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Educação a distância
A Produção Cultural do Sujeito Contemporâneo

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Esp. Anderson Barros

Revisão Textual:
Me. Sandra Regina Fonseca Moreira
UNEA

Introdução;
4
e Identidade e Subjetividade na Contemporaneidade;

A Sociedade de Mudança Constante, Rápida e Permanente;

* O Sujeito Contemporâneo;

Desafios Existenciais e Concretos

« Realizar uma análise da cultura na sociedade contemporânea, partindo da identif-

cação da construção da identidade do sujeito e da sua produção social;

Compreender os meandros e as consequências dessa produção na própria identi-


*

dade psicossociocultural.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas: Conserve seu
material e local de
fre
estudos sempre
organizados.

Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
AN
O
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: edese manter
hidratado.
y Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu "momento do estudo";

V Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar;


lembre-se de que uma
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

Y No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Y Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
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Contextualização
Para iniciarmos nosso diálogo, sugiro que você assista ao vídeo a seguir e re-
flita sobre como ocorreu, e ocorre, a construção da identidade cultural humana.
Procure pensar também sobre as consequências sociais e na individualidade do
homem, considerando a crescente produção humana.

0 vídeo indicado é"Homem Man (Steve Cutts)". Acesse em: https://youtu.be/5XgfNmML. VA.
-

Agora que você já assistiu ao vídeo, reflita: Que impactos são gerados a partir
da transformação e do consumo? A identidade sociocultural do sujeito permanece
a mesma, a despeito desses impactos?

Os questionamentos sugeridos são apenas alguns dos muitos que, certamente,


surgirão em sua mente. Você, inclusive, poderá pensar "por que nunca me ocor-
reu isso?"; "parece tão óbvio, então, qual é o porquê de as coisas serem como
são?" Essas indagações são comuns e esperadas na nossa construção do conhe-
cimento e, na medida em que progredimos, que avançamos em nosso processo
de investigação, elas se intensificarão, algumas vezes com respostas, outras não.
O importante, aqui, é colocar o método investigativo em ação, assim como o fez
Sócrates. Hoje, graças a ele, temos o que chamamos de método socrático, no qual
a indicação tem um objetivo sistemático, que propicia a construção do sujeito nós -

-
em sua inteireza, compreendido como um eterno projeto de vir-a-ser, como bem
nos disse Sartre.

Sartre e o Existencialismo: 0 filósofo, escritor e crítico francês, Jean-Paul Charles Aymard


Sartre, é conhecido como representante do Existencialismo, o qual é compreendido como
um conjunto de teorias formuladas no século XX, caracterizadas pela inclusão da realidade
concreta do indivíduo (sua mundanidade, angústia, crises, morte etc.) no centro da especu-

lação filosófica, opondo-se, portanto, às doutrinas Racionalistas.


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Introdução
A essa altura, você, certamente, já se deu conta da intensa discussão acer-
ca da identidade psicossociocultural do sujeito. Mas, como está essa identidade?
Quando refletimos sobre isso, nos deparamos, inevitavelmente, com a chamada
"crise de identidade" pela qual passa o sujeito moderno, que, embora se insista
em vê-lo como unificado, está fragmentado ou, com identidades sociais novas e
díspares, por conta do declínio das velhas identidades que, por tanto tempo, sus-
tentaram e estabilizaram o mundo social.

Quando falamos em crise de identidade, queremos dizer que "os quadros de refe-
rência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social" (HALL,
2000, p. 7) foram abalados devido ao processo de amplas mudanças das estruturas e
processos centrais das sociedades modernas. Não se tem mais uma referência única
e central. Há, no entanto, diversas referências, coexistindo, muitas vezes de forma
antagônica, e esse antagonismo, por sua vez, gera uma crise, expressa ou não por
uma angústia, reconhecida concreta ou simbolicamente pelo sujeito.

Ainda nos tempos atuais, é normal ouvir dizer que esse ou aquele grupo social
possui ou não uma cultura forte. Difícil, no entanto, é identificar as muitas culturas
coexistentes no cotidiano desse grupo social. Se essa fosse uma tarefa fácil, não
teríamos tantos estudos produzidos e um afunilamento na produção científica de
áreas como a sociologia e a psicologia, que, enquanto ciências, sempre tiveram
muito bem demarcados os campos de atuação e de estudos. No entanto, essa crise
de identidade tratou de aproximar essas disciplinas.

Segundo Hall (1997), a linha divisória entre as disciplinas da sociologia e da psi-


cologia, mesmo considerando que sempre se admitiu que todo modelo sociológico
transporta dentro de si certas pressuposições psicológicas acerca da natureza do
sujeito individual e da própria formação social do "eu", e vice-versa.
Até os mais céticos têm se obrigado a reconhecer que os significados
são subjetivamente válidos e, ao mesmo tempo, estão objetivamente pre-
sentes no mundo contemporâneo em nossas ações, instituições, rituais
-

e práticas. A ênfase na linguagem e no significado tem tido o efeito de


tornar indistinta, se não de dissolver, a fronteira entre as duas esferas, do
social e do psíquico. (HALL, 1997, p. 24)

Como vimos, se na atualidade, ciências supostamente distintas têm dificuldades


em delimitar ou diferenciar os estudos produzidos acerca do seu objeto, no que se
refere à construção da identicidade humana, deve-se considerar a volatilidade dessa
identidade e do processo do seu processo de construção, que também não é mais
ímpar e passou a ser cada vez mais ambíguo.
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Identidade e Subjetividade
na Contemporaneidade
Desde os estudos de Freud, com a construção da ciência psicológica, que cha-
mou de psicanálise, sabemos que a construção da identidade do sujeito possui fases
ou estágios, antes, muito bem delimitados, que são determinados pela cultura, isto
é, pelo ambiente social e cultural ao qual pertence o sujeito, que não cabe mais
chamar de indivíduo, essa unidade indivisível. Os estudos em psicologia trataram de
nos causar esse trauma existencial, não somos mais únicos e indivisíveis, se é que
um dia fomos, principalmente se considerarmos a cultura de massa proposta pela
globalização, cada vez mais acentuada.
Esse ser humano individual, concreto, conhecido por meio da experiência, que
possui uma unidade de caracteres e forma um todo reconhecível, considerado de
modo isolado em sua comunidade, passou e passa por intensas transformações psi-
cossocioculturais. Na atualidade, a individualidade humana é algo ainda mais difícil
de caracterizar, pois a construção da identidade do sujeito perpassa pela construção
da identidade sociocultural e, por conseguinte, pela construção da subjetividade de
uma determinada sociedade.

Ocorre que, na atualidade, as manifestações culturais e sociais não são mais locais,
mas sim, globais e, portanto, influenciam e são influenciadas por outras e diversas
manifestações socioculturais, muitas vezes distintas daquelas produzidas localmente.

Dessa forma, a construção de uma identicidade não ocorre linearmente e essa


não é perene, pois a própria sociedade também não o é, mas passa por diversas
e intensas transformações. Ora, se o sujeito transforma a cultura e é por ela trans-
formado, então Sartre tinha razão ao nos definir como eternos projetos de vir-a-
-ser. Nessa condição, nunca estamos acabados, mas em desenvolvimento, desde o
nascimento até a morte.

O problema disso tudo é a questão da identidade, necessária para a construção


da subjetividade, com a qual olhamos e interpretamos a realidade concreta.

De acordo com Hall (1997, p. 23), o amplo impacto das revoluções culturais so-
bre as sociedades globais e sobre a vida cotidiana local, vivido no final do século XX,
"parece tão significativo e abrangente que justifica a afirmação de que a substantiva
expansão da "cultura" que hoje experimentamos, não tem precedentes". Contudo,
a alusão do seu impacto "na "vida interior" lembra-nos de outra dimensão que pre-
cisa ser considerada: a centralidade da cultura na constituição da subjetividade, da
própria identidade e da pessoa como um ator social".

Subjetivamente acreditamos que conseguimos nos diferenciar dentro de uma


cultura social que impõe padrões e regras e que o próprio enfrentamento des-
ses padrões e regras propõe modelos a serem seguidos, o que implica em, de
novo, buscar se enquadrar dentro de um modelo social padrão ou dissidente.
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Além disso, se considerarmos que a ausência de modelos dificulta a própria forma-


ção da identidade, nos depararemos com uma questão ainda mais ampla e difícil de
conceituar: a angústia vivida e gerada pela dificuldade de identificação na formação
da identidade.

Segundo Freud, na formação da personalidade, tanto menino, quanto a me-


o

nina, passam por um período de rivalidade com o progenitor do mesmo sexo, que
o interdita e por ser maior e mais forte, obriga que esse menino ou essa menina
busque se identificar com esse progenitor, imitando-o, a fim de conquistar o que ele
tem, e é, objeto de desejo desse menino ou menina.

A partir dessa teoria, podemos perceber o quão é importante a existência de um


modelo com o qual podemos nos identificar. Contudo, o que ocorre quando não
há um só modelo, mas diversos e inconstantes modelos? E exatamente isso que
ocorre na sociedade atual. Não temos um único modelo sociocultural, mas a cons-
trução cindida e disforme de muitos modelos, uma verdadeira "colcha de retalhos".
E esse todo fragmentado e costurado que irá determinar a formação da identidade
psicossociocultural do sujeito, que, em algum momento, se verá como um todo
fragmentado e costurado, e que terá que se relacionar com essa realidade, a fim de
buscar alternativas concretas ou simbólicas para a superação desses hiatos.

É por isso que, de acordo com Hall (1997), devemos refletir sobre as identida-
des sociais como construídas no interior da representação, através da cultura, não
fora dela. A construção da identidade social, por assim dizer, acontece por meio do
uso da subjetividade. É o olhar subjetivo, e não somente a realidade concreta, que
determina a identidade e identificação de uma pessoa. Um exemplo claro disso são
as muitas pessoas que, a despeito da realidade em que vivem, buscam modelos fora
dela, como um menino nascido e criado em uma comunidade que se recusa a se
identificar com ela e exibe modelos comportamentais diferentes dos existentes ali.

Ainda, segundo o mesmo autor (1997, p. 27), as identidades sociais:


[...] são o resultado de um processo de identificação que permite que nos
posicionemos no interior das definições que os discursos culturais (exterio-
res) fornecem ou que nos subjetivemos (dentro deles). Nossas chamadas
subjetividades são, então, produzidas parcialmente de modo discursivo e
dialógico. Portanto, é fácil perceber porque nossa compreensão de todo
este processo teve que ser completamente reconstruída pelo nosso in-
teresse na cultura; e por que é cada vez mais difícil manter a tradicional
distinção entre "interior" e "exterior", entre o social e o psíquico, quando
a cultura intervêm.

A subjetividade é, portanto, um escudo e uma lente que permite enxergar para


além da realidade local e proteger-se de traumas advindos dessa e de outras realida-
des. Nesse sentido, a leitura subjetiva da realidade ocupa um papel de destaque na
construção da identidade do sujeito contemporâneo. Saber enxergar e interpretar
a realidade é uma necessidade ímpar no mundo de constantes e aceleradas trans-
formações sociais e culturais.
UNIDADE A Produção Cultural do Sujeito Contemporâneo

A identidade do homem atual não é uma identidade única e distinta, é polifor-


me, pois a própria produção cultural possui muitas formas, nas ainda distintas so-
ciedades. Cabe, portanto, a esse sujeito contemporâneo, buscar significados para
cada uma dessas formas, e filtrar em sua leitura de mundo os aspectos objetivos e
subjetivos de sua existência social e cultural.

Consideremos também que as intensas e constantes transformações sociais im-


põem um ritmo também acelerado a esse processo. Não pode o homem ficar
alheio às mudanças, pois essas não são alheias ao homem. Deve-se, portanto,
pensar criticamente sobre elas.

De acordo com González Rey (2003, p. 95), a subjetividade pode ser definida como "as for-
mas complexas em que o psicológico se organiza e funciona nos indivíduos, cultural e histo-
ricamente construídos e nos espaços sociais das suas práticas e modos de vida".

A Sociedade de Mudança
Constante, Rápida e Permanente
Há quem defenda e, certamente, você já ouviu a célebre frase: "a única cons-
tância do universo é a mudança". Mas o que isso quer dizer? O que implica
cogitar e afirmar que a mudança possa ser a única certeza, em meio a tantas
incertezas e, sendo assim, por que ainda nos tempos atuais, muitos ainda são
resistentes às mudanças?

É sabido que ao longo da história evolutiva da humanidade, foi, e é necessário,


manter dados de memória, medos, traumas e o que muitas chamam de instintos
de sobrevivência, o que, de certa forma, privilegia o conhecido e evita o desconhe-
cido. Até aqui, não estamos tratando de nada novo. Temer e evitar o novo são,
portanto, um traço subjetivo compartilhado da personalidade humana. O psicólogo
Carl Gustav Jung nos dá o fundamento dessa ideia ao postular o conceito de in-
consciente coletivo. Na teoria analítica de Jung, o inconsciente coletivo representa
a herança ancestral subjetiva compartilhada pela sociedade.

É por meio dessa herança ancestral que as muitas culturas compartilham seme-
lhanças, tais como: o arquétipo do herói, do homem e da mulher ideal, que estão
presentes em todas as formas de manifestações culturais e despertam interesses e
curiosidades. Obviamente, esses arquétipos aparecem em cada cultura com singu-
laridades. O herói, por exemplo, não se manifestará com superpoderes, tais como
os criados pela indústria de massa, em todas as civilizações, mas, de certa forma,
carregará semelhanças a esses, o que permite uma rápida identificação com qual-
quer figura do herói, mas não sem certa resistência.
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À incorporação de conteúdos de uma cultura distinta ocorre de forma lenta,


justamente pelo fato de haver resistência às modificações da cultura existente.
Paradoxalmente, na conhecida sociedade da mudança, parece haver certo an-
seio pela importação de determinados conteúdos culturais. Em primeira análi-
se, pode-se pensar que tal ansiedade seja oriunda apenas do desejo de consu-
mo do padrão comportamental de sociedades tecnologicamente desenvolvidas.
Contudo, na atualidade, o contrário também ocorre. Há certa tendência em incor-
porar conteúdos culturais de sociedades em desenvolvimento.
Na indústria musical isso é mais explícito. Por exemplo, a cultura do funk é ra-
pidamente absorvida pela cultura pop, a ponto de, em certos casos, não se saber
diferenciar um gênero musical do outro; e parece não haver preocupação, em am-
bos os lados, em tal separação. Isso ocorre porque, embora as mudanças culturais
sejam lentas, por causa das resistências, a incorporação de elementos e conteúdos
de culturas distintas é cada vez mais acelerada, por causa da globalização.

Atualmente estimula-se o consumo objetivo e subjetivo. Não se compram ape-


nas objetos e coisas, compra-se também o acesso ao conhecimento produzido
por outras culturas. Certamente, em algum momento, você já desejou conhecer
outras culturas ou saber mais sobre determinadas manifestações culturais ou, até
mesmo, já se percebeu tentando encontrar o ponto de intersecção em manifes-
tações sincréticas.
Estar de fora do consumo do novo é, basicamente, o mesmo que estar de fora da
própria prática social vigente. E manter-se à margem da produção cultural e, ainda
assim, produzir cultura, que, em um dado momento, será incorporada socialmente.

Nesse sentido, as rápidas mudanças, impostas pela era da mundialização dos


capitais, não mais dá espaço para a produção de individualidades, mas de sub-
jetividades culturalmente e permanentemente compartilhadas. As resistências in-
dividuais se rompem na medida em que novas condutas sociais são produzidas
e compartilhadas.

A mudança, portanto, vista desse modo, pode ser compreendida como a motriz
da sociedade e parte permanente da subjetividade humana. E esse constituinte sim-
bólico que atribui sentido às modificações psicossocioculturais.

0 Sujeito Contemporâneo
Ao nascermos, somos inseridos na sociedade por meio da cultura familiar.
É a partir desse primeiro grupo que incorporamos as normas e costumes sociais.
O grupo familiar é, por assim dizer, responsável por transmitir os dados da cultura
que farão parte da identidade do sujeito, isto é, os traços do temperamento e do
caráter que darão origem à personalidade do sujeito.
UNIDADE A Produção Cultural do Sujeito Contemporâneo

Contudo, na medida em que o sujeito se desenvolve, passa a pertencer a outros


grupos sociais e as experiências vividas irão imprimir e modular a personalidade,
definindo os muitos papéis sociais que serão desempenhados pelo sujeito. Além
disso, na sociedade contemporânea, devemos considerar que o uso da tecnolo-
gia, tais como televisores, notebooks, tablets e celulares, ocorre cada vez mais
precocemente, a ponto de se pensar que as novas gerações, chamadas de nativas
digitais, têm aptidão natural pela tecnologia.

Você já observou a habilidade de uma criança de dois anos ao manusear um ce-


lular ou tablet? Como se explica que essa criança, sem ter sido instruída do modo
de funcionamento do equipamento, consiga manuseá-lo habilmente? Quais são
as implicações desse aprendizado, em particular, para o aprendizado geral dessa
criança? Esses são alguns dos questionamentos que estão inquietando a sociedade
atual, e se constituem como um desafio a ser superado.

O sujeito contemporâneo traz consigo a amplitude de discussões já existentes e


ainda sem respostas concretas e propõe novos questionamentos, bem como novas
formas de pensar. Se, até então, por conta de culturas isoladas, o que se expressa
em um dado lugar e momento não sirva para explicar um fenômeno ocorrido em
outra localidade, com a globalização e, consequente, aproximação cultural, essa
linha de pensamento tem mudado radicalmente. É cada vez mais necessário obser-
var o que ocorre em nível de mundo para compreender um fenômeno local.

À conhecida teoria do caos, que propõe que fenômenos aparentemente alea-


tórios estejam combinados, passa a ser cada vez mais aceita, pois o próprio su-
jeito, aparentemente, passou a ser uma combinação de culturas e subjetividades.
O cidadão não é mais local, é um cidadão do mundo, pelo menos se não o é no
mundo concreto, é na realidade virtual.

O sujeito virtual não faz parte da matrix, é a própria matrix. O emaranhado


producente da rede virtual tece suas teias nessa realidade aumentada, modificando
a noção de tempo e de espaço, definidos a priori. Na realidade virtual, a noção de
tempo, de espaço e da própria subjetividade do sujeito é modificada, pois nesse
ambiente não se pode definir um espaço, um tempo e uma cultura local. Há que se
buscar novas definições e concepções para tais conceitos.

Sendo assim, o homem contemporâneo pode ser caracterizado por amplas in-
certezas e desafios existenciais concretos. Não se trata aqui de dilemas existenciais
puramente filosóficos, mas de definir o próprio papel social, pois de uma coisa
temos certeza, o homem terá de inventar para si novos papéis psicossocioculturais,
ou terá de se reinventar para caber nos já existentes.
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Desafios Existenciais e Concretos


Retornamos ao conhecido dilema: "Ser ou não ser, eis a questão". Culturalmen-
te, o homem, desde que desceu das árvores e saiu das cavernas, buscou estabelecer
relações sociais concretas. A partir daí, dizemos que o homem é um ser gregário
por natureza. Em decorrência disso, há quem defenda que o homem se faz huma-
no nas relações que estabelece com outros homens. É necessário identificar quem
pertence a essa relação, pois, na sociedade atual, há quem privilegie a relação de
proximidade com outros animais, tais como cães, gatos, porcos, cobras, patos e
galinhas, entre outros.

Por outro lado, como já sabemos, é ímpar a necessidade de se analisar a


qualidade dessas relações, buscando saber o meio pelo qual elas ocorrem.
Voltemos, pois, ao ambiente virtual. As relações intermediadas pela máquina podem
não ser de todo frias, pelo contrário, podem, em dadas circunstâncias, potencializar
sentimentos. Exemplo suficientemente claro disso é o que ocorre nas redes sociais.
As discussões em rede tendem a se tornar mais acaloradas, despertando e refor-
çando sentimentos que não são incentivados pela cultura social. Paradoxalmente,
é possível perceber que, atualmente, a cultura social local tem sido influenciada por
esses comportamentos, o que está para além das modificações linguísticas.

Os papéis desempenhados socialmente pelo sujeito contemporâneo já estão em


metamorfose, imposta pela realidade social, que se choca com a moral vigente.
É certo que há de se esperar um enrijecimento da moral cristalizada, uma espécie de
solidificação do discurso protecionista, afinal, como discutimos, e você certamente
se lembra, uma modificação cultural não ocorre sem o despertar das resistências.

Todavia, devemos ponderar que, na atual sociedade, o consumo acelera as mu-


danças. O padrão alimentar, por exemplo, não poderá ser o mesmo, se o sujeito
adotar uma ideologia fitness, vegetariana, vegana ou natural. Em contrapartida,
essa mesma ideologia sustentará um mercado, até então, promissor, que se espe-
cializará em manter esse padrão alimentar e, consequentemente, o consumo de
seus produtos.

A negação de uma cultura cria uma subcultura, que existe sem o enfrentamento
direto da cultura vigente ou de contracultura, que buscará esse enfrentamento e se
definirá como modelo adequado. Trata-se de uma relação dialética, pois quando
uma contracultura assume a posição de cultura vigente, possibilita o surgimento de
novas sub e contraculturas.

Essa discussão nos traz ao nosso ponto inicial: ser ou não ser. Se adotarmos a
posição Existencialista de Sartre e assumirmos que somos um projeto de vir-a-ser,
conseguiremos romper as resistências, de certo modo, mas não sem a angústia e
náusea características desse processo. Assumir essa visão implica em aceitar a con-
dição de permanente desenvolvimento humano, mas também de que nada, além
da certeza da mudança, que traz consigo incertezas, é perene.
UNIDADE A Produção Cultural do Sujeito Contemporâneo

Nesse sentido, a cultura é bem mais fluida do que pensamos em nossa "vã filosofia", assim
como ocorre com a própria construção da identidade e personalidade humana, o que nos
coloca, mais uma vez, diante de um dilema: Se o homem se mostra nas relações que estabe-
lece, nas ferramentas de trabalho que utiliza e na língua pela qual se expressa, em um dado
lugar tempo, como ocorre essa construção cultural e identitária na ausência concreta do
e

tempo e do espaço, considerando-se a modificação linguística e de ferramentas de trabalho


impostas por essa nova realidade?

Trocando em Miúdos

À nossa noção de tempo e de espaço deve considerar o ambiente virtual e as


relações impostas por essa nova realidade aumentada. A análise da cultura social
não poderá ignorar as relações decorrentes da interação virtual humana, pois, cer-
tamente, há uma diferença significativa entre a realidade, que aqui chamamos de
concreta, e a realidade virtual.

À construção humana, isto é, da identidade do sujeito, perpassa as relações


socioculturais que estabelece, por isso se diz que um homem do século XX não
poderia ter uma identidade de sujeito do século XXI, ou vice-versa, muito embora
devemos confessar que, por vezes, isso parece acontecer.

Por fim, sabemos que no constituinte da personalidade encontram-se o tempera-


mento e o caráter. Há de se esclarecer que por caráter, não se deve entender o con-
ceito dado pelo senso comum. Por caráter se compreende o temperamento, ou tra-
ços comportamentais moldados, isto é, são padrões comportamentais permanentes.

Assim sendo, é necessário considerarmos a impossibilidade de se dizer que há


um sujeito sem cultura, ou cultura sem sujeito, ou, até mesmo, que há um sujeito
no qual não se expressa a cultura, sendo esse um produto e, paradoxalmente, um
produtor da cultura, assim como um espelho.
À produção cultural do sujeito contemporâneo é permeada pela construção mu-
tável do próprio sujeito, que busca se identificar com a nova realidade e, ao mesmo
tempo, tenta manter as relações já conhecidas. Há, no entanto, que se esperar
que desse conflito surjam sentimentos antagônicos acerca da própria natureza do
homem, assim como daquilo que é por ele produzido.

Ao se afastar da cultura local e introjetar aspectos culturais diversos, o sujeito


reconstrói a sua subjetividade e redefine a sua relação com o meio. Dessa nova
relação, surgirá um novo sujeito social, que terá que buscar papéis sociais distintos
dos já conhecidos, mas a partir desses. Parece-nos que, de fato, "nada se cria, tudo
se copia". Considerando-se verdadeira essa premissa, não havia do que ter medo.
Você não concorda?
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

O vídeos

Espaço, tempo, mundo virtual

CPFL, Café Filosófico. Espaço, tempo, mundo virtual: Marilena Chauí.


https://youtu.be/40j M6bnE-Y

EE Filmes

The Matrix (Matrix)

Direção e roteiro: Lilly Wachowski e Lana Wachowski, produção Joel Silver, Distribuição:
Warner Bros. EUA, 1999.
https://youtu.be/mBe-FF8MsquU

The Matrix Reloaded

Direção e roteiro: Lilly Wachowski e Lana Wachowski, produção Joel Silver, Distribuição:
Warner Bros. EUA, 2003.
https://youtu.be/kYzz0FSgpSU

The Matrix Revolutions

Direção e roteiro: Lily Wachowski e Lana Wachowski, produção Joel Silver, Distribuição:
Warner Bros. EUA, 2003.
https://youtu.be/hMbexEPAOOI

Leitura

Modernidade: a construção do sujeito contemporâneo e a sociedade de consumo

COLOMBO, Maristela. Modernidade: a construção do sujeito contemporâneo e a


sociedade de consumo. Rev. bras. psicodrama, São Paulo, v. 20, n. 1, p. 25-39,
jun. 2012.
https://www.gl/HMSRgf
UNIDADE A Produção Cultural do Sujeito Contemporâneo

Referências
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CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas híbridas. São Paulo: Edusp, 2000.
GEERTZ, Clifford. Briga de galos em Bali. In: GEERTZ, C. A interpretação das
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HALL, Stuart, (1997). A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções de nos-


so tempo. Educação & Realidade, v. 22, nº 2, p. 15-46.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 4. ed. Rio de Janeiro:


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HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte:
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tural. 5.ed. São Paulo: Brasiliense, 2006.

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consci-


ência universal. 6. ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 2006.

SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos Estudos


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