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DO SOCIALISMO UTÓPICO AO MARXISMO

• Charles Fourier (1772-1837) foi defensor da criação de comunidades, os falanstérios, marcadas pela
cooperação e pela autossuficiência, nos quais a responsabilidade social imperava. Via na cooperação
entre os indivíduos, a forma para aumentar a produtividade da comunidade. Nos falanstérios, o trabalho
era entendido como um prazer, sendo adequado à personalidade de cada um. Uma dessas sociedades
ideais chegou a estabelecer-se nos Estados Unidos mas teve uma existência efémera;
• Robert Owen (1771-1858), ele próprio um industrial abastado, fundou um modelo de comunidade
industrial organizado segundo os princípios da cooperação mútua, tendo melhorado os salários e as
condições de trabalho (e, consequentemente, os seus lucros). Concedeu educação aos operários e aos
filhos destes, por considerar que, motivados, os trabalhadores produziam mais. As suas ideias tiveram
influência no desenvolvimento do pensamento socialista britânico;
• Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865) argumentava que a propriedade, enquanto exploração por parte
de outro, era um roubo, defendendo que o Estado não era necessário, uma vez que todos os trabalhadores
detinham o poder. Defendia a formação de associações de operários e a concentração da propriedade nas
mãos dos camponeses ou dos operários que, deste modo, administravam por sua conta os meios de
produção.

As propostas dos socialistas utópicos foram consideradas demasiado idealistas, pois tinham uma
ligação frágil e pouco realista com o mundo do trabalho, e, possivelmente por isso, não apresentavam
soluções concretas e eficazes.

Ao socialismo utópico contrapôs-se, em meados do século XIX, uma nova forma de pensamento
sobre a sociedade e a sua transformação, o socialismo científico, um modelo revolucionário de
transformação da sociedade que teve como figuras destacadas os alemães Karl Marx (1818-1883) e
Friedrich Engels (1820-1895). Karl Marx é considerado o fundador do marxismo, nome que deriva do seu
nome, doutrina económica e política que centrava a transformação da sociedade na luta de classes e na
revolução que levaria o proletariado ao poder e ao controlo dos meios de produção. O marxismo
prevaleceu como o modelo orientador do movimento operário, a partir da segunda metade do século XIX.
A teoria marxista assumiu expressão, estrutura e coesão, aquando da publicação de O Capital em 1867.

As ideias de Karl Marx e de Friedrich Engels foram divulgadas através do Manifesto Comunista,
publicado no ano de 1848, no qual expuseram alguns dos grandes princípios da teoria marxista.
De acordo com o pensamento marxista desenvolvido por Marx e Engels, o desenvolvimento das
sociedades era determinado por uma sucessão de modos de produção (esclavagismo, feudalismo e
capitalismo) e a passagem de um a outro modo de produção assentava na luta de classes, como forma de
alcançar um novo estádio da evolução social. No Manifesto de 1848 apelaram à união mundial dos
operários, ou seja, à internacionalização do movimento sindical e operário, baseado na solidariedade de
classe entre os trabalhadores.
Os princípios do marxismo defendiam que as sociedades contemporâneas eram marcadas pela luta
de classes entre a burguesia e o proletariado. Para Karl Marx e Engels, os capitalistas retiravam as mais-
valias do trabalho (lucro) que lhes garantia a acumulação de capital, enquanto os trabalhadores iam
empobrecendo. A teoria marxista defendia que a passagem para um novo estádio na evolução da
sociedade implicava, necessariamente, a abolição da propriedade privada e do lucro e a tomada do poder
por parte do proletariado. De acordo com o marxismo, o operariado, ao apropriar-se dos meios de
produção, afastava a burguesia, assumindo o controlo dos meios de produção e do Estado. A afirmação
da ditadura do proletariado surgia como uma etapa intermédia na construção do comunismo,
eliminando as classes exploradoras. Nessa fase da transformação revolucionária da sociedade, o

Fortes, A. et al. Linhas da História. Areal Ed.


capitalismo era substituído pelo comunismo, marcado por uma sociedade sem classes, na qual os meios
de produção estavam nas mãos dos trabalhadores, culminando na ideia de que o próprio Estado deixava
de ser necessário.

O caráter político do marxismo foi reconhecido na generalidade dos países pelos líderes sindicalistas,
em 1864, aquando da realização, em Londres, da I Internacional, como foi atrás referido e onde se
destacou Karl Marx. A Internacional, inspirada nas ideias marxistas, defendeu a greve geral como
instrumento de luta e de pressão política, como estratégia para alcançar a coletivização dos meios de
produção.

As divisões internas entre as propostas de Karl Marx e de Mikhail Bakunine, sobretudo visíveis a partir
de 1872, conduziram à desagregação da I Internacional, em 1876. As negociações no sentido de restabelecer
a Internacional Operária concretizaram-se apenas em 1889, no Congresso de Paris, com a formação da II
Internacional ou Internacional Socialista (DOC. 22, p. 104). Esta pretendeu unir os vários partidos socialistas,
que entretanto se haviam formado na Europa. Entre as principais decisões da Internacional destacaram-
se: o estabelecimento do 1 de Maio como o dia internacional da solidariedade operária (Dia Internacional
do Trabalhador); o início da luta pela jornada de oito horas 4 de trabalho; a realização de reuniões periódicas;
o incentivo e apoio à criação de partidos socialistas nos diferentes países.

A CONTESTAÇÃO DO MARXISMO: O SOCIALISMO REFORMISTA

As propostas socialistas de transformação revolucionária da sociedade, defendidas por Karl Marx e


Friedrich Engels, foram revistas, no final do século XIX, por Eduard Bernstein (1850--1932), um dos
líderes do partido Social-Democrata alemão (SPD). Bernstein, na sua permanência em Londres, entre 1888
e 1901, aprofundou a sua reflexão sobre as teorias marxistas e sobre a natureza do capitalismo, da sociedade
e do socialismo. Nas suas obras divulgadas, sobretudo entre 1897-1899, rejeitou os argumentos de Marx e
Engels sobre o derrube do capitalismo através da revolução. Considerava que, ao contrário do que Marx
previra, o capitalismo não tinha chegado ao fim, apesar das graves crises cíclicas, mas antes se reforçara e
adaptara a novas condições da evolução económica.

Bernstein recusou a ideia do processo revolucionário da ditadura do proletariado e da luta de classes e


defendeu o socialismo reformista, considerando que era através da realização de reformas legislativas que
se podia transformar as sociedades e que o poder devia ser alcançado pela via democrática, defendendo a
conciliação do liberalismo com o socialismo, com vista a uma maior justiça social. Deste modo, as
conquistas do socialismo seriam alcançadas de forma progressiva e não pela via revolucionária. Eduard
Bernstein foi considerado revisionista pelos marxistas (DOC. 23, p. 104).

As propostas socialistas conheceram um longo percurso, desde o início do século XIX, com os
socialistas utópicos, passando pela via revolucionária defendida por Karl Marx. O socialismo, no final de
Oitocentos, assumiu-se como uma ideologia com influência no plano social e político que veio a influenciar,
de forma decisiva, o mundo contemporâneo a partir do início do século XX.

Fortes, A. et al. Linhas da História. Areal Ed.

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