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de 1999
Resumo Abstract
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Este artigo é uma versão condensada de um dos capítulos da minha dissertação de mestrado, defendida
em maio de 1998, no Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília.
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Introdução
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Sobre estudos que utilizam a categoria "camada média urbana". ver VELHO (1979, 1985, 1986); FIGUEIRA
(1985); DAUSTER (1985); SALEM (1986); e HEILBORN (1984, 1992). Segundo SALEM (1986), "estes
trabalham sustentam que a compreensão da lógica simbólica e dos padrões éticos nio podem ser
mecanicamente deduzida Ou apreendida a partir de critérios sócio-econômicos (...) Alguns autores
destacam o acelerado processo de modernizaçao pelo qual atravessou a sociedade brasileira a partir dos
anos 50. A ideologia desenvolvimentista, o recrudescimento da influencia norte-americana e oboom da
psicanálise verificados nos anos 6W70, nos grandes centros urbanos, teriam provocado alterações
significativas nos valores e na visão de mundo das camadas médias urbanas" (1986:27-28), criando um
segmento vinculado à linguagem e aoethos psicanalitico, consectário da ideologia individualista.
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por psicologizados entenda-se indivíduos que tenham se submetido ou se submetam a algum tipo de
terapia, não sendo necessariamente 0 tratamento psicanalítico A expressão "psicologizado" é
amplamente utilizada por FIGUEIRA (1985, 1987) e VELHO (1979, 1986) e está relacionada à preocupação,
principalmente, entre os membros das camadas médias residentes em metrópoles, com a busca da auto-
compreensão, a qual ocorre mcdi- ante 0 consumo de livros de auto-ajuda; terapias das mais diversas
correntes; biodança; ioga; entre outras, sendo que muitas vezes ocorre a combinaçao de mais de um tipo
de "tratamento". Ser psicologizado significa estar associado a uma forma singular de visão de mundo, que
confere proeminência ao indivíduo e à subjetividade, assim como atribui importância singular "à
verbalização e à elaboração das emoções e ainda que sacraliza as experiências pessoais como sendo
irredutivelmente únicas e singulares" (SALEM, 1986:27)
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Foram entrevistados 15 homens na faixa etária entre 40 e 50 anos. As entrevistas semiestruturadas
foram realizadas entre março e agosto 1997.
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FIGUEIRA denomina como "sociologicamente invisível" o "imaginário, as emoções, 0 desejo, em uma
palavra, o sujeito" (1983:14). Para o autor, o "sujeito" é a parte mais importante da "dimensão invisível
da mudança" (idem: 14). Tal afirmação não significa que FIGUEIRA pense que haja uma separação entre
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indivíduo e sociedade, mas chama a atenção para a problemática da mudança social no domínio da
subjetividade, uma dimensão, segundo o autor, mais resistente à mudança.
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Entendo "masculinidade" como a configuração das práticas dos homens na ordem de gênero, conforme
definição proposta por CONNELL (1987).
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Segundo CONNELL (1987), a masculinidade hegemónica caracteriza-se pela capacidade de impor uma
definição normativa exclusiva do que seja ser homem. O modelo comportamental exaltado é o pautado
pela agressividade, competitividade, busca pelo sucesso e poder, além da aversão a tudo que se relacione
ao feminino.
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sofrimento e suicidar-se. Ao fim da vida, Paulo Honório faz uma reflexão sobre
sua condição de provedor:
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Segundo FIGUEIRA, o desmapeamento caracteriza-se pela "coexistência de mapas, ideais, identidades e
normas contraditórias nos sujeitos. O desmapeamento não é a perda ou simples ausência de 'mapas' para
orientação, mas, sim, a existência de mapas diferentes e contraditórios inscritos em níveis diferentes e
relativamente dissociados dentro do sujeito" (1987:23).
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É importante ressaltar que este "'movimento" de redefinição das subjetividades é precedido pelo
movimento feminista. Entender que a identidade de gênero é construída relacionalmente significa dizer
que as transformações que ocorrem ou estão em curso na identidade de um determinado gênero
acarretarão reposicionamentos do outro.
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Paulo: — Essa coisa do macho duro é uma coisa que a gente suporta. A
gente aprende que homem não tece a dor, aguenta tudo no osso do peito.
Não é uma coisa construída de dentro para fora. E imposta e para mim,
eu reconheço que aquela imagem, aqueles papéis foram muito bravos,
que foi difícil depois abrandá-los (...) Eu posso dizer que me tornei mais
sensível à base de terapia, à base de muito sofrimento, até hoje.
O homem aprende, desde os primeiros momentos de sua vida, a
estruturar seu comportamento de tal forma que não demonstre qualquer sinal de
sensibilidade, afetividade, ou qualquer comportamento identificado como sendo
do campo emotivo feminino, inclusive com os filhos, pois pode ser rotulado de
fraco ou gay.
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Utilizo habitus conforme BOURDIEU (ORTIZ, 1983), segundo 0 qual todo agente social é portador de
um sistema de disposições duráveis, que funciona como uma matriz geradora de sentido (vide I F. nota
de rodapé deste artigo).
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A posição de BOURDIEU sobre a profundeza dos valores inculcados na socialização primária é próxima
a de LUCKMANN & BERGER. Para aquele autor, todo agente social é portador de um determinado sistema
de disposições duráveis, um habitus. A socialização é o processo por meio do qual 0 indivíduo é
introduzido no mundo objetivo de uma sociedade ou de um setor dela. Por considerar a importância do
mundo simbólico interiorizado na infância, BOURDIEU afirma que o indivíduo não reconstrói diariamente
sua visão do mundo, nem mesmo sua forma de agir sobre ele, ao contrário, ele traz em si, por um processo
de "interiorização da exteriorização" um "sistema de disposição durável", um habitus, que funciona
praticamente como uma bússola, determinando as "condutas 'razoáveis' Ou ‘absurdas' para qualquer
agente" (ORTIZ, 1983:63) inserido em uma estrutura. Esse é o princípio norteador da percepção e da
apreciação de toda experiência posterior.
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Todos os homens falaram que na infância o choro era uma das principais
proibições, fosse em casa ou na rua, e do rompimento posterior que tiveram que
processar com este padrão de masculinidade incorporado nessa época.
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das interpretações sociais que suas atitudes poderiam denotar. Para ele, o
homem cala-se diante do sofrimento e das dúvidas com medo de ser
considerado gay.
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Conclusão
Tudo isso faz com que a masculinidade crítica não consiga transformar
suas insatisfações e posições dentro da relação de gênero em um movimento
social. Esse tipo de masculinidade consegue se expressar de forma mais visível
por meio da arte. Algumas músicas, por exemplo, falam desse tipo de
masculinidade. Na música Super-homem Gilberto Gil declara:
Um dia
vivi a ilusão
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Referências bibliográficas
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