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TEMA 2 - O LONGO SÉCULO XIX (1815-1914)

O tempo histórico é marcado por continuidades e ruturas sociais, não podendo coincidir com uma
cronologia que não tenha em conta acontecimentos marcantes. O «longo século XIX» é iniciado
pela afirmação de uma ordem social e internacional no Congresso de Viena de 1815, ordem que
será contestada e transformada ao longo de cem anos. Mas será a Grande Guerra, em 1914, a iniciar
um novo ciclo histórico, rompendo ou reformulando o legado liberal do século XIX, num sentido
antiliberal e antidemocrático ou democratizante do sistema liberal.

LEITURAS RECOMENDADAS

Leitura básica:

− René Rémond, Introdução à História do Nosso Tempo, Do Antigo Regime aos Nossos Dias,
Lisboa, Gradiva, 1994 – Terceira parte: O Século XIX (1815-1914)

Completar informação:

O estudo do século XIX pode exigir a consulta de alguma das histórias universais indicadas no tema
anterior.

− História Universal, Lisboa, Lexicultural (sob licença do Círculo de Leitores, Ltd.), 1994 (1ª
edição portuguesa 1990). A obra original é alemã. Foi revista e adaptada por Jorge Borges de
Macedo. Os tomos que interessam são o III e o IV. Contém ilustrações, mapas, cronologias
por capítulo e uma geral, no final do IV tomo.

Aprofundar conhecimentos:

Se quiser aprofundar conhecimentos sobre alguns dos tópicos da matéria, recomendamos:

BAYCROFT, Timothy, O Nacionalismo na Europa. 1789-1945, Lisboa, Temas e Debates, 2000.


BERNSTEIN, Serge, e MILZA, Pierre (Coord.) – História do Século XIX. Mem Martins,
Publicações Europa-América, 1997.
BERNSTEIN, Serge, e MILZA, Pierre – História da Europa: do Século XIX ao início do Século
XX. Lisboa: Plátano, 2007.
EVANS, Richard J - A Luta pelo Poder. Europa 1815-1914. Lisboa, Edições 70, 2018.
HOBSBAWM, E.J. A Era do Capital (1848-1875). Lisboa: Editorial Presença, 1979.
PRIESTLAND, David, A Bandeira Vermelha. História do Comunismo. Lisboa: Texto, 2013.

Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.


TEMA 2 - O LONGO SÉCULO XIX (1815-1914)

I PARTE

ATIVIDADES FORMATIVAS

Doc. A: A Europa Central do Tratado de Viena

Jacques Néré, O Mundo Contemporâneo, Lisboa, Ática, 1976, p. 55

1. Esquematize as principais mudanças que se registam no mapa político da Europa,


como consequência do impacto das guerras napoleónicas e dos tratados entre as
potências vencedoras.
2. Consulte no Dicionário de História de Portugal, dirigido por Joel Serrão, o artigo
"Carta Constitucional" (vol. I, pp. 494-497), para se inteirar do seu conteúdo e
significado político. Tendo presente o exemplo português, analise a importância da
adoção das cartas constitucionais pelos regimes monárquicos europeus, no quadro
duma mudança política de sentido liberal e moderada.
3. Exponha os princípios fundamentais das ideologias políticas liberais.

4. Sistematize, de forma esquemática, os aspetos que caracterizam os regimes políticos


liberais europeus, no século XIX.

5. Estabeleça as diferenças entre o pensamento político liberal e o democrático.

6. Disserte sobre a importância do acesso à educação e à informação para o exercício


pleno dos direitos e deveres dos cidadãos, tendo por base a sua experiência pessoal
de vivência num regime democrático.

Para dissertar sobre qualquer tema deve elaborar um plano estruturado para o desenvolvimento
das suas ideias. Por exemplo:

6.1 O que se entende por direitos e deveres dos cidadãos


6.2 Os vários tipos de direitos e deveres dos cidadãos
6.3 As condições gerais necessárias para o seu exercício pleno
6.4 A importância da educação e da informação nesse processo

7. Leia o romance Ilusões Perdidas de Balzac.


7.1 Procure caracterizar a sociedade burguesa desse tempo.
7.2 Defina o ponto de vista ideológico de Balzac sobre a sociedade que retrata.
8. Veja o filme O Leopardo de Visconti e analise o filme do ponto de vista da relação social
entre a antiga aristocracia e a burguesia emergente.
9. Exponha algumas das ideias fundamentais do marxismo, tendo em conta o excerto
apresentado de O Manifesto Comunista.
Em novembro de 1847, a Liga dos Comunistas, união operária internacional, encarregou
K. Marx e F. Engels de redigirem o manifesto do partido. O texto, editado em Paris em
1848, teve uma divulgação extraordinária e sucessivas reedições. No prefácio à edição
alemã de 1872, já os seus autores consideravam que o programa apresentado tinha de ser
revisto. Contudo, tratando-se dum documento histórico, julgavam que não tinham o
direito de o modificar.

Leia o programa comunista ou, se tiver possibilidade, o texto integral do Manifesto de


1848.

Doc. B: O programa comunista, de 1848

“Já antes vimos que o primeiro passo na revolução operária é a passagem do proletariado a
classe dominante, a conquista da democracia pela luta.
O proletariado usará o seu domínio político para ir arrancando todo o capital das mãos da
burguesia, para centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do estado, isto é, do
proletariado organizado como classe dominante, e para aumentar o mais rapidamente
possível a massa das forças de produção.
Naturalmente, tudo isso a princípio só pode acontecer mediante intervenções despóticas no
direito de propriedade e nas relações de produção burguesas, através de medidas, portanto,
que economicamente parecem insuficientes e insustentáveis, mas que no decurso do
movimento levam para além de si mesmas e são inevitáveis como meios para revolucionar
todo o modo de produção.
Estas medidas serão, naturalmente, diferentes consoante os diferentes países.
Para os países mais avançados, contudo, poderão ser aplicadas as seguintes na sua quase
totalidade:

1. expropriação da propriedade fundiária e emprego das suas rendas para despesas


públicas.
2. 2. Pesado imposto progressivo.
3. 3. Abolição do direito de herança.
4. 4. Confiscação da propriedade de todos os emigrantes* e rebeldes.
5. Centralização do crédito nas mãos do estado por meio de um banco nacional com capital
do estado e monopólio exclusivo.
6. Centralização do sistema de transportes nas mãos do estado.
7. Multiplicação das fábricas nacionais, dos instrumentos de produção, arroteamento e
melhoramento dos terrenos de acordo com um plano comunitário.
8. Obrigatoriedade do trabalho para todos, constituição de exércitos industriais, em
especial para a agricultura.
9. Unificação da exploração da agricultura e da indústria, atuação com vista à eliminação
gradual da diferença entre cidade e campo.
10. Educação pública gratuita de todas as crianças. Eliminação do trabalho das crianças nas
fábricas na sua forma atual. Unificação da educação com a produção material, etc.

Desaparecidas no curso do desenvolvimento as diferenças de classes e concentrada toda a


produção nas mãos dos indivíduos associados, o poder público perde o caráter político. Em
sentido próprio, o poder político é o poder organizado de uma classe para a opressão de uma
outra. Se o proletariado na luta contra a burguesia necessariamente se unifica como classe,
por uma revolução se faz classe dominante e como classe dominante suprime pela força as
velhas relações de produção, então suprime juntamente com as velhas relações de produção
as condições de existência do antagonismo de classes em geral e, com isto, o seu próprio
domínio como classe.
No lugar da velha sociedade burguesa com as suas classes e antagonismos surge uma
associação em que o livre desenvolvimento de cada um é a condição para o livre
desenvolvimento de todos.”

Marx & Engels, “Manifesto Comunista” in Obras Escolhidas, Tomo I, Lisboa, Edições
Avante, 1982, pp. 124-125

10. Aponte algumas das ideias fundamentais que caracterizam o pensamento marxista,
tendo em conta o doc. B.

Para desenvolver conhecimentos sobre o socialismo:

A obra História Geral do Socialismo, sob a direção de Jacques Droz, traça um


quadro da história do socialismo desde as várias utopias anteriores à Revolução
Industrial até 1875 aproximadamente. Possui um capítulo sobre o pensamento de K.
Marx e a importância da sua obra máxima - O Capital (vol. III, pp. 782-817). É, além
disso, um livro fundamental para compreender as origens desta corrente do pensamento
político contemporâneo, onde se cruzam diversas sensibilidades sob o signo de uma
maior justiça social e da necessidade de redistribuir a riqueza. Ao contrário das doutrinas
liberais, que pretendem limitar ao mínimo o papel do Estado e deixar aos mecanismos da
concorrência e da seleção dos mais aptos o ordenamento das sociedades numa base de
desigualdades, o socialismo nasceu do desejo de corrigir as diferenças sociais e de
instaurar uma ordem mais igualitária e justa para a humanidade.

- Jacques Droz (dir. de), História Geral do Socialismo, vols. 3, Lisboa, Livros
Horizonte, 1976

Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.


TEMA 2 - O LONGO SÉCULO XIX (1815-1914)

I PARTE

TEMÁTICAS/OBJETIVOS ESPECÍFICOS CONCEITOS OU NOÇÕES


1. A Europa em 1815 Restauração.
Contrarrevolução.
Caracterizar o novo ciclo político europeu aberto pelo Congresso de Viena
Tradicionalismo.
em 1815.
Absolutistas.
Identificar os dois campos que disputam o sentido político da Europa
entre 1815 e 1848: absolutistas e liberais. Liberais.
2. A era do liberalismo Liberalismo.
Sistema de duas câmaras.
Expor os princípios fundamentais da ideologia liberal, em termos
Sufrágio censitário.
filosóficos e políticos.
Internacionalismo.
Caracterizar em termos sociológicos o liberalismo.
Cosmopolitismo.
Caracterizar os regimes liberais do século XIX.
Anticlericalismo liberal.
Descentralização.
3. A era da democracia Democracia.
Soberania popular.
Caracterizar o ideário democrático.
Sufrágio universal.
Identificar continuidades e diferenças entre as ideias liberais
«Classes médias».
e democráticos.
Partidos políticos.
Analisar a relevância da educação, das comunicações de massas,
do serviço militar e das reformas fiscais no processo de Imposto sobre o rendimento.
democratização das sociedades contemporâneas.

4. A evolução do papel do Estado Estado liberal.


Estado nacional.
Caracterizar os novos papéis que o Estado vai assumindo no século XIX
e as fronteiras entre público e privado. Público/Privado.

5. Movimento operário, sindicalismo e socialismo


Movimento operário.
Identificar as fontes doutrinárias do socialismo. Sindicalismo.
Caracterizar a «questão social» no contexto da industrialização e da Anarquismo.
emergência se sociedades liberais. Anarco-sindicalismo.
Analisar a transformação operada nas correntes socialistas pela Socialismo.
emergência do marxismo. Marxismo.
Identificar o papel políticos das Internacionais Socialistas. Internacionalismo.
TEMA 2 - O LONGO SÉCULO XIX (1815-1914) ORIENTAÇÕES DE
RESPOSTA ÀS ATIVIDADES
I Parte
Leitura básica: René Rémond, ob. cit., III PARTE (Cap. 1 a 5)

1. Após a derrota de Napoleão, a Europa vive um período, de 1815 a 1830, de


restauração das forças conservadoras e das dinastias tradicionais. Os Habsburgos
restabelecem o seu poder e o chanceler Metternich domina a política externa europeia, de
1815 a 1848. O mapa político da Europa simplifica-se com o desaparecimento de muitos
pequenos estados e a incorporação de cidades livres, de domínios eclesiásticos e de
repúblicas, como Génova e Veneza, nos reinos e grão- ducados. O princípio unitário
também prevaleceu nos Países Baixos, que constituem um reino sob a dinastia de Orange.
As três potências continentais vencedoras cresceram dentro da própria Europa: a Rússia, a
Prússia e a Áustria. Só a Grã- Bretanha cresceu fora da Europa, firmando-se como uma
talassocracia a nível mundial. Veja a pp. 141-142 do manual e confronte com o mapa.

2. A Carta Constitucional é um ato de favor régio aos súbditos, uma


concessão. A Carta não só não afirma o princípio da soberania popular, como concede ao
rei um importantíssimo papel na ordenação constitucional. No caso português, o rei é o
único detentor do poder moderador e o chefe do poder executivo, que exerce através dos
seus ministros. O regime monárquico, hereditário e representativo, a perpetuação da
dinastia de Bragança, e a religião católica mantêm a tradição. A divisão dos poderes, o
sistema representativo bicamarário, Câmara dos Pares e Câmara dos Deputados, a
consagração dos direitos dos cidadãos, agrupados em liberdade, segurança individual e
propriedade, entre outros como o direito de instrução, de socorro público, de igualdade
perante a lei, apesar de garantir a nobreza hereditária e as suas regalias, e a independência
do poder judicial são os aspetos progressivos do constitucionalismo moderado de feição
liberal. Um misto de tradição e de progresso, as Cartas Constitucionais foram um
importante passo na evolução política dos regimes monárquicos.

3. O liberalismo tem como núcleo central da sua ideologia a ideia de


liberdade. Há, pelo menos, quatro condições para o exercício pleno dessa liberdade:
condições de segurança e de proteção dos indivíduos contra a arbitrariedade do poder e a
violência; liberdade de imprensa e de formação da opinião pública; liberdade eleitoral
para escolher os representantes dos cidadãos; liberdade dos representantes eleitos pelo povo
controlarem os atos do poder e deste, por sua vez, também fiscalizar a sua atuação. Os regimes
liberais mantêm os sistemas censitários e a impossibilidade de voto das mulheres, durante o século
XIX.
O pensamento político liberal caracteriza-se pelo individualismo, pela defesa do
poder representativo, da divisão de poderes, da supremacia do poder civil sobre o poder
religioso e do pluralismo religioso. Nas repúblicas liberais este último objetivo é
alcançado através de um Estado laico. Nas monarquias liberais, como a portuguesa após a
revolução de 1820 ou a britânica, a existência de uma confissão oficial do Estado é
associada a uma subordinação ao poder do Estado da confissão oficial e a uma tendência
para um reconhecimento progressivo da liberdade de pertencer a confissões minoritárias.
Os liberais pretendem limitar o poder central e advogam uma não intervenção do
Estado em matérias económicas e sociais. Defendem o Estado de Direito e a sociedade
civil.

4. Para fazer o esquema deve reler com atenção o manual, pp. 155-159. Aí
são sistematizados os aspetos característicos dos regimes políticos liberais:
constitucionalismo, representatividade do poder, sufrágio censitário, igualdade perante a
lei e desigualdade de facto, de acordo com os níveis de riqueza, descentralização,
liberdade e laicidade.

5. Deve mostrar a associação que o pensamento político democrático


estabelece entre liberdade e igualdade, vendo-as como duas faces duma mesma moeda. A
defesa da soberania popular, o sufrágio universal, o alargamento do próprio conceito de
povo, a universalidade dos direitos e a defesa da redução das desigualdades sociais como
condição para o exercício pleno das liberdades dos cidadãos são alguns dos princípios que
distinguem a democracia do liberalismo, no século XIX. O último é individualista e
avesso ao igualitarismo, prefere os mecanismos da concorrência e da seleção dos mais
fortes à regulamentação das sociedades, mesmo se os objetivos são uma maior justiça
social. Contudo, o pensamento liberal evoluiu no sentido do demoliberalismo, aceitando o
sufrágio universal e a necessidade de maior igualdade social. As tremendas desigualdades
sociais geradas pelo desenvolvimento do capitalismo e a constatação da concentração da
riqueza e do poder que acompanha esse processo, contrária aos ideais dos liberais da
primeira metade do século XIX, estiveram na base dessa mudança.

6. Reflita sobre o exercício dos seus direitos e deveres num regime


democrático e com um Estado de Direito seguindo um plano estruturado.
7. Leia a obra de Balzac e procure informar-se sobre o autor que, apesar de
ser um monárquico legitimista, escreveu apaixonadamente sobre a emergência da
sociedade burguesa em França.

8. Procure explicar a conhecida frase de Il Gattopardo «É preciso que algo


mude para que tudo continue na mesma» na perspetiva dos conflitos e alianças entre
aristocracia e burguesa no século XIX.

9 e 10.No manifesto do Partido Comunista, em 1848, Karl Marx lança algumas ideias que
ele próprio procuraria desenvolver na sua obra posterior: o materialismo histórico e a
ideia da luta de classes como um motor da História. A sua frase de remate: «Proletários
de todo o mundo uni-vos!» era um apelo à luta de classes não só contra o capitalismo,
mas também contra o nacionalismo, outra ideologia que se afirmou no século XIX. Na
idade contemporânea as relações entre marxismo e nacionalismo seriam muito mais
complexas do que sugeria o manifesto de 1848.
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.

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