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História da

Arquitetura Brasileira
Material Teórico
A Arquitetura no Brasil Imperial

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Franklin Roberto Ferreira de Paula

Revisão Textual:
Prof.ª Me. Natalia Conti
A Arquitetura no Brasil Imperial

• Introdução;
• O Neoclassicismo no Brasil;
• O Romantismo no Brasil;
• O Ecletismo no Brasil.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Compreender as novas tipologias arquitetônicas e a contribuição
de arquitetos de origem estrangeira num período marcado pela
mudança de um Brasil Colônia para uma “capital” de um Reino
Unido transoceânico.
Orientações de estudo
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aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
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contato com seus de Material
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para estudar.

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da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE A Arquitetura no Brasil Imperial

Introdução
Essa unidade concentra uma análise da arquitetura no período em que o Brasil
deixa de ser uma mera colônia agrícola-escravocrata e se transforma em capital de
um Reino Unido transoceânico. São inúmeras transformações que acontecem em
território brasileiro, desde mudanças na estratificação social do período colonial
(senhor do engenho vindo de Portugal no topo da pirâmide, ordens religiosas na
segunda camada e escravos na camada mais baixa) para o período Imperial (nobreza
e proprietários de terras na camada mais alta, comerciantes, profissionais liberais e
militares na segunda camada, operariado na terceira camada e escravos na última).
Outro fator importante são as atividades econômicas onde a cultura da cana-de-
-açúcar deixa de ser dominante e o ciclo do café passa a ser o protagonista. Além da
própria chegada da Corte portuguesa no ano de 1808, que resulta na proclamação
da Independência do Brasil em 7 de setembro de 1822, abrindo possibilidades de
novas dinâmicas no país.

Além dessas modificações, outros acontecimentos na Europa, como a Revolu-


ção Industrial que tem início na capital inglesa por volta de 1760, geram efeitos
no Brasil. Pioneira na industrialização, a Inglaterra imperialista provoca um do-
mínio no continente europeu. Entre outros fatores, o território brasileiro se abre
para a vinda de imigrantes de outros países da Europa, entre eles profissionais da
construção civil vindos da França. Portanto, em função dessas e outras condições,
transformações políticas e sociais implicarão em uma série de mudanças tanto na
arquitetura quanto nos traçados urbanos brasileiros.

Portanto, essa unidade objetiva compreender a produção arquitetônica no Brasil


ao destacar os novos estilos implantados no país, como o Neoclassicismo, o Roman-
tismo e o Ecletismo, revelando a influência que não se limita apenas à herança por-
tuguesa, mas que também abrange arquiteturas oriundas de outros países europeus.

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O Neoclassicismo no Brasil
Jean-Nicolas-Louis Durant (1760-1835) é considerado um dos responsáveis
pela formulação do neoclassicismo na França na virada do século XVIII para o
XIX. Durant resgata a tríade vitruviana e define a utilitas (funcionalidade) como
mais importante do que a firmitas (firmeza) e a venustas (beleza). Dessa forma,
a coluna, que antigamente era considerada apenas um elemento compositivo do
conjunto, passa a ser a protagonista ao adquirir certa autonomia e ao insinuar
um procedimento projetual nas novas tipologias arquitetônicas. A disposição dos
elementos de sustentação como as paredes, arcadas, colunas criam uma reticula
quadrada, o que implica em uma planta caracterizada pela modulação.
Portanto, através das combinações horizontais e verticais de diferentes gru-
pos construtivos, qualquer edifício tornar-se-ia fácil de executar, do projeto
à construção. Essa maneira de compor ficou conhecida como neoclássico
revolucionário. (MENDES et al, 2011, p. 37)

Dentro do que se convencionou como sistema de Belas Artes, Quatremère de


Nincy requalifica o método definido por Durand e propõe “a criação de conceitos do
decoro ou conveniência, da linguagem e do caráter próprio da obra de arquitetura”
(MENDES et al, 2011, p.38). Nincy sugere a adoção de uma clássica para deter-
minados programas como fábricas e instituições públicas ligadas ao poder. Dessa
forma, o sistema de Belas Artes oferece ampla flexibilidade compositiva para os
arquitetos do século XIX.

Um dos responsáveis por introduzir o revivescimento da linguagem clássica


no território brasileiro é o francês Auguste Henri Victor Grandjean de Montigny
(1776-1850) que, após permanecer uma longa temporada na Itália estudando a
arquitetura romana, chega ao novo continente em 1816 com a “missão france-
sa” e implanta o ensino regular de arquitetura no Brasil. Porém, há registros de
edificações com clara influência clássica em várias regiões da Colônia que ante-
cedem esse episódio, ainda no século XVIII.

A antiga Casa de Câmara e Cadeia de Vila Rica (Ouro Preto, Minas Gerais)
estabelece referência direta ao Capitólio italiano de Michelangelo (Roma, 1537).
As igrejas de Nossa Senhora da Candelária e São Francisco de Paula, ambas no
Rio de Janeiro, recebem elementos de influência neoclássica por conta de refor-
mas realizadas ao longo a segunda metade do século XVIII, sendo que a Candelá-
ria possui referências diretas às igrejas portuguesas, como o Convento de Mafra
ou a Basílica da Estrela. No Rio de Janeiro, o Real Teatro São João possui nítida
influência clássica dos teatros São Carlos e do Escala de Milão. Já em Salvador,
Bahia, o projeto para edificação na Praça do Comércio (1811) do sargento-mor
Cosme Damião da Cunha Fidié possui influência do estilo inglês Adams, verifica-
do no projeto Bowood House.

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UNIDADE A Arquitetura no Brasil Imperial

Figura 1a Figura 1b
Fonte: iStock/Getty Images Fonte: Wikimedia Commons

Figura 1c
Fonte: Wikimedia Commons

Figura 1 – Acima à esquerda (a), acesso principal do Convento de Mafra, obra dirigida pelo alemão João
Frederico Ludovice (Lisboa, 1717-1720); acima à direita (b), Basílica da Estrela (Lisboa, 1779-1790);
abaixo (c), vista da fachada principal da igreja da Nossa Senhora da Candelária, projeto
do engenheiro militar Francisco João Roscio (Rio de Janeiro, 1775)

De acordo com Mendes (2011, p. 67), “o neoclassicismo no Brasil, entretan-


to, apenas a partir do Primeiro Reinado, sob a égide de D. Pedro I, definiu-se
como arquitetura oficial” de modo que esse estilo, num primeiro momento, faz-se
predominante nas construções de caráter público com o objetivo de demonstrar
imponência, austeridade, tornando-se símbolos de uma nova fase pela qual o país
estaria entrando.
Os arquitetos responsáveis por introduzir os conceitos do neoclassicismo no
território brasileiro são os franceses Pierre Joseph Pézerat (1801-1872) que che-
ga no país em 1825 e instala-se na capital, Rio de Janeiro à época; e Auguste
Henri Victor Grandjean de Montigny (1776-1850). Ainda que Pézerat tenha as-
sumido o posto de arquiteto particular de Dom Pedro I, Grandjean de Montigny
oferece uma inestimável contribuição à arquitetura brasileira.
Além de desenvolver projetos de relevância, muitos deles não executados por falta
de mão de obra qualificada e recursos financeiros, Grandjean de Montigny exerce
valiosa contribuição ao ensino de arquitetura com a fundação do curso de arquitetura
no país na Academia Imperial de Belas Artes.

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Enquanto projetista, Grandjean de Montigny destaca-se, sobretudo, pela atenção
dada às fachadas e aos adornos em excesso, itens que lhe rendem inúmeras críticas
pelos arquitetos contemporâneos. Dois de seus mais relevantes projetos são a Praça
do Comércio e a própria Academia Imperial de Belas Artes, onde leciona entre os
anos de 1827 e 1850.

A Praça do Comércio, transformada em Alfândega, II Tribunal do Júri e, no fi-


nal do século XX, Casa França-Brasil, revela uma edificação ostensiva, de propor-
ções monumentais que compreende uma grande praça coberta por abóbodas de
berço dispostas em cruz grega, com transepto iluminado por claraboia-lanternim
central apoiada em tronco de cilindro. Os negócios e pregões eram realizados
numa ágora delimitada por um grandioso peristilo de colunas dóricas que susten-
tam imponentes arquitraves.

Figura 4 – Interior da Praça do Comércio, atual Casa França-Brasil,


Grandjean de Montigny, Rio de Janeiro, 1820
Fonte: Wikimedia Commons

O projeto da Academia Imperial de Belas Artes admite outras dificuldades.


A falta de mão de obra e as complicações econômicas e políticas da época fa-
zem com que o projeto leve dez anos para ser executado, sendo inaugurado em
1826, após a Independência.

O projeto está localizado num terreno estreito inserido na malha colonial urba-
na da cidade. Por estar inserido num lote numa quadra, a edificação encontra-se
geminada às construções vizinhas. Com o intuito de valorizar o prédio do liceu, o
arquiteto cria uma nova rua que conecta o Largo do Rocio, atual Praça Tiradentes,
a uma praça semicircular à frente da nova edificação. O edifício é construído com
apenas um único pavimento térreo, tendo apenas o bloco central resolvido em dois
pavimentos, de modo que o segundo pavimento, previsto no projeto original, é im-
plantado no decorrer do século XIX.

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UNIDADE A Arquitetura no Brasil Imperial

Figura 5 – Fachada e planta do pavimento térreo da Academia Imperial


de Belas Artes, Grandjean de Montigny, Rio de Janeiro, 1826
Fonte: Wikimedia Commons

O pavimento térreo está organizado em um trapézio que ocupa todo o lote.


Abriga a grande entrada para o vestíbulo no corpo central que conduz à bibliote-
ca no pavimento superior através de uma escada localizada à esquerda. Há uma
galeria que corre paralelamente à fachada principal e garante o acesso às salas de
aula que ocupam a faixa voltada à travessa das Belas Artes e aos ateliês, voltados
aos fundos do terreno.

A fachada principal está voltada para a travessa e é dividida em três seções,


sendo o bloco central, com dois pavimentos, coroado com um frontão triangular
apoiado em quatro colunas jônicas dispostas sobre um embasamento de pedra
aparente; além do bloco central, há os dois laterais, de único pavimento, com
esquadrias arrematadas em arco pleno e dispostas de modo a revelar a simetria
da composição.

Figura 6 – Vista da travessa para a fachada já com o segundo pavimento, Academia


Imperial de Belas Artes, Grandjean de Montigny, Rio de Janeiro, 1826
Fonte: Wikimedia Commons

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Além da Praça do Comércio e da Academia Imperial, Grandjean de Montigny
é responsável pelo projeto do Mercado da Candelária em 1834, também no Rio
de Janeiro. A edificação possui cerca de 5.000m² distribuídos em uma planta
quadrangular com simetria biaxial, contando com quatro fachadas. Há acessos
nos quatro lados marcados por colunas dóricas que sustentam um arco pleno sob
um frontão triangular.

O segundo pavimento é concluído no ano de 1870 sem atender o traçado originalmente


Explor

previsto, Mercado da Candelária, Grandjean de Montigny, Rio de Janeiro, 1834. Disponível


em: https://goo.gl/iygML7.

Para se aprofundar um pouco mais sobre o Mercado da Candelária, também conhecido


Explor

como Mercado Municipal Praça XV e uma discussão sobre a construção do espaço público,
leia “O desaparecimento do Mercado Municipal Praça XV”, fator na formação do espaço
público da Cidade do Rio de Janeiro, Carolina Rebouças França e Vera F. Rezende. Disponível
em: https://goo.gl/ejAGUd.

O neoclassicismo não atinge apenas as construções públicas, mas também as


moradias, sobretudo as urbanas. Isso se dá, sobretudo, pela chegada da Corte ao
Brasil, que acarreta uma série de transformações na pirâmide social, sobretudo nas
elites locais. Portanto, o país inicia um processo de modernização ao adotar a lin-
guagem clássica na arquitetura.

Verifica-se uma forte correspondência do palacete francês em exemplos como


a chácara da Gávea e o solar da Marquesa de Santos. O primeiro, projeto de
Grandjean de Montigny, esboça uma planta quadrangular, sendo que seu núcleo
é delimitado por uma varanda em U com o intuito de proteger as paredes do
calor excessivo. A fachada posterior possui acesso arrematado por um frontão
triangular e marcado por uma superfície curva. Já o projeto de Pézerat para o
solar possui um vestíbulo de formato retangular que se apresenta ao visitante no
primeiro pavimento. Há uma forte influência dos chateaux franceses no projeto
de Pézerat, que revela harmonia e graça na sua composição.

Parte da elite instala-se entre o meio urbano e o rural em palacetes localizados


em lotes de proporções avantajadas, como é o caso das chácaras. Há nessa nova
tipologia arquitetônica a extinção das varandas como espaço de celebração, so-
cialização. Em alguns casos, onde há reforma de construções do período colonial,
a varanda acaba sendo reduzida a meros alpendres, quando não é completamen-
te eliminada. A capela, espaço de extrema importância na casa rural colonial, é
reduzida a um espaço na sala de recepção, limitando-se a um nicho ou oratório
de dimensões módicas. Outra condição que deve ser destacada é a incorporação
da cozinha a partir de 1860, após ter sido separada do corpo principal da casa
durante algumas décadas ao longo do século XIX.

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UNIDADE A Arquitetura no Brasil Imperial

O Romantismo no Brasil
Um novo cenário urbano se estabelece no Império por conta da estabilidade eco-
nômica proveniente da produção cafeeira a partir de 1850. A classe média brasileira
se consolida e a partir desse momento opta pela moradia nas áreas urbanas já do-
tadas de certa infraestrutura e, portanto, consolidadas, mas em contínua expansão.
Enquanto que essa classe se adequa à condição urbana ao ocupar casas de aluguel
por não possuir capital suficiente para adquirir o imóvel próprio, a classe mais nobre
e os associados à Corte, ao procurar se adaptar ao ambiente urbano, transformam
as antigas casas de chácaras em palacetes, dando continuidade ao processo de mo-
dernização iniciado nas primeiras décadas do século XIX.

Com o surgimento dos novos bairros, nota-se uma fase de transição em que
novas tipologias arquitetônicas convivem com as antigas casas coloniais. Algumas
características dos séculos passados, como implantação das novas residências
com a fachada no limite da testada nos terrenos mais estreitos são mantidas;
por outro lado, a inclusão de um porão elevado e, posteriormente, a adoção do
recuo frontal em lotes mais generosos distinguem as novas das antigas tipologias
residenciais. Outro fator a ser ponderado refere-se à setorização. Enquanto que
na casa colonial há a justaposição dos setores íntimos, serviço e trabalho, a partir
da segunda metade do século XIX, o setor social é evidenciado enquanto a área
de trabalho é omitida da edificação.

Os porões incorporados nas novas tipologias residenciais urbanas em meados do século


Explor

XIX, além de melhorar a privacidade, tornam-se responsáveis pelo conforto ao aprimorar a


ventilação e diminuir a umidade.

Um outro fato importante que impulsiona o crescimento do Brasil nessa fase


é a relação mais próxima com eventos internacionais, como as exposições uni-
versais, fruto da Revolução Industrial, e também com o fato de haver uma grande
demanda de jovens brasileiros em busca de melhor formação no exterior. Através
desse contato, especialmente com os países europeus, faz com que os jovens bra-
sileiros se interem das manifestações do Romantismo vigente na Europa desde as
últimas décadas do século XVIII.

Para saber mais sobre as origens do Romantismo, leia “Romantismo: uma questão alemã”, de
Explor

Rudiger Safranski de 2010 e publicado pela editora Estação Liberdade. Seguem sugestões de
bibliografia de romances brasileiros escritos na segunda metade do século XIX, cuja estética
decorre desse estilo. Disponível em: https://goo.gl/9UAJDQ.

A essência do Romantismo, de maneira muito similar à do Neoclássico, gira em


torno da incorporação de elementos do passado, por outro lado, o que a distingue
é o fato de haver uma reinterpretação do passado, sinalizando uma projeção para

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a modernidade que acontecerá na virada do século. Tendo em vista a imigração, a
industrialização e a busca da modernidade, a arquitetura no Brasil adquire um caráter
plural nessa fase ao incorporar diversas tendências estéticas, bem distinto da produ-
ção europeia.

Logo, o paisagismo no Brasil é o que mais absorve as experiências românticas eu-


ropeias. Entre as características mais reveladoras, “o exotismo, o passado, a fuga de
maneiras variadas, o isolamento e a valorização da natureza em seu estado primitivo”
(Mendes et al, 2011, p. 134) definem a essência desses jardins.

O jardim de estilo inglês acaba se tornando uma das principais referências com-
positivas com seus caminhos sinuosos, massas de vegetação organizadas de ma-
neira assimétrica, espelhos d’água, quiosques ou caramanchões, falsas ruínas, lago
artificial abrigando peixes exóticos e aves. Esses elementos simulam o sítio natural
desejado por esse tipo de jardim diametralmente oposto ao jardim francês.

O responsável por trazer essa concepção de projeto paisagístico para o Bra-


sil é o francês Auguste Glaziou, que se estabelece na Corte a partir de 1858
quando começa a desenvolver uma série de projetos urbanos, além de parques
e jardins particulares. No Rio de Janeiro, entre os projetos de destaque de Gla-
ziou estão a reforma no Passeio Público (1860), o Campo de Santana (1880),
a Quinta da Boa Vista; em Petrópolis, o jardim do Palácio Imperial; em Nova
Friburgo, o parque São Clemente; em São Paulo, o jardim da Aclimação e em
Barra Mansa, o parque da Preguiça.

O Ecletismo no Brasil
Em função dessa miscigenação de estilos europeus no Brasil, as novas experi-
ências exploradas conduzem a uma estética muito peculiar a partir de meados do
século XIX. A essas experimentações atribui-se o nome de Ecletismo, defendido
por alguns pensadores como os franceses Victor Cousin (1792-1867) e César
Denis Daly (1811-1893). Ambos compreendem que a arquitetura pode retomar o
passado de maneira livre, mas com a responsabilidade de reconfigurar as caracte-
rísticas dos demais estilos. Em suma, extrair aquilo que revela determinado estilo
e, associado a outros elementos de estilos variados, compor uma nova edificação.
Tal postura causa furor entre outros arquitetos que, como Friedrich Schinkel
(1718-1841) e Gilbert Scott (1811-1878), defendem a adoção de forma pura das
arquiteturas do passado. Dessa forma, o Ecletismo se distingue do Neoclassicismo e
estabelece alguns pontos de contato com o Romantismo. Ainda assim, os princípios
do Ecletismo são muito bem aceitos no Brasil, sobretudo pela sua elite.
No Rio de Janeiro, as residências mais abastadas, implantadas nos arredores das
áreas mais adensadas, incorporam, por exemplo, a platibanda como coroamento de
suas fachadas principais, e abandonam, portanto, a solução dos beirais. O porão alto
das primeiras décadas dos oitocentos é substituído pelo porão habitável nas duas úl-
timas décadas do século XIX. O pé-direito do andar nobre é ampliado enquanto que
as demais dimensões são diminuídas, tornando o lote ainda mais estreito.

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Também surge uma nova tipologia arquitetônica, o chalé. Normalmente iso-


lada no centro do terreno, essa edificação tem as quatro fachadas desobstruídas
de quaisquer superfícies verticais, de modo que os ambientes internos recebem
ventilação natural e iluminação direta em abundância, diferentemente da sua
versão popular, geminada. Em terrenos de maiores proporções, a existência de
um jardim inglês na lateral e de árvores frutíferas, horta e galinheiro, podem
complementar o programa dessa tipologia. O chalé, por outro lado, resgata a
presença estética do frontão de clara influência neoclássica, sendo que em al-
guns casos, o tímpano é decorado com baixos relevos de traços do rococó.

A versão popular do chalé passa a acontecer com mais frequência com as mu-
danças ocorridas tanto na economia quanto na estrutura social, que alteram as
dinâmicas urbanas ao fazerem com que a crescente classe média busque moradia
nas áreas urbanas. Essa tipologia torna-se comum em áreas ainda não muito valo-
rizadas com terrenos baratos e possuem em sua essência os ideais da industrializa-
ção, tendo em vista a sua produção seriada. A industrialização é presente também
nos elementos compositivos, como as esquadrias, ornamentos e equipamentos
adquiridos através de catálogos.

O programa usualmente possui duas salas, dois dormitórios, cozinha, despensa


no corpo principal, enquanto que a área de serviço e o banheiro, cada vez mais
presentes nas moradias, encontram-se numa edícula independente. O porão, vez
ou outra habitável, contribui para amenizar a umidade ao elevar a construção
do solo. A fachada principal possui óculos para ventilar o porão, portas-janelas
garantindo o acesso a pequenos balcões; já a fachada lateral guarda o acesso à
edificação, garantido por uma escada e protegido por um elegante alpendre.

Um dos expoentes do Ecletismo em São Paulo é Francisco de Paula Ramos de


Azevedo. Nascido em 1851, Ramos de Azevedo realiza os seus estudos em enge-
nharia civil na Bélgica e, ao retornar ao Brasil, propõe algumas obras em Campi-
nas, local que adotou como sua cidade natal, e em 1889, instala-se definitivamente
em São Paulo, onde deixará uma herança majestosa.

Além da arquitetura residencial destinada às classes mais abastadas, Ramos


de Azevedo tem fundamental participação na concepção de obras públicas,
como a Escola Normal Caetano de Campos (1890-94), localizada à Praça da
República. Ainda na região central, o Teatro Municipal inaugurado em 1911,
o Quartel da Polícia (1892), a Pinacoteca do Estado (1900) e o Palácio dos
Correios (1922) complementam o conjunto de edifícios públicos que marcam a
ascensão da cidade de São Paulo à modernidade.

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Figura 7 – Fachada principal e detalhe do portão de acesso
do Teatro Municipal, Ramos de Azevedo, São Paulo, 1911
Fonte: Wikimedia Commons

Figura 8
Fonte: Wikimedia Commons

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Livros
1808
GOMES, L. 1808. Rio de Janeiro: Globo, 2015.
Do Reino Unido ao Império: seis anos decisivos
GALLAS, F. D.; GALLAS, A. O. Do Reino Unido ao Império: seis anos decisivos.
São Paulo: Alfredo Gallas, 2014.
O cortiço
AZEVEDO, A. O cortiço. Cotia: Atelie, 2012.

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Referências
FICHER, S. Os arquitetos da Poli: ensino e profissão em São Paulo. São Paulo:
EDUSP (FAPESP), 2005.

LEMOS, C. A. C. Ramos de Azevedo e seu escritório. São Paulo: Pini, 1993.

MENDES, C., VERÍSSIMO, C., BITTAR, W. Arquitetura no Brasil de Dom João


VI a Deodoro. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2011.

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