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As novas doutrinas sociais e o

Socialismo
A Questão Social

• A industrialização e a expansão do capitalismo → difundiram o trabalho assalariado → No entanto, as


condições de trabalho dos operários continuavam precárias.
• A vida de um operário não era nada fácil: jornada de trabalho, em média, de dezesseis horas diárias;
ausência de equipamentos de segurança; fábricas sem as mínimas condições de higiene; não havia
férias ou qualquer outro direito trabalhista. Além disso, os trabalhadores tinham péssimas condições de
vida, pois habitavam cortiços em que não havia água potável e nem sistema de esgoto; não tinham
acesso a sistemas de saúde; e muitos acabavam morrendo de fome, frio e/ou doenças causadas pela
imundice na qual viviam.
• Mulheres e crianças também sofriam com a exploração industrial, recebiam salários menores que os
dos homens (muitas vezes, a metade), mas trabalhavam sob à mesma disciplina imposta aos operários
do sexo masculino.
• Esse cenário, uma consequência da Revolução Industrial, é chamada de Questão Social e deu origem
a vários movimentos operários que tiveram início na Inglaterra e depois se espalharam para outros
países que iniciavam a sua industrialização. Esses movimentos eram formas de reação dos
trabalhadores às dificuldades que enfrentavam.
Os primeiros movimentos operários: Ludismo, Cartismo e Sindicalismo

Ludismo
• Operários invadiam as fábricas e destruíam as máquinas. Na percepção dos ludistas, as máquinas seriam as
responsáveis pelas péssimas condições de trabalho e desemprego dos trabalhadores. Assim, o artesão preservava
o seu trabalho; o camponês salvava o seu emprego substituído pelas máquinas; e o operário fazia uma pressão pelo
aumento do seu salário. Os participantes do movimento também enviavam cartas aos patrões com ameaças e
exigindo a desmontagem das máquinas, além de muitos sabotarem a produção.
• O nome do movimento se originou do operário Ned Ludd que, segundo a tradição, quebrou, a marteladas, os teares
da oficina onde trabalhava. O movimento surgiu na segunda metade do século XVIII e o Parlamento inglês
estabeleceu, em 1769, uma lei que punia, com pena de morte, aqueles que destruíssem fábricas e máquinas. Mesmo
com a forte repressão do governo inglês, o Ludismo ganhou muito força, especialmente entre 1811 e 1817.

A quebra das máquinas, principal característica do


Ludismo.
Cartismo
• Formou-se, a partir de 1830, devido à falta de representantes dos operários no governo. O movimento
cartista era composto de operários, artesãos e até pequenos burgueses. Redigiram uma carta chamada
“Carta do Povo” (1836) e enviaram-na ao Parlamento inglês. A principal reivindicação era o sufrágio
universal masculino. Reivindicavam também a representação igual para todas as classes; fim do voto
censitário; voto secreto; remuneração aos parlamentares.
• O Parlamento recusou qualquer tipo de mudança, mesmo com o início de uma greve dos
trabalhadores. Em 1852, devido o espantoso crescimento econômico da Inglaterra comandada pela
rainha Vitória, o Cartismo declinou e acabou derrotado.

Motim cartista em Londres.


Sindicalismo
• Organizações operárias de ajuda mútua que ganharam força ao longo do século XIX. Na Inglaterra,
essas organizações ficaram conhecidas como trade unions, cuja preocupação era ajudar os
trabalhadores nas dificuldades econômicas e lutar por melhores condições de trabalho.
• Tal movimento de união dos trabalhadores resultou na formação de órgãos representativos de classe,
os chamados sindicatos. O desenvolvimento do sentimento de unidade do interesse de classe foi o
principal fator para a criação dos sindicatos.
• Apesar do Parlamento inglês proibir, por meio de decretos de leis, qualquer tipo de organização
operária, as lutas e a organização da classe continuaram. As leis antissindicais acabaram sendo
derrubadas, nas primeiras décadas do século XIX, devido a organização de greves, principal forma de
manifestação dos sindicatos, e das lutas dos trabalhadores. A partir de então, surgiram inúmeras
organizações sindicais, dando mais força ao movimento operário e alcançando algumas conquistas
como a proibição do trabalho de mulheres em minas (1842) e a contínua redução da jornada de
trabalho de crianças e adultos.
Greves organizadas por
sindicatos permanecem
como uma das principais
ações de trabalhadores na
luta por melhorias nas
condições de trabalho. Na
imagem ao lado, greve
organizada pela FUP
(Federação Única dos
Petroleiros) e seus
sindicatos filiados em
outubro de 2019.
Socialismo
• A luta pelos operários por melhores salários e condições de trabalho se consolidou durante o século XIX. Surgiram
teorias que buscavam superar as contradições do capitalismo e propor uma sociedade mais igualitária e justa.

O Socialismo Utópico
• No início do século XIX → grande desigualdade social entre os burgueses mais ricos e os proletários passou a ser
questionada também por intelectuais e membros da própria burguesia.
• Nesse primeiro momento → não havia teorias formuladas que explicassem o desequilíbrio social e propusessem
soluções concretas → Socialismo Utópico. Acreditavam numa mudança social protagonizada pela burguesia.
• Robert Owen (1771-1858) → industrial britânico. Criou comunidades industriais na Escócia e nos EUA, nas quais os
trabalhadores tinham direito a pagamentos extras proporcionais ao seu trabalho, creche, educação, entre outros
benefícios → Pretensão → melhorar as condições de vida dos operários e das famílias → aumento da
produtividade das suas fábricas.
• Charles Fourrier (1772-1827) → francês. Propôs o desenvolvimento de comunidades chamadas falanstérios. Nelas,
não haveria divisão social: as pessoas trabalhariam em cooperativas nas quais a produção seria distribuída
igualitariamente.
• Saint-Simon (1760-1825) → francês de origem nobre. Criticava o fato de existirem pessoas ociosas enquanto outras
trabalhavam em excesso.
Socialismo Científico
• Socialistas utópicos → foram contestados por alguns pensadores que consideravam suas ideias inconsistentes e
difíceis de serem colocadas em prática.
• Os alemães Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) estudaram o processo capitalista, no intuito de
descobrir como e por que ele gerava desigualdade. Propuseram então soluções mais concretas para os problemas
dos operários. O resultado desse trabalho foi chamado de Socialismo Científico.
• Em 1848 → Publicaram um livro que seria o marco do Socialismo Científico: Manifesto Comunista.
• Nessa obra os autores definem a História como sendo uma sucessão de lutas de classe, pois sempre ocorreu a
exploração de uma classe social (a que têm os meios de produção) por outra. Ex.: livre contra escravos; senhor
contra servo; burguês contra proletariado.
• Outro conceito importante era o da mais-valia → o trabalhador vende sua força de trabalho para o patrão, mas não
recebe o valor justo deste. O valor do salário é mais baixo que o valor do trabalho produzido. A diferença é
apropriada pela burguesia.
• Por que o proletário vendia sua força de trabalho? Porque a burguesia era a dona dos meios de produção, ou seja,
das fábricas, das terras e do capital.
• Segundo os dois, essa relação de dominação chegaria ao fim quando o proletariado lutasse para superar a
burguesia e tomasse o poder político e econômico.
• Quando assumisse o poder, o proletariado assumiria o controle de produção e do capital e proporcionaria uma
sociedade comunista, na qual não existiriam classes sociais e todos teriam acesso aos meios de produção.
Karl Marx (1818-1883) Friedrich Engels (1820-1895)
Anarquismo
• Outra corrente importante de pensamento do século XIX foi o Anarquismo.
• Princípio básico era privilegiar a liberdade do ser humano. Segundo eles, a humanidade não consegue ser
totalmente livre, pois segue regras preestabelecidas por instituições como o Estado.
• Negavam a existência de instituições que exerciam poder autoritário e que impunham normas. Queriam a
formação de comunidades nas quais todas as pessoas participassem da administração. Questionavam também as
crenças religiosas, pois as consideravam um mecanismo de dominação.
• Principais pensadores: Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865) → considerava a propriedade privada um roubo;
Mikhail Bakunin (1814-1876) → defendia o fim das classes sociais, da desigualdade política e do direito de
herança.

Pierre-Joseph Proudhon.
Fotografia de 1862. Mikhail Bakunin.
Socialismo Científico e Anarquismo
• Para analisarmos a diferença entre o Socialismo Científico e o Anarquismo é preciso entender primeiro
as concepções de “Socialismo” e “Comunismo”. Socialismo → como se fosse uma fase de transição
do capitalismo para o comunismo. É um conjunto de doutrinas e medidas que tem por fim a
socialização dos meios de produção. Comunismo → fase posterior ao período socialista, é um sistema
de governo onde não existem classes sociais, propriedade privada e, o mais importante, não há figura
do Estado. As decisões políticas são tomadas pela democracia operária.
• Anarquistas e socialistas científicos desejavam superar o capitalismo e alcançarem uma sociedade
totalmente igualitária, sem Estado, sem propriedade privada e sem classes sociais. Porém, o
Socialismo Científico e o Anarquismo se distanciam ao proporem os meios para atingirem tais
objetivos: os primeiros defendiam a necessidade da implementação de um ditadura do proletariado
como fase de transição para o comunismo; os anarquistas pregam que todo Estado é opressor e que
mesmo um Estado controlado e governado pelo proletariado, como queriam os socialistas científicos,
oprime. Sendo assim, para o Anarquismo, a máquina do Estado não deveria ser tomada, mas sim
definitivamente abolida, sem passar pela fase socialista.
Socialismo Cristão
• Diante do contexto de intensa mobilização operária na luta por melhores condições de trabalho e de
vida, a Igreja Católica decidiu se manifestar, originando uma corrente de pensamento conhecida como
socialismo cristão ou Doutrina Social da Igreja.
• O então papa Leão XIII, em 1891, abriu a discussão sobre a Questão Social na Igreja Católica através
da encíclica (carta papal) Rerum Novarum (Das Coisas Novas). No documento, o papa criticou
duramente a desigualdade causada pelo capitalismo. Contudo, simultaneamente, reprovou o
Socialismo Científico, defendendo que o capital e o trabalho deveriam viver em colaboração um com o
outro, obedecendo os princípios da caridade cristã.
• Leão XIII reforçou também os deveres mútuos de proletários e capitalistas. É dever do operário não
lesar o seu patrão, nem os seus bens, nem a sua pessoa, realizando corretamente o trabalho ao qual
se comprometeu por contrato livre e de acordo com a equidade. As reivindicações operárias não
devem possuir teor violento e nunca assumir forma de revoltas. Já o patrão, não deve tratar o
trabalhador como escravo, respeitando a sua dignidade de homem e cristão.
• O pontífice defendia que a remuneração do trabalhador não poderia ser influenciada pelas leis de
mercado e sim estabelecida de uma forma justa. Paralelamente, Leão XIII defendeu a propriedade
privada como um direito natural e considerou obrigação do Estado proteger esse direito através da
elaboração de leis sábias.
Papa Leão XIII (1810-1903)
A Comuna de Paris (1871)
• A cidade de Paris passou pelo evento que foi considerado a primeira experiência de governo do proletariado e
inspirado em ideais socialistas da História: a Comuna de Paris. Durante 72 dias, entre março e maio de 1871, a
cidade foi governada por populares.
• A derrota na Guerra Franco-Prussiana (1870-1871), levou a queda do regime imperial de Napoleão III, provocando à
proclamação de uma República na França. O novo governo, de características conservadoras, desagradou as
camadas populares que passavam por graves problemas sociais como fome, doenças e outras privações causadas,
principalmente, pelos efeitos da guerra. Para piorar, foi firmado um acordo de paz com os prussianos que impunha
perdas territoriais e pesadas multas à França, o que foi considerado humilhante e revoltou ainda mais os franceses.
Nesse contexto de tensão, uma revolta popular, sobretudo operária, tomou o poder em Paris.
• Os amotinados, que uniam grupos de diversas correntes políticas, principalmente socialistas, formaram um governo
popular, a comuna, por meio do sufrágio universal. No poder, os participantes da comuna tomaram algumas
medidas como controle das fábricas para as associações de trabalhadores; ensino laico, obrigatório e gratuito;
substituição do Exército por milícias populares; controle do preço dos alimentos; medidas trabalhistas como a
redução da jornada de trabalho.
• Passados dois meses de governo, uma violenta repressão, contando com a ajuda da elite econômica francesa, foi
organizada pelo governo republicano que se instalara em Versalhes. A repressão foi bem-sucedida, colocando fim à
Comuna e provocando a morte de aproximadamente 20 mil pessoas , além de milhares de deportações e prisões. A
revolução, mesmo derrotada, serviu de exemplo para outras organizações operárias e tornou-se símbolo de luta
dessa classe social e dos comunistas.
Barricadas erguidas pelos integrantes da comuna ou communards.

Queda da coluna de Vendôme


durante a Comuna de Paris, maio de
1871.
A luta das mulheres
• No século XIX, a sociedade ocidental era regida por uma moral burguesa que mantinha uma sociedade patriarcal.
• Entre as camadas populares, a vida das mulheres era extremamente difícil. Eram obrigadas a trabalhar para
ajudarem no sustento da numerosa família, recebendo salários inferiores aos dos homens. Além disso, tinham o
serviço doméstico, considerado tarefa exclusivamente feminina. Portanto, acabavam sobrecarregadas com uma
dupla jornada.
• Porém, ao longo do século XIX, muitas mulheres não se calaram e não se submeteram às imposições masculinas.
Elas também participaram ativamente das lutas operárias e outros movimentos, desejando conseguir não só
melhorias nas condições de vida e trabalho dos operários, mas, também, legalização do divórcio, educação de
qualidade, igualdade de tratamento e salário equivalente ao dos homens. Mesmo assim, os homens participantes
dos movimentos operários não defendiam os interesses das mulheres. O sufrágio universal, proposto pelo Cartismo,
era pensado apenas para os homens.
• Diante de todas essas adversidades, muitas mulheres se dedicaram e entregaram sua vida na busca dos seus
direitos. Em fins do século XIX e ao longo do XX, a luta feminina ganhou força e extrapolou questões trabalhistas,
passando a ter características políticas. Tem origem então o Movimento Sufragista defendendo o direito de voto e
candidatura da mulher. Mesmo com a conquista desses direitos, após uma longa e difícil luta, as causas femininas
não pararam. O Movimento Feminista ainda busca a total igualdade de tratamento em relação aos homens e o fim
da violência contra as mulheres.
Annie Kenney e Christabel Pankhurst, duas Cartaz do Movimento Sufragista brasileiro
ativistas em favor do voto feminino. Fotografia no início do século XX.
de 1908.

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