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RESUMO: A CIDADANIA NO BRASIL

TERESINA
2019

 JOSÉ MURILO DE CARVALHO E SUAS PRINCIPAIS INFLUÊNCIAS


José Murilo de Carvalho, juntamente com Celso Lafer, é o único brasileiro a fazer
parte da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Brasileira de Letras,
simultaneamente. Estudou em um colégio interno de franciscanos holandeses, segundo o fato
de seres franciscanos holandeses a gerirem o colégio lhe muito favorável, pois estes teriam
mente mais arejada, credita o interesse pela cultura, pela língua, pela arte, vem em parte do
seu pai e em parte desses franciscanos. Entrou para a Faculdade de Ciências Econômicas, em
Belo Horizonte, em 1962. Na década de 1970, foi para os Estados Unidos desenvolver os
estudos do Mestrado e do Doutorado em Ciência Política na Universidade de Stanford, na
Califórnia. No mesmo lugar, fez seu primeiro Pós-Doutorado, sendo o primeiro curso
especificamente na área de História.
Quando questionado sobre as leituras que fez na época da graduação respondeu que
suas maiores influências foram no que diz respeito ao Brasil A formação econômica do Brasil
do Celso Furtado e A história econômica do Brasil, do Caio Prado Júnior. José Murilo de
Carvalho também afirma que a influência do Celso foi maior, pois na graduação ele lia muito
A pré-revolução brasileira e A dialética do desenvolvimento, livros posteriores e com
conotação bastante política, particularmente A pré-revolução brasileira. Quanto a área
sociológica, as grandes influências perceptiveis na sua obra é dos clássicos, franceses e
alemães: Marx, Weber e Mannheim no lado alemão e, no lado francês, principalmente
Durkheim, Regras do método sociológico, e Georges Gurvitch.
Além disso, No livro a Cidadania no Brasil percebe-se também influência de Sérgio
Buarque de Holanda, já que o autor utiliza noções como publico-privado e, consequentemente
o prevalecimento do privado na realidade brasileira.
Na sua produção busca interpretar a dinâmica conflituosa do imaginário político-social
utilizando-se, além das fontes tradicionais, de uma diversidade de material cultural. Mantém-
se sempre vinculado ao estudo das questões de nação, cidadania, justiça e liberdade. Publicou
obras como: A Formação das Almas (1990), na qual aborda o impacto da República na
formação do imaginário popular e A Cidadania no Brasil (2001), onde traça um longo
percurso de como se deu a construção da cidadania no país.

 BREVE APRESENTAÇÃO DA OBRA CIDADANIA NO BRASIL

A obra, Cidadania no Brasil, do historiador José Murilo de Carvalho, expõe reflexões


sobre a cidadania, sobre seu significado, sua evolução histórica e suas perspectivas. O autor
inicia a discussão relatando que o fenômeno da cidadania é complexo e historicamente
definido. A sua complexidade pode ser vista, por exe8, quando o exercício de um direito não
gera automaticamente outro, já que a cidadania só é exercida e usufruida em sua totalidade.
Para José Murilo de Carvalho, a plenitude da cidadania está na fusão entre liberdade,
participação e igualdade para todos. Sendo assim, um indivíduo se torna portador de cidadania
(cidadão) quando possui direitos civis, políticos e sociais.
Os direitos civis são os direitos fundamentais à vida, a liberdade, à propriedade, à
igualdade perante a lei. São fundamentados na liberdade individual. Os direitos políticos se
referem a participação do cidadão no governo da sociedade e, principalmente, nos direitos de
votar e ser votado. É possível haver direitos civis sem direitos políticos mas não ao contrário.
O direitos sociais são cruciais para o estabelecimento de uma sociedade mais igualitária. Eles
abrangem o direito à educação, à saúde, a trabalho, à aposentadoria. Segundo José Murilo de
Carvalho, cidadãos incompletos seriam aqueles que possuem apenas alguns dos direitos e,
aqueles que não se beneficiam de nenhum direito seriam não cidadãos.
Este trabalho tem como foco, sobretudo o período impérial brasileiro, entretanto,
também abordaremos a temática de forma geral em termos de Brasil. O trabalho está dividido
de forma que propicie a compreensão de como os diferentes direitos que compõem a
cidadania se delinearam ao longo do tempo.

 OS DIREITOS POLÍTICOS

Entender a cerca dos direitos politícos na perspectiva do José Murilo de Carvalho é ter
logo em mente que não existe direito politico sem direito civil. Portanto, é importante
ressaltar que os direitos politicos delineados no Brasil na época do Império são concebidos em
sua maioria no plano formal, isto é, não são executados como deveriam, não estão carregados
de sentido completo. Quando executados sem os direitos civis, a liberdade de opinião, os
direitos politicos tornam-se instrumentos para a classe dirigente exercer poder ou ficam
suscitiveis de serem burlados facilmente.
Quando a independencia do Brasil foi proclamada em 1822, o primeiro aspecto que
pode-se inferir é que os direitos políticos saem na frente, que com a independencia o Brasil
possuir a chance de construir direitos politicos plenamente. No entanto, a independencia não
representou necessariamente uma mudança radical nas estruturas presentes na sociedade
brasileira, nesse caso, a herança colonial envoca sua permanência no império. Em outras
palavras, nota-se certos avanços em termos de direitos politicos, mas uma limitação dos
direitos civis. O que contribuir para destituir o significado dos direitos polticos.
No Brasil independente as manifestações não foram gritantes, as pessoas praticamente
não sabiam o que estava ocorrendo, a participação popular não foi efetiva. As classes
dirigentes clamavam e conseguiram uma independencia negociada, em que a ordem fosse
mantida por meio da figura de um imperador, principalmente um com apoio popular. O
aspecto mais reivindicatório que surgiu nesse periodo foi justamente o sentimento regional
das províncias e a união da população pelo ódio ao português.
Nesse cenário, a constituição de 1824 com seu caráter liberal, pode ser considerada um
aspecto importante no quesito regulamentação dos direitos políticos. Para se ter uma ideia a
constituição permitia que a maior parte da população votasse, mesmo restrigindo o voto a
homens e a um critério de renda que não era um valor alto, assim as pessoas que trabalhavam
tinham condições de votar. Além do mais, uma novidade para época era que a constituição
permitia que os analfabetos também votassem. Então, formalmente um número de 13% da
população votava, logo já pode-se notar, pelo menos, em primeiro plano, uma mudança nos
direitos políticos em relação ao periodo colonial. Vale ressaltar que esse número de votantes é
significativo principalmente correlato aos outros países Europeus.
Nota-se que mesmo com os direitos político regulamentados na constituição de 1824,
a população no labor do seu cotidiano não tinha uma herança colonial de prática do voto, a
maioria era analfabeta, o patriotismo não era forte. Assim, Carvalho (2018) afirma que o voto
ao invés de significar o exercicio pleno da cidadania, era um ato de rebeldia forçada ou de
lealdade para com a elite local. Isto é, em um cenário que a maioria da população não conhece
seus direitos profundamente, o domínio político local toma a frente e contribuir para que a
eleições sejam burladas e violentas.
A fraude eleitoral era constante nesta época, o voto vendido e comprado também, para
a legitimação dessas práticas três figuras faziam-se presentes: o cabalista, responsavel por unir
os votantes para seu chefe, o fosforo, pessoa que passava pelo verdadeiro votante e o capanga,
protegiam os chefes locais e garantiam os interesses dos mesmos através da violência. As
chamadas eleições a bico de pena, que ocorriam somente no papel, também eram práticas
fraudulentas consolidadas e queridas.
Segundo Carvalho (2018) o ano de 1881 representa um retrocesso em termos de
direitos politicos, uma vez que o voto de forma indireta, dos analfabetos e a participação
popular não servia mais o interesse das classes dominantes. Com isso, o cenário de 1881 é
marcado por uma mudança no tocante aos direitos políticos, visto que o critério de renda
aumenta, o voto dos analfabetos é proibido e o voto tornava-se facultativo. Assim, a maior
parte da população era excluída do direito ao voto e as vantagens da constituição de 1824 são
perdidas. A grande verdade, segundo o autor, a cerca dos direitos politicos é que bem como a
elite reproduzia o discurso de que as camadas mais pobres, a população não estava preparada
para exercer-lo, a elite também não estava preparada para efetivar-los, a cidadania no império
ainda era muito frágil.
Ademais, foram nos termos das mudanças de 1881 que boa parte dos direitos políticos
se delinearam pelo menos até 1930, depois eles percorreram um caminho de instabilidade
com as constantes mudanças nas formas governamentais, isto é,ditadura, república, golpe
entre outros.
 OS DIREITOS CIVIS
O autor destaca que a cidadania no Brasil é um processo histórico, composto assim de
caminhos e descaminhos que marcam a história do país. Ao que se refere ao conjunto de
direitos que afirmam a plenitude da cidadania está o direito civil, ou seja, os direitos
fundamentais que correspondem à garantida da liberdade, propriedade e igualdade perante a
lei. Todavia, princípios que tiveram como fatores limitantes as “raízes” do período colonial,
como a manutenção do sistema escravista, a permanência do latifúndio e a ausência de um
corpo político público que mantivesse e garantisse a liberdade de todos perante a lei, foram
esses pontos chaves para o que CARVALHO (2008) denomina por “problema da cidadania”,
e, por conseguinte limites para o exercício da cidadania civil.
A Garantia da liberdade, propriedade e igualdade perante a lei, ao longo império e nos
primeiros passos de república serão pontos a serem questionados, ao modo que, a sociedade
brasileira mesmo após a ruptura do sistema escravista, a exemplo a Abolição em 1888 que em
tese garantiria a liberdade dos sujeitos que outrora eram escravizados, sofreria com as
conseqüências da escravidão. De igual modo, o paternalismo, coronelismo, a intensa e
conflitante relação entre público e privado, estariam sempre em jogo dentro do longo caminho
que tomaria a constituição da cidadania brasileira, desde o império às lutas que compuseram o
contexto republicano, como as reivindicações pelas liberdades de organização a que lutavam
os operários no Brasil da década de 1930.

 OS DIREITOS SOCIAIS

De acordo com Carvalho (2018) os direitos sociais englobam a educação, trabalho,


salário justo, saúde, aposentadoria e usufruir de tais direitos garantem a participação na
riqueza coletiva, mas para que isso ocorra de fato é necessário ter uma máquina administrativa
do poder executivo eficiente. Ademais, somente de forma arbitraria os direitos sociais podem
existir desvinculados dos direitos políticos e civis. Assim, um dos objetivos principais na
garantia desses direitos é o bem-estar de todos, uma vez que estão inseridos na desigualdade
gerada pelo sistema capitalista, tendo em vista isso os direitos sociais têm como ideia
principal a justiça social.
Outrossim, a educação é uma ferramenta de suma importância, pois é através dela que
as pessoas tomam conhecimento de seus direitos não só sociais, como também os políticos e
civis. No tocante ao período colonial esse direito social era restrito apenas à uma pequena
parcela da população, à elite. Desse modo, dificultava a formação de uma consciência de
direitos. Além de tudo os direitos trabalhistas eram pouco cogitados, em consequência as
conquistas nessa esfera também foram lentas. Destarte, especificamente no campo, prevalecia
as relações de cunho paternalistas.
A partir do segundo reinado ocorreram diversas revoltas populares, que nos levam a
perceber que mesmo que a população não tivesse uma noção ampla a respeito de seus direitos,
tinham uma noção mínima do que concerne os direitos dos cidadãos e o dever do Estado para
com eles.
 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Carvalho (2018) afirma que a construção da cidadania ocorreu de forma contrária no


Brasil, baseado na concepção de Marshall e a consolidação dos direitos como uma ordem
natural (primeiro os civis, depois os políticos, assim, a consolidação dos direitos sociais). Os
direitos sociais desenvolveram-se de forma precária e lenta, assim como os outros. Nesse
sentido, é valido ressaltar que esses direitos até hoje não são usufruidos pela população de
forma efetiva.

Em termos de direitos politicos, observa-se que durante a maior parte da história do


Brasil o povo não tinha lugar no sistema politico seja no império ou na recente republica. Em
muitos momentos políticos, o tom adotado pelos governantes era partenalista e o
autoristarismo reinou por um tempo. Em suma, os direitos politicos no Brasil durante toda a
sua história convivem com práticas como: o clientelismo, coronelismo e a confusão público-
privado que, mesmo com os direitos politicos na republica atual pautados e presentes na
constituição de 1988, ainda insistem em deixar suas marcas na realidade brasileira.

As desiguladades socias, as injustiças e o cenário de corrupção no Brasil contribuem


para dificultar o exercicio da cidadania tanto no Império quanto no Brasil atual. A elite
brasileira tanto no Império quanto durante toda a história brasileira agiu de acordo com seus
interesses maiores. A grande verdade é que a cidadania no Brasil nunca foi prioridade.

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