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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL DE NITERÓI


Tópicos Especiais em Fundamentos da Vida Social – Teoria do Estado e Serviço Social
Docente: Ana Paula Ornellas Mauriel

Paulo André de Barros Almeida

Resenha sobre o livro Manifesto Comunista – Karl Marx e


Friedrich Engels
O Manifesto Comunista foi um livro publicado, pela primeira vez, entre o final de
fevereiro ou o começo de março do ano de 1848, em Londres. O livro foi escrito pelos
“pais” do socialismo, Karl Marx e Friedrich Engels em um contexto histórico em que,
nesse ano, ocorria o grande processo de lutas urbanas das Revoluções de 1848,
chamadas também de Primavera dos Povos. Esse seguimento foi um processo
revolucionário de quase um ano que atingiu os principais países Europeus e é uma
análise da Revolução Industrial contemporânea a ela. Além disso, duas de suas maiores
reivindicações foram reformas sociais, como a conquista da diminuição da jornada
diária de trabalho de doze para dez horas e o voto universal que, antes, era apenas para
os homens.
Vale ressaltar, ainda, que o Manifesto foi a plataforma da Liga dos Comunistas: uma
associação de trabalhadores que antes era formada apenas por alemães, mas, que depois
passou a ser integrada por membros internacionais, se tornando a primeira organização
internacional marxista. Ela foi fundada em 1847 em Londres, na capital da Inglaterra,
também por Marx e Engels. Sua criação foi consequência da reorganização da Liga dos
Justos, associação secreta alemã de operários e artesãos, que surgiu na década de 1830.
O lema da Liga dos Comunistas foi: "Proletários de Todos os Países Uní-vos!". Os
principais pontos de apoio da Liga se encontravam em Londres, Paris, Bruxelas, Suiça e
na Alemanha. Os membros da Liga tomaram parte ativa na revolução de 1848,
principalmente na Alemanha, porém, depois da detenção da maioria de seus ativistas, a
influência dos oportunistas se reforçou no seio da Liga. Dessa forma, em 1852, a Liga
proclamou a sua autodissolução.
Logo nas primeiras partes do livro, Marx e Engels denunciam e denominam a
burguesia como uma classe opressora, além de exemplificar as diversas formas de
opressão social durante os séculos. Em contrapartida, apontam também seu grande
papel revolucionário, tendo destruído o poder monárquico e religioso, valorizando a
liberdade econômica extremamente competitiva e um aspecto monetário frio em
detrimento das relações pessoais e sociais, que tratava o operário como uma simples
peça de trabalho. Sobre o proletariado, afirmam que “Sua luta contra a burguesia
começa com sua própria existência" (MARX, Karl & ENGELS, 1848). Os referentes
autores afirmam que quando a classe operária toma conhecimento e consciência de toda
essa situação ele tende a se organizar e lutar contra a opressão. O Manifesto Comunista
faz uma dura crítica ao modo de produção capitalista e à forma como a sociedade se
estruturou através dele. Busca organizar o proletariado como classe social capaz de
reverter sua precária situação e descreve os vários tipos de pensamentos comunistas,
assim como define o objetivo e os princípios do socialismo. Marx e Engels defendiam a
especificidade e o contexto próprio de cada sociedade em sua luta de classes. Portanto,
cada localidade também possuía partidos políticos e movimentos sociais diferentes, e os
comunistas se aliariam a cada um conforme os seus objetivos. Em outras palavras, o
objetivo comunista, de transformação radical da sociedade capitalista, é o que une
pessoas que se identificam com essa luta política em todo o mundo, independentemente
de sua nacionalidade.
Nesse sentido, no meio social é possível encontrar várias transformações, as vezes
lentas, mas que estão sempre no sentido de modificar algo antigo em algo que está
vigente na sociedade da época. Podemos pegar como exemplo a própria luta de classes
entre proletariado e burguesia. A consciência de classe vai contra a ideologia é o
momento em que os trabalhadores percebem que estão sendo explorados. Assim nos
fragmentos retirados do texto temos que a revolução dos proletariados traria a
renovação da organização social exprimindo a ordem mundial fazendo assim com que
as velhas e oprimentes leis universais se deteriorem criando uma outra consciência
coletiva melhor. Também podemos apontar no primeiro trecho que estaríamos frente de
uma dialética na formação de conceitos dentro da sociedade. Os trechos abaixo retirados
do livro caracteriza a questão:
As demarcações e os antagonismos nacionais entre os povos desaparecem
cada vez mais com o desenvolvimento da burguesia, com a liberdade do
comércio e o mercado mundial, com a uniformidade da produção industrial e
as condições de existência que lhe correspondem. (MARX, Karl & ENGELS,
1848).

E no:

Na sociedade burguesa, o trabalho vivo é sempre um meio de aumentar o


trabalho acumulado. Na sociedade comunista, o trabalho acumulado é sempre
um meio de ampliar, enriquecer e melhorar cada vez mais a existência dos
trabalhadores. (MARX, Karl & ENGELS, 1848).

É possível listar diversos objetivos do texto do Manifesto Comunista. Um deles,


entretanto, diz respeito à possibilidade de analisar a realidade socioeconômica e avaliar
as possibilidades de transformação da sociedade. Com isso, seria possível delinear
também objetivos mais específicos de uma luta política. No momento de escrita do
texto, as diversas crises políticas e o fortalecimento do movimento operário traziam a
esperança de uma revolução. Embora uma revolução comunista nunca tenha se
concretizado na visão marxista, os autores deixaram uma contribuição analítica sobre a
sociedade. Atualmente, essa teoria já foi revisada e transformada, mas continua
relevante. Os objetivos políticos do comunismo são explanados com cuidado por Marx
e Engels nessa obra, em um momento em que diversos movimentos sociais eclodiam em
diferentes países. Assim, é produtivo debater sobre o quanto suas reflexões são
interessantes ainda hoje.

Ademais, os autores identificam no texto e nos apresenta 3 tipos de socialismo: o


socialismo reacionário, que seria uma forma de a elite conquistar a simpatia do povo e,
mesmo tendo analisado as grandes contradições da sociedade, olhava do ponto de vista
burguês e procurava manter as relações de produção e de troca. O socialismo
conservador, com seu caráter reformador e anti-revolucionário. E, por fim, o socialismo
utópico, que apesar de fazer uma análise crítica da situação operária não se apoia em
luta política, tornando a sociedade comunista inatingível.

Em suma, o Manifesto Comunista apoia um governo transitório que promova:

 Abolição da propriedade da terra e seu rentismo;


 Uma tributação progressiva;
 Abolição dos direitos sobre a herança;
 Confisco das propriedades de rebeldes e foragidos;
 Centralização do crédito pelo atacado nas mãos do Estado em apoio
a cooperativas de microcrédito ;
 Estatização total das empresas de transporte e comunicação;
 Estatização dos meios de produção, da agricultura e das fábricas de forma
planejada;
 Apoie a igualdade entre todas as formas de trabalho além da criação de um
corpo de funcionários públicos voltados para a agricultura;
 Integração completa entre campo e cidade;
 Educação infantil universal em escolas públicas, proibição do trabalho infantil
e integração entre mundo fabril e mundo escolar.

Por fim, no quarto capítulo fecha com as principais ideias do Manifesto, com destaque
na questão da propriedade privada e motivando a união entre os operários. Acentua a
união transnacional, em detrimento do nacionalismo esbanjado pelas nações, como
manifestado na célebre frase: “Proletários de todos os países, uni-vos!”.
Referências:
MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. Osvaldo Coggiola (org.)
SP. Boitempo Editorial. 2007.
MARX, Karl (1859 [1977]) “Prefácio à Contribuição da Economia Política”, in Karl
Marx e Friedrich Engels – Textos 3, São Paulo: Edições Sociais: 300-303.
Originalmente publicado em alemão, 1859.

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