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SÉRIE

2024_EM_B1_V1
Sociologia

Desenvolvimento da cidadania: os casos da


Inglaterra e do Brasil

1o bimestre – Aula 2
Ensino Médio
Conteúdo Objetivos

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● A cidadania na Inglaterra; ● Analisar o desenvolvimento da
● A cidadania no Brasil; cidadania na Inglaterra, segundo
Thomas Humphrey Marshall;
● A noção de cidadania regulada.
● Analisar o desenvolvimento da
cidadania no Brasil, segundo
José Murilo de Carvalho;
● Compreender a noção de
cidadania regulada em
Wanderley Guilherme dos
Santos.
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Habilidade
● EM13CHS605 Analisar os princípios da declaração dos Direitos
Humanos, recorrendo às noções de justiça, igualdade e
fraternidade, identificar os progressos e entraves à concretização
desses direitos nas diversas sociedades contemporâneas e
promover ações concretas diante da desigualdade e das violações
desses direitos em diferentes espaços de vivência, respeitando a
identidade de cada grupo e de cada indivíduo.
Para começar

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Introdução: desenvolvimento da cidadania
Na aula anterior, foi abordado o conceito de cidadania, enquanto um conjunto
de direitos e deveres que os indivíduos têm mediante o vínculo que estabelece
com o seu país, com o seu Estado.
Abordou-se também que a cidadania é um fenômeno complexo,
historicamente definido, e que varia de país para país.
Nesta aula, será abordada como a cidadania se desenvolveu,
comparativamente, na Inglaterra e no Brasil, a partir de dois autores: Thomas
H. Marshall (no caso inglês) e José Murilo de Carvalho (no caso brasileiro).
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Em sua obra Cidadania, status e classe
social, de 1950, o sociólogo Thomas
Humphrey Marshall, ao analisar a experiência
inglesa, define a cidadania como “um status
concedido àqueles que são membros integrais
de uma comunidade”.
Todos que possuem esse “status”, os
cidadãos, compartilham os mesmos direitos e
obrigações em um sistema de igualdade
jurídica.
Crédito da imagem: Library of the London School of
Economics and Political Science / Wikimedia
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Cidadania: o caso inglês
A Revolução Inglesa, movimento político e social que ocorreu entre 1640 e
1688 e pôs fim ao Absolutismo com a implementação da monarquia
parlamentar (regime no qual o soberano está submetido ao parlamento,
constituído por representantes do povo), engendrou, perante a lei, processos
de transformação da sociedade inglesa por mais liberdades e igualdade aos
ingleses, sobretudo a partir do século XVIII.
É nesse período que são desenvolvidos os direitos civis que, segundo
Marshall, são a base para a construção da cidadania inglesa, que ocorre de
forma lenta e progressiva ao longo de três séculos.
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Cidadania: o caso inglês
● Séc. XVIII: em primeiro lugar, foram desenvolvidos os direitos civis,
abrangendo, nessa época, principalmente as classes capitalistas
(empresários, proprietários de terra, donos dos meios de produção em
geral).
● Séc. XIX: a partir das liberdades civis conquistadas, foi possível ao povo,
sobretudo à classe trabalhadora, reivindicar direitos políticos, como o voto
e a participação no governo do país.
● Séc. XX: com maior participação política da classe trabalhadora, cada vez
mais organizada, ocorre a expansão dos direitos sociais, como resultado de
mobilizações e reivindicações.
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A partir de Marshall, “tornou-se costume desdobrar a cidadania em direitos
civis, políticos e sociais. O cidadão pleno seria aquele que fosse titular dos três
direitos. Cidadãos incompletos seriam os que possuíssem apenas alguns dos
direitos. Os que não se beneficiassem de nenhum dos direitos seriam não
cidadãos.” (CARVALHO, 2010, p. 9)
CIVIS POLÍTICOS SOCIAIS
Direito à vida, à Direito de participar Direito à saúde, ao
liberdade de ir e vir, do governo e do trabalho, à educação,
de crença, de processo político, de ou seja, às condições
pensamento, de associação, de votar materiais que
escolher o trabalho em eleições periódicas permitam uma vida
etc. etc. digna e segura.
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Cidadania: a lógica inglesa
Para Marshall, a cidadania inglesa foi desenvolvida em uma sequência cronológica
e lógica de criação dos direitos:
● As liberdades associadas aos direitos civis, como de pensamento e expressão,
possibilitaram aos ingleses reivindicar o direito de votar e de participar do
governo de seu país;
● Conquistados os direitos políticos, a classe trabalhadora conseguiu participar e
influir no processo político e eleger seus representantes por meio do Partido
Trabalhista;
● Com maior organização e participação política, os trabalhadores puderam lutar
por melhorias das condições de vida (direitos sociais).
A cidadania é um processo político de conquista e criação de direitos.
Na prática

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E, no Brasil, será que a cidadania seguiu a lógica inglesa?
Analise, abaixo, dois momentos do período republicano no Brasil:
Estado Novo (1937 a 1945) Regime Militar (1964 a 1985)
● Direitos sociais: criação da CLT e ● Direitos sociais: implementação de
ampliação dos direitos trabalhistas e políticas de assistência ao trabalhador rural
previdenciários dos trabalhadores urbanos, (aposentadoria por velhice e por invalidez,
excetuando os autônomos, domésticos e do pensão, serviços de saúde etc.).
campo. ● Direitos civis e políticos: extinção de
● Direitos civis e políticos: proibição dos partidos, bipartidarismo, eleições indiretas
partidos, supressão das eleições, repressão para presidente da República, prisões
à oposição, censura e controle da liberdade arbitrárias, práticas de tortura, censura e
de expressão, prisões arbitrárias e controle da liberdade de expressão.
execuções sumárias.
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Cidadania: o caso brasileiro
● Nos dois períodos históricos analisados, foram criados direitos sociais para
os trabalhadores.
● Ao mesmo tempo, os direitos civis (como a liberdade de expressão) e os
direitos políticos (de organização, participação e representação política)
estavam reduzidos ou suprimidos em razão dos regimes políticos não
democráticos que vigoraram.
● Embora aqueles direitos sociais tenham sido criados, eles abrangeram
diferentes trabalhadores em cada época, e não todos.
O que isso quer dizer em relação à lógica inglesa?
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Ao analisar o desenvolvimento da cidadania no Brasil, o cientista político
José Murilo de Carvalho afirma que o caminho brasileiro foi muito diferente
do que houve na Inglaterra. Segundo ele, o caso brasileiro apresenta duas
diferenças importantes:
1. Foi dada, historicamente, maior ênfase
aos direitos sociais;
2. Houve alteração na sequência em que
os direitos foram adquiridos: o social
precedeu o civil e o político.
(CARVALHO, 2010, p. 11-12)
Crédito da imagem: Revista Pesquisa Fapesp
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Cidadania no Brasil: a inversão da lógica inglesa
Para José Murilo de Carvalho, a cronologia e a lógica da sequência descrita
por Marshall foram invertidas no Brasil.

Enquanto na Inglaterra, os
... no Brasil, foi possível
direitos civis foram a base
criar direitos sociais sem os
para o desenvolvimento dos
direitos civis e políticos.
demais direitos...

Quais são as implicações disso para a cidadania no Brasil?


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Cidadania no Brasil: a cidadania regulada
No Brasil, os direitos sociais, durante muito tempo, não resultaram das
liberdades civis e da participação política das classes trabalhadoras, mas do
próprio Estado brasileiro, a partir de uma relação que Wanderley Guilherme
dos Santos definiu como cidadania regulada.
Segundo Santos, durante a era Vargas (1930-1945), a cidadania esteve atrelada
ao reconhecimento formal (mediante leis) por parte do Estado da profissão
exercida pelo indivíduo, que assegurava direitos sociais, como os trabalhistas,
e acesso a serviços públicos a uma parte dos trabalhadores. Os que exerciam
profissões não reconhecidas, como os trabalhadores rurais e domésticos, eram
cidadãos incompletos, uma vez que não tinham os mesmos direitos.
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Cidadania no Brasil: a cidadania regulada
Essa forma de regular a cidadania perdurou por décadas. Além de
institucionalizar desigualdades, criou barreiras à entrada das camadas
populares na arena política, estimulando um comportamento de submissão
política perante o Estado. Assim, a cidadania foi, no Brasil, “destituída de
qualquer conotação pública e universal”. (SANTOS, 1979, p. 104). Além
disso, outros efeitos desse processo foram:
● Disseminação de práticas paternalistas e clientelistas em detrimento da
implementação de políticas públicas universalizantes;
● Desvalorização do processo democrático e participativo como forma de
resolução de conflitos e exercício do poder.
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A cidadania no Brasil e a Constituição de 1988
Por sua vez, a Constituição Federal de 1988 afirma como um dos fundamentos
do Estado brasileiro a cidadania (art. 1o, II ), que se expressa na garantia da
igualdade (art. 5o) e dos demais direitos e deveres individuais e coletivos
(Capítulo I), dos direitos sociais (Capítulo II) e dos direitos políticos (Capítulo
IV).
Desde então, abriu-se a possibilidade de esses direitos andarem juntos pela
primeira vez na história do país, sendo a Carta Magna um importante
instrumento de empoderamento, luta e reivindicações, sobretudo para os
sujeitos historicamente marginalizados, na criação, manutenção e ampliação
de direitos – o direito a ter direitos.
Aplicando

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Considerando o que afirma José Murilo de Carvalho sobre a cidadania no
Brasil e a situação que você percebe em nossa sociedade em relação aos
direitos civis, sociais e políticos, você acha que:
1. No Brasil, todos são, de fato, cidadãos?
2. A cidadania está plenamente desenvolvida em nosso país?
O que aprendemos hoje?

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O desenvolvimento da cidadania:
● é complexo e historicamente marcado;
● desenvolve-se a partir de processos
políticos, sociais, econômicos e culturais
específicos de cada sociedade;
● segue lógicas e caminhos distintos nos
países; e
● é intensificado com a participação política,
sobretudo de segmentos marginalizados da
sociedade.
Referências

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Slides 5, 14 e 15 – CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2010.
Slides 6, 7 e 8 – MARSHALL, Thomas Humphrey. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro, Zahar, 1967.
Slides 13 e 14 – SANTOS, Wanderley Guilherme dos. Cidadania e justiça: a política social na ordem brasileira.
Rio de Janeiro: Campus, 1979.
Slide 4 – www.commons.wikimedia.org/wiki/File:Professor_Thomas_Humphrey_Marshall,_c1950.jpg
Slide 11 – www.revistapesquisa.fapesp.br/um-antidoto-contra-a-bestializacao-republicana/
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