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História da

Arquitetura
e Urbanismo
Material Teórico
Arquitetura Cristã: das Igrejas Bizantinas às Góticas

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Silvio Pinto Ferreira Junior

Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
Arquitetura Cristã: das Igrejas
Bizantinas às Góticas

• Introdução;
• Idade Média;
• O Império Bizantino;
• Arquitetura Bizantina;
• Arquitetura Medieval;
• Considerações Finais.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Apresentar as características da arquitetura influenciadas pelo domí-
nio cultural e ideológico cristão.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
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algumas recomendações básicas:
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Procure manter indicações
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da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Arquitetura Cristã: das Igrejas Bizantinas às Góticas

Introdução
Quando pensamos no período da Idade Média, logo nos vem à mente uma ideia
de atraso, período das trevas, escuridão, religiosidade etc. No entanto, o período
medieval nos apresenta uma dinâmica e especial refinamento na arquitetura
influenciada pelo cristianismo.

Desse modo, entre os muros dos mosteiros e dos castelos medievais, a arquite-
tura não sofreu atraso e nem ficou estagnada, ao contrário, foi sendo aprimorada.

Veremos nesta unidade uma introdução à história da arquitetura e urbanismo


entre os séculos V e XV.

Idade Média
A Idade Média (ou Era Medieval) dura cerca de 10 séculos, do séc. V até aproxi-
madamente o séc. XV. É delimitada a partir de eventos políticos importantes: inicia-
-se com a desintegração do Império Romano do Ocidente, com a invasão de Roma
pelos bárbaros germânicos, em 476 d.C., e finaliza com o fim do Império Romano
do Oriente, com a Queda de Constantinopla, tomada pelos turcos em 1453.

É um período conturbado da história, com muitas mudanças nos cenários político,


social e cultural – mas que se caracterizou pelo domínio cultural e ideológico da
Igreja Católica. É a era das grandes catedrais, que foram batizadas acuradamente
de Bíblias de Pedra.

A influência ostensiva da Igreja Católica orientava todos os aspectos da cultura


europeia: a arte, a filosofia, os textos, os hábitos, o cotidiano das pessoas, o conhe-
cimento científico e até mesmo as guerras.

É nesse período que ocorrem as célebres Cruzadas, que visavam libertar a Terra
Santa das mãos dos muçulmanos, resultando em batalhas sangrentas e muitas mortes.

Contudo, antes de iniciarmos os estudos da arquitetura desse período, é essencial


que entendamos o que aconteceu com o Império Romano, ainda no fim da Idade
Antiga, e sua relação com a incipiente Igreja Católica.

As igrejas paleocristãs
A História nos conta que nos anos que se seguiram à morte de Jesus Cristo,
seus discípulos passaram a divulgar seus ensinamentos não apenas na região da
Judeia, que na época fazia parte do Império Romano, como também passaram a
se espalhar por várias outras regiões do Império.

A crença cristã foi entendida, primeiramente, como um atentado à autoridade indiscu-


tível do Imperador, fazendo com que os cristãos passassem a ser oficialmente perseguidos.

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A primeira grande caça aos cristãos se deu já em 64 d.C., durante o governo de
Nero. Ao longo dos próximos 249 anos, houve mais nove períodos de perseguição,
culminando com a maior e mais violenta delas entre 303 e 305, durante o governo
de Diocleciano.

Dentre os diferentes martírios a que os cristãos foram submetidos, um dos mais


cruéis era o espetáculo de lançamento de cristãos para serem publicamente devo-
rados por leões e outras feras, o que muitas vezes ocorria nas arenas do Coliseu.

Esses suplícios encerraram-se no ano de 311 d.C., quando o Imperador Cons-


tantino, já convertido à fé cristã, determinou o cristianismo como religião oficial
do Império, e a Igreja Cristã como um dos poderes do Estado. A partir desse
momento, a arquitetura cristã nasceu pela necessidade de encontrar locais ade-
quados para seus cultos, dando início à era das grandes igrejas que substituíram
os templos pagãos.
Durante os períodos de perseguição não houvera necessidade nem, de
fato, possibilidade de construir lugares públicos de culto. As igrejas e
salas de reunião que existiam eram pequenas e de aspecto insignificante.
Mas quando a Igreja passou a ser o poder supremo no reino, todo o seu
relacionamento com a arte teve, necessariamente, que ser reexaminado.
Assim, aconteceu que as igrejas não usaram os templos pagãos como
seus modelos, mas adotaram o tipo de amplos salões de reunião que, em
tempos clássicos, eram conhecidos pelo nome de “basílica” (GOMBRICH,
2001, p. 133).

As basílicas que existiam na antiga Roma, ao contrário do que pensamos, eram


edificações de uso social e laico pelo Estado, um espaço fechado em que o povo
se reunia e onde eram realizadas as audiências públicas dos tribunais. Seu formato
era simples, com um salão retangular, duas colunatas paralelas e duas absides
(recinto semicircular ou poligonal, de teto abobadado), diretamente opostas, na
extremidade menor do edifício.

Essas primeiras igrejas da nascente Igreja Católica, conhecidas como basílicas


paleocristãs, tiveram algumas pequenas, mas importantes alterações: uma das
absides foi removida para dar lugar à entrada, agora deslocada para o lado menor
do espaço, enquanto o altar foi colocado na abside do lado oposto.

A igreja, portanto, é formada essencialmente por um longo espaço longitudinal


que determina o caminho do homem. Segundo Bruno Zevi, “a revolução espacial
consistiu em ordenar todos os elementos da igreja na linha do caminho humano”
(ZEVI, 2009, p. 71), inclusive determinando que toda a decoração desse espaço
interior tivesse um caráter dinâmico, conduzindo o espectador em direção ao altar.
Esse espaço em seu início partiu do princípio da escala humana, dos gregos, aliado
à consciência do espaço interior dos romanos.

A igreja passa, portanto, a ser composta por diversas partes: o coro, que é a
região da abside, onde estava inserido o altar-mor, e para onde todos os olhos dos
fiéis se dirigem; a nave, que consiste no corpo central da igreja, onde a congregação

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se reúne e se senta; e as alas, que são os compartimentos laterais, separadas da


nave por uma colunata.

Entre as basílicas paleocristãs que ainda existem, podemos destacar a de Santa


Sabina (422-432), Santa Maria Maggiore (432-440) e Santo Apollinare in Classe,
em Ravena, na Itália (534-549). No entanto, todas elas foram significativamente
alteradas ao longo do tempo, para adaptá-las às linguagens contemporâneas e
garantir sua manutenção, pois sempre foram utilizadas.

Os edifícios paleocristãos, embora ainda sejam construções simples, vão iniciar


os princípios que orientarão toda a construção de igrejas cristãs por quase quinze
séculos: um espaço longitudinal, dinâmico, com um caráter duplamente formal e
simbólico em sua constituição.

O Império Bizantino
Com a derrocada do Império Romano a partir do século III, os imperadores
começaram a enfrentar uma grave crise política, marcada por lutas internas pelo
poder, corrupção e gastos excessivos com o luxo dos imperadores, o que acabou
desviando os recursos militares.

Enfraquecidos, os exércitos começaram a perder território para os inúmeros


grupos de bárbaros que pressionavam suas fronteiras.

Em 395, o Imperador Teodósio dividiu o imenso território romano em dois: o


Império Romano do Ocidente, que ficou com a capital em Roma e os territórios
europeus e do norte da África; e o Império Romano do Oriente, cuja capital era
Constantinopla – a atual cidade de Istambul, na Turquia.

Depois da divisão, o Império Romano do Ocidente foi se enfraquecendo até cair


completamente em poder dos bárbaros invasores, no ano de 476. A partir dessa
data, o território romano foi fragmentado e dividido entre os inúmeros grupos de
bárbaros, nativos das regiões que outrora tinham sido dominadas pelos romanos.
Deu-se início a um período sangrento, em que esses grupos passaram a guerrear
entre si para conquistar territórios maiores.

Já o Império Romano do Oriente gozou de uma relativa unidade até o ano de


1453, ou seja, dez séculos após o fim do Império Ocidental. Sua capital, Constan-
tinopla, tinha esse nome pois fora fundada em 330 pelo Imperador Constantino,
no local da antiga colônia grega de Bizâncio. Por esse motivo, o Império Romano
do Oriente é comumente chamado de Império Bizantino.

A cidade de Constantinopla situa-se no Estreito de Bósforo, entre a Europa e a


Ásia, por onde passavam os mercadores de ambas as direções. Por esse motivo,
sua cultura traz muitas influências orientais, o que se pode notar na arquitetura
luxuosa que marcou seu apogeu.

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Figura 1
Fonte: Wikimedia Commons

O ápice político e cultural do Império Bizantino se deu durante o governo do


Imperador Justiniano, que reinou entre 527 e 565, e reconquistou grande parte do
território do antigo Império Ocidental.

Arquitetura Bizantina
O Imperador Justiniano foi o responsável pela construção da maior parte
das igrejas bizantinas, que se destacavam por serem extremamente luxuosas e
requintadas, pois coincidem com o período em que a Igreja se oficializa e se impõe
como um poder dentro do Império. “A arte bizantina tinha um objetivo: expressar
a autoridade absoluta do imperador, considerado sagrado, representante de Deus e
com poderes temporais e espirituais” (PROENÇA, 2000, p. 47).

O ápice da arquitetura bizantina se nota na igreja Santa Sofia (ou Hagia Sophia,
“divina sabedoria”), encomendada por Justiniano aos arquitetos Artêmio de Trales
e Isidoro de Mileto, e construída entre 532 e 537. “Ela foi, de longe, a maior das
trinta igrejas ou mais que [Justiniano] ergueu em Constantinopla durante seu reinado.
Sua estrutura em cúpula tornou-se a base de grandes catedrais renascentistas, como
as de São Pedro, em Roma, e São Paulo, Londres” (GLANCEY, 2001, p. 38).

Os arquitetos criaram um vasto espaço de congregação com uma cúpula


gigantesca completamente livre de colunas e paredes, apoiadas em semicúpulas.
Essas se originavam nos quatro grandes arcos que determinavam um espaço
central debaixo da cúpula. Surge um esquema estrutural complexo, que determina
uma concepção planimétrica muito mais evoluída do que as das simples basílicas
paleocristãs, de orientação mais centralizada.

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Figura 2 − Vista externa da Igreja de Santa Sofia na atual cidade de Istambul, na Turquia
Fonte: iStock/Getty Images

A cúpula gigantesca de concreto impressiona até hoje. Embora os construtores


tenham sido reputados como excelentes engenheiros e matemáticos de seu período,
a cúpula desabou parcialmente apenas 30 anos após sua construção. “Isso, porém,
deveu-se mais à velocidade da construção, ditada pelo ambicioso imperador, que a
algum erro de cálculo de arquitetos” (GLANCEY, 2007, p. 38).

A grande cúpula parece flutuar sobre o edifício profusamente decorado interna-


mente com inúmeros mosaicos em vidro representando cenas bíblicas e o Imperador,
colunas com capitéis decorados com folhagem serpentina e relevos decorativos.

Figura 3 − Interior da Igreja Santa Sofia


Fonte: iStock/Getty Images

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Figura 4 − Planta esquemática da Igreja, com a projeção da cúpula sobre o espaço central
Fonte: Wikimedia Commons

A igreja Santa Sofia mostra como a cultura bizantina estava seduzida pela arqui-
tetura luxuosa e sensual do Oriente.

Figura 5 − Detalhe de um dos mosaicos da Igreja Santa Sofia


Fonte: Wikimedia Commons

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Quando Constantinopla foi invadida pelos turcos,


esses destruíram muitas das igrejas cristãs que haviam A cruz grega tem todos
os braços de mesmo ta-
na cidade, porém, impressionados com Hagia Sophia, manho. Enquanto que a
preservaram-na, convertendo-a em uma mesquita. cruz latina possui o eixo
Assim, ela permaneceu por cerca de cinco séculos vertical mais comprido
que o horizontal.
até se tornar um museu secular, em 1931.

As plantas das igrejas bizantinas são complexas e variam muito entre si, embora
seja um traço comum a presença de muitas curvas em seus arcos e cúpulas e
principalmente as plantas em forma de cruz grega.

Na igreja oriental, a planta em forma de cruz grega foi gradualmente adotada


para a maioria das igrejas – quatro braços iguais –, ao passo que a igreja ocidental
adotou uma planta cruciforme, uma descrição mais literal de um crucifixo – isso
pode ser visto em várias igrejas e catedrais ocidentais até meados do século XX
(GLANCEY, 2007, p. 40).

Essas plantas centralizadas podiam variar a partir do formato cruciforme até


esquemas centrais octogonais, como se vê na Basílica de São Vital na cidade de
Ravena, Itália.

Para o Império Bizantino, a cidade de Ravena, dominada há muito tempo pelos


ostrogodos, foi muito cobiçada pelo imperador Justiniano para a conquista da
Península Itálica. Após muitas tentativas, a cidade foi finalmente reconquistada em
540, tornando-se então o centro do domínio bizantino na Itália.

Outra marca da arquitetura bizantina é a rica decoração interna com mosaicos que prestavam
Explor

homenagem a figuras políticas com auréolas como se fossem figuras sagradas.

Figura 6 − Justiniano e sua esposa, Teodósia, levando suas oferendas ao templo, Ravena, Itália
Fonte: Wikimedia Commons

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Além das enormes e requintadas igrejas bizantinas, pouca coisa sobrevive até os
dias de hoje. É de pressupor que os bizantinos também construíam palácios, banhos,
teatros e complexos esportivos a partir dos princípios da arquitetura romana.

A arquitetura bizantina teve grande impacto nas construções do Leste Europeu


e na Rússia, com seu jogo de cúpulas e plantas centralizadas predominando nos
próximos séculos tanto em igrejas quanto em outras edificações.

Arquitetura Medieval
Agora vamos iniciar os estudos sobre a arquitetura da Idade Média propriamente dita.

A Idade Média costuma ser dividida em dois períodos: os primeiros 500 anos, do
século V ao século X, é denominado de Alta Idade Média, Idade Média Antiga ou,
o que é bastante comum, Idade das Trevas. Essa denominação é devido ao fato de
que pouco sabemos desse período conturbado da história, que marca a transição
do mundo antigo para a configuração geográfica da Europa mais próxima do que
é hoje.

As grandes propriedades agrícolas eram a base da economia. A partir do fim do


Império Romano, a Europa foi fragmentada em diversos pequenos estados – deu-
se início ao sistema político feudal.
Com o passar do templo, os grandes proprietários tornam-se muito
poderosos e começam a exercer, dentro de seus territórios, a autoridade
própria do Estado. O rei torna-se soberano apenas em suas terras, que
muitas vezes eram até menores do que as dos grandes proprietários.
Assim, a autoridade resultante da posse da terra estabelece uma nova
relação de poder entre rei e súditos e desloca o centro da vida social das
cidades para o campo (PROENÇA, 2000, p. 54).

Inúmeras tribos bárbaras guerreavam e disputavam território nesse período,


destruindo as realizações das civilizações vencidas. Assim, a população vivia
migrando de um lugar para outro em função dessas guerras e confrontando-se com
as mais diversas heranças culturais e étnicas desses diferentes grupos, o que gerou
uma cultura híbrida que só começou a definir-se próximo ao século X.

Devido a esse cenário, é difícil encontrar um estilo artístico dominante, caracte-


rístico desse período. O que se pode afirmar é que há, nesses séculos, a supressão
e anulação de qualquer influência clássica – grega ou romana – na cultura europeia.
No entanto, esse conhecimento ficou preservado no interior do clero: nos mostei-
ros, abadias e conventos.

Com relação às formas de cultura escrita, sobretudo a literatura e a filosofia,


esse afastamento das pessoas comuns era natural – era um período em que a maior
parte da população era analfabeta e o conhecimento era restrito aos membros da
igreja ou a alguns membros de famílias reais.

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Já em relação à arquitetura e ao urbanismo, a situação era mais delicada. Em


função das guerras periódicas e da destruição, o pouco construído logo era des-
truído pelos invasores. A maior parte das construções era simples, geralmente em
madeira. O que sobrevive, no entanto, são geralmente fortificações militares e
alguns castelos.

Com a coroação de Carlos Magno como Imperador do Ocidente, em 800, pelo


Papa Leão III, nota-se um incremento na cultura medieval. Uma corte é formada,
em que é fundada uma academia literária, e estabelecem-se oficinas onde eram
criados objetos de arte e manuscritos ilustrados.

A partir da experiência na corte de Carlos Magno, os mosteiros também pas-


saram a estimular a produção artística nas áreas de arquitetura, escultura, pintura,
ourivesaria, cerâmica, fundição de sinos, encadernação e fabricação de vidros. É o
início da era das grandes catedrais.

Vejamos alguns estilos da arquitetura medieval:

Arquitetura românica
O estilo românico é chamado dessa maneira porque a robustez de suas edifica-
ções em pedra, suas grossas colunas, e o uso de arcos e abóbadas faz com que se
assemelhe ao estilo construtivo dos romanos.

Os membros do clero e da nobreza que começavam a se firmar como os


novos senhores feudais logo passaram a adotar o estilo românico como forma de
manifestar seu poder em novas e imponentes construções.

As principais características dessas imensas igrejas românicas são suas dimensões


monumentais, erguendo-se acima das humildes construções vizinhas em vilarejos
tranquilos. Por esse motivo, costumam ser chamadas de “fortalezas de Deus” e
funcionavam como ponto de referência para os cidadãos locais e os viajantes.

Exemplo de construção românica é o Complexo da Catedral de Pisa, na Itália,


construída entre 1063-1118, e depois concluída entre 1261-1272. O complexo
conta com uma igreja com planta em forma de cruz, um batistério (uma construção
de plano circular, onde eram realizados os batismos) e o famoso campanário que
conhecemos por Torre de Pisa. Sim, a Torre de Pisa inclinada que conhecemos
nada mais é do que a torre do sino da Catedral de Pisa, que sofreu os efeitos da
acomodação do solo, inclinando-se vertiginosamente a ponto de ser proibido o
acesso ao topo da torre por visitantes.

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Figura 7
Fonte: iStock/Getty Images

Arquitetura gótica
A partir do séc. XII dá-se início a uma economia fundamentada no comércio,
e não mais apenas na agropecuária, o que faz com que o centro da vida social se
desloque do campo para as cidades. Com isso, surge um novo grupo social, que é
ligado ao comércio e que habitava as cidades (os burgos): são os burgueses.

A arquitetura gótica é fruto de uma mudança de concepção estética, cada vez mais
audaciosa, mas também fruto de uma profunda alteração técnica na construção.
Essa nova maneira de construir apareceu pela primeira vez na edificação da abadia
de Saint Denis, na França, por volta de 1140, e durou por cerca de 400 anos.

O termo gótico é atribuído ao pintor e teórico italiano Giorgio Vasari somente no


séc. XVI, em sua obra Vida dos mais excelentes pintores, escultores e arquitetos,
publicada em 1550. O termo gótico é oriundo de godos, o povo bárbaro que semeou
a destruição do Império Romano.

Em linhas gerais, a “arquitetura gótica se caracteriza pela altura de suas cons-


truções, pela leveza de suas paredes externas – nas quais se configuram imen-
sas vidraças – e, consequentemente, pela sua luminosidade interior” (PEREIRA,
2010, p. 122).

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As nervuras que começavam a aparecer nas construções serão aperfeiçoadas


aqui de modo a produzir um esqueleto estrutural que, sozinho, sustenta toda a
carga da construção, sem precisar das paredes e de pilares maciços para absorver
o empuxo.

Com isso, as paredes se libertam de sua função estrutural e permitem imensas


aberturas, geralmente fechadas com vitrais requintados e imensas rosáceas, inun-
dando o interior da igreja com cores fortes representando imagens sacras.

O estilo gótico emprega três elementos típicos: o arco ogival, a abóbada sobre
arestas e o uso de arcobotantes. Sobre esses:
• O arco ogival é composto por dois segmentos de arco, conferindo-lhe um
aspecto “pontudo”, mais estreito e alto. A acentuada verticalidade desse arco
possibilita que as tensões que se pousam sobre ele sejam predominantemente
verticais, distribuindo-se diretamente ao chão através das colunas e diminuindo
a força lateral do componente vertical. Com isso, as edificações góticas
conseguem alcançar alturas maiores, suportando uma carga maior;
• A abóbada nervurada sobre arestas é composta por arcos ogivais altos e
estreitos. As nervuras conduzem os empuxos da abóbada para quatro pontos
que devem ser reforçados: as colunas que a sustentam. Essas colunas, espaça-
das regularmente no interior da igreja, dispensam o uso de grossas paredes,
liberando o espaço interno;
• O sistema de construção é escorado por uma série de arcobotantes, que se
trata de um segmento de arco situado no exterior do edifício, assemelhando-se
a pernas de aranhas. Esse elemento nasce do arranque da abóbada e transmite
o empuxo até o contraforte, permitindo uma maior estabilidade nas alturas e
vãos compridos desse novo estilo.

Exemplo de construção gótica:

Figura 8
Fonte: iStock/Getty Images

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Uma das mais importantes catedrais góticas francesas é a célebre Notre Dame de
Paris, que ficou imortalizada na obra de Victor Hugo, O Corcunda de Notre Dame,
de 1831. As construções góticas consistiam nas mais altas estruturas projetadas
pelo homem. O efeito psicológico que esses espaços provocam no observador é
forte, pois a igreja incorpora a manifestação da grandiosidade, da imensidão, do
poder divino. Os vitrais imensos iluminam o interior da catedral, impondo-se como
um dos aspectos mais apreciados pelos visitantes.

Os detalhes das catedrais góticas merecem um comentário à parte. A beleza


dessas construções se deve à junção da arquitetura com a arte religiosa como se vê
no quadro a seguir:

Figura 9
Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons e iStock/Getty Images

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Você Sabia? Importante!

As gárgulas góticas têm a forma de figuras humanas, monstruosas e animalescas e


servem, segundo os cristãos, para proteger a catedral dos maus espíritos, afugentando-
os do interior sagrado.

Figura 10 − Gárgula da catedral de Monza, Itália


Fonte: iStock/Getty Images

O gótico teve seu princípio na França, sendo considerado durante a Idade Média
como “estilo francês”, mas logo os países vizinhos também incorporaram o estilo
em suas construções eclesiásticas.

Considerações Finais
Apesar de a Idade Média ser considerada um período de atraso, na arquitetura
esse período foi de grande desenvolvimento, principalmente com as monumentais
catedrais no estilo gótico.

No fim da Idade Média, durante um período crítico que sinaliza a crise que
levaria à Idade Moderna e ao Renascimento, a evolução das formas góticas na
arquitetura é grande e cresce dentro de um repertório cada vez mais requintado e
variado, que vai a subestilos, como o gótico racionalista, gótico radiante, pós-gótico
e gótico flamejante.

Com o início do Renascimento, na Itália, os defensores da cultura clássica se volta-


ram contra o gótico por esse ser esteticamente oposto aos princípios do classicismo.

Procuramos nesta unidade apresentar algumas referencias de um vasto material


que se conhece sobre a arquitetura medieval.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
O Enigma das Catedrais Góticas (Dublado) Documentário Completo National Geographic
https://youtu.be/KcgZyRSZoQI

Leitura
Estética e História da Arte – E-book
https://goo.gl/MP1jst
Arte Gótica – E-book
https://goo.gl/d2m5dU
Arte Românica e Bárbara – E-book
https://goo.gl/WjmDML

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Referências
GLANCEY, Jonathan. A História da Arquitetura. São Paulo: Ed. Loyola, 2007.

GOMBRICH, Ernst H. História da Arte. 16. ed. Rio de Janeiro: Ed. LTC, 2008.

SUMMERSON, John. A Linguagem Clássica da Arquitetura. 4. ed. São Paulo:


Martins Fontes, 2006.

PEREIRA, José Ramón A. Introdução à História da Arquitetura – das origens


ao século XXI. Porto Alegre: Bookman, 2010.

PEVSNER, Nikolaus. Panorama da Arquitetura Ocidental. 2. ed. São Paulo:


Martins Fontes, 2002.

PROENÇA, Graça. A História da Arte. São Paulo: Ática, 2000.

ZEVI, Bruno. Saber Ver a Arquitetura. 6. ed. São Paulo: Martins Fonte, 2009.
(Coleção Mundo da Arte)

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