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Educação a distância
Material Teórico

Culturas Globais -
Identidade de Gênero, Raça e Etnia

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Silvio Pinto Ferreira Junior

Revisor Técnico:
Prof. Dr.º Jane Garcia de Carvalho
Revisão Textual:
Prof. Dr.? Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Culturas Globais Identidade
UNIDADE e Gênero Raça e Etnia

*
Liberdade de Gênero;

O Sexo Biológico;
E
. Identidade de Gênero;

* 0 Gênero e a Questão de Raça e Etnia;

Feminilidades e Masculinidades no Estudo de Gênero;

* Políticas Públicas Voltadas para Questão de Gênero, Raça e Etnia.

DE OBJETIVO DE APRENDIZADO

Apresentar uma abordagem das diversas identidades culturais, analisando


«

grupos específicos;

Compreender a sociedade e as diferenças de gênero, bem como suas desigualdades


«

raciais, lutas e conquistas de direitos.


Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas: Conserve seu
material e local de
fre
estudos sempre
organizados.

Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
AN
O
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: edese manter
hidratado.
y Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu "momento do estudo";

V Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar;


lembre-se de que uma
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

Y No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Y Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Culturas Globais Identidade de Gênero, Raça e Etnia

Liberdade de Gênero
Os estudos nesta unidade partem da importância em discutir as diferenças de
gêneros na composição de uma sociedade sob o prisma das Ciências Humanas e
Sociais. Pretende-se também apresentar um estudo sobre raça e etnia e a sua rela-
ção com o gênero.
Iniciemos por indagar a origem das diferenças entre homens e mulheres. Para
muitos estudiosos, as diferenças são construídas a partir das influências sociais.
Dessa forma, partiremos da distinção entre sexo e gênero.

Entendendo identidade de gênero


Identidade de gênero (
É amaneira com você se enxerga; 0 gênero
+ do qual você se sente parte.

Nenhum ; Gênero lino


*
Gênero não é
Nenhum
« binário. E na maioria Gênero feminino

» dos casos,
ninguém é 100%
Algumas e. e
combinações mulher
uma coisa só. Somos nterpretações traves, transexual.
na sociedade vansgénero
um pouquinho disso
e daquilo.
O gráfico não é
Orientação sexual
capaz de definir
todas as Indica pelo que você sente atração. Mostra
A

pra que lado sua sexualidade está


possibilidades que a "orientada".
sexualidade humana
oferece. Nada Homem, figura masculina

Nado Mulher, figura feminina


A melhor forma de
definir alguém, é
Algumas
perguntando como combinações
esuas e e e
essa pessoa se mterpretações mulher hétero
ou homem gay
bissexual
na sociedade
sente. E isso que
conta.
Sexo biológico
É sua genitália quando você veio ao
mundo, características físicas e
cromossomos
intersexual
Macho Fêmea

Baseado no "The Genderbread Person 2.0" do


itspronouncedmetrosexual.com

1
Figura
Fonte: Adaptado de The GenderBread Person 2.0

De acordo com muitos sociólogos, sexo é um termo utilizado para se referir às


diferenças fisiológicas e anatômicas que definem e distinguem o corpo masculino
do corpo feminino. Gênero, no entanto, está relacionado às diferenças psicológi-
cas, culturais e sociais entre indivíduos do sexo masculino e do sexo feminino.

Em Síntese

Sexo: define as diferenças naturais, fisiológicas e anatômicas entre homens e mulheres.


Gênero: define as diferenças psicológicas, culturais e sociais entre homens e mulheres.
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0 Sexo Biológico
Nascer homem ou mulher parece simples, e a princípio não requer muitas in-
dagações, porém, você já parou para se questionar "O que é ser um homem?
-

O que é ser uma mulher?"

Bem, caro(a) aluno(a), a resposta, para muitos certamente estará associada ao


sexo do corpo em que nascemos.

Imagem disponível em: https://www.gl/gteJBo

No entanto, essa é uma forma simplificada e limitada de definir a identidade de


cada sujeito, pois ainda que os documentos certifiquem o sexo com o qual nasce-
mos, existem pessoas que acreditam ter nascido no corpo errado. Esse 'equívoco'
da natureza poderia, então, ser corrigido cientificamente através da mudança de
sexo e reparações no corpo, ou, como algumas pessoas acreditam, que se poderia
interferir na identidade do outro, praticando um ultrapassado moralismo conser-
vador através de tratamento psicológico ou psiquiátrico e, até mesmo, palestras e
sessões de cura praticadas por algumas religiões.

À construção da identidade ao longo da vida é algo muito mais complexo do que


a simplificação da distinção entre homem e mulher somente através do corpo, pela
distinção dos sexos.

As diferenças sexuais são demasiadamente influentes em nossas vidas. Faremos


aqui uma reflexão acerca do gênero.

Para iniciar, emprestemos da filósofa francesa Simone de Beauvoir, sua célebre


assertiva "Não se nasce mulher, torna-se mulher".

Simone de Beauvoir (Paris, 1908-1986) foi uma escritora,

Q intelectual, filósofa existencialista, ativista política, femi-


nista e teórica social considerada até hoie um dos nomes
mais influentes do feminismo moderno. Aos 21 anos saiu
de casa para estudar Filosofia na Universidade de Sorbon-
ne. Prestes a se formar, em 1929, ela conheceu o famoso e
também filósofo Jean-Paul Sartre, iniciando uma peculiar
relação amorosa. 0 casal à frente de seu tempo procurava
quebrar os mais diversos paradigmas instituídos pela cultu-
ra e pela sociedade. Por exemplo, por não concordarem com

os princípios da monogamia tinham uma relação aberta a

experiências amorosas e sexuais com outras pessoas. 0 ca-


samento também não fez parte da vida do casal, graças à
crença de Beauvoir de que o relacionamento deles não de- Figura 2
veria ser definido com base em normas institucionais. Fonte: Wikimedia Commons
UNIDADE Culturas Globais Identidade de Gênero, Raça e Etnia

Beauvoir, em 1949, provocou uma revolução no pensamento sobre gênero ao


afirmar que "nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que
a fêmea humana se assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que
elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualifica de
feminino." (1967, p. 9).

A filósofa colocano centro das discussões que a construção das identidades de


gênero se dá através da cultura, ou seja, dos papéis sociais que são atribuídos a ho-
mens e mulheres e de uma expectativa de que seu comportamento seja cumprido
sob os olhos de pesadas críticas, discriminação e preconceitos contra todos aqueles
que, de alguma forma, não se enquadram às regras impostas inicialmente no seio
familiar, no convívio com os primeiros grupos sociais institucionalizados como, por
exemplo, a escola, a igreja, o local de trabalho etc.

Àideia de que esses papéis desempenhados a partir da designação homem/


mulher não seria algo inato, mas sim fruto de uma construção social advinda de
cada cultura, recebe o título de teoria de gênero não mais sexo de conotação
-

biológica. Essa categoria foi adotada pelas correntes filosóficas históricas que se
propunham a rachar com uma linha tradicional, e, ao mesmo tempo, ir além da
chamada história das mulheres ao explorar a relação estabelecida por homens e
mulheres ao longo do tempo.

O papel feminino não foi definido pela própria mulher, "[...]


humanidade é
a

masculina e o homem define a mulher não em si, mas relativamente a ele; ela
não é considerada um ser autônomo" (BEAUVOIR, 1970, p.10). Ao homem foi
delegado o papel privilegiado nesse sistema, que mesmo ao trazer prejuízos para
determinados indivíduos que fogem da lógica masculina, de forma geral, beneficia
os pertencentes ao gênero masculino.

Identidade de Gênero
À construção social das identidades é responsável também pela construção do
gênero. Portanto, nós fazemos o gênero, criamos a noção do que é ser menino
e menina desde a infância. Estabelecemos regras de comportamento, símbolos e
significados àquilo que deve ser caracteristicamente fator distinguível entre homens
e mulheres na fase adulta.

Essa construção social da identidade, para algumas pessoas, pode ser conside-
rada uma pressão para se tornar algo que a sociedade espera que cada um de nós
nos tornemos. No entanto, existem aqueles que enfrentam a pressão social para
encontrar um equilíbrio entre o corpo natural e a forma como enxerga a si próprio.
A maneira como cada um se sente ou gostaria que seu corpo fosse, estimula a bus-
ca por um equilíbrio entre o corpo e o psicológico.
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Utilizamos aqui a palavra 'enfrentamento" porque não é tarefa fácil buscar tal
equilíbrio, uma vez que a sociedade, pelo menos grande parte dela, não aceita que
o indivíduo tenha autonomia para alterar a natureza.

Assim, para muitos, é preciso conformar-se com o que a natureza designou a


cada um de nós.

Quando se pensa sobre o assunto pelo viés da religião, essa questão se agrava
ainda mais. Pois "Deus, sendo o criador do homem e da mulher, seria insultado
por aqueles que não se contentam com o sexo de nascimento". Transformá-lo seria
pecado? Seria uma heresia ou uma ofensa? Para muitos religiosos, seria sim. Por
esse motivo atribuem o "pecado' àqueles que se identificam com sua sexualidade de
forma distinta da maioria.

Figura 3
-
Adão e Eva de Ticiano
Fonte: iStock/Getty Images

Analisando as sociedades antigas, homem sempre esteve ligado às atividades


o

que lhe exigiam força, coragem, velocidade etc.; assim eram os caçadores das tri-
bos primitivas que defendiam seus iguais partindo para a querra contra os inimigos.
Em contrapartida, as mulheres ficavam responsáveis pelas tarefas ligadas à casa,
aos filhos, a plantar, colher, limpar, organizar, cozinhar etc. Ou seja, às mulheres se
atribuíam características menos agressivas e mais dóceis.

Esses estudos antropológicos, históricos, sociológicos etc. definem através da


literatura os papéis atribuídos aos homens e às mulheres na vida em grupo e, à me-
dida que estes grupos evoluem, essas tarefas são adaptadas às mudanças, porém,
os papéis permaneceriam os mesmos naturalmente haveria uma predisposição
-

àquilo que é papel do homem e o que é papel da mulher. Essa visão estreita sobre
o gênero é grande causadora de preconceitos e discriminação nos tempos de hoje,
uma vez que há uma ideia de punição, ainda que subjetiva, para aqueles que dese-
jarem fugir às regras.
UNIDADE Culturas Globais Identidade de Gênero, Raça e Etnia

Cada indivíduo, desde a sua formação nos primeiros dias de vida, recebe uma
carga de normas, regras e aprendizados que serão interiorizados progressiva-
mente, na maioria das vezes atendendo às expectativas sociais sobre o seu sexo
e comportamento.

fia I Imagem disponível em: https://www.gl/gkPPXV

As sanções a que estão expostos meninos e meninas são formas educativas


sobre como aprender a ser um menino ou uma menina. Por exemplo, é comum
ouvirmos no recinto familiar as seguintes frases:
'Meninos não choram".
'Meninos não brincam com bonecas.
'Meninas ajudam as mães em casa".
Esta aprendizagem exige o desempenho de papéis específicos para atender a
um 'regulamento' social.

Segundo Anthony Giddens:


Se um indivíduo desenvolve práticas de gênero que não correspondem
ao seu sexo biológico isto é, comportamentos desviantes procura-se
- -

a explicação numa socialização inadequada ou irregular. Segundo esta


perspectiva funcionalista, os agentes de socialização contribuem para a
manutenção da ordem social ao supervisionar a socialização natural do
gênero nas novas gerações. (2004, pg. 110)

E importante lembrar que as pessoas são agentes ativos que modificam e criam
papéis para si mesmas.
Ainda que a família, a escola, os amigos sejam profundos influenciadores dos
papéis desempenhados na sociedade por meninos e meninas, homens e mulheres,
há que se registrar que uma série de outros fatores subjetivos também interfere na
construção de uma identidade de gênero.

Muitas vezes, um brinquedo inocente, as cores das roupas, a programação na


TV, no cinema, as propagandas, a literatura etc. despejam na sociedade de massa
uma série de regras e padrões de comportamento que orientam, no desempenho
cotidiano, a reprodução dos papéis feminino e masculino.

Sendo assim, o próprio corpo está sujeito às forças sociais que o moldam, alte-
ram e transformam constantemente.

É possível, no decorrer da vida, que sejam atribuídos aos nossos corpos, novos
significados que desafiam o que é "natural". Os indivíduos poderão optar por re-
construir e reconfigurar seus corpos conforme a sua vontade. Há os que buscam
tratamentos hormonais, cirurgias plásticas, operações de sexo de acordo com a
escolha pessoal.
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Há que se lembrar de que a ciência contribui para isso. Os avanços tecnoló-


gicos e científicos relacionados a cirurgias e tratamentos hormonais cresceram e
avançaram surpreendentemente nos últimos tempos, assim como a adaptação da
legislação para mudança de sexo e de documentos também ocorrem em diversas
partes do mundo.

Figura 4
Fonte: Getty Images

O tratamento dado sob a perspectiva histórica, ou seja, analisando o papel de-


sempenhado pelas mulheres e pelos homens em sociedades primitivas, bem como
a comparação com as sociedades modernas, tiveram a divisão do trabalho como
foco específico.
Essa análise se acentuou com a entrada da mulher no trabalho assalariado ofer-
tado pela indústria no século XX, discorrendo os cientistas sociais sobre a de-
- -

sigualdade de funções e salário que ocupam os estudiosos até os dias de hoje. Tais
desigualdades permanecem e são diferenciadas em cada país e em cada cultura.
Portanto, a desigualdade de gênero oferece um importante panorama de estudo,
no qual se debruçam progressivamente os pesquisadores.
Não se pode deixar de mencionar também o papel de submissão que foi re-
legado às mulheres nas sociedades ocidentais e orientais, principalmente dentro
de casa.

0 Gênero e a Questão de Raça e Etnia


Pontuamos que a questão de gênero é bastante complexa, uma vez que não se
limita só às identidades construídas em torno de ser e sentir-se homem ou mulher.
Há sujeitos, por exemplo, que se sentem homem e mulher ao mesmo tempo, há os
que não querem se classificar em nenhum gênero, e há as desigualdades de gênero
que se acentuam pela cor da pele e pela classe social.
UNIDADE Culturas Globais Identidade de Gênero, Raça e Etnia

Ser uma mulher branca é igual a ser uma mulher negra? Ser um homosse-
xual branco de classe média é o mesmo que ser um homossexual negro e de
origem humilde?

Tomemos como exemplo para uma breve reflexão o caso da mulher em linhas
gerais. A mulher, durante muito tempo não teve direitos de cidadã, e lhe restava o
cuidado do lar, a reprodução e o cuidado com os filhos.

A Trabalho doméstico relegado à mulher -

https: /itIy/2H002Yk

Obviamente que estamos falando da mulher com o estereótipo de dona de casa,


branca, casada, regente de uma família, educada, prendada etc.; o que diferencia
muito das condições, e não poderíamos deixar de fora aqui, da mulher negra, po-
bre, escrava ou não, trabalhando desde sempre para servir o seu senhor e mais
tarde o seu marido ou companheiro. Na maioria das vezes, vivendo em condições
precárias, com numerosos filhos e casada informalmente, a mulher negra dividia a
casa com outras famílias. A essas mulheres sobravam, ou melhor, não faltavam os
trabalhos de lavadeira, cozinheira, empregadas domésticas, quituteiras etc.

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"4

q a

Figura 5
-
Mulher negra e criança trabalhando no século XIX
Fonte: Marc Ferrez, 1875

Também, se imaginarmos o panorama da construção da sociedade brasileira, as


largas diferenças entre homens e mulheres e seu papel desempenhado socialmen-
te, a mulher índia não era igual ao homem índio, assim como a mulher imigrante
não viveu em condições de igualdade com seus pares. Aliás, longe disso.

Vejamos algumas imagens do trabalho feminino de mulheres índias e imigrantes


no Brasil:
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Índias tupinambás trabalhando com o barro e a palha para produzir utensílios domésticos

https://www.gl/RFhh9v

Mulheres e crianças trabalhando na lavoura do café no início do século XX no Brasil


https://www.9/sz0D6n

Contudo, quando refletimos acerca do trabalho da mulher e o quanto este se


diferencia do trabalho masculino, é preciso discutir o seguinte: de que mulher
estamos falando? Pois, em cada grupo social, etnia, classe econômica, idade e
lugar, o trabalho visto pelo viés da desigualdade de gênero deve ser estudado
- -

a partir de suas especificidades.

Mas, quando surgiu a ideia de distinção entre as raças? É preciso problematizar


para compreender melhor o que aqui propomos.

A ideia de que tipos humanos distintos poderiam ser divididos em raças pro-
vém da Biologia. Especialmente, em 1859, as publicações se baseavam nas teses
de Charles Darwin, cuja célebre obra "Sobre a Origem das Espécies por Meio da
Seleção Natural ou a Preservação de Raças Favorecidas na Luta pela Vida" (On
the Origin of Species by Means of Natural Selection, or the Preservation of
Favoured Races in the Struggle for Life), deu origem ao darwinismo social e a
transferência das ciências naturais para as ciências humanas deu origem à teoria
evolucionista das espécies.

As diferenças biotípicas que foram estudadas no gênero animal possibilitariam


distinguir raças, nesses termos, mais ou menos aptas à própria sobrevivência.

A ideia rácica nasceu estimulada pelo pensamento darwinista de um universo


valorativo, distinguindo entre mais ou menos aptas as raças tidas, então, como
superiores e inferiores.

Feminilidades e Masculinidades
no Estudo de Gênero
Sendo as feministas as primeiras a se ocuparem com a desigualdade e subordi-
nação das mulheres em relação aos homens, os estudos sociais se iniciam a partir
de tais problemáticas. No entanto, com o avanço da própria sociologia e das ciên-
cias, bem como as transformações sociais, outras questões relacionadas ao gênero
surgiram e estão presentes nas discussões em ciências humanas e sociais nos dias
de hoje. Vejamos algumas.

Com relação à masculinidade, construiu-se a ideia de que analisá-la seria pouco


interessante, uma vez que a experiência de ser homem seria relativamente simples
UNIDADE Culturas Globais Identidade de Gênero, Raça e Etnia

e sem problemas. Os sociólogos se interessaram mais, de início, em estudar a


opressão dos homens contra as mulheres.
No final dos anos 1960, com os movimentos sociais proliferados pelas cha-
madas "minorias", outras possibilidades de pensar a questão de gênero foram
progressivamente se tornando relevantes. Uma delas seria a masculinidade em
crise, quando a mulher se estabelece no mercado de trabalho, e começa a con-
quistar independência financeira acompanhada de reformulações legislativas que
lhe deram direitos.
Outra forma de pensar o gênero é discutir a masculinidade e sua hierarquia, ou
seja, "haveria homens mais homens que outros?
A masculinidade homossexual entra em pauta nos anos 1960 e até hoje perma-
nece como foco de estudo e desperta interesse dos pesquisadores.
Neste sentido, podemos dizer que existe uma ordem de gênero hierarquizada endo-
genamente, como podemos verificar no esquema apresentado por Anthony Giddens:

Hieararquia de Gênero

Masculinidade

hegemônica Mais poder

Masculinidade Feminilidades
cúmplice subordinadas

Masculinidades Feminilidade
subordinadas enfática

Masculinidade Feminilidade
homossexual Resistente

Menos poder

Figura 6 Esquema de GIDDESNS


-

Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images

Recorreremos a Giddens, pois o sociólogo aponta existirem muitas expressões


diferentes de masculinidade e feminilidade. No topo da hierarquia apresentada pelo
autor, encontra-se a masculinidade hegemônica. Ou seja, o domínio de um tipo de
masculinidade sobre todos os outros gêneros.
À masculinidade hegemônica estão vinculados elementos criadores de uma
imagem de homem que deveria ser reproduzida por todos os outros. A este homem
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agregam-se características como coragem, virilidade, força, resistência, porte físico,


segurança etc. Esse seria o 'tipo ideal" de representatividade masculina hegemônica,
um exemplo a ser seguido e reproduzido por todos os outros homens. Essa imagem
a que nos referimos é ainda mais estimulada pelos veículos de comunicação
de massa.

Já reparou como uma propaganda, por exemplo, veicula um anúncio de um


novo modelo de automóvel? Ou uma propaganda de cigarros e bebidas? Em gran-
de parte delas, o "tipo ideal" de homem másculo é apresentado.

Na verdade, no contexto social real, são poucos os homens que se adequam ao


'tipo ideal" masculino. Aos que, ainda assim, reproduzem a imagem acima, Giddens
chama de masculinidade cúmplice. Ou seja, a herança patriarcal, que os homens re-
produzem subjetivamente, reforça a imagem masculina, ainda que em nada pareçam
com o que foi descrito acima.

Já o homossexual, na hierarquia de gênero, é considerado o oposto do 'verda-


deiro' homem, pois assume características rejeitadas pela masculinidade hegemô-
nica. À rejeição se dá pelo estigma do afeminado.

Todas as formas de feminilidade estão subordinadas à masculinidade hegemônica.

Vejamos, a seguir, uma breve síntese do que nos apresenta a hierarquia de Giddens:

Em Síntese

Masculinidade hegemônica: modelo de homem considerado 'tipo ideal" a ser seguido e


admitado por todos: másculo, forte, corajoso, seguro, resistente, viril.

Masculinidade cúmplice: é o comportamento masculino que segue as regras sociais de


ordem patriarcal e que reproduzem o modelo masculino de 'tipo ideal ainda que estejam

longe de apresentar qualquer semelhança a este. Grande parte dos homens, que nada
apresentam como características da masculinidade hegemônica.
Masculinidade homossexual: é considerado o 'oposto' do verdadeiro homem. Estereotipa-
do, é caracterizado como afeminado. Foi durante muito tempo tratado como uma patologia.

Feminilidades subordinadas: refere-se ao "tipo ideal de mulher. Ou seja, passiva, sub-


missa, educada, prendada, reprodutora, etc. Diz respeito à mulher que não se enxerga em
estado de igualdade, mas sim inferior ou dependente da figura masculina.

Feminilidade enfatizada: refere-se à mulher que caracteriza a feminilidade e apresenta


características simbólicas. Exemplo: a mulher sensual e sexy ou a mulher dona de casa.
Ambas enfatizam uma imagem de mulher que é amplamente explorada pela mídia e re-
produzida socialmente.

Feminilidade resistente: diz respeito as mulheres que não se submetem a normas, regras
e padrões de comportamento estipuladas pela sociedade e pelos veículos de comunicação
e resistem a isso tudo. Os exemplos de mulheres que não submetem seu modelo de vida
aos parâmetros pré-estabelecidos são as feministas, lésbicas, bruxas, parteiras, prostitutas,

celibatárias, operárias etc.


UNIDADE Culturas Globais Identidade de Gênero, Raça e Etnia

À todas estas questões que aqui explanamos, somam-se diversas outras que de-
verão despertar a curiosidade do pesquisador como:

Há diferenças de gênero na exploração do trabalho infantil?

Há diferenças de gênero na prostituição de homens e mulheres?

Como se dá a questão de gênero de acordo com crenças e religiões?

Como descrever os movimentos populares que lutam pelos direitos iguais inde-
pendente do sexo?

Como a legislação se adapta às necessidades atuais dos grupos que se encon-


tram em estado de vulnerabilidade?

Por fim, notamos que a abordagem sobre gêneros nos deixa ainda muitas per-
guntas sem respostas. Neste sentido, alarga-se o campo de estudos e pesquisas
nesta temática que é de fundamental importância e de grande valia para a compre-
ensão da sociedade em sua complexidade.

Figura 7
Fonte: iStock/Getty Images

Políticas Públicas Voltadas para


Questão de Gênero, Raça e Etnia
Sem ignorar um passado de lutas sociais, daremos aqui um destaque às políticas
públicas e sociais que vem se ampliando a partir dos anos 1980, com o final da
ditadura militar no Brasil. Também, com a globalização, internet e redes sociais na
década de 1990, a questão do gênero, raça e etnia vem se tornando pauta mundial
no que diz respeito aos Direitos humanos e à busca de garantias para inclusão so-
cial, equilíbrio nas relações de igualdade e o direito à cidadania.
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Homofobia: rejeição ou aversão ao homossexual e à homossexualidade.


À
Transgêneros: são pessoas que têm uma identidade de gênero, ou expressão de gênero
Z diferente de seu sexo atribuído.

Os movimentos de mulheres, negros, imigrantes e LGBT (Lésbicas, Gays, Bis-


sexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) no Brasil vêm reivindicando forte-
mente que os governos elaborem e atuem na construção de políticas públicas tendo
como foco o direito pleno à cidadania.

Um primeiro desafio a ser enfrentado na implementação de políticas públicas e


na organização geral do Estado é interferir na pretensa "neutralidade" deste como
propositor e articulador de uma ação política.

Ou seja, se cabe ao poder público modificar as desigualdades sociais, é preciso


garantir que esta alteração também seja encarada de um ponto de vista de gênero,
alterando relações de poder e o acesso a direitos em sua dimensão social e política.

Para que efetivamente se concretize essa perspectiva, é fundamental transformar


as condições concretas que permitam aos "desprivilegiados" reverter sua condição
de desigualdade. No caso da Prefeitura do Município de São Paulo, foram criadas
Secretarias que representam avanços aos direitos do cidadão, e estas secretarias fo-
ram criadas para trabalhar em conjunto com as demais. Citemos alguns exemplos:
* SMPM Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres;
-

* SMPIR Secretaria Municipal


-
de Promoção da Igualdade Racial;
*
SMDHC Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania;
-

SMADS Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social.


-

Para conhecer as políticas públicas e sociais das secretarias que se ocupam da questão de

gênero, raça e etnia, acessar o site da Prefeitura de São Paulo no seguinte link:
https://www.ly/2FrymrU

As diretrizes básicas do Estado brasileiro tem como desafios centrais das políti-
cas públicas e sociais implementar, prioritariamente, propostas que:

1. Possibilitem a ampliação das condições de autonomia pessoal e autos sus-


tentação das mulheres, negros, imigrantes e LGBT de forma a favorecer o
rompimento com os tradicionais círculos de dependência e subordinação;

2. Incidam sobre a divisão sexual do trabalho, não apenas do ponto de vista


de padrões e valores, mas principalmente ampliando os equipamentos
sociais, em particular aqueles que interferem no trabalho doméstico, como
os relacionados à educação infantil;
UNIDADE Culturas Globais Identidade de Gênero, Raça e Etnia

3. Fortaleçam as condições para o exercício dos direitos reprodutivos, saúde e


direitos sexuais, possibilitando autonomia e bem estar também neste campo;
4. E preciso, ao mesmo tempo, responder às demandas que pressionam o
cotidiano das mulheres inseridas neste contexto de dominação, em parti-
cular, diante da violência doméstica e sexual.

E, finalmente, é preciso levar em consideração o Estado em sua dimensão


educativa. Sua atuação incide sobre valores, comportamentos, relações. Por-
tanto, as ações do governo não podem ser vistas como atos isolados, mas, sim,
devem estar coerentes com um projeto geral de mudança, no qual a perspectiva
de superação das desigualdades de gênero seja um dos seus componentes in-
dispensáveis (GODINHO, 2004, p. 55-56; In: GODINHO e SILVEIRA, 2004).
Se tomarmos como exemplo apenas a questão LGBT no Brasil, verificare-
mos que as políticas públicas e sociais estão apenas engatinhando, visto que o
Brasil é o país com maior número de agressões e atitudes homofóbicas no mun-
do. A Secretaria de Direitos Humanos do Governo Federal divulga um balanço
semestral dos dados do "Disque Direitos Humanos DISQUE 100". Vejamos os -

dados divulgados nos anos de 2014 e 2015:

Tabela 1

LGBT

Violência Violência Outras


Ano Discriminação Negligência Total
Psicologica Física Violações

2014 40,32% 36,44% 13,25% 3,69% 6,30% 100%

2015 53,85% 26,42% 11,54% 2,77% 5,43% 100%

2014 864 181 284 19 135 2143

2015 1596 783 342 82 161 2964

86

Para denunciar qualquer tipo de violação aos direitos


humanos no Brasil, existe um serviço telefônico de
recebimento, encaminhamento e monitoramento de
denúncias de violação de direitos humanos.

Figura 8
Fonte: Governo Federal do Brasil
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Para se ter uma ideia, de todos os casos de homofobia letal no planeta, em


2012, 44% ocorreram no Brasil. Há um paradoxo em relação aos direitos garanti-
dos pela Constituição Brasileira e como a sociedade vem tratando a diversidade de
gênero de forma discriminatória. Em tempos de globalização, ainda temos muito
que avançar.

Em Síntese

Nesta unidade, procuramos apresentar uma reflexão a respeito das diferenças de gênero
desde a questão natural de diferença de sexos, relacionada ao corpo até as construções
sociais efâmeras que oferecem amplo campo de estudos para as ciências sociais.

Destaquemos aqui que o tema é bastante amplo e poderia se estender a questões rela-
cionadas à prostituição, às cirurgias plásticas, ao trabalho infantil etc. No entanto, obje-
tivou-se construir um pensamento básico, ainda que fundamental, sobre a importância
do estudo dos gêneros, raça e etnia para o Serviço Social.
UNIDADE Culturas Globais Identidade de Gênero, Raça e Etnia

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade

Leitura

Desigualdades de Gênero, Raça e Etnia. (e-book)


https://www.ly/3YGMBMI

Nova História das Mulheres no Brasil. (e-book)

https://www.ly/3YOIkdQ

Educar Meninos e Meninas. (e-book)

https://www.ly/313Khv4

O vídeos

Questão de Gênero Documentário:

https: //youtu.be/ 0fv4VZ5aiM


Cruzeiro do SulVirtual
Educação a distância

Referências
BEAUVOIR, S. O segundo sexo: a experiência vivida. São Paulo: Difusão Euro-
peia do Livro, 1967.

CARVALHO, J. M. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civi-


lização Brasileira, 2004.

GIDDENS, A. Sociologia. Lisboa: Fundação Caulouste Gulbenkian, 2004.


GODINHO, T.; SILVEIRA, M. L. da (org.). Políticas públicas e igualdade de
gênero. São Paulo: Coordenadoria Especial da Mulher, 2004, 188 p. (Cadernos
da Coordenadoria Especial da Mulher, 8).

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