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Unidade I

PENSAMENTO POLÍTICO BRASILEIRO

Prof. Vanderlei da Silva


Introdução

 Estudar ciência política é muito importante na sociedade


contemporânea, tanto no Brasil como em todo o mundo.
Pensar sobre política é entender porque a sociedade
se organiza de uma forma e não de outra.
 Estamos em um momento histórico marcado por sucessivas
e rápidas mudanças sociais e econômicas e para entender
porque essas mudanças ocorrem e seu impacto na vida
das diferentes pessoas é necessário possuir um bom
conhecimento de política.
Introdução

 O objetivo das aulas é transmitir conhecimento sobre os


principais aspectos da formação histórica do pensamento
político no Brasil, seus principais protagonistas e as ideias
que difundiram.
 O estudo do pensamento político brasileiro adquire especial
importância e funcionalidade porque permitirá ao futuro
profissional compreender as razões que nos trouxeram
até este momento histórico e o potencial que esta sociedade
possui para determinar como será o seu futuro.
Definição de política

 O termo é derivado do adjetivo originado de pólis (politikós),


que significa tudo o que se refere à cidade.
 O termo política se expandiu graças à influência da grande
obra de Aristóteles intitulada “Política”, o primeiro tratado
sobre a natureza, funções e divisão do Estado e sobre as
várias formas de Governo. Na época moderna, o termo perdeu
seu significado original, passando a ser comumente usado
para indicar a atividade ou conjunto de atividades que,
de alguma maneira, têm com ligação com o Estado.
Política e sociedade

 Política é o conjunto de conhecimentos construídos por uma


dada sociedade em um momento histórico determinado e que
permite a esse grupamento social organizar o exercício do
poder, tanto no plano interno como no relacionamento com
outros grupos sociais.
 Política é, portanto, decorrência do fato de vivermos em
grupos sociais que modernamente chamamos de sociedade
e que estão quase sempre organizados em Estados, com
poder político determinado e regulado por leis.
A sociedade segundo a reflexão de Aristóteles

 Aristóteles foi um dos precursores das reflexões sobre


o papel da política na sociedade organizada pelos homens.
 Para Aristóteles, a sociedade é o eixo do indivíduo, portanto,
o homem só desenvolverá plenamente seu potencial
se inserido em uma sociedade.
 Assim, o Estado surge na história da humanidade para
estabelecer direitos e deveres de cada membro do grupo
social, para que essa organização permita o bem-estar de
cada um e de todos.
Política e partidos políticos

 Possuem conceitos diferentes e não deveriam


ser confundidos.
 Partidos políticos são grupos específicos de pessoas
que se unem por possuírem ideias e projetos semelhantes,
que se organizam para tentar chegar ao poder pelo voto
e para instaurar uma ordem legal e legítima que propicie
a colocação em prática das ideias que as unem.
 No Brasil existem partidos políticos que defendem
ideias trabalhistas, socialistas, ambientalistas, republicanas,
entre outras.
História do pensamento político brasileiro

 O pensamento político brasileiro está em construção desde


o descobrimento do Brasil pelos portugueses e nunca poderá
ser considerado pronto e acabado.
 Ele é decorrente da história do Brasil, de sua colonização
pelos portugueses, das relações entre estes e os espanhóis,
do momento histórico que estes países viviam e do que eles
significavam na política e na economia da Europa.
 Muito da nossa organização política e social
contemporânea é resultado do processo histórico
vivido pela sociedade brasileira .
A expansão portuguesa e o descobrimento

 Os portugueses haviam acumulado experiência no comércio


marítimo nos séculos XIII e XIV.
 A expansão marítima portuguesa é decorrente de inúmeros
fatores econômicos, políticos e geográficos. A posição de
Portugal, próximo às ilhas do Oceano Atlântico e das costas
da África facilitou a navegação.
 A expansão marítima tornou-se um projeto nacional,
amparado por um consenso de interesses da monarquia,
dos nobres e dos membros da Igreja, na oportunidade
de novas riquezas.
Os índios e os negros na formação
da sociedade brasileira

 A forma com que índios e negros foram tratados no Brasil é


fator de grande importância para entendermos a sociedade
contemporânea e a formação do pensamento político brasileiro.
 Está relacionada com o preconceito que de alguma maneira
a sociedade brasileira cultivou a respeito dos índios.
 Já a forma como os negros foram trazidos nos dá a dimensão
da total ausência de respeito por esta raça e este traço
de desrespeito ainda não foi banido por completo do Brasil.
Da escravização do índio
para a escravização do negro

 A escravização indígena foi uma catástrofe demográfica. Os


índios foram vítimas de doenças para as quais não tinham
defesa biológica.
 Por esse motivo, a partir da década de 1570 incentivou-se a
importação de africanos e a Coroa começou a tomar medidas,
por meio de várias leis, para tentar impedir o morticínio
e a escravização desenfreada de índios.
 Os portugueses sabiam que a capacidade produtiva
dos negros eram bem superior à do indígena.
Interatividade

Como é denominado o conjunto de conhecimentos construídos


por uma dada sociedade em um momento histórico determinado
e que permite a esse agrupamento social organizar o exercício
do poder?
a) Ciência.
b) Política.
c) Administração.
d) Governo.
e) Partido político.
A resistência de Palmares

 Os escravos negros reagiram inúmeras vezes contra tanta


violência no tratamento que recebiam, por isso fugiam
e se organizavam em quilombos
 O quilombo mais famoso foi o de Palmares, liderado
por Zumbi. Palmares se alongou por mais de cem anos
e enfrentou tanto portugueses como holandeses.
 Há registros históricos de que mais de 10.000 pessoas
tenham morado em Palmares e não apenas negros, mas
também brancos que haviam fugido por diversas razões.
Faculdade Zumbi dos Palmares – UniPalmares

 Inaugurada em São Paulo no ano de 2003.


 Trata-se da primeira faculdade idealizada por negros, tendo
como foco a cultura, a história e os valores da negritude.
 É a primeira e única instituição de ensino superior na América
Latina voltada para a inclusão do negro. Isso garante que os
alunos dos diversos cursos tenham a consciência do seu
protagonismo na história. Os cursos buscam formar
empreendedores negros, capazes de ocupar cargos
mais altos dentro das instituições.
A resistência contra a opressão

 A resistência dos negros, que teve início no processo


de escravidão, ainda está presente entre nós.
 Isso ocorre pelo fato de que na sociedade brasileira
contemporânea ainda existem formas evidentes
e camufladas de preconceito.
 O debate em torno das cotas para negros, entre outros temas,
dá uma noção real sobre as múltiplas formas de preconceito
existentes. A resistência contra a opressão é, portanto,
um traço muito forte dos afrodescendentes.
Organização política colonial

 A principal ideia da Coroa portuguesa com relação à terra


recém-descoberta era de ordem econômica ou, ainda melhor,
de caráter comercial.
 Portugal não tinha planos para formar aqui um país
independente, o que seria extremamente contrário aos seus
interesses enquanto país e não tinha projeto para a formação
de qualquer outra forma de organização política.
 O projeto era totalmente comercial e não político ou social.
O absolutismo em Portugal

 Portugal, à época do descobrimento, era um estado


absolutista, ou seja, todos os poderes se concentravam
na pessoa do rei, que estava nessa condição por
imperativo divino.
 Para os absolutistas não havia divisão entre público e privado,
porque o rei possuía o domínio absoluto sobre todas as
coisas. Porém, em Portugal, se a palavra decisiva cabia ao rei,
tinha muito peso na decisão uma burocracia por ele escolhida,
formando um corpo de governo.
A burocracia na colônia

 A montagem da administração colonial desdobrou


e enfraqueceu o poder da Coroa, que tomava
as decisões centrais.
 Os administradores do Brasil possuíam uma esfera
de atribuições e tinham de improvisar medidas diante
de situações novas, diante das pressões imediatas dos
colonizadores e das instruções emanadas da distante Lisboa.
 O tamanho do território brasileiro também foi determinante
para que a administração organizada aqui fosse complexa
e burocrática.
O primeiro Governador-geral

 Tomé de Souza foi nomeado pelo rei em 1548 e assumiu


em Salvador, então instituída como sede do governo
central do Brasil.
 Seu papel era garantir que houvesse produção econômica
significativa, de modo que a Coroa ficasse satisfeita.
 A estrutura criada foi complexa e burocrática, com a divisão
de poderes entre muitas pessoas, todas elas funcionárias
do poder público. Essa característica da organização política
está presente na sociedade brasileira até hoje.
O papel da Igreja em Portugal

 Igreja e Estado tiveram formas variadas de relacionamento


em cada país do mundo nos diversos períodos históricos.
 Em Portugal, os estudiosos apontam que havia certa
subordinação da Igreja à Coroa, principalmente em razão
de um mecanismo conhecido como “padroado real”.
Este mecanismo garantia que a Igreja teria direito de se
organizar nas terras que fossem descobertas e a Coroa
tinha a obrigação de remunerar o clero, construir
e manter os edifícios religiosos.
A Companhia de Jesus e os jesuítas

 Ordem religiosa fundada por Inácio de Loyola e outros


em 1534, em Paris, e aprovada pelo Papa em 1538.
 Os jesuítas exerceram forte influência sobre a Coroa
portuguesa no período da colonização brasileira, até
que o Marquês de Pombal os expulsasse do país em 1760.
 Fundaram escolas, igrejas e lutaram contra a escravidão
dos indígenas, instituíram missões que se tornaram
importantes, como a Missão de São Miguel, no atual
Estado do Rio Grande do Sul.
O Papa e o Rei –
O catolicismo como religião do Estado

 O Estado e a Igreja Católica eram duas instituições básicas


que estavam destinadas a organizar a colonização.
 Ao Estado coube o papel fundamental de garantir a soberania
portuguesa sobre a colônia, dotá-la de uma administração
e desenvolver uma política de povoamento.
 A Igreja tinha em suas mãos a educação das pessoas,
o “controle das almas” era um instrumento muito eficaz
para veicular a ideia geral de obediência e mais restritamente
de obediência ao poder do Estado.
Interatividade

Portugal, à época do descobrimento, era um Estado onde todos


os poderes se concentravam na pessoa do rei, que estava nessa
condição por imperativo divino. Como é denominado tal sistema
de governo?
a) Democrático.
b) Tirânico.
c) Absolutista.
d) Anarquista.
e) Republicano.
A instituição das feitorias

 O primeiro projeto econômico viabilizado pela Coroa foi


os armazéns, nos quais eram depositados materiais obtidos
na colônia e que seriam enviados à corte.
 Esse trabalho foi entregue a uma empresa comercial
dirigida por Fernando de Noronha.
 Em troca da concessão que lhe fazia a Coroa, teria que pagar
ao rei a quinta parte de tudo o que arrecadasse. Também era
sua obrigação construir fortificações que impedissem ataques
de piratas e dar início ao processo de colonização.
As capitanias hereditárias e o poder ilimitado

 As terras foram divididas em pedaços, que foram distribuídos


a pessoas determinadas pelo rei.
 Eram os donatários, que passaram a ter a posse das terras
e o direito de explorá-las com seus próprios recursos.
 Eles poderiam transmitir a posse das terras e todos os
direitos advindos desta posse para seus herdeiros, mas não
podiam vender as terras. Os donatários também receberam
o título de capitão-mor, para que ficasse claro que eles eram
o maior poder político, econômico e social nas terras que lhes
foram entregues.
O pensamento político brasileiro –
José Bonifácio de Andrada e Silva

 De 1763 a 1838 – seu pensamento foi influenciado pelo estudo


de Direito em Coimbra. Era contrário à escravidão.
 Na condição de deputado, Bonifácio tinha a pretensão de
construir na América um país moderno e civilizado, projeto
este que colocava na ordem do dia reformas de grande
alcance, que atacassem o que considerava ser os entraves
para a conquista da civilização.
 E sobre economia, o pensamento de José Bonifácio
era direcionado para a valorização da agricultura
e da propriedade.
Paulino José Soares de Souza –
Visconde do Uruguai

 De 1807 a 1866 – em 1836 foi nomeado Presidente da


Província do Rio de Janeiro.
 Como gestor público, acreditava que era fundamental
a participação dos particulares na gestão, inclusive
na realização de obras como estradas, por exemplo,
essenciais para o escoamento da produção agrícola.
 Atuou fortemente pelo fim da escravidão e no plano
internacional se destacou pela defesa do Estado
do Amazonas como parte do território brasileiro.
Antônio da Silva Jardim

 De 1860 a 1891 – advogado e jornalista com notória atuação


em movimentos abolicionistas e republicanos no Brasil.
 Era radical e queria uma revolução que terminasse com
a monarquia. Defendeu a mobilização popular para que
a abolição e a república produzissem resultados efetivos
em prol de toda a sociedade brasileira.
 Era adepto do pensamento positivista, que acreditava
principalmente no método científico e na inexorabilidade
da lei do progresso.
Rui Barbosa de Oliveira

 De 1849 a 1923 – dedicou-se à advocacia e ao jornalismo,


tendo um importante trabalho voltado à causa da abolição
da escravidão.
 Teve grande participação na Assembleia Constituinte
que formulou a Constituição Federal de 1891, a primeira
Constituição republicana brasileira.
 Em 1907 foi chefe da delegação brasileira que participou
da Segunda Conferência de Paz, em Haia, na Holanda.
Defendeu na Conferência o princípio da igualdade jurídica
das nações soberanas.
Gaspar Silveira Martins

 De 1835 a 1901 – foi Presidente do Partido Liberal, sendo um


dos fundadores do Partido Federalista e um dos líderes da
Revolução Federalista (1893-1895).
 Em seu entender, o ideário político deveria ser o da liberdade
individual e, para isso, não importava a forma de governo
que fosse adotada.
 Era parlamentarista e defendia maior autonomia das
províncias, que hoje denominamos estados federativos.
Também defendia a colonização em substituição ao
trabalho escravo.
Aureliano Cândido Tavares Bastos

 De 1839 a 1875 – foi político, escritor e jornalista e seu


pensamento político é marcado por ter sido precursor
das ideias do federalismo e contrário à centralização
administrativa no Brasil.
 Era defensor das ideias do liberalismo, entendia que a
liberdade de mercado e da livre-iniciativa eram fundamentais
para a sociedade.
 Nessa mesma linha, defendia a separação do Estado
e da Igreja, bem como a liberdade religiosa, inclusive
com a imigração de protestantes.
Silvio Vasconcelos da Silveira Ramos Romero

 De 1851 a 1914 – adepto das ideias positivistas de Augusto


Comte, produziu extensa obra literária, sempre valorizando
o método científico.
 Acreditava que todo estudo só seria científico se estivesse
em conformidade com leis fundamentais, que seriam as
mesmas tanto para o mundo físico como para a cultura.
 Defendendo a superioridade das raças, Romero acreditava
na fortaleza da raça ariana (branco-europeia) em detrimento
da contribuição de negros e indígenas à formação
do caráter brasileiro.
Alberto Francisco Torres

 De 1865 a 1917 – foi abolicionista e republicano. Expoente


do pensamento ruralista brasileiro, suas ideias influenciaram
o movimento integralista brasileiro, que se baseava na ideia
de hierarquia e harmonia social, com fundamento na Doutrina
Social da Igreja.
 Torres foi pioneiro ao transformar a crítica ao liberalismo
em base para a construção do pensamento autoritário.
 Para ele, o Estado deve se sobrepor à sociedade civil
porque sabe o que é melhor para ela.
Interatividade

Qual foi o pensador político brasileiro que em 1907 era o chefe


da delegação brasileira que participou da Segunda Conferência
de Paz, em Haia, na Holanda?
a) Rui Barbosa.
b) José Bonifácio.
c) Visconde do Uruguai.
d) Silva Jardim.
e) Ramos Romeiro.
O Primeiro Reinado do Brasil – 1822 a 1831

 O panorama político agitado na Europa trouxe a família real ao


Brasil em 1808, onde permaneceu até 1821.
 Ao retornar a Portugal, D. João VI deixou seu filho D. Pedro I
como Príncipe Regente e o fim do período colonial
já bastante delineado.
 O Primeiro Reinado teve início com a criação de uma corte
nos moldes da portuguesa.
 A rigor, o Primeiro Reinado não mudou quase nada na ordem
econômica e social.
O Período Regencial do Brasil – 1831 a 1840

 Período regencial é como ficou conhecido o período,


compreendido entre a abdicação de D. Pedro I e o chamado
“Golpe da Maioridade”, quando seu filho, D. Pedro II, teve
a maioridade proclamada.
 Foi um dos mais importantes e agitados períodos da história
brasileira; nele se firmaram a unidade territorial do país
e a estruturação das Forças Armadas, além de serem
discutidos o grau de autonomia das províncias e a
centralização do poder.
O Segundo Reinado do Brasil – 1840 a 1889

 O Segundo Reinado foi uma época de grande progresso


cultural e de grande significância para o Brasil, com
o crescimento e a consolidação da nação brasileira
como um país independente e como importante membro
entre as nações americanas.
 Nesse período houve a Guerra do Paraguai (1870) e mudanças
profundas na situação social, como a gradativa libertação
dos escravos negros e o incentivo de imigração para a força
de trabalho brasileira.
A Primeira República ou República Velha – 1889 a 1930

 Foi proclamada em 15 de novembro de 1889, quando foi


organizado um governo provisório, chefiado pelo Marechal
Deodoro da Fonseca, que passou a dirigir o país.
 A Constituição de 1891 tomou por modelo a Constituição
dos Estados Unidos, que adotara o sistema republicano,
federalista e presidencialista. Os três poderes da República:
Legislativo, Executivo e Judiciário seriam independentes,
sendo consagrada a autoridade suprema do Presidente.
Características do pensamento político brasileiro
nesse período

 Grande parte dos pensadores brasileiros em atividade


no período do final do Império e preparatório da Primeira
República era de bacharéis em Direito, espaço universitário
onde fervilhavam os principais pensamentos políticos.
O liberalismo e o abolicionismo foram ideias muito debatidas
e defendidas, assim como o positivismo.
 Eram liberais em decorrência das ideias que estavam
em evidência na Europa e nos Estados Unidos, a partir
dos eventos da Revolução Inglesa.
O modelo patrimonialista de gestão pública

 No patrimonialismo, a administração política é exercida


sem que haja clara separação entre o que é público e o
que é privado, ou seja, aquele que tem o poder o exerce
sem distinção entre os bens públicos e os bens particulares,
que são de propriedade do administrador político.
 A organização política patrimonial não conhece nem
o conceito de competência nem o da autoridade ou
magistratura no sentido atual, especialmente na medida
em que o processo de apropriação se difunde.
O patrimonialismo brasileiro

 É consequência da mesma experiência vivida por Portugal,


cujas instituições políticas sofreram igualmente com a
intencional confusão entre o público e o privado.
 O patrimonialismo não interessava apenas à Coroa e a
todos os que pertenciam ao universo monárquico: interessava
também às elites econômicas, proprietárias de terras e de
escravos e que pretendiam que o poder político estivesse
de forma permanente a serviço de seus interesses,
de seu favorecimento.
O Nacionalismo

 Em seu sentido mais abrangente, o termo Nacionalismo


designa a ideologia nacional, a ideologia de determinado
grupo político, o Estado Nacional, que se sobrepõe às
ideologias dos partidos, absorvendo-as em perspectiva.
 Guerras externas e internas contribuíram para que irrompesse
no pensamento político brasileiro a reflexão em torno do
sentimento de nação, em torno da construção de identidade
nacional e consequentemente do nacionalismo.
O pensamento liberal conservador

 O pensamento liberal está associado com as ideias que


predominaram na Europa e nos Estados Unidos, em especial
após a Revolução Gloriosa, ocorrida na Inglaterra em 1688,
A Revolução de Independência Norte-Americana, de 1776
e a Revolução Francesa, de 1789.
 Os liberais acreditavam, portanto, que a máxima liberdade
conduziria a uma perfeita organização econômica e social
e, nessa medida, o Estado não deveria interferir, em especial
nas atividades econômicas.
As ideias liberais no Brasil

 No Brasil, as ideias liberais tiveram que ser adaptadas


para a realidade política, econômica e social que aqui
vigoravam.
 Aqui, as ideias liberais encontraram ressonância entre
os proprietários de terra e os comerciantes urbanos.
 Eles eram a favor da república e do sistema federalista,
de modo a que ficassem garantidos os seus interesses.
 Os principais adeptos do liberalismo foram homens
cujos interesses se relacionavam com a economia
de exportação e importação.
O liberalismo conservador

 Em todos os momentos, o liberalismo brasileiro foi


conservador, com liberais apoiando ideias conservadoras,
como a manutenção da escravidão.
 Além disso, a população brasileira estava à margem dessas
ideias, desconhecia por completo o pensamento liberal e por
isso não contribuiu para dar maior sustentação a elas.
 Assim, ao mesmo tempo em que adotavam as linhas
mestras do pensamento liberal, prevaleciam os interesses
econômicos, sociais e políticos das elites.
Interatividade

Em qual modelo de administração política o poder é exercido


sem que haja clara separação entre o que é público e o que é
privado, ou seja, aquele que tem o poder o exerce sem distinção
entre os bens públicos e os bens particulares, que são de
propriedade do administrador político?
a) Socialismo.
b) Patrimonialismo.
c) Liberalismo.
d) Clientelismo.
e) Feudalismo.
ATÉ A PRÓXIMA!
Unidade II

PENSAMENTO POLÍTICO BRASILEIRO

Prof. Vanderlei da Silva


O autoritarismo no Brasil

 Na tipologia dos sistemas políticos, são chamados


de autoritários os regimes que privilegiam a autoridade
governamental e diminuem o consenso, concentrando
o poder político nas mãos de uma só pessoa ou de um
só órgão e colocando em posição secundária
as instituições representativas.
 Nesse contexto, a oposição e a autonomia dos subsistemas
políticos são reduzidas à expressão mínima e as instituições
destinadas a representar a autoridade ou são aniquiladas
ou substancialmente esvaziadas.
A República dos coronéis

 É comum denominar a Primeira República “República dos


coronéis”.
 O coronelismo representou uma variante de uma relação
sociopolítica mais geral – o clientelismo – existente tanto
no campo quanto nas cidades.
 Essa relação resultava da desigualdade social, da
impossibilidade de os cidadãos efetivarem seus direitos,
da precariedade ou da inexistência de serviços assistenciais
do Estado, da inexistência de uma carreira no serviço público.
O coronelismo brasileiro

 Ocorreu, principalmente, após a transição da monarquia


para a república.
 Coronéis eram civis, proprietários de terras que haviam
recebido do Governo o título de Coronel da Guarda Nacional
e por isso exerciam da forma como queriam o poder nas
regiões em que estavam localizados.
 O termo passou a ser utilizado não apenas por aqueles
que tinham a designação oriunda de sua inserção na Guarda
Nacional, mas para se referir a todos os que tinham algum
papel relevante na política local.
O “voto de cabresto” imposto pelo coronel

 Quase sempre o coronel era o chefe político da região e,


entre outros benefícios que recebia, um deles era que quando
fossem presos ou estivessem sujeitos a processo criminal
não poderiam ser recolhidos às prisões comuns.
 Os coronéis conduziam o processo eleitoral e foram
responsáveis pelo chamado voto de cabresto, que consistia
em eleições totalmente direcionadas por eles, ou seja,
fraudadas com o objetivo de conseguir o resultado desejado.
Os capangas dos coronéis

 Capangas era o nome que recebiam e recebem até hoje


aqueles que atuam como um tipo de guarda-costas
daqueles que têm poder político ou econômico.
 A diferença entre capangas e verdadeiros guarda-costas
profissionais é que os capangas praticam atos ilícitos
a mando de seus chefes e são protegidos por eles
com relação às consequências desses atos.
 Muitas vezes atuavam como matadores profissionais
e causavam profundo temor na população local.
O sistema de clientela e patronagem

 O coronelismo encontrou no Brasil uma condição


favorável de desenvolvimento, pois aqui já existia
o sistema de patronagem.
 Patronagem é o sistema de apadrinhamento ou de
compadrio, que faz com que as classes sociais
economicamente menos abastadas busquem obter
favorecimento junto aos economicamente mais poderosos,
independentemente de possuírem ou não direito a esses
benefícios. Isso explica a origem da expressão “quem não
tem padrinho morre pagão”.
O autoritarismo e o pensamento político

 Durante a Primeira República, ainda que as oligarquias


dominassem a vida política, começavam a surgir os primeiros
movimentos populares e as primeiras manifestações políticas
do povo organizado.
 A movimentação política popular se deve, de alguma forma,
à chegada dos imigrantes no início do século XX, em especial
aos italianos, que vinham de um país cuja política era bem
conturbada e estavam acostumados a manifestações
e tensões políticas.
O movimento operário brasileiro

 Esse momento marca também a formação da organização


operária em razão do aumento de fábricas, em especial
em São Paulo.
 O movimento operário foi muito importante para a política
do país e difundiu suas ideias por meio de jornais, panfletos
e revistas nas quais escreveram jornalistas, políticos e líderes
operários. O movimento era defensor de ideias socialistas
sob inspiração das ideias de Marx e Engels, em especial na
célebre obra “O Manifesto Comunista”.
O Partido Comunista no Brasil

 Grupos de estudo e difusão do pensamento socialista


já podiam ser encontrados a partir de 1889.
 A repressão a essas ideias foi forte e contínua, inclusive
com a aprovação de leis que causaram a expulsão de
vários imigrantes, que eram líderes políticos das massas
de trabalhadores.
 Apesar da repressão, o Partido Comunista se organizou
no Brasil em março de 1922, com o propósito de se tornar
protagonista nas lutas pela conquista dos direitos
para os trabalhadores.
O Movimento Anarquista no Brasil

 Foi relevante nesse momento histórico, com a criação


da Confederação Operária Brasileira, em 1906, que
adotava uma política anarquista.
 Tinha por ideia fundamental a negação do Estado e,
consequentemente, a ampla liberdade de criação de
associações e comunidades que se regeriam por suas
próprias regras. Os anarquistas criaram escolas com
prática de educação libertária e até uma comunidade,
a Colônia Cecília, no Paraná, regida inteiramente
por princípios anárquicos.
Interatividade

Na tipologia dos sistemas políticos, como são chamados


os regimes que privilegiam a autoridade governamental
e diminuem o consenso, concentrando o poder político
nas mãos de uma só pessoa ou de um só órgão e colocando
em posição secundária as instituições representativas?
a) Democráticos.
b) Autoritários.
c) Representativos.
d) Anarquistas.
e) Monárquicos.
O movimento tenentista

 As ideias que influenciaram mais fortemente o autoritarismo


no Brasil vieram do movimento tenentista, que aconteceu
durante a década de 1920.
 Em 1922, os tenentes promoveram uma rebelião no Forte de
Copacabana para se manifestarem contra o regime político
do Presidente Arthur Bernardes, que representava os
interesses da oligarquia mineira.
 Em 1924, os tenentes tentaram novamente derrubar
Arthur Bernardes, desta vez se rebelando em São Paulo.
A Revolução de 1930

 A Revolução de 1930 não foi feita por representantes


de uma suposta nova classe social, fosse ela a classe
média ou a burguesia industrial.
 Os vitoriosos de 1930 compunham um quadro heterogêneo,
tanto do ponto de vista social quando político.
 Defendiam a centralização do poder e a introdução
de algumas reformas sociais.
 Queriam a efetiva adoção dos princípios do Estado liberal,
que aparentemente asseguraria seu predomínio.
A Revolução Constitucionalista

 Getúlio Vargas enfrentaria no início de seu governo


a revolta paulista de 1932, conhecida como Revolução
Constitucionalista.
 Os paulistas pegaram em armas contra o governo de Getúlio
Vargas, por entender que ele havia adotado o autoritarismo
proposto pelo movimento tenentista, na medida que evitava
convocar uma Assembleia Nacional Constituinte.
 Como resultado de mais esse conflito, foi convocada
a Constituinte que elaborou a Constituição de 1934,
substituída em 1937.
O governo de Getúlio Vargas

 Getúlio Vargas assumiu o poder como representante de novos


grupos que desejavam participar das decisões políticas
e econômicas sem se constituírem propriamente como
um grupo organizado ou como um movimento.
 Isso permitiu a Getúlio Vargas adotar medidas
governamentais centralizadoras, incentivar a participação
militar nos assuntos do Estado, ao mesmo tempo em que
tratou de desenvolver a indústria e legislar na proteção
dos trabalhadores.
Ação Integralista Brasileira e
Aliança Nacional Libertadora

 Durante a década de 1930, dois grupos políticos haviam se


organizado no Brasil e ambos causavam preocupação para
o governo, porque se opunham de forma radical e com isso,
poderiam incitar distúrbios e desavenças na população.
 O primeiro era a Ação Integralista Brasileira, criada em 1932
e liderada por Plínio Salgado e o segundo era a Aliança
Nacional Libertadora, que reunia socialistas, comunistas
e democratas liderados por Luiz Carlos Prestes. A Aliança
Nacional Libertadora desejava afastar Getúlio Vargas do poder
.
O golpe de Getúlio Vargas e a instalação
do Estado Novo – 1937

 Em 1935, ocorreu uma tentativa de golpe do Partido


Comunista que não teve resultado, mas ofereceu a Getúlio
Vargas os motivos necessários para a transformação do país
em uma ditadura.
 Em 1937, ele aplicou um golpe na normalidade política,
proibiu a realização das eleições para Presidente da República
e permaneceu à frente do Poder Executivo. Nesse período,
que foi chamado de Estado Novo, ele reprimiu violentamente
os grupos políticos organizados, determinando a prisão de
muitos participantes.
A Constituição Federal de 1937

 Essa Constituição Federal, em suas disposições finais


e transitórias, declarou o país em estado de emergência
e, por esta razão, todas as liberdades civis garantidas
pela própria Constituição foram suspensas.
 Ao mesmo tempo que podia aposentar funcionários civis
e militares no interesse do serviço público ou por
conveniência do regime, o presidente também tinha
poderes constitucionais para governar por meio de
decretos-lei em todas as matérias de responsabilidade
do governo federal.
O populismo

 Podemos definir como populistas as fórmulas políticas cuja


fonte principal de inspiração e termo constante de referência
são o povo, considerado como agregado social homogêneo
e como exclusivo depositário de valores positivos,
específicos e permanentes.
 O populismo não conta efetivamente com uma elaboração
teórica orgânica e sistemática.
 Ele tende a permear ideologicamente os períodos
de transição, particularmente a fase aguda
dos processos de industrialização.
Getúlio Vargas e a prática do populismo

 Getúlio Vargas controlou fortemente a opinião pública


e para isso censurou os meios de comunicação e implantou
um órgão de propaganda oficial do governo com o objetivo
de fornecer à população apenas e tão somente uma visão
positiva do governo e de suas realizações.
 Outra medida garantidora da tranquilidade para o exercício
do poder centralizador foi adotar uma política trabalhista
supostamente em benefício das classes trabalhadoras.
Nesse aspecto reside um dos principais meios
da prática do populismo.
A política trabalhista de Getúlio Vargas

 Criou a Consolidação das Leis do Trabalho, inspirada na Carta


Del Lavoro, da Itália fascista. Criou o salário mínimo para
os trabalhadores urbanos, com valores variáveis em cada
região do país. Criou a Justiça do Trabalho e adotou a unidade
sindical – ou seja, cada categoria poderia ter um único
sindicato – e tratou de atrelar os sindicatos cada vez
mais ao Estado.
 Em 1940 foi criado o imposto sindical como instrumento
de financiamento do sindicato e representação máxima
do atrelamento deste ao Estado.
Interatividade

Como podemos definir as fórmulas políticas cuja fonte principal


de inspiração e termo constante de referência são o povo,
considerado como agregado social homogêneo e como
exclusivo depositário de valores positivos, específicos
e permanentes?
a) Classistas.
b) Assistencialistas.
c) Populistas.
d) Governistas.
e) Tenentistas.
Teóricos do pensamento político brasileiro –
Joaquim Nabuco

 De 1849 a 1910 – atuou como político, historiador, jurista,


jornalista e diplomata.
 Foi parlamentar, ocasião em que se engajou
no movimento abolicionista.
 Criou com André Rebouças, engenheiro, a Sociedade
Brasileira contra a Escravidão e utilizou sua facilidade
de comunicação em comícios para difundir as ideias
de libertação dos escravos.
 Escreveu a obra “O Abolicionismo”, em 1883.
Livro “O Abolicionismo”

 É o livro escrito por Nabuco em 1882 e publicado no ano


seguinte, quando começava a fase final e decisiva da
campanha abolicionista.
 O livro trata a questão como fato social global e sua leitura
ainda hoje tem grande importância. Nele são analisadas
em profundidade as consequências da escravidão sobre
a população, sobre o território, sobre a economia (agricultura
e indústria), sobre a sociedade, sobre o conceito do trabalho,
sobre a defesa, sobre a política e sobre a própria
nacionalidade do Brasil.
Nabuco – abolicionismo e monarquismo

 Nabuco era um monarquista e conciliava essa posição


política com sua postura abolicionista.
 Para ele, a abolição da escravatura, no entanto, não
deveria ser feita com ruptura ou violência, mas assentada
numa consciência nacional dos benefícios que traria
à sociedade brasileira.
 Para ele, a abolição só poderia se dar no parlamento. Fora
desse âmbito cabia somente assentar valores humanitários
que fundamentariam a abolição quando instaurada.
Oliveira Vianna

 De 1883 a 1951 – foi membro da Academia Brasileira de Letras


e ocupou posição destacada no governo de Getúlio Vargas,
período em que contribuiu para a elaboração da nova
legislação sindical e trabalhista adotada naquele período.
 O pensamento de Oliveira Vianna é qualificado como
nacionalista autoritário.
 Seu pensamento é inspirado no positivismo e em uma
ciência que se construía com base nos estudos
de influência do clima e do meio natural na formação social.
O autoritarismo para Oliveira Vianna

 O autoritarismo era uma estratégia temporal destinada


a desaparecer quando o povo estivesse educado e organizado
para viver a verdadeira democracia.
 Ele acreditava que era preciso assegurar a unidade nacional
com um Estado forte, capaz de organizar a sociedade
e ensiná-la a se organizar para viver com solidariedade.
 Nesse aspecto, reforçar o poder central do Estado para
manter a ordem e assegurar as liberdades individuais
era essencial.
Oliveira Viana e a eugenia racial

 Oliveira Viana foi um dos ideólogos da eugenia racial


no Brasil e combateu a vinda de imigrantes japoneses.
 Eugenia é um termo criado em 1883 por Francis Galton,
significando "bem-nascido".
 Galton definiu eugenia como o estudo dos agentes sob
o controle social que podem melhorar ou empobrecer
as qualidades raciais das futuras gerações, seja física
ou mentalmente.
A Sociedade Eugênica de São Paulo, criada em 1918

 O Brasil foi o primeiro país da América do Sul a ter um


movimento eugênico organizado.
 O movimento eugênico brasileiro foi bastante heterogêneo,
trabalhando com a saúde pública e com a saúde psiquiátrica.
 Em 1931 foi criado o Comitê Central de Eugenismo, que
propunha o fim da imigração de não brancos e também
prestigiar e auxiliar as iniciativas científicas ou humanitárias
de caráter eugenista que fossem dignas de consideração
pelo comitê.
Sergio Buarque de Holanda

 De 1902 a 1982 – inicia sua trajetória intelectual fortemente


influenciado pelo modernismo, porque conviveu no Rio
de Janeiro, a partir de 1921, com nomes importantes desse
movimento cultural.
 Em seu período de vida na Alemanha, conviveu com
o final do período da chamada República de Weimar
e com o crescimento do movimento nazista.
 Contribuiu com a fundação da Esquerda Democrática,
em 1946, e em 1980 com o Partido dos Trabalhadores (PT).
Livro “Raízes do Brasil”

 O autor afirma que a principal razão para a colonização


brasileira ter sido possível foi o fato de ter sido realizada
por um país ibérico, Portugal, que estava em uma região
indecisa entre a Europa e a África e que, de certa forma,
já era mestiço mesmo antes de iniciar o processo
de colonização.
 Assim, Portugal teria a plasticidade e a flexibilidade
que haviam acabado por viabilizar o projeto expansionista
colonizatório, o que não teria sido possível a outros países
mais fortemente europeus.
A cultura da personalidade como característica
dos brasileiros

 Sergio Buarque de Holanda observa que no Brasil colonial


as cidades se subordinam ao campo, porque lá está toda
a riqueza e a base da organização social, que é patriarcal.
 Assim, o traço fundante da sociedade brasileira seria
a proteção da família, do ambiente doméstico e daqueles
que nele gravitam, sem pensamento de formação de um
Estado, porque o particular se sobrepõe ao público. Em
consequência, o homem brasileiro carregaria para
o ambiente público os traços da vivência familiar.
Interatividade

Qual era o nome do pensador político brasileiro que foi um


dos ideólogos da eugenia racial no Brasil e combateu a vinda
de imigrantes japoneses?
a) Oliveira Viana.
b) Joaquim Nabuco.
c) Sérgio Buarque de Holanda.
d) Raimundo Faoro.
e) Caio Prado Júnior.
O brasileiro e a figura do homem cordial

 Segundo as reflexões de Buarque de Holanda, o “homem


cordial” era aquele com fortes traços familiares e que tinha
dificuldade de separar o público do privado, tanto quanto
tinha facilidade em tratar de maneira pessoal e informal
a todos quantos com quem se relacionasse.
 Para o autor, essa cordialidade é inadequada ao
funcionamento da democracia e da burocracia, que
exigem normas e leis abstratas que sejam aplicadas
a todos da mesma forma.
O jeitinho do homem cordial

 Em termos antropológicos, o jeitinho pode ser atribuído


a um suposto caráter emocional do “homem cordial”, que
teria desenvolvido uma histórica propensão à informalidade.
 Deve-se isso ao fato de as instituições brasileiras terem
sido concebidas de forma coercitiva e unilateral, não havendo
diálogo entre governantes e governados, mas apenas a
imposição de uma lei e de uma ordem consideradas artificiais,
quando não inconvenientes aos interesses das elites políticas
e econômicas de então.
Raymundo Faoro

 De 1925 a 2003 – em 1958 publicou sua obra de maior


repercussão, “Os Donos do Poder”. Foi presidente nacional
da Ordem dos Advogados do Brasil no período de 1977 a 1979.
 À frente da OAB nacional, Faoro foi líder de uma resistência
pacífica contra a ditadura, sobretudo pela denúncia de tortura
contra presos políticos e pela luta por anistia ampla, geral
e irrestrita. Defendia que a análise dos fundamentos
da legitimidade impossibilitaria completamente a aplicação
de sua noção ao sistema instaurado em 1964.
Livro “Os Donos do Poder”

 Em seus estudos, Faoro analisa a estrutura de poder


patrimonialista, adquirida do estado português por nossos
antepassados, tendo sido esta inteiramente importada
em sua estrutura administrativa para a colônia na época.
 O patrimonialismo seria, para Faoro, a característica
mais marcante do desenvolvimento do Estado brasileiro
através dos tempos.
O estamento político

 Faoro trabalha com a categoria teórica de estamentos,


que tem origem no pensamento de Max Weber.
 Os estamentos são comunidades fechadas para não
permitir que outros ingressem no grupo, para que
não possam compartilhar o poder, ao contrário
das classes, que são comunidades abertas.
 Faoro defende que apenas uma sociedade organizada
em classes e não em estamentos, como a brasileira,
terá condições de consolidar um Estado de direito
liberal e democrático.
Patrimonialismo no Brasil

 Para Faoro, toda a estrutura patrimonialista de Portugal foi


trazida para o Brasil e enquanto foi superada em outros
países, acabou sendo mantida no Brasil.
 Faoro conclui que tivemos no Brasil um capitalismo
politicamente orientado, conceito este de inspiração
weberiana. O capitalismo politicamente orientado atribui
ao Estado patrimonial e a seus funcionários características
de um estamento burocrático, ainda que este impeça
a consolidação de uma ordem burguesa propriamente dita.
Caio Prado Júnior

 De 1907 a 1990 – participou primeiramente do Partido


Democrático (1928), atuou com entusiasmo pela
Revolução de 1930 e mais tarde, filiou-se ao Partido
Comunista Brasileiro.
 Conheceu a União Soviética em 1930 e foi vice-presidente da
Aliança Nacional Libertadora, o que resultou em sua prisão
por dois anos, em 1935.
 Publicou o livro “Formação do Brasil Contemporâneo” (1942)
e fundou a Editora Brasiliense juntamente com Monteiro
Lobato, em 1943.
Lógica e história na colonização do Brasil

 Caio Prado Júnior defende que os homens que vieram para


o Brasil recém-descoberto não pretendiam criar aqui uma
colônia de povoamento, mas apenas desenvolver atividades
que lhes viabilizassem ganhos mercantis.
 Assim, formaram um modo original de sociedade, porque
diferentemente das colônias de povoamento como aquelas
que se formaram nos Estados Unidos da América do Norte,
o projeto não era de permanência nem tão pouco identificado
com os grupos sociais europeus.
O nacionalismo defendido por Caio Prado Júnior

 O seu conceito se identifica com um nacionalismo econômico.


 Trabalhando a questão de um país atrasado por causa
da submissão de exportadores de produtos ao
mercado internacional,
 Caio Prado tenta mostra que a solução para o Brasil estava
no mercado interno, pois se na época da colônia a produção
era voltada para o mercado externo, a iniciativa nacional
deveria opor-se a isto e desenvolver a criação de um
mercado que atendesse internamente o país.
Francisco Weffort

 Nascido em 1937, é sociólogo, cientista político e historiador


do pensamento político brasileiro.
 É autor de vários livros sobre a política brasileira e latino-
americana, dedicou-se em especial ao estudo do populismo
nos anos de 1950 a 1960 e à emergência da democracia
a partir de meados dos anos 1970.
 Foi Ministro da Cultura do governo federal no período
de 1995 a 2002.
Weffort e a existência do povo

 Weffort aponta que a desigualdade foi interiorizada


na sociedade brasileira e que o sentido de igualdade
vem sendo dado de fora da sociedade, ora pela Igreja,
com a evangelização dos índios, ora pelo Estado, com
a abolição da escravatura e a hegemonia do trabalho livre.
 Nos dois casos, ainda que houvesse uma mentalidade
favorável da sociedade da época, o Estado agiu como
se estivesse fora da sociedade e introduziu as mudanças
para modificar essa mesma sociedade.
Interatividade

Segundo as reflexões de Buarque de Holanda, qual a


denominação para o homem brasileiro com fortes traços
familiares e que tinha dificuldade de separar o público do
privado tanto quanto tinha facilidade de tratar, de maneira
pessoal e informal, a todos com quem se relacionasse?
a) Homem social.
b) Homem político.
c) Homem cidadão.
d) Homem gentil.
e) Homem cordial.
ATÉ A PRÓXIMA!

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