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Material Teórico

O que é Cultura?

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.a Me. Priscila Bernardo Martins

Revisão Textual:
Prof. Me. Sandra Regina Fonseca Moreira
O que é Cultura?
. Considerações Finais.

DE OBJETIVO DE APRENDIZADO

Apresentar uma abordagem de algumas correntes teórico-metodológicas sobre cultura,


*

das formas, espaços e sentidos do conceito de cultura.


Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas: Conserve seu
material e local de
fre
estudos sempre
organizados.

Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores
trocar ideias!
Determine um so amplia a
horário fixo aprendizagem
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
AN

h
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
hidratado.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu "momento do estudo";

V Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar;


lembre-se de que uma
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

Y No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Y Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
0 que é Cultura?
Em termos conceituais, a palavra cultura é largamente utilizada para especificar
os diversificados costumes e hábitos de um determinado povo, as várias formas de
expressão artística, uma conduta da civilização ou os conhecimentos mobilizados por
um dado grupo.

EN PIU

Figura 1

Fonte: iStock/Gettylmages

Por que as culturas humanas se encontram no cerne das discussões na


contemporaneidade?
Hall (1997) afirma que as ciências humanas e sociais, há muito tempo, reconhe-
cem a cultura como significativa. A compreensão da linguagem, da literatura, das
artes, das ideias filosóficas, dos sistemas de crenças morais e religiosas, de acor-
do com Hall (1997), estão presentes em um conjunto de significados, conhecido
como cultura. As ciências sociais, em destaque a Sociologia, atribuem uma impor-
tância para o estudo de um comportamento que não é provedor da programação
genérica, biológica ou instintiva, sendo este a cultura.
Santos (2006) concebe a cultura como preocupação muito presente nos últimos
tempos, visto que por meio dela é possível conhecer os caminhos que nortearam
os grupos humanos em suas relações atuais e prospectivas futuras.

A História apresenta consideravelmente as transformações sofridas pelas cul-


turas, ocorridas por forças internas, ou em consequência de contatos e conflitos.
Então, ao se abordar o tema cultura, é necessário considerá-lo em sua complexi-
dade, visto que, segundo Santos (2006), são complexas as realidades dos grupos
humanos, além disso, as características semelhantes os unem e as características
dessemelhantes os diferenciam, sendo essas características expressas por meio da
cultura. Ao direcionar o olhar para as religiões podemos exemplificar pontos cultu-
rais semelhantes e dessemelhantes.
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Figura 2
Fonte: iStock/Getty Images

Por exemplo, ao considerarmos as culturas da Índia e da Indonésia, podemos


encontrar pontos culturais semelhantes devido à quantidade expressiva de mulçu-
manos, além disso, os dois países são asiáticos. Em contrapartida, se compararmos
a Índia com os Estados Unidos, encontraremos pontos dessemelhantes, principal
mente associados à religião, em vista de que o número de mulçumanos nos Estados
Unidos é mínimo em relação à Índia.

Notadamente, a cultura está relacionada com a humanidade como um todo,


incluindo os povos, nações, sociedade e grupos humanos. Os diferentes tipos de
culturas que existem, ou existiram, são um dos motivos para a cultura estar no
cerne das discussões atuais. Santos (2006) retrata que é fundamental compreender
a realidade cultural para aquelas que a vivem, para compreender o contexto no
qual a cultura está inserida, na medida em que "[...] cada realidade cultural tem sua
lógica interna, a qual devemos procurar conhecer para que façam sentido as suas
práticas, costumes, concepções e as transformações pelas quais estas passam."
(SANTOS, 2006, p.3).

Figura 3
Fonte: iStock/Getty Images
A cultura faz sentido para os pares que as vivem, pois é o resultado de suas histó-
rias, acoplando suas condições materiais e existenciais. Ainda, o estudo sobre cultura
favorece contribuições contra preconceitos, uma vez que oferece informações que
colaboram para promover o respeito e a dignidade nas relações humanas.

Hall (1997) acredita que os seres humanos são produtores de sentidos, são seres
interpretativos. A compreensão das culturas separadamente torna-se importante
para conhecer crenças e concepções presentes no mundo como um todo, posto
que todas as culturas estão interligadas e todos os povos vivem em interação. Além
disso, como os seres humanos são produtores de sentido, é necessário conhecer
como esses sentidos são criados e como possuem influência no mundo, partindo de
uma microssociedade (um grupo específico) para uma macrossociedade (mundial).

Santos (2006) corrobora com Hall (1997), ao reconhecer que o debate sobre
cultura contribui para pensar além da realidade do mundo como um todo, como
também para pensar sobre a própria realidade, sendo que todas as culturas reme-
tem aos seres humanos, então as culturas estão interligadas, em vista de que seus
principais protagonistas são os seres humanos, ou seja, o conhecimento amplo
sobre as culturas promove um conhecimento sobre uma cultura específica.

À riqueza de formas das culturas e suas relações falam bem de perto a


cada um de nós, já que convidam a que nos vejamos como seres sociais,
nos fazem pensar na natureza dos todos sociais de que fazemos parte,
nos fazem indagar sobre as razões da realidade social de que partilhamos
e das forças que as mantêm e as transformam. Ao trazermos a discussão
para tão perto de nós, a questão da cultura torna-se tanto mais concre-
ta quanto adquire novos contornos. Saber se há uma realidade cultural
comum à nossa sociedade torna-se uma questão importante. Do mes-
mo modo evidencia-se a necessidade de relacionar as manifestações e
dimensões culturais com as diferentes classes e grupos que a constituem.
(SANTOS, 2006, p. 4)

A cultura é relevante para todos os envolvidos, tanto para aqueles que a prati-
cam quanto para os que a observam, uma vez que os seres humanos geralmente
utilizam diversos sistemas de significados para organizar e regular suas condutas
nas relações entre si, e são esses sistemas de significados que permitem interpre-
tar as ações alheias, contribuindo para a constituição de todas as culturas. A partir
disso, Hall (1997) conclui que todas as ações sociais também são culturais, já que
são práticas de significação, uma vez que todas as práticas sociais expressam ou
comunicam significados.

Childe (1986) também evidencia a importância de se estudar a cultura, na me-


dida que ela transforma a natureza positivamente. O ser humano desenvolve essa
transformação por meio do cérebro, dado que se pode raciocinar sobre a natureza
e modificá-la. O ser humano tem essa necessidade pois é frágil perante os outros
animais, assim, essa modificação pode ser exemplificada com a criação do fogo.
"A compensação que o homem tem pelos seus dotes corporais relativamente po-
bres é o cérebro grande e complexo, centro de um extenso e delicado sistema
nervoso, que lhe permite desenvolver sua própria cultura" (CHILDE, 1986, p. 41).
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Essa modificação perante a natureza é o que determinará a cultura. Além disso, a


cultura é transmitida socialmente, de geração para geração. Esse estudo torna-se
importante para compreender a história da humanidade.

Childe (1986), em seus estudos, também atribui como uma justificativa impor-
tante se estudar a cultura de diferentes povos para a superação da visão elitis-
ta da cultura, que carrega preconceitos de classe, raça, sexualidade e geração.
Esse preconceito cultural precisa ser superado na sociedade, e uma das formas
dessa superação é o conhecimento das culturas e seus contextos específicos.

Hall (1997) também direciona sua justificativa para as transformações perante


a natureza, entretanto, tem um olhar mais atual e condizente com a realidade
vivida hoje. Hall (1997) chama atenção para a cultura na relação com a estrutura
e organização da sociedade contemporânea, especialmente aos processos de
desenvolvimento do meio ambiente global e à disposição de seus recursos econô-
micos e materiais.

As empresas transnacionais de comunicações, segundo Hall (1997), enriquecem


suas transmissões, que muitas vezes atingem o mundo inteiro, com um único con-
junto de produções culturais específicas, sendo geralmente utilizadas tecnologias
ocidentais padronizadas, que ignoram as singularidades culturais, muitas vezes con-
siderando apenas a cultura ocidental, o que exclui as particularidades e diferenças
locais e fabrica uma cultura mundial homogênea, ocidentalizada.

A cultura está presente em todos os aspectos apresentados pela mídia, por


exemplo, ao se assistir uma novela, a cultura está presente nas vozes, nas imagens,
nos personagens, na trama etc. A mídia possui o poder de influenciar diretamente
a sociedade, tendo um papel crucial para meio ambiente doméstico, alicerçada
pelo consumo, e essa mídia está presente em todos os lugares, nas casas, nas lojas,
nos outdoors, nos celulares.

Figura 4
Fonte: iStock/Getty Images

Essa característica da mídia apresenta uma visão equivocada do mundo e de


todas as culturas já que as culturas são heterogêneas, tendo cada uma suas carac-
terísticas e especificidades. "Todos sabemos que as consequências desta revolução
cultural global não são nem tão uniformes nem tão fáceis de ser previstas da
forma como sugerem os 'homogeneizadores' mais extremados" (HALL, 1997,
p. 18). Essa padronização cultural demonstra a cultura ocidental de forma muito
desproporcional às outras, enaltecendo a cultura ocidental e desenvolvendo uma
"resistência" a outras culturas. Ademais, as mudanças culturais de ritmos e formas
irregulares, frequentemente, geram resistências positivas ou negativas. Entretan-
to, na maioria das vezes são resistências negativas, pois são contrárias à cultura
global e representam fortes tendências a "fechamento".

À discussão sobre cultura contribui para vencer preconceitos e compreender


melhor como cada sociedade funciona separadamente, bem como para o mun-
do, suas crenças e concepções. Além disso, colabora para compreender como os
seres humanos se desenvolvem, sendo uma forma de conhecer as pessoas com
mais propriedade. Hall (1997) afirma que a cultura deve ser estudada como uma
variável fundamental.

Agora que já foi discutida a importância do estudo sobre as culturas, vamos


definir, de fato, o que os autores consideram por cultura, então, afinal, o que
é cultura?

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HISTORY
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[BEHAVIOR

Figura 5
Fonte: iStock/Getty Images

A palavra cultura vem do latim e seu significado está relacionado a atividades


agrícolas; vem do verbo latim colere, que significa cuidar de, tomar conta de,
ou seja, quando você toma conta de, cuida de, administra o bem de algo, você
inicia o processo de fazer cultura. A palavra colere deu origem a palavras como
agricultura, floricultura, piscicultura, entre outras, todas essas palavras carregam o
sufixo cultura, uma vez que estão relacionadas ao ato de cuidar de algo; no caso
da agricultura, é cuidar do solo para produzir vegetais úteis ao homem e/ou para
a criação de animais; no caso da floricultura, é cuidar das flores; e por fim, a pis-
cicultura é cuidarcriar peixes. Então podemos considerar que colere significa cui-
dar da natureza para que ela produza os melhores frutos, é a intervenção humana
para transformar positivamente a natureza.
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Foram os romanos que direcionaram a palavra para o significado atual, pois am-
pliaram o significado da palavra para se referir ao refinamento pessoal, com ideia de
utilizar a palavra para se referir à cultura da alma. Como sinônimo de refinamento, e
com a ideia de sofisticação pessoal e educação elaborada de uma pessoa, a palavra
cultura foi usada constantemente desde então.

Quando pensamos em cultura, surgem diversos elementos que podemos relacio-


na-los a ela, como, por exemplo: as artes, estilo de vida, crenças, concepções, grau
de estudo, entre outros, e, de fato, esses elementos fazem parte da cultura, porém ela
é muito mais ampla. A cultura de um grupo social é um conjunto de hábitos, modo
de vida, jeitos de ser, tradições, leis, rituais, as festas, as maneiras de falar. Não mais
a ideia de acúmulos (de boas maneiras, conhecimento, sofisticação), a cultura é hoje
entendida como modos de vida. Então, a seguir serão apresentadas algumas defini-
ções de cultura obtidas por pensadores ao longo dos anos.

Kluckhohn (apud GEERTZ, 1989, p. 4) define cultura em onze aspectos,


são eles:
1. "o modo de vida global de um povo", ou seja, o modo de vida do indi-
víduo no mundo como um todo;
2. "o legado social que o indivíduo adquire do seu grupo", a bagagem
de experiências acumuladas por meio da vivência com determinado
grupo específico;
3. "uma forma de pensar, sentir e acreditar"; de acordo com essa perspec-
tiva, a cultura está ligada às concepções e crenças dos indivíduos;
4. "uma abstração do comportamento"; esse aspecto está ligado a uma aná-
lise de comportamento individual das pessoas;

5. "uma teoria, elaborada pelo antropólogo, sobre a forma pela qual


um grupo de pessoas se comporta realmente"; esse aspecto vai dire-
tamente ao encontro do que as pessoas compreendem por cultura, visto
que ela está diretamente ligada ao comportamento de um, ou todos os
determinados grupos de pessoas;
6. "um celeiro de aprendizagem"; a cultura proporciona uma vasta bagagem
de informações sobre as diversas sociedades, contribuindo primordialmente
para aprender sobre os diferentes pontos de vistas;
7. "um conjunto de orientações padronizadas para os problemas recor-
rentes"; esse aspecto tem relação com a compreensão de pensamento dos
indivíduos e como o conhecimento sobre as culturas podem contribuir para
a resolução de problemas recorrentes em outras sociedades. A experiência
auxilia nessa resolução, por isso é importante conhecer a realidade de todas
as culturas;

8. "comportamento aprendido"; esse aspecto refere-se à cultura estar di-


retamente ligada ao comportamento, sendo esse aprendido com base nas
experiências das pessoas;
9. "um mecanismo para a regulamentação normativa do comporta-
mento". É necessário considerar a cultura para compreendê-la em sua
complexidade para poder regulamentar normativamente o comportamen-
to de certo grupo humano;
10. "um conjunto de técnicas para se ajustar tanto ao ambiente externo
como em relação aos outros homens". A cultura pode ser considera
como esse conjunto de técnicas visto que é necessário considerar o con-
texto social e cultural que a pessoa está inserida;
11. "uma precipitação da história", no sentido de que a cultura apresenta,
de certa forma, a história de uma pessoa ou grupo de pessoas. Entretanto,
às vezes essa história pode ser apresentada de uma forma precipitada, não
sendo apresentada como de fato aconteceu.

Os onze aspectos apresentados por Kluckhohn (apud GEERTZ, 1989, p. 4)


revelam que a cultura está relacionada com experiências de vida, crenças, concep-
ções, compreensão de um grupo de pessoas etc. Além disso, nesses aspectos se
pode encontrar muitos que defendem o aprofundamento pelas culturas existentes
no mundo.

Gertz (1926), alicerçado pela definição de Kluckhohn, afirma que o conceito de


cultura é, principalmente semiótico, pois acredita que:

[...] o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mes-


mo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise; por-
tanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como
uma ciência interpretativa, à procura do significado. (GERTZ, 1926, p. 4)

Figura 6
Fonte: iStock/Getty Images

Cada autor tem sua forma de definir cultura, assim Gertz (1926) a define de uma
forma díspar e curiosa. O autor inicia afirmando que a cultura é pública, posterior-
mente recorre a uma história de uma "piscadela burlesca" e a uma "incursão fra-
cassada de carneiros" para demonstrar que as ações e pensamentos também estão
intimamente ligados à cultura.
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Hall (1997) inicia sua definição de cultura ressaltando a importância de diferen-


ciar os aspectos substantivos dos aspectos epistemológicos presentes na cultura.

Os aspectos substantivos estão relacionados com o lugar cultural na estrutura


empírica real, na organização das atividades, instituições e nas convivências con-
tidas na sociedade, ou seja, esses aspectos compreendem a cultura em qualquer
momento histórico.

Os aspectos epistêmicos estão relacionados com o posicionamento da cultura


associada com as questões de conhecimento e conceitualização, nesse aspecto a cul-
tura é utilizada como o intuito de transformar compreensões, explicação e modelos
teóricos presentes no mundo.

Esses aspectos estão presentes nas definições dos outros autores, entretanto,
não estão agrupados com essas nomenclaturas. No primeiro caso, o autor olha
para a cultura em um momento ou numa sociedade específica, o que contribui para
compreender a relevância do estudo das culturas, visto que a cultura nos remete
ao conhecimento de determinado grupo social ou em determinada época; já no
segundo caso, o autor olha para a cultura com o intuito de compreender questões
presentes no mundo, ou seja, numa abordagem mais abrangente, não sendo o
olhar para um determinado grupo de pessoas, e sim para o mundo como um todo.
Para compreender esse aspecto, pode-se pensar que todas as culturas possuem
influência no mundo como um todo, isto é, para compreender de fato os seres
humanos, é necessário considerar todas as culturas e suas cooperações mundiais.

Hall (1997) considera cultura (centralidade cultural) em quatro dimensões: a ascen-


são dos novos domínios, instituições e tecnologias associadas às indústrias culturais
que transformaram as esferas tradicionais da economia, indústria, sociedade e da
cultura em si; a cultura vista como uma força de mudança histórica global; a transfor-
mação cultural do quotidiano; a centralidade da cultura na formação das identidades
pessoais e sociais.

À cultura está associada à dimensão do processo social e diretamente ligada à vida


de uma sociedade, não se restringindo a apenas um conjunto de práticas, concep-
ções e crenças, como por exemplo, a religião. A cultura é mais ampla e depende do
contexto em que a sociedade está inserida, estando conectada a todos os aspectos e
contextos da vida social.

Santos (2006) acredita que cultura é uma construção histórica, isto é, um resul-
tado coletivo da vida humana, e não uma decorrência de leis físicas ou biológicas.
Assim a cultura é o produto da história de cada sociedade. Além disso, as discussões
sobre a cultura estão no centro das lutas sociais por um destino melhor, pois como
já foi demonstrado, o conhecimento das diferentes culturas contribui para uma luta
contra o preconceito, a favor da liberdade e respeito. O estudo sobre as culturas é
uma luta em prol da superação da opressão e da desigualdade.
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Figura 7
Fonte: iStock/Getty Images

Santos (2006) classifica a cultura como uma preocupação em compreender


as escolhas que direcionaram os grupos humanos para suas relações atuais e as
perspectivas perante o futuro. Além disso, o autor nos chama a atenção para a
história, pois ela registra variadas transformações culturais, geralmente ocorri-
das por forças internas, como consequências de conflitos. À vista disso, ao se
discutir sobre cultura é essencial olhar para a humanidade em sua totalidade de
riqueza e multiplicidade de formas existentes, pois são complexas as realidades
e as semelhanças e dessemelhanças que os unem ou os diferenciam, sendo ex-
pressos por meio da cultura. Portanto, a cultura retrata a humanidade particular-
mente, direcionando o olhar para um grupo, povo, nação, sociedade específica;
e globalmente, direcionando o olhar para todos os grupos, nações e sociedades,
ou seja, para o mundo como um todo.

Figura 8
Fonte: iStock/Getty Images

As culturas possuem uma lógica interna. De acordo com Santos (2006), essa
lógica interna deve ser estudada para conhecer o sentido das práticas presentes em
determinada cultura, para então compreender o sentido das práticas, costumes,
concepções, e as transformações vivenciadas naquela cultura. Conhecer a cultura
proporciona que se conheça o contexto em que determinada coisa foi criada ou
pensada, visto que a cultura é construída a partir das experiências vivenciadas.
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O autor também salienta que a família de uma pessoa a influencia diretamente em


sua cultura, pois a cultura também é transmitida de geração para geração.

A cultura também pode ser constituída, de acordo com Santos (2006), por meio
de interações e relações com outras culturas, mesmo que essa cultura tenha caracte-
rísticas bem diferentes. Por exemplo, uma pessoa do Brasil pode aprender a dançar
dança do ventre, mesmo não sendo uma dança brasileira, e essa dança pode ser inse-
rida em sua cultura. A cultura geralmente influencia os gostos das pessoas, bem como
os gostos das pessoas também podem influenciar sua cultura, uma vez que todas as
culturas são interligadas.

Para Santos (2006), cultura é tudo aquilo que caracteriza a população humana.
Então, para se pensar em cultura, pode-se olhar para a educação, para as manifes-
tações artísticas (o teatro, a música, a pintura, a escultura), os meios de comunicação
(rádio, televisão, celular), a festas tradicionais, a linguagem, a comida, a vestimenta,
ou seja, tudo que está relacionado com ser humano na sociedade.

Figura 9
Fonte: iStock/Getty Images

Laraia (2001) afirma que as diferenças genéticas não são determinantes para as
diferenças culturais, não havendo relação entre os caracteres genéticos e os compor-
tamentos culturais, ou seja, uma criança pode ser inserida em qualquer cultura se for
inserida em situações de aprendizagem desde o nascimento, então suas característi-
cas genéticas não a influenciarão nos comportamentos culturais. Assim, a cultura é
todo o comportamento aprendido e transmitido no convívio humano.

Laraia (2001) afirma que não existem culturas mais desenvolvidas que as outras,
pois não existe uma linha de evolução cultural na qual alguns povos podem ser con-
siderados mais evoluídos culturalmente que outros, uma vez que cada povo só pode
ser compreendido nos termos de sua própria cultura. Por essa razão, o estudo sobre
as culturas se torna tão importante, posto que é necessário conhecer o contexto e a
história de determinada cultura.
Considerações Finais
De certa forma, podemos considerar a cultura como o conjunto de crenças, há-
bitos, concepções, culinária, folclore, religião, arte, valores, linguagens. Além desse
conjunto, também podemos considerar como cultura as formas de vestir, de pensar
e de agir. Dessa forma, cultura é tudo aquilo que é passado, adquirido, aprendido,
vivido e compartilhado entre as pessoas.

A humanidade é o reflexo de um longo e extenso processo de acumulação


cultural, e é a manipulação desse processo acumulativo que permite inovações,
invenções, melhorias e avanços tecnológicos.

Figura 10
Fonte: iStock/Getty Images

A cultura é cheia de práticas culturais e costumes que se interseccionam com as-


pectos que, teoricamente, seriam de outras culturas. No mundo atual e globalizado,
os processos de troca e compartilhamento são cada vez mais rápidos. As culturas
estão em conexão por meio de seus grupos de indivíduos que se modificam o tem-
po todo no contato com o diferente sem, contudo, perder sua essência.
À cultura é composta pelo passado, presente e futuro. As tradições do passado,
as práticas do presente e o nosso imaginário, os sonhos para o futuro. Além disso,
como já foi exposto anteriormente, a cultura tem suas interfaces com a tecnologia
e o meio ambiente.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

É Sites

Brasil Escola

https://www.gl/LZeRFE

Ez] Livros

Cultura: Um conceito antropológico

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: Um conceito antropológico 19 ed. Rio de Janeiro:


Jorge Zahar, 2006.
Estudos Avançados 9 (23)

CHAUÍ, Marilena. Cultura política e política cultural. Estudos Avançados 9 (23),


São Paulo, 1995, p.71-84.
0 Conceito de Cultura nas Ciências Sociais

CUCHE, Denys. O Conceito de Cultura nas Ciências Sociais. Tradução de Viviane


Ribeiro. 2 ed. Bauru: EDUSC, 2002.

O vídeos

Escritos de Marilena Chauí 0 que é cultura?


|

https://youtu.be/-YOcFNoiDMw
Referências
CHILDE, G. A evolução cultural do homem. 5.ed. São Paulo: Guanabara
Koogan, 1986.
GEERTZ, C. A interpretação das culturas. 1.ed. Rio de Janeiro: LTC, 1978.
HALL, S. A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso
tempo. Educação & Realidade, Porto Alegre, n. 22, v. 2, jul. dez. 1997.
-

LARAIA, R. B. Cultura: Um conceito antropológico. 14.ed. Rio de Janeiro:


Zahar Ed., 2001.

SANTOS, J. L. O que é cultura. 16.ed. São Paulo: Brasiliense, 2006.

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