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CAPÍTULO
Fronteiras estratégicas e
disputas territoriais
As fronteiras estratégicas
Durante o período da cha-
mada Guerra Fria, Estados A soberania do Estado está restrita ao território delimitado pelas fronteiras
Unidos e União Soviética, su- nacionais. No plano internacional, não existe um poder geral ou um “governo
perpotências surgidas após mundial” capaz de submeter os Estados a suas leis e regras. O sistema internacio-
a Segunda Guerra Mundial, nal de Estados é formado por unidades geopolíticas soberanas que cooperam ou
ampliaram suas fronteiras entram em conflito de acordo com o que definem ser seus interesses particulares.
estratégicas por meio de Um dos meios de redução da insegurança que surge desses conflitos – que
alianças militares, políticas podem ser de natureza econômica, militar ou territorial, entre outros motivos –
e econômicas. No final do
é a ampliação do próprio poder, concebido em termos econômicos, territoriais,
século XX, a queda do Muro
demográficos, estratégicos, militares ou culturais. Por isso, os Estados protegem
de Berlim e o colapso da
União Soviética colocaram da concorrência externa setores da economia considerados vitais, financiam a
fim a essa ordem e iniciaram pesquisa e a produção de arsenais de armas modernas e difundem sua língua e
uma nova, na qual os Estados seus valores por meio da propaganda oficial e de produtos de sua indústria cultural.
Unidos passaram a disputar Outro instrumento para a redução da insegurança é a participação em ins-
poder com potências emer- tituições mundiais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), e regionais,
gentes, como a China. No en- como a Organização dos Estados Americanos (OEA). As instituições internacionais
tanto, essa nova ordem tam- geram compromissos entre seus participantes e criam áreas estratégicas especiais,
bém assiste à emergência de caracterizadas por um conjunto de regras aceitas pelos integrantes. Os limites
novas territorialidades, cujas
de cada uma dessas áreas são fronteiras estratégicas, que separam os Estados
fronteiras não coincidem
“de dentro” dos “de fora” da organização.
com as do poder estatal, mas,
sim, com as formas de lutas
sociais, que incorporaram
a seus territórios uma dimen-
são simbólica e cultural de
identidade e ancestralidade.
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A Guerra Fria
Durante os séculos XVII e XIX, configurou-se um sistema de equilíbrio econômico,
militar e político entre as principais potências europeias, como a Grã-Bretanha, a Fran-
ça e a Rússia. No final do século XIX, a Alemanha concluiu seu processo de unificação,
e também despontava como potência. Já os Estados Unidos apresentavam um cresci-
mento industrial acelerado, mas seu poderio ainda era restrito no cenário global.
As guerras mundiais do século XX mudaram esse panorama. Em 1917, antes de ter-
minar a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a Rússia viveu uma revolução socialista e,
em 1922, formou-se a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Um frágil equilí-
brio de poder resistiu precariamente até o final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945),
quando emergiu em seu lugar um sistema bipolar, com base na rivalidade entre duas
superpotências: os Estados Unidos e a União Soviética.
A rivalidade entre as novas superpotências do pós-guerra ultrapassou os âmbitos
estratégico e diplomático para se expressar também como contraposição de modelos
de organização social e econômica. No pós-guerra, a URSS preocupou-se com sua
reconstrução e com a expansão do socialismo para além de suas fronteiras. Os Estados
Unidos, por sua vez, buscavam manter seus mercados pelo mundo e assegurar a ex-
pansão do capitalismo.
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
URSS
COREIA
1950-1953
EUA AFEGANISTÃO OCEANO
1979-1989
TRÓPICO DE CÂNCER CUBA 1962 PACÍFICO
INDOCHINA, VIETNÃ
OCEANO 1945-1975
NICARÁGUA ATLÂNTICO
1979-1990
EQUADOR
0°
OCEANO ANGOLA
MERIDIANO DE GREENWICH
1975-1988 OCEANO
PACÍFICO
ÍNDICO
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
Cortina dePOLAR
CÍRCULO FerroANTÁRTICO Bloco ocidental Bloco comunista
na Europa Estados aliados aos Estados aliados à URSS por acordo militar,
EUA por acordo militar, incluindo o Pacto de Varsóvia
Principais conflitos incluindo a Otan
ou crises ligados ao Outros Estados ligados ao bloco oriental
confronto leste-oeste Outros Estados ligados (por volta de 1980)
ao bloco ocidental (1980) Estados neutros ou não alinhados
2.380 km
Neste mapa, optou-se por representar as fronteiras atuais dos Estados para identificação dos respectivos países.
Fonte: SCIENCE PO. Le monde de la guerre froide, 1945-1990. Disponível em: <http://cartotheque.sciences-
po.fr/media/Le_monde_de_la_guerre_froide_1945-1990/2391/>. Acesso em: 18 maio 2020.
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As áreas de influência
A Europa perdeu a condição de centro do poder internacional durante a Guerra
Fria, mas passou a ser cenário de confrontação das superpotências com as quais os
países europeus se alinharam. Na parte ocidental do continente, formou-se um bloco
de países aliados dos Estados Unidos. Na parte oriental, constituiu-se um bloco de
Estados-satélites da União Soviética.
munidade Europeia do Carvão e do Aço (Ceca). O Tratado de Roma de 1957, que criou
a Comunidade Europeia, resultou da consolidação desse processo de integração e,
Identifique os países capitalis-
ainda durante a Guerra Fria, contou com adesões de Reino Unido, Irlanda e Dinamarca
tas que não aderiram à Otan
(1973), Grécia (1981), Espanha e Portugal (1986). De certa maneira, a União Europeia durante a Guerra Fria.
de hoje é fruto do ambiente bipolar da Guerra Fria.
O Pacto de Varsóvia, aliança
Fronteiras estratégicas na Europa da Guerra Fria
militar fundada em 1955, e o Con-
Associação Europeia NE
O
de Livre-Comércio (1986)
350 km 20°L
Conselho Econômico de
Assistência Mútua – Fonte: FOUCHER, M. (dir.). Fragments d’Europe: atlas de l’Europe médiane et orientale.
Comecon (1986)
Paris: Fayard, 1993. p. 11 e 53.
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