentemente estabelecidas, de alcance nacional, bem organizadas e com
recursos próprios, são indicações de um sistema solidamente institucionaliza- A Thbela 1 mostra a volatilidade média em eleições parlamentares (Câmara dos
do. Além disso, tendem a seguir rotinas internas, inclusive procedimentos de Deputados) e presidenciais para os 12 países aqui analisadÔs. Os dados são
acesso ao controle do partido.s organizados na tabela, da volatilidade mais baixa para a mais alta, usando um
indicador agregado que se baseia tanto em eleições parlamentares quanto pre-
Embora às vezes se faça uma distinção dicotômica entre sistemas instituciona- sidenciais. Ressalta de imediato a existência de grandes diferenças de volatili-
lizados e sistemas incipientes, na realidade, existe um continuum. Também não dade entre os casos estudados. Utilizando-se o indicador agregado, verifica-
pretendemos que a institucionalização seja um processo linear. Adiante demons- mos que Uruguai, Colômbia e ~nezuela se situam no pólo inferior da escala
traremos que alguns sistemas partidários latino-americanos passaram por um na América Latina, enquanto Paraguai, Bolívia, Equador, Peru e Brasil colocam-
processo de desinstitucionalização nos últimos 15 anos. se no pólo superior. 11

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A votação presidencial total do Partido Cooservador em 1990 inclui votos dados para Alvaro Gómez
Quanto a períodos eleitorais específicos, observa-se uma variação excepcional do Movimiento de Salvación Nacional, e para o candidato oficial do Partido Conservador, Rodrigo
de volatilidade nas eleições parlamentares, que vai desde 3,0% na Colômbia Uoreda.
(1978-82) até 62,5% no Peru (1980-85). As médias também apresentam grandes (c) Quanto ao índice de votação presidencial, apenas o Partido de Liberacl6n Nacional - PLN e a
diferenças, situando-se a Colômbia no extremo inferior da escala, com 8,5%, Aliança Conservadora foram analisados separadamente; os votos para os demais partidos foram com-
putados como se fossem para um só partido adicional.
seguida do Uruguai (9,1%), Argentina (12,7%), Chile (15,8%), ~ezuela (1.7,7%)
(d) No caso das eleições parlamentares, um dos periodos eleitorais foi de 1973 a 1989, um intervalo
e Costa Rica (18,2%). O México fica em uma posição intermediária (22,4%). Maior
de 16 anos, e houve um espaço de 19 anos entre as eleições presidenciais. O índice de votação presi-
volatilidade ainda apresentam Paraguai (25,8%), Equador (32,5%), Bolívia dencial foi determinado pela comparação entre democratas-cristãos e socialistas, em 19'i0, e a coliga-
(33,0%), Brasil (40,9%) e Peru (54,4%). O Equador tem um índice bastante alto, ção Concertaclón, e pela comparação entre o Partido Nacional, em 19'iiJ, e a coalizão Democracia e
Progresso. A candidatara de Errázuriz, em 1989, não teve paralelo em 19'i0.
apesar de realizar eleições parlamentares com mais assiduidade de dois em
(e) Em todos os períodos, exceto 1983-88, Acclón Democrática- AD, COPEI, Movimiento al Socialis-
dois anos - que os demais países do Continente, à exceção da Argentina. Elei- mo - MAS e Movimiento Electoral dei Pueblo- MEP foram tratados como partidos separados. En-
ções mais freqüentes poderiam acarretar uma volatilidade mais baixa uma vez tre 1983-88, o MEP roi agregado aos partidos pequenos tendo em vista a falta de informações. Em
que os eleitores têm menos tempo para mudar suas preferências eleitorais. todas as eleições, os votos para os pequenos partidos foram computados como se fossem para um
só partido adicional.
(f) Desde 1983, metade do total de 254 cadeiras da Câmara tem sido eleita a cada dois anos para
Tabela 1 mandatos de quatro anos, renovando-se as cadeiras individuais em eleições alternadas. Esse índice,
Volatilidade Eleitoral' em 12 Países da América Latina portanto, baseia-se nas 127 cadeiras em disputa nas eleições de 1983. Nas eleições presidenciais, o
Partido Justiclalista, a Unión Civi.ca Radical UCR, a Alianza fupular Federal, a Alianza fupular
Revolucionaria e o Partido Intransigente foram analisados em separado; os votos dados aos demais
Cadeiras Obtidas em
partidos foram computados como sendo para um só partido adicional O índice está, ~ um pouco
Eleições Parlamentares Votação Presidencial
subestimado. A eleição de março de 1973 foi considerada, mas a de setembro de 1973 não.
Períodos Número de Volatilidade Períodos Número de Volatilidade
(A)+(B) (g) Nas eleições parlamentares, em 1988, a Frente Democrática Nacional - FDN foi tratada como
considerados eleições média considerados eleições média
(B) 2 um partido inteiramente novo. No ano de 1991, o Partido de la Revolución Democrática - PRD roi
(A) --
considerado oriundo do FDN e o Partido Auténtico de la Revoluclón Medcana - PARM, o Partido
Uruguai<•) 1971-89 2 9,1 1971-89 2 9,1 9,1 fupular Socialista- PPS e o Partido dei Frente Cardenista de la Reconstrucción Nacional- PFCRN
Colômbia(b) 1971)..90 5 8,5 197().90 5 10,9 9,7 foram analisados novamente em separado. Se esses partídos fossem considerado& filiados ao PRD
Costa Rica(<) 1970..90 5 18,2 19'70-90 5 14,3 16,3 em uma aliança do tipo FDN, o índice em 1988-91 seria 10,1% inferior e a voJatilidade média seria
Chile(d) 1973-93 2 15,8 1970-93 2 14,2 15,Q de 19,()%. Nas eleições presidenciais, o FDN {tratado como um novo partido}, o Partido de la Revolu-
Venezuela(•) 1973-93 4 17,7 1973-93 4 20,0 18,8 ción lostitucional - PRI e o Partido de Acción Nacional - PAN foram avaliados em separado; os
Argentina<fl 19&3-93 5 12,7 197:H!9 2 '1J,2 20,0 votos para os demais partidos foram computados como sendo para um só partido adicional.
México(g) 1982·91 3 22,4 1982-88 1 32,2 '1J,3
2 25,8 1989-93 1 37,0 31,4 (h) Até 1989, o partido do governo automaticamente obtinha dois terços das cadeiras na Câmara.
Paraguai(h) 19&3-93
Bolívia(i) 1979-93 4 33,0 1979-93 4 39,2 36,1 (i) Todos os partidos são considerados na determinação dos dois índices. A volatilidade média em
Equador<il 19?8-92 5 32,5 1979-92 3 43,2 37,9 eleições parlamentares é reduzida pelo índice de 19,3% para o período 1979-80. Para o de 1993, usa-
Peru(kl 1971>-90 3 54,4 1980-90 2 54,0 54,2 mos o número de cadeiras obtido pelo Movimiento de Izquierda Revolucionaria- MIRe pela Acción
BrasíJ{l) 1982-90 2 40,9 1960-89 1 100,0 71,0 Democrática y Nacionalista - ADN, que concorreram em uma coligação denominada Acuerdo Pa-
triótico - M em vez de considerarmos esta última como um novo partido. No caso da volatilidade
funtes: Mainwaring e Scully (no prelo); e também várias edições do Europa Kbxld ~ar Book.
nas eleições presidenciais de 1989-93, comparamos o índice da AP em 1993 com o conjunto dos votos
Observações: Usamos o ano de 19'i0 como limite inicial dos dados eleitorais. A freqüêncla de mu- de 1989 da ADN e do MIR.
danças nos sistemas partídários e as interrupções sigl:tificativas na prática democrática prejudicam
a validade dos dados para anos anteriores. Quanto ao México e o ParaguaL começamos com as elei-
(j) Thdos os partidos são considerados nos dois índices.
ções imediatamente anteriores à realização de votações menos manipuladas, isto é, 1982 e 1983, res· (k) Quanto ao índice de votação presidencial, todos os partidos furam levados em conta em todas
pectivamente. Se não o fizéssemos, ficaríamos sem uma data-base para o cálculo da volatilidade elei- as eleições. Na determinação da volatilidade dos wtos presidenciais para o período eleitoral de 1985-90,
toral. A inclusão de uma série histórica mais longa induziria à conclusão equivocada de estabilidade a Frente Democrática - Fredemo foi coosiderada um novo partido em 1990. Nos votos para a Câma-
no tempo em vez do estado de contínua mudança que se observa nos partidos hegemônicos em tran- ra, os candidatos da aliança da Fredemo mantiveram suas identidades partidárias anteriores com
sição. Em diversos casos, dados incompletos levaram-nos a fundir partídos menores em uma única a Acción fupular- AP e o Partido fupular Cristiano - PPC, de modo que suas cadeiras são compa-
categoria. Como esses partidos são pequenos, o método induz a um erro de pequena monta, isto radas com as dos candidatos da AP e do PPC na eleição anterior. Como as eleições de 1992 foram
é, uma Jlceira subestimação da volatilidade eleitoral. manipuladas, não as incluímos em nenhuma das tabelas deste artigo.
(a) Quanto ao índice de votação presidencial, apenas quatro partidos - Colorado, Blanco, Novo Es- (l) O intervalo de 29 anos entre as eleições presidenciais eleva o resultado da volatilidade eleitoral.
paço e Frente Ampla - furam analisados separadamente; os votos para os demais partidos furam
computados como se fossem para um só partido adicional.
(b) Quanto ao índice de votação presidencial, apenas os partidos Conservador e Uberal furam anali-
Em comparação com as democracias de países de industrialização avançada,
sados separadamente; os votos para os demais partidos foram computados como se fossem para cinco dentre os 12 países estudados neste artigo apresentam volatilidade elei-
um só partido adicional. Em 1982, a votação total do Partido liberal inclui o candidato ofidal do PL,
L6pez, e 0 candidato rebelde do mesmo partido, Galán, que integrava a lista do Nuevo liberalismo.
toral extraordinariamente elevada. Bartolini e Mair (1990) calcularam a volatili-

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dade com base nos votos dados em 303 períodos eleitorais em 13 países da das: os cidadãos se inclinariam a votar com base na legenda partidária e,
Europa Ocidental entre 1885 e 1985. Em todos esses períodos, o índice de 32,1% portanto, provavelmente escolheriam o mesmo partido nos dois tipos de
verificado na Alemanha, entre 1919 e 1920, foi o mais alto; mesmo assim foi eleições. A Thbela 2 mostra as diferenças entre a porcentagem de cadeiras
inferior à média de quatro casos aqui estudados (embora nosso cálculo se ba- obtidas pelos partidos na Câmara dos Deputados e a porcentagem de votos
seie em número de cadeiras, de modo que a comparação não é exata). A Fran- dados aos seus respectivos candidatos presidenciais. 12 Sempre que os can-
ça, com uma volatilidade média de 15,2% ao longo dos cem anos, obteve o ín-
didatos presidenciais foram apoiados por coalizõe;; (em v~ de partidos),
dice mais elevado de toda a Europa Ocidental; mesmo assim, essa média era
efetuamos a comparação das porcentagens de votos presidenciais obtidas
mais baixa do que a de oito dos 12 casos por nós estudados. A média geral
pela coligação com o número de cadeiras na Câmara que a mesma coligação
para os 303 casos foi de 8,6%, inferior a de 11 dentre os 12 países latino-ameri-
alcançou. A Thbela 2Iimita-se às eleições simultâneas (ou quase simultâneas
canos.
na Colômbia) para presidente e deputados porque, nesse tipo de eleição,
teria cabimento se esperar uma menor diferença de resultados do que em
A Tabela 1 também informa sobre a volatilidade em eleições presidenciais. Mais
votações não simultâneas. (Não temos condições de verificar a influência
uma vez observamos grandes diferenças entre os grupos de países. Há uma li-
geira modificação na ordenação dos países, com o Uruguai (9,1 %) ocupando a desse fator.) A Tabela 3 apresenta as mesmas informações relativamente
posição inferior, seguido pela Colômbia (10,9%), Chile (14,2%), Costa Rica a eleições não simultâneas que ajudam a explicar os percentuais extraordina-
(14,3% ), 'Venezuela (20,0%) e Algentina (27,2%). Esses seis países ocupam a po- riamente elevados do caso brasileiro. 13
sição inferior da escala e com a única exceção da Argentina todos apresentam
uma volatilidade entre um mínimo de quase 50% e um máximo de 90% inferior
a dos quatro sistemas mais voláteis. No Brasil a descontinuidade chega aos 100% Tabela 2
-já que consideramos que o Partido Trabalhista Brasileiro- PIB pré-64 e o PIB ~ Presidenciais Comparados com o Número de Cadeiras na Cimara em
pós-79 não são o mesmo partido-, índice que pode ser parcialmente explicado Eleições Simultineas
pelo longo hiato entre as eleições presidenciais (de 1960 para 1989). Apesar dis-
Períodos Número de Última Diferença
so, a incapacidade dos grandes partidos brasileiros para sobreviver ao golpe de Considerados Eleições Diferença(%) MMia(%)
1964 contrasta nitidamente com a recuperação dos partidos nos regimes autori- Uruguai(a) 1m-89 3 0,6 0,6
tários da Algentina, Chile e Uruguai. AD Brasil seguem-se o Peru (54,0%), Equa- Costa RicaCb> 197()..90 6 4,0 3,3
Argentina(c) 1983-89 2 2,9 3,3
dor (43,2%), Bolívia (39,2%), Paraguai (37,0%) e México (32,2%). Colômbia(d) 1974-90 5 13,6 6,8
México{e} 1988 1 6,9 6,9
Venezuela<t> 1973-88 4 11,7 7,6
Em resumo, os padrões de competição são bastante estáveis no Uruguai e na BoJívia{g) 1979-93 5 12,0 9,8
Colômbia; moderadamente estáveis no Chile, Costa Rica, 'Venezuela e Argen- Peru(h) 1980-90 3 12,8 11,7
Paraguai(!) 1993 1 14,8 14,8
tina; bastante instáveis no México e extremamente instáveis no Paraguai, Bolí- Chile(i) 1989-93 2 14,0 14,7
via, Brasil, Equador e Peru. Equador 1984-92 3 48,8 31,3
Fontes: Idem; idem.
Nosso segundo critério de institucionalização ressalta que os partidos devem Observações: Usamos o ano de 1!770 como limite inicial dos dados eleitorais. A freqüên-
criar raízes estáveis na sociedade. Se a primeira dimensão examina os padrões da de mudanças nos sistemas partidários e interrupções significativas na prática demo-
crática prejudicam a validade dos dados para anos anteriores. limitamos os dados so-
gerais de estabilidade na competição interpartidária, esse segundo critério abor- bre o México e o Paraguai às eleições mais competitivas e, portanto, mais recentes. Em
da as conexões entre partidos, cidadãos e interesses organizados. As duas di- diversos casos, fundimos pequenos partidos em uma categoria agregada em virtude da
mensões se interligam mas são separáveis. falta de dados, mas juntos esses partidos menores raramente obtiveram mais do que 6%
ou 7% do total de votos para presidente. A diferença entre os dados presidenciais e par-
lamentares é ligeiramente subestimada pela eliminação da sobreposição de perdas e ga-
O exame das diferenças entre as votações parlamentar e presidendal fornece nhos decorrentes do agrupamento dos pequenos partidos.
informações importantes para uma avaliação da profundidade da penetração
dos partidos na sociedade. Quando os partidos são atores-chave na conforma- (a) Apenas os dados para os partidos Colorado, Blanco, Novo Espaço e Frente Ampla
foram analisados separadamente; os demais partidos foram computados como sendo
ção das preferências políticas, as diferenças tendem a ser menos pronuncia- um partido adicional.

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··~

(b) Apenas o PLN e a Aliança Conservadora (PUnN/CU/PUSC) foram analisados como À exceção de Equador e Brasil, que mostram números muito mais elevados
partidos separados; todos os demais foram computados como sendo um só partido que os demais países, os dados das Tabelas 2 e 3 não revelam as mesmas dife-
adicional.
renças acentuadas entre sistemas partidários que observamos na Tabela 1. En-
(c) A porcentagem leva em conta apenas os dois anos em que se realizaram eleições pre- tretanto, a ordenação dos casos é surpreendentemente coerente. As seis posi-
sidenciais, 1983 e 1989. O Partido Peronista e a Unión Cívica Radical foram analisados ções inferiores, em eleições simultâneas, são ocupadas por sistemas que apre-
separadamente; todos os demais partidos foram computados como sendo um só parti-
do adicional.
sentaram níveis de volatilidade baixos e médios nas eleições parlamentares e
presidenciais. Três dos quatro casos de percentual mais alto na Tabela 2 tam-
(d) Apenas os partidos Liberal e Conservador foram tratados em separado; todos os de- bém revelaram um elevado grau de volatilidade eleitoral. Os dois exemplos de
mais partidos foram computados como sendo um só partido adicional.
eleições não simultâneas são igualmente coerentes com os dados da Tabela 1
(e) Como nenhum outro partido além do PRI, PANe da coalizão da FDN recebeu votos - pois o índice foi muito elevado no Equador (1979 e 1978) e no Brasil (1989
para cadeiras no Legislativo, os votos presidenciais dos demais partidos foram agrupa- e 1990).
dos e comparados a zero.

(f) A AD, COPEI, MEP, MAS, Unión Republicana Democrática URD, CC, OPINA e A diferença entre a porcentagem de cadeiras na Câmara e a porcentagem de
ORA foram analisados em separado nos anos em que chegaram entre os cinco primei- votos presidenciais exibe uma variação extremamente ampla, desde menos de
ros lugares. Em outros casos, sua votação inexpressiva foi adicionada à dos demais par-
1% no Uruguai até 52,3% no Brasil (neste se comparam as eleições legislativas
tidos de menor porte e tratados como um só partido.
de 1990 com as eleições presidenciais de 1989), e de uma média de aproxima-
(g) Todos os partidos que apresentaram candidatos foram analisados separadamente. Em damente zero no Uruguai aos mesmos 52,3% no Brasil (tomando-se como ba-
1993, usamos os votos presidenciais obtidos pela AP e o tamanho de sua bancada na Câmara. se um único período eleitoral). O percentual extremamente baixo do Uruguai
(h) APRA, AP, PPC, FNT, Izquierda Socialista IS, Izquierda Unida- lU, Fredemo pode ser parcialmente explicado por duas características de sua legislação elei-
e Cambio'90 foram analisados separadamente. As dez cadeiras na Câmara obtidas pela toral: os eleitores votam em uma chapa partidária fechada e o preenchimento
UDP, PRT, UNIR e UI, em 1980, foram agrupadas como sendo do lU para se tomarem de vagas no Congresso baseia-se em um sistema proporcional de base nacio-
compatíveis com os dados que pudemos levantar sobre as eleições presidenciais daque-
nal. Por essa razão, quase não há diferença entre a votação parlamentar e a
le ano. Em 1990, as cadeiras obtidas pela AP, PPC e Libertad foram somadas e compara-
das com a porcentagem de votos presidenciais alcançados pela Fredemo. votação presidencial, e praticamente não há divergência entre os votos con-
gressuais e o número de cadeiras obtido.
(i) Nos anos de 1984, 1988 e 1992 as eleições foram coincidentes. As eleições parlamenta-
res de 1986 e 1980 foram omitidas porque não houve eleição presidencial nesses anos.
Todos os partidos foram considerados. Dados de survey e de geografia eleitoral poderiam ser muito úteis para
nos informar a respeito da percepção dos eleitores sobre os partidos, para
(j) Em 1989, o número de cadeiras na Câmara está agregado segundo a coligação que medir a força das identificações partidárias e estimar a estabilidade do voto
os candidatos apoiavam. A coligação da Concertación inclui o Partido Democrata Cris-
tiano - PDC, o Partido Radical PR, o Partido por la Democracia PPD, Partido So- nas preferências eleitorais dos cidadãos. Será que a maioria das pessoas
cialista Alymeida - PSA, Izquierda Cristiana- IC, PAIS/PRSD, o Partido Social-Democrata manifesta predileção por um partido? Os padrões de voto mostram uma
PSD e o Partido Humanista - PH, juntamente com duas cadeiras de independentes. certa estabilidade segundo grupos de recorte geográfico e sociológico? Infe-
A coalizão Democracia y Progreso inclui as cadeiras obtidas pela Renovación Nacional
- RN, Unión Democrática Independiente UDI e Centro Democrático Libre - CDL.
lizmente não temos dados estritamente comparáveis que permitiriam fazer
Nenhum partido que apoiava o candidato presidencial Errázuriz obteve acesso à Câmara. essas comparações.

A despeito da ausência desse tipo de dado, é claro que os partidos conquista-


Tabela 3
Votos Presidenciais Comparados com o Número de Cadeiras na Câmara em ram o apoio de muitos eleitores no Uruguai, Costa Rica, Chile, ~nezuela, Ar-
Eleições Não Simultâneas gentina e Colômbia. Essa conclusão se evidencia pelo grau de volatilidade elei-
toral, pela pouca diferença entre os votos presidenciais e parlamentares, apa-
País Ano de Ano de rece nos dados de survey, quando existentes, e nas informações qualitativas
Eleição Presidencial Eleição Parlamentar Diferença(%)
disponíveis. Por exemplo, 60% a 70% dos eleitores na Colômbia, Chile e Uru-
Equador 1979 1W8 48,7
Brasil 1989 1990 52,3 guai manifestam uma preferência partidária nas pesquisas em comparação com
Fontes: Idem; idem. cerca de 30% a 40% no Brasil. A volatilidade eleitoral nos primeiros países não

52 53
é muito maior, em média, da que se observa nas democracias mais avançadas, res. Os partidos não só ajudaram a constituir as principais organizações so-
indicando razoável estabilidade agregada das preferências eleitorais. 14 ciais como sua atual influência continua sendo muito expressiva. As disputas
no interior dessas organizações tendem a refletir linhas partidárias diferentes
Os eleitores também demonstram forte apego aos partidos no Paraguai e no e sua autonomia com relação aos partidos é pequena.
México. No Paraguai, a competição entre colorados e liberais divide a nação
até no plano local. Essa rivalidade tem sido ferrenha e profunda; gerações in- No México e no Paraguai as organizações sociais são dominadas pelos parti-
teiras têm-se identificado fortemente com um ou outro partido. Apesar disso, dos. Devido à fusão entre o Estado e o partido hegemónico, muitos grupos
parte dessa intensa identificação, especialmente com os colorados, resultou do organizados apóiam o regime e o partido para ganhar acesso aos recursos do
uso patrimonial do poder em uma ordem política autoritária. Ser um colorado Estado. Caso contrário, as organizações não teriam condições de conseguir re-
era uma condição necessária para ter acesso a sinecuras do Estado, de modo cursos para suas bases.
que muitas pessoas declaravam apoiar esse partido esperando obter vantagens
pessoais. Também no México o PRI aprofundou raízes na sociedade, desper- Nos demais países os partidos exercem uma influência menos direta e têm me-
tando a lealdade de amplos setores do país. (Mas não se sabe até que ponto nos controle sobre as organizações sociais. Na Argentina os sindicatos têm ti-
a lealdade para com o partido tinha origem na fusão patrimonial entre o Esta- do poderosa influência sobre a política nacional, chegando a fazer sombra ao
do e o partido.) Em ambos os países, o vfuculo dos eleitores com os partidos partido peronista em alguns momentos históricos. Na Colômbia, os laços en-
tradicionais refletia em larga medida um cálculo de benefícios económicos; em tre partidos e organizações sociais são mais fracos do que em outros sistemas
um contexto mais democrático é possível que essa identificação com os parti- partidários democráticos mais estáveis.
dos hegemónicos se dissipasse.
Esses vínculos já estiveram bem desenvolvidos no Peru, mas saíram enfraque-
No Peru, os eleitores mantiveram, ao longo do tempo, fortes laços com os par- cidos nos anos 80 devido à crise do país e ao caráter crescentemente anômico
tidos. A intensidade da identificação era tão grande que se criaram guetos de das organizações sociais. No Brasil, Equador e Bolívia os laços entre partidos
subcultura política no interior de cada organização. A má condução da política e organizações sociais têm sido relativamente fracos ao longo da história: os
e da economia durante a década de 1980, porém, desgastou esse apego dos- partidos até têm procurado estruturar e cooptar as organizações, mas são de-
eleitores, fato que se revelou de modo particularmente claro na extraordinária masiadamente frágeis para infundir adesões estáveis. No Brasil, o Partido dos
volatilidade eleitoral dos anos 80 e nas eleições presidenciais de 1990. No Bra- Trabalhadores - PT tem uma forte presença no interior do movimento sindi-
sil, Bolívia e Equador a maioria dos cidadãos não se identifica com partidos cal, mas ainda está longe de ser a influência exclusiva; o próprio sindicalismo
nem vota em linhas partidárias. A existência de um volume considerável de não se tem empenhado no fortalecimento de um partido em particular. Os vfu-
pesquisas sobre o assunto no Brasil toma esse fato particularmente reconheci- culos entre as organizações empresariais e os partidos são praticamente ine-
do no País. Vários estudos sobre atitudes políticas e comportamento eleitoral xistentes. Essas organizações fazem contatos com políticos individualmente,
no Brasil mostram que a maioria dos cidadãos não manifesta preferências par- mas rejeitam ligações permanentes com qualquer dos partidos. Na Bolívia, os
tidárias e seu padrão de voto, especialmente para cargos importantes do Exe- partidos políticos têm desempenhado um papel secundário na intermediação
cutivo, não é determinado pela predileção por organizações partidárias. Em- dos interesses sociais mais importantes e os atores políticos. Os partidos têm
bora não tenhamos obtido dados de survey confiáveis acerca da Bolívia e do permanecido em grande parte dissociados dos principais interesses da socie-
Equador, temos quase certeza de que o mesmo fenômeno acontece nesses paí- dade boliviana e, em certas funções básicas de representação, têm sido pouco
ses. Nos três casos, os partidos não são tão determinantes dos resultados elei- a pouco suplantados por comitês cívicos regionais, desde 1985.
torais quanto em outros lugares do Continente.
A capacidade de sobrevivência dos partidos é um indicador de sucesso na con-
Nosso segundo critério também afirmava que em sistemas institucionalizados quista de apoios duradouros de certos grupos sociais. Por conseguinte, se um
os interesses organizados deveriam manter elos mais estreitos com os parti- sistema partidário for relativamente institucionalizado, é provável que nele um
dos. Esses vfuculos, em democracias, são encontrados na Vénezuela, Chile, Cos- número maior de partidos tenha uma história mais longa do que no caso de
ta Rica e Uruguai. Nesses países, os partidos parecem encapsular as grandes sistemas menos institucionalizados. A Thbela 4 mostra a porcentagem dos vo-
organizações sociais - sindicatos, uniões estudantis e associações de morado- tos obtidos pelos partidos mais antigos nas eleições parlamentares mais recen-

54 ss
tes (até 1993)i arbitramos o limite de eleições computáveis no ano de 1950. Fo- clara continuidade organizacional.) A ordenação dos países na 'làbela 5 varia
mos relativamente rígidos ao incluir apenas partidos que realmente estejam um pouco em relação à da Tabela 4, mas os mesmos quatro países ocupam
em funcionamento desde 1950. Se um partido em atividade desde então so- o extremo inferior da escala.
freu uma cisão posterior, avaliamos rigorosamente sua continuidade organiza-
cional, isto é, apenas uma das dissidências subsistentes é contada como parti-
do que existia em 1950. Assim, por exemplo, no Paraguai incluímos o Partido Tabela 5
Liberal PL, mas nenhuma das organizações oriundas desse partido, enquanto Tempo de Vida dos Partidos com mais de 10% dll8 Cadeiras na
na Bolívia computamos o Movimiento Revolucionaria Nacional Auténtico Câmara em 1993
MRNA, mas não as outras dissidências do MNR. País e Ano Partidos com Idade do Partido Idade Média
da Eleição maís de 10% das Cadeiras (1993)
Colômbia (1990) Liberal 144 144
'Dlbela 4 Conservador 144
Distribuição das Bancadas dos Partidos Ativos no Ano de 1950 Uruguai (1990) Colorado 157
(12 países) Blanco 157 112
Frente Ampla 22
País Partidos em Atividade Porcentagem de Cadeiras
Argentina (1991) UCR 103 76
no Ano de 1950 (e Ano da Eleição)
48
Colômbia Liberal, Conservador 97,0 (1990)
Paraguai (1993) Colorado 106
Costa Rica PLN,PUSC 94,7 (1990)
Paraguai Colorado, Liberal 90,0 (1993) PLRA 106 71
México PRI, PAN, PPS 84,2 (1991) Nacional 1
Argentina P. Justicialista, UCR 80,3 (1991) México (1991) PRI 64 59
Uruguai Colorado, Blanco 69,7 (1989) PAN 54
Chile PDC, Radical, Socialista, PPD 57,5 (1993)
Venezuela AD, COPEI, URD, PCV 56,4 (1993) Venezuela (1993) AD 57
Bolívia MNRA 40,0 (1993) COPEI 47 33
Peru APRA 29,4 (1990) MAS 25
Equador PLR,PCE, CFP,PSE 15,6 (1992) CAUSAR 4
BrasiJ(a) PPS· 0,6 (1990)
Chile (1993) PPDIPS 61 (PS)
funtes: Idem; idem. PDC 55 (Falange) 37
Observação: No caso do Brasil, excluímos o PTB porque consideramos que, depois de 19'79, o partido RN 27 (Nacional)
não foi mais o mesmo de antes de 1964. UDI 6
Costa Rica (1990) PLN 48 (PSD) 44
Novamente observamos que os dados revelam uma extensa variação, desde PUSC 40

a Colômbia (com 97.0%) no extremo mais alto da continuidade organizacional Peru (1990) APRA 63
AP 37 33
até o Brasil (0,6%) no extremo inferior. A Colômbia seguem-se Costa Rica PPC 26
(94,7%), Paraguai (90,(}%), México (84,2%), Argentina (80,3%), Uruguai (69,7%), Cambio '90 3
Chile (57,5%) e Venezuela (56,4%). É acentuado o contraste entre esses oito sis- Bolívia (1993) MNR 52
temas e os quatro restantes, com a Bolívia (40,(}%), Peru (29,4%), Equador (15,6%) MIR 22
ADN 15 20
e Brasil (0,6%) situando-se no extremo inferior da escala. CONDEPA 5
ucs 4
Equador (1992) PSC 42
A 'làbela 5 mostra a longevidade dos partidos sob um ângulo diferente. En-
PRE 13 19
quanto a Tabela 4 apresenta a porcentagem de cadeiras obtidas, em 1993, no PUR 2
Congresso pelos partidos mais antigos, a 1àbela 5 indica o tempo de vida dos Brasil (1990) PMDB 28 (MDB)
partidos que alcançaram pelo menos 10% das cadeiras nas últimas eleições par- PFL 9 u
lamentares.15 (Admitimos a mudança de denominação dos partidos, ao deter- PPR o
minar o ano de fundação das organizações subsistentes, caso se verifique uma funte: Idem.

56 57
O terceiro critério de análise da institucionalização salienta que eleitores e in- primir suas próprias cédulas de votação - a perda de controle das organiza-
teresses organizados devem aceitar que os partidos e o processo eleitoral, de- ções sobre a seleção dos candidatos é muito grande. Na Argentina, há déca-
vidamente legitimados, constituem os mecanismos de determinação de quem das, os líderes políticos vêm enfraquecendo intencionalmente as organiza-
vai controlar o governo. Dados de survey forneceriam as melhores fontes de ções partidárias, especialmente as que representam o peronismo. Somente
avaliação de aspectos essenciais desse critério, mas, infelizmente, faltam pes- nos anos 80 se empenharam em favor da construção de um partido mais
quisas comparativas confiáveis. Sem elas, apenas podemos formular aproxi- sólido; mesmo assim, o personalismo (especialmente de Menem) tem muitas
mações.16 Entretanto, é possível afirmar com segurança que os partidos têm vezes enfraquecido a organização. Mas, nesse país, os parlamentares são
sido decisivos na definição de quem governa na Venezuela, Costa Rica, Chile, leais às suas organizações políticas e a disciplina partidária no Congresso
Uruguai e Colômbia. Os principais atores políticos aceitam que as eleições são é bastante acentuada.
o principal mecanismo de acesso ao poder, embora esse consentimento tenha
se restringido na Venezuela, como se viu na ocasião dos golpes fracassados As organizações partidárias são muito fracas na Bolívia, Brasil, Equador
de 1992, e provavelmente também na Colômbia. Na Argentina, Bolívia, Equa- e Peru. No Brasil e no Equador, o personalismo e o populismo pwalecem
dor e Brasil tem sido cada vez maior o reconhecimento dos partidos como as e as elites políticas manifestam pouca lealdade aos partidos. A troca de
vias principais de acesso ao governo. Contudo, especialmente nos dois últi- legenda é mais freqüente nesses dois países do que nos demais e as agremia-
mos países, a personalização da política tem sido tão grande que os partidos, ções partidárias são menos disciplinadas em sua conduta no Congresso
em si, dominam menos as eleições do que nos sistemas institucionalizados no (o PT é uma exceção no Brasil). Nos quatro países, os partidos dispõem
México, Paraguai e, depois do golpe de 1992, no Peru. Partidos e eleições vêm de poucos recursos e têm pouca estrutura no plano local. Com a perda
perdendo expressão na determinação do governo; nem sempre são percebi- de credibilidade dos mesmos durante a década de 1980, o Peru passou a
dos como a via fundamental para o poder. contar com organizações mais fracas, mas provavelmente não tão frágeis
quanto na Bolívia, Brasil e Equador.
O último de nossos critérios indica que as organizações partidárias devem ser
relativamente sólidas nos países que têm sistemas institucionalizados. Há pou- A Tabela 6 apresenta uma classificação esquemática, por país, das quatro
cos estudos a respeito da vida interna dos partidos na América Latina. Apesar dimensões da institucionalização que examinamos acima. A hierarquização
da necessidade de novas pesquisas, é óbvio que na \tmezuela, Costa Rica, Chile, baseia-se em comparações na América Latina e não em uma escala mais
Uruguai, México e Paraguai os partidos são mais fortes e mais institucionaliza- global. A última coluna fornece um valor agregado. As cifras para as últimas
dos, contam com a lealdade das elites políticas e a disciplina partidária no Le- três dimensões e o resultado total são aproximações preliminares e incom-
gislativo é bastante sólida. Os partidos são bem organizados e, apesar de cen- pletas.
tralizados, têm influência sobre as políticas local e nacional.

Na Venezuela, Costa Rica, Chile e Uruguai partidos relativamente fortes emer- Tabela 6
giram de um processo democrático, ao contrário do que sucedeu no México Institucionalização de Sistemas Partidários na América Latina
e Paraguai. A força capilar das organizações partidárias nesses dois últimos
Critério 1 Critério2 Critério 3 Critério 4 Valores Agregados
países pode, no entanto, vir a desgastar-se na medida em que a competição
Costa Rica 2,5 3,0 3,0 3,0 11,5
democrática se tome uma rotina. A bem dizer, esse processo de desgaste já Chile 2,5 3,0 3,0 3,0 11,5
se faz sentir no México atualmente. Uruguai 3,0 3,0 3,0 2,5 11,5
Venezuela 2,5 2,5 2,5 3,0 10,5
Colômbia 3,0 3,0 2,5 2,0 10,5
As organizações partidárias são um pouco mais frágeis na Colômbia e Argenti- Argentina 2,0 2,5 2,5 2,0 9,0
México 1,5 2,5 1,5 3,0 8,5
na do que na Venezuela, Costa Rica, Uruguai e Chile. Na Colômbia, os partidos
Paraguai 1,0 2,5 1,0 3,0 7,5
tradicionais separam-se por profundas dissensões porque o sistema eleitoral obri- Bolívia 1,0 1,0 2,0 1,0 5,0
ga as facções a competirem umas com as outras. A existência de um intenso fac- Equador 1,0 1,0 2,0 1,0 5,0
Brasil 1,0 1,0 2,0 1,0 5,0
cionalismo demonstra a erosão das organizações partidárias nas últimas déca-
das. Essas facções podem elaborar suas próprias listas de candidatos e até im-

58 59
SISTEMAS PARTIDÁRIOS INSTITUCIONALIZADOS O Chile, com sua peculiar distribuição do eleitorado entre três pólos ideológi-
cos (esquerda, centro e direita), tem o mais antigo sistema pluripartidário da
Os dados acima apresentados permitem-nos observar grandes variações no grau América Latina, mostrando muitas semelhanças com vários países europeus.
de institucionalização dos sistemas partidários nos diferentes países da Amé- Desde meados do século XIX até hoje, os partidos têm penetrado nos interstí-
rica Latina. Venezuela, Costa Rica, Chile, Uruguai, Colômbia e, em menor ex- cios da sociedade chilena. Apesar dos 17 anos de repressão do regime autori-
tensão, a Argentina, enquadram-se nos critérios que definimos no início deste tário de Pinochet e das significativas mudanças na vida social, política e eco-
artigo, embora as características dos sistemas variem caso a caso. Os grandes nômica, o sistema de partidos que ressurgiu nos anos 80 tém exibido continui-
partidos desses países são institucionalizados e sua porcentagem de votos é, dades fundamentais com o que o precedeu. A partir do plebiscito de 1988, que
de modo geral, bastante estável de uma eleição para outra. Quanto à volatili- teve como conseqüência a retomada de eleições livres no ano seguinte, os par-
dade eleitoral, os sistemas institucionalizados ocupam as seis posições mais tidos de direita, centro e esquerda têm dado provas de que ainda fazem jus
baixas da escala. Os partidos dispõem, pelo menos, de raízes moderadamente à lealdade do eleitorado e têm se afirmado como a espinha dorsal do processo
profundas na sociedade e identidades razoavelmente sólidas. São atores-chave político.
na estruturação do processo eleitoral e na determinação de quem governa; além
disso, as organizações partidárias não são meras expressões das vontades po- O Uruguai e a Colômbia, ao lado do Chile, têm os sistemas partidários demo-
líticas de líderes carismáticos. Os cinco primeiros países têm, há muito tempo, cráticos mais antigos do Continente; juntamente com o Paraguai e Honduras,
sistemas institucionalizados, contradizendo a imagem segundo a qual os par- são os únicos quatro países onde os partidos tradicionais do século XIX for-
tidos na América Latina como um todo se caracterizam pela fluidez, falta de mam o núcleo que se estendeu pelo século XX adentro. As identidades parti-
estabilidade e pela fragilidade. dárias são fortes em ambos, não obstante as estritas diferenças ideológicas
e de postura política entre os partidos tradicionais. Os sistemas partidários
Os partidos têm sido atores centrais na democracia venezuelana desde a sua nesses dois países estão entre os mais estáveis do Terceiro Mundo. Apesar
instalação em 1958. São institucionalizados, disciplinados e centralizados, con- de sua importância vital, os partidos não são tão coesos e centralizados no
trolam o processo de seleção de candidatos e são atores fundamentais nas cam- Uruguai e na Colômbia quanto o são na Venezuela e na Costa Rica. Dividem-
panhas políticas. Grupos organizados da sociedade mantêm estreitas ligações se em várias facções ou tendências e cada uma delas apresenta sua própria
com os partidos e são freqüentemente controlados por eles. O voto e a identi- lista de candidatos. Os eleitores votam em tendências específicas em vez de
ficação partidária são fortes. Durante os anos 80 chegou a criar-se um senti- candidatos individuais (como acontece no Brasil e no Peru) ou em uma lista
mento generalizado entre os líderes políticos venezuelanos de que os partidos fechada (como na Venezuela, Costa Rica e Argentina). Embora os partidos
eram fortes demais, e excessivamente disciplinados e centralizados, o que deu tradicionais ainda controlem uma ampla parcela do eleitorado, seu domínio
margem a reformas políticas cujo objetivo era reduzir o domínio dos partidos vem sendo desafiado pelo crescimento dos partidos de esquerda. As organi-
sobre a vida política. As eleições de 1993 mostraram que as reformas políticas zações partidárias no Uruguai continuam a demonstrar notável capacidade
enfraqueceram os partidos mais do que se visava. de recuperação, mas, na Colômbia, são fracas e têm sofrido desgastes nas
últimas décadas.
Na Costa Rica, que junto com a Índia é a mais antiga democracia do Terceiro
Mundo, 17 os partidos também têm estado no centro da democracia. Identida- A Argentina é o caso menos nítido de sistema partidário institucionalizado.
des políticas duradouras cristalizaram-se em torno dos protagonistas da guer- Os partidos são fortemente enraizados na sociedade, apesar de um certo en-
ra civil de 1948, Rafael Calderón e José Figueres. Dois grandes e estáveis blo- fraquecimento, que ocorreu durante os anos 80. Os partidos peronista e radi-
cos eleitorais emergiram desse conflito: o PLN e a Aliança Conservadora (que cal constituem os maiores partidos há meio século, o que indica uma certa
se tornou, em 1986, o Partido Unidad Social Cristiana - PUSC). pesde o iní- estabilidade na competição interpartidária. Ainda mais, depois de 1983, e
cio do regime democrático, em 1948, até hoje, essas organizações têm domina- pela primeira vez desde 1930, as eleições vêm se tornando a única via legítima
do a arena eleitoral, alcançando sempre cerca de 90% dos votos nas eleições de acesso ao poder. Diante da crescente importância das eleições, do vigor
presidenciais e parlamentares. Embora sejam partidos "ônibus': tanto o PLN das identificações partidárias, dos laços razoavelmente fortes que unem os
quanto o PUSC estabeleceram sólidos vínculos organizacionais com setores- partidos e os grupos organizados e da relativa estabilidade dos padrões eleito-
chave na sociedade. rais, classificamos a Argentina na categoria de sistema partidário instituciona-

60 61
lizado. Mas, apesar da solidez das identidades dos partidos, o sistema não Na Bolívia, Brasil e Equador as organizações partidárias são em geral fracas,
se tem :mostrado capaz de organizar e canalizar os conflitos políticos (Cava- a volatilidade eleitoral é alta, o enraizamento dos partidos na sociedade é
rozzi, 1989, pp. 297-334). O partido peronista é fracamente institucionaliza- frágil e as personalidades individuais predominam sobre os partidos e as
do.18 Durante décadas os partidos que representavam o peronismo não pas- campanhas. A política tem um forte teor patrimonial, pois interesses pes-
savam de uma expressão da vontade pessoal de Juan Perón e, até hoje, 20 soais, política partidária e bem público se fundem. A maioria dos cidadãos
anos depois da morte do líder, o partido permanece dominado por uma única não está vinculada a nenhum partido e as preferências partidárias não estru-
pessoa (Carlos Menem). Nas eleições presidenciais de 1989, as personalida- turam os votos como ocorre nos oito primeiros casos eátudados. No Brasil
des individuais de alguns políticos eclipsaram as organizações partidárias, e no Equador até as elites políticas às vezes demonstram pouca lealdade para
e grupos pe interesse poderosos (como sindicatos e as burguesias urbana com seus próprios partidos, que nascem e morrem, apontando para uma
e rural) voltaram a imiscuir-se nos partidos e entre as suas lideranças. Os incapacidade de criar raízes profundas na sociedade. No Brasil, um sistema
grandes partidos, particularmente os peronistas, tendem a se ver como movi- partidário estava em via de institucionalização, entre 1946 e 1964, mas o golpe
mentos, encarnações não-institucionalizadas do conjunto da nação, em vez militar interrompeu o processo. Algumas iniciativas tendentes à instituciona-
de organizações engajadas na conquista de votos e na concorrência com ad- lização partidária vêm ocorrendo na Bolívia desde meados dos anos 80, mas
versários legítimos pelo poder. em nossa opinião ainda não estão consolidadas.

Mesmo em relação aos sistemas incipientes, não deveríamos incorrer no erro


SISI'EMAS PARTIDÁRIOS INOPIENTE~ de achar que todos os partidos são iguais, ou que os partidos não fazem
nada relevante. Apesar da volatilidade da competição, nesses quatro países
Quatro países - Bolívia, Brasil, Peru e Equador - apresentam, em todas
os partidos têm perfis ideológicos relativamente claros no plano das elites. 19
as dimensões, sistemas partidários que são pouco institucionalizados, embo- Não é correto afirmar que todos os partidos se assemelham, que não são
ra o sistema boliviano esteja dando sinais de começar a adquirir maior soli- "verdadeiros partidos': ou são atores sem importância. Até os partidos fracos
dez. Denominamos esses sistemas de incipientes. As duas categorias de siste- realizam a função de recrutar lideranças políticas e ajudam a criar um univer-
mas partidários, institucionalizados e incipientes, formam o núcleo de noss'! so conceituai que orienta os eleitores e as elites. Funcionam como ponto de
classificação. referência nas eleições, ajudam a estruturar acordos que dão origem a fórmu-
las de governo depois das eleições (principalmente na Bolívia) e definem
No Peru, desde a década de 1960, parecia que a Acción Popular e a APRA algumas bases para a ação legislativa.
poderiam vir a formar o núcleo de um sistema institucionalizado. A APRA,
um dos mais antigos partidos de massa da América Latina, tinha fortes raízes Vale a pena ressaltar que, desses casos de sistemas pouco institucionalizados,
na sociedade peruana. Mas, desde 1980, as eleições têm mostrado uma gran- os três países andinos são pobres e têm pouca experiência democrática. No
de volatilidade, apontando para uma falta de estabilidade na competição elei- Brasil, a defasagem entre o desenvolvimento econômico e a fragilidade das
toral. O desempenho eleitoral dos partidos oscilou de acordo com os malo- instituições democráticas é notável. Consideramos que essa defasagem ajuda
gros dos governos. Tendo fracassado diante do duplo desafio representado a explicar as dificuldades que o Brasil vem experimentando no período pós-1985.
pelo colapso econômico e a insurreição político-militar do Sendero Luminoso,
a Acción Popular e a APRA sofreram derrotas esmagadoras depois de gover- SISTEMAS PARTIDÁRIOS HEGEMÔNICOS EM TRANSIÇÃO
nar (1980-85 e 1985-90). O primeiro partido praticamente desapareceu depois
de 1985. A campanha presidencial de 1990 foi extremamente personalista e México e Paraguai situam-se em uma posição intermediária entre os dois
as organizações partidárias tiveram um papel apenas secundário. Mário Var- tipos de sistemas partidários. Aproximam-se em alguns sentidos dos sistemas
gas Uosa encabeçou uma coalizão fragmentária e antipartidária e Alberto institucionalizados, mas ainda não completaram o processo, nem são demo-
Fujimori surgiu como um candidato isolado (politicai outsider) com um dis- cráticos. Para caminharem em direção à democracia, é preciso desinstitucio-
curso de apelo personalista. Nessas circunstâncias se criou um forte senti- nalizar alguns aspectos da política partidária - principalmente o entrelaça-
mento contra os partidos, que Fujimori soube aproveitar quando deu o golpe mento do partido hegemônico com o Estado. Podem estar deixando de ser
que fechou o Congresso em 1992. sistemas hegemônicos, mas ainda não se institucionalizaram como sistemas

62 63
sistemas partidári os democráticos. Desde 1983, na Argentina, os partidos vêm
democráticos. Sistemas partidários são dominad os por "um partido único, s
desempe nhando um papel de crescente importância, pois setores relevante
mas têm vários partidos menores e de segunda categoria [... ] . O partido do processo eleitoral.
da sociedade, cada vez mais, reconhec em a legitimidade
hegemônico não admite a competição formal ou real pelo controle do poder.
Contudo , institucionalizar um sistema partidári o não é um processo unilinear
Permite-se a existência de outros partidos, mas como organizações de segun-
2 nem irreversível. Na Colômbia, o sistema pode estar entrando em uma fase
da classé' (Sartori, 1976, p. 230). 0
de mudança contínua após décadas de notável estabilidade. O Brasil está atuai-
mente mais distante de um sistema partidário institucionalizado do que em
"Sistemas partidários hegemônicos em transição'' constitui uma categoria re-
1960. No Peru, nos anos 80, se assistiu à implosão dos partidos mais antigos,
sidual, pois a denomin ação engloba um tipo de sistema mais do que um
o que deslocou o país para mais longe ainda desse tipo de sistema.
grau de institucionalização. Essa aparente incoerência tem uma razão de ser.
Do ponto de vista da institucionalização, México e Paraguai apresent am carac-
POR QUE É IMPOI«ANTE INSfiTUOONALlZAR UM SISTEMA PARIIDÁRIO?
terísticas singulares, já que não se integram nem nos sistemas democráticos
institucionalizados nem nos incipientes. São sistemas em evolução, embora
Sistemas partidári os institucionalizados funciona m de diversas maneiras. Al-
não se saiba exatamente para que lado irão. Em alguns aspectos, estão bastan-
guns promove m a moderação e o compromisso; outros estimula m extremis-
te institucionalizados, mas essa tendência é cada vez menor à medida que
ins- mos e uma politica de soma zero. Alguns incentivam a construção de coali-
vai crescendo a competição eleitoral. Em outros, porém, não estão muito
progredi ndo nessa direção, à proporçã o que os zões enquanto outros as inibem; alguns são mais propenso s à edificação de
titucionalizados, mas estão
er a legitimid ade dos partidos e das democracias do que outros. Sendo assim, um sistema institucionalizado, em
atores políticos começam a reconhec
si mesmo, não dá origem de modo automático aos resultado s que se poderia
eleições.
almejar de uma democracia, sequer as favorecem.

No México e no Paraguai, partidos únicos fundidos ao Estado governaram


Entretanto, a institucionalização é importan te precisam ente devido às conse-
durante décadas. Esses dois partidos hegemônicos têm fortes identidad es
qüências de seu oposto - sistemas incipientes - para o funcionamento das
e gozam de considerável apoio, embora o fato de as eleições não serem impar-
democracias. Quando sistemas partidários são institucionalizados, os partidos
ciais e livres dificultar a avaliação da extensão do apoio popular real. Em
são atores-chave na estruturação do processo politico; quando são pouco ins-
ambos os casos, portanto, um sistema partidári o democrático apenas agora
titucionalizados, os partidos não são tão predomi nantes, não estrutura m com
está começando a surgir, à medida que se desenvolvia uma verdadeira com-
a mesma intensida de o processo politico e a política tende a ser menos institu-
petição política. Mas a persistência de organizações antigas, bem organizadas
- cionalizada e, portanto , menos previsível. Na ausência de um sistema partidá-
e bem estabelecidas significa que, em certo sentido, o processo de institucio
rio institucionalizado, a politica democrática é mais errática, é mais difícil esta-
nalização de um sistema partidário está mais avançado do que em outros
belecer a legitimidade e governar fica mais complicado. Nesse contexto, as eli-
países onde já existe uma competição política.
tes econômicas poderosa s têm acesso privilegiado aos responsá veis pelas de-
cisões. Na falta de mecanism os de checks-and-balances institucionais bem de-
No México, o PRI tem dominad o a arena partidári a por mais de seis décadas.
senvolvidos, práticas patrimon iais freqüent emente prevalecem e o Poder Le-
Os dois principais partidos paraguaios, Colorado e liberal, existem há mais 2
gislativo tende a ser pouco desenvolvido. 1
de um século, e muitos eleitores têm fortes lealdades para com eles. Antes
de 1993, porém, jamais eleições justas determin aram o governo no Paraguai.
Esse argumen to não implica, porém, um viés teleológico para a defesa de uma
Acreditamos que novos competidores virão desafiar a dominaç ão desses par- -
superinstitudonalização. Nossa tese não é que níveis muito altos de institucio
tidos tradicionais, caso o país continue a trilhar o caminho de um governo is; apenas quere-
nalização são necessários ou mesmo absoluta mente desejáve
plename nte democrático e mantenh a a regularid ade de eleições livres por
mos afirmar que um baixo grau de institucionalização cria problemas. A Espa-
algum tempo. ra-
nha e os Estados Unidos demonst ram que a democracia pode funciona r
Essas conclusões a respeito da institucionalização dos sistemas partidári os
não são estáticas. Já observamos que a introduç ão de eleições cada vez mais
livres está impelindo o México e o Paraguai em direção à constituição de
I zoavelmente bem sem sistemas partidários excessiva
Embora nesses países os sistemas partidári os sejam
mente
menos
institucio
institucio
do que em muitas nações européias, estão ainda distantes da fluidez
nalizados
nalizado
.
s.
e

65
64
volatilidade que caracterizam os sistemas incipientes de certos países da Amé- partidos tendem a rejeitar líderes populistas ou demagógicos que preferem uma
rica Latina. relação mais direta e imediata com as massas. Igual peso tem o fato de que
um número maior de eleitores tende a votar de acordo com as linhas progra-
SISI'EMAS PARfiDÁRIOS INOPIENTES, POPUUSMO E DEMOCRAOA máticas dos partidos.

Um sistema incipiente dá maior oportunidade para os populistas porque as Partidos institucionalizados orientam-se, principalmente, para ganhar eleições
filiações partidárias não estruturam tão fortemente o voto. Os eleitores costu- e chegar ao poder por meios pacíficos. Eles canaliza.nÍo processo político me-
mam ser mais sensíveis aos apelos personalistas que à filiação partidária dos diante instrumentos democráticos (principalmente as eleições), visando atin-
candidatos. É óbvio que tais apelos são importantes até mesmo em sistemas gir o poder. A promoção de interesses por intermédio de eleições envolve me-
presidencialistas que comportam partidos institucionalizados e em alguns par- nos confronto que '1evar a política às ruas" ou recorrer à violência e, por essa
lamentarismos. Mas o personalismo é mais acentuado em sistemas incipien- razão, costuma ser menos ameaçador para os atores sociais principais.
tes, principalmente no presidencialismo, já que os candidatos se dirigem dire-
tamente às massas e não é preciso ser eleito líder de partido para se tornar Sistemas partidários institucionalizados ajudam os grupos a expressar seus in-
chefe de governo. teresses e, ao mesmo tempo, permitem aos governos exercer o poder. Eles se-
lecionam, agregam e colaboram para absorver as dissensões sociais, canalizam
Como podem apelar diretamente às massas, os líderes tendem a formular po- demandas e amortecem conflitos políticos. Os partidos são os mais importan-
líticas mais em função do impacto público de curto prazo que voltadas para tes agentes de expressão dos interesses, e, por isso, tornam-se atores domi-
a obtenção de resultados de longo prazo. Menos comprometidos e menos li- nantes na configuração dos padrões de conflito. Ajudam a evitar o estabeleci-
mitados por um partido, os líderes tendem a violar as regras implícitas do jogo mento "de um grau confuso e tosco de pluralismo desagregado na política"
político. Dessa maneira, cria-se um círculo vicioso: a falta de partidos sólidos (Chambers, 1963, p. 88). Fincam raízes na sociedade à medida que indivíduos
abre espaço para políticos populistas que governam sem procurar constituir e atores organizados desenvolvem laços afetivos com os partidos. Esse proces-
instituições mais sólidas, o que termina por perpetuar o círculo. so torna mais difícil que partidos de vida curta conquistem adeptos, embora
as barreiras ao aparecimento de novos partidos variem muito em virtude, es-
Os problemas do populismo e do círculo vicioso institucional acarretados pela pecialmente, das regras eleitorais. Na ausência de um sistema institucionaliza-
ausência de um sistema partidário sólido são patentes em todos os quatro paí- do, muitos atores concorrem entre si pela influência e pelo poder, adotando
ses que têm sistemas incipientes. Sarney e Collor no Brasil, Roldós, Hurtado, práticas freqüentemente antidemocráticas.
lebres Cordero e Borja no Equad~ assim como García e Fujimori no Peru,
têm se destacado por um comportamento antiinstitucional. Problemas seme- Nas sociedades onde há participação política das massas e um sistema parti-
lhantes têm assolado a Argentina, que só recentemente vem desenvolvendo dário incipiente, incapaz de canalizar quer os conflitos quer a participação, sem-
um sistema institucionalizado. Mas entre os demais países que dispõem de sis- pre se manifesta o que Huntington chamou de "sociedade pretoriana":
·temas institucionalizados, presidentes de inclinação antiinstitucional geralmente
não se elegem. Os presidentes da Venezuela, Costa Rica, Chile, Uruguai e Co- "Em um sistema pretoriano as forças sociais se confrontam abertamente; nenhuma
lômbia têm, freqüentemente, demonstrado um profundo comprometimento instituição política, nenhuma liderança de políticos profissionais são reconheci-
com seus partidos. das ou aceitas como intermediários legítimos na função moderadora dos confli-
tos entre grupos. Igualmente importante é que não há acordo entre os grupos
Sempre que há sistemas institucionalizados, os partidos, de modo geral, con- quanto à definição de métodos legítimos de resolução de conflitos" (Hunting-
trolam a seleção dos candidatos à chefia do governo os Estad011 UJ."Iid.otl$1o ton, 1968, p. 196).
uma importante exceção. 22 As lideranças partidárias, comumente, têm muito
interesse na manutenção da competição eleitoral e na escolha de candidatot Mais que direcionar seus esforços para ganhar eleições, os atores questionam
que melhorem as chances eleitorais do partido. A lógica de atingit...,.. flWtalJ a legitimidade do processo eleitoral e se engajam em ações que implicam a re-
normalmente favorece os candidatos que têm fortes ligações com oa partidos jeição da legitimidade do governo. Repetindo a expressão de Charles Ander-
e que tendem a ser mais comprometidos com as instituições demoa'ÃtiGII. Os son, diríamos que alguns atores contam com as eleições para chegar ao podet

66 67
outros com a força e a violência, outros ainda com os movimentos de massa (Anderson, O povo, por si mesmo, não governa, mas as pessoas fazem escolhas a respeito
1967; Chalmers, 1979). de quem governa, expressando dessa maneira seu consentimento ao governo.
Sistemas partidários institucionalizados são importantes no estabelecimento
SISTEMAS PARTIDÁRIOS, LEGITIMIDADE E RESPONSABIUDADE da legitimidade, pois ajudam a estruturar as opções dos cidadãos a respeito
de que tipo de líderes desejam. A democracia oferece aos cidadãos uma opor-
Os sistemas partidários tomam a democracia possível ajudando a criar legiti- tunidade institucionalizada, regular e não violenta (isto é, as eleições) de subs-
midade. Se nosso primeiro argumento focalizava a maneira como os sistemas tituir líderes e representantes políticos. Só é possíve(existir responsabilidade
de partidos configuram, modelam e até restringem a articulação dos interes- (accountability) política se os eleitores tiverem informações suficientes para jul-
ses societários, focalizamos agora o modo como expressam ou representam es- gar os partidos ou os candidatos.
ses interesses. Seu papel de representação é decisivo: para que os cidadãos
atribuam legitimidade aos governos, devem acreditar que este procura repre- Nas democracias que têm sistemas partidários institucionalizados, os partidos
sentar a sociedade. conformam as preferências políticas mais do que nos sistemas incipientes. Pro-
porcionam aos cidadãos uma maneira de compreender quem é quem na polí-
Linz escreveu que um governo legítimo "é aquele que se considera como tica sem precisar um conhecimento profundo de todos os candidatos. Logo,
a forma de governo menos nociva. Em última análise, a legitimidape demo- estimulam o processo de prestação de contas por parte dos políticos, que é fun-
crática baseia-se na crença de que, para um determinado país, em uma damental na democracia. Nos sistemas incipientes, ou o significado das esco-
conjuntura histórica particular nenhum outro tipo de regime poderia garan- lhas é obscurecido pela falta de clareza do perfil dos partidos, ou a escolha
tir maior êxito na promoção dos objetivos coletivos" (Linz, 1978, p. 18). A se dá entre líderes individuais mais do que entre partidos. No primeiro caso,
legitimidade cria uma reserva de apoio e boa vontade que não depende a responsabilidade política se enfraquece porque muitos cidadãos não têm meios
de ganhos imediatos. Esse apoio se refere ao regime político e não a um de avaliar as diferenças entre os partidos. Como a preponderância destes no
governo em especial. Quando uma democracia desfruta de legitimidade, sistema político não se afirmou, ainda têm vigência meios não-democráticos
os problemas com que todos os governos inevitavelmente se defrontam são de exercer o poder. Nessas circunstâncias, o impacto legitimador dos partidos
mais facilmente administráveis e menos susceptíveis de desencadear ~s e das eleições é menor. As pessoas acham que se pode subverter o processo
insolúveis. democrático formal e, assim sendo, estão menos dispostas a admitir a legiti-
midade do governo.
A legitimidade democrática baseia-se em atribuições que dependem da exis-
tência de partidos representativos e eleições limpas: que a democracia seja de Quando o sistema partidário é menos institucionalizado, é difícil criar ac-
algum modo o governo do povo (ou seja, que o povo escolha quem governa), countability. A maioria dos cidadãos não tem condições de julgar um núme-
que haja mecanismos pelos quais o governo seja responsabilizado por seus atos, ro muito grande de políticos. epreciso dominar muita informação, que
que governantes impopulares possam ser afastados por meios pacíficos. Os a maioria das pessoas só tem a respeito dos ocupantes de postos executivos.
regimes democráticos podem conquistar legitimidade apesar de suas inúme- Julgar partidos é mais viável porque são menos numerosos e suas posições
ras imperfeições, mas os mecanismos básicos de participação popular e de ca- são mais visíveis. Mesmo que os partidos tenham uma imagem difusa, os
nalização de demandas para o governo- partidos e eleições - precisam estar eleitores nos países que contam com sistemas institucionalizados sabem iden-
razoavelmente desobstruídos. As eleições devem ser justas e devem ser o meio tificar, pelo menos em termos superficiais, as diferenças entre as diversas
de constituição de governos (Valenzuela, 1992). Nesse sentido, a vontade po- organizações.
pular tem de ser decisiva. Caso contrário, embora o julgamento do governo
seja subjetivo, a legitimidade certamente ficará enfraquecida. Se as eleições não passam de disputas entre pessoas, os eleitores não votam
no perfil do partido. eclaro que em todas as democracias existem eleitores que
. Os partidos proporcionam ao povo um canal de participação política, criando votam a partir de apelos personalistas mais do que em diferenças de posições
um vfuculo entre cidadãos e governo. Por intermédio das eleições os cidadãos políticas partidárias. Mas quando as disputas pessoais prevalecem e as legen-
têm várias alternativas sobre quem vai governar; nesse sentido, as eleições aju- das partidárias não têm peso, os vitoriosos nas eleições sentem-se menos cons-
dam a criar a percepção de que a democracia é, de fato, o governo do povo. trangidos na maneira de conduzir o governo. Não estão comprometidos com

68- 69
as posições dos seus partidos, por isso têm mais autonomia para fazer esco- com o governo da culpa pelos fracassos políticos, de modo que estão sempre
lhas políticas erráticas e imediatistas. Tornam-se mais propensos à demagogia no pior dos mundos.
e ao populismo, comportamentos que têm efeitos nocivos sobre a democracia.
Com partidos indisciplinados, do tipo que costumam caracterizar os sistemas
O problema de definir responsabilidades políticas sem um sistema institucio- incipientes, os governos nem sempre podem contar com o apoio de seu pró-
nalizado se evidencia na Bolívia, Brasil, Equador e Peru. Insatisfeitos com o prio partido. A falta de sustentação legislativa facilmente acarreta o imobilis-
desempenho dos governos, os eleitores puniram os partidos no poder, mas mo, a paralisia política, os conflitos entre o ExecutivÓ e seu próprio partido
freqüentemente não obtiveram aquilo por que votaram. Por exemplo, na Bolí- e um enfraquecimento da autoridade governamental. Partidos indisciplinados
via, Brasil, Peru e também na Argentina, presidentes eleitos pelo voto popular e um sistema partidário incipiente impedem o funcionamento do Congresso
puseram em prática programas econômicos de ajuste e estabilização que vio- porque não há partidos sólidos que estruturem as coalizões, as negociações
lentaram promessas fundamentais de campanha e plataforma partidárias. Nes- e outros processos. Os partidos em um sistema institucionalizado nem sem-
sas circunstâncias, a relação entre as preferências políticas dos cidadãos e seu pre são fiéis à orientação do presidente, mas sabem que serão responsabiliza-
voto torna-se mais opaca do que se desejaria, aumentando o desgaste do siste- dos por um governo falido. Não há possibilidade de uma debandada
ma partidário. generalizada.

SISTEMAS PAimDÁRIOS E GOVERNABIUDADE Os problemas de governabilidade nas democracias que têm sistemas partidá-
rios incipientes são patentes no Brasil, Equador e Peru e também se mostra-
Um sistema partidário razoavelmente institucionalizado facilita a governabili- ram evidentes na Bolívia durante a maior parte da década de 1980. Os presi-
dade, embora muitos presidentes latino-americanos em países com sistemas dentes encaravam os partidos e o Congresso como obstáculos a contornar, e
incipientes tenham considerado os partidos como obstáculos a serem supera- não percebiam motivos para negociar com as lideranças partidárias. Por isso
dos, e não instrumentos que ajudam a governar. Sistemas institucionalizados se sentiam à vontade para impor políticas econômicas que não contavam com
permitem a participação e o conflito sob formas que não desgastam Ósistema o respaldo de seus próprios partidos. Esse tipo de prática acontece com menor
político. Eles podem ajudar a controlar e conter o conflito, direcionando-o pa,. freqüência em países que dispõem de sistemas partidários institucionalizados.
ra os canais eleitorais e legislativos. Os governos podem administrar conflitos Não é por acaso que os governantes da \\:!nezuela, Oúle, Uruguai e Costa Rica
graves sem temer que sua própria autoridade possa ser colocada em risco (Hun- evitam governar por decreto (decretismo ). 23 Nos países onde as instituições
tington, 1968). democráticas estão bastante consolidadas, os presidentes têm de reconhecê-
las e negociar as principais diretrizes das políticas públicas. Paradoxalmente,
Os sistemas institucionalizados também facilitam a governabilidade porque as esse constrangimento institucional tem facilitado a governabilidade, porque,
conexões entre o Executivo, os parlamentares e os líderes partidários são ge- dessa forma, os presidentes têm apoio institucional para governar.
ralmente mais fortes que nos sistemas incipientes. Um sistema institucionali-
zado não assegura o apoio do Legislativo ao governo, mas aumenta a probabi- Finalmente, um sistema partidário institucionalizado geralmente reduz a incidên-
lidade de que isso aconteça. Nos países onde os sistemas partidários são inci- cia de corrupção e, assim, ajuda a estabelecer um governo eficiente. Ao contrá-
pientes, os presidentes podem desfrutar de um amplo respaldo do Congresso rio, a corrupção é facilitada pela ausência desse sistema, já que os mecanismos
em momentos de alta popularidade, mas esse apoio se desvanece quando sur- de controle e regulação são menos desenvolvidos. Como escreveuHuntington:
gem os primeiros sinais de diminuição da aprovação da opinião pública. A ade-
são esvazia-se rapidamente quando o governo enfrenta tempos difíceis. Nos ''A corrupção prospera na desoigiUlização, na ausência de relacionamen-
sistemas presidencialistas, em que os incentivos favorecem a defecção mais do tos estáveis entre grupos e de padrões reconhecidos de autoridade [... J.
que a adesão à coligação no poder, os partidos governistas que não controlam A corrupção prevalece mais fortemente nos Estados onde faltam parti-
a Presidência tendem a abandoná-lo. Em contextos pluripartidários, os outros dos políticos eficazes, em sociedades onde os interesses do indivíduo,
partidos que apóiam o presidente recebem apenas um reconhecimento secun- da família, da facção ou do clã prevalecem. Em uma ordem política mo-
dário pelos êxitos políticos do governo, ficando assim em desvantagem diante derna quanto mais fracos e menos aceitos são os partidos políticos maior
do partido do presidente nas próximas eleições. Por outro lado, compartilham é a probabilidade de corrupçãó' (Idem, p. 71).24

70 71
I r

SISTEMAS PAimDÁRIOS INCIPIENTES E INCEJn'EZA rios e outras instituições democráticas (por exemplo, legislaturas) que foram
ressuscitadas após a derrota das recentes ditaduras. O ressurgimento dessas
A construção de regimes democráticos diz respeito ao processo de estabeleci- instituições forneceu a espinha dorsal para a prática democrática. Na Bolívia,
mento de instituições democráticas: normas, regras e organizações que afetam Brasil e Equador, a fragilidade das instituições democráticas dificultou não so-
o comportamento dos atores. 25 As instituições ajudam a orientar os atares pois mente o enraizamento de práticas democráticas, mas também a formulação de
criam regras claras para o jogo político e, assim, contnbuem para fixar certezas políticas públicas capazes de superar as crises. No Pem, o enfraquecimento
quanto ao que pode ser esperado. Isso não quer dizer que surpresas nunca das instituições democráticas contribuiu para a queda da democracia em 1992.
aconteçam, mas em democracias consolidadas, que têm instituições democrá- Um sistema partidário incipiente facilitou a difusão do patrimonialismo, da cor-
ticas sólidas, os atares conhecem as regras do jogo e têm alguma idéia de co- rupção e do clientelismo; as dificuldades encontradas pelos governos para as-
mo pleitear seus interesses. Não é possível antecipar resultados eleitorais exa- segurar apoio político estável e problemas de formulação de políticas; o popu-
tos, mas há padrões gerais claramente estabelecidos. Nas democracias que têm lismo, a demagogia e mecanismos pouco sólidos de accountabílíty política.
instituições pouco sólidas, a incerteza é mais generalizada (Bunce e Csanádi,
1993). Os atares lidam com um jogo menos previsível e as conseqüências são CONCLUSÃO
quase sempre nocivas. Os resultados das eleições são mais erráticos, alguns
partidos desaparecem de modo insólito e outros surgem e conquistam cargos Abordamos neste artigo as variações no grau de institucionalização dos siste-
importantes. É mais difícil prever quem vai governar e a continuidade de um mas partidários e as razões da importância dessa questão para a democracia.
governo para outro é menos provável. As posições programáticas dos partidos Afirmamos que o grau de institucionalização, mais do que a quantidade de
tendem a ser mais obscuras para o eleitorado e os partidos são mais facilmente partidos, ou qualquer outro critério, poderia oferecer um ponto de partida pa-
acusados de agir em causa própria sem nenhuma consideração pelo bem pú- ra a comparação entre sistemas partidários da América Latina. Em outros lu~
blico. Conforme observou <YDonnell, quando as instituições democráticas são gares, como nos países póa<omunistas da Europa Oriental e Central, siste-
frágeis tendem a prevalecer insuperáveis "dilemas do prisioneiro': em que to- mas partidários também poderiam ser analisados com as categorias que pro~
dos os atares buscam alcançar seus objetivos de curto prazo, a despeito dos pusemos aqui. Isso não significa subestimar a importância do número de par~
elevados custos coletivos, pessoais ou organizacionais de longo prazo (O'Don~ tidos ou do grau de polarização ideológica, como sugeriu Sartori, mas sim que
nell, 1992). A própria democracia pode ser ameaçada caso as elites temam que faz sentido primeiro comparar o nível de institucionalização.
as incertezas típicas de uma situação de instituições fracas possam acarretar
uma catástrofe. Não estamos sugerindo que qualquer tipo específico de sistema partidário seja
uma condição necessária ou mesmo suficiente para a democracia, nem que ou~
Nas modernas sociedades de massa, construir um sistema partidário parece tro tipo de sistema partidário seja totalmente incompatível com ela. Também não
ser uma condição necessária embora insuficiente para consolidar a democra~ propomos que os problemas complicados com que os governos da América La-
da e governar com eficiência. 26 A consolidação da democracia ocorre quando tina se defrontam- freqüentemente de extrema gravidade-, no período demo-
os atares apostam na política eleitoral como o principal canal de acesso ao po- crático recente, possam ser atribuídos, em todos os lugares, à fraca instituciona-
der e de definir a agenda política, e essas apostas são feitas mediante os parti- lização dos sistemas partidários. Mas sim pensamos que a institucionalização do
dos. Estes não monopolizam os mecanismos da representação, mas se tomam sistema partidário é muito importante e que é difícil para as modernas democra-
os principais agentes do acesso às posições do poder democrático. A despeito cias funcionarem bem no contexto de um sistema incipiente.
de algumas exceções, a democracia tende a prosperar quando existe um siste~
ma partidário institucionalizado. Há um efeito interativo: a estabilidade demo- (Recebido para publicação em março de 1994)
crática encoraja a institucionalização e um sistema partidário institucionaliza-
do toma mais provável a emergência de uma democracia estável. NorAS:

Não é uma coincidência que a democracia tenha funcionado com maior êxito 1. O livro de Cavarozzi e Garretón (1989) constitui uma importante exceção.
no Chile e no Uruguai que nas outras novas democracias ou nas democracias 2. Sartori (1976, p. 43) formula uma definição semelhante: "Um sistema partidário é jus-
restauradas da América Latina. Esses países contavam com sistemas partidá- tamente o sistema de interações resultante da competição interpartidária". Um siste-

72 73
ma de partidos "resulta de, e consiste em, interações padronizadas dos elementos deram Cuba, Nicarágua, México e Paraguai "sistemas de partido único"; desconhe-
constitutivos. Isto traz implícita a idéia de que essas interações estabelecem os limi- cendo assim que para falar em sistema é preciso que haja pelo menos duas unida-
tes ou, pelo menos, as linhas demarcatórias do sistema" (/dem, p. 44). Contudo, Sartori des. Também é discutível se a Nicarágua possuía um sistema de partido único entre
optou por um entendimento mais restrito da noção de sistema que a nossa. Mir- a metade e o final da década de 1980. No caso, a noção de sistema partidário hege-
mou, por exemplo, que, na Colômbia, "quase não se pode falar em um sistema par- mónico de Sartori nos parece mais adequada. McDonald e Ruhl classificam a Co-
tidário" (Idem, p. 185). Na edição brasileira de seu livro ele sustenta que no período lômbia, o Uruguai e Honduras como bipartidários. (Esse modo de classificar o Uru-
entre 1946 e 1964 o Brasil também carecia de um sistema partidário. Nossa opinião, guai não é adequado desde o início dos anos 70, quando a Frente Ampla se formou
de que tanto a Colômbia quanto o Brasil possuem sistemas partidários, indica uma e constituiu um terceiro partido "relevante''.) Alegam os autores citados que 'kne-
utilização mais ampla do conceito. zuela, Costa Rica e Argentina têm sistemas bipartidários "emergentes'~ enquanto os
dois primeiros países têm sistemas institucionalizados. Os autores incluem o Chile,
3. Sartori (Idem, p. 44) contém a mesma afirmação.
Peru, Bolívia e Panamá como casos de sistemas pluripartidários, o que é verdade,
4. Preferimos o conceito de sistema partidário "institucionalizado" a outras idéias co- mas obscurece importantes diferenças do ponto de vista dos graus de institucionali-
mo "sistema partidário forte'~ que contêm uma maior carga ideológica e menor cla- zação. Por fim, McDonald e Ruhl classificam o Brasil, Guatemala, El Salvador, Equa-
reza conceituai. Apesar de Sartori (Idem, pp. 244-8) não ter empregado o conceito dor e a República Dominicana como sistemas pluripartidários emezgentes. Ao con-
de institucionalização, ele efetivamente chamou a atenção para as profundas dife- trário do que esses autores defendem, a República Dominicana tem um sistema mais
renças entre sistemas políticos que comportam "sistemas partidários estruturalmen- institucionalizado do que o Peru, a Bolívia ou o Panamá, e desfrutava de um sistema
te consolidados" e organizações políticas mais fluidas. bipartidário na época em que eles escreviam.
5. Embora compartilhemos de alguns aspectos da importância atribuída por Hunting- 10. Adam Przeworsld (1975) criou uma medida idêntica e utilizou a volatilidade eleitoral
ton (1968, p. 12) à institucionalização, preferimos estabelecer uma distinção mais cla- como o único critério para examinar a institucionalização de sistemas partidários.
ra entre sistemas democráticos e autoritários do que esse autor faz. Huntington ana-
11. Para uma investigação mais ampla da volatilidade eleitoral na América Latina, ver
lisou a institucionalização sem se importar muito com o fato de se tratar de uma or- Coppedge (1992).
dem democrática ou autoritária. No nosso caso, estamos focalizando especificamen-
te a institucionalização de sistemas partidários competitivos. Uma importante dis- 12. Seria melhor calcular resultados de eleições parlamentares e presidenciais em nú-

cussão da institucionalização encontra-se em Guillermo O'Donnell (1992) e em Dix mero de votos, porém não há dados disponíveis sobre o número de votos por parti-
do em eleições parlamentares para alguns países. Esse problema não é grave por causa
(1992).
do alto grau de proporcionalidade dos sistemas eleitorais nesses países, à exceção
6. Exceto quando especificamente indicado, sempre que falarmos em sistemas partidá- do México.
rios institucionalizados neste artigo nos referimos a sistemas partidários democráti-
13. Nas eleições não simultâneas seria possível comparar resultados de votações presi-
cos, ou seja, sistemas partidários em ordens políticas democráticas. A expressão "sis-
denciais com as eleições parlamentares anteriores ou subseqüentes. Fizemos siste-
temas partidários democráticos institucionalizados" é pesada e repetitiva. Entretan-
maticamente a comparação com a eleição presidencial mais próxima à eleição parla-
to, como mostraremos adiante, os sistemas partidários hegemônicos, em que um único
mentar. Dessa maneira, cotejamos a eleição presidencial brasileira de 1989 com a de
partido sempre sai vitorioso em eleições manipuladas, também podem ser institu-
1990, em vez da eleição parlamentar de 1986. No Chile, a eleição presidencial de 1970
cionalizados.
foi confrontada com a de 1969, em vez da eleição parlamentar de 1'173. No Equador
7. Upset e Rokkan (1967) afirmam que as clivagens estruturais e os alinhamentos polí- a eleição presidencial de 1979 foi comparada com a de 1978 e não a votação para o
ticos na Europa Ocidental ficaram "congelados" depois da maciça mobilização do elei- Legislativo de 1984.
torado. Parece-nos bastante convincente a argumentação de Rose e Maclde (1988), 14. Entre 1970 e 1977, a volatilidade média dos votos nas 13 democracias européias foi
que afirmam que a metáfora do congelamento é forte demais. Existe realmente uma de 9,2%. 'kr Pedersen (1983, p. 39).
tendência à estabilidade no interior dos sistemas partidários institucionalizados, mas
15. Essa idéia foi sugerida por Dix (1992).
a principal razão da permanência dos partidos ao longo do tempo é sua adaptabili-
ii dade a mudanças no contexto político. 16. A base desses juízos está nos capítulos do livro organizado por Mainwaring e Scully
(no prelo).
8. Sobre a institucionalização de organizações partidárias, ver Panebianco (1988) e Jan-
17. A Costa Rica tem vivido em democracia, de modo ininterrupto, desde 1948. A
da (1980).
fndia tem sido democrática desde a independência em 1947, mas uma deterioração
9. 'lbmando como base o critério de número de partidos relevantes, McDonald e Ruhl das práticas democráticas entre 1975 e 11JT/ quase levou a uma derrocada das insti-
(1989) chegam a cinco classes de sistemas partidários na América Latina. Eles consi- tuições.

74 75
18. Aqui se discute a institucionalização das organizações partidárias e não do sistema REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
partidário. Nesse contexto, a noção de institucionalização fraca sugere que a organi-
zação partidária é frágil, que o poder é personalizado e que os partidos têm pouca ANDERSON, Charles. (1%7), lblítics and Economic Change in Latin America. Prince-
ton, Van Nostrand.
autonomia diante dos atores sociais.
19. Uma convincente demonstração empírica dessa questão para o caso brasileiro se en- BARTOUNI, Stefano e MAIR, Peter. (1990), Identity, Competition, and FJectoral Availa-
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20. A respeito do México como sistema partidário hegemónico, ver Molinar (n() prelo).
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21. A respeito da importância de um sistema partidário institucionalizado, ver também
Cornmunism in Hungary". East European lblítics and Society, vol. 7, n? 2, primave-
Pridham (1990). ra, pp. 240-75.
22. Os partidos americanos controlavam a seleção de candidatos a presidente até 1970,
CAVAROZZI, M. (1989), "El Esquema Partidario Argentino: Partidos Viejos, Sistema
aproximadamente; desde então o crescimento da importância das eleições primárias
Débil': in M. Cavarozzi e M. A. Garretón (orgs.), Muerte y ResurÍecdón: Los
e a maior independência do eleitorado no que diz respeito às organizações partidá-
Partidos lblfticos en el Autoritarismo y las Transidones dei Cono Sur. Santiago,
rias desgastaram esse controle por parte dos partidos (Ceaser, 1979).
Flacso.
23. A Colômbia é uma exceção: até 1990, o decretismo era comum.
_ _ _ e GARRETÓN, Manuel Antonio (orgs.). (1989), Muerte y Resurrecdón: Los
24. Apesar de terem sistemas partidários razoavelmente institucionalizados, Colômbia Partidos Rllfticos en eJ Autoritarismo y las Transidones dei Cono Sur. Santiago, Flacso,
e venezuela têm experimentado muita corrupção. PP· 297-334..
25. O'Donnell (1992) desenvolve essa observação, assim como Przeworski (1988). CEASER, James. (1979), Presidenti.al Selection: Theory and Development. Princeton, Prin-
26. O caso espanhol é, às vezes, citado corno um exemplo contraditório. A consolidação ceton University Press.
democrática processou-se de modo relativamente rápido logo após a morte de Fran- CHALMERS, Douglas A. (1979), 'The Politidzed State in Latin Arnerica", in J. M. Mal-
co, enquanto o processo de construção de um sistema partidário ainda não tinha ~i­ loy (ed.), Authoritar.ianism and Corporatism in Latin America. Pittsburgh, Univer-
do completado no início da década de 1990. Mas os principais atores do siste~ par- sity of Pittsburgh Press, pp. 23-4.6.
tidário existem desde o final dos anos 70. Muitos eleitores têm forte lealdade para
com os partidos e a volatilidade eleitoral tem se situado em torno de 15% em média. CHAMBERS, William N. (1963), lblitical Parties in a New Nation: The American Expe-
As organizações partidárias são bastante fortes e os partidos são atores importantes. rience, 1776-1809. Nova Iorque, Oxford University Press.
At::en:a do desenvolvimento do sistema partidário espanhol, ver Gunther et al1i (1986); COPPEDGE, Michael. (1992), (De)lnstitutionalization of Latin Arnerican Party Systerns.
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What is the best way to begin comparing party systems in Latin America? Conventíonal
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wisdom would focus on the number of relevant parties and, in its more sophisticated
UPSEI', Seymour Martin e ROKKAN, Stein. (1967), "Qeavage Structures, Party Systems, version, on ideological distance as well. The authors argue that this would be the best
and VOter Alignments: An Introduction'~ in S.M. Upset e S. Rokkan (eds.), Party way to begin comparing institutionalized party systems, but tn this paper they argue
Systems and \úter Alignments: Cross-National Perspectives. Nova Iorque, The Free that in the Latin American context ít is better to first focus on how institutíonalized the
Press, pp. 1-64. party system is. They argue that "Venezuela, Costa Rica, Chile, Uruguay; Colombia, and
MAINWARING, Scott e SCULLY, Timothy R. (orgs.). (no prelo), Building Demoeratic - to a lesser degree - Argentina have reasonably institutionalized party systems. Peru,
Institutions: Party Systems in Latin America. Stanford, Stanford University Press. Bolivia, Brazil, and Ecuador have less institutionalized or inchoate party systems. Mexico
and Paraguay form a residual category; whlch the authors cali hegemonic party systems
MCDONALD, Ronald H. e RUHL, J. Mark. (1989), Party Politics and E1ections in Con- in transition. Finally; they argue that institutíonalizing a party system facilitates democratíc
temporary Latin America. Boulder, Westview. governance and is an important part of the process of democratíc consolidation.
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Quelle est la meilleure maniere d'entamer une étude comparée des systemes de partis
Cambridge University Press, pp. 53-65. en Amérique latine? Le bon sens habituei voudrait que l'on mette en relief le nombre
PEDERSEN, Mogens. (1983), "Changing Patterns of Electoral \blatility in European Party de partis importants et, selon une version plus sophistiquée, que l'on prenne en
Systems, 1948-1977': in H. Daalder e P. Mair (eds.), Hi?stern European Party Systems. considération la distance idéologique qui les sépare. Les auteurs admettent que ce serait
Beverly Hills, Sage, pp. 29-66. là la meilleure maniere d'entamer une étude comparée des systemes institutionnalisés
de partis, mais dans cet article, ils soutiennent que dans le contexte latino-américain il
PRIDHAM, Geoffrey (ed.). (1990), Securing Demoeracy: Politicallàrties and Democra-
vaut mieux prendre d'abord en considération le degré d'institutíonnalisation du systeme
tic Consolidation in Southem Europe. Londres/Nova Iorque, Routledge.
des partis. Ils soutiennent que le Vénézuéla, le Costa Rica, le Chili, l'Uruguay; la Colombie
PRZEWORSKI, Adam. (1975), "Institutionalizatíon of \bting Patterns or Is Mobilization et, à un moindre degré, l'lugentine ont des systemes de partis raisonnablement
the Source of Decay". American Politicai Sdence Review, vol. 69, março, pp. 49-67. institutionnalisés, que le Pérou, la Bolivie, le Brésil et l~ateur ont des systemes de
_ _ _ . (1988), "Democracy as a Contingent Outcome of Conflicts", in J. Elster e R. partis rnoins bien institutíonnalisés voire même incomplets et que le Méxique et le Paraguay
Slagstad (eds.), Constitutionalism and Democracy. Cambridge, Cambridge Univer- forment une catégorie résiduelle qu'il désigne sous le nom de: systemes de parti
hégémonique en voie de transition. Les auteurs soutiennent finalement que le fait
sity Press, pp. 59-80.
d'institutionnaliser un systeme de partis facilite la démocratie gouvernementale et constitue
ROSE, Richard e MACKIE, Thomas L. (1988), "Do Parties Persist or Fail? The Big Trade- une part importante du processus de consolidation démocratique.
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