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PSICOLOGIA DO JOGO
*
wmfmartinsfontes
SÀO PAULO 2009
Esta obrafoi publicada originalmente em nisso com o titulo
PSICOLOCÍA1CRI por Editorial Pedagógica. Moscou.
Copyright © Editorial Pedagógica, Moscou, 1978.
Copyright © 1998, Editora WMF Martins Fontes Lida
Sito Paulo, para a presente edição.
1? edição 1998
2í edição 2009
Tradução
(a partir da i'ersão espanhola de Venancio Uribes,
publicada por Visor Libros)
ÁLVARO CABRAL
Referências
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Blurton-Jones, N. (org.), Ethological Studies o f Child Behavior.
Cambridge, Cambridge University Press.
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Penguin, 1976.
DELVAL, J. e SOTO, P. “Epistemologia Genetica: Las nociones
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Prólogo da edição espanhola
Por último: é claro que nào se pode afirmar que forças pro
pulsoras originam o jogo sem ter compreendido a sua pré-histó-
ria. Neste caso, se aceitamos o primeiro, também fica claro que
a pré-história é o fcjogo’ até os três anos de idade. Realiza igual
mente uma tendência: mas, à semelhança de ktudo o que nào é
jogo’, unicamente na alternativa mais ou menos; quer dizer, aos
três anos de idade aparece uma nova forma de realização dessas
tendências no jogo propriamente dito, ou seja, no jogo humano
(no jogo que só é possível nas condições da psique = consciên
cia de tipo humano). Mas aí está a questão.
Isso talvez seja o principal do que me ficou na cabeça
depois do seu ‘jogo\ as perguntas que com o tempo ficaram
como uma cadeia dc indagações”.
As idéias de Leóntiev sobre a necessidade de estudar os
nexos internos entre a assimilação das relações sociais e a
situação fictícia e, segundo, sobre a importância de se investi
gar a pré-história do jogo para compreender a sua natureza
influíram muito nos estudos subseqüentes.
Desde então, a partir de 1936, o meu trabalho de pesquisa
esteve vinculado muito estreitamente, no aspecto ideológico,
ao dc Leóntiev e seus colaboradores, e desde 1938, no aspecto
de organização, também à cátcdra dc psicologia do Instituto
Pedagógico Krúpskaia. de Leningrado, dirigido por Leóntiev, e
onde trabalhamos juntos. Nesse período relativamente curto
(1937-1941), Lúkov realizou em Kharkov uma importante pes
quisa experimental, “Sobre a compreensão da fala pela criança
no processo de jogo” (1937); e em Leningrado, Frádkina pes
quisou a “Psicologia do jogo na primeira infancia: raízes gené
ticas do jogo de papéis” (1946). Nos anos imediatamente ante
riores à guerra, as pesquisas na nova direção não passaram daí.
A primeira vez que se fez menção na imprensa sobre todas
essas pesquisas foi no artigo de Leóntiev, “Fundamentos psico
lógicos do jogo pré-escolar” (1944), o qual consiste num breve
esboço de nosso enfoque do problema e numa síntese dos fatos
reunidos desde então.
Nota do autor 7
nào pôde haver nenhum brinquedo que fosse movido dessa ma
neira, como os piões.
Para analisar o processo de surgimento dos “brinquedos
primários” teria de levar-se a cabo uma pesquisa histórica espe
cífica e ficaria então bem claro que eles nada têm de “primá
rios”, mas, pelo contrário, apareceram em determinados graus
de desenvolvimento da sociedade, e que seu surgimento foi
precedido da invenção dos respectivos utensílios de trabalho.
A história da origem de alguns brinquedos seria apresentada
em tal pesquisa como reflexo da história das ferramentas de tra
balho dos homens e dos utensílios sagrados.
Todos os brinquedos que Arkin qualifica de “primários”
são realmente produto do devir da história. Nào obstante, em
bora tenham aparecido em determinada etapa histórica do de
senvolvimento da sociedade, nào desapareceram com a extin
ção dos utensílios de que sào cópia. O arco e a flecha caíram há
muito em desuso como armas de caça e foram substituídos
pelas armas de fogo, mas perduram no mundo dos brinquedos
infantis. Os brinquedos têm vida mais longa do que os utensí
lios de trabalho de que sào imagem, c isso produz a impressão
de que nào mudam. Dir-se-ia que foram realmente detidos em
seu desenvolvimento, conservando seu aspecto originário. Mas,
só se vistos de fora carecem de história, submetidos apenas a
um exame fenomenológico como objetos tísicos.
No entanto, se examinarmos o brinquedo em suas funções,
pode-se afirmar, sem receio de cometer equívocos, que os cha
mados primários mudaram radicalmente de função no trans
curso da história, sendo outra a sua relação com o processo de
desenvolvimento da criança.
E muito difícil pesquisar a mudança histórica dos brinque
dos: em primeiro lugar, o brinquedo arqueológico nada nos diz
quanto ao uso que a criança fazia dele; em segundo, alguns
brinquedos de hoje, inclusive entre os povos que se encontram
em níveis mais baixos de evolução social, perderam sua rela
Acerca da origem histórica do jogo protagonizado 45
■
88 Psicologia dojogo
gico mas, pelo contrário, que sentido biológico tem essa condu
ta tão “pouco séria”. A resposta a essa pergunta prova alguma
coisa? Creio que nào. Neste caso, a crítica põe a perder a
demonstração’ por analogia. Passemos, entretanto, a analisar a
essência das teses fundamentais de Groos.
Pode-se considerar acertada a premissa fundamental de
partida. Com efeito, em certa fase do desenvolvimento filoge-
nético dos animais, a experimentação genérica, fixada rigida
mente em formas hereditárias de diferentes tipos de comporta
mento, resulta insuficiente para a adaptação às condições com
plicadas da existência e, o principal, em permanente mudança.
Faz-se necessária a experimentação individual que se vai for
mando ao longo da vida do indivíduo. Groos também tem razão
quando afirma que essa experimentação individual e essas novas
adaptações não podem surgir diretamente das reações inatas.
Do ponto de vista de Groos, o jogo é precisamente a atividade
em que ocorre a formação da superestrutura necessária sobre a
base das reações congênitas, em que “se formam os hábitos
adquiridos e, antes de tudo, as novas reações habituais”.
Contudo, há nessas teses de Groos pelo menos dois aspec
tos discutíveis. Em primeiro lugar, embora considere que a
experimentação individual provém da genérica, fixada por
herança, ele contrapõe essas duas formas de adaptação. A opo
sição nào reflete a sua relação real. “A formação do experimen
to individual”, diz com razão Leóntiev, “apóia-se na adaptação
da conduta genérica aos elementos mutáveis do meio ambien
te" (1965, p. 296). Portanto, nào se ergue nenhuma superestru
tura sobre a conduta genérica, mas, simplesmente, a própria con
duta genérica muda, tomando-se mais flexível.
Em segundo lugar, é difícil imaginar que no jogo dos ani
mais, atividade nào relacionada com a luta pela existência e,
por conseguinte, desenvolvida cm condições especiais em
nada parecidas com as condições em que há de transcorrer, por
exemplo, a caça autêntica do animal, haja adaptações reais. No
jogo falta o principal, o respaldo genuíno sem o qual, como já
Teoria dojogo 89
sada. Por conseguinte, essa tendência não pode ser a base dos
jogos na primeira infancia. Claro que algo se desenvolve e
aperfeiçoa tanto no processo dos jogos funcionais quanto no
dos imitativos. Mas a criança não joga em conseqüência da
tendência imanente para o auto-aperfeiçoamento; ela aperfei
çoa-se porque joga.
As opiniões voluntaristas expostas por Châteaux, apesar
de serem um bom antídoto contra a excessiva intelectual ização
do jogo, própria de psicólogos como Dewey, também são uni
laterais e não explicam nem a origem nem a natureza do jogo,
concretamente, do protagonizado.
Nos trabalhos de Châteaux há muitas observações e idéias
valiosas. Achamos importante a idéia de que os jogos imitati
vos ajudam a elucidar as diferenças que se observam entre a
posição da criança e a dos adultos na vida real.
Em nosso ensaio crítico procuramos ver como se desenro
laram as teorias do jogo desde fins do século XIX até hoje.
Cada um dos pesquisadores de cujas opiniões falamos -
Groos, Buytendijk, Freud, Bühler, Koffka, Lewin, Piagct e
Châteaux - deu sua contribuição para a solução do problema
da psicologia do jogo. Procuramos esclarecer essa contribui
ção ao longo da exposição dos critérios de cada um desses pes
quisadores. Também estudamos, ao mesmo tempo, os impas
ses criados por várias hipóteses. O seu esclarecimento tem suma
importância para a ciência, às vezes tanta quanto as contribui
ções positivas, dado que descarta os caminhos equivocados.
Cumpre assinalar, sobretudo, que o enfoque geral do es
clarecimento da natureza do jogo a que se recorreu para anali
sar o dos animais fazia-se extensivo quase de maneira mecani-
cista ao esclarecimento do jogo infantil, e foi um fracasso.
A história do estudo dos problemas da psicologia do jogo
evidencia também que as teorias da profundidade, ou seja, as que
partem da noção de que o jogo infantil é uma manifestação dos
instintos ou de profundos impulsos herdados, não podem ofe
Teoria do jogo 187
um papel qualquer. Sem isso não se pode jogar. Assim que apa
rece o papel, aparece o jogo. Não é obrigatório ser adulto no
jogo, porquanto se pode assumir o papel de outra criança
(conhecem-se jogos em que as crianças assumem os papéis de
animais). Não é forçoso que no jogo se crie uma situação lúdi
ca especial com transferencia do significado de uns objetos
para outros. O jogo é possível, mantendo-se a realidade total
dos objetos, ações e situação geral (por exemplo, ao assumir os
papéis de companheiros, as crianças podem dispor-se a dar um
passeio de verdade, colocar um casaco, levar um brinquedo etc.;
podem brincar dc jardim-de-infancia, desenhar, resolver pro
blemas, ler etc.), mas ainda fazendo tudo isso assumem forço
samente um papel.
Em segundo lugar, os dados da primeira série dão margem
para julgar que o fundamental do jogo consiste cm reconstituir
as relações sociais existentes entre as pessoas. Por isso mesmo,
nos jogos de “companheiros” escolhem-se de preferência os
papéis dos mais travessos. Nas crianças desse tipo as relações
expressam-se com maior destaque.
Em terceiro lugar, esses dados evidenciam que o sentido
do jogo muda para as crianças dos diferentes grupos dc idade.
Para as mais novas, o sentido está nas ações da pessoa cujo
papel interpretam; para as de idade mediana, nas relações
dessa pessoa com os outros; e para as mais velhas, nas relações
típicas da pessoa cujo papel representam.
Assim, a essência interna do jogo consiste em reconstituir
precisamente as relações entre as pessoas. E claro que as crian
ças nào se apercebem disso e, ao efetuarem o jogo das relações,
nào as notam. As relações estão encobertas pelas ações, pelos
traços típicos do comportamento de outra criança ctc.
Em quarto lugar, os dados da primeira série permitem su
por que cada papel oculta determinadas regras de ação ou de
conduta social. Formulam-se como ações derivadas do papel.
Se nào há protagonização (entre as crianças mais velhas), essas
0 desenvolvimento dojogo na idade pré-escolar 285
lidade. fc‘0 mundo do jogo” tem suas leis rígidas, que são refle
xo ou cópia das relações reais existentes entre as pessoas e os
objetos, ou entre os objetos. O jogo não é um mundo de fanta
sia e convencionalismo, mas um mundo de realidade, um mun
do sem convencionalismos, só que reconstituído por meios sin
gulares. Pode-se supor que os níveis antes mencionados indi
cam as fases de desenvolvimento da consciência da criança,
tal como se apresenta no jogo, cujo desenvolvimento vai
desde a identificação da pessoa com outra até a sua separação
da outra.
Analisamos as atitudes da criança diante do papel assumi
do por ela no jogo. Durante a análise dos dados esclareceu-se
que, no âmbito do papel que a criança assume, há, em realida
de, uma certa regra de conduta que reflete a lógica da ação real
e das relações reais. Precisamente pela existência dessas regras
é que se pode explicar a resistência da criança tanto a alterar a
lógica quanto o sentido das ações. Ao mesmo tempo, afirma
mos em reiteradas ocasiões que, nas fases iniciais do desenvol
vimento do jogo protagonizado, um objeto tem para a criança
um atrativo especial e determina freqüentemente a adoção des
te ou daquele papel. Baseando-se precisamente nisso, muitos
autores conjecturaram que o jogo das crianças pequenas carece
de argumento e consta apenas de processo.
Em que relação está o papel assumido pela criança com o
desejo de manipular um determinado objeto atrativo? Será pos
sível, de um modo geral, uma representação do papel que se
apóie na renúncia a manejar um objeto atrativo para a criança,
mas que no momento dado é objeto das manipulações de outra
criança ou de suas próprias manipulações? Em que medida a
criança é estável diante das regras implícitas no papel e no jo
go? A existência de regras ocultas de comportamento no jogo
está fora de qualquer dúvida e fornecemos provas suficientes.
Dedicamos uma série especial de experimentos a esclare
cer o problema da estabilidade no acatamento das regras e no
320 Psicologia dojogo
QUADRO 1
Distribuição dos grupos dejogos por idades
Idade em anos
Grupo dejogos 3-4 5-6 7
abs. % abs. % abs. %
Primeiro 3 20 1 2 — —
Segundo 8 53 5 11 2 3
Terceiro 3 20 18 39 22 29
Quarto 1 7 22 48 42 55
Quinto - - - - 10 13
Total 15 100 46 100 76 100
O segundo grupo ocupa o principal lugar entre as crianças
menores e cede a primazia a outros tipos de jogos nos grupos
de idade pré-escolar média e mais velhos.
O terceiro grupo está igualmente representado aproxima
damente em todos os grupos de idade, sem ocupar em nenhum
deles uma posição predominante.
358 Psicologia do jogo
QUADRO2
Acatamento da regra nosjogos com e sem argumento
(número de crianças em %)
“Esconde-esconde " “Gato e rato ”
Idade em anos Não acatam Acatam a Não acatam Acatam a
a regra regra a regra regra
3 100 56- 44
4 50 50 - 100
5 - 100 - 100
A introdução do argumento influi no acatamento da regra
em 44% das crianças de 3 anos, ao passo que a maioria das
crianças, tanto no jogo dc “esconde-esconde” quanto no de
“gato e rato”, não se subordina à regra. 100% das crianças de 4
anos respeita a regra ao introduzir-se o argumento no jogo dc
“gato e rato”. Entre as de 5 anos, há subordinação completa à
regra em todos os experimentos realizados do jogo de “escon
de-esconde”.
Para esclarecer por que a introdução de argumento não
motivou mudanças de conduta em nenhum caso entre algumas
crianças mais novas e o que foi que exerceu essa influência
positiva do argumento para outras, apresentaremos vários exem
plos dos mais típicos.
O sentido fundamental do jogo de “esconde-esconde” para
as crianças mais novas está no esconder-se, sem importar-lhes
grande coisa que as encontrem ou nào.
Assim, por exemplo, Tamara esconde-se atrás do sofá e
permanece agachada. Entra Nina, começa a busca e diz em voz
alta: - Onde você está, Tamara? - Tamara põe-se imediatamen
te de pé e, sorrindo, responde: - Aqui. - Volta a se esconder
debaixo da mesa. Nina busca-a. Tamara mostra-se e sorri.
Maia está atrás do sofá. Entra Nina e diz: - Já vi você. -
Maia continua agachada em seu esconderijo. Nina: - Agora volte
a se esconder, já descobri você. - Sai. Maia esconde-se. Nina
370 Psicologia dojogo
Exper.: - Ai, que difícil que é! Não vou ser capaz de adivi
nhar. (Medita.)
Nina (sussurra bem devagar): - Uma florzinha, uma flor-
zinha.
Exper.: - Arranco uma folhinha da árvore?
Nina: - Não. (Sussurra mais alto.) Florzinha.
Exper.: - Colho uma florzinha para ti?
Nina: Sim, sim, essa margarida.
Além das peculiaridades que já assinalamos, é necessário
dizer que, nesta fase, o acatamento da regra apresenta-se pela
primeira vez ligado ao companheiro de jogo ou ao professor.
Isso se vê pelo fato de que se o professor vai embora, as crian
ças fornecem com mais facilidades pistas ao adivinhante e de
sobedecem à regra. A presença do professor ou de outra crian
ça, companheira de jogo, parece obrigar as crianças a vence
rem o impulso dc ajudar ao que adivinha. Na fase anterior, nem
o professor nem o companheiro de jogo influem na criança.
Portanto, temos pleno fundamento para afirmar que justamen
te nesta fase do desenvolvimento a regra se apresenta pela pri
meira vez como ente de conteúdo social.
Na terceira e última fase, o sentido do jogo está, para as
crianças, em nâo contar o pensado. No conflito entre o impulso
e a regra vence claramente esta última, com a particularidade
de que o conflito não se vê tanto como na fase anterior. A con
dição é observada inclusive quando o professor ou o compa
nheiro de jogo está ausente. A regra figura como compromisso
adquirido, e seu acatamento não depende da presença de con
trole externo por parte de um adulto ou de uma criança asso
ciada. A regra, antes exterior, converte-se em norma interior de
conduta.
Fornecemos um exemplo de conduta das crianças nesta fase.
Ata n? 15. Valentina (6; 6) e Ida (7; 0) combinam com o
professor que o experimentador arranque uma folha e a cheire.
3 78 Psicologia dojogo
amanhã serão o seu nível médio real, a sua moral: Cf. Piaget,
não no julgamento moral, mas na moral em ação. A idéia que
chega com força irresistível é um conceito convertido em pai
xão: o protótipo desse ideal spinoziano está no jogo, que é o
reino da arbitrariedade e da liberdade. Transferir o problema
do jogo para o jogo em profundidade (o que há por baixo e por
detrás dele) e em altura (os avanços supremos que amanhã
serão o nível médio são o desenvolvimento por cima).
Nesse sentido, o jogo é uma formação nova da idade pré-
escolar que contém condensadas e reunidas, como num foco, as
tendências mais profundas do desenvolvimento (submarinas e
subterrâneas) e as eleva, ou seja, procura dar um salto vital para
o mundo desenvolvido das formas supremas da atividade espe
cificamente humana contidas no meio como fonte evolutiva.
16. A situação substitutiva no jogo (idéia acertada de
Elkonin) é o protótipo de todo o processo cognoscitivo (álge
bra). Essa idéia derruba a teoria da prioridade do pensamento
autístico. Mas corre o perigo de intelectualismo.
17. Plano duplo de corrente eficiente no jogo: emancipa
ção do conhecido e do irresistível: a criança chora como
paciente no jogo (é difícil mostrar como se chora) e está con
tente como participante. Tipos supremos de vontade como
jogo (substituições do arrebatamento e da motivação): é fácil
ser herói no jogo, é a forma de heroísmo infantil exeqüível, à
criança “basta conhecê-lo”. O nosso heroísmo contém algo do
jogo. Não a satisfação produzida pelos caramelos, mas a espe
cífica dojogo.
18. A criança aprende no jogo a possibilidade de ser capi
tão, guarda de trânsito etc.
19. As novas categorias de atitude em face da realidade
aparecem no jogo (Elkonin ). Isso é verdade.
20. O sincretismo não procede do jogo (contra Elkonin).
Há distintos níveis de desenvolvimento (estrutura complexa do
desenvolvimento) e correntes desse processo em diferentes
profundidades. As correntes determinantes nào são as profun
426 Psicologia do jogo
por sorteio é mais difícil (por ser cega) do que por escolha cons
ciente, ou seja, escolher por sorte nào é o superior na vontade.
Daí. na psicologia ingênua amadurece a compreensão de
sua operação, ou seja, o sentido da recordação, e passa para os
processos psicológicos supremos, ou seja, o signo depois da
palavra na ontogenia como signo para si mesmo, e na filogenia
um nódulo para a palavra (?).
Pela primeira vez a açào adquire sentido no jogo: ou seja,
toma-se consciência dela. A açào substitui outra ação, assim
como a coisa outra coisa. Como transforma a criança uma coi
sa em outra ou uma ação em outra? Mediante o movimento no
campo semasiológico não ligado ao campo visível, com as coi
sas reais que submetem todas as coisas e ações reais. Esse mo
vimento no campo semasiológico é o mais importante do jogo:
por um lado, é movimento no campo abstrato (o campo dos
significados surge antes das operações arbitrárias com as sig
nificações), mas o modo de mover-se é situacionista, concreto
(ou seja, não lógico, mas eficiente). O aparecimento do campo
semântico, mas com movimento como se fosse real, é a princi
pal contradição genética do jogo.
Nota do autor
1. A ata taquigráfica dessa conferência de L. S. Vigotski foi publi
cada na revista VoprosiPsijologuii ( 1966, n? 6).
2. Vigotski deixou-me suas anotações para essa conferência. A
parte correspondente ao jogo é publicada em anexo no presente livro.
3. Alude à ata taquigráfica da minha conferência, lida a estudantes.
4. Trata-se do problema da unidade do intelecto e da vontade, que
interessava a Vigotski.
5. Esse grupo era integrado por Asnin, Bozhóvitch, Galperin. Zapo
rozhets, Zíntchenko, Lúkov e outros.
Capitulo l
1. Essa relação c uma reprodução xerográfica, sem indicação de
ano. publicada pela UNESCO. Foi-me facilitada por Usova e utilizei-a
no meu trabalho.
2. Ver Marx, O capital, vol. I, cap. I.
3. Engels, F.: Obras (em russo), vol. 12, p. 731.
4. A primeira anotação abreviada deste jogo foi publicada por
Leóntiev, A. N. (1944). O jogo descrito foi tomado das observações de
Frádkina, F. I. e trata-se de um jogo corrente com alguns elementos
experimentais.
5. Essa pesquisa esteve sob a direção pessoal direta de Bogus-
lávskaia.
446 Psicologia dojogo
Capitulo 2
1. Marx. K... O capital, vol. I, cap. I. sec. “O fetichismo da merca
doria”.
2. Brincar com bonecas, disseminado em nossa sociedade princi
palmente entre as meninas, sempre foi apresentado como exemplo do
instinto de maternidade. Os fatos mencionados refutam esse ponto de
vista e evidenciam que essa brincadeira clássica das meninas nào é, em
absoluto, manifestação do instinto maternal, mas reproduz as relações
sociais existentes na sociedade em questão, concretamente a divisão so
cial de trabalho nos cuidados com as crianças.
3. A arma de fogo penetrou na sociedade que se encontrava no nivel
do regime de comunismo primitivo ora durante a colonização, ora durante
o processo dc intercâmbio com os europeus.
4. O problema da periodização por idades foi por nós examinado
num trabalho à parte (ver Voprosi Psijologuii, 1971, n? 4).
Capitulo 3
1. Nào é missão nossa efetuar aqui uma crítica geral do hedonismo.
2. Ver, mais adiante, a teoria do jogo de Freud (subcapitulo 2.
“Teorias e problemas da pesquisa do jogo infantil**).
3. Trata-se dos experimentos realizados por W. Kõhler com chim
panzés, um dos pontos de partida da concepção gestaltista de insight ou
do que K. Biihler chamaria a “experiência do ah!”.
4. No livro de Hinde, R., (1975) apresenta-se uma enumeração inte
ressante das características típicas das ações lúdicas.
5. Ver Vigotski, L. S., Investigaciones psicológicas escogidas,
Moscou, 1956, Ed. da Academia de Ciências Pedagógicas, pp. 56-109.
6. Ver, de Freud, S., O ego e o id . Leningrado, 1924.
7. Para expor os trabalhos de ludoterapia orientada utilizei uma edi
ção mimeografada, de uma lista bastante ampla de trabalhos sobre o jogo
de Gallusser, U. M A First Survey of Research on the Play o f Children
below the Age o f Nine Years, Londres.
8. Posteriormente, quando Piaget tomou conhecimento das obser
vações críticas dc Vigotski. aceitou a repreensão por ter utilizado sem
critério crítico as teses de Freud sobre a existência do “princípio dc pra
zer” e do “princípio de realidade”.
9. A única exceção é a possível satisfação alucinatória das necessi
dades. satisfação que surge em virtude de meios rtarcotizantes especiais.
Notas 447
Capitulo 4
1. A pesquisa de Frádkina foi orientada por Leóntiev.
Capitulo 5
1. A pesquisa foi realizada sob os auspícios de Rádina e Pántina.
2. A pesquisa foi dirigida por Morozova.
3. Essa escola-clínica especial foi organizada na URSS pelo cate
drático Sokolianski. Ela existe até o dia de hoje.
4. Os dados destes experimentos foram reunidos por Gucrtchcnon e
analisados por nós.
5. Valentin é um menino de três anos de outro grupo do jardim-de-
infãncia.
6. Aqui e a seguir indicam-se os números das atas registradas no
experimento.
7. Este trabalho foi realizado por Frádkina.
Impressão c acabamcnto:
Orjjlrafír
■ ' U t f c i r M ia ra
tcl.: 25226368
Os bebês e suas mães
DONALD W. WINNICOTT
O campo grupai
ANA MARÍA FERNÁNDEZ
Falar de amor à beira do abismo
BORIS CYRULN1K
A mente e a memória
ALEKSANDER R. LURIA
No princípio era a educação
ALICE MILLER
Psicometria genética
SARA PAÍN
Desenho da criança
MAUREEN COX
Epistemologia genética
JEAN PIAGET
Psicanálise do adolescente
PATRICK DELAROCHE
Os alimentos afetivos
BORIS CYRULNIK
A construção do pensamento e da linguagem
L. S. VIGOTSKI
Grupos de encontro
CARL R. ROGERS
O processo grupai
ENRIQUE PICHON-RIVIÈRE
O processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas
MARÍA LUISA SIQUIER DE OCAMPO
MARÍA ESTHER GARCÍA ARZENO
ELZA GRASSANO DE PICCOLO E COLABORADORES
O jogo protagonizado
Há, sem dúvida, muitos fenômenos distintos a que nos
referimos com o termo "jogo", desde as manipulações de
um objeto qualquer por um bebê até os jogos "adultos"
como o xadrez ou o futebol. Entre uns e outros
encontramos, na literatura psicológica, muitas categorias
e subdivisões. Fala-se de jogo imaginativo, imaginativo
individual ou social, jogo "turbulento e desordenado"
(rough-and-tumble), jogo simbólico, jogo criativo, jogo de
representação de papéis etc. Alguns desses termos
assinalam diferenças teóricas entre os autores que os
utilizam. Por exemplo, a denominação "jogo simbólico"
em Piaget englobaria todos os anteriores, quer a criança
os realize sozinha, quer na companhia de outras
crianças, porquanto se postula que a estrutura
psicológica que permite todos eles é substancialmente a
mesma. Em outros casos, é possível que a preferência por
um ou outro termo dependa mais da língua em que se
expressa originalmente o autor e da escolha de termos a
critério de seus tradutores. A obra de Elkonin trata do
jogo "protagonizado", que poderia equivaler, segundo
cremos, ao jogo sociodramático de Smilanski (1968)
ou Feitelson (1978), ao jogo social de Eifferman (1971),
ao jogo de fícçào de Garvey (1977) ou ao jogo simbólico
mais desenvolvido de Piaget (1946).
ISBN 978-85-7827-204-3
9h7 8 8 5 7 8 ' 2 7 2 0 4 3
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