O documentário “O Silêncio dos Homens” (2019), coloca em cena
desdobramentos da reprodução do machismo na sociedade brasileira. Sendo este, um ponto crucial na explicação da problemática social, que é a violência de gênero. Para Balbinotti (2018), a violência de gênero é expressão do patriarcado e do machismo, visto que os valores culturais estão associados às desigualdades e a violência instaura a ‘naturalidade’ das diferenças, com estereótipos e códigos de conduta entre homens e mulheres. É possível identificar nas cenas, como esses códigos se formam através atitudes, práticas e valores tradicionalistas, sexistas e misóginos. São padrões de construções performáticas que se estabelecem no cotidiano do que é o masculino – “meninos vestem azul e meninas vestem rosa”, das construções em torno da ideia de menino e de como esse menino deve se comportar, que se modifica conforme os valores do lugar, não apenas espaço geográfico, mas sobretudo do que marca determinada cultura/sociedade, ilustrando isso, poderíamos dizer que no Nordeste por exemplo, os homens carregam ainda mais essa marca do homem como o ser que está associado ao “brabo” e forte. O resultado são homens com padrões de comportamentos violentos e com dificuldade de manter relações saudáveis. Além de apresentarem prejuízos em relação a sua própria saúde (menor expectativa de vida, comportamentos de risco, encarceramento etc.). O documentário demarca o quanto esses códigos de conduta trazem prejuízos individuais e sociais para a mulher (assédios, menosprezo do feminino, violências em relacionamentos afetivos e outras relações sociais), e impacta negativamente também o homem, evidenciando a necessidade de discussão desse fato que precisa ser compreendido nos mais diversos espaços. Colocando em evidencia a construção de espaços, “grupos de homens” como uma ferramenta importante de desconstrução da masculinidade tóxica e possibilidade de (re) construção da masculinidade, a partir de uma outra lógica, que não iniba ou constranja o homem de usufruir ou desenvolver potenciais sensíveis e práticos que nossa sociedade estimulou nas mulheres. O documentário, portanto, discute masculinidade e fornece ferramentas para que a sociedade colabore com a educação dos meninos, em um movimento de que estes possam ser mais sensíveis, e para que os homens já adultos possam se tornar mais humanos. Além disso, põem em evidencia a necessidade de inserção dos homens nesse processo de desconstrução de uma sociedade machista, demonstrando o quanto o machismo é nocivo também para as figuras masculinas. É importante acrescentar ainda que o encontro II do curso: ‘Capacitação para o Enfrentamento da Violência de Gênero’, traz elementos importantes para análise do documentário “O Silêncio dos Homens”, pois coloca em evidência as perspectivas históricas e sociais da violência de gênero. A partir das epistemologias feministas, movimentos basilares de consolidação dos feminismos, e fundamentais para (des) construção das formas de ver a mulher na sociedade, através dos saberes que atravessam as existências destas ao longo da história e de como os homens que se colocaram como expectadores desse movimento, precisam também endossar essa luta, porque o machismo é prejudicial para todes. Referências BALBINOTTI, Izabele. A violência contra a mulher como expressão do patriarcado e do machismo. REVISTA DA ESMESC, v.25, n.31, p. 239-264 , 2018. O Silêncio dos Homens. Direção: Ian Leite e Luiza de Castro. Brasil. Disponível no YouTube, 2019.