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Fotografia de Natureza,

Arquitetura e Interiores
Fundamentos e Função da Fotografia de Arquitetura e Interiores

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Dr.ª Patricia Maria Borges

Revisão Textual:
Prof.ª Esp. Kelciane da Rocha Campos
Fundamentos e Função da Fotografia
de Arquitetura e Interiores

• Fundamentos e Função da Fotografia de Arquitetura e Interiores;


• Elementos Básicos da Arquitetura em Exteriores e Interiores;
• O Desenvolvimento dos Estilos Arquitetônicos
Através do Registro Fotográfico.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Reconhecer os estilos e elementos básicos da arquitetura em exteriores e interiores.
Conhecer as principais funções da fotografia de arquitetura e interiores.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Fundamentos e Função da Fotografia de Arquitetura e Interiores

Fundamentos e Função da Fotografia


de Arquitetura e Interiores
A relação Entre a Arte e o Desenvolvimento
do Design e da Arquitetura
A arquitetura tem a função de fornecer abrigo às pessoas e, portanto, de so-
brevivência, mas também é uma forma que o homem utiliza para comunicar sua
personalidade, podendo aliar a utilidade à beleza das construções.

Um estudo sobre quando o homem começou a construir mostra exatamente


quando ele começou a dar forma aos seus ambientes de vida - um registro em
que a construção foi se moldando aos hábitos e valores próprios daqueles tempos,
informando inclusive que a projeção de suas construções dependia exclusivamente
da matéria-prima disponível e das condições ambientais do seu habitat. Fazendo
assim, descobrimos que em cada período da história humana as construções eram
formadas em parte pela necessidade de prover espaço para a proteção e sobre-
vivência, em parte para acomodar as necessidades fisiológicas e psicológicas dos
grupos familiares.

Arquitetura: é a arte e técnica de projetar uma edificação ou um ambiente de uma constru-


Explor

ção. Essa arte é composta pelo conjunto dos princípios, normas, técnicas e materiais utiliza-
dos pelo arquiteto, para criar um espaço arquitetônico.

Muitas construções erguidas há milhares de anos permitem investigar as funções


culturais e sociais da arquitetura, desta forma podemos compreender a importância
que era dada aos familiares e ao poder dos reis e faraós. Com a religião egípcia
orientando todo e qualquer tipo de atividade artística, entendemos que a arquite-
tura realizou-se, sobretudo, nas tumbas e nas construções mortuárias, destinadas a
abrigar o corpo dos faraós.

Assim como as pirâmides egípcias cumpriam a função de abrigar os corpos dos


faraós, no Japão foram construídos os kofuns, que abrigavam os corpos dos impe-
radores durante o período de 250 a 538 d.C.

No Período Kofun, no Japão, foi construído o maior e mais impresionante kofun, do impera-
Explor

dor Nintoku, com 486 metros de comprimento, 305 metros de largura e 33 de altura, no
qual trabalharam mais de mil homens desde a manhã até a noite por mais de quatro anos.

Na Grécia, as principais edificações eram os templos, construídos para proteger


da chuva ou do sol as esculturas de suas divindades.

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Figura 1 – Túmulo kofun pertencente ao imperador Nintoku
Fonte: Wikimedia Commons

O estilo arquitetônico das culturas antigas dos egípcios, gregos e romanos obe-
deceu aos padrões estabelecidos por Fídias (escultor da Grécia Antiga que viveu
durante os anos de 480 a.C a 430 a.C.), o principal projetista da Acrópole. A ca-
racterística mais evidente do estilo dessas construções antigas baseava-se na sime-
tria e, portanto, no equilíbrio das formas, que, segundo Hurlburt (1986, p. 54), “re-
sultavam em estruturas monolíticas, executadas em pedra e mármore, com portas
centralizadas, que determinavam uma forma baseada num eixo central, com igual
equilíbrio de elementos de ambos os lados”. Esse padrão de arquitetura ocidental
desenvolvido por Fídias teve grande influência nas mais variadas realizações artísti-
cas (escultura, arquitetura, pintura), inclusive orientou a concepção de muitos ma-
nuscritos, que, por sua vez, determinaram o estilo de design gráfico das primeiras
páginas impressas. Observe nesta página impressa abaixo, projetada por um dos
mestres do design tipográfico italiano, Aldo Manúcio (1449-1515), como tanto a
ilustração como a organização do texto na página obedecem a padrões de simetria
quase perfeitos – um exemplo de como as concepções do espaço arquitetônico
pode inspirar a organização e a ordem das formas de arte.

O que a história do desenvolvimento das construções mostra é que, de tempos


em tempos, foram construídas grandes edificações, que além de apenas cumprir a
função de abrigar, podiam ser consideradas um registro da força e da imponência
do poder político e religioso dos homens.

Mas pensar na arquitetura não se deve limitar em pensar apenas sobre as gran-
diosas edificações mais importantes da história, é necessário levar em conta todas

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UNIDADE Fundamentos e Função da Fotografia de Arquitetura e Interiores

as demais construções que giram em torno delas, desde as simples casas, as quais
também compreendem a totalidade da arquitetura das cidades. Para compreen-
der a cidade de Barcelona, por exemplo, teríamos de examinar desde os edifícios
públicos, as igrejas, até os abrigos de ônibus e os bicicletários, que são uma parte
integrante dos sistemas de transportes e uma proposta ecológica para melhorar o
ambiente físico das cidades.

Assim, a arquitetura requer compreender a totalidade de ambientes construídos


pelo homem, incluindo as áreas urbanas, os edifícios e todo e qualquer espaço
criado a partir de inúmeras escolhas e decisões conscientes.

Figura 2 – Página da Hypnerotomachia Poliphili,


projetada e impressa por Aldo Manúcio Figura 3 - Big Donuts Shop, em Los Angeles, 1954
Fonte: Wikimedia Commons Fonte: Wikimedia Commons

A “Grande loja de Donuts” foi construída por Henry J. Goodwin, em 1954, em resposta
à cultura do automóvel e à grande necessidade dos americanos pela padronização da
alimentação fast-food ou alimentação instantânea.

Roth (2017, p. 1) assinala que a arquitetura é a arte inevitável, já que está pre-
sente em nossas vidas o todo tempo; acordados ou não estamos sempre inseridos
ou perto de alguma paisagem elaborada pelo ser humano. De fato, lidamos com a
arquitetura o tempo todo, no entanto mais do que qualquer forma de arte, a arqui-
tetura pode afetar o nosso comportamento e nosso estado psicológico; a cor dos
ambientes pode contribuir para criar sensações de calmaria e de prazer.

Parte de nossas experiências com a arquitetura se baseia nas sensações que as


formas nos proporcionam. No Japão, por exemplo, a idealização dos jardins esteve
associada à ideia de contemplar a natureza e conduzir seus visitantes a um estado de
calma, espiritualidade e meditação. Os jardins japoneses foram edificados com o ob-
jetivo de obter a representação mais fiel possível das formas e paisagens da natureza

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(por isso, podem ser considerados uma representação da natureza em miniatura) e
com o sentido de transmitirem uma sensação de beleza primitiva e simples.

O mais famoso jardim de pedras do templo Ry�an-ji, construído em 1450 por


Hosokawa Katsumoto, pode ser considerado uma representação dos princípios
composicionais da arte japonesa.

Imagem 4 – Jardim zen do templo Ryōan-ji, construído no final do século XV


Fonte: Wikimedia Commons

É composto por quinze rochas de formatos e tamanhos variáveis, que se or-


ganizam em cinco grupos compostos de um grupo de cinco pedras, dois grupos
de três e dois grupos de duas pedras, sendo que dependendo do ângulo de visão,
os visitantes só conseguem visualizar quatorze das quinze pedras. Como qualquer
obra de arte japonesa, o jardim segue as convenções de geometria e equilíbrio dos
padrões ímpares e da composição assimétrica

O livro do chá, de Kakuzo Okakura. Tradução de Leiko Gotoda. São Paulo: Estação Liber-
Explor

dade, 2008. Este livro descreve sobre as características estéticas do jardim japonês e a
atmosfera do ambiente calmo em que acontecia a cerimônia do chá, no Japão da virada
do século XX. A obra trata dos pequenos detalhes da decoração, do tipo de iluminação
e dos materiais de construção dos aposentos onde alguns amigos se reuniam durante
algumas horas para tomar chá.

Importante! Importante!

Enquanto o conceito clássico de beleza dos gregos e romanos era baseado no ideal de
simetria na concepção das formas, no Japão desenvolveu-se uma nova forma de valori-
zação da organização espacial, totalmente diversa da ocidental – na visão dos japone-
ses, a idealização das estruturas formais era deliberadamente baseada no conceito de
design assimétrico.

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Elementos Básicos da Arquitetura


em Exteriores e Interiores
Os elementos básicos da arquitetura foram aqueles descritos por Marcos Vitrúvio
(arquiteto romano que deixou como legado a obra “De Architectura”, aproximada-
mente em 27 a 16 a.C.) e que permanecem inalterados desde a Antiguidade até
os dias de hoje. Para Vitrúvio, a arquitetura devia fornecer três princípios básicos:
a utilidade, a beleza e a firmeza.

Por utilidade, ele estava se referindo ao arranjo dos espaços e ambientes da


casa, de modo que não houvesse dificuldade para utilizar e nem se locomover entre
os cômodos, da mesma forma que o edifício estivesse inteiramente integrado ao
ambiente em que fora construído. Por firmeza, ele se referia à necessidade de se-
lecionar os materiais com propriedade e de as construções serem sólidas. A beleza
estava relacionada à aparência da obra, que devia ser esteticamente agradável, de
bom gosto, e suas partes deveriam atender às devidas proporções, de acordo com
os princípios fundamentais da simetria (ROTH, 2017, p. 9).

Apesar das dificuldades de manter o mesmo sentido para a definição vitruviana


de arquitetura, estes três princípios básicos constituem-se ainda hoje nos elementos
mais importantes da boa arquitetura e a partir dos quais foram formuladas as per-
guntas essenciais para se discutir sobre a arquitetura. Dentre as principais questões,
estão: de acordo com a definição de utilidade, a pergunta seria: o edifício funcio-
na? Com relação à firmeza, os materiais são resistentes de modo a suportarem as
intempéries e o passar dos tempos? Por último e seguindo o conceito de beleza, o
edifício agrada visualmente e oferece uma sensação de satisfação ou contentamen-
to em relação à concepção estética?

A Funcionalidade na Arquitetura
A função na arquitetura tem muitos componentes, sendo que o mais básico deles
é a relação entre a atividade e o uso específico que se faz de determinada edificação
e, neste sentido, os edifícios ou ambientes podem ser considerados funcionais ou
não. Da mesma forma que a função utilitária é importante, também o é a função
circulatória - a maneira como as pessoas interagem e se movimentam entre os
espaços ou cômodos de um ambiente. Ao projetar a Ópera de Paris (fundada em
1669), Charles Garnier (1825-1889) primeiramente precisou analisar qual seria de
fato a função da ópera para os parisienses. Garnier percebera que além de assisti-
rem à ópera, as pessoas também queriam ser vistas e mediante esse propósito, o
arquiteto projetou uma planta concebendo o mesmo grau de importância do palco
para demais áreas de circulação do prédio.

Outra função de um edifício é a simbólica, que sugere a correspondência entre


a utilidade ou função de uso e as características visuais dos edifícios e, neste aspec-
to, a aparência dos prédios deve ser apropriada às funções que essas formas irão

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desempenhar. O capitólio nacional do estado de Minnesota, de Cass Gilbert, abai-
xo, possui duas câmaras, uma de cada lado, e no centro há uma alta cúpula feita
com base no modelo da basílica de São Pedro, em Roma. Observe que apesar de
a obra apresentar formas originárias das antigas igrejas, o prédio evoca claramente
a imagem de um edifício governamental, no qual o legislativo exerce seu trabalho.

Figura 5 – Cass Gilbert, capitólio do estado de Minnesota, Saint Paul, 1895-1905


Fonte: Wikimedia Commons

Existe também a função psicológica, entendida como aquela que desperta maior
satisfação entre todos os tipos de funções comentadas anteriormente. Nesse caso,
a pergunta é o que esperar da configuração de uma sala de emergência de um
hospital ou da sala de espera de um consultório médico, por exemplo. Estando
ciente de se tratar de local onde as pessoas estão ansiosas e angustiadas, o arqui-
teto poderia propor uma atmosfera mais aconchegante e agradável, com janelas e
portas amplas e vistas para a natureza, ao invés de ambientes totalmente fechados
e claustrofóbicos.

A Estrutura ou Firmeza na Arquitetura


Não há quem duvide de que a parte
mais importante de um edifício, que faz
com que ele permaneça em pé, é a es-
trutura. Fazendo uma comparação entre
as grossas colunas do templo de Poseidon
(deus supremo dos mares) e a estrutura de
muitas construções mais modernas, temos
a clara convicção de que muitos arquitetos
e engenheiros procuram desafiar a gravi-
dade, criando cada vez mais estruturas de- Figura 6 – Colunas do templo de Poseidon,
licadas, que aparentam não darem conta Itália, 550 a.C. As colunas de pedra do templo
de sustentarem suas edificações. sugerem impressão de solidez
Fonte: Pixabay

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Figura 7 – Museu de Arte de São Paulo, na Avenida Paulista. Arquiteta: Lina Bo Bardi (1914-1992)
Fonte: Wikimedia Commons

A imagem que o prédio do MASP transmite é a de uma caixa suspensa em duas


traves ou vigas vermelhas, deixando um vão livre abaixo de 74 metros (conhecido
por “vão livre do MASP”), por onde as pessoas podem transitar livremente.

A Beleza ou Deleite na Arquitetura


A beleza em arquitetura pode ser também compreendida pelo termo “deleite”
(agradar, deliciar). Talvez este seja o mais complexo dos três elementos da arquite-
tura, já que envolve o modo como nossa percepção reage diante da imagem que
a arquitetura nos fornece, determinando uma sensação de prazer ou desconforto
diante do ambiente construído. Já que é a percepção das formas que relevam o
tipo de prazer que sentimos diante de uma obra arquitetônica, deve-se compreen-
der que são o olho humano e a mente os responsáveis por interpretar os dados
visuais da arquitetura. Neste aspecto, temos de recorrer aos fundamentos teóricos
estabelecidos pela psicologia da Gestalt (palavra alemã que significa “boa forma”),
que vai sugerir uma resposta ao porquê de determinadas formas agradarem mais
e outras menos, e por esta razão, algumas construções podem apresentar um alto
índice de pregnância da forma (obra arquitetônica bela) ou um baixo índice de preg-
nância da forma (imagem não tão agradável de ver ou compreender).

Os princípios da teoria da gestalt esclarecem que nossa mente está sempre à


procura do máximo de regularidade e de ordem em toda forma percebida, uma vez
que toda forma psicologicamente percebida está estreitamente relacionada às forças
integradoras do processo fisiológico cerebral. E a hipótese para explicar a origem
dessas forças integradoras, segundo João Gomes Filho (2009, p. 19), “é atribuir ao
sistema nervoso central um dinamismo autorregulador que, à procura de sua própria
estabilidade, tende a organizar as formas em todos coerentes e unificados.”

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Nos pressupostos da lei da gestalt, existem algumas categorias conceituais fun-
damentais, que têm por finalidade dar consistência ou embasamento às estratégias
compositivas que contribuem para se alcançar a boa pregnância da forma, ou
mesmo para que se alcance um efetivo nível de qualificação visual. Observe nes-
ta obra de Niemayer como a percepção da harmonia se estabelece pela perfeita
articulação visual das unidades compositivas. O conceito de harmonia é revelado
pelo equilíbrio perfeito obtido através da distribuição equitativa dos pesos visuais,
conferindo à imagem uma qualidade estética de ordem e regularidade.

Figura 8 – Catedral Metropolitana de Nossa Senhora Aparecida, inaugurada em 31 de maio de 1970, em Brasília.
A imagem da catedral traduz exatamente a categoria conceitual de harmonia
pela regularidade na ordenação das formas
Fonte: Wikimedia Commons

Outra categoria conceitual da gestalt, definida por sequencialidade, diz respeito


à ordenação de unidades organizadas de modo contínuo, sequencial e desejavel-
mente lógico, em função dos princípios de harmonia e equilíbrio em qualquer tipo
de manifestação visual. (GOMES FILHO, p. 99)

Figura 9 – O conceito de sequencialidade neste ambiente aparece na continuidade


das formas obtidas pelos degraus da escada e pela sugestão de movimento do corrimão
em configuração sinuosa, realçando a harmonia por uma continuidade ritmada
Fonte: iStock/Getty Images

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A categoria da minimidade (entendida como um sinônimo do movimento mini-


malista) expressa o fator da economia na utilização dos elementos em uma com-
posição. Através dessa técnica de composição visual, os aspectos da simplicidade e
da clareza são realçados em função do mínimo de unidades ou elementos informa-
cionais, quase sempre regidos pelo essencial no interior da composição. (GOMES
FILHO, p. 79)

Figura 10 – Quarto rosa com poltrona verde


Fonte: iStock/Getty Images

Neste quarto estão presentes apenas três unidades principais de objetos: a mesa
com um vaso de flores, a poltrona com estofamento na cor verde e uma parte
mínima de um tapete com franjas. A informação desta composição fotográfica é
transmitida de forma muito simples e com clareza absoluta.

É importante salientar que além dessas três categorias conceituais da gestalt


revisitadas acima, há inúmeras outras que serão vistas nas próximas unidades, mas
que também podem ser estudadas e compreendidas através da obra “Gestalt do
objeto”, de autoria do Prof. João Gomes Filho, a maior referência de estudos da
psicologia da gestalt no Brasil. A seguir, destacamos a nomenclatura de outras
categorias ligadas aos campos da psicologia da percepção, da fotografia, da arqui-
tetura e do design: ordem, coerência, clareza, simplicidade, sutileza, profundidade,
entre outras; mas também quase toda a formulação visual está relacionada ao seu
contrário, como, por exemplo, incoerência, profusão, complexidade, exageração
e superficialidade. Todas estas categorias têm por objetivo atuar como técnicas de
leitura e análise visual e visam conferir embasamento à lei da pregnância da forma.

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O Desenvolvimento dos
Estilos Arquitetônicos Através
do Registro Fotográfico
Se pararmos para pensar, só podemos reconhecer as grandes obras-primas da
arquitetura nacional e internacional através da representação fotográfica. Através
da lente de fotógrafos profissionais, temos acesso à arquitetura de Rhone e Iredale,
que projetaram o Edifício da Westcoast Transmission; às obras do grande mestre da
arquitetura moderna, Le Corbusier, e podemos conhecer os mais belos exemplos
das construções gregas, romanas, bizantinas, do movimento art nouveau, além da
diversidade de construções criativas e importantes da atualidade. Cabe, portanto,
entendermos a importância da representação fotográfica na difusão da arquitetura,
tendo ciência, inclusive, de que o mundo tridimensional da imagem arquitetônica é
passado para uma imagem fotográfica, que é plana e bidimensional. E a fotografia
de arquitetura deve reproduzir estas imagens da vida real da forma mais exuberante
possível, contribuindo para o perfeito entendimento da obra arquitetônica.

Antigamente, o acesso a estas obras somente era possível através das enciclo-
pédias, livros didáticos, cartões postais, portfólios dos fotógrafos, mas atualmente,
a internet se tornou um meio poderoso de divulgação e exibição das imagens foto-
gráficas de arquitetura.

Para saber mais sobre estilos arquitetônicos, você pode consultar as seguintes obras: “Di-
Explor

cionário dos estilos arquitetônicos”, de Wilfried Koch, Editora Martins Fontes (2009); “Como
decifrar arquitetura”: um guia visual completo dos estilos, de Carol Davidson Craoge, Edições
de Janeiro (2015) e “História ilustrada da arquitetura”, de Emily Cole, Publifolha (2012).

A seguir, foram eleitas imagens fotográficas para apresentar alguns dos estilos
arquitetônicos, estando cientes de que se trata de um extenso universo de infor-
mações para se consultar e impossível de reproduzir neste material. Para tanto,
optamos por inserir neste capítulo apenas os seguintes estilos arquitetônicos:
renascentista, moderno (primeira metade do século XX) e contemporâneo (se-
gunda metade do século XX). Por estilo arquitetônico compreende-se um sistema
de classificação dos períodos da história da arquitetura, segundo determinadas
características formais, técnicas e materiais. E levando-se em consideração que
além das obras arquitetônicas serem identificadas como pertencentes a determi-
nados períodos da história, o reconhecimento dos estilos arquitetônicos serve
também para referir-se às características individuais do trabalho desenvolvido por
cada artista ou arquiteto.

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UNIDADE Fundamentos e Função da Fotografia de Arquitetura e Interiores

Arquitetura Renascentista
A principal característica da arquitetura renascentista desenvolvida no início do
século XIV até o século XVI foi, segundo Proença (2007, p. 93), “[...] a busca de
uma ordem e de disciplina que superasse o ideal de infinitude do espaço das ca-
tedrais góticas”. Neste sentido, a principal preocupação dos construtores foi criar
espaços racionalmente ordenados, que pudessem ser compreendidos por todos os
ângulos visuais e que fossem resultantes de relações matemáticas para alcançarem
as devidas proporções entre todas as partes do edifício. Os círculos e quadrados,
por representarem as relações de proporções ideais, se tornaram, portanto, os
módulos básicos da arquitetura renascentista.

O Hospital dos Inocentes, abaixo, pode ser considerado o primeiro edifício a


expressar essa relação de proporcionalidade matemática renascentista. Nesta obra,
o arquiteto Filippo Brunelleschi (1377-1446) utilizou as formas ideais do círculo e
do quadrado para determinar as proporções da arcada ao longo da fachada deste
asilo de órfãos (cf. ROTH, 2017, p. 328). Note que o espaçamento entre as co-
lunas é o mesmo que a dimensão de sua altura, definido pela forma quadrangular.
Também a distância entre as colunas e a parede detrás corresponde à dimensão
de sua altura. O raio dos arcos semicirculares sustentados pelas colunas possui a
metade da altura das colunas – uma verdadeira prova da utilização de métodos de
construção baseado num esquema racionalmente ordenado.

Figura 11 – Visão aérea de Palmanuova – Figura 12 – Hospital dos Inocentes, Florença, Itália. Projetado
cidade italiana planejada e construída por Filippo Brunelleschi, em 1419
mediante o modelo circular ideal Fonte: Wikimedia Commons
Fonte: Wikimedia Commons

Arquitetura do Início do Século XX


A arquitetura do início do século XX, segundo o historiador da arte Henrich
Wölfflin, deveria: “[...] expressar a atitude de uma época em relação à vida”
(WÖLFFLIN apud ROTH, 2017, p. 20). Desta forma, os arquitetos tinham a mis-
são de construir obras que expressassem o caráter de seu tempo. Tempo este que

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florescia no século XX celebrando a chegada do automóvel, do avião, dos meios
de comunicação, mas, sobretudo, seria o século da máquina e da industrialização.

Neste início de século, apareceram novos materiais produzidos pelas indústrias:


o ferro, o cimento, o alumínio e o vidro, permitindo o surgimento das primeiras
construções com estruturas metálicas, como a torre Eiffel (em 1889), que viria repre-
sentar um símbolo da modernidade em relação às novas possibilidades construtivas.

Graças ao desenvolvimento técnico, tornou-se possível entre os anos 1929 e


1932 a criação de edifícios muito altos, conhecidos por arranha-céus. A constru-
ção do Empire State Building (1930-1931) pode ser considerada uma represen-
tante dessa nova concepção e criação racionalista surgida nos Estados Unidos, que
posteriormente se estende pelas grandes metrópoles do século XX.

Esses novos materiais possibilitaram ao arquiteto Victor Horta (1861-1947) de-


senvolver uma nova tendência arquitetônica chamada de art nouveau, com a utili-
zação de motivos ornamentais de metal e vidro que foram aplicados no seu projeto
da Casa Tassel (imagem 13), tanto nos elementos do corrimão da escadaria, como
nas colunas e luminárias.

Art Nouveau: é o estilo ornamental utilizado em arquitetura, decoração, joalheria, ilus-


Explor

tração etc. que se caracteriza pelo uso de linhas longas, ondulantes e assimétricas, muitas
vezes apresentando elementos que lembram formas da natureza. Floresceu aproximada-
mente entre 1890 e 1910 e inspirou-se, em parte, na arte japonesa da gravura.

Figura 13 – Casa Tassel, projetada pelo arquiteto Figura 14 – Casa estúdio de Victor Horta:
Victor Horta, em 1893, na Bélgica outra referência do estilo Art Nouveau. Estilo com
Fonte: Wikimedia Commons
excessos ornamentais e formas orgânicas
Fonte: Wikimedia Commons

A escadaria da casa Tassel apresenta uma integração de linhas e motivos inspirados


em formas vegetais que aparecem tanto nos elementos estruturais quanto decora-
tivos desta arquitetura de interiores.

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UNIDADE Fundamentos e Função da Fotografia de Arquitetura e Interiores

Arquitetura Contemporânea
Diz respeito à arquitetura da segunda metade do século XX até os dias atuais.
A arquitetura que vem se desenvolvendo em variadas direções e que possibilita a
compreensão sobre os aspectos da sociedade contemporânea, portanto trata de
refletir sobre o crescimento da população, traduzindo-o na construção de espaços
públicos e locais de trabalho destinados, por exemplo, a promover a cultura e o
lazer (cf. PROENÇA, 2007, p. 378).

Figura 15 – Museu Guggenheim, projetado pelo arquiteto Frank O. Gehry


e construído entre 1991 e 1997, em Bilbao, na Espanha
Fonte: Wikimedia Commons

O museu é coberto por superfícies de blocos de titânio curvados, mas tam-


bém em linhas retas, lembrando escamas de peixe e evidenciando a influência das
formas orgânicas do trabalho de Frank O. Gehry. É um edifício grandioso, com
cinquenta metros de altura e que aparenta uma grande escultura contemporânea,
podendo ser visto de vários pontos de vistas da cidade. Quando ele é visto do ponto
de vista de quem está sobre o rio, o edifício parece ter a forma de um barco, po-
dendo homenagear os bons anos da atividade portuária de Bilbao.

Figura 16 – Teatro da Ópera de Sydney ou Opera House, inaugurado em 1973, na cidade de Sidney – Austrália
Fonte: Wikimedia Commons

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A casa da Ópera de Sydney foi projetada pelo arquiteto Jörn Utzon e tornou-
-se um dos símbolos da cidade de Sydney pelo fato de a construção se assemelhar
a um barco a vela, fazendo referência à construção da cidade situada à beira-mar.
Na realidade, a construção contempla um conjunto de dois edifícios - o Teatro da
Ópera e a Sala de concertos, que incluem: cinco estúdios de ensaio, cinco teatros,
quatro restaurantes, salas para as apresentações e uma grande quantidade de lo-
jas, constituindo-se em um dos mais importantes pontos turísticos da Austrália (cf.
PROENÇA, 2007, p. 379).

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UNIDADE Fundamentos e Função da Fotografia de Arquitetura e Interiores

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Como decifrar arquitetura: um guia visual completo dos estilos
CRAOGE, Carol Davidson. Como decifrar arquitetura: um guia visual completo dos
estilos. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2015.
Museografia e arquitetura de museus: fotografia e memória
GUIMARAENS, Cêça. Museografia e arquitetura de museus: fotografia e memória.
Rio de Janeiro: Rio Books, 2015.

Vídeos
Bauhaus; the face of the 20th century (Bauhaus; a face do século XX)
Documentário sobre a Bauhaus
https://youtu.be/_kVCKDWQNhw
Olhar Japonês: arquitetura japonesa traz milênios de experiência
https://goo.gl/GUdcr9
Toyo Ito: arquitetura contemporânea internacional
https://youtu.be/lDXbO267EG0
World’s most famous buildings 2
Vídeo com fotos das construções mais famosas do mundo
https://youtu.be/MLeksz99JIM
Top 1000 exterior building designs. Mega collection part 2. All in one architectural images
https://youtu.be/3WyJInx5sgM

Filmes
A vida é um sopro
Documentário brasileiro que aborda os principais projetos do arquiteto Oscar Niemeyer,
2007.
Tudo sobre minha mãe (Todo sobre mi madre)
Filme espanhol dirigido por Pedro Almodóvar, 1999.
The Belly of Architect (A barriga do arquiteto)
Longa-metragem dirigido por Peter Greeneway, EUA, 1987.

Leitura
Jimmy Corrigan, o menino mais esperto do mundo.
Graphic Novel de Chris Ware

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Referências
GOMES FILHO, João. Gestalt do objeto: sistema de leitura visual da forma. 9ª
ed. São Paulo: Escrituras Editora, 2009.

HURIBURT, Allen. Layout: o design da página impressa. Tradução: Edmilson O.


Conceição, Flávio M. Martins. São Paulo: Nobel, 1986.

PROENÇA, Graça. História da arte. São Paulo: Ática, 2007.

ROTH, Leland M. Entender a arquitetura: seus elementos, história e significado.


Tradução de Joana Canêdo. São Paulo: Gustavo Gili, 2017.

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